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In: José Vicente SERRÃO (org.). A terra num império ultramarino.


Lisboa: Imprensa de Ciências Sociais – no prelo

O Estado do Maranhão e Pará: territorialidade e ocupação


(séculos XVII e XVIII)1

Rafael Chambouleyron
Universidade Federal do Pará

O objetivo deste capítulo é o de dar conta das dinâmicas mais gerais da ocupação do
espaço e da territorialidade no norte da América portuguesa. O vasto território conhecido
subsequentemente como Estado do Maranhão, Estado do Grão-Pará e Maranhão (a partir
da década de 1750), depois dividido em Estado do Maranhão e Piauí e Estado do Grão-
Pará e Rio Negro (a partir de meados da década de 1770), foi fundado em 1621 e durou
até o início do século XIX, com inúmeras conformações espaciais. Tratava-se de uma
província administrativamente independente (duas, depois da década de 1770), com um
governo separado do restante da América portuguesa e ligado diretamente à Corte. Essa
situação se reforçou em dois momentos, quando da criação do bispado do Maranhão
(1677) e depois do bispado do Pará (1719) ambos sufragâneos do patriarcado de Lisboa.
Esse vasto território setentrional da América portuguesa teve diversas configurações
internas. Incorporou diversas capitanias reais e, até meados do século XVIII, capitanias
privadas. As principais capitanias reais foram o Pará e o Maranhão (o Ceará foi capitania
até meados do século XVII), às quais se incorporaram a capitania do Piauí e a capitania
de São José do Rio Negro no século XVIII. A denominada capitania do Gurupá aparece
em diversos documentos como capitania real, mas, na verdade, se confundia com a
fortaleza do Gurupá e não com uma capitania no sentido territorial (como as demais). Os
poderes ao mesmo tempo militares e administrativos exercidos principalmente pelos
governadores, mas igualmente (embora em menor escala) pelos capitães-mores
certamente teve influência no processo de territorialização portuguesa nessa vasta região.
Diferentemente de outras conquistas da América portuguesa, no Maranhão e Pará parece

1
Pesquisa apoiada pelo CNPq/Brasil.
2

ter havido uma relativa centralização de poderes em mãos das autoridades nomeadas
pelos reis, fundamental para compreender as dinâmicas centrífugas da expansão colonial.
A condição de fronteira do território, notadamente a ocidente, certamente teve um papel
nesse sentido.
Constituíram capitanias de donatários as do Cabo do Norte, de Cametá, do Caeté e de
Cumã ou Tapuitapera, todas criadas na década de 1630.2 Em 1665, foi criada a capitania
da Ilha Grande de Joanes (ilha do Marajó).3 Houve também a tentativa frustrada de
efetivação de uma capitania no rio Xingu, em meados da década de 1680. Vingaram até
meados da década de 1750 as capitanias de Cametá, Caeté, Tapuitapera e Joanes, quando
retornaram ao patrimônio da Coroa. A capitania do Cabo do Norte foi retomada pela
Coroa ainda no século XVII. Apesar de sua longa existência, as donatárias não parecem
ter tido um papel crucial no processo de territorialização da região amazônica. Queixa
frequente por parte dos donatários e/ou seus representantes era a intromissão e ingerência
das autoridades régias (notadamente os governadores e os capitães-mores), bem como
locais (as Câmaras de Belém e São Luís) nos negócios das capitanias. Embora a partir
delas tenham se constituído vilas que se mantiveram ao longo do período colonial (e
constituem cidades da região até hoje) não parece ter ido muito longe a sua influência
territorial, ou divergido significativamente da territorialização exercida no Estado do
Maranhão e Pará como um todo. Há, contudo, que se destacar o seu lugar nas rotas e
caminhos principais do território: Cametá como ponto de partida ou entreposto de
expedições ao sertão amazônico. Caeté e Tapuitapera como pontos importantes do
caminho entre a cidade de Belém e a cidade de São Luís.
Em grande medida, o território do Estado do Maranhão e Pará (passaremos a chamá-
lo assim para padronizar a denominação) corresponde à atual Amazônia brasileira, muito
embora a sua jurisdição se estendesse para além dela, na sua porção oriental, ao incorporar
as campinas do leste do Maranhão e do Piauí. Nesse sentido, qualquer reflexão sobre a
questão da terra nesse imenso território enseja igualmente uma discussão da sua

2
Elis de Araújo Miranda, “Representações da Amazônia: paisagens e imagens de Cametá (PA)” (tese de
doutoramento, Rio de Janeiro, Universidade Federal do Rio de Janeiro, 2006); Rafael Chambouleyron,
Povoamento, ocupação e agricultura na Amazônia colonial (1640-1706) (Belém: Açaí/PPHIST/CMA,
2010), 82-101; Alexandre de Carvalho Pelegrino, “Donatários e poderes locais no Maranhão seiscentista
(1621-1701)” (dissertação de mestrado, Niterói, Universidade Federal Fluminense, 2015), 22-59.
3
Joel dos Santos Dias, “‘Confuso e intrincado labirinto’. Fronteira, território e poder na Ilha Grande de
Joanes (séculos XVII e XVIII)” (tese de doutoramento, Belém, Universidade Federal do Pará, 2016), 108-
150.
3

heterogeneidade ambiental e de suas implicações. Para além das questões de ordem


político-administrativa, é preciso entender os diversos momentos que dão sentido ao
processo de conquista e colonização desse vasto território, ao longo do período colonial.
Nas últimas décadas, não há dúvida que a produção acadêmica sobre o Estado do
Maranhão e Pará tem se desenvolvido de maneira significativa. Esse processo é
certamente fruto da expansão dos cursos de pós-graduação nas regiões norte e nordeste,
e do interesse, embora mais pontual, pela compreensão das dinâmicas históricas desse
território nos centros tradicionais de produção acadêmica no Brasil e também no exterior.
De um modo em geral, a historiografia recente sobre o período colonial, parece-nos, tem
superado um viés que se cimentou na ideia da condição periférica do Estado do Maranhão
e Pará em relação ao Estado do Brasil.
Os estudos com os quais dialoga este capítulo têm procurado apostar na compreensão
das especificidades da região e das múltiplas relações que a conectaram não somente às
demais conquistas portuguesas, mas igualmente a outros territórios, inclusive fora das
Américas. Assim, pouco a pouco, deixa-se de lado uma história que tem como eixo
explicativo o quadro do atual Estado nacional. Nesse contexto, a produção historiográfica
recente tem se voltado para diversas temáticas que permitem compreender a
especificidade do Estado do Maranhão e Pará, como o problema dos índios, das fronteiras
e suas conexões, do papel fundamental dos rios, e da heterogeneidade socioeconômica do
próprio Estado do Maranhão e Pará. Privilegiou-se aqui a bibliografia das últimas duas
décadas que se volta para as questões da ocupação e do território. Em razão das limitações
editoriais, não foi possível incluir aqui a cada vez mais numerosa produção que tem saído
à luz sobre os diversos aspectos da colonização desse vasto território.
Este capítulo está organizado em cinco partes, dispostas cronologicamente. As
primeiras quatro eminentemente cronológicas. Em primeiro lugar, problema da conquista
dessa região, que se estende de princípios a meados do século XVII. Em segundo lugar,
o período pós-Restauração. Em terceiro lugar, o processo de expansão das fronteiras do
Estado do Maranhão e Pará a leste e oeste, iniciado em finais do século XVII. Em quarto,
as implicações das reformas pombalinas para a região. Na quinta parte, à guisa de
conclusão, trata-se de discutir alguns temas que perpassam os diversos períodos aqui
tratados.
4

1. Conquista na primeira metade do século XVII


As primeiras décadas de consolidação do domínio ibérico no Estado do Maranhão e
Pará, que antecedem e sucedem à criação do próprio Estado, estão claramente marcadas
por uma dimensão de conquista militar e expansão dos interesses luso-castelhanos (já que
este processo se dá durante a Monarquia Hispânica) em direção a oeste das fronteiras do
então denominado Estado do Brasil.
Embora possamos considerar que a ocupação da região se deu tardiamente, a presença
europeia na região amazônica data do final do século XV. O espanhol Vicente Yáñez
Pinzón é por muitos considerado o primeiro europeu a ter viajado pela Amazônia,
provavelmente em 1500. Durante a primeira metade do século XVI, várias jornadas
castelhanas se seguiram às incursões de Vicente Pinzón, em geral descendo o rio
Amazonas, motivadas pelas maravilhas de El Dorado, do País da Canela, regiões de
imensas riquezas, e outros mitos do descobrimento da América, que tanto excitaram os
desejos dos europeus ao longo do século XVI.4
Explorações portuguesas na região começaram no início do século XVI. Durante os
anos 1530, com a instituição das capitanias donatárias no território brasileiro, algumas
delas foram concedidas na costa norte (Maranhão, Pará e Piauí) a João de Barros, Aires
da Cunha, Fernão Álvares de Andrade e Antônio Cardoso de Barros. Em 1535-36, alguns
dos donatários organizaram uma expedição para ocupar suas terras, que terminou
fracassando. A tentativa se repetiu em 1554 e 1556, novamente sem resultados.5
Para além de Portugal e Espanha, outras nações europeias tomaram parte na primeira
ocupação da região amazônica, em particular a França, a Inglaterra e as Províncias
Unidas. Esta realidade é fundamental para entender as próprias causas e meios da
conquista ibérica da Amazônia. Holandeses, ingleses e irlandeses comerciavam tabaco,
algodão e madeiras tintórias com diversas nações indígenas.6 Entretanto, foi a presença

4
Auxiliomar Silva Ugarte, Sertões de Bárbaros. O Mundo Natural e as Sociedades Indígenas da Amazônia
na Visão dos Cronistas Ibéricos (Séculos XVI-XVII) (Manaus: Editora Valer, 2009); Raimundo Marques
da Cruz Neto, “Em busca das províncias grandiosas: as entradas espanholas quinhentistas na fronteira
oriental dos Andes centrais (1538-1561)” (dissertação de mestrado, São Paulo, Universidade de São Paulo,
2014).
5
Jorge Couto, “As tentativas portuguesas de colonização do Maranhão e o projecto da França equinocial”,
em A união ibérica e o mundo atlântico, org. Maria da Graça M. Ventura (Lisboa: Colibri, 1997), 174-183.
6
André da Silva Lima, “A guerra pelas almas: alianças, recrutamentos e escravidão indígena (do Maranhão
ao Cabo do Norte, 1615-1647)” (dissertação de mestrado, Belém, Universidade Federal do Pará, 2006);
Lodewijk Hulsman, “Swaerooch: o comércio holandês com índios no Amapá (1600-1615)”, Revista
Estudos Amazônicos, vol. VI, nº 1 (2011): 178-202; Pablo Ibáñez Bonillo, “La conquista portuguesa del
5

dos franceses que, para boa parte da historiografia, moveu os portugueses a conquistar e
a ocupar a região.
Os franceses começaram a se tornar uma ameaça aos interesses portugueses na região,
desde finais do século XVI. Mas somente com a autorização da rainha regente da França,
foi organizada uma expedição que partiu para o Maranhão, em 1612. A ameaça
representada pela cidade francesa de São Luís, numa terra que a coroa ibérica considerava
como sua, serviu de justificativa para se enviar uma expedição militar para expulsar os
franceses. É importante lembrar, entretanto, que os portugueses vinham combatendo os
franceses no atual nordeste brasileiro, desde os anos 1570, forçando-os para norte e para
o oeste.7 Em 1615, as tropas portuguesas finalmente conquistaram São Luís, após alguns
meses de escaramuças.
De 1615 em diante, pode-se dizer que os portugueses (embora, naquele tempo,
dependentes da coroa castelhana) nunca deixaram a região. Ao contrário, lentamente
consolidaram o seu domínio sobre a região amazônica. As cidades de São Luís, de Belém
(fundada em 1616) e a fortaleza de Santo Antônio de Gurupá – a “chave” ou a “sentinela”
da região, como foi definida à época – constituíram os três centros da dominação
portuguesa do Estado do Maranhão e Pará. Dali os portugueses tiveram que lutar contra
nações indígenas e contra outras nações europeias para assegurar a sua supremacia na
Amazônia.
Assim, a dominação portuguesa enfrentou uma série de desafios, já que durante a
primeira metade do século XVII, foram frequentes os conflitos com ingleses, irlandeses
e holandeses. Os episódios são muitos. Na década de 1640, entretanto, ingleses e
irlandeses praticamente abandonaram suas atividades na região. Já os holandeses não
ofereceram apenas resistência na floresta, como no Cabo do Norte. Em 1641, os
holandeses ocuparam a cidade de São Luís, que só foi retomada em 1644. Quanto aos
franceses, os conflitos se mantiveram durante séculos, principalmente em função da
fundação de Caiena (atual Guiana francesa). A fronteira norte do Estado do Maranhão se
tornou assim um constante problema para a coroa portuguesa, principalmente a partir dos
anos 1670. O tratado de Nimègue (1678) fez cessar os conflitos entre as Províncias Unidas
e a França no norte da América do Sul, deslocando os interesses das duas nações para o

estuario amazónico: identidad, guerra, frontera (1612-1654)” (tese de doutoramento em História, Sevilha,
Universidad Pablo de Olavide, 2016), 96-115.
7
Couto, “As tentativas portuguesas de colonização do Maranhão…”, 184-194.
6

sul, onde estava localizado o Cabo do Norte português. Esta região se tornou um território
em constante disputa entre França e Portugal, e depois o Brasil, até o século XX.
Para além das nações europeias, durante as primeiras décadas da conquista, diversas
rebeliões e conflitos com os indígenas afligiam os portugueses, tais quais os levantes
liderados pelos “principais” indígenas Amaro e Cabelo de Velha (ambos na década de
1610).8 As autoridades coloniais empreenderam diversas expedições para punir os
considerados índios hostis. Apesar do relativo sucesso de muitas delas (principalmente as
da primeira metade do século XVII), os conflitos com os índios se mantiveram ao longo
de todo o período colonial e representaram um importante problema para o próprio
desenvolvimento da sociedade e economia portuguesas na região, como veremos.
A conquista portuguesa da região amazônica, como visto aqui, seguiu a progressiva
ocupação da costa norte da América portuguesa, movendo-se de leste a oeste. Essa
campanha foi principalmente empreendida por moradores de Pernambuco, algo que
marcou, sem dúvida, o contexto no interior do qual a sociedade começou a ser organizada.
A importância inicial dada às plantações de açúcar revelava, seguramente, a influência da
anterior colonização portuguesa no que hoje chamamos de região nordeste do Brasil.
Entretanto, esses moradores não levaram ao Estado do Maranhão apenas suas tradições
econômicas. Seus conflitos de família, por exemplo, constituíram uma parte importante
da construção da Amazônia colonial.9
Nos primeiros trinta ou quarenta anos da conquista, esses conflitos, tal qual as batalhas
travadas contra “estrangeiros” e indígenas hostis, fizeram parte da vida diária do Estado
do Maranhão. Entretanto, durante a segunda metade do século XVII, na verdade, após a
Restauração da coroa portuguesa, em 1640, inaugura-se um novo período para a região.
Nenhum dos conflitos cessou. Contudo, o novo rei, Dom João IV, tornou-se cada vez
mais preocupado não só com a ocupação e domínio militar da região, mas igualmente
com o seu povoamento e desenvolvimento econômico – a sua “conservação e aumento”,
como se dizia à época.

8
Alírio Carvalho Cardoso, “Insubordinados, mas sempre devotos: poder local, acordos e conflitos no antigo
Estado do Maranhão (1607-1653)” (dissertação de Mestrado, Campinas, Universidade Estadual de
Campinas, 2002), 91-103; Pablo Ibáñez Bonillo, “Desmontando a Amaro: una re-lectura de la rebelión
tupinambá (1617-1621)”, Topoi, vol. 16, nº 31 (2015): 465-490.
9
Antonio Filipe Pereira Caetano, “‘Para aumentar e conservar aquelas partes…’: conflitos dos projetos
luso-americanos para uma conquista colonial (Estado do Maranhão e Grão-Pará, séculos XVII-XVIII)”,
Revista Estudos Amazônicos, VI, n. 1 (2011): 2-20; Cardoso, “Insubordinados, mas sempre devotos….”.
7

As intepretações que tratam do processo de ocupação inicial da região que


corresponderá ao território do Estado do Maranhão e Pará têm sofrido uma inflexão nos
últimos anos. É que até boa parte do século XX, a reflexão se orientou no sentido
principalmente de destacar o processo de expansão de um domínio luso-brasileiro
conquistado contra os “estrangeiros” pela glória das armas portuguesas, mesmo que ainda
em plena União Ibérica. Aliás, desde finais do século XVII, quando se inicia um processo
de consolidação do domínio português na região, letrados entenderam que a expansão
portuguesa na região amazônica, ainda que feita sob o domínio da União Ibérica, teria
correspondido a um esforço e resposta dos luso-brasileiros às “injustas” e “ilegítimas”
pretensões territoriais principalmente de franceses, holandeses e ingleses.
Contudo, recentemente, tem-se procurado entender, por um lado, o papel da ocupação
indígena pré-colombiana como condição dessa primeira ocupação ibérica. Nas primeiras
décadas da conquista, a presença luso-castelhana não pôde ir mais longe que a margem
sul do rio Amazonas, que coincidia com a presença de grupos tupi na região, com os quais
os ibéricos já tinham larga experiência desde o início da conquista da América
portuguesa. Havia, assim, uma fronteira indígena que condicionou inicialmente o avanço
luso-castelhano.10
Por outro lado, a importância da Monarquia ibérica na primeira expansão portuguesa
no Maranhão e Pará. Trata-se agora de compreender como a conquista da região
amazônica esteve inserida nas lógicas próprias de expansão territorial da monarquia
castelhana, contexto que ajuda a compreender as opções tomadas pela Coroa ibérica com
relação à região, desde finais do século XVI. A própria fundação do Estado do Maranhão
e Pará seria expressão da Monarquia Hispânica.11
Essa revisão tem ajudado a construir uma explicação não só menos ufanista da
conquista da Amazônia, mas igualmente mais conectada aos contextos mais globais da
expansão ibérica, mas também aos mecanismos de governo e exercício de poder no

10
Ibáñez Bonillo, “La conquista portuguesa del estuario amazónico…”; Antônio Porro, O povo das águas:
ensaios de etno-história amazônica (Rio de Janeiro: Vozes, 1996).
11
Guida Marques, “L’invention du Brésil entre deux monarchies. Gouvernement et pratiques politiques de
l’Amérique portugaise dans l’union ibérique (1580-1640)” (tese de doutoramento, Paris, EHESS, 2009),
284-343; Alírio Carvalho Cardoso, “Maranhão na Monarquia Hispânica: intercâmbios, guerra e navegação
nas fronteiras das Índias de Castela (1580-1655)” (tese de doutoramento, Salamanca, Universidad de
Salamanca, 2012)
8

mundo ibérico.12 Isso permite uma leitura mais completa dos conflitos que animaram os
ibéricos contra holandeses, franceses e ingleses, como “parte de um projeto hispano-luso
de proteção e integração comercial na fronteira entre a América Portuguesa e as Índias
castelhanas”.13

2. Consolidação da ocupação na segunda metade do século XVII


Se não há dúvida da influência do legado castelhano nos sentidos das políticas
portuguesas para a região amazônica, a denominada Restauração da coroa portuguesa,
em 1640, significou também novas direções na própria conquista da região, que aos
poucos se consolidava. Esse episódio significou a necessidade de renegociação das
relações entre as populações americanas, notadamente as elites, e seu novo rei. Não
fortuitamente, na década de 1650, os cidadãos de São Luís e de Belém recebem os
privilégios de cidadãos do Porto. Mais do que isso, a Coroa resolve enfrentar o problema
da mão de obra indígena de uma maneira sistemática, por meio de uma série de ordens,
em alguns aspectos bastante contraditórias.
No Estado do Maranhão e Pará, os três primeiros reinados bragantinos – notadamente
o reinado de Dom Pedro II (1683-1706) – significam uma reconfiguração territorial
importante que acompanha o próprio desenvolvimento e consolidação da conquista. Esse
processo se insere no contexto mais geral da própria estabilização da dinastia bragantina
em finais do século XVII, cujas reverberações alcançam, também os confins da
Amazônia, de uma maneira ou outra. Karl Heinz Arenz e Frederik Matos chamam a
atenção para a importância de uma série de medidas tomadas pela Coroa, que denominam
de “pacote socioeconômico”14, no contexto da crise mais geral do mundo português, que
certamente criará condições para um movimento de expansão já na primeira metade do
século XVIII. Assim, há inúmeras implicações territoriais da política bragantina, na
segunda metade do século XVII.

12
Helidacy Maria Muniz Corrêa, “‘Para aumento da conquista e bom governo dos moradores’: o papel da
Câmara de São Luís na conquista do Maranhão (1612-1668)” (tese de doutoramento Niterói, Universidade
Federal Fluminense, 2011).
13
Cardoso, “A conquista do Maranhão e as disputas atlânticas na geopolítica da União Ibérica (1596-
1626)”, Revista Brasileira de História, vol. 31, nº 61 (2011): 333.
14
Karl Heinz Arenz e Frederik Luiz Andrade de Matos, “‘Informação do Estado do Maranhão’: uma relação
sobre a Amazônia portuguesa no fim do século XVII”, Revista do Instituto Histórico e Geográfico
Brasileiro, 175 (2014): 352-354.
9

Em primeiro lugar, no caso dos vastos sertões da capitania do Pará, promove-se uma
economia voltada para a extração de produtos florestais. Desde o início da conquista do
Maranhão e Pará, há um interesse evidente pelos produtos da região, que se insere no
processo de gradual perda das possessões orientais.15 Alguns dos primeiros relatos teciam
diversos paralelos entre a conquista do Maranhão e a Índia, a partir de diversos produtos.
Mas pode-se dizer que é a partir dos anos 1650 que essas notícias começam a se tornar
cada vez mais sistemáticas e a chamar a atenção da Coroa, dando lugar a um processo de
investigação e devassamento do território em busca de novos produtos. Ao longo da
segunda metade do século XVII, a noção de “descoberta” se torna a ideia motriz por trás
de uma série de deslocamentos pelos sertões em busca de produtos já conhecidos ou que
vão sendo conhecidos aos poucos – como o cravo de casca (Dicypellium caryophyllatum),
a salsaparrilha, a salsa, copaíba e andiroba (das quais se faziam óleos), produtos tintórios
e o cacau – e de produtos por descobrir. A exploração do cacau e do cravo, notadamente,
consolida um tipo de exploração econômica que significa o espraiamento pelos rios e
sertões da Amazônia, por meio das canoas.16
Em segundo lugar, a organização de uma lógica de obtenção de trabalho indígena que
pressupunha a expansão territorial, por meio de descimentos de índios livres (para as
aldeias missionárias), das guerras e das expedições de resgates de índios escravos, formas
que se conectavam à exploração das drogas do sertão. Ao longo de boa parte do período
colonial, os nativos, livres ou escravos, serão a principal força de trabalho na região, tanto
para as atividades de cultivo, como para a exploração dos produtos florestais por meio da
coleta.
Principalmente desde a década de 1650, há uma série de determinações régias, muitas
vezes contraditórias, que determinam os modos de aquisição de trabalhadores indígenas.
O grande “fornecedor” de mão de obra na região era o sertão amazônico (inclusive para
a cidade de São Luís, estabelecida mais ao leste), uma vez que a presença portuguesa foi
aos poucos dizimando as populações indígenas mais próximas das cidades de São Luís,

15
Rafael Chambouleyron, “As especiarias da Amazônia”, BR História, 1 (2007): 70-74; Alírio Cardoso,
“Outra Ásia para o império: fórmulas para a integração do Maranhão à economia oceânica (1609-1656)”,
em T(r)ópicos de história: gente, espaço e tempo na Amazônia (séculos XVII a XXI), org. José Luis Ruiz-
Peinado Alonso e Rafael Chambouleyron (Belém: Açaí, 2010), 9-26; Alírio Cardoso, “Especiarias na
Amazônia portuguesa: circulação vegetal e comércio atlântico no final da monarquia hispânica”, Tempo,
21, n. 37 (2015): 1-18.
16
Rafael Chambouleyron, “Cacao, Bark-clove and Agriculture in the Portuguese Amazon region,
Seventeenth and Early Eighteenth Century”, Luso-Brazilian Review, 51, n. 1 (2014): 1-35.
10

de Belém e das vilas do Estado do Maranhão, em razão de epidemias, de guerras e do uso


extensivo de trabalhadores nativos. Cada vez mais, as drogas e os índios buscavam-se
mais longe. As expedições em busca de trabalhadores indígenas, tal qual as de busca das
drogas do sertão, com as quais se confundiam, aliás, tiveram, portanto, uma dimensão
territorial fundamental na consolidação do domínio português, ainda que frágil, sobre a
região.
Mas a territorialização portuguesa no Estado do Maranhão não se definia apenas por
meio de empreendimentos marcados pela mobilidade, que recentemente têm sido
denominados pelo termo de “monções amazônicas”.17 Assim, em terceiro lugar, o final
do século XVII é marcado pelo início de uma distribuição sistemática de terras em
sesmaria, nos rios próximos a Belém e nos sertões da capitania do Maranhão, processo
que se consolidará principalmente na primeira metade do século XVIII, como veremos.
As terras para as quais há registro começam a ser distribuídas nas últimas décadas do
século XVII, principalmente no Pará, e confirmadas em princípios do século XVIII, ainda
no reinado de Dom Pedro II. Elas se estabeleceram naquilo que poderíamos chamar de
dois complexos fluviais: 1) na capitania do Pará, no conjunto dos rios que desemboca na
hoje denominada baía do Guajará, em frente à cidade de Belém: rios Moju, Acará, Capim,
Guamá e Tocantins; 2) na capitania do Maranhão, nos rios que desembocam no chamado
golfão maranhense, onde se localiza a ilha de São Luís: rios Itapecuru (principalmente),
Mearim, Pindaré e Munim, e na própria ilha de São Luís. Para esse período há referência
a aproximadamente 100 doações, dadas a cidadãos e moradores das duas cidades que, em
geral legitimavam a solicitação do título por meio de posse anterior da terra. As terras na
capitania do Pará são marcadas principalmente pela policultura de produtos tradicionais,
como tabaco e açúcar, como de novos produtos, notadamente o cacau. Onipresente,
apesar de não necessariamente mencionada na documentação – em geral identificada com
o termo roça – está a mandioca, base da alimentação e da expansão pelos sertões, herança
das tradições indígenas.18
Essa expansão agrícola e também pastoril, no caso da capitania do Maranhão (processo
no qual se insere também a fundação da vila de Santa Maria do Icatu, nos anos 1680), não
foi tão evidente. Os sertões do Maranhão, notadamente os rios Itapecuru e Mearim,

17
André José Santos Pompeu, “Monções Amazônicas: avanço e ocupação da fronteira noroeste (1683-
1706)” (dissertação de mestrado, Belém, Universidade Federal do Pará, 2016).
18
Roberto Borges da Cruz, “Farinha de ‘pau’ e de ‘guerra’: os usos da farinha de mandioca no extremo
norte (1722-1759)” (dissertação de mestrado, Belém, Universidade Federal do Pará, 2011).
11

tinham sido já ocupados por alguns engenhos de açúcar, nas primeiras décadas da
conquista. Entretanto, a região foi pouco a pouco sendo despovoada, em razão da ação
dos índios chamados “do corso”, que inviabilizam a presença portuguesa na região. A
partir da década de 1670, começa a tomar corpo a ideia de reocupação dos vastos e férteis
sertões do Maranhão. Mas, de fato, é somente na década de 1690 que as expedições de
“desinfestação” da região, como se dizia à época, começam a se efetivar.19 Este processo
é, portanto, paralelo ao da distribuição de terras no lado oriental do Estado, nos sertões
próximos à cidade de Belém, na capitania do Pará, de que falamos acima.
Em quarto lugar, a condição de fronteira da capitania do Pará se tornou um problema
cada vez mais presente para a Coroa, e principalmente, para as autoridades régias, mas
também moradores e missionários. De um lado, a ameaça que se fazia cada vez mais clara
na fronteira noroeste, com a consolidação da presença francesa em Caiena. Apesar de ter
sido inicialmente doada a Bento Maciel Parente, a capitania do Cabo do Norte (território
que corresponde aproximadamente ao atual Estado do Amapá) nunca vingou de fato. A
morte de dois religiosos jesuítas na região, em finais da década de 1680, acelera um
processo de tensionamento dessa fronteira, e o perigo de os índios da região se aliarem
aos franceses se torna cada vez mais real. A resposta a esses eventos e ameaças (reais ou
virtuais) será o acirramento dos conflitos contra alguns grupos indígenas, mas também a
tentativa de aliciá-los para o lado português e a construção de fortalezas. Na virada dos
séculos XVII e XVIII, há uma série de negociações diplomáticas que culminarão com a
assinatura dos tratados de Utrecht (1713-1714), que, entre outras questões, buscará
estabelecer os limites claros para as fronteiras entre as terras de Portugal e da França, o
que de fato, só ocorrerá com o Brasil já independente.
Mais a oeste, as missões jesuíticas castelhanas de Maynas se revelaram um problema
(embora àquela altura não tão grave quanto o do Cabo do Norte), em 1689, o religioso
jesuíta boêmio a serviço de Castela, padre Samuel Fritz, chega a Belém, adoentado (pelo
menos essa parece ter sido seu pretexto). Detido na cidade por quase um ano e meio, não
há dúvida que a viagem do padre Fritz assustava as autoridades portuguesas, até porque,
em Belém, o religioso aproveitou para defender os direitos das missões castelhanas.20 Os

19
Rafael Chambouleyron e Vanice Siqueira de Melo, “Índios, engenhos e currais na fronteira oriental do
Estado do Maranhão e Pará (século XVII)”, em Em terras lusas: conflitos e fronteiras no Império
português, orgs. Márcia Motta e José Vicente Serrão (Vinhedo: Horizonte, 2013), 231-259.
20
André Ferrand de Almeida, “Samuel Fritz and the Mapping of the Amazon”, Imago Mundi, 55 (2003):
113-119; Úrsula Andréa de Araújo Silva, “Corpo e fronteira: O diário de Samuel Fritz e a conquista do
espaço amazônico” (dissertação de mestrado, Natal, Universidade Federal do Rio Grande do Norte, 2007);
12

problemas com as missões castelhanas, contudo, só ficariam sérios com a expansão


portuguesa em direção do Rio Negro, principalmente a partir da segunda década do século
XVIII.
Em quinto lugar, em finais do século XVII, a Coroa determina a divisão do território
em distritos missionários, repartidos entre as diversas ordens religiosas, decisão também
influenciada pelos acontecimentos nas fronteiras ocidentais do Estado do Maranhão. Esta
repartição referia-se somente ao vasto território da capitania do Pará: em termos gerais,
coube aos jesuítas os rios que desaguavam na fronteira sul do Amazonas, o rio Tocantins,
Xingu, Tapajós e Madeira; aos franciscanos de Santo Antônio, as terras ao norte do
Amazonas até o Cabo do Norte; os carmelitas ficavam com as aldeias do Rio Negro21; os
franciscanos da província da Piedade, com os rios Xingu, Trombetas e Gurebi22; aos
mercedários, o rio Urubu. É claro que esses não eram espaços exclusivos das ordens
missionárias. Apesar das restrições impostas pela Coroa, os sertões foram sempre
percorridos pelas mais diversas gentes que compunham a sociedade colonial,
estabelecendo múltiplas relações nos vastos confins do Estado do Maranhão, desde pelo
menos meados do século XVII.
Para além de seu papel na conversão e catequese dos índios e como pastores dos
portugueses, as ordens missionárias tiveram um papel fundamental na construção de uma
espacialidade portuguesa e colonial, na região amazônica. De um lado, serviram em
inúmeros momentos como ponta de lança da conquista, por meio de missões ao sertão,
por eles organizadas, ou acompanhando as jornadas ao sertão. De outro, os missionários
foram responsáveis pela instalação de inúmeras aldeias de índios descidos do sertão (que
se convencionou chamar de aldeamentos), onde se desenvolveu uma economia agrícola
ligada à sobrevivência das diversas comunidades indígenas, que ainda não foi
devidamente estudada. Mais ainda, muitos desses lugares se tornaram, com o tempo, os
núcleos originários de diversas vilas (e depois cidades da Amazônia atual), processo que

Camila Loureiro Dias, “Jesuit Maps and Political Discourse: The Amazon River of Father Samuel Fritz”,
The Americas, 69, n. 1 (2012): 95-116; Camila Loureiro Dias, “L’Amazonie avant Pombal. Politique,
Economie, Territoire” (tese de doutoramento, Paris, Ecole des Hautes Etudes en Sciences Sociales, 2014),
213-219; Pompeu, “Monções Amazônicas…”.
21
Roberto Zahluth de Carvalho Junior, “‘Dominar homens ferozes’: missionários carmelitas no Estado do
Maranhão e Grão-Pará (1686-1757)” (tese de doutoramento, Salvador, Universidade Federal da Bahia,
2015).
22
Frederik Luizi Andrade de Matos, “Os ‘Frades Del Rei’ nos sertões amazônicos: os capuchos da Piedade
na Amazônia colonial (1693-1759)” (dissertação de mestrado, Belém, Universidade Federal do Pará, 2014)
13

se acelerou durante o ministério pombalino.23 Para se ter uma ideia, somente no vasto
território da província do Pará da primeira metade do século XIX, tinham sido antigas
aldeias missionárias, as então vilas ou lugares de Alter do Chão, Barcarena, Benfica, Beja,
Boim, Cintra, Colares, Conde, Franca, Melgaço, São Caetano de Odivelas, Portel,
Pombal, Pinhel, Souzel, Santarém, Veiros, Condeixa, Soure, Vilar.
Finalmente, os padres foram responsáveis pela instalação de inúmeras propriedades,
entre fazendas e currais nas diversas capitanias do Estado, em que se cultivavam gêneros,
como açúcar, cacau e algodão e se fabricavam diversos produtos, essenciais à região,
como canoas. A imagem de uma riqueza sem igual das ordens foi certamente exagerada
pelas incessantes reclamações dos moradores portugueses; mesmo assim, não há dúvida
de que, para além das aldeias missionárias e das propriedades no espaço urbano
(notadamente nas cidades de Belém, São Luís e nas diversas vilas), os missionários
possuíam diversos espaços de produção agrícola e artesanal que lhes rendiam frutos dos
quais buscavam evitar sistematicamente o pagamento dos dízimos. Infelizmente, ainda
falta um estudo mais detido sobre o governo econômico das ordens, excetuando-se, como
de costume, o caso dos jesuítas.24

3. Expansão territorial e econômica na primeira metade do século XVIII


Desde o final do século XVII e, principalmente, durante a primeira metade do século
XVIII, há um importante processo de expansão em direção às margens leste e oeste do
vasto Estado do Maranhão e Pará. Este é um contexto marcado, principalmente, pela
guerra nas fronteiras. Se não há dúvida que a expansão das fronteiras tem uma dimensão
política (e até diplomática), ela também está entranhada em um modelo centrífugo de
exploração econômica; as fronteiras, assim, serão construídas pelos mais diversos grupos
que compunham a sociedade colonial, mais do que pelas Coroas.
Ao leste, nas capitanias do Maranhão e do Piauí, configura-se um duplo movimento,
que acompanha, em sua grande maioria, a expansão da criação do gado. Por um lado, as
guerras de finais do século XVII tinham certamente ajudado a “desinfestar” os sertões,

23
Décio de Alencar Guzmán, “Constructores de ciudades: mamelucos, indios y europeos en las ciudades
pombalinas de la Amazonia (siglo XVIII)”, em Ciudades mestizas: intercambios y continuidades en la
expansión occidental. Siglos XVI a XIX, org. Clara García & Manuel Ramos Medina (México DF: Centro
de Estudios de Historia de México, 2001), 89-99.
24
Raimundo Moreira das Neves Neto, Um patrimônio em contendas: os bens jesuíticos e a magna questão
dos dízimos no Estado do Maranhão e Grão-Pará (1650-1750) (Jundiaí: Paco Editorial, 2013).
14

como se dizia à época, mas os conflitos continuariam por décadas. Entretanto, o


movimento de expansão e de lenta instalação de uma economia criatória nas porções
orientais do Estado do Maranhão é mais complexo, pois, na verdade, não acompanha
apenas um vetor de expansão. Maria do Socorro Coelho Cabral já chamou a atenção para
o “duplo movimento povoador” que caracteriza o Maranhão colonial, ligando-o
igualmente à capitania do Piauí, a partir de princípios do século XVIII.25
De fato, desde meados do século XVII, no Estado do Brasil, grupos ligados à criação
de gado vinculados à Bahia transpõem o São Francisco e vão pouco a pouco ocupando as
campinas a ocidente dos sertões de Pernambuco, Bahia e Ceará. Essa expansão está ligada
aos interesses da Casa da Torre e à expansão de seus domínios pelos sertões, processo em
que estabelecem, no contexto mais de geral de expansão do gado pelo interior, os
primeiros currais na região oriental do Piauí, onde obtêm vastas extensões de terra em
sesmaria26, o que gerou posteriormente inúmeros conflitos de terra na região. O final do
século XVII e princípios do século XVIII será marcado por um processo de expansão em
direção ao Piauí, com a criação da freguesia de Mocha, em 1696, e as inúmeras tentativas
da Coroa de desmembrar as terras do Piauí do governo de Pernambuco (o que de fato
ocorre nas primeiras décadas do século XVIII), lento processo de aproximação
administrativa (também eclesiástica) entre o governo do Estado do Maranhão e o Piauí.
Somente em 1712, será criada a vila de Mocha (depois Oeiras) e sua instalação definitiva
se dará em 1717. Se em finais do século XVII, diversos rios do Piauí estavam ocupados,
restava ainda como fronteira o rio Parnaíba, que seria transposto em princípios do século
XVIII, o que permitiu também a entrada do gado pelo sul da capitania do Maranhão 27, e
o acirramento dos conflitos com os índios desses sertões.28
Paralelamente a esse movimento de deslocamento pelo interior da América
portuguesa, seguindo a direção leste-oeste, houve outro vetor de expansão, mais ligado a
São Luís e às autoridades coloniais do Estado do Maranhão, que devassou não somente a

25
Maria do Socorro Coelho Cabral, Caminhos do gado. Conquista e ocupação do Sul do Maranhão (São
Luís: SIOGE, 1992), 21.
26
Ângelo Emílio da Silva Pessoa, “As Ruínas da Tradição: a Casa da Torre de Garcia d’Ávila – Família e
Propriedade no Nordeste Colonial” (tese de doutoramento, São Paulo, Universidade de São Paulo, 2003).
27
Cabral, Caminhos do gado, 103-105.
28
Ricardo Pinto de Medeiros, “O descobrimento dos outros: povos indígenas do sertão nordestino no
período colonial” (tese de doutoramento, Recife, Universidade Federal de Pernambuco, 2000), 114-144;
João Renôr Ferreira de Carvalho, Resistência indígena no Piauí colonial. 1718-1774 (Teresina: EdUFPI,
2008).
15

costa atlântica, mas igualmente se internou pelos sertões dos principais rios que deságuam
no golfão maranhense, notadamente o Itapecuru, o Mearim, o Munim, e também o Iguará.
Não há dúvida que os governadores do Estado do Maranhão tiveram aqui um papel
fundamental, na medida em que não só, em muitos casos, estimularam esse processo,
como o legitimaram por meio da autorização de guerra aos índios, da farta distribuição
de terras em sesmaria e da concessão de patentes diversas aos moradores envolvidos nesse
processo.
No que diz respeito à primeira metade do século XVIII, apesar de recentes trabalhos
sobre os conflitos entre portugueses e indígenas na fronteira oriental do Estado do
Maranhão29, a expansão da pecuária a partir, ou relacionada a São Luís, pelos sertões do
Maranhão e do Piauí, ainda é assunto pouco explorado; alguns trabalhos que discutem as
elites e os conflitos políticos no Maranhão têm abordado tangencialmente alguns aspectos
desse processo.30 Para o período pré-pombalino, parte significativa da documentação que
nos ajuda a entender esse processo – como as doações de terras e as confirmações de
cartas patentes a moradores e também a alguns índios – encontra-se não no Maranhão,
nem no Piauí, mas em Belém, no Arquivo Público do Estado do Pará (nos denominados
“Livros de Sesmarias”, compostos por vinte volumes), o que talvez tenha dificultado o
rompimento da tradicional barreira territorial que marca a historiografia brasileira. Há
uma relação entre as guerras contra os índios e os interesses particulares dos
governadores; assim como há uma intrínseca relação entre guerras e doação de terras por
parte dos governadores31, como, aliás, para boa parte do território colonial do atual
nordeste brasileiro.
O que é evidente é que a ocupação portuguesa dos sertões orientais do Estado do
Maranhão será marcada pela instalação de uma economia pastoril, cuja mais significativa
implicação – e isso vale para os dois vetores de expansão explicitados acima – será a
recorrente guerra contra nas nações indígenas que ali estavam, e que permitirá a expansão

29
Vanice Siqueira de Melo, “Cruentas guerras: índios e portugueses nos sertões do Maranhão e Piauí
(primeira metade do século XVIII)” (dissertação de mestrado, Belém, Universidade Federal do Pará, 2011).
30
Joel Santos Dias, “Os ‘verdadeiros conservadores’ do Estado do Maranhão: poder local, redes de clientela
e cultura política na Amazônia colonial (primeira metade do século XVIII)” (dissertação de mestrado,
Belém, Universidade Federal do Pará, 2008); David Salomão Silva Feio, “O nó da rede de apaniguados:
oficiais das câmaras e poder político no Estado do Maranhão (primeira metade do século XVIII)”
(dissertação de mestrado, Belém, Universidade Federal do Pará, 2013).
Rafael Chambouleyron e Vanice Siqueira de Melo, “Governadores e índios, guerras e terras entre o
31

Maranhão e o Piauí (século XVIII)”, Revista de História (USP), 168 (2013): 167-200.
16

do domínio português na região. De fato, “a violência foi a tônica do contacto


interétnico”.32
A oeste, podemos falar numa expansão multifacetada, diferentemente do que ocorre a
leste. Em primeiro lugar, o notável incremento da concessão de terras nos arredores de
Belém e também no arquipélago do Marajó. Em segundo lugar, a expansão em direção
ao Rio Negro e a guerra contra os índios Manao, que permitirá “interiorizar” ainda mais
o domínio. Em terceiro lugar, e atrelado a este último movimento, a rota para as minas de
Mato Grosso, pelos rios Madeira, Mamoré e Guaporé. Não trataremos aqui desses
caminhos para o Mato Grosso. Esta capitania, pertencente ao Estado do Brasil, foi criada
oficialmente em 1748, desmembrada da capitania de São Paulo. A sua porção mais
ocidental (distrito do Mato Grosso, cuja sede era a Vila Bela da Santíssima Trindade) teve
intensas relações como o Grão-Pará, principalmente no período da Companhia Geral de
Comércio do Grão-Pará e Maranhão (na segunda metade do século XVIII).
Retomando a ideia de Robert Bartlett para entender o desenvolvimento da Europa a
partir de meados do século X33, poderíamos falar, com relação às terras mais próximas à
cidade de Belém, numa “expansão interna”, da qual deriva a consolidação do
assentamento europeu nessa região em particular, relacionado, principalmente, com o
desenvolvimento da agricultura. Assim, a partir das listas nominais de data de terra, pouco
mais de 800 sesmarias foram concedidas a moradores do Pará durante o reinado de Dom
João V.34 O número de concessões é provavelmente maior, já que de 1707 até a década
de 1720, só temos os registros de confirmação, guardados nos fundos da Chancelaria
Régia e do Registro Geral de Mercês, do Arquivo Nacional da Torre do Tombo, em
Lisboa. Além disso, a primeira metade do século XVIII assiste ao início de uma tentativa
mais sistemática de exploração de recursos florestais como a madeira.35
Os poucos estudos que existem sobre a estrutura fundiária do Pará na primeira metade
do século XVIII indicam a predominância da policultura, em terras pequenas e médias,
dada a extensão do território e a oferta de terras devolutas (no sentido que se atribuía à

32
Luiz Mott, Piauí colonial. População, economia e sociedade (2ª edição. Teresina: APL, 2010), 181.
33
A “‘expansão interna’ – intensificação do assentamento [settlement] e a reorganização da sociedade na
Europa ocidental e central – foi tão importante quanto a expansão externa”. Robert Bartlett, The making of
Europe. Conquest, colonization and cultural change, 950-1350 (Londres: Penguin Books, 1994), 2.
34
“Catalogo nominal dos posseiros de sesmarias”, Annaes da Bibliotheca e Archivo Publico do Pará, tomo
III (1904): 5-149.
35
Regina Célia Corrêa Batista, “Dinâmica Populacional e Atividade Madeireira em uma vila da Amazônia:
A Vila de Moju 1730-1778” (dissertação de mestrado, Belém, Universidade Federal do Pará, 2013).
17

época, na região, como sendo sinônimo de terra nunca ocupada).36 Pode-se falar em
“concentração relativa da terra”, para a primeira metade do século XVIII, com terras
girando em torno de uma a duas léguas.37 Como foi indicado acima, a expansão fundiária
começa em finais do século XVII e se acelera ao longo da primeira metade do século
XVIII. Essa “fronteira interna” também incluía o arquipélago do Marajó, notadamente a
ilha grande de Joanes, que assiste ao início da concessão de terras principalmente para a
criação do gado, ao longo da primeira metade do século XVIII, inclusive com diversos
currais pertencentes a ordens religiosas.38 No Pará, essa expansão encontra-se diretamente
atrelada a Belém, já que a boa parte dos sesmeiros se identifica como morador (e em
menor número cidadão) da cidade. Ao que parece há um deslocamento entre os sítios e
engenhos e as roças, que também pode ser verificado no mesmo período nos sertões da
capitania do Maranhão.39 Para além das sesmarias, existe um mundo rural, feito de
referências indiretas ao cultivo e às roças, sem necessariamente implicar a concessão de
terras, que ainda é preciso desvendar; há, portanto, ainda algo que poderíamos denominar
de “ruralidade invisível”, feita de roças de índios, mestiços, desertores, que, pelo menos
para o século XVII e primeira metade do século XVIII, ainda aguarda um estudo mais
aprofundado e sistemático.40
O desenvolvimento de uma base agrícola, entretanto, está intimamente conectado com
outro processo de expansão em direção às fronteiras, principalmente, a fronteira oeste do
Estado do Maranhão e Pará. Temos aqui que distinguir duas regiões. Por um lado, a área
compreendida entre a fortaleza do Gurupá (na confluência entre os rios Amazonas e

36
Ana Paula Macedo Cunha, “Engenhos e engenhocas: atividade açucareira no Estado do Maranhão e
Grão-Pará (1706-1750)” (dissertação de mestrado, Belém, Universidade Federal do Pará, 2009); Rafael
Chambouleyron, “Terras e poder na Amazônia colonial (séculos XVII-XVIII)”, em Actas do Congresso
Internacional Pequena Nobreza nos Impérios Ibéricos de Antigo Regime. Edição digital (Lisboa:
IICT/CDI, 2012, CD-ROM), 1-12.
37
Rosa Acevedo Marin, “Camponeses, donos de engenhos e escravos na região do Acará nos séculos XVIII
e XIX”, Papers do NAEA, nº 131 (2000): 6.
38
Eliane Cristina Lopes Soares, “Família, compadrio e relações de poder no Marajó (séculos XVIII e XIX)”
(tese de doutoramento, São Paulo, Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, 2010), 33-46; Neves
Neto, Um patrimônio em contendas…, 64-66. Dias, “‘Confuso e intrincado labirinto’…”, 254-355.
39
Chambouleyron, Povoamento, ocupação e agricultura…, 101-114.
40
Sobre essas realidades, ver: Melo, “Cruentas guerras…”, 51-63; Wania Alexandrino Viana, “A ‘gente de
guerra’ na Amazônia colonial. Composição e mobilização de tropas pagas na capitania do Grão-Pará
(primeira metade do século XVIII)” (dissertação de mestrado, Belém, Universidade Federal do Pará, 2013),
110-130; Rafael Chambouleyron, “Sesmarias dadas a índios no Pará e no Maranhão (século XVIII)”,
Revista Ultramares, vol. 5, nº 1 (2014): 137-148.
18

Xingu), a ilha de Joanes e o Cabo do Norte. A principal consternação dos portugueses


aqui era a ameaça dos franceses de Caiena, que percorriam com frequência as terras
consideradas por Portugal como seu domínio, estabelecendo relações com os diversos
grupos indígenas na região. Não sem razão, as diversas missões e aldeamentos
franciscanos estabelecidos na ilha de Joanes tinham também uma função estratégica.41 O
mesmo se pode dizer das diversas tentativas de proteção do Cabo do Norte, por meio do
estabelecimento das tropas de guarda-costa, provavelmente nos anos 1720, e de ocupação
dessa região por missões jesuíticas e construção de fortalezas (o que de fato, só virá a se
efetivar na segunda metade do século XVIII, em torno do forte de São José de Macapá).42
De outro lado, a vasta fronteira oeste, que lindava com as missões castelhanas
jesuíticas, que se tornará o principal alvo das jornadas portuguesas de devassamento do
sertão em busca de drogas e de índios.43 A eliminação da barreira estabelecida pelos
índios Manao no Rio Negro, na década de 1720, possibilitará uma significativa expansão,
pelos rios da região, das tropas de resgate e das canoas que buscavam as drogas do sertão
(atividades que muitas vezes se confundiam). Esse novo processo permitiria o
alargamento das regiões de fornecimento de escravos44, consequentemente, do próprio
domínio português.

41
Ver: Maria Adelina de Figueiredo Baptista Amorim, “A missionação franciscana no Estado do Grão-
Pará e Maranhão (1622-1750). Agentes, estrutura e dinâmica” (tese de doutoramento, Lisboa, Universidade
de Lisboa, 2011), 319, 346.
42
Adler Homero Fonseca de Castro, “O fecho do império: história das fortificações do Cabo do Norte ao
Amapá de hoje”, Em Nas terras do Cabo do Norte: fronteiras, colonização e escravidão na Guiana
brasileira (séculos XVIII-XIX), org. Flávio dos Santos Gomes (Belém: EdUFPA, 1999), 129-193; Rosa
Acevedo Marin e Flávio dos Santos Gomes, “Reconfigurações coloniais: tráfico de indígenas, fugitivos e
fronteiras no Grão-Pará e Guiana francesa (séculos XVII e XVIII)”, Revista de História, 149 (2003): 69-
107; Tadeu Valdir de Freitas Rezende, “A conquista e a ocupação da Amazônia brasileira no período
colonial: a definição das fronteiras” (tese de doutoramento, São Paulo, Universidade de São Paulo, 2006),
131-144.
43
Ver: Massimo Livi Bacci, Amazzonia. L’impero dell’acqua (Bolonha: Il Mulino, 2012); Juan Sebastián
Gómez González, “Contra un enemigo infernal. Argumentos jesuíticos en defensa de la Amazonia
hispánica: provincia de Maynas, 1721-1739”, Fronteras de la Historia, vol. 17, nº 1 (2012): 167-194;
Sebastián Gómez González, “Invasores portugueses y reacciones jesuíticas en la disputa por una frontera
americana. Maynas, 1700-1711”, em El siglo XVIII americano. Estudios de Historia Colonial, org. Ana
Catalina Reyes Cárdenas, Juan David Montoya Guzmán e Sebastián Gómez González (Medellín:
Universidad Nacional de Colombia, 2013), 85-123.
44
Christian Purpura, “Formas de existência em áreas de fronteira: a política portuguesa do espaço e os
espaços de poder no oeste amazônico (séculos XVII a XVIII)” (dissertação de mestrado, São Paulo,
Universidade de São Paulo, 2006); Francisco Jorge dos Santos, “Nos confins ocidentais da Amazônia
portuguesa. Mando metropolitano e prática do poder régio na Capitania do Rio Negro no século XVIII”
(tese de doutoramento, Manaus, Universidade Federal do Amazonas, 2012), 39-110; Dias, “L’Amazonie
avant Pombal…”, 209-278.
19

Por outro lado, a expansão do tráfico de escravos indígenas permitirá o surgimento de


personagens singulares na história da Amazônia, intermediários entre o mundo dos
brancos e o mundo indígena e profundamente atrelados aos mecanismos de escravização
dos índios. Denominados de cunhamenas, dominavam parte do território, graças a suas
alianças com diversos grupos indígenas; aliados do poder central, inicialmente, foram
violentamente perseguidos, na segunda metade do século XVIII45, em razão do seu poder
e domínio espraiados pelos sertões.
Do ponto de vista de uma dinâmica econômica mais ampla, os movimentos centrífugos
descritos aqui não se explicam senão também em razão da constituição da base agrícola
referida inicialmente. Isso por duas razões. De um lado, é o cultivo da mandioca e da cana
de açúcar que fornecerá dois elementos indispensáveis em qualquer jornada ao sertão:
farinha e aguardente. De outro lado, as jornadas permitem o descimento de índios livres
que comporão a população das aldeias missionárias (e, eventualmente, repartidos entre
os moradores) e de escravos e também índios livres que trabalharão nas missões e nas
terras dos brancos. Há, sem dúvida, uma complementaridade entre abastecimento e
extrativismo, construída principalmente a partir das aldeias missionárias.46 Um “circuito
fechado” que conecta a zona agrícola à região de coleta das drogas do sertão e de obtenção
de trabalhadores.47
Trata-se, contudo, de uma dinâmica um pouco mais complexa, pois, justamente o
período de expansão agrícola é também um período de expansão, principalmente, da
lavoura do cacau e também do café, produtos que tinham como principal mercado a
Europa. Temos que lembrar, igualmente, que muitos dos produtos cultivados e coletados,
como o açúcar, o cacau, o cravo e o algodão (no Maranhão), serviram de moeda corrente
até meados do século XVIII, quando foram introduzidas as primeiras levas de moeda
metálica na região.48 Assim, ainda é necessário avançar mais no sentido de desvendar

45
Barbara A. Sommer, “Cracking down on the Cunhamenas: renegade Amazonia traders under Pombaline
reform”, Journal of Latin American Studies, vol. 38, nº 4 (2006): 767-791; Ângela Domingues, “‘Régulos e
absolutos’. Episódios de multiculturalismo e intermediação no Norte do Brasil (meados do século XVIII)”,
em Monarcas, ministros e cientistas. Mecanismos de poder, governação e informação no Brasil colonial
(Lisboa: CHAM, 2012), 43-65.
46
Nírvia Ravena, Rosa Acevedo Marin, “Teia de relações entre índios e missionários a complementaridade
vital entre o abastecimento e o extrativismo na dinâmica econômica da Amazônia Colonial”, Varia
Historia, vol. 29, nº 50 (2013): 395-420.
47
Dias, “L’Amazonie avant Pombal”…, 292.
Alam da Silva Lima, “Do ‘dinheiro da terra’ ao ‘bom dinheiro’. Moeda natural e moeda metálica na
48

Amazônia colonial (1706-1750)” (dissertação de mestrado, Belém, Universidade Federal do Pará, 2006).
20

essas relações. De qualquer modo, o que interessa aqui é uma íntima conexão entre a zona
agrícola, sertão, drogas e a obtenção de trabalhadores (livres ou escravos).
Muito tem se avançado nos últimos anos com relação ao problema da mão de obra
indígena na Amazônia de finais do século XVII a meados do século XVIII, ao ponto de
não ser possível citar a vasta bibliografia aqui. Tem se descortinado as múltiplas relações
e interesses envolvidos, inclusive e principalmente dos índios, no candente problema do
trabalho indígena do século XVII a meados do século XVIII. Mais ainda, alguns desses
trabalhos têm revelado a dimensão territorial do problema de obtenção e uso de
trabalhadores indígenas ou livres na Amazônia colonial.49
Como se pode ver, a capitania do Pará conectava mundos como o da lavoura e do
extrativismo, o do sertão e o do litoral50; realidades que a historiografia brasileira tendeu
a opor, cimentada nas reflexões construídas sobre a nação na virada do século XIX para
o XX. Há uma territorialidade muito própria do mundo amazônico, que se constrói
principalmente ao longo da primeira metade do século XVIII, e que, poderia dizer, se
caracteriza pelas interconexões entre diversas Amazônias: a das fronteiras (pois há mais
de uma), a dos sertões dos rios, a das campinas do Marajó, das lavouras dos moradores
na ampla bacia do Tocantins, dos aldeamentos missionários, do litoral, dos caminhos e
relações entre Belém e São Luís.

4. As reformas pombalinas e seu legado no Maranhão e Grão-Pará, na


segunda metade do século XVIII
A historiografia sobre o Estado do Maranhão e Pará tem destacado claramente o
ministério pombalino como um marco divisor de águas na história da região. Há razões
bastantes para isso, inclusive do ponto de vista territorial e do uso da terra, que interessam

49
Barbara A. Sommer, “Colony of the sertão: Amazonian expeditions and the Indian slave trade”, The
Americas, vol. 61, nº 3 (2005): 401-28; Décio de Alencar Guzmán, “A colonização nas Amazônias: guerras,
comércio e escravidão nos séculos XVII e XVIII”, Revista Estudos Amazônicos, vol. III, nº 2 (2008): 103-
39; Márcia Eliane Alves da Silva Mello, Fé e império: as Juntas das Missões nas conquistas portuguesas
(Manaus: EdUA, 2009), 243-317; Camila Loureiro Dias, “Civilidade, cultura e comércio: os princípios
fundamentais da -política indigenista na Amazônia (1614-1757)” (dissertação de mestrado, São Paulo,
Universidade de São Paulo, 2009), 87-127; Dias, “L’Amazonie avant Pombal…”; Fernanda Aires
Bombardi, “Pelos interstícios do olhar do colonizador: descimentos de índios no Estado do Maranhão e
Grão-Pará (1680-1750)” (dissertação de mestrado, São Paulo, Universidade de São Paulo, 2014).
50
Para uma perspectiva recente sobre os sentidos do sertão amazônico, ver: Ugarte, Sertões de Bárbaros…;
Patrícia Melo Sampaio, Espelhos partidos: etnia, legislação e desigualdade na colônia (Manaus: EdUA,
2012), 35-47; Rafael Chambouleyron, “A prática dos sertões na Amazônia colonial (século XVII)”, Outros
Tempos, vol. 10, nº 15 (2013): 79-99.
21

particularmente aqui. Talvez se tenda a supervalorizar a ideia de ruptura; infelizmente,


ainda não há debate suficiente que trate mais das permanências do que das transformações
e que, inclusive, dê conta do século XVIII como um todo, os trabalhos em geral se
concentrando no período anterior ou posterior à chegada do governador Francisco Xavier
de Mendonça Furtado à região. Aspectos importantes, entretanto, do período pombalino
no agora Estado do Grão-Pará e Maranhão (há mudança da capital de São Luís para
Belém), ocorrem antes e configuram uma perspectiva importante para a compreensão das
novas dinâmicas estabelecidas com a chegada de Mendonça Furtado.51
Em primeiro lugar, a expansão agrícola (interna) que se desenvolve ao longo de toda
a primeira metade do século XVIII. Em segundo lugar, a lenta consolidação da ocupação
portuguesa (ainda que contestada), nas fronteiras com as possessões francesas e
castelhanas. Em terceiro lugar, o crescimento da exploração do cacau manso (cultivado)
e principalmente bravo (silvestre), a partir de meados da década de 1720, principal gênero
exportado do Pará durante todo o período colonial. Em quarto lugar, uma série de
epidemias de varíola e sarampo na década de 1740, que dizimou a população indígena e
teve repercussões para a compreensão das medidas adotadas pelo ministério pombalino
no que diz respeito à mão de obra indígena.52
Do ponto de vista territorial, a assinatura do Tratado de Madri, em 1750, teve
igualmente implicações significativas, pois, embora sem efeito e anulado em 1761,
ensejou uma reflexão sobre a importância da ocupação efetiva do território, e do lugar
fundamental dos índios nessa política. A reformulação da política indigenista portuguesa
em meados do século XVIII decorreu também das urgências territoriais da coroa
portuguesa53 e da consolidação de sua soberania nos territórios americanos, incluindo
notadamente, a fronteira amazônica. Não sem razão, a capital do Estado se transfere
oficialmente para Belém, em 1751.
Não há como citar aqui a vasta bibliografia decorrente de uma renovação no campo da
chamada história indígena e suas inúmeras implicações para o estudo da Amazônia

51
Fabiano Vilaça dos Santos, O governo das conquistas do Norte. Trajetórias administrativas do Grão-
Pará e Maranhão (1751-1780) (São Paulo: Annablume, 2011).
52
Antonio Otaviano Vieira Junior e Roberta Sauaia Martins, “Epidemia de sarampo e trabalho escravo no
Grão-Pará (1748-1778)”, Revista Brasileira de Estudos de População, 32, n. 2 (2015): 293-311.
53
Ângela Domingues, Quando os índios eram vassalos. Colonização e relações de poder no norte do Brasil
na segunda metade do século XVIII (Lisboa: CNCDP, 2000), 199-246; Mauro Cezar Coelho, “Do sertão
para o mar. Um estudo sobre a experiência portuguesa na América, a partir da Colônia: o caso do Diretório
dos Índios (1751-1798)” (tese de doutoramento, São Paulo, Universidade de São Paulo, 2005), 94-104.
22

pombalina. O que se tem cada vez mais avigorado é uma perspectiva interpretativa que
aposta na agência indígena e na emergência de novas relações sociais e de poder
decorrentes das alterações da política indigenista portuguesa e da maneira como os
próprios índios a vivenciaram.
Do ponto de vista territorial e dos usos da terra, é necessário dar conta de uma série de
questões para entender as implicações das políticas pombalinas para a região.
Em primeiro lugar, no vasto sertão oeste, com a assinatura do Tratado de Madri, se
inicia um movimento de organização da demarcação das fronteiras entre as terras de
Portugal e de Castela. Embora infrutífero, pois as partidas portuguesa e castelhana nunca
chegaram a se encontrar, o Tratado de Madri ensejou a produção de um conhecimento
sobre a região amazônica de fundamental importância para a compreensão do espaço,
como aliás a definição das fronteiras sempre ensejou. De outro lado, o Tratado de Madri
consagrou o chamado princípio do uti possidetis por meio do qual a posse era condição
para determinar o domínio sobre o território. Assim, as populações indígenas passaram a
ter um papel fundamental na definição das fronteiras e do domínio na Amazônia colonial.
Isso implicou, inclusive, novas formas de representação imperial das populações
indígenas, por meio dos mapas populacionais, que permitiam justificar e controlar do
ponto de vista demográfico os direitos territoriais.54 As disputas territoriais teriam
ensejado uma nova percepção do território, que não se baseava somente na “suposição de
domínio político”, mas que se concretizava pelo “poder de intervenção”.55 A questão das
fronteiras, de qualquer modo, continuaria um problema urgente ao longo de todo o
período colonial e mesmo depois.56

54
Neil Safier, “The confines of the colony: boundaries, ethnographic landscapes, and imperial cartography
in Iberoamerica”, em The imperal Map: cartography and the mastery of the empire, org. James R. Akerman
(Chicago: The University of Chicago Press, 2009), 155-160.
55
Renata Araújo, “A razão na selva: Pombal e a reforma urbana da Amazónia”, Camões. Revista de Letras
e Culturas Lusófonas, nos 15-16 (2003): 156.
56
Ver: Simei Maria de Souza Torres, “Onde os impérios se encontram – Demarcando fronteiras coloniais
nos confins da América (1777-1791)” (tese de doutoramento, São Paulo, Pontifícia Universidade Católica
de São Paulo, 2011); Gregório Ferreira Gomes Filho, “O Forte São Joaquim e a construção da fronteira no
extremo norte: a ocupação portuguesa do vale do Rio Branco (1775-1800)” (dissertação de mestrado, Santa
Maria, Universidade Federal de Santa Maria, 2012); Carlos Augusto de Castro Bastos, “No limiar dos
impérios: projetos, circulações e experiências na fronteira entre a Capitania do Rio Negro e a Província de
Maynas (c.1780-c.1820)” (tese de doutoramento, São Paulo, Universidade de São Paulo, 2013); Sebastián
Gómez González, Frontera selvática: Españoles, portugueses y su disputa por el noroccidente amazónico,
siglo XVIII (Bogotá: Instituto Colombiano de Antropología e Historia, 2014), 193-326; Adilson J.I. Brito,
“Diplomacia transfronteriza en tiempos de revolución: el Alto Río Negro iberoamericano, 1815-1820”,
Procesos: revista ecuatoriana de historia, 41 (2015): 109-139.
23

Em segundo lugar, há uma reconfiguração territorial, com a mudança oficial da capital


do agora Estado do Grão-Pará e Maranhão, de São Luís para Belém. Mais ainda, cria-se,
em 1758, a capitania de São José do Rio Negro, subordinada ao governo sediado em
Belém. Essa nova configuração administrativo-territorial é consequência da consolidação
da expansão em direção ao oeste, da importância que têm seus sertões para a Coroa, e de
uma decisão estratégico-militar que permitiria o avigoramento do domínio português e
do próprio poder régio, numa região muito distante da capital do Estado.57
Em terceiro lugar, há uma reconfiguração territorial que decorre da política indigenista
pombalina. De fato, há uma série de medidas determinadas pela Coroa que repercutem na
organização do território, notadamente, com a transformação das aldeias missionárias em
vilas e com a criação de vilas e lugares de índios.58 Por um lado, promulga-se a lei de
liberdade dos índios e o fim de qualquer jurisdição temporal dos missionários sobre índios
aldeados, em 1755. Por outro, a própria experiência do governo e os inúmeros embates
decorrentes do problema de abastecimento e uso de trabalhadores indígenas, percebidos
e analisados pelas autoridades, como o governador Mendonça Furtado e o bispo dom frei
Miguel de Bulhões, levaram à construção e instalação (não sem problemas) de um sistema
laicizado de controle e organização populacional e do trabalho, implementado com o
denominado Diretório dos Índios.59 Implementado a partir de 1758, este complexo
diploma legal, de “constituição híbrida” – como “regimento”, determinando regras a
serem seguidas pelos que a ele estivessem subordinados, e também “programa de
adaptação do indígena a uma nova forma de vida”60 –, tem uma série de implicações.

57
Sampaio, Espelhos partidos, 53-54; Santos, “Nos confins ocidentais da Amazônia portuguesa…”, 84-
110.
58
Sobre urbanização na Amazônia pombalina, ver: Renata Araújo, As Cidades da Amazónia no século
XVIII: Belém, Macapá e Mazagão (Porto: Faup Edições, 1998); Araújo, “A razão na selva: Pombal e a
reforma urbana da Amazónia”; Janaína Valéria Pinto Camilo, “A medida da floresta: as viagens de
exploração e demarcação pelo ‘País das Amazonas’ (séculos XVII e XVIII)” (tese de doutoramento,
Campinas, Universidade Estadual de Campinas, 2008); Dysson Teles Alves, “Urbanização e Cultura na
Amazônia do século XVIII: índios e brancos em Barcelos” (dissertação de mestrado, Manaus, Universidade
Federal do Amazonas, 2010); Renata Malcher de Araújo, “A urbanização da Amazónia e do Mato Grosso
no século XVIII: povoações civis, decorosas e úteis para o bem comum da coroa e dos povos”, Anais do
Museu Paulista, vol. 20, nº 1 (2012): 41-76.
59
Ver, principalmente: Mauro Cezar Coelho, “Do sertão para o mar…”, 132-173.
60
Mauro Cezar Coelho, “A civilização da Amazônia – Alexandre Rodrigues Ferreira e o Diretório dos
Índios: a educação de indígenas e luso-brasileiros pela ótica do trabalho”, Revista de História Regional,
vol. 5, nº 2 (2000): 156-157.
24

Assim, surgem ou transformam-se em vilas e lugares de índios, antigas aldeias


missionárias. Apesar das permanências, a dinâmica de organização do espaço é
certamente alterada, em razão das transformações nas formas de exercício dos poderes
coloniais nesses espaços.61 Pelas determinações do Diretório dos Índios, cabia a um
diretor leigo a condução dos assuntos temporais da comunidade; haveria também um
vigário que cuidaria dos assuntos espirituais. Não se trata aqui de esmiuçar os diversos
aspectos e problemas ensejados por essas transformações.
Essas comunidades de índios serão constantemente abastecidas por novos contingentes
populacionais, e terão uma população extremamente móvel, configurando uma “cultura
de mobilidade”.62 Os rios têm aqui uma importância fundamental, como por sinal para
toda a história da região amazônica (até os dias de hoje). Às populações das comunidades
cabia a coleta das drogas do sertão e a busca por novos contingentes de indígenas para
descer às vilas e lugares. Os índios tinham sua própria leitura das determinações régias e
das autoridades, apropriando-se delas e fazendo impor seus interesses, na medida do
possível, inclusive por meio da guerra.63 Para além da mobilidade, a implantação do
Diretório dos Índios permite a consolidação de uma forma muito particular de uso da
terra, denominada de “roças do comum”.
É que a política pombalina assentava-se em outro pilar, que era o do incentivo à
produção agrícola. Há aqui vários desdobramentos.
Nas comunidades indígenas, o Diretório definia dois tipos de roças, as familiares (para
sustento das casas e distribuídas também entre os índios recentemente descidos) e as
comuns, cujo objetivo era o sustento da “política de ocupação”. Assim, haveria uma

61
Mauro Cezar Coelho, “O Imenso Portugal: vilas e lugares no Vale Amazônico”, Territórios e Fronteiras,
vol. 1, nº 1 (2008): 263-283.
62
Heather Flynn Roller, “Migrações indígenas na Amazônia do século XVIII”, em Migrações na Amazônia,
orgs. Cristina Donza Cancela, Rafael Chambouleyron (Belém: Açaí/Centro de Memória da
Amazônia/PPGA-UFPA, 2010), 29.
63
Francisco Jorge dos Santos, Além da Conquista: guerras e rebeliões indígenas na Amazônia pombalina
(Manaus: EdUA, 1999); Barbara Ann Sommer, “Negotiated settlements: Native Amazonians and
Portuguese Policy in Pará, Brazil, 1758-1798” (tese de doutoramento, Albuquerque, University of New
Mexico, 2000); Rafael Ale Rocha, “Os oficiais índios na Amazônia pombalina: sociedade, hierarquia e
resistência (1751-1798)” (dissertação de mestrado, Niterói, Universidade Federal Fluminense, 2009);
Heather Flynn Roller, “Expedições coloniais de coleta e a busca por oportunidades no sertão amazônico, c.
1750-1800”, Revista de História, nº 168 (2013): 201-243; Heather Flynn Roller, Amazonian Routes:
Indigenous Mobility and Colonial Communities in Northern Brazil (Stanford: Stanford University Press,
2014) Rafael Rogério Nascimento dos Santos, “‘Dis o índio…’: outra dimensão da lei. Políticas indígenas no
âmbito do Diretório dos Índios (1777-1798)” (dissertação de mestrado, Belém, Universidade Federal do Pará,
2014).
25

agricultura voltada para o sustento das povoações e, eventualmente do comércio entre


elas, e outra voltada para o sustento do Estado.64 Idealmente, planejava-se uma agricultura
que sustentaria a extração das drogas do sertão, considerada a principal atividade
econômica para a Coroa. Para alguns autores, é essa política que permitirá o surgimento
de um campesinato ou proto-campesinato na Amazônia colonial. A isso acrescentava-se
a aposta também numa agricultura de produtos para exportação como o cacau e o arroz.65
A criação da Companhia de Comércio do Grão-Pará e Maranhão, em 1755, insere-se
nesse movimento, uma vez que ela objetivava garantir o escoamento dos produtos
coletados e cultivados, incentivando seu desenvolvimento, e fornecer os moradores a mão
de obra africana necessária para os empreendimentos agrícolas; cristalizou-se, assim,
sobre a Amazônia, a ideia de que é somente com as transformações do período pombalino
que se organiza uma política mais clara e eficiente de inserção da região nos circuitos
coloniais dinâmicos do Atlântico.66
Nos últimos anos, tem-se argumentado o fracasso da política tal qual configurada nos
planos da Coroa, dada a incapacidade de articular de fato as diversas esferas da dinâmica
econômica da região amazônica, ao mesmo tempo extrativista e agrícola, apontando aí
exatamente a contradição das “projeções” metropolitanas. Foi a “concorrência” entre
atividades de cultivo e de coleta que fez naufragar o desejo de uma “sociedade agrícola”.
Por outro lado, apesar do incremento da mão de obra africana, a região se caracterizou
pela preeminência do trabalhador indígena; nesse sentido, o Diretório teria conseguido
cumprir sua projeção de disponibilizar a força de trabalho indígena, embora mediada pela
intervenção da administração colonial.67
A prioridade das atividades extrativas ensejou o fracasso do sistema de abastecimento
de gêneros. Dada a centralidade da mão de obra indígena, o seu uso reiterado para
atividades de coleta significou um problema de “desabastecimento crônico”; ao mesmo
tempo, a produção agrícola para a comercialização, excetuando-se o caso do arroz,
revelou-se insuficiente. No caso das vilas e lugares de índios, elas se caracterizaram pela
incapacidade de criar uma infraestrutura produtiva que garantisse sua “reprodução

64
Ver também: Sommer, “Negotiated settlements…”, 123-131.
65
Mauro Cezar Coelho, “Do sertão para o mar…”, 232-234.
Francisco de Assis Costa, “Lugar e significado da gestão pombalina na economia colonial do Grão-Pará”,
66

Nova Economia, vol. 20, nº 1 (2010): 167-206.


67
Mauro Cezar Coelho, “Do sertão para o mar…”, 235-242.
26

interna”. Assim, a “pressão” criada para a extração das drogas que gerou o
desabastecimento.68
Há inclusive uma dimensão ambiental nessa questão, pois, para além do
comprometimento com a produção de alimentos ensejado pela política pombalina, esse
tipo de produção agrária gerava desequilíbrio ambiental, impactando todo o sistema.69
Em suma, o que se tem apontado é para o dilema e os problemas gerados pelo estímulo
a uma economia agrícola, ao mesmo tempo em que se mantinha a centralidade de uma
dinâmica econômica baseada no extrativismo.
Quanto à Companhia de Comércio, temos que pensá-la a partir das reflexões que ela
tem suscitado não só para o Pará, como também para o caso da capitania do Maranhão.
Vale a pena seguir a leitura de Patrícia Melo Sampaio, para quem o papel desempenhado
pela Companhia tem que ser examinado dependendo do ponto de vista. Para a Coroa teria
permitido a desoneração de uma série de ônus que pesavam na Fazenda real. No Grão-
Pará, ela ensejou o incremento do cultivo do arroz, principalmente a partir dos anos
1770.70 Também significou a transformação das dinâmicas e dos grupos envolvidos no
comércio, possibilitando o surgimento de uma nova elite, atrelada à terra, aos negócios
(onde estavam as maiores fortunas) e também à burocracia colonial.71 Se a Companhia
ensejou um incremento do crédito e do transporte, também significou o crescente
endividamento dos produtores paraenses (e maranhenses). Finalmente, não há como
desconsiderar o papel da Companhia de Comércio no notável incremento do tráfico
negreiro para a região.
A oriente do Estado do Grão-Pará e Maranhão, transformações também dão lugar a
novas configurações territoriais e, especialmente, a significativas alterações no quadro
produtivo. De um lado, com a posse do governador em 1759, instala-se, definitivamente,
o governo da capitania do Piauí, num esforço da Coroa de organizar o território e coibir

68
Sampaio, Espelhos partidos…, 182-189.
69
Maria de Nazaré Ângelo-Menezes, “Histoire sociale des systèmes agraires dans la vallée du Tocantins –
Etat du Pará – Brésil: colonisation européenne dans la deuxième moitié du XVIIIe siècle et la première
moitié du XIXe siècle” (tese de doutoramento, Paris, EHESS, 1998).
Rosa Acevedo Marin, “Agricultura no delta do rio Amazonas: colonos produtores de alimentos em
70

Macapá no período colonial”, Novos Cadernos NAEA, vol. 8, nº 1 (2005): 73-114.


71
Souza Junior, Tramas do cotidiano…, 297-329; Siméia de Nazaré Lopes, “As rotas do comércio do Grão-
Pará: negociantes e relações mercantis (c.1790 a c.1830)” (tese de doutoramento, Rio de Janeiro,
Universidade Federal do Rio de Janeiro, 2013); Marília Cunha Imbiriba dos Santos, “Família, trajetória e
poder no Grão-Pará setecentista: Os Oliveira Pantoja” (dissertação de mestrado, Belém, Universidade
Federal do Pará, 2015).
27

desmandos e arbitrariedades dessa fronteira oriental do Estado.72 Mas, principalmente, a


expansão territorial da primeira metade do século XVIII é coroada pela disseminação da
lavoura e da pecuária (que não tem equivalência de escala no Pará), a partir de uma série
de conjunturas favoráveis, criadas com a instalação da Companhia de Comércio do Grão-
Pará e Maranhão e de um contexto internacional promissor, principalmente para o
desenvolvimento dos cultivos de arroz e de algodão.
Não há dúvida das profundas transformações ensejadas com o algodão e o arroz na
capitania do Maranhão, o que pode ser claramente medido pelo impacto causado pela
“decadência” de ambos os cultivos nas primeiras décadas do século XIX, na interpretação
da história da região73, algo muito semelhante ao que aconteceu com a chamada crise na
borracha na Amazônia de princípios do século XX.
A Companhia de Comércio e o conjunto de transformações implementadas durante o
ministério pombalino teriam criado as condições para o desenvolvimento de uma colônia
considerada pelos autores até meados do século XVIII como periférica e voltada
notadamente até então para o mercado interno.74 Assim, o desenvolvimento da lavoura
algodoeira e da rizicultura alterou profundamente a própria ocupação da região,
instalando definitivamente a grande lavoura e o trabalho escravo africano.
De todo modo, não se pode fazer “tábula rasa” do período anterior à instalação da
Companhia de Comércio.75 Com relação à ribeira do Itapecuru e à cidade de São Luís,
chama a atenção o domínio social que já detinham algumas famílias, que depois
ascenderam economicamente com a Companhia de Comércio, enfatizando as
oportunidades que esta ofereceu.76 Mesmo assim, não há dúvida que a cotonicultura e a

72
Fabiano Vilaça dos Santos, “Uma vida dedicada ao Real Serviço. João Pereira Caldas, dos sertões do Rio
Negro à nomeação para o Conselho Ultramarino (1753-1790)”, Varia Historia, vol. 26, nº 44 (2010): 502-
508.
73
Ver: Alfredo Wagner Berno de Almeida, A ideologia da decadência. Leitura antropológica a uma
história da agricultura do Maranhão (2ª ed. revista e aumentada. Rio de Janeiro: Editora Casa 8/Fundação
Universidade do Amazonas, 2008), 25-58.
74
Matthias Röhrig Assunção, “Exportação, mercado interno e crises de subsistência numa província
brasileira: o caso do Maranhão, 1800-1860”, Estudos Sociedade e Agricultura, nº 14 (2000): 36; Antonia
da Silva Mota, Família e fortuna no Maranhão colônia (São Luís: EdUFMA, 2006), 31-36; Marize Helena
de Campos, Senhoras donas: economia, povoamento e vida material em terras maranhenses (1755-1822)
(São Luís: Café & Lápis, 2010), 19-22.
75
Mota, Família e fortuna no Maranhão colônia, 31.
76
Antonia da Silva Mota, As famílias principais: redes de poder no Maranhão colonial (São Luís:
EdUFMA, 2012), 21-84; Ver também: Ariadne Ketini Costa, “Uma ‘casa’ irlandesa no Maranhão: estudo
28

rizicultura representaram uma expansão da lavoura e inseriram a capitania do Maranhão


no mercado agroexportador, notadamente em finais do século XVIII, mesmo depois de
terminada a ação da Companhia de Comércio, ensejando a ocupação dos vales dos rios,
notadamente o Itapecuru e o Mearim e alterando as relações econômicas e de poder na
capitania.77
Se com relação ao Pará, há um debate entre o mundo do extrativismo e o mundo da
lavoura, na capitania do Maranhão, a expansão da lavoura e da própria colonização
significou a cristalização de dois mundos distintos, embora relacionados.78 Para Maria do
Socorro Coelho Cabral, a historiografia privilegiou a frente colonizadora e a ocupação
ligada à capital São Luís. Entretanto, houve outro Maranhão ligado à expansão do gado
pelos chamados sertões dos Pastos Bons, ao sul da capitania (entre os rios Parnaíba e
Tocantins), processo iniciado em finais do século XVII, seguindo a expansão da pecuária
vinda do Estado do Brasil, mas acelerado no século XVIII.79 É somente em princípios do
século XIX que esses dois universos passam a se conectar.
Tanto para o Maranhão como para o Pará, a Companhia de Comércio e o
desenvolvimento das atividades econômicas voltadas para o mercado de exportação,
principalmente, no caso da capitania do Maranhão, ensejaram um significativo
incremento do tráfico negreiro para a região, que tem sido estudado com mais atenção
nos últimos anos, juntamente com a experiência do trabalho escravo africano, produção
que cada vez mais vasta que não há como citar aqui. A presença cada vez mais importante
de escravos africanos no Pará e no Maranhão significou o aparecimento nos sertões de
comunidades de fugitivos – os mocambos (ou quilombos) – em que se misturavam
também índios, mestiços e desertores.80 Essas comunidades fizeram parte da paisagem
amazônica, tornando-se centros de produção de alimentos, circulação de pessoas e de

da trajetória da família Belfort, 1736-1808” (dissertação de mestrado, Niterói, Universidade Federal


Fluminense, 2013).
77
Judith A. Carney, “‘With Grains in Her Hair’: Rice in Colonial Brazil”, Slavery and Abolition, 25, n. 1
(2004): 11-20; Mota, Família e fortuna no Maranhão colônia, 109-160; Mota, As famílias principais…,
85-225; Campos, Senhoras donas…, 121-329.
78
Isso sem falar na fronteira entre Maranhão e Pará. Ver: Sueny Diana Oliveira de Souza, “Um rio e suas
gentes: ocupação e conflitos nas margens do rio Turiaçu na fronteira entre Pará e Maranhão (1790-1824)”
(dissertação de mestrado, Belém, Universidade Federal do Pará, 2012).
79
Cabral, Caminhos do gado…, 99-137.
80
Ver: Shirley Maria Silva Nogueira, “Razões para desertar: institucionalização do exército no estado do
Grão-Pará no último quartel do século XVIII” (dissertação de mestrado, Belém, Universidade Federal do
Pará, 2000).
29

contatos dos mais diversos entre os distintos grupos que compunham a sociedade
colonial.81
Mais a leste, na capitania do Piauí, a segunda metade do século XVIII, significou a
implementação oficial do governo político. O período pombalino é marcado pelo esforço
da Coroa em reorganizar a dispersa e centrífuga ocupação da região decorrente do
desenvolvimento da economia pastoril desde finais do século XVII.82 Na década de 1760,
determinou-se a criação de novas vilas, medida que parece ter tido pouco efeito na
dinâmica de povoamento da região, pelo menos nos primeiros anos. Destaque-se também
a expulsão dos jesuítas e a incorporação de seu patrimônio fundiário pela Coroa. Desse
modo, a efetiva implantação do governo da capitania se vê acompanhada de uma série
medidas de controle e organização dos poderes régios, que se deu por meio de um
processo de urbanização de mesma inspiração que o da criação das vilas e lugares de
índios do Diretório dos Índios.83 A produção de um mapa da região, a cargo do engenheiro
Henrique Galuzzi, revela a intenção de se ver o Piauí efetivamente como um território.84
Assim, aponta-se para um processo de reconhecimento e reorganização do território em
razão da condição de fronteira que assumia o Piauí, como terra de conexão entre o Estado
do Grão-Pará e Maranhão e o Estado do Brasil. No contexto desse processo de

81
Flávio dos Santos Gomes, Shirley Maria Silva Nogueira, “Outras paisagens coloniais: notas sobre
desertores militares na Amazônia setecentista”, em Nas terras do Cabo do Norte: fronteiras, colonização
e escravidão na Guiana brasileira (séculos XVIII-XIX), org. Flávio dos Santos Gomes (Belém: EdUFPA,
1999), 196-224; Flávio dos Santos Gomes, “A ‘Safe Haven’: Runaway Slaves, Mocambos, and Borders in
Colonial Amazonia, Brazil”, Hispanic American Historical Review, vol. 82, nº 3 (2002): 469-498; José
Luis Ruiz-Peinado Alonso, “Nuevos espacios, nuevas fronteras: Quilombos en el Bajo Amazonas”,
Cadernos de História e Documentação Diplomática, número especial (2005): 177-198; Flávio Gomes,
“Indígenas, africanos y comunidades de fugitivos en la Amazonia colonial”, Revista Historia y Espacio, nº
34 (2010): 1-21; José Luis Ruiz-Peinado Alonso, “Entre aguas, fronteras de la Amazonia”, Clio - Revista
de Pesquisa Histórica, vol. 30, nº 1 (2012): 1-22.
82
Mott, Piauí colonial….
83
Renata Araújo, “O Piauí e sua cartografia”, em Anais do IV Simpósio Luso-Brasileiro de Cartografia
Histórica, 9 a 12 de novembro de 2011. http://eventos.letras.up.pt/ivslbch/comunicacoes/49.pdf. A esse
respeito, ver também: Murilo Cunha Ferreira, “A política pombalina de planejamento espacial e territorial
na colonização do Piauí durante o século XVIII”, Anais: Seminário de História da Cidade e do Urbanismo,
vol. 11, nº 2 (2010), http://unuhospedagem.com.br/revista/rbeur/index.php/shcu/article/view/1333/1307.
84
Araújo, “O Piauí e sua cartografia”; Nívia Paula Dias de Assis, “A Capitania de São José do Piauhy na
racionalidade espacial pombalina (1750-1777)” (dissertação de mestrado, Natal, Universidade Federal do
Rio Grande do Norte, 2012), 87-155.
30

reordenamento, têm-se ressaltado os impactos causados nas populações indígenas85 e, tal


qual para o Maranhão e para o Pará, a organização das elites locais.86

5. Conclusão
A modo de conclusão, vale elencar e rapidamente comentar alguns problemas mais
gerais que perpassam os diversos tempos e lugares vistos ao longo do capítulo.
Em primeiro lugar, a relação entre Estado do Maranhão e Pará e Estado do Brasil. A
historiografia brasileira, muito marcada pela territorialidade do Estado nacional,
construiu historicamente uma explicação que, ou englobava o território do norte como
região periférica, ou simplesmente, preferia ignorá-lo, em decorrência da própria
dificuldade de enquadrá-lo analiticamente. Se não há dúvida que o Estado do Maranhão
e Pará constitui unidade administrativamente separada, e essa situação deve ser razão para
tentar compreender suas singularidades, também é verdade que é fundamental considerar
e entender as relações que estabeleceu com o que se chamava à época de Estado do Brasil.
Isso do ponto de vista das representações (e se fala de um Brasil desde o século XVII,
inclusive como modelo para se pensar o desenvolvimento do Maranhão e Pará), mas
também do ponto de vista da territorialidade e da ocupação do espaço. Os “caminhos para
o Brasil”, bem como as complexas relações que se estabeleciam nas fronteiras entre os
dois estados, como no Piauí, ou mesmo com o Mato Grosso, devem ser objeto de
investigação. A circulação de indivíduos de todos os grupos sociais entre os dois
territórios e o compartilhamento de experiências de ocupação do espaço, como a do gado,
por exemplo, infelizmente ainda são pouco estudados e merecem ser aprofundados.
Em segundo lugar, e decorrência da condição periférica que a historiografia lhe
atribuiu por muito tempo, há que melhor se entender a relação entre o Estado do
Maranhão e Pará e o mundo atlântico. Até finais do século XVIII, a região se comunicava
de outra maneira no interior do império português. Certamente, os circuitos dinâmicos
que conectavam regiões como Bahia, Pernambuco e Rio de Janeiro, em grande medida
identificados com o chamado Atlântico sul, não dão conta de entender as conexões
estabelecidas pelas cidades de São Luís e Belém, o reino e a África. Há razões ligadas às

85
Ana Stela de Negreiros Oliveira, “O povoamento colonial do sudeste do Piauí: indígenas e colonizadores,
conflitos e resistência” (tese de doutoramento, Recife, Universidade Federal de Pernambuco, 2007), 53-
133.
86
Tanya Maria Pires Brandão, A elite colonial piauiense: família e poder (2ª ed. Recife: EdUFPE, 2012).
31

especificidades da navegação para entender esse fenômeno. A própria criação do Estado


do Maranhão decorreu dessas particularidades. Assim, é preciso apostar na construção de
um modelo explicativo que compreenda essas conexões, dando conta, certamente, das
suas transformações e de sua eventual desintegração ao longo do tempo.
Intimamente ligado a este problema, e em terceiro lugar, a experiência amazônica
colonial, mais especificamente, permite reler a dualidade consagrada pela historiografia
brasileira entre litoral e sertão. Belém é um caso exemplar. Em seu acanhado porto
chegavam naus vindas do reino e da África e canoas vindas do mais profundo dos sertões.
Chegavam escravos africanos e escravos indígenas. Exportava-se o cacau manso,
cultivado nas fazendas nos rios próximos a Belém, e o cacau bravo, colhido nos sertões
cada vez mais distantes do vasto território do Pará. As cidades do “litoral” e o sertão
estavam assim conectadas, embora muito distantes (ainda hoje) e há que se compreender
a complexidade e implicações dessas relações. E entendê-las na sua diversidade, pois
relações distintas se construíram nos sertões dos Pastos Bons ou no Piauí, por exemplo.
Caminho profícuo nesse sentido, é justamente compreender os caminhos e as rotas
(terrestres e fluviais) que ligaram o vasto território e, principalmente, as formas de
designar e entender suas múltiplas paisagens.
Falando em sertões, e em quarto lugar, o problema das fronteiras, pouco aprofundado
neste capítulo. Elas significaram a presença de uma rede de fortalezas que pouco a pouco
(inclusive com o valioso aporte a arqueologia histórica) vem se desvendando e
desvelando. Mas as fronteiras são fenômenos mais complexos. E as fronteiras no Estado
do Maranhão e Pará eram internas, com o Estado do Brasil, e externas, conectando os
sertões com as conquistas de Castela, Holanda e França, o que significa um mundo de
circulações, de trocas e de redes que envolviam nações de índios, africanos, mestiços,
portugueses, franceses, holandeses. Infelizmente, talvez ainda não tenha sido possível, de
fato, romper com as barreiras do Estado nacional como baliza de compreensão das
experiências coloniais. Mas pesquisas recentes têm aberto (literalmente) o caminho em
direção a outras Amazônias.
Finalmente, há que se chamar a atenção para a questão da ocupação econômica do
espaço. Se hoje em dia a Amazônia e suas gentes são vítimas da devastação, da
concentração fundiária e de atroz violência no campo, não podemos assumir que essas
tristes realidades se originem necessariamente no período colonial. Assim, se no
Maranhão e no Piauí, em razão do tipo de atividade que se consolidou ao longo do século
XVIII, houve um domínio mais evidente da grande propriedade – e que obviamente não
32

excluiu outras formas de ocupação da terra –, no Pará parece ter perdurado por muito
tempo a pequena e média propriedade, marcada pela policultura. Há ainda um longo
caminho a percorrer para compreender (na medida em que as fontes o possibilitam) o
mundo rural amazônico do período colonial, principalmente, no que diz respeito aos
espaços de produção menores, trabalhados pelas populações mais pobres, por indígenas,
mestiços, africanos, e a relação conflituosa que estabeleceram com grandes proprietários.
Principalmente, temos que entender os mecanismos da concentração fundiária num
território em que a oferta de terras foi bastante considerável ao longo do período colonial.
Em que a questão do transporte e da circulação era viabilizada pela própria “fluvialidade”
que caracterizou a ocupação e conquista da região. Em que a própria Coroa, em alguns
momentos, incentivou o estabelecimento de roças e de produção de alimentos (com maior
ou menor sucesso). Em que o mundo da agricultura se entrecruzava com o da exploração
dos sertões. E, é claro, em que todos os diversos grupos que compunham a heterogênea
sociedade colonial davam um sentido muito particular e negociavam a apropriação do
espaço.

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