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DIOGO DO COUTO
O SOLDADO
PRÁTICO
TEXTO RESTITUÍDO,
LIVRARIA SA DA COSTA f|
EDITORA LISBOA II
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Diogo do Couto
O SOLDADO PRÁTICO
COLECÇÃO DE CLÁSSICOS SA DA COSTA
Autores portugueses Autores estrangeiros
Director: Prof. M. RODRIGUES LAPA
•
A venda :
SA DE MIRANDA
OBRAS COMPLETAS, em 2 volumes
FRANCISCO MANUEL DE MELO
CARTAS FAMILIARES, selecção
JOÃO DE BARROS
PANEGÍRICOS
TOMAS A. GONZAGA
MARÍLIA DE DIRCEU (as três partes)
DESCARTES
DISCURSO DO MÉTODO. AS PAIXÕES
DA ALMA, 1 volume
DIOGO DO COUTO
O SOLDADO PRATICO
A seguir :
FREI LUÍS DE SOUSA
ANAIS DE D. JOÃO III
HOMERO
ODISSEIA
M.me DE SÉVIGNÉ
CARTAS ESCOLHIDAS
LJ&&-
DEP. LEG.
Diogo do Couto
O SOLDADO PRÁTICO
r
N.°
Propriedade da
LIVRARIA SA DA COSTA — Editora
1937
Composto e impresso na secção de «Linotypes»
de O Jornal do Comércio e das Colónias'—
Rua Dr. Luiz de Almeida e Albuquerque. 5
LISBOA
PREFÁCIO
IX
seu pai, Gaspar do Couto, andava ao serviço
do infante D. Luís, filho de D. Manuel. Natu-
ral de Amarante, onde casara, tinha acom-
panhado seu amo na expedição de Túnis, em
I
535> onde se distinguira e fôra armado cava-
leiro. Era pois fidalgo de fresquíssimo data e
feito um pouco à pressa.
Por uma carta de 5 de Março de 15Q8,
dirigida ao vice-rei da índia, vemos com
efeito que Couto tinha tf alt a em seu nasci-
mento*, quere dizer, não era fidalgo de
costado, o que lhe servia de impedimento a
entrar numa ordem como a de Cristo. O nosso
autor tem presente esta tf alta*, quando, mais
tarde, em 1600, desafoga numa carta, farto de
ingratidões: tE, se por ua certidão dos Con-
tos de como acrescentaram dez réis lhe dão
tantos hábitos e tantas tenças e tantos alvarás
de fidalgos, não vendo eu na fazenda del-rei
nenhuas crecenças, senão tudo mingoantes,
ou me a mi hão de fazer mercê ou eu não
hei de servir e largar tudo e meter-me num
canto, onde ninguém me veja*.
Em 16 de Dezembro de 1607, no final da
vida, pranteava com amarga ironia estas
coisas dolorosas: *Eu não peço a S. Majes-
tade que me faça fidalgo nem que me dê o
hábito de Cristo, porque o mundo está tão
x
cheio deles, que inda hei de ser conhecido por
homem que não tem hábito».
Também no Soldado prático emite opi-
niões, que visam a demonstrar a superiori-
dade dos méritos e serviços pessoais sobre a
fidalguia do nascimento (págs. 131-132) e
insurge-se contra a perigosa mania do tempo,
que define nos seguintes dizeres: thomem que
não é fidalgo, não é chamado pera nada»
(pág. Ç2). Temos pois em Diogo do Couto
o exemplo do servidor, que se vê embaraçado
na vida e tolhido de medrar por não ser
de casta fidalga. Toda a sua obra do-
cumenta o bom senso popular, a rude since-
ridade, o amor do trabalho. São êsses os per-
gaminhos da sua origem plebeia. E isso,
como havemos de ver, dá ao seu labor, tecido
de corajosas verdades, um carácter, que o
eleva acima da literatura artística e cortesã
do seu tempo.
0 jovem Diogo foi criado no palácio do
Infante, que aos onze anos o mandou fre-
quentar o colégio dos jesuítas de Santo An-
tão. Foi seu mestre de latim o famigerado
gr.amático da Companhia padre Manuel Ál-
vares, e de retórica e de Esfera os conhecidos
padres Cipriano Soares e Francisco Rodri-
gues, o Manquinho. Depois de se ter embe-
XI
bido na lição da antiguidade clássica, foi re-
ceber lições de filosofia no mosteiro de Bem-
fica, por Fr. Bartolomeu dos Mártires, um
dos homens mais sábios e virtuosos do seu
tempo. Nesse estudo era acompanhado pelo
filho do Infante, D. António, mais tarde
Prior do Crato.
Entretanto, morre D. Luís, seu amo e
protector. Diogo do Couto é transferido para
o Paço, onde serve o rei como moço de câ-
mara. Sentia-se porém aí como desamparado,
naquele meio maior, mais buliçoso, onde a
insignificância do seu nascimento se tornava
ainda mais reparada. O rapaz de grandes
olhos vivos que era Couto, ouvia por vezes
nas práticas do Paço falar das coisas do
Oriente: a sua imaginação representava-lhe
um mundo novo, cheio de estranhos encanta-
mentos, onde um rapaz pobre e não fidalgo
poderia tentar fortuna. Tendo-lhe falecido o
pai, sentindo-se só, abalou para a Índia em
Março de 7559, na frota de Pero Vaz de Se-
queira. Alistara-se como soldado por três
anos. Começou então o seu duro aprendizado
da vida.
Não se conhecem bem todos os pormeno-
res da sua existência neste tempo; sabemos
porém que tomou parte na campanha de
XII
t
XIII
fôra contemporâneo nos estudos em Portu-
gal e ao depois, na Índia, companheiro de
casa e mesa. Luís de Camões, que viera da
China e naufragara na costa de Sião, encon-
trava-se reduzido à miséria. O governador da
capitania, Pedro Barreto Rolim, quis favo-
recer o poeta; mas o génio estranho de Ca-
mões, a sua unatureza terrível> tornou-se-
-Ihe insuportável; resolveu abandoná-lo. O
grande incompreendido via-se pois obrigado
a tviver de esmolas de algumas pessoas*, e
calcula-se o alvoroço com que teria recebido
o amigo e companheiro, a quem saudou num
soneto, por acaso medíocre, revelador da sua
triste situação. Passaram os dois esse inverno
tratando de poesia: Camões, retocando o
poema, e dando início ao seu Parnaso; Couto,
fazendo, a seu pedido, o comentário histórico
dos Lusíadas, que levou ao 4..0 ou j.° cantos,
e de que foi depois interrompido pela sua
nomeação de cronista da Índia.
Em novembro de ijóç partiu Couto para
Portugal na nau Santa Clara, vindo com êle
Luís de Camões. Chegado a Cascais em abril
de 1570, com peste em Lisboa, Couto foi ter
com o rei a Almeirim, a dar-lhe conta dos
sucessos e negócios da Índia. Pouco tempo
se demorou na corte, a que o seu tempera-
XIV
mento era radicalmente avêsso e onde via já
nitidamente o progresso do mal, que havia de
dar com Portugal tde pernas acima*, para
empregar uma sua expressão. Em 1571 dei-
xou novamente Lisboa, com rumo à Índia,
na armada do vice-rei D. António de Noro-
nha. Fez com êle os preparativos para irem
socorrer a fortaleza de Chalé, sitiada pelos
mouros e defendida por D. Jorge de Castro.
Chegaram tarde: o velho fidalgo entregara
a praça. O soldado assistia mais tarde, em
Gôa, ao infamante suplício dêsse velho de 80
anos, que afinal não era tão culpado como
parecia.
Diogo do Couto estava agora instalado
em Gôa, depois de ter casado com Luísa de
Melo, irmã de Frei Adeodato da Trindade,
que passou a ser uma espécie de agente seu
e seu procurador em Lisboa para todos os
seus negócios, inclusivamente para a impres-
são dos seus livros.
Era empregado nos armazéns de manti-
mentos, cargo importante que o obrigava a
estar em contacto com a gente de negócios.
/Is suas relações com os vice-reis flutuavam
à medida das verdades que dizia e da paciên-
cia com que o liam e ouviam. Ele próprio
dizia que «antes queria ser acanhado que
xv
aborrecido» e não era thomem que se an-
dasse oferecendo e importunando os vice-
-reis».
Claro que com um ou outro governador
mantinha boas relações, por exemplo com
D. Duarte de Meneses, homem culto, que fa-
leceu em 1588 e a quem Couto deveria mui-
tas finezas. O mesmo sucedeu com o seu
amigo D. Francisco da Gama, bisneto do
descobridor, a quem escreveu algumas curio-
sas cartas, que não teem sido devidamente
utilizadas pelos seus biógrafos.
A êssse tempo, não só pelos bons serviços
que prestara na índia, como soldado e fun-
cionário zeloso e honesto, Diogo do Couto
era conhecido no reino pelo incompleto
comentário histórico de Os Lusíadas, que
Poucos conheceriam, pelas suas poesias por-
tuguesas, latinas e italianas e possivelmente
ainda por uma obra de envergadura, em que
analisava com desenfado e independência os
vários problemas da governação da índia e
a que dera o título de Soldado prático. Era
ainda uma primeira redacção, que Diogo do
Couto havia mais tarde de desenvolver e en-
cher de mais literatura, mas que já dava a
medida da sua suficiência e profundo conhe-
cimento das matérias indianas.
XVI
Mas, por uma coisa particularmente se
recomendava ao monarca. No intuito de o
lisonjear e de se jazer notado, tinha dado
comêço à Década X da Ásia, que principiava
justamente desde que o soberano espanhol
tinha sido aclamado na Índia rei de Portugal.
Em 15 de Novembro de 7595 anunciava ao
rei a terminação do seu primeiro trabalho
histórico. Evidentemente Diogo do Couto
preparava-se de longe, carreando documen-
tos, para suceder a João de Barros na con-
tinuação da História do Oriente. Era uma
sucessão pesada. Filipe II de Espanha, que
pressentia em Diogo do Couto um bom e
activo funcionário, encarregou-o por carta
de 28 de fevereiro de 7595 de organizar o
Arquivo de Gôa e continuar a Crónica da
Índia, interrompida pelo falecimento de Bar-
ros em 1570.
O novo guarda-mór do Tombo de Gôa,
com o natural entusiasmo do seu honroso
cargo, meteu logo ombros à tarefa; mas
encontrou as dificuldades burocráticas do
costume e a própria má-vontade das altas
esferas, renitentes na cedência dos documen-
tos. Com a sua habitual tenacidade Diogo do
Couto foi arrumando toda aquela papelada.
A 20 de novembro de 7595 dava conta ao
XVII
rei dos seus trabalhos e pedia-lhe que man-
dasse para o Arquivo as Décadas de Barros
e a História do descobrimento e da conquista
da índia de Castanheda, porque «iam aca-
bando esses volumes e na índia já os não
havian.
O duplo emprego de guarda-mór e cro-
nista era uma tarefa muito absorvente e até
muito arriscada. O trabalho de passar certi-
dões, sobre enfadar não pouco, criava cons-
tantes conflitos e inimizades: todos queriam
parecer o que não eram, e Couto era um
homem duro e honesto, preocupado de dar o
seu a seu dono. Por isso, o gosto de escrever
a história era envenenado por <muitos des-
gostos que tinha com soldados e capitães, por
fazer verdade, como S. Majestade quere, e
desterrar as falsidades, abusos e peHuxida-
des das certidões e estromentos passados».
Se o ofício de tabelião das escrituras lhe
criava muitos inimigos, o de cronista dos fei-
tos do Oriente não menos, pela surpresa que
causou a linha austera da sua história, onde
se notava o só empenho da informação e da
verdade. A Década IV, em que narrava se-
veramente os vergonhosos incidentes da briga
entre Pero Mascarenhas e Lopo Vaz de Sam-
paio para a governação da índia, deveriam
XVIII
ter desagradado e muitos homens da côrte.
Começou pois a urdir-se uma conspiração
surda contra êsse vilão incomodativo, que lá
de Gôa cuspia vergonhas e desaires sôbre
fidalgos portugueses. O resultado da conjura
não tardou a revelar-se. Em 5 de março de
1598- escrevia Filipe II uma carta ao vice-rei
em que lhe dizia textualmente: «£ porque
sou informado que o dito Diogo do Couto
não é tão suficiente como o entendi pela pri-
meira informação que dele me foi dada e que
tem falta em seu nascimento, o que tudo de-
veis já ter sabido, depois de chegardes à Ín-
dia, pelo que sôbre esta matéria vos escrevi
nas vias do ano passado, advertir-vos-eis nes-
tes particulares, que praticareis com o arce-
bispo de Gôa. E achando ambos que não
convém entregar-se nem Casa do Tombo nem
a escritura da História, ou pelo menos algua
destas duas cousas ao dito Diogo do Couto,
ireis dissimulando com êle no melhor modo
•
que vos parecer até me avisardes e vos man-
dar o que houver por meu serviço>.
Duas circunstâncias salvariam Diogo do
Couto de ser apeado e demitido dos seus car-
gos. Em primeiro lugar, as negridões que lan-
çava sôbre os feitos de alguns fidalgos iam
lisonjear o bando contrário; depois, por feli-
XIX
cidade, estava agora no Governo da Índia
um bisneto do descobridor, D. Francisco da
Gama, que era seu amigo e teria desfeito
aquela tormenta que se levantou sobre a ca-
beça do pobre historiador. Ainda bem que
tinha sido nomeado escrivão da alfândega de
Diu, em 28 de janeiro dêsse ano de 15Q8. Se
tardasse um pouco, é provável que lhe fôsse
negado êsse benefício. D. Francisco da Gama
continuou a sua protecção, na índia e no
reino, e a êle dirige Couto a mór parte das
suas cartas, no último quartel da vida, sal-
teada de cuidados.
Êsses cuidados cifram-se nisto: o esforço
que fazia para ganhar honestamente a vida,
dada a sua canseira e as despesas que lhe
acarretava a impressão das Décadas, e a má-
goa com que aos seus olhos de soldado e
historiador se lhe representava a vergonhosa
decadência dos portugueses no Oriente, per-
seguidos incansàvelmente por ingleses e ho-
landeses. i4s suas cartas reflectem uma ver-
dadeira obsessão a êsse respeito.
Como guarda-mór e cronista, recebia
Couto ço.ooo réis de ordenado anual, o que
era evidentemente pouquíssimo e indigno da
rua categoria. Conseguiu, após solicitações,
que lhe aumentassem a ninharia de 30.000
xx
réis, cousa que, como dizia, a se não dava
nem a um escrivão dos Contos». Pede ao rei
que lhe acrescente mais 80.000 réis, ihavendo
respeito ao muito trabalho que tinha no negó-
cio de que o encarregara ao passar as certi-
dões dos serviços dos homens, em que mere-
cia mais que por tudo o em que servia, pelo
muito que sofria aos soldados em guardar
verdade e justiça e não lhes dar o que não
era seu». A inutilidade das suas queixas exas-
perava-o e, revoltado das ingratidões a que
era votado, prometia queimar todos os seus
papéis e lembranças, para que outrem se não
lograsse do suor do seu trabalho e recebesse
• as mercês, que lhe tinham recusado. Na sua
sepultura mandaria inscrever o letreiro de
Fabrício: Ingrata pátria, não possuirás meus
ê ossos.
A impressão das Décadas também preo-
cupava Couto, porque era feita à sua custa e
a despesa tinha de ser tirada do seu parco
ordenado. Lembrou-se de pedir que lhe
fôsse dado o título de conselheiro do rei,
honra que pertencia ao guarda-mór do
Tombo do reino, com o qual estava equipa-
rado, spar a assim ficarem os seus livros mais
acreditados com o título sDo Conselho de Sua
Majestade>. Além disso, afim de juntar di-
XXI
nheiro para a impressão, pedia em 1608
que os soldados lhe pudessem comprar os
livros, descontando-se-lhes automaticamente
no soldo. Animá-lo-ia a mandar imprimir os
outros e andariam as Décadas espalhadas
Pelas fustas das armadas, incitando os sol-
dados a imitarem os heróis antigos. £ que
a publicação das Décadas estava sendo um
negócio ruinoso para o escritor. De 300 volu-
mes que seu cunhado lhe mandara, apenas
vendera 30 e dera mais de quarenta. Presen-
teara os capitães das fortalezas e o arcebispo
de Gôa. E — acrescenta ironicamente o ve-
lho historiador — como retribuição nem se-
quer recebera uma caixa de marmelada!
Para que se visse quão ruim era o ofício de
historiador naquele tempo! — rematava o po-
bre intelectual de 1608.
Tudo lhe recusaram. E então Diogo do
Couto chama a atenção dos dirigentes para
a Índia, que se perdia. Historiador dos seus
feitos, o velho escritor considerava-a como
uma espécie de coisa sua. A bem dizer, as
suas fortunas corriam paralelas: tconsola-me
que, pois a Índia padece tantos naufrágios e
tribulações, que é justo que o seu cronista
corra com ela uma mesma fortuna». O apêlo
das suas cartas é aflitivo e patético. Em de-
XXII
zembro de 1608, exclamava:—Enfim, já o
nome português é acabado! Os indianos, em
vez de frangues, nome que antigamente da-
vam aos portugueses, passavam a chamar-
-Ihes frângãos: «assi o somos, tão tristes e
tão molhados que todos nos ameaçam!».
Foi neste estado de espírito, nesta rabu-
gem patriótica, agravada de reumatismo go-
toso, que a morte o veio buscar em 10 de
dezembro de 1616. Em 6 de janeiro desse
ano, escrevera ainda ao seu amigo D. Fran-
cisco da Gama: tFico velho, e, inda que
assi, todavia espero em Deus que hei de
ficar de fora daquela regra, tão geral neste
Estado, que é: todo o homem que nêle enve-
lhecer não escaca ou de pobre ou de deson-
rado. Pobre sou, mas muito honrado espero
em Deus de acabar, porque me não pode
tirar o mundo deixar nêle impressos seis ou
sete livros, tão acreditados pela Europa que,
se não fôra tão humilde, pudera-me tocar
uma pequena de altivez».
*
* *
XXIII
mas o homem era de uma rara tenacidade e
conseguiu, em parte, salvar a sua obra. Com-
pletas, temos hoje as Décadas 4.*, 5.*, 6.*, 7.*
e 10.\ A 5.* apresenta esta particularidade
significativa: a aprovação do Santo Ofício e
licença para imprimir datam de abril e maio
de 1602; a impressão só se efectuava dez
anos depois, em 1612, prova de que a cen-
sura do Paço achou nela que debicar.
Quando se acabou a impressão da 6A, ar-
deu a casa do impressor e foram-se no incên-
dio quási todos os volumes; escaparam uns
poucos, que estavam já depositados no con-
vento de S. Agostinho de Lisboa. Com res-
peito à 7.*, que Couto mandara para o reino
na nau S. Tiago, da frota de 1601, perdeu-se
com a tomada do navio pelos ingleses, pelo
que o escritor a teve de mandar reformada,
em 1603.
Com os dois manuscritos das Décadas 8A
e çA sucedeu caso mais grave. Diogo do
Couto tinha-as prontas e preparava-se para
as mandar para Portugal, quando alguém, a
coberto da sua velhice e de uma doença que
então o assaltou, lhas furtou de sua casa. O
historiador, em carta ao rei, atribui a mal-
dade ao desejo de se locupletar com o suor
alheio; mas o móbil do crime poderia ter sido
XXIV
outro: alguém teria empenho em ocultar as
verdades, sonegando os manuscritos do velho
escritor. No que se enganou, pelo menos em
parte. Uma vez restabelecido, Couto, com a
ajuda da memória e de alguns apontamentos
que lhe tinham ficado, deitou mãos ao tra-
balho e fez um resumo das duas Décadas,
que mandou para Portugal em janeiro de
IÓIÓ.
A Década XI não lhe foi roubada em
Gôa; mas, enviada para o reino, levou tam-
bém sumiço. Dela apenas restam capítulos,
com que formaram uma obra à parte: a Vida
de D. Paulo de Lima Pereira, aproveitando
Parte da 10/ e parte da n* Décadas. Da
12.* restam apenas cinco livros, que foram
editados em 164.5 em Paris por Manuel Fer-
nandes de Vila-Real. Claro que, vasculhando
em arquivos e bibliotecas poder-se-ia hoje, se
não completar, pelo menos melhorar em qua-
lidade e quantidade a obra do infatigável tra-
balhador. Ainda ninguém pensou nisso. É
dívida em aberto, de inegável alcance na-
cional.
Com o Soldado prático, que escreveu
ainda em tempo de D. Sebastião, também
sucedeu um caso extraordinário. Dêmos so-
bre isso a palavra ao ilustrado chantre de
XXV
Évora, Manuel Severim de Faria, que man-
teve cordiais relações epistolares com Couto
e nos deu uma valiosa biografia do escritor:
tPorém, antes de aperfeiçor esta obra lhe foi
furtado o original dela e, sem mais o poder
haver às mãos, chegou a êste reino sem nome
do autor, onde se trasladaram algumas có-
pias, que foram tidas em grande estima dos
que as puderam haver. Sendo disto adver-
tido no ano de 1610 por um amigo seu, tor-
nou a reformar esta obra ou quási fazê-la de
novo... Esta obra dedicou ao marquês de
Alenquer e o original está na livraria de Ma-
nuel Severim de Faria, chantre de Évora, a
quem êle a mandou». (Discursos vários polí-
ticos, fl. 155-156).
Tal é, em suma, a história dessa obra
considerável, presa cobiçada de ladrões e so-
negadores. Alguns dos elementos que a com-
punham, o seu livro de Poesias, o Epílogo da
História da Índia, o Comentário dos Lusía-
das, perder-se-íam, talvez para sempre. Um
arguto crítico da literatura portuguesa, o sr.
Aubrey Bell, referindo-se a esta «fatalidade>
que pesou sobre o labor literário de Couto,
exprime a opinião de que esses contratempos
foram de certo modo benéficos, porque obri-
garam o escritor a ser mais pessoal e espon-
XXVI
tâneo, embora menos ordenado. Este juízo,
que poderá ser verdadeiro no conjunto, não
é aplicável contudo, ao Soldado prático. Aqui
Diogo do Couto, para frustrar as esperanças
dos que se tinham apropriado do original,
quiz fazer mais e melhor.
0 manuscrito primitivo, que, por felici-
dade nos foi conservado e anda impresso,
tinha um carácter e disposição predominan-
temente burocráticos. Os dois únicos interlo-
cutores, o vice-rei de abalada para a índia
e o soldado veterano, falam em linguagem
chã, sem citações de autores antigos, mistu-
rando nos seus dizeres pitorescos rifões popu-
lares. O diálogo tem vivacidade, porque a
personagem do soldado não obscurece total-
mente a do vice-rei. Na redacção posterior,
que é verdadeiramente uma obra nova, Couto
introduziu três personagens: o soldado, velho
de 6o anos, de volta da índia a tratar de seus
requerimentos, o secretário do rei e o fidalgo,
que fôra em tempos governador da índia. A
modificação não aumentou fôrça dramática
à narrativa; antes pelo contrário: o soldado
ocupa agora totalmente a cena e o papel dos
comparsas é secundaríssimo. O texto ficou
sobrecarregado de erudição, por vezes abor-
recível. Mas a experiência dos negócios, as
XXVII
amarguras pessoais, a visão pavorosa da de-
cadência dão um calor, uma violência paté-
tica à narração, que o primeiro texto não
conhecia.
O Soldado prático é dos livros mais hon-
rados da literatura portuguesa. Deverá ser
lido depois de Os Lusíadas. Os dois amigos,
Camões e Couto, fizeram duas obras que se
completam: uma canta as glórias antigas da
pátria, num frenético esquecimento do pre-
sente; outra analisa impiedosamente as ver-
gonhas dêsse presente e mostra-nos o país e
o Império afundados num tremedal de infâ-
mias: por tôda a parte a ambição da riqueza,
o amor do luxo, a concussão e o roubo. Tudo
estava pôdre e afistulado! — exclama o aus-
tero escritor nesse impressionantíssimo do-
cumento da crise. Note-se que a tremenda
decadência da Índia era apenas o reflexo da
derrocada material e moral da nação. 0 pró-
prio soldado tem ocasião de dizer que as coi-
sas não corriam mais puras em Portugal
(pág. 12, l. 4-5); e na primeira redacção
ainda é mais explícito, quando diz: tvai a
cobiça neste reino de maneira que não escreve
de cá outra cousa à índia o pai aos filhos, o
irmão ao irmão, o amigo ao amigo senão:
— Fazei por trazer dinheiro, que o mais é
XXVIII
vento!* (pág. 95 da ed. de 1790). Enfim,
Couto usa esta imagem admirável, para ex-
primir aquela corrida às riquezas: o funcio-
nário cixnl ou militar ia à Índia como quem
ia vindimar sua vinha.
Diogo do Couto não se contenta em apon-
tar o mal, com todos os seus pormenores e
com o profundo conhecimento do homem
que tcursou os negócios»; indica os respon-
sáveis da espantosa decadência do Império;
e no primeiro lugar da escala encontra natu-
ralmente o rei. Não se conhece em toda a
literatura portuguesa texto algum, em que
com tanta liberdade e nobre coragem se ouse
atacar tão cara à cara o rei. Naturalmente o
escritor usa de certa prudência: os ataques ao
soberano eram disfarçados pelo facto de
Couto pôr o diálogo em tempos de D. Sebas-
tião. Para dourar a pílula tem mesmo o cui-
dado de fazer o elogio de Filipe II, não por
bôca do Soldado mas pela do Fidalgo e do
Despachador (pág. 226). Todavia ninguém
tinha ilusões sôbre isso: a verdade atingia
em cheio os próprios Filipes, que por isso
mesmo, avisados por alguém das audácias do
plebeu, se não desentranhariam em mercês
para com êle.
De resto, o próprio Couto, já no final da
XXIX
vida se descobriu, acrescentando ao texto
aquela alusão à derrota de Alcácer-Quibir
(pág. 14.Ç, l. 4.-8), que origina um curioso
anacronismo, colocando provàvelmente o diá-
logo no tempo do primeiro Filipe. Desespe-
rado com o desprezo sistemático de que estava
sendo vítima, sem filhos, {que lhe importa-
vam agora as iras do próprio rei? A sua preo-
cupação suprema era dizer a verdade; di-la-ia
custasse o que custasse.
O amor da verdade é em Couto uma es-
pécie de vício. Há homens assim; por mais
que lhes façam, não cessam de dizê-la; faz
parte da sua natural respiração, é instru-
tivo, a êsse propósito, o que nos diz sobre um
honrado historiador, que o precedeu no relato
dos feitos da índia, Fernão Lopes de Casta-
nheda: sÊste homem andou na índia quási
dez anos, correndo a mór parte dela, até che-
gar a Maluco, escrevendo as cousas daquele
tempo mui diligentemente, que recopilou em
dez livros, acabando o seu décimo com o
governador D. João de Castro. Êste volume
nos disseram algúas pessoas dignas de fé que
el-rei D. João mandara recolher a requeri-
mento de alguns fidalgos, que se acharam
naquele raro e espantoso cerco, porque falava
nêle verdades. A êstes e a outros riscos se
XXX
põem os escritores que as escrevem, enquanto
vivem os homem de que o fazem; e por isso
com menor receio escrevemos aos cousas pas-
sadas (como el-rei nos mandou) que as pre-
sentes, que também temos escrito; e assi em
uas com em outras nem por respeitos nem
por temor deixaremos de as falar. E, posto
que também em algum tempo se mande re-
colher algum volume dos nossos, outro virá
em que se elas manifestem> fDécada lV. liv.
V, cap. i.). Era assim o homem; assim é o
escritor, cidadão enérgico, que não receia pelo
que diz e teima sempre em dizer o que sente.
A sua dura vida de soldado ensinou-lhe a
* encarar a verdade com a mesma indiferente
serenidade com que se encara a morte. De aí, *
o grande valor da sua obra.
•
*
♦ *
XXXI
vidamente. Infelizmente não pudemos incluir
a i." redacção, que, como dissemos, é uma
obra diferente. Note-se que ambas as redac-
ções teem isto de comum: não trazerem de-
pois de certa altura epígrafe nas cenas. Não
ousámos forjar títulos nossos.
Conservou-se à linguagem o seu sabor
popular, apenas com as diferenças sinaladas
em nota final: o copista nem sempre era cui-
dadoso, e Couto, com setenta anos, nem sem-
pre tinha pachorra de emendar as faltas. É
esse um trabalho delicado, que sempre nos
merece muita atenção. Como princípio fun-
damental, evitamos a chamada uniformiza-
ção do texto, que equivale sempre para os
autores clássicos mais antigos a uma mons-
truosa deturpação da linguagem. Cada autor
é tratado de per si, não perdendo contudo de
vista certas normas gerais, a que obedecia a
evolução do idioma. O texto que apresenta-
mos é pois, em nossa consciência, o verda-
deiro texto de Couto: traz a sua marca popu-
lar, a sua rudeza, a sua sinceridade, o tom
vivo e por vezes não gramatical da conversa-
ção. É a êsse respeito um documento de pri-
meira ordem para a história da língua.
RODRIGUES LAPA
XXXII
ê
I
política, moral, muitos exemplos, muitas verdades e
muitas cousas, que, se se remediarem, farão úa
república, como esta de que trata, tão próspera e tão
felice, como foi aquela de Atenas, que com êste arti-
5 fício foi o seu Alcibíades reformando e ordenando,
até a pôr em suma perfeição.
Tudo o que V. Excelência quiser saber dele,
ouça-o, que êle o dirá sem importunação, sem adu-
lação e sem paixão; e eu fico que se satisfaça dele,
io porque ouvirá cousas, que pode ser não ouvisse da
bôca doutro soldado; e não quer outra satisfação
maior do trabalho, que leva nesta jornada, que ser
ouvido de V. Excelência, porque então cuidará que
podem ter remédio os males de que se queixa.
15 Nosso Senhor a vida de V. Excelência conserve e
acrecente por muitos anos para remédio dêste sol-
dado e dos outros. Gôa, 2 de Janeiro de 1612.
Diogo do Couto
2
DIALOGO DO SOLDADO PRÁTICO
QUE TRATA DOS ENGANOS E DESENGANOS
DA fNDIA
PRIMEIRA PARTE
ARGUMENTO
CENA I
3
COLECÇÃO DE CLÁSSICOS SÁ DA COSTA
a, lei: religião.
8. confusão de Babel: a Índia, ou, mais propria-
mente, Gôa, a capital do império.
10, aderência: parcialidade, favoritismo.
4 I
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II
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5, cento: cem.
9, lhe: lhes. O emprêgo de lhe por lhes é freqflen-
tíssirao em Couto.
io-ix, para lhe faltar: para sentirem a falta do dinheiro
que mal gastaram.
li. Acaba aqui a letra de Couto.
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CENA II
Do modo que correm os despachos das cousas
da índia no Reino; em que se tocam muitas
cousas sobre algOas desordens que nisso há.
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CENA III
2, falais em A; faleis em B.
13, se remediaram: se remediariam.
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7, causa em A.
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28
k.
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io, e estas em B.
23, biscatos: pequenos negócios, mais ou menos
fraudulentos.
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8, nos prejuros em A.
18, tronco: casa da cadeia.
28, dixe: disse. Forma antiga e popular.
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3
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CENA IV
&
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3, o judeu ou negro em B.
15, para outra a raiz em A.
18, se lhe tomaram conta: se lhe tivessem tirado
bem as contas.
19, devem-lha el-rei em A.
22, com quem em A.
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4.0
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20, registradas em B.
21, idiota: inculto, ignorante.
4*
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CENA V
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6, moradores em B.
7, e com: e junte-se a isto o facto de.
14-15, que o sol que nasce para todos o aquente se-
não a êle em B.
16, fonte comua: fonte pública.
19-20. Note-se a soberba ironia' dêste passo.
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CENA VI
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6, compradores em B.
9, pagar o pato: ficar prejudicado, pagar as favas.
Em B: pagar o fato. Veja Sá de Miranda, Obras. II, 84,
1. 12 («Clássicos Sá da Costa»),
10, Dissemos em B. A redacção primitiva seria
dixemos?
14, baneane: comerciante indiano, que segue a seita
religiosa do jainismo, célebre pelo seu grande amor para
com os animais.
17, quebraram os bofes: cansaram com demandas
judiciais.
20, Moçafo: Alcorão, livro religioso dos árabes. Em
A: Mosafo.
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muito bem ser que por isso castiga Deus Nosso Se-
nhor o Estado da Índia: polo pouco caso que os
governadores fazem dêles; de maneira que pelas de-
vassidões e injustiças que contei, parece que abre
5 Deus Nosso Senhor sua mão daquele Estado, pela
soltura com que vejo viver a todos; porque assi
vivem todos à sua vontade, tanto me dá mouro,
como gentio, ou judeu, que se lhes não dá de come-
terem culpas, porque sabem que logo se remirão
io delas com dinheiro.
E por outras injustiças e devassidões como estas
esteve o reino de Castela quási perdido em tempo
del-rei D. Henrique, quando aquele excelente filó-
sofo e insigne poeta Fernão de Pulgar fez aquelas
15 graves e sentenciosas trovas, chamadas Mingo Re-
vulgo, que por ver ir tudo perdido e viverem todos
à sua vontade, sem temor de Deus nem obediência
da lei, de que o rei tinha tôda a culpa, o reprende
naquela trova, que diz assim:
20
Modorrado con el sueno,
no lo cura de almagrar,
como quien no espera dar
cuenta dello a ningun dueno;
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5
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I, rico. E o mesmo em B.
3, de o fazer: de fazer rico.
6, a obrigação do cavalo: a obrigação de servir na
guerra com o seu cavalo.
21, tanto além. Hoje diríamos: «tanto aquém». Em
A: a ri delas.
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CENA VII
68
O SOLDADO PRATICO
sos que lhe dêm por alvitre que Foão tem ua filha
fermosa; e que Foã, que traz requerimento com êle,
que é cortesã e bem disposta; que a outra, que tem
seu marido preso, que é muito bem parecida. E
5 êstes alvitres não os traz por aí qualquer coitado;
mas acontece alguas vezes ser pessoa tão grave e de
tal hábito e estado, que por temor de Deus me calo.
A mim me afirmaram que houve governador ou
viso-rei, que pediu de rosto a rosto a um homem
io pobre, que lhe pedia um ofício, ua filha sua que
tinha mui bem assombrada; a que lhe o prove res-
pondeu : — i Isso hei eu de fazer, senhor ? Nunca Deus
tal queira! Minha filha não tem outra cousa de seu
mais que ser honrada. Ora vêde que bofetada esta
75 pera um governador e pera se não meter logo capu-
cho, ou ao menos dar um bom casamento a tal pai
pera tal filha! Não me lembra o que nisso passou;
que eu me achei naquela cidade, e assi ouvi contar
a pessoas graves: não quero ficar em restituição de
20 nada.
E se o governador ou viso-rei da índia não tiver
tanto resguardo em si como Alexandre, que não
quis ver as filhas de Dario, segundo a maldade é
grande, ficará rendido e desbaratada a rezão; e o
25 entendimento ficará prostrado aos pés de seus apeti-
tos, que é o mais abatido estado que pode ser; por-
que mór glória é vencer-se um homem a si própio
que tomar grandes e poderosas cidades. E se os sol-
dados virem que o seu capitão se deixa vencer da
1, Foão: Fulano.
2, Foã: Fulana.
11-12, a que lhe respondeu o pobre: Que minha filha
não tem outra cousa... em B.
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4, quanto trabalhavam em B.
7-9. Note-se o jôgo de palavras entre castrum (cas-
telo, fortaleza), castum (casto, pudoroso) e castratum
(castrado).
8. Vegécio, escritor latino, autor de uma obra sô-
bre Arte Militar.
15-16, grandes virtudes em B.
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8, acreditar em B.
26, Bofé: palavra de honra, juro-vos por minha fé.
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CENA VIII
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19, capitães em B.
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• CENA X
IOO
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2, soparado em A.
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3, bandeiras em B.
3, barreiras: trincheiras exteriores que serviam para
os soldados se exercitarem no tiro ao alvo. Depois signi-
ficaram o próprio alvo.
6-7, vinte: paulito no jôgo da bola: «mudar o vinte»
significa «mudar de jôgo».
7-8, por comprimento: por formalidade.
13, que acerte à Serra de Sintra em B. Grosso dis-
parate!
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30, parece em A.
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SECUNDA PARTE
ARGUMENTO
CENA I
Fidalgo — Oh! Venhais embora! Agora faláva-
mos nós em vossa pele.
Soldado — Não seja isso do rifão antigo, que
diz: falai vós no roitn, e logo aparecerá.
5 Fid. — Não se pode isso dizer por vós; porque
quem faz tudo tão bem feito, nem em saber chegar
a tempo e a horas sabe faltar. Assentai-vos, e torna-
remos à nossa conversação, que não é pouco pro-
veitosa.
lo Despachador — Ao menos pera mi sei dizer que
me é muito necessária; porque me tendes informado
de cousas que nunca ouvi de outrem com tanta ver-
dade e isenção, como vós tendes dito tôdas. E já
que estamos sós e fechados, por amor de mim que me
15 digais vosso parecer sôbre ua cousa, em que tôda
esta noite dei muitas voltas em cama; e é: jque re-
médio pode Sua Alteza mandar pôr a êste negócio
das demandas sôbre os cargos?—porque vejo vir de
lá homens com sentenças dadas contra êles, e mui-
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o SOLDADO PRÁTICO
tas por cousas muito pera rir; e tenho isto por cousa
muito contra o serviço de Deus e del-rei, porque a
jornada é muito comprida e arriscada pera virem cá
buscar o suprimento dos cargos.
5 Sold. — Por certo, senhor, que Vossa Mercê me
lembrou ua cousa, que me esquecia, e que eu tra-
zia muito estudada, pera ser a primeira sôbre que
gritasse neste reino. E se isso se entende e Vossas
Mercês o tem notado e visto (Como não significam
io a Sua Alteza essas cousas pera prover nelas, e
acudir a seus vassalos? Porque jque gôsto podem
todos ter de o servir, se, depois de eu o fazer vinte
anos, e depois de me despacharem, cabendo-me
cargo daí a outros vinte, quando cuido que posso
15 lograr o fructo de meus trabalhos, armarem-me um
caramilho de ua falência na minha patente, em que
o escrivão que a fez tem a culpa, e darem sentença
• contra mim que não tenho patente, por onde me é
forçado tornar a êste reino, não só a buscar o supri-
20 mento da falência, mas inda pedir a mercê de novó,
porque pela sentença fiquei excluído?
• jComo, senhor? tão pouco é vir da India a êste
reino, e tão pouco custa? Pois sabei que muitos
homens se deixam antes morrer poios hospitais, e
25 suas mulheres e filhos à esmola da Misericórdia,
que virem buscar êsses suprimentos, assi por a via-
gem ser muito grande e arriscada, como por ser de
tantas despesas; que por darem de comer a um ho-
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CENA II
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18, vistidas em A.
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2, e depôs em B.
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9, evitados em A.
26, na hora: ao mesmo tempo.
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9, Nesta idade em B.
20, Schilsthan em A.
28, dêles: dos habitantes dessas terras.
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O SOL DA DO PRÁTICO
4, eu fico: asseguro-vos.
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CENA III
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2, melhor despachados em B.
6-7, a quem pudessem servir, certamente o fariam;
porque andam os homens tão enfadados; e se nisto não
houver algum têrmo, se ham de vir a desenganar em B.
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4, enqueredores em A.
13, senão quanto: e até mesmo.
26, paraus: barcos de guerra dos indianos.
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CENA IV
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i, 'cravelas em A.
14-15. eu com mais olhos: eu e mais outros. Em B:
eu com os meus olhos.
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9, Ulixes em A.
10, embranhado: escondido no mato.
28. Cina não foi rei, mas apenas cônsul.
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5, em tanto que em A.
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28, atento em A.
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CENA VI
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5-8, Minõ em A.
8, Cale-le: cala-te. Forma popular.
20, alega em A.
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TERCEIRA PARTE
ARGUMENTO
CENA I
Fidalgo — Podeis-vos gabar, senhor soldado,
i£ que esta noite nos tirastes o sono a ambos, com
cuidarmos em quantas cousas nos dissestes, tanto
para ficarem escritas, que isso estávamos agora, o.
senhor secretário e eu dizendo; e só por isso mere-
ceis que se vos faça Ga grande mercê.
15 Soldado — Não é tão pouco fazer eu perder o
sono a Vossa Mercê, quando lho não fez perder o
govêrno da India e o pêso daquela máquina. E certo
que não sei qual é o governador que gosta do que
come, nem que tem horas de repouso, com tantos
20 cuidados, quantos para rezão devia ter; e muitas
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204.
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7, os soldos velhos em A.
22, nojo: mal, prejuízo.
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25, perçam em A.
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214.
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3. corriam-se: envergonhavam-se.
23, e assim... quem socorra falta em A.
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CENA IV
232
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7-8, intentaram em B.
31, Zamor em A.
234.
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2J5
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3, horlalices em A.
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24.7
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'
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ÍNDICE
Página
PREFÁCIO ix-xxxn
Carta de Diogo do Couto ao Conde de Salinas x
Primeira Parte 3-133
Cena I 3
Cena II — Do modo que correm os despachos
das cousas da Índia no Reino; em
que se tocam muitas cousas sôbre
algíias desordens que nisso há ... 20
Cena III — De como os móres imigos que a
fazenda do rei tem são os minis-
tros; e de como na Índia se cum-
prem mal os regimentos e man-
dados del-rei; e trata de outras
matérias 26
Cena IV — Dos modos que há de alvitres na
India, e do dano e prejuízo que
fazem 38
Cena V — Do segundo alvitre, que é contra
os homens; e das desordens que se
nêles cometem 43
Cena VI — Do terceiro alvitre, que é contra
Deus, e de muitas cousas outras,
em que os governadores são dis-
solutos 55
Cena VII — Do quarto alvitre, que é contra
todos; e que cousa são dividas
velhas 68
Cena VIII — De como os veadores da fazenda,
que vão às fortalezas do norte,,
são muito desnecessários; e das
desordens que se cometem na fa-
zenda del-rei 81
249
17
ÍNDICE
Página
250
CORRECÇÕES E ADITAMENTOS
751
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