Você está na página 1de 2

Apreciação crítica de Os Maias

Bom-dia, caros colegas e professora. Hoje, vou fazer uma apresentação crítica
de Os Maias, a obra-prima do escritor Eça de Queirós. Convém, antes de mais, lembrar
que Eça pertenceu à geração de Setenta, grupo de intelectuais determinados a mudar
Portugal e a aproximar o país dos países europeus desenvolvidos.
José Maria Eça de Queirós nasceu na Póvoa do Varzim, em… (breve biografia)

Os Maias, uma das obras mais conhecidas do escritor português Eça de


Queirós, publicada em 1888, retratam a história de uma família (Maia) ao longo de três
gerações, centrando-se nos amores incestuosos de Carlos da Maia e de Maria Eduarda.

Passando agora à obra propriamente dita, admirei bastante o enredo da intriga


principal. O desenrolar dos acontecimentos está tão bem arquitetado que leva o leitor
a sentir cada vez mais curiosidade pelo desenlace, mas sem permitir que o leitor se
torne num detetive competente e adivinhe a tragédia por chegar, ainda que os indícios
trágicos povoem a narrativa: a semelhança dos nomes dos irmãos, o caráter de Carlos
que lembra a Maria Eduarda a sua mãe e esta por sua vez lembra-lhe o avô, o quadro
que ilustra a cabeça degolada de S. João batista, na Toca, a manchar o espaço amoroso
de sangue e a lembrar a consanguinidade entre ambos… No entanto, Convém referir
que esta obra contém vários capítulos sem qualquer referência ao facto de Carlos e de
Maria Eduarda serem irmãos e, quando se descobre este incesto, é apenas numa
pequena parte da intriga, numa conversa circunstancial entre o Ega e o Sr. Guimarães,
a propósito do caráter deformado do seu sobrinho Dâmaso. Casualmente, o Sr.
Guimarães comenta, com toda a naturalidade, ter visto o Carlos acompanhado de sua
irmã. O cofre que Guimarães entrega a Ega para dar a Carlos ou à irmã, com os
documentos sobre a vida passada de Maria Monforte e que afiançam a
consanguinidade destas personagens, permitem-lhe a revelação trágica e fatal das
circunstâncias: Carlos era amante da irmã!
Sempre ouvi dizer que esta obra contava a história de dois irmãos que se
apaixonam sem saberem. Agora, que já a li, não concordo totalmente com esta
afirmação. Os Maias são muito mais do que um relato funesto de incesto, são intrigas
e presságios que vão criando mistério; são episódios que nos fazem rir; são descrições
que nos permitem visualizar na perfeição o espaço; são episódios que espelham a
sociedade portuguesa da época.
Na verdade, além da conhecida intriga principal, esta obra tem como subtítulo
Episódios da vida romântica. De facto, a obra encerra uma crónica de costumes,
retratando, com rigor fotográfico, a sociedade lisboeta da segunda metade do século
XIX. Com efeito, a história é também um pretexto para Eça fazer uma crítica à situação
decadente do país quer a nível político e cultural, quer à alta burguesia lisboeta
oitocentista, por onde perpassa um humor fino e satírico que configura a derrota e o
desengano de todas as personagens. Saliente-se a linguagem em que está escrita e a
fina ironia com que o autor define os caracteres e apresenta as situações.
Efetivamente, ao longo da obra, surge a sátira, a ironia requintada, parente do
sarcasmo com que Eça pincela a sociedade portuguesa e que se, por um lado resvala
na beatice e na crença fanática e crítica, por outro, perde-se num comportamento
amoral e imoral, justificado pelo sentimento amoroso. Os homens não saem bem
retratados na obra de Os Maias. Desfilam os tipos sociais: o banqueiro, o estadista, o
aristocrático, o intelectual, enfim… uma série de burgueses que se passeiam pela vida
sem nada produzir, ainda que não lhes faltem as competências, mas que se veem
subjugados por uma apatia nacional. Por sua vez, à mulher, cabe-lhe um papel sórdido
e desprezível: é adúltera e traiçoeira, sendo bela, desde Maria Monforte, passando
pela Condessa de Gouvarinho e de Raquel Cohen e terminando na própria Maria
Eduarda, sobre quem cai o peso do incesto, apesar de lhe reconhecer caráter. Talvez o
abandono por parte da sua mãe, em tenra idade, explique a visão tão negativa das
deusas dos românticos.
Além disso, a descrição é tão realista que parece que estamos perante uma tela
de cinema a visualizar todo o enredo. O escritor soube combinar os espaços com os
enredos, arranjando as personagens-tipo de forma a representar na totalidade e
perfeitamente a sociedade do século XIX.
Trata-se de um romance realista (e naturalista), onde não faltam o fatalismo, a
análise social, as peripécias e a catástrofe próprios do enredo passional. Eça de
Queirós disseca a sociedade portuguesa, expondo os podres de uma classe
aristocrática a quem competiria desenvolver o país, mas que se perde num
sentimentalismo romântico, por defeito, incrustado no caráter do luso. Os Maias são
um romance de desencanto e do vazio, de uma sociedade que se deixa arrastar pela
apatia e pelo marasmo, revelando-se incapaz de acompanhar a Europa. Não admira,
portanto, que o autor, juntamente com os companheiros da geração de setenta, se
autointitulassem, na ironia que tão bem os caracteriza, como os vencidos da vida.
Escolhi esta passagem que se encontra no final do último capítulo para mostrar
a desilusão quer de Eça quer de Carlos e que é a mesma da Geração de 70 e, portanto,
do próprio autor. (Ler)
Termino a minha apresentação da obra, na esperança de que tenham gostado e
de que se sintam motivados para a leitura desta obra-prima da nossa literatura.
Obrigada pela vossa atenção.

Você também pode gostar