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Jesus e a arte de forjar discípulos!

(Lc 9,51-62)

Amados irmãos e irmãs, hoje vive-se em toda Igreja o 13º domingo do Tempo Comum.
Frente ao leitor ou a seu ouvinte está o divisor de águas do primeiro volume da obra
lucana, a saber: o capitulo 9 do seu evangelho. Mais ainda: é exatamente no versículo
(51), portanto, início do trecho proclamado em liturgia, que se encontra este profundo
demarcador literário na vida e no ministério público de Jesus. Sabe por que?

(Lc 9,51s) é um trecho longamente conhecido na tradição bíblica. Chamado por alguns
exegetas, inclusive, de momento da “elevação” de Jesus, porque marca o início do relato
da viagem de Jesus a Jerusalém. Entretanto, acorramos ao texto, pois, ele pretende nos
falar: “E aconteceu que, quando se aproximou os dias de sua elevação, ele tomou a
firme decisão de ir para Jerusalém”.

Os que tem muita familiaridade com a língua grega, vão mais longe, chegam a propor o
seguinte, ao traduzir este mesmo verso: “Jesus tornou o rosto duro como pedra na
direção de Jerusalém”. Isto significa, tanto no caso de uma tradução, quanto noutra, que:
trata-se de uma decisão que implica por em risco a própria vida. Não podia voltar atrás!
E por mais que algum literata versado nas sagradas letras tente tonificar o aspecto
geográfico – trata-se somente de uma mudança de geográfica, antes região da Galileia,
agora da Judeia e de Jerusalém – saberá que o intento desta letra lucana é resgatar seu
aspecto teológico e, sobretudo, catequético.

Além do mais, seja observada a clareza com que a palavra se dilata, frente ao seu leitor:
“enviou mensageiros a sua frente”. Desde sempre foi assim! A missão sempre superou o
missionário, pois aquela é bem maior que este. Nasceu em Deus, jamais perecerá,
quanto ao último, dependerá do exercício de sua liberdade pessoal. E no ato de trabalhar
como missionário, este jamais deveria ter grandeza de poder e/ou de reinado. Tal qual se
deram com dois dos discípulos de Jesus: “Vendo isso, os discípulos de Jesus disseram:
‘Senhor, queres que mandemos descer fogo do céu para consumí-los’” (Lc 9,54). Para
Tiago e João a solução era dizimar toda a população samaritana, por não ter acolhido
Jesus e seus discípulos. Mas, para Jesus ser rejeitado não era um problema. No passado,
por ocasião do início de seu ministério público, quando ainda estava em Nazaré, ele fora
rejeitado (cf. Lc 4,29). A repetição deste comportamento, só reforça a ideia de que: onde
há ser humano, haverá sempre duas posturas, frente a mensagem do Reino. Acolhida ou
repulsa!

Por fim, seja visitado também neste trecho, uma imagem de cunho ecológico, inclusive.
Diversas vezes, também os animais nos ajudam a pensar, a falar e, inclusive, a
demonstrar sobre Deus. “As raposas tem tocas, e as aves do céu, ninhos. Mas, o Filho
do Homem não tem onde reclinar a cabeça” (Lc 9,58). No mundo natural, as raposas são
mamíferos, do tipo onívoro, vivem na terra e se adaptam muito facilmente ao seu
habitat. Já as aves são vertebrados, cobertos de penas e voam. E qual a relação entre
estes e o Filho do homem?
Aqueles se destacam por possuírem uma liberdade condicionada pelo instinto. Este
último, ao contrário, tendo sido empossado como senhor de si, sabe ser possuidor da
liberdade e da vontade, sabe ter sido instituído vigário de toda criação, sabe que deverá
prestar contas ao seu supremo Senhor. Por isso, o discípulo não se destaca somente por
aquilo que faz, mas e, sobretudo, pelo modo como age.

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