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Julia Saramento Furlan
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Alexandre Cidral
Resumo: O tema da presente pesquisa foi promoção e prevenção em saúde mental, e o estudo
dedicou especial atenção a Síndrome de Burnout (SB) entre estudantes universitários. Estes
estudantes podem vivenciar no decorrer da formação acadêmica diversos fatores estressores
que se não tratados, podem ocasionar a SB. Neste sentido, o objetivo principal foi avaliar os
fatores relativos à SB em estudantes universitários do quarto ano de cursos de graduação
noturno de uma universidade comunitária. A metodologia adotada foi quali-quantitativa e de
cunho exploratório. Adotou-se também, a amostragem por conveniência e utilizou-se o
Inventário de Burnout de Maslach (MBI-SS) com 15 perguntas fechadas usando uma escala
do tipo Likert e 3 perguntas abertas. A pesquisa obteve 66 respondentes e os dados coletados
foram tabulados e analisados. Foi possível constatar que 84% dos discentes concordam que os
estudos os deixam emocionalmente exaustos; 78% sentem-se cansados ao sair da
Universidade e 74% sentem-se estimulados quando alcançam os objetivos dentro do curso. As
temáticas que ganharam destaque nas três últimas perguntas descritivas foram o desempenho
docente; o volume de trabalhos acadêmicos; a relação entre atividade profissional e a vida
acadêmica e o tempo disponível para os estudos. Observou-se a escassez de trabalhos
científicos a respeito do tema. A pesquisa proporcionou espaço para que os participantes
pudessem expor opiniões referentes ao ambiente acadêmico no qual estudam, possibilitando
subsídios para possíveis intervenções no âmbito da universidade no que diz respeito a
promoção da qualidade de vida e da saúde mental dos estudantes universitários.
Abstract: The subject of the research was investigated and the discipline of mental health,
and the study of the specialization in Burnout Syndrome (SB), university students. These
events may not have occurred during the course of the instrumental factors that were not
treated. In this sense, the main objective was to evaluate the factors of life in a university
course of the fourth year of the undergraduate course of a community university course. The
methodology adopted was qualitative and exploratory. Maslach Burnout Inventory (MBI-SS)
with 15 samplings isolated and using the Likert type scale and 3 open questions. The survey
was performed by respondents and the data were tabulated and analyzed. It was possible to
verify that 84% of the students agree that the studies leave them in emotional conditions; 78%
feel tired when leaving the University and 74% feel when they reach the objectives within the
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Estudante da quinta série do Curso de Psicologia da Universidade da Região de Joinville (UNIVILLE)
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Professor do curso de Psicologia da Universidade da Região de Joinville (UNIVILLE)
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course. The themes that highlighted the last three descriptive attempts were the teaching
performance; the volume of academic work; between professional activity and academic life
and the time available for study. There was a shortage of scientific work on the subject. The
research is of great interest to those who participate in studies on the academic environment,
there are no studies, possibilities of obtaining subsidies for university higher education.
1. Introdução
2. Fundamentação teórica
tempo para o lazer e descanso, alimentação inadequada, cobrança excessiva, etc (PEREIRA;
MIRANDA; PASSOS, 2010).
pois estes acabam não tendo tempo para se cuidarem, deixando a saúde física, social ou
mental de lado, não conseguindo buscar o equilíbrio (BRAGA et al. 2017).
A Saúde Mental dos estudantes universitários tem despertado maior atenção devido ao
aumento da prevalência e gravidade das perturbações psiquiátricas nesta população. Estes
estudantes também tem sido alvo de preocupação nos últimos anos, uma vez que tem sido
documentado um aumento da gravidade e do número de problemas mentais nos estudantes
universitários. Verificou-se que muitos dos problemas de Saúde Mental surgem relacionados
com fatores situacionais de stress e adaptação, em que a intervenção em crise se revela
essencial (SILVEIRA et al. 2011).
Os discentes focam mais na universidade com trabalhos, provas, estágios, etc; e
deixando outras coisas que eram mais importantes como: família, amigos, namorado, religião,
academia, etc. Então, quando conseguem tempo para fazer outra atividade, já estão no limite
do estresse, com a saúde mental debilitada. A Saúde Mental é indispensável para o bem-estar
geral dos indivíduos. Sendo assim, projetos com foco na promoção da Saúde Mental dos
estudantes são ideias contribuintes para minimizar o impacto produzido nas relações com o
novo ambiente. Assim o acadêmico pode ter sua Saúde Mental preservada (BRAGA et al.
2017).
Almeida et al. (2004 apud Castro, 2017) dizem que intervenções preventivas das IES
(Instituições de Ensino Superior) podem contemplar, métodos que auxiliem na aprendizagem,
no estudo, no rendimento escolar e no desenvolvimento psicossocial. Este auxílio pode atuar
na promoção de condições de saúde e higiene do campus, na revisão e reorganização do
processo de aprendizado e na criação de programas específicos, como atendimentos de
grupos.
Além disso, serviços remediativos podem fornecer apoio aos discentes para lidar com
problemas de adaptação com um novo contexto e atividades acadêmicas, questões
relacionadas às tarefas sociais e decisões vocacionais (GOLÇALVES; CRUZ, 1988 apud
CASTRO, 2017). O relatório FONAPRACE (Fórum Nacional de Pró-reitores de Assuntos
Comunitários e Estudantis) (2014) apud CASTRO (2017) levantou quais os programas de
assistência à saúde mental do estudante universitário as IES púbicas brasileiras têm praticado.
Os resultados mostraram que as universidades oferecem atendimentos médicos, exames para
diagnóstico, prevenção e tratamento de dependência química, atendimento odontológico,
atendimento psicológico/psiquiátrico e atendimento pedagógico.
Já em 2011, houve uma reunião do FONAPRACE na qual houveram discussões para
apresentação de Proposta de Diretrizes para Estruturação da Atenção à Saúde dos Estudantes
nas IFES (Instituições de Ensino Superior). O documento apresentado apontava
encaminhamento de que as IFES desenvolvessem uma política nacional de atendimento à
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baixa realização profissional. Por fim, a tradução da versão original inglesa de Schaufeli et al.
(2002 apud CARLOTTO, 2006) foi feita seguindo a versão portuguesa do MBI-SS
(TECEDEIRO, 2005 apud CARLOTTO, 2006), apenas com as consequentes adaptações.
3. Procedimentos metodológicos
8
A Tabela 1 mostra o percentual por item de resposta para cada uma das perguntas do
questionário. Os percentuais foram calculados considerando as respostas as 15 questões pelos 66
participantes no Inventário de Burnout de Maslach para Estudantes (MBI-SS). Para cada uma
das perguntas o respondente só poderia assinalar um dos itens de resposta, quais sejam: Discordo
Totalmente (DT), Discordo Parcialmente (DP), Neutro (N), Concordo Parcialmente (CP) e
Concordo Totalmente (CT).
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Tabela 1 – Percentual por item de resposta para cada uma das perguntas
Dimensões DT DP N CP CT
Exaustão emocional
1. Os meus estudos me deixam
emocionalmente exausto 0,00% 7,58% 7,58% 39,39% 45,45%
2. Me sinto cansado ao sair da universidade 1,52% 3,03% 16,67% 33,33% 45,45%
3. Me sinto desanimado quando penso que
tenho que ir para a universidade 10,61% 19,70% 13,64% 21,21% 34,85%
4. Estudar ou assistir a uma aula me deixam
tenso(a) 13,64% 24,24% 24,24% 30,30% 7,58%
5. Os meus estudos me deixam
completamente esgotado(a) 7,69% 24,62% 16,92% 32,31% 18,46%
Descrença
6. Tenho me desinteressado pelos estudos
desde que ingressei na universidade 33,85% 20,00% 26,15% 16,92% 3,08%
7. Me sinto pouco entusiasmado(a) com os
meus estudos 15,15% 19,70% 16,67% 31,82% 16,67%
8. Em relação aos estudos, tenho dúvidas do
meu potencial 16,67% 19,70% 15,15% 28,79% 19,70%
9. Tenho dúvidas sobre o significado dos
meus estudos 22,22% 14,29% 14,29% 36,51% 12,70%
Eficácia Profissional
10. Consigo resolver, de forma eficaz, os
problemas que resultam dos meus estudos 0,00% 26,15% 30,77% 36,92% 6,15%
11. Acredito que participo de forma positiva
nas aulas que assisto 4,48% 25,37% 22,39% 40,30% 7,46%
12. Sinto que sou um bom aluno(a) 0,00% 21,21% 15,15% 48,48% 15,15%
13. Me sinto estimulado(a) quando alcanço
os meus objetivos dentro do curso 1,52% 9,09% 15,15% 30,30% 43,94%
14. Tenho aprendido muitas matérias
interessantes durante o meu curso 1,52% 16,67% 18,18% 39,39% 24,24%
15. Durante a aula, sinto que consigo
acompanhar as matérias de forma eficaz 6,06% 25,76% 16,67% 43,94% 7,58%
Fonte: A autora (2018)
27). Mota, Dosea e Nunes (2017, p. 4720), narram que “a exaustão emocional é
caracterizada por um sentimento muito forte de tensão emocional que produz sensação de
esgotamento, falta de energia e recursos emocionais para lidar com as rotinas da prática
profissional, representando a dimensão individual da síndrome”. Nos estudantes
universitários, Borges e Carlotto (2004, p. 47), caracterizam a exaustão emocional pelo
sentimento de estar exausto em virtude das exigências do estudo. A exaustão emocional
também pode ser caracterizada pela “ausência ou carência de energia e um sentimento de
esgotamento emocional” (OSTERNACK, 2007 et al. p. 1721). Para estes mesmos autores,
na exaustão emocional, o indivíduo sente que não pode dar mais de si mesmo a nível afetivo
e então, percebe esgotada a energia e os recursos emocionais próprios devido ao contato
direto e intenso com os problemas (OSTERNACK, 2007 et al.).
Por meio da análise dos dados, no item relacionado à exaustão emocional, observou-
se na pergunta “1 - Os meus estudos me deixam emocionalmente exausto (a)” que
45,45% dos estudantes responderam que “concordo totalmente” e 39,39% “concordo
parcialmente”. A soma destes percentuais totaliza 84,84%, o que chama atenção na medida
que a questão obteve o maior percentual de concordância total e parcial na presente
aplicação do questionário. Neste sentido, pode-se inferir que os participantes da pesquisa
percebem os estudos como altamente exaustivos, talvez pelo fato de estarem no quarto ano
do curso, momento em que estão envolvidos com disciplinas, estágio curricular
supervisionado e trabalho de conclusão de curso. Além disso, estes estudantes tendem a já
estarem atuando no mercado de trabalho com vistas a obterem recursos para sua
subsistência e pagamento das mensalidades.
Na questão número “2 - me sinto cansado (a) ao sair da universidade”, observou-
se que 45,45% responderam “concordo totalmente” e 33,33% “concordo parcialmente”. A
soma destas respostas também alcançou o alto percentual de 78,78%. Estas respostas podem
ser associadas a relação entre atividades laborais somadas a atividades acadêmicas, tendo
em vista que muitos estudantes trabalham em período integral e estudam no período noturno
(TARNOWSKI; CARLOTTO, 2007), o que pode levar ao cansaço ao sair da Universidade
e ao desânimo ao encarar mais um dia de aula.
Já na questão número “3 - me sinto desanimado (a) quando penso que tenho que
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Nas respostas obtidas dos 66 pesquisados na pergunta aberta “quais são os fatores que
o leva a exaustão emocional?”, 48,48% responderam que o acúmulo de provas e trabalhos são
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fatores que os levam à exaustão emocional: “os fatores que me levam a exaustão, é quando
existe excesso de trabalhos passados todos ao mesmo tempo, por matérias diferentes” – disse a
estudante 12. Nesse sentido, Carelli e Santos (1998, s.p) citam que pesquisadores preocupados
com questões educacionais destacam a importância e a necessidade dos discentes dedicarem-se
a períodos de estudos fora do horário de aula, para garantirem um reforço na aprendizagem,
culminando numa formação acadêmica mais satisfatória.
“Os inúmeros trabalhos que exigem muito tempo e dedicação”. – foi a resposta da
estudante 16 e “me sinto exausta ao fim de cada bimestre, quando há muitos trabalhos, provas
e principalmente projeto arquitetônico para entregar” – foi a da estudante 19. Já a estudante 21
respondeu que o que a leva à exaustão é: “quando tem entrega de projeto, principalmente
quando na semana seguinte tem mais trabalhos, de outras matérias para entregar”. Sobre estas
falas, Assis et al. (2013), diz que a formação universitária exige do acadêmico um esforço maior do que
aquele com o qual estava acostumado a lidar no ensino médio, pois agora há prazos mais rigorosos para
a entrega de trabalhos, relatórios de estágio, seminários, provas e o Trabalho de Conclusão de Curso, etc.
A estudante 31 respondeu que: “a quantidade exagerada de leituras e atividades
obrigatórias” a levam à exaustão emocional. “Excesso de trabalhos/atividades, desenvolvidos
fora da sala de aula” – respondeu a estudante 23 e “acúmulo de atividades, prazos de entrega
curtos e não poder sair porque tenho que fazer projetos” foi a resposta da estudante 25. Sendo
assim, Oliveira et al. (2006), em sua pesquisa, narra que ao ingressar na universidade, uma nova
etapa se inicia na vida do indivíduo, levando à construção de novas formas de aprender. Inicia-
se também, um grande problema: muitas disciplinas e várias informações simultâneas.
“Trabalhos extensos, atividades sugeridas pelos professores, sem finalidade alguma”. –
disse a estudante 27. “Algumas aulas monótonas, muitos trabalhos com períodos curto para
entregas”, foi a resposta da estudante 36 e “muitas matérias no semestre; acúmulo de
trabalhos” foi a resposta da estudante 46. A estudante 61 respondeu: “acúmulo de provas e
trabalhos, especialmente nos fins de bimestre”. Neste sentido, “uma grande ansiedade é
desenvolvida na realização de uma prova, na discussão dos resultados em sala de aula. Tudo isto
interfere na realização do aluno e na sua aprendizagem” (GATTI, 2003, p. 103).
A estudante 60 respondeu que: “excesso de atividades avaliativas e principalmente o fato
da maioria delas serem em grupo. Muitas vezes, alguns membros da equipe se sobrecarregam,
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enquanto outros não contribuem muito”. Esta frase pode ser articulada com o que Viana et al.
(2014) narram em sua pesquisa que as atividades acadêmicas podem ser consideradas pré-
profissionais se inserem numa estrutura organizacional a obrigatoriedade de desenvolver
atividades específicas como: estudar e confrontar-se com aulas práticas, estágios e atividades
avaliativas e pelo ambiente acadêmico competitivo, gerador de conflitos e de estresse.
Outro fator que ganhou destaque na pergunta aberta do item exaustão emocional foi a
conciliação entre trabalho e estudo. Neste sentido, Maier e Mattos (2016, p. 180) narram que
“trabalhar e estudar são atividades dicotômicas, bastante comuns aos indivíduos que ingressam
na educação superior nos dias de hoje”.
“Mesmo tentando conciliar trabalho e estudo, enfrentando o tempo e o cansaço do dia-a-
dia, os estudantes trabalhadores não conseguem alcançar a dedicação ao estudo necessário ao
percurso acadêmico” (ABRANTES, 2012, p. 5). Isto fica evidente nas respostas de 17
participantes quando questionados sobre o que os deixam exaustos emocionalmente, em relação
aos estudos: “trabalhar e ter que ir para aula ao fim do dia” foi a resposta da estudante 10;
“com certeza o fato de trabalhar e estudar é foda” pois “falta tempo quando chegam perto as
entregas de projetos” – disse o estudante 15. A estudante 13 disse: “trabalhar e ter que ir para
aula ao fim do dia”; “falta de tempo para conciliar trabalho, estudos e vida pessoal”-
estudante 34. Desta forma, Abrantes (2012, p. 5) cita que: “os estudantes demonstram
desempenhar com dificuldades e sofrimento os estudos junto ao trabalho, pois mesmo que o
estudo signifique emancipação e melhor perspectiva de vida, o significado do trabalho tem
sinônimo de sobrevivência, fato que o nomeia superior ao estudo”.
A estudante 58 disse: “não é fácil trabalhar e estudar ao mesmo tempo”. Neste sentido,
é como se pelo fato de trabalhar, o jovem deixasse de gozar de sua condição de estudante e a
experiência profissional estivesse deslocada (SAMPAIO; CARDOSO, 2012). E apesar do
trabalho possibilitar aos discentes o desenvolvimento profissional; o tempo dedicado às
atividades estudantis pode ser prejudicado, tendo em vista que a Universidade proporciona
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como esses jovens poderão elevar suas capacidades cognitivas superiores, pensar e
repensar os temas propostos para os estudos se estudam no ônibus ou apenas no
domingo; ou talvez, apenas em sala de aula? Que formação é esta? Qual será seu lugar
na sociedade após receber um diploma?
4.2 Descrença
“discordo parcialmente”. Pode-se observar então, que 58,47% dos estudantes não sentem
desinteresse pelos estudos. Por outro lado, 41,53% apresentaram-se neutros ou concordam
parcial ou totalmente com o gradual desinteresse. Neste sentido, pode-se dizer que: “o
pouco conhecimento dos estudantes acerca do curso pelo qual optaram ou, ainda, a falta de
interesse pela profissão escolhida, podem contribuir para sentimentos de insatisfação e
frustração dentro da Universidade” (BARLEM et al. 2014, p. 939).
Na pergunta “7 - me sinto pouco entusiasmado(a) com os meus estudos” 48,49%
concordaram parcialmente e totalmente. Porém, 51,52% assinalaram as demais opções
“neutro”, “discordo parcialmente” e “discordo totalmente”. Pode-se supor que estes
estudantes sentem-se motivados e que por isto, não sentem pouco entusiasmo em relação
aos estudos. Neste sentido, Dittberner (2016) narra que na motivação intrínseca, o sujeito
depende apenas de si mesmo e não de fatores externos. Ou seja, pode ser que para estes
alunos, não há necessidade de pressões da Universidade para que se engajem nos estudos.
Na pergunta “8 - em relação aos estudos, tenho dúvidas do meu potencial”, foi
obtido 19,70% “concordo totalmente” e 28,79% “concordo parcialmente”, totalizando
48,49%. Dessa forma, estudantes que ainda não trabalham, podem apresentar maior
descrença, pois possivelmente, possuem dúvidas e questionamentos no que se refere à
aplicação dos conhecimentos teóricos nas atividades práticas e estágios, o que pode levá-los
a se distanciarem dos estudos (BARLEM, et al. 2014). Entretanto, 51,51% apresentam
neutralidade ou discordância parcial ou total. Neste sentido, é possível considerar que estes
estudantes possuem uma percepção positiva sobre seu potencial. E isto pode se dar ao fato
de que a maior parte dos estudantes pesquisados concilia o trabalho de tempo integral com a
vida acadêmica. Borges e Carlotto (2004, p. 50) também acreditam nisto, narrando que “os
alunos que não possuem experiência profissional apresentam maior descrença com relação
ao ensino”.
Na pergunta “9 - tenho dúvidas sobre o significado dos meus estudos”, observou-
se que 12,70% responderam “concordo totalmente” e 36,51% “concordo parcialmente”,
totalizando 49,21%. Porém, 50,79% apresentam neutralidade ou discordância total ou
parcial. Pode-se inferir que há uma variedade de percepções quanto às dúvidas sobre o
significado dos estudos para estes discentes. Desta forma, também é possível considerar que
estes estudantes já trabalham na área em que atuam e por conta disto, não possuem dúvidas
17
4.2.1 Docentes
Na pergunta aberta “quais são os fatores que o leva a descrença nos estudos?”,
30% dos estudantes atribuíram a responsabilidade ao desempenho dos professores, como
respondeu a estudante 3: “professores que não produzem um conteúdo de graduação, me
levou a descrença do curso”. Esta frase corrobora com Rios et al. (2016, p.137), que em sua
pesquisa, narra que “o ingresso na carreira docente universitária tem ocorrido sem qualquer
preparo na área pedagógica e a capacitação docente em nível superior tem deixado lacunas
em seus resultados”. “Observa-se também, que a maioria dos professores não assume uma
responsabilidade profissional de fazer com que os alunos realmente aprendam” (RIOS et al.
2016, p. 142). Pode-se inferir que uma possível consequência disto seja uma descrença por
parte dos estudantes.
A estudante 6 disse que: “professores despreparados” e “aulas sem conteúdo bom”
a levam a descrença. Sendo assim, “é de papel fundamental a qualificação constante do
professor para que ele seja realmente responsável por mudanças na área em que atua”
(RIOS et al. 2016, p. 137).“Professores não capazes de te estimular”, foi a resposta da
estudante 24 e “me sentir rebaixada por alguns professores”, foi a resposta da estudante 5
no item relacionado à descrença nos estudos. Estas falas podem ser articuladas com a
pesquisa de Rios et al. (2016) que diz que a prática do professor precisa entusiasmar o
aluno, motivando-o a querer aprender cada vez mais.
“A falta de organização com o cronograma de atividades, aulas que não são
estimulantes e que seguem uma ordem de aprendizado” é outro fator que leva a estudante
26 à descrença nos estudos. “Comentários negativos de professores e colegas”, foi o que a
estudante 13 respondeu e “quando o professor questiona o projeto em si” foi a resposta da
estudante 21. Desta forma, a prática de um docente não pode ser considerada apenas um
momento do qual este repassa o conhecimento científico pronto e acabado e que será
18
reproduzido pelo discente; mas deve ensinar os instrumentos investigativos para produzir
ciência que o torne um sujeito autônomo tanto no pensar como no agir (SOMACAL;
RIBEIRO, 2017).
Nas respostas obtidas na pergunta aberta: “Quais são os fatores que o leva à
eficácia nos estudos?” o estudante 7 respondeu: “Tempo! Para refletir e planejar o que
deve ser feito”. “Ter tempo para ler, produzir e organizar meus horários de estudo e tirar
dúvidas em sala com o professor”, foi a resposta da estudante 34. Neste sentido, Carelli e
Santos (2000, p.
198) narram que
A estudante 28, respondeu que o que a leva à eficácia nos estudos é “organização
nos estudos, planejamento”. Já a estudante 29 respondeu: “planejamento nos horários de
estudo” e “reservar um tempo no final de semana para estudar, terminar trabalhos
pendentes, etc” foi a resposta da estudante 54. Assim, “estudar e manter os estudos em dia
requer do aluno um planejamento de seu tempo, estabelecendo um plano de estudo para o
dia, a semana e até mesmo para o ano letivo. Dessa forma, o aluno estará organizando-se
acerca dos itens mais relevantes do programa educacional” (CARELLI; SANTOS, 2000, p.
198). “Qualquer que seja a definição dada para habilidades de estudo, é inegável sua
importância, em termos de condições pessoais satisfatórias, para assegurar uma real
aprendizagem” (CARELLI; SANTOS, 2000, p. 199).
A estudante 4 respondeu que: “tempo para realizar os trabalhos e estudar para as
provas” a leva à eficácia nos estudos. “Entregar os trabalhos no prazo e fazer o possível
para ler os textos necessários” foi a resposta da estudante 61. A estudante 59 respondeu:
“quando estudo algo que gosto e tiro notas boas sem precisar me desgastar tanto para
21
isso”. Neste sentido, é preciso aprender a programar as atividades pessoais e para que os
discentes possam atuar sobre a organização do seu tempo, é necessário, que analisem o problema,
especificando as várias atividades que preenchem o seu dia (CARVALHO, 2012).
Carvalho (2012, p. 26) também narra que
Além disso, o tempo para estudar, segundo Carelli e Santos (2000, p. 198) é uma
“condição temporal considerada como das mais relevantes e refere-se ao intervalo de tempo
que o aluno tem para dedicar-se a trabalhos extra-classe, a fim de completar seus estudos e
reforçar seu desempenho acadêmico”.
5. Considerações Finais
6. Referências
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