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Cristo e a riqueza!

(Lc 9,18-24)

Amados irmãos e irmãs, vive-se me toda Igreja o 12º domingo do tempo comum. Como
brinde o ouvinte/leitor recebe o trecho retirado do Evangelho de Lucas entre os
versículos 18 a 24. Porém, no que toca ao quesito da literalidade, faz necessário uma
pergunta: estes versículos, que também podem ser chamados por micronarrativa, estão
locados em qual capitulo? Este trecho encontra-se no capitulo 18, em cuja moldura
inicial informa ao leitor acerca do seu alcance ou objetivo: “Dizia-lhes ainda uma
parábola sobre a necessidade de rezarem e não desanimarem” (Lc 18,1).

Sabe-se que o evangelho de Lucas sempre foi intitulado como evangelho da oração. Em
vários momentos de sua vida, ao largo de seu ministério publico, Jesus se retira para
rezar. Rezar é um ato que supõe bastante intimidade, ao fazê-lo o criado sabe sobre sua
condição e sabe também que pela oração cria-se um habitar para estar com ele. Isso,
portanto, será sempre sinônimo de felicidade. No entanto, se de um lado, ao rezar, em
geral, Jesus se retira sozinho, de outro lado, ao voltar do lugar da oração e ao ensinar,
Jesus fala não para si, tampouco para um grupo de eleitos e escolhidos, mas para todos:
“disse-lhes” (Lc 9,23).

Outro ponto torna-se fundamental, acerca do texto de hoje. O encontro de Jesus com o
homem rico. A palavra dura de Jesus causa pavor e tremor, pena que não cause temor!
Sim, a palavra em si mesma é bastante dura e insossa: “Quão dificilmente ingressam no
Reino de Deus os que têm riquezas! De fato, é mais fácil um camelo passar pelo buraco
de uma agulha do que um rico entrar no Reino de Deus” (Lc 18,24-25). Para além dos
particularismos, o fato é que, o leitor assiste ou encontra-se, frente a uma categoria de
linguagem conhecida por hipérbole. Na qual, Jesus usa a imagem do camelo, ideia de
amplitude, para por em cheque as riquezas materiais. Certamente, pelo fato de saber que
seus discípulos ainda estavam apegados a velha teologia da retribuição. Segundo a qual,
Deus recompensava o homem bom com riquezas e grandezas, já o homem mau, recebia
pobreza e doenças.

Fato é que, rezando, Jesus aprendeu a desapegar e desapegando-se, entendeu que viver é
amar! Afinal de contas, não é a pobreza em si, tampouco o desapego vivido, tais
iniciativas podem ser conjugadas fora da religião, com tranquilidade e desenvoltura.
Mas, é o amor com que se coloca na dimensão do voto escolhido, abraçado e
compreendido. De um lado, sabe-se ser natural pensar primeiro em si, viver primeiro
para si, dar-se um tempo. De outro, com Jesus no caminho para Jerusalém, os discípulos
e nós sabemos que, não se pode ser cristão, seguidor de Jesus, dizer Jesus, sem dar a
vida por Jesus. E neste campo não se trata de dar o que sobra, mas o que se é, e alguns
casos o que se tem. Pois, o “a mais”, chamado por supérfluo ou desnecessário, deixa a
vida pesada, ao passo em que o dom de si mesmo transforma a vida para sempre.

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