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Felizmente a molécula do DNA ela é uma molécula bem dinâmica e ela sofre
interferência do ambiente também. A expressão de determinados genes
depende de o que a gente chama de “fatores epigenéticos”, eles têm uma
importância sobre expressar ou não expressar uma determinada proteína e
quando fazer isso. Por que que algumas pessoas que fumam, têm câncer e
outras não têm câncer. Esses mecanismos epigenéticos a gente não conhece
ainda. Algumas pessoas podem ter genes de mais predisposição do que outras
ao reagir, por exemplo, ao tabagismo, que é um fator externo. Então mesmo
que façamos uma clonagem de um indivíduo, ele nunca vai ser idêntico ao
outro e nunca vai ser perfeito também, porque naquela formação dele teve todo
um ambiente de gestação especial. E a gente não consegue criar esse mesmo
ambiente, mesmo que a gente pegue todas as células daquele indivíduo e
tente que criar outra, a gente não consegue ter aquele mesmo ambiente.
Então, aparentemente, pode ser igual, mas ele não é como esperamos. O
gêmeo é clone, né? O gêmeo monozigótico ele é quase um clone na verdade,
mas eles são diferentes porque sofrem ambientes diferentes. Então, o que eu
acho que talvez seja interessante na clonagem é a geração de órgãos, por
exemplo, para transplantar. Porque hoje, para transplantar um fígado,
precisamos esperar alguém morrer para transplantar o órgão. Mas se a gente
conseguir com uma clonagem produzir um órgão, isso seria uma coisa
interessante, porque eu posso produzir fígados e transplantar para pessoas
que tenham alguma condição genética. E a Dolly também, não sei se você
sabe, mas ela envelheceu muito rapidamente. Aquela clonagem não deu certo,
na verdade. Foi uma falsa clonagem, porque ela já nasceu velha né? (risos)
Dessa forma ela foi perdendo pedacinhos do DNA com o passar do tempo e
ela acabou tendo uma série de condições clínicas. Eu não acho que a
clonagem vai ser algo pros próximos 50 anos assim, nem a clonagem
reprodutiva. O ser humano sempre tenta ter um controle total sobre todas as
coisas, mas esse controle na verdade não existe, porque a molécula do DNA é
muito dinâmica e ela modifica e ela se adapta conforme os diferentes
ambientes.
É... Eu acho que antes disso, é importante saber que isso depende de muita
tecnologia laboratorial e como eu te falei, eu acho que nunca a gente vai
conseguir reproduzir, mesmo a gente pode ter um DNA igual, mas nunca vai
conseguir reproduzir seres iguais, porque tem toda essa questão do ambiente e
da epigenética, mas eu acho que temos outros desafios, por exemplo, em
relação aos testes genéticos que são realizados em embriões antes deles
serem implantados. Por exemplo, fazer um teste de DNA e selecionar por
características físicas, ou por cor de cabelo, ou por desempenho de QI dos
pais, ou por cor da pele, por exemplo, ou cor do olho. Eu acho que isso são
desafios éticos maiores que a gente tem e que já poderiam potencialmente
serem, né, serem utilizados na prática. A gente sabe por exemplo, que é
possível já saber genes de predisposição de determinadas doenças que podem
vir a acontecer daqui a sessenta anos, já saber se aquele bebê vai ter ou não
essas doenças e tu imaginas a pessoa conviver com essa informação, de que
ela vai ter uma doença aos sessenta anos de idade. Então acho que esses são
desafios éticos mais reais nesse momento, que é lidar com a tecnologia do
diagnóstico genômico. Hoje depois do sequenciamento do DNA, descoberta do
DNA e tudo mais, esses estudos genômicos eles ficaram muito fáceis e baratos
de serem feitos e se ele cai na mão de pessoas que não tem uma boa
habilidade de interpretação, tu podes dar o diagnóstico de uma probabilidade
de uma doença que ela vai ter, isso vai acabar gerando talvez um stress, até
talvez um suicídio, por exemplo, saber que vai ter uma doença ruim na vida
adulta e talvez não ter um tratamento específico, são desafios mais presentes
do que o desafio da clonagem reprodutiva, que eu espero não ver, tá? (risos) A
não ser que seja para o bem, aquilo que eu falei de ter órgãos que possam ser
transplantados com mais facilidade para salvar vidas, ou células que possam
ser produzidas pra gente curar um câncer ou pra curarmos doenças raras, que
eu lido muito com a questão da doença rara. Então eu tenho mais interesse em
primeiro a prevenção, claro, e ainda mais a cura de condições mais raras. Eu
acho que a tecnologia devia se voltar muito mais pra isso do que a tecnologia
se voltar para a melhoria do ser humano. Até por que isso pode gerar guerras
entre populações e aí daqui a pouco você cria um exército de uma pessoa
muito ruim. Você já viu o filme GATTACA?
Entrevistador: Vi! Vi sim, com o colégio inclusive.
Acho que inclusive tem uma edição nove né? Mas pra você ter uma ideia,
quando eu vi o GATTACA Maria, aquela gotinha que eles coletam para saber
se aquela criança ia ser assim e assado, claro que tem muita coisa que é
fantasia, mas já é possível coletar o DNA e saber se a criança vai ter uma
doença, por exemplo, como o câncer. Isso é bem fácil de fazer e é bem barato.
Com 5 mil reais a gente faz isso. Mas tem questões éticas envolvidas nisso e é
por isso que não devemos sair fazendo, porque você pode detectar uma
condição que não tenha nada de diferente pra fazer e a pessoa vai ter que
conviver com aquela informação e a vida dela vai ser um inferno. Então eu
queria que as pessoas pensassem mais sobre isso. Em fazer uma tecnologia
muito mais para salvar vidas e tentar curar as doenças que a gente ainda tem
desafios. Ninguém ainda tem a cura para a diabetes, para pressão alta,
ninguém tem a cura para muitos cânceres. Então, seria melhor se
trabalhássemos tecnologicamente mais para isso do que para a melhoria do
ser humano, ou pra fazer um teste recreacional, que é aquilo do “eu quero ver
se eu vou ter”. Isso pode ser um tiro no pé, como a gente diz né? Porque
podemos achar que estamos fazendo uma coisa legal, mas aquilo na verdade
pode acabar com a sua vida.