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Para Leitura;

[...] Georges Gusdorf (1912-2000), filósofo e educador francês, num livro profundo e bonito, intitulado A
Fala afirma que podemos nos definir como "animais que falam". A linguagem, segundo Gusdorf, "fornece a
senha de entrada no mundo humano", uma vez que "a função da palavra, na sua essência, não é uma
função orgânica, mas uma função intelectual e espiritual".

As palavras são, em primeiro lugar, utilizadas para a comunicação entre os seres humanos e para dar
nome aos objetos com que lidam e às tarefas que realizam. A linguagem ganha seu sentido dentro de um
sistema de referência, em um contexto específico. A palavra é proferida por um sujeito e recebida por outro
- ela é um vínculo entre sujeitos que se comunicam. Expressa ideias, pensamentos, sentimentos,
intenções. Ela "quer dizer". Mas... pode deixar de dizer! E, assim, em vez de revelar, pode ocultar
significados e intencionalidades. Quantas vezes se diz que algumas pessoas se escondem por trás das
palavras? Os discursos podem ser ambíguos, paradoxais, enganadores.

Vale pensar também na palavra emitida não só pela voz, mas pelo gesto. Gestos são palavras "ao vivo",
linguagem ao vivo. Pretendemos com as palavras expressar nosso pensar e nosso sentir, e muitas vezes
não conseguimos. Mas nosso corpo fala, mesmo quando não queremos. Às vezes, dizemos "sim" em
palavras, mas nosso interlocutor sabe que é "não", pelo jeito como nosso corpo fala.

Devemos refletir, portanto, sobre o que é revelado e oculto nos gestos/palavras que constituem as relações
no contexto escolar. O que a criança quer dizer com o olhar, a sobrancelha franzida, a mão estendida, o
punho cerrado? O que o professor quer dizer com o dedo em riste, o dar de ombros, o desvio do olhar, ou
até mesmo com o silêncio?

É necessário que estejamos sempre atentos aos nossos gestos e às nossas palavras. Ao falar, ao dizer
com o corpo, nos relacionamos e nos comprometemos com as pessoas e o trabalho. [...]

Para Leitura

[...] As escolas mais sensíveis e atentas mudanças globais de nosso tempo já estão procurando iniciar
processos de inovação reforma que poderão dar conta dos nossos novos desafios. É necessário modificar
não somente a organização escolar, os conteúdos programáticos, os métodos de ensino estudo, mas,
sobretudo, a mentalidade da educação formal.
Até bem pouco tempo atrás, o aprendizado do conteúdo programático era o único valor que importava
interessava na avaliação escolar. Hoje é preciso dar destaque à escola como um ambiente no qual as
relações interpessoais são fundamentais para o crescimento dos jovens, contribuindo para educá-los para
a vida adulta por meio de estímulos que ultrapassem as avaliações acadêmicas tradicionais (testes e
provas). Para que haja um amadurecimento adequado os jovens necessitam que profundas
transformações ocorram no ambiente escolar e familiar. Essas mudanças devem redefinir papéis, funções
e expectativas de todas as partes envolvidas no contexto educacional.
[...] Além disso, de forma geral, os jovens estão colocando em xeque o papel educacional da sociedade,
da família e da escola testemunhamos diariamente a multiplicação e o aumento da intensidade dos
comportamentos agressivos e transgressores na população infantojuvenil. As instituições educacionais se
veem obrigadas a lidar com a prática do bullying, que embora sempre tenha existido nas escolas de todo o
mundo, hoje ganha dimensões muito mais graves. Tal fato expõe não somente a intolerância às diferenças,
como também dissemina os mais diversos preconceitos e a covardia nas relações interpessoais dentro e
fora dos muros escolares [...]

Bullying: mentes perigosas na escola - autora Ana Beatriz Barbosa Silva


Para leitura

[...] A palavra bullying até pouco tempo atrás era pouco conheci da do grande público. De origem
inglesa, é utilizada para qualificar comportamentos violentos no âmbito escolar, tanto de meninos
quanto de meninas. Entre esses comportamentos, podemos destacar agressões, assédios e ações
desrespeitosas realizados de maneira recorrente e intencional por parte dos agres sores. É
fundamental explicitar que as atitudes tomadas por um ou mais agressores contra um ou alguns
estudantes geralmente não apresentam motivações específicas ou justificáveis. Isso significa dizer
que, de forma quase "natural", os mais fortes uti lizam os mais frágeis como meros objetos de
diversão, prazer e poder, com o intuito de maltratar, intimidar, humilhar e amedrontar suas vítimas. E
isso invariavelmente produz, alimenta e até perpetua muita dor e sofrimento nos vitimados.

Se recorrermos a um dicionário, encontraremos as seguintes traduções para a palavra bully: individuo


valentão, tirano, mandão, brigão. Já a expressão bullying corresponde a um conjunto de atitudes de
violência física e/ou psicológica, de caráter intencional e repetitivo, praticado por um bully (agressor)
contra uma ou mais vítimas que se encontram impossibilitadas de se defender.

O abuso de poder, a intimidação e a prepotência são alguma qualquer das estratégias adotadas pelos
praticantes de bullying (os bullies) para impor sua autoridade e manter suas vítimas sob total domínio.

Se pararmos para pensar, todos nós já fomos vítimas de hostilidade repetitiva e intencional em algum
momento de vida. Os valentões não estão somente nas escolas; eles podem ser encontrados em
qualquer segmento da sociedade. Os bullies juvenis também crescem e são encontrados em versões
adultas ou amadurecidas (ou melhor, apodrecidas). No contexto familiar, podem ser identificados na
figura de pais, cônjuges ou irmãos dominadores, manipuladores e perversos, capazes de destruir a
saúde física e mental e a autoestima de seus alvos prediletos. No território profissional, costumam ser
chefes ou colegas tiranos, mascarados e impiedosos. Suas atitudes agressoras (ou transgressoras)
estão configuradas na corrupção, na coação, no uso indevido do dinheiro público, na imprudência
arbitrária no trânsito, na negligência com os enfermos, no abuso de poder de lideranças, no sarcasmo
de quem se utiliza da "lei da esperteza", no descaso das autoridades, no prazer em ver o outro
sofrer... Muito embora o termo bullying originalmente tenha sido empregado para definir atos de tirania
e violência repetitivas no âmbito es colar, muitas vezes também é adotado para explicar todo tipo de
comportamento agressivo, cruel, proposital e sistemático inerente as relações interpessoais. No
entanto, é importante salientar que, em cada ambiente, esses comportamentos recebem nomes
distintos [...]
Bullying: mentes perigosas na escola - autora Ana Beatriz Barbosa Silva

Para Leitura:

[...] Uma das maiores verdades da neurociência é que a cerebral não nasce pronta. O que herdamos e
manifestamos desde a mais tenra idade é uma predisposição para desenvolvermos determinados
padrões de pensamento e de comportamento. Em outras palavras: o pensar e o agir de cada indivíduo
não estão previamente moldados em seus circuitos neuronais. De acordo com as vivências, o cérebro
reage ao ambiente externo e nessa interação cérebro-meio ambiente, toda a sua biologia pode ser
alterada de forma positiva ou negativa.

As nossas relações interpessoais, em especial, são as que mais influenciam a biologia cerebral.
Quanto mais estreitas forem essas relações, maior será o poder de influência sobre todo o
metabolismo neuronal.

A palavra afeto vem de "afetar", de modificar por meio das emoções e dos sentimentos. Assim, um
trauma psicológico é capaz de deixar cicatrizes não só na alma, mas também em nosso cérebro. Da
mesma forma, situações positivas ou posturas transcendentes perante as mazelas vitais podem tatuar
nosso cérebro com força e determinação, capazes de transformar as fragilidades de ama fase da vida
em diferenças vitoriosas no futuro [...]

Bullying: mentes perigosas na escola - autora Ana Beatriz Barbosa Silva

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