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A FICÇÃO DE

William Faulkner
por onde começar?
Cur so s Rafael Ottati
o ck et!
P
“Era o relógio de meu avô, e quando o ganhei de
meu pai ele disse Estou lhe dando o mausoléu de
toda esperança e todo desejo; é extremamente
provável que você o use para lograr o reducto
absurdum de toda experiência humana, que será
tão pouco adaptado às suas necessidades
individuais quanto foi às dele e às do pai dele.
O som e a fúria
ou-lhe este relógio não para que você se lembre
do tempo, mas para que você possa esquecê-lo
por um momento de vez em quando e não gaste
todo o seu fôlego tentando conquistá-lo. Porque
jamais se ganha batalha alguma, ele disse.

O som e a fúria
Nenhuma batalha sequer é lutada. O campo
revela ao homem apenas sua própria loucura
e desespero, e a vitória é uma ilusão de
filósofos e néscios.”

O som e a fúria
[Quem abre um livro do Faulkner,] seja um
estudante do ensino médio, um leitor adulto
curioso, um estudante de graduação ou um
cidadão idoso, quando começamos a ler
Faulkner, todos começamos juntos – em
confusão.
Theresa Towner. The Cambridge
Introduction to William Faulkner.
Quem sou eu?
Rafael Ottati: professor, Doutor em Literatura
Comparada pela UFRJ, membro dos grupos de
pesquisa: GECOMLIC (UFRJ), liderado pelo Prof. Dr.
Eduardo de Faria Coutinho, e ÉTICA, RELAÇÕES
DE PODER, SUBJETIVIDADE E TECNOLOGIA,
liderado pelos Profs. Drs. Edgar Lyra Netto (PUC-
Rio) e Leandro Chevitarese (UFRRJ).
Pesquisa há anos tecnologia e os imbricamentos
dela com a vida comum, ministra cursos livres
sobre o tema e produz conteúdo na internet:
elrafa.lit Estranho Escritório
Biografia
Nasceu a 25 de setembro de 1897, em New Albany, Mississípi,
EUA.
Faleceu a 25 de setembro de 1897, New Albany, Mississípi,
EUA.
Escreveu romances, contos, poemas, peças de teatro e
roteiro de filme.
De seus 19 romances, destacamos em português:
Sartoris (1929)
The sound and the fury (1929) | O som e a fúria
As I lay dying (1930) | Enquanto agonizo
Sanctuary (1931) | Santuário
Light in August (1932) | Luz em agosto
Absalom, Absalom (1936) | Absalão, Absalão
The Hamlet (1940); The Town (1957); The Mansion (1959) | O povoado; A cidade; A mansão
Biografia
Alistou-se na Primeira Guerra Mundial pela Força Aérea
Canadense.
Aprendeu a pilotar, mas não chegou a participar da ação.
Aos 5 anos de idade, mudou-se com os pais para Oxford,
Mississipi, onde viveu a vida toda.
Chegou a morar em outras cidades, mais notadamente
Nova Orleans, onde publicou seus primeiros textos em
prosa.
Biografia
Seu bisavô foi uma lenda local: um coronel na Guerra Civil,
advogado, construtor de ferrovias, financiador, político,
escritor e figura pública. Foi baleado e morto por um rival
político e comercial em 1889.
Seu pai trabalhou primeiro para a ferrovia e depois como
gerente de negócios da Universidade do Mississippi.
Sua mãe, ambiciosa, sensível e literária, exerceu uma
profunda influência sobre Faulkner, que era, dos quatro
filhos, seu favorito.
Biografia
[...] recuamos para um canto para observar o único dono e
proprietário do condado de Yoknapatawpha escrever sua
prosa. Ele digitava muito, muito devagar, principalmente
com o dedo médio da mão direita, mas com uma ajuda
ocasional do dedo indicador da esquerda. . . [Por fim,] Ele
levantou a folha de papel na máquina de escrever e leu o que
havia escrito, depois se levantou e se espreguiçou. "O
trabalho machuca minhas costas", disse ele.
New Yorker, 1954
"é minha ambição, enquanto indivíduo privado, ser
abolido e anulado da história. . .

na mesma frase encontram-se meu obituário e


epitáfio também, devem estar os dois: Ele fez os
livros e morreu."
Selected letters of William Faulkner
"Era meio-dia daquele domingo de manhã quando
o xerife chegou à prisão com Lucas Beauchamp,
embora toda a cidade (todo o condado também)
soubesse desde a noite anterior que Lucas havia
matado um homem branco."

Intruder in the Dust (1946), s/t


A rose for Emily
È amplamente considerado como um dos seus trabalhos mais
emblemáticos.
Publicado originalmente na antologia "These Thirteen", de
1931.
Gira em torno da vida da personagem principal, Emily
Grierson, e da cidade fictícia de Jefferson, no Mississippi.
A rose for Emily
A crítica literária geralmente enfoca a forma como o conto
aborda questões relacionadas à morte, isolamento e
decadência, bem como a representação da sociedade
sulista.
Alguns críticos argumentam que a história é uma metáfora
para a decadência da sociedade sulista, enquanto outros
argumentam que é uma reflexão sobre a solidão humana e
a perda.
A rose for Emily
"Quando a senhorita Emily Grierson morreu, toda a nossa
cidade foi ao seu funeral: os homens por uma espécie de
afeição respeitosa por um monumento caído, as mulheres
principalmente pela curiosidade de ver o interior de sua
casa, que ninguém salvou um velho... servo — jardineiro e
cozinheiro combinados — tinha visto em pelo menos dez
anos."
A rose for Emily
"Viva, Miss Emily era uma tradição, um dever e um
cuidado; uma espécie de obrigação hereditária da cidade,
datada daquele dia em 1894, quando o coronel Sartoris, o
prefeito, aquele que promulgou o edito de que nenhuma
negra deveria aparecer nas ruas sem avental, pagou seus
impostos, a dispensa que data da morte de seu pai para
sempre.
A rose for Emily
"Não que Miss Emily aceitasse caridade. O coronel Sartoris
inventou uma história complicada de que o pai de Miss
Emily havia emprestado dinheiro à cidade, que a cidade,
por uma questão de negócios, preferia pagar dessa forma.
Só um homem da geração e do pensamento do Coronel
Sartoris poderia tê-lo inventado, e só uma mulher poderia
ter acreditado nisso."
A rose for Emily
"Após a morte do pai, ela saiu muito pouco; depois que seu
namorado foi embora, as pessoas quase não a viram.
Algumas senhoras tiveram a ousadia de telefonar, mas não
foram atendidas, e o único sinal de vida no local era o
Negro — então um jovem — entrando e saindo com uma
cesta de mercado."
A rose for Emily
Temos vários saltos temporais ao longo do conto, que são
usados para apresentar a história de Emily de uma forma
não linear.
O narrador salta de um momento histórico para outro sem
uma seqüência cronológica clara, o que cria uma sensação
de deslocamento temporal e contribui para a construção
de uma atmosfera de mistério e suspense ao longo da
história.
A rose for Emily
É narrado em primeira pessoa plural, com a voz coletiva da
cidade fictícia de Jefferson, no estado do Mississippi, onde
a história se passa.
O narrador salta de um evento para outro sem avisar, o
que pode causar confusão no início, mas ajuda a criar um
senso de tempo fragmentado e a refletir sobre as
mudanças na cidade ao longo do tempo.
Yoknapatawpha
Condado
A ficção de William Faulkner está fortemente ligada à história
do sul dos Estados Unidos, especialmente ao estado do
Mississippi, onde ele nasceu e passou a maior parte de sua
vida. As características sociais, políticas e culturais da região
são refletidas e exploradas em sua ficção, especialmente na
criação de sua fictícia county de Yoknapatawpha. E também
as questões históricas e sociais, como a escravidão, a Guerra
Civil e as leis Jim Crow, são importantes para entender a obra
de Faulkner e sua representação da vida no sul dos EUA.

"Faulkner's County: The Historical Roots of Yoknapatawpha" de Joel Williamson


Yoknapatawpha
Condado
Williamson argumenta que a criação de Yoknapatawpha
foi uma forma de Faulkner de explorar as raízes profundas e
as consequências históricas do Sul dos Estados Unidos. O
autor também argumenta que a representação do Sul por
meio do condado fictício de Yoknapatawpha é uma forma
de Faulkner de abordar questões sociais e políticas como a
escravidão, o racismo, a pobreza e a mudança social.

"Faulkner's County: The Historical Roots of Yoknapatawpha" de Joel Williamson


Yoknapatawpha
Condado
De acordo com Williamson, a criação de Yoknapatawpha
permitiu a Faulkner explorar a complexidade da história e da
cultura sulista de uma forma que não poderia ser alcançada
por meio de uma representação realista ou histórica da
região. Em suma, o estudo de Joel Williamson sobre
"Faulkner's County: The Historical Roots of Yoknapatawpha"
argumenta que o condado fictício de Yoknapatawpha é uma
ferramenta literária valiosa que permite ao leitor compreender
a sociedade sulista e suas raízes históricas e culturais.

"Faulkner's County: The Historical Roots of Yoknapatawpha" de Joel Williamson


Yoknapatawpha
Leis Jim Crow
As "Jim Crow laws" foram uma série de leis segregacionistas
impostas nos Estados Unidos entre 1876 e 1965,
principalmente no sul do país, que impunham a segregação
racial nos espaços públicos, incluindo escolas, transportes
públicos, restaurantes e banheiros. Essas leis restringiam a
liberdade e os direitos de cidadania dos afro-americanos,
estabelecendo a discriminação sistêmica e a desigualdade
racial.
Yoknapatawpha
Leis Jim Crow
O nome "Jim Crow" derivou de um personagem de um
musical popular da década de 1830, que retratava um
afro-americano como uma figura burlesca e
estereotipada. A expressão "Jim Crow" tornou-se
sinônimo de leis e práticas discriminatórias e passou a
ser usada como uma referência ao racismo institucional.
Yoknapatawpha
Leis Jim Crow
Segregação em transportes públicos: os afro-americanos
eram obrigados a sentar em áreas separadas dos brancos nos
ônibus e nos trens.

Segregação em escolas: as escolas para afro-americanos


eram frequentemente subfinanciadas e de qualidade inferior, e
os alunos afro-americanos eram proibidos de frequentar
escolas para brancos.
Yoknapatawpha
Leis Jim Crow
Segregação em restaurantes, bares e lojas: os afro-
americanos eram proibidos de frequentar lugares públicos,
como restaurantes e bares, reservados aos brancos.

Proibição de votar: muitos estados implementaram leis que


impediam os afro-americanos de votar, como a necessidade
de passar em testes de leitura ou o pagamento de taxas de
votação.

Proibição de casamento inter-racial: em alguns estados, era


ilegal para pessoas de raças diferentes se casarem.
Luz em Agosto
"Light in August" [1932] é um romance escrito por William
Faulkner que retrata a vida no sul dos Estados Unidos
durante o período de segregação racial conhecido como
Jim Crow. Embora a trama do livro não se concentre
especificamente nas leis Jim Crow ou nas práticas
Sundown, essas questões são importantes na construção
da sociedade que é retratada no livro.
Luz em Agosto
As leis Jim Crow e as práticas Sundown são retratadas
indiretamente através de várias sub-tramas no livro. Por
exemplo, o personagem principal, Joe Christmas, é um
homem metade branco e metade afro-americano que
enfrenta discriminação racial ao longo de sua vida,
incluindo na cidade fictícia de Jefferson, no Mississippi. Em
certos momentos, Joe é forçado a deixar a cidade antes
do pôr do sol devido a sua herança racial mista.
Luz em Agosto
Sobre Joe Christmas: "Ele tinha nascido com a aparência
de um branco, mas não podia viver como um branco. Não
podia nem mesmo viver como um negro, porque não tinha
nascido como um negro" (pág. 13)
Luz em Agosto
Lena Grove: Lena enfrenta discriminação por ser uma
mulher solteira e grávida que viaja sozinha pelo sul dos
Estados Unidos. Ela é vista com desprezo por muitos dos
habitantes da cidade e é forçada a enfrentar preconceitos
e discriminação por ser uma mulher sem um marido ou
família.
Luz em Agosto
Sobre Lena Grove: "Ela era jovem, mas parecia mais velha
que sua idade, porque ela tinha sido forçada a crescer e a
se tornar independente, e a desenvolver um caráter rígido
e obstinado" (pág. 58)
Luz em Agosto
Sobre Byron Bunch: "Ele era um homem de pouca sorte,
mas também era um homem sem amargura, sem raiva,
sem ódio, sem desejo de vingança" (pág. 97)
Luz em Agosto
Joe Brown: Joe é um afro-americano que trabalha como
jardineiro e é constantemente discriminado devido a sua
raça. Ele é forçado a trabalhar nas condições mais difíceis
e é pago com salários baixos. Além disso, ele é forçado a
sentar em áreas separadas nos restaurantes e a usar
banheiros separados devido às leis Jim Crow.
Luz em Agosto
Sobre Joe Brown: "Ele tinha nascido em uma pequena
cabana em uma fazenda e tinha vivido toda a sua vida
como jardineiro ou trabalhador braçal" (pág. 168)

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