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INSTITUTO FEDERAL DE EDUCAÇÃO, CIÊNCIA E TECNOLOGIA

DO RIO GRANDE DO NORTE

OZIEL DE MEDEIROS PONTES

COPA DO MUNDO DE FUTEBOL FIFA 2014 NA CIDADE DO NATAL-RN:


LEGADOS E DILEMAS

NATAL-RN
2020
SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO 4
1.1 CARACTERIZAÇÃO E CONTEXTUALIZAÇÃO DO PROBLEMA DA
PESQUISA 4
1.2 HIPÓTESE 6
1.3 OBJETIVO 6
1.4 JUSTIFICATIVA 7
2 REFERENCIAL TEÓRICO 10
3 METODOLOGIA E TÉCNICAS DE PESQUISA 23
4 PLANO DE TRABALHO E CRONOGRAMA DE EXECUÇÃO 24
5 RESULTADOS ESPERADOS 25
REFERÊNCIAS 26
RESUMO

O trabalho de pesquisa aborda a Copa do Mundo de Futebol FIFA 2014 na cidade do Natal-
RN. O objetivo é a investigação dos legados e dilemas desse megaevento esportivo para a
capital do Estado do Rio Grande do Norte. Trata-se de uma pesquisa exploratória e
qualitativa. Espera-se a contribuição com a melhoria da qualidade de vida na capital norte-rio-
grandense, estimulando políticas públicas para a resolução da problemática no que diz
respeito à gestão do território urbano. Em suma, alcançado esse resultado com base na
investigação sobre o legado da Copa do Mundo 2014 na cidade do Natal-RN, tem-se maiores
subsídios para o planejamento, formulação, execução e avaliação de políticas públicas em
obras de grande porte durante megaeventos esportivos futuros, na medida em que a reflexão
crítica no campo da gestão territorial urbana conduz à intervenção futura mais democrática,
equânime e inclusiva.
Palavras-chave: Megaeventos esportivos; Copa do Mundo de Futebol FIFA 2014; Legados e
dilemas; Natal-RN.
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1 INTRODUÇÃO

O presente projeto de pesquisa, intitulado “Copa do Mundo de Futebol FIFA 2014 na


cidade do Natal-RN: legados e dilemas”, está estruturado em caracterização e
contextualização do problema da pesquisa, hipótese, objetivo, justificativa, referencial teórico,
metodologia e técnicas de pesquisa, plano de trabalho e cronograma de execução, resultados
esperados e referências.

1.1 CARACTERIZAÇÃO E CONTEXTUALIZAÇÃO DO PROBLEMA DA PESQUISA

No contexto da globalização econômica, produto da expansão cada vez mais ampliada


do capitalismo e da sociedade de consumo, que acarreta uma crescente mercantilização da
vida humana, eis que surgem os megaeventos esportivos como forma de expansão contínua e
ampliada do capital em nível internacional. Nesse bojo, os megaeventos esportivos são formas
da expansão capitalista que se dão tanto em profundidade, através da reterritorialização,
quanto em extensão, isto é, por intermédio da desterritorialização-territorialização.
Isso posta, em busca da ampliação, concentração e centralização de lucro , o
capitalismo financeiro-rentista encontrou terreno fértil nos megaeventos esportivos realizados
nas nações subdesenvolvidas, visto que em tais territórios há a possibilidade de realização dos
interesses privados e gestão do território urbano através do neoliberalismo ou
“empreendedorismo urbano”, instaurando a privatização dos espaços públicos e a ausência do
direito à cidade para o cidadão, particularmente os desfavorecidos em termos sociais,
econômicos, políticos, geográficos, ambientais e culturais.
Nas últimas décadas, os países do BRICS investiram importantes somas de recursos
financeiros com o intuito de adquirirem importância política que os conduzissem à recepção
dos megaeventos esportivos, como foi o caso dos Jogos Olímpicos de Verão 2008, em
Pequim, dos Jogos da Commonwealth 2010, em Nova Delhi, do Campeonato Mundial de
Futebol FIFA 2010, na África do Sul, do Campeonato Mundial de Futebol FIFA 2014 e dos
Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro 2016, no Brasil, e dos Jogos Olímpicos de Inverno 2014 e
do Campeonato Mundial FIFA 2018, na Rússia.
Nesse sentido, essas cidades dos países subdesenvolvidos disputaram importância
internacional na competição por investimentos, revelando como os megaeventos esportivos se
tornaram a estratégia para a ascensão ao posto falso de “cidades globais”. Para tal, obedecem
à lógica neoliberal de um planejamento flexível para atender aos critérios dos investidores
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privados em conluio com a governança pública, ameaçando a regulamentação estatal e a


gestão democrática do território urbano. Dessa forma, os megaeventos esportivos se
submeteram cada vez mais aos interesses do capital privado e das corporações multinacionais
internacionais, suprimindo as exigências e os direitos das classes sociais excluídas nas
cidades-sede de megaeventos esportivos nos países subdesenvolvidos. Isso as torna “cidades
de exceção”, pois as legalidades são desconsideradas para dar apoio à expansão dos negócios
em favor das grandes corporações multinacionais, e isso num contexto de aumento da
exclusão e segregação espaciais das classes alijadas do processo de (re)podução da cidade.
Em função da Copa do Mundo de Futebol 2014, a transformação do território da
cidade do Natal-RN constitui o cerne de políticas públicas globais, nacionais, regionais,
estaduais e locais voltadas para o urbano. Nesse contexto, em função desse megaevento
esportivo, a mudança na infraestrutura e equipamentos urbanos produz legados e dilemas
diversos e conduz a diferentes (re)apropriações territoriais, sendo pertinente esclarecer se
representa desterritorialização-territorialização-reterritorialização que se traduz em
crescimento econômico com a melhoria da qualidade na vida de seus habitantes, isto é, bem-
estar social ou, ao contrário, trouxe implicações negativas no que se refere ao uso do território
na capital do Rio Grande do Norte.
Por sua vez, o governo do Estado do Rio Grande do Norte defendeu que os projetos de
infraestrutura da Copa do Mundo de Futebol 2014 na cidade do Natal-RN objetivaram a
resolução de antigos problemas em relação à mobilidade urbana, moradia, energia, segurança,
turismo, rede hospitalar, saneamento básico e telecomunicações, conduzindo a geração de
empregos, dinamização da economia e melhoria da qualidade de vida dos natalenses e norte-
rio-grandenses. Além disso, pretendeu-se o cumprimento às exigências técnicas para a
realização desse grande evento esportivo por parte da Fédération Internationale de Football
Association (FIFA). Portanto, o discurso do aparelho estatal foi no sentido dos aspectos
positivos do crescimento econômico que seria gerado por ocasião da Copa do Mundo de
Futebol 2014 na capital potiguar.
Desse modo, do ponto de vista do território usado e de sua (re)apropriação com base
no crescimento econômico ocasionado por esse megaevento esportivo, houve bem-estar para
a sociedade natalense, ou seja, na cidade do Natal-RN, as mudanças territoriais promovidas
pelo Mundial de Futebol FIFA 2014 atenderam às necessidades da maioria de seus habitantes?
Em outras palavras, com base na Copa do Mundo de Futebol FIFA 2014, quais foram os
legados e dilemas que a desterritorialização-territorialização-reterritorialização trouxe à
cidade do Natal-RN?
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Diante da perspectiva de implantação e/ou construção dos objetos e equipamentos


urbanos na cidade do Natal-RN, considerou-se oportuno desenvolver uma investigação
norteada pelos seguintes questionamentos: tais objetos e equipamentos urbanos, que em
alguns casos foram realizados na cidade do Natal-RN em nome do seu desenvolvimento
social e econômico, atenderam aos anseios da maioria de seus cidadãos, ou seja, tais
transformações territoriais, em razão do Mundial de Futebol FIFA 2014 na cidade do Natal-
RN, proporcionaram gestão territorial urbana democrática e participativa? Dito isso, na cidade
do Natal-RN, por ocasião do citado megaevento esportivo, quais foram os legados e dilemas
trazidos para os citadinos?

1.2 HIPÓTESE

A hipótese dessa pesquisa é a de que a Copa do Mundo de Futebol FIFA 2014 na


cidade do Natal-RN influenciou de forma negativa na qualidade de vida, emprego,
indicadores socioeconômicos e impactos ambientais, perfazendo uma má gestão do território
com base em políticas neoliberais em favor de grupos hegemônicos em detrimento do direito
à cidade.

1.3 OBJETIVO

Nessa seção, visando o alcance pleno do desenvolvimento da pesquisa e na tentativa


de solucionar o problema exposto, definiu-se como objetivo geral:
– Investigar os legados e dilemas da Copa do Mundo de Futebol FIFA 2014 na cidade
do Natal-RN.
Face ao objetivo geral, essa pesquisa se propõe:
– Pesquisar a produção do espaço urbano e suas implicações no que se refere ao
direito à cidade e à segregação socioespacial;
– Identificar o grau de satisfação e os benefícios para a qualidade de vida com as
transformações socioespaciais;
– Investigar as prioridades implementadas e os efeitos mais significativos;
– Compreender as transformações socioespaciais com base nos setores econômicos,
instituições governamentais e grupos sociais;
– Propor alternativas para a gestão do espaço urbano em favor do bem-estar social.
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1.4 JUSTIFICATIVA

Ao conceber o planejamento territorial também como inserido na justiça social,


cumpre investigar se as camadas mais pobres da sociedade natalense participaram dos legados
por meio da concretização dos projetos de infraestrutura e equipamentos urbanos descritos
anteriormente, que acompanharam tão grandioso evento. A esse respeito, na cidade do Natal-
RN, é importante saber se as políticas públicas foram eficazes no sentido de inserir a
população excluída nos benefícios trazidos pelas obras de infraestrutura e equipamentos
urbanos da Copa do Mundo de Futebol FIFA 2014.
Da mesma forma, também há a necessidade de investigação em torno dos grupos
econômicos diretamente envolvidos nessas obras de infraestrutura e equipamentos urbanos.
Além disso, os supostos ganhos e perdas territoriais que tais grupos trouxeram para o
território, ambiente e a sociedade natalense.
Dessa forma, pretende-se investigar se os moradores dessa localidade participaram da
tomada de decisões que orientaram tais projetos e obras no campo das infraestruturas e
aparelhos urbanos novos na cidade do Natal-RN por intermédio da Copa do Mundo de
Futebol FIFA 2014. Se for o contrário, ou seja, se essas decisões foram tomadas por órgãos
estatais e a iniciativa privada de forma unilateral, seja separadamente, seja em conjunto,
tornar-se importante também identificar quais são esses grupos decisórios e seus interesses,
especialmente na correspondência ou não que mantêm com o bem-estar público e os
interesses e anseios das classes sociais excluídas e marginalizadas do ponto de vista social,
econômico, político, geográfico, ambiental e cultural.
No momento em que a cidade do Natal-RN passa por inúmeras transformações
territoriais advindas do crescimento urbano e metropolização vez mais acelerados, em meio
ao aumento dos casos de contágio por Sars-Cov-2, as modificações territoriais auferidas pela
Copa do Mundo de Futebol 2014 geraram impactos territoriais no que se refere à sociedade
natalense. Ora, esse trabalho acadêmico investigará os legados e dilemas para a sociedade do
Natal-RN a partir de tais mudanças territoriais.
Portanto, esse trabalho de pesquisa científica problematizará os temas
desenvolvimento, território, ambiente e sociedade, tendo como referência empírica a capital
norte-rio-grandense, principalmente no que se refere à importância do valor dado ao uso do
território no cenário das modificações territoriais por ocasião do Mundial de Futebol FIFA
2014. Nesse sentido, esse projeto acadêmico assume uma grande relevância científica, até
porque pesquisará um tema não muito tratado pela ciência: os legados e dilemas gerados em
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cidades médias decorrentes das alterações promovidas por grandes megaeventos esportivos,
como é o caso da Copa do Mundo de Futebol FIFA 2014. Entende-se que esse trabalho
acadêmico poderá trazer uma contribuição à sociedade natalense, já que apresenta uma
problemática associada às novas modificações territoriais que vieram junto a esse enorme
megaevento esportivo mundial, algo que ainda não foi objeto de pesquisa acadêmica.
Essa pesquisa acadêmica espera contribuir com a sociedade natalense, porque
contemplará legados e dilemas das desterritorializações-territorializações-reterritorializações
realizadas por intermédio do Mundial de Seleções de Futebol FIFA 2014, na cidade do Natal-
RN. Em relação aos dilemas, abordará não só as questões que concernem aos dilemas
territoriais produzidos pela Copa do Mundo 2014 na cidade do Natal-RN, mas o levantamento
de alternativas para a redução e/ou eliminação de tais processos que implicaram
negativamente sobre o bem-estar da sociedade local. A partir daí, cria-se uma contribuição
fundamental para a gestão do território da capital do RN, visto que permite o exame crítico e
reflexivo sobre a participação popular no planejamento, criação, execução e avaliação dos
projetos de infraestrutura e equipamentos urbanos que mudaram definitivamente o território
natalense.
Nessa perspectiva, espera-se contribuir com a melhoria da qualidade de vida na capital
norte-rio-grandense, estimulando políticas públicas que reflitam mais e melhor acerca das
questões que dizem respeito à gestão do território urbano, em que pese a formulação de
planos, programas e projetos no que se refere ao planejamento, produção, execução, gestão e
avaliação. Além disso, almeja-se a busca de relacionamento entre teoria e prática que trará a
reflexão crítica acerca de noções básicas para a ciência, particularmente território,
megaeventos, políticas públicas, globalização, mundialização, fragmentação, neoliberalismo,
desenvolvimento urbano, sociedade e ambiente, sustentabilidade, crescimento econômico,
prosperidade, decrescimento econômico e complexidade, e isso a partir das modificações
territoriais produzidas em função da realização do evento Copa do Mundo de Futebol FIFA
2014 na cidade do Natal-RN.
Em suma, alcançados esses resultados, teremos maior compreensão dos legados e
dilemas na hora do planejamento, formulação, execução e avaliação de políticas públicas que
usam o dinheiro público em obras de grande porte durante megaeventos esportivos futuros, na
medida em que os problemas no campo da gestão territorial suscitarão críticas e reflexões a
respeito de alternativas futuras mais democráticas, equânimes e inclusivas. Mais do que isso,
a pesquisa pretende alcançar respostas que atendam às necessidades e anseios do cidadão
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rumo ao direito à cidade para o atendimento ao bem-estar comum, e não como meio para a
obtenção de lucros.
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2 REFERENCIAL TEÓRICO

Sob a ótica da acumulação capitalista, no atual estágio de globalização econômica e


unificação de mercados, formam-se, de um lado, territorializações-desterritorializações-
reterritorializações que criam redes de circulação e de informação capazes de conectarem
espaços locais e espaços regionais ao espaço transnacional, e, de outro lado, espaços não
valorizados pela lógica do lucro, instáveis e supérfluos do ponto de vista territorial, os quais,
tendo por base o sistema de fluxos econômicos globais, nada mais são do que elementos
marginalizados, não possuindo a base técnica indispensável - comunicações, ferrovias,
rodovias, telefonia, redes de transmissão elétrica, infovias, recursos naturais, mão-de-obra
qualificada - para o uso estratégico por parte dos centros de decisão e gestão. Desse modo, a
globalização econômica, ao invés de homogeneizar todos os espaços, revaloriza lugares e
promove diferenciações e seletividades espaciais, visto que também fragmenta, isto é, efetua o
parcelamento dos espaços.
Com as transformações operadas nos territórios pela revolução científíco-tecnológica
em curso, a qual, obedecendo a divisão territorial do trabalho e a desigualdade territorial na
distribuição da renda e riqueza , ocorre o aumento da subordinação dos Estados ao capital
transnacional, Estados esses que, dada a conjuntura econômico-social e política vigente, veem
seu raio de ação social diminuído, seja pela diminuição dos impostos de importação, seja pelo
controle econômico e político imposto pela lógica da produção, circulação, distribuição e/ou
consumo de capitais, mercadorias, serviços e pessoas.
A partir daí, formam-se os "aglomerados de exclusão" (HAESBAERT, 1995, p. 165),
onde uma quantidade cada vez maior de "despossuídos" ou “deslocados" da produção,
circulação, distribuição e consumo de capitais, mercadorias e serviços, bem como de direitos
políticos básicos, emergem como o produto da nova racionalidade e fortalecem o pensamento
único da lucratividade a qualquer preço, podendo os mesmos serem encontrados tanto nos
países subdesenvolvidos, nesse caso a expressiva maioria, quanto nos países desenvolvidos.
Sobre isso, Roberto Lobato Corrêa (1995, p. 40) diz:

O valor atribuído a um dado lugar pode variar ao longo do tempo. Razões de


ordem econômica, política ou cultural podem alterar a sua importância e, no
limite, marginalizá-lo, deixando-o à margem da rede de lugares a que se
vinculava.
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Assim, o espaço urbano, criado pelo e para o capital, não é reproduzido de acordo com
as necessidades dos grupos sociais sem expressividade a nível político e econômico, mas sim
a partir do Estado que, contendo interesses convergentes e divergentes entre os grupos
hegemônicos, nele inseridos, organiza e reorganiza o território a partir da lógica da
acumulação do capital e do lucro. O Estado não é neutro, pois orienta a transformação
espacial segregadora, deixando de investir em espaços urbanos segregados, os quais, pelo seu
caráter necessário, fazem-se urgentes e prioritários, embora não mereçam atenção por parte do
planejamento e gestão estatais do território nos espaços urbanos.
Nesse sentido, Manoel Correia de Andrade (1984, p. 17-20), afirma que:

Enquanto os grupos econômicos atuam diretamente, utilizam o Estado para


institucionalizar, sob a forma de leis, decretos-leis, decretos e regulamentos,
os sistemas de relações e as instituições que melhor consolidam e
reconhecem os seus interesses.

Temos, portanto, a falsa impressão de que, juntos, somos os atores na construção e


reconstrução das formas espaciais urbanas. Na verdade, o espaço é alienado para a grande
maioria das pessoas e a perda da identidade é algo notório nos tempos atuais, ainda mais nos
países subdesenvolvidos como o Brasil, onde a cidadania incompleta e as desigualdades
sociais andam lado a lado, apesar da contra-reação dos excluídos na forma de teorias e
práticas tidas como irracionais. Criam-se diferenciações espaciais a nível local, regional,
nacional e global, o que resulta em formas distintas com relação a dinâmica territorial e a
apropriação do espaço pelo homem, influenciando na sociabilidade entre os diversos grupos
sociais.
A esse respeito, Milton Santos (2001, p. 114) diz que:

O território tanto quanto o lugar são esquizofrênicos, porque de um lado os


vetores da globalização, que neles se instalam para impor sua nova ordem, e,
de outro lado, neles se produz uma contra-ordem, porque há uma produção
acelerada de pobres excluídos, maginalizados.

Nesse sentido, a desterritorialização-territorialização-reterritorialização nas redes e


aglomerados de exclusão, levando em conta as teorias e práticas de planejamento territorial
centradas no crescimento econômico e na modernização tecnológica, sem a consideração da
justiça social, originaram grandes disparidades regionais e desigualdades na distribuição
territorial da renda e riqueza, porque ocultaram o papel imprescindível da autonomia dos
territórios em face do tão almejado desenvolvimento, provocando diferenciações espaciais de
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acordo com a valorização seletiva dos espaços. Tais práticas, levadas a cabo tanto nos países
de Primeiro Mundo quanto nos países de Terceiro Mundo, manisfestas nos chamados "pólos
de crescimento", embora almejando inicialmente a correção das desigualdades regionais,
aprofundaram ainda mais tais desníveis socioeconômicos e espaciais, sendo orquestradas,
especialmente no caso dos países periféricos, por forças exteriores e que estão associadas aos
interesses hegemônicos locais e regionais, apesar da lógica cultural atuar como barreira ao
movimento de homogeneização. Portanto, os Estados não são as únicas unidades básicas de
atuação política, como afirmou Ratzel durante o segundo quartel do século XIX, apesar de
serem ainda os responsáveis pela construção do espaço estatal, o qual, aliás, serve de base
para a acumulação capitalista.
A partir dos anos 60, especificamente na década de 70, dá-se início a uma série de
inovações tecnológicas, especialmente na micro-eletrônica e nas comunicações, ao lado das
inovações tecnológicas difundidas com a Segunda Revolução Industrial (século XIX), que
promoveram melhorias consideráveis nos meios de transporte e comunicação, sendo tais
avanços técnicos responsáveis pela contração das distâncias e pela formação de uma maior
velocidade e interdependência entre os fluxos econômicos, comerciais, financeiros e
espaciais. Isso minimizou o poder geopolítico dos Estados baseados apenas no solo, na
posição geográfica, nas fronteiras e nos recursos naturais.
Com a internacionalização da economia e o mercado unificado, num sistema de redes
técnico-informacionais, os espaços transnacionais extrapolaram as fronteiras dos Estados,
dominando-os e sujeitando-os à lógica da acumulação capitalista, valorizando e revalorizando
seletivamente os espaços através de desterritorializações e reterritorializações, baseadas em
novas vantagens comparativas de cada lugar ou território, como é o caso da base técnica -
redes técnico-informacionais e infraestruturas - e do nível de acesso de qualificação da força
de trabalho local. A esse respeito, Kurz (1992) disse que as economias latino-americanas
foram expelidas da circulação global, porque a geração de novas tecnologias exclui antigas
vantagens comparativas, tais como os recursos naturais e a mão-de-obra abundante.
Para Milton Santos (1996, p. 96):

Criam-se sítios sociais uma vez que o funcionamento da sociedade urbana


forma seletivamente os lugares, afeiçoando-os às suas exigências funcionais.
É assim que certos pontos se tornam mais acessíveis, certas artérias mais
atrativas e, também, uns e outras, mais valorizadas.
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Vinculado à lógica dos "fluxos de informação" (DIAS, 1995, p. 141), que promovem
a padronização e a eliminação das relações entre os diversos grupos sociais e desses com o
seu território, os territórios também podem formar os "aglomerados de exclusão" ,
marginalizados e submetidos ao "caos" e à "desordem", embora aí se desenvolvam processos
de desterritorialização a partir de neofundamentalismos e neonacionalismos (HAESBAERT,
1995, p. 197) xenofóbicos e naturalistas.
Com relação a isso, diz Robin (1995, p. 16):

Quanto ao espaço e ao território, eles tendem a ser escamoteados: a


mundialização operada pela multimídia e as infovias apagam nossas
referências espaciais. O espaço público vivido, aquele da rua, da cidade (...),
desaparece. Ora, o território é o lugar privilegiado da construção social, o
laço maior de articulação entre o social e o econômico; é aí também que se
constata a alteridade e se opera o confronto com os outros. De fato, não
existe político que não se inscreva sobre um território.

Para Haesbaert (1995), é vital, pois, o caráter profundamente ambíguo e paradoxal dos
territórios, pois estão ligados tanto aos fluxos de informação dominantes, sendo portanto
utilitaristas e funcionais, quanto manifestam um maior enraizamento econômico, político e
cultural, constituindo uma massa amorfa e "deslocada" (território supérfluo); no primeiro
caso, ocorre uma menor sociabilidade e socialização por causa da contratação das distâncias e
da mediação das relações sociais pela técnica, sem esquecer que tem acontecido no Primeiro
Mundo e no Terceiro Mundo o desemprego estrutural e a formação não mais de um exército
industrial de reserva apregoado por Karl Marx, mas uma massa de despossuídos ou excluídos
da vida econômica, política e cultural, embora do ponto de vista espacial possam ser mais
visíveis nos países subdesenvolvidos; no segundo, uma maior identificação entre território e
sociedade, além de instabilidade e melhoria na socialização e sociabilidade, tendo
equivalência entre política, economia, cultura e território, apesar dos “Territórios-Rede”
(SOUZA, 1995, p. 94) promoverem a desterritorialização a seu modo bem como concorrerem
para o aumento da insegurança e da violência, como é o caso do tráfico de drogas nas favelas
do Rio de Janeiro.
Nesse sentido, quando o tema em questão são os megaeventos esportivos, não se deve
confundir a globalização econômica com a ideia de uma evolução linear progressiva, havendo
sempre, portanto, a possibilidade de avanços e recuos. Isso posta, a globalização econômica,
amparada no neoliberalismo e na expansão contínua e amplidada dos mercados, elege o mito
do crescimento econômico ilimitado e dos investimentos internacionais como em expansão
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contínua e uniforme, sem levar em consideração que os legados e dilemas são sempre
distribuídos de forma combinada e desigual no território urbano.
Da mesma forma, também há muito menos uma transformação geral, concomitante e
uniformemente produzida em relação as diversas dimensões do capital, a saber: social,
econômica, política, cultural e ambiental. Dessa forma, por ocasião dos megaeventos
esportivos, enquanto muitos são excluídos dos legados, para ser justo a maioria,
especialmente as classes sociais pobres e miseráveis, uma minoria privilegiada é atendida em
seus anseios e desejos por intermédio de toda sorte de infraestruturas e equipamentos urbanos
que são alvo de disputa política no território, cuja institucionalização se dá no Estado.
Por sua vez, pode-se argumentar que a fragmentação é a dinâmica que se contrapõe e
compõe à globalização econômica, e é possível antever que a expansão dos megaeventos
esportivos cumpre a função de apoio e resistência ao capital especulativo, financeiro e
rentista. Nesse sentido, o capitalismo rentista aposta na expansão ampliada, centralizada e
contínua do capital especulativo, e os megaeventos esportivos compõem cenários territoriais
propícios para a realização dos lucros em detrimento do atendimento às necessidades básicas
dos citadinos no que no que se refere à alimentação, saúde, educação, moradia, emprego,
segurança e transportes, principalmente nas cidades dos países subdesenvolvidos, ao passo
que as classes sociais excluídas reagem a seu modo, muitas vezes de forma desorganizada e
alienada.
Também se faz necessário o destaque que são os países subdesenvolvidos os alvos
prioritários das políticas neoliberais, as quais provocam reivindicações das classes
marginalizadas e alguns pequenos avanços em termos de cidadania. A esse respeito, a resposta
do Estado é mais no sentido de reação a essas lutas políticas dos oprimidos do que em prol de
uma mudança de rumo na gestão do território urbano que favoreça uma gestão territorial
democrática e participativa.
Isso posta, no que concerne aos megaeventos esportivos, se não há a perda, mas
redução, delegação ou partilha do poder de controle do Estado sobre diversos fluxos nacionais
e transnacionais através de suas fronteiras, o que se detecta através da imposição de normas
por intermédio dos grandes grupos econômicos privados nacionais, transnacionais e entidades
internacionais. Cumpre destacar que isso é visível por intermédio dos mecanismos que afetam
direta e/ou indiretamente as relações de trabalho em desfavor das classes trabalhadoras, como
é o caso das modificações econômicas que visam adaptação às reformas neoliberais que têm
ligações com a expansão ampliada, concentradora e centralizadora do capital, em que pese o
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pós-fordismo, a revolução informacional, a desregulamentação do capital financeiro, a queda


dos regimes burocratizados e a intensificação dos fluxos transnacionais.
Outra face dos megaeventos esportivos, ligados ao processo de globalização
econômica e territorialização-desterritorialização-reterritorialização, tem a ver com a
privatização e retração dos espaços públicos, aliada ao enfraquecimento do poder estatal, os
quais passam a compor a seara econômica de territórios internos de segurança privada, grupos
externos privados e hibridismo público-privado. Nesse caso, não é difícil perceber que os
megaeventos esportivos produzem uma série de infraestruturas e equipamentos urbanos
“faraônicos” que se transformaram em “elefantes brancos” às classes desfavorecidas da
sociedade, perfazendo uma privatização de territórios antes destinados às coletividades
urbanas de forma indiscriminada e sem a geração de inclusão social por meio da abertura de
vagas novas no mercado de trabalho formal e informal.
Não devemos, contudo, confundir “organização política” global frágil com
“debilitação do poder”, que não se manifesta apenas na tradicional forma do poder político
estatal. A esse respeito, segundo Marcuse (2000), uma das marcas da globalização, ao lado
dos avanços tecnológicos, é a concentração global do poder econômico, uma de suas formas
mais organizadas e eficazes. Nesse caso, o Estado abdica de poderes que de alguma forma
delega às grandes empresas, ao mesmo tempo em que a elas fica subordinado
(FORRESTER,1997). Então, as decisões que afetam às localidades quanto ao seu papel na
divisão territorial do trabalho provêm dos grandes centros globais de gestão econômico-
financeira mundiais, sediados nos países desenvolvidos e grupos financeiros internacionais.
Sob o ponto de vista econômico, a desterritorialização é sinônimo ou característica da
globalização econômica e tem independência dos fluxos das bases territoriais bem definidas,
sendo um momento do capitalismo pós-fordista ou de acumulação flexível que prevê a
“deslocalização” das empresas e precarização dos vínculos entre trabalhador e empresa.
Diante disso, é vinculada ao setor financeiro que produz imaterialidade e instantaneidade,
permitindo a circulação do capital especulativo em “tempo real”.
Oriunda da tecnização da ciência e favorável à cronometrização do tempo, a
aceleração é uma das responsáveis pelo desequilíbrio atual do ambiente, visto que transforma
o desenvolvimento humano em mero desenvolvimento econômico, embora esse não seja
apenas a sua única consequência imediata. Nesse sentido, a crise ambiental também figura
como consequência de se fazer mais em menos tempo (MORIN; KERN, 2003).
Nesse sentido, o atual modelo de modernidade e desenvolvimento sustentável, calcado
num crescimento econômico ilimitado, dá provas de não estar de acordo com as limitações da
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ecologia nem dos recursos naturais, cada vez mais escassos e limitados. Qualquer modelo de
desenvolvimento sustentável terá de levar em consideração não apenas o bem-estar dos países
desenvolvidos, mas também a expansão desse bem-estar para as nações subdesenvolvidas,
sem esquecer-se da diminuição da produção e consumo de bens materiais, caso contrário
haverá o colapso dos ecossistemas e da vida em nosso planeta. Portanto, urge uma
prosperidade sem crescimento, isto é, uma repartição da riqueza e consumo aos mais pobres,
levando em consideração os limites do meio ambiente (JACKSON, 2013).
No contexto dos megaeventos esportivos, a desterritorialização corresponde ao mito
neoliberal da globalização irrestrita num mundo sem fronteiras, ao capital sem pátria ou
desterritorializado. Para Karl Marx e Friedrich Engels (1848, 1998), a des-re-territorialização
diz respeito à centralização e acumulação de capital em nível mundial, onde o capitalismo
desterritorializa os modos de produção preexistentes para reterritorializar segundo a sua
própria dinâmica.
No que tange à massificação cultural para a introjeção da desterritorialização por
intermédio dos megaeventos esportivos, há a concentração geográfica na produção e controle
da informação e do conhecimento, pois a maior parte da produção intelectual e midiática está
concentrada, hoje, nas grandes cidades globais dos países centrais, onde seria difundida não
só a informação, em sentido amplo, mas a maior parte dos valores culturais capazes de
introjetar a hegemonia em termos de um consenso cultural globalmente aceito e articulado.
Para Milton Santos (1985), a chamada Terceira Revolução Industrial teria produzido um
“meio técnico-científico” e um “ciberespaço” pautado em relações ditas em tempo real por
meio de infovias, interligando instantaneamente os diferentes espaços do planeta e
revolucionando as relações espaço-tempo. Então, cria-se assim um conjunto de redes
informacionais distribuídas no planeta de forma desigual que, ao lado de uma globalização
econômico-financeira, ativam uma cultura global que a fortalece e legitima.
Para Haesbaert (2013), a fragmentação includente ou integradora se refere à
globalização comercial e financeira sem fronteiras, ao passo que a fragmentação excludente
instaura a redução do papel social do Estado, provoca aumentos dos alijados das condições
mínimas de cidadania e crescimento dos circuitos ilegais de (precária) "assistência" e (in)
"segurança". Nesse contexto, os megaeventos esportivos, ao mesmo tempo transformam os
territórios com base nas demandas de modernização orquestradas pelo capital, precarizam os
serviços públicos e aumentam as desigualdades sociais, visto que correspondem mais aos
processos exógenos do que endógenos.
17

Para Milton Santos (2001), a compartimentação é uma forma de fragmentação na


medida em que os espaços atuais obedecem a parâmetros mais exógenos do que endógenos,
isto é, há menos poder de controle dos impérios e Estados-Nação. Então, não é difícil de
compreender a adequação dos megaeventos esportivos às demandas do capitalismo pós-
fordista, neoliberal, competitivo, desregulamentador, exludente e precarizador.
Desse modo, no mundo globalizado atual, há uma crescente competição interurbana
pelos fluxos internacionais de capitais, mercadorias, serviços e turistas. Com o intuito de
produzir a imagem para galgar esses investimentos internacionais, as cidades adotam
estratégias publicitárias de branding do espaço urbano (MASCARENHAS et. al. , 2011). A
esse respeito, as cidades do Sul adotaram a recepção de megaeventos esportivos como
estratégia de branding, como é caso do Campeonato Mundial FIFA e dos Jogos Olímpicos, os
quais atraem investimentos, turistas e capitais, além de conceder status a cidade anfitriã.
Assim, as bem-sucedidas licitações do Brasil para o Campeonato Mundial FIFA 2014
ajudaram na ascensão notável do país, após décadas de fracassos na tentativa de adquirir
expressão econômica e diplomática internacional, da mesma forma que os Jogos Olímpicos de
2008 em Pequim marcaram o renascimento da China como potência mundial
(BROUDEHOUX, 2007). Por sua vez, os jogos do Rio, em 2016, podem ser interpretados
como um selo de aprovação para a importância brasileira no cenário internacional.
Por outro lado, apesar do crescimento econômico, aumento dos níveis de consumo
pelas classes excluídas e redução da pobreza e miséria na década anterior em que o PT esteve
a frente do governo federal do Brasil, as desigualdades socioeconômicas permaneceram nos
centros urbanos de nosso país, particularmente aquelas que dizem respeito aos marcadores
sociais, econômicos, políticos, étnicos e culturais, além da segregação sócio-espacial e
manutenção dos elevados índices de criminalidade e violência. Com a criação dos Ministério
das Cidades e do Conselho das Cidades, a esperança da sociedade civil em ver a participação
dos cidadãos no planejamento, formulação, execução e avaliação de planos, programas e
projetos que atendessem às reivindicações sociais em prol do atendimento às necessidades no
que se refere à infraestrutura, transportes, moradia, educação, saúde e segurança se
transformou em frustração. Nesse sentido, os megaeventos esportivos contribuíram para
instaurar novamente as remoções, indenizações e despejos das pessoas que moravam nas
favelas, as quais se dirigiam rumo às localidades distantes do centro econômico, onde
inexistiam transportes e meios de sobrevivência.
Assim, após a crise do capitalismo em 2008, que levou a adoção de fórmulas
neoliberais ainda mais violentas e precarizantes para os trabalhadores, especialmente nas
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nações subdesenvolvidas, surgiram inúmeros movimentos sociais espontâneos de contestação


social em nível internacional, seja as ditaduras e questões sociais no Oriente Médio e norte da
África, em 2010, conhecidos como Primavera Árabe, seja as desigualdades econômicas e
sociais, corrupção e ingerência indevida das empresas privadas no governo dos Estados
Unidos, em 2011. Nesse sentido, em junho de 2013, convém ressaltar que os protestos de rua
que ocorreram no Brasil não foram isolados e têm a ver com o contexto de revoltas e protestos
anticapitalistas e antiglobalistas mundiais desde 2010. A propósito, é possível uma outra
globalização que distribua riqueza e renda aos excluídos em todos os recantos do mundo
(SANTOS, 2001).
Em junho de 2013, com base nas reivindicações por mais investimentos públicos em
transportes, saúde e educação, o Brasil mergulhou em manifestações de rua históricas, as
quais trazem um paralelo nacional com os protestos de rua dos estudantes de Salvador, na
chamada “Revolta do Buzu”, em 2003, que se expadiram para outras capitais de nosso país,
dentre elas Natal-RN, com a “Revolta do Busão”, em 2012. Em São Paulo, onde o
Movimento Passe Livre foi criado e atuou contra o aumento das tarifas dos transportes
públicos e a favor do passe-livre para os estudantes, houve a participação de milhões de
manifestantes dos movimentos estudantis e de resistência urbana, associações de residentes
das favelas e movimentos dos sem-teto , além de membros da classe média e estudantes,
desafiando os existentes espaços de participação vazios e hierárquicos (BRAATHEN;
CELINA; MASCARENHAS, 2014). Cumpre destacar que, para a organização, mobilização,
comunicação e realização das manifestações de rua e virtual, os manifestantes utilizaram as
redes dos meios de comunicação social, sendo que a realização, mobilização e divulgação de
causas políticas na internet é denominada de ciberativismo.
Nesse sentido, a proximidade de tempo com a Copa do Mundo de Futebol FIFA 2014
e as Olimpíadas do Rio 2016, megaeventos esportivos que demandaram investimentos
públicos dos governos federal, estadual e municipal na construção de uma grande quantidade
de infraestruturas e aparelhos urbanos de grande escala, contrastava com as péssimas
condições de vida dos cidadãos nas cidades brasileiras e a escassez de espaços públicos,
infraestruturas, aparelhos urbanos e cidadania padrão-FIFA. Então, estava pronto o clima
econômico-político interno que, junto a estrutura e conjuntura econômico-política global,
faria parte da motivação para as manifestações sociais de rua mais importantes do Brasil na
história recente, não por causa de seus efeitos construtivos, mas os que destruíram o projeto
de esquerda brasileira no poder com base na ordem econômico-política hegemônica vigente
em nosso país, a qual congregava as ações políticas governamentais para a governabilidade
19

populista de coalização e estimulava intervenções no território urbano voltadas aos interesses


políticos de setores conservadores e liberais, relegando a segundo plano às aspirações das
classes sociais subalternas quanto ao uso democrático do território (SAFATLE, 2017).
Por outro lado, as cidades dos países do Sul oferecem vantagens comparativas para o
capital, as quais permitem as realizações dos lucros pelos investidores e elite econômica
global e nacional. Assim, há a possibilidade do atendimento às intervenções exigidas pelos
comitês internacionais das organizações.
Desse modo:

Em outras palavras, há a tendência para aproximar os megaeventos


desportivos e as chamadas “economias emergentes”. Esses países combinam
três elementos cruciais: disponibilidade de recursos; ambição de fortalecer a
imagem de potência emergente perante o mundo; e relativa debilidade das
instituições que protegem o meio ambiente e os direitos humanos. A
combinação desses elementos permite que as cidades anfitriãs cumpram um
“pacote” de intervenções exigidas pelos comitês internacionais das
organizações, tais como a Associação da Federação Internacional de Futebol
(FIFA) e o Comitê Olímpico Internacional (COI). (BRAATHEN; CELINA;
MASCARENHAS, 2014, p. 325).

No que tange ao Campeonato Mundial de Futebol FIFA 2010 na África do Sul, Bond,
Desai e Maharaj (2011) defendem que houveram prioridades duvidosas, gastos excessivos,
perda de soberania e de direitos humanos e políticas econômicas que favoreceram os ricos.
Além disso, os megaeventos esportivos trazem patrocinadores multinacionais que exigem
direitos exclusivos sobre os locais dos eventos e demais espaços públicos (KLAUSER, 2011;
MASCARENHAS, 2012).
David Harvey (1989) disserta sobre a cooperação sem limites entre as cidades e o setor
privado como tendência internacional para reduzir a governança urbana ao
“empreendedorismo urbano”. Desse modo, a cidade global é produzida para o capital. Outros
chamam esse novo planejamento estratégico de “urbanismo ad hoc” (ASCHER, 2001) ou
“cidade empresa” (VAINER, 2011).
É por isso que, durante os megaeventos esportivos, instante em que se ampliam as
oportunidades de negócios e as necessidades de flexibilizações para o cumprimento dos
planos da FIFA e do COI, é preciso moldar a cidade à lógica do capital, ou seja, fazê-la
funcionar como uma empresa privada, onde as estratégias do planejamento urbano se
direcionam à produção de uma nova cidade e novo plano urbanístico, dentro de um ideário
competitivo e eficiente. Ao contrário, o controle político e a burocracia, marcos
constitucionais que evidenciam o controle do território urbano pelos cidadãos, retardam a
20

estratégia de flexibilização e impedem a cidade de ser uma empresa (VAINER, 2011). Logo, a
recepção de megaeventos esportivo aumenta os processos de flexibilização, porque atende aos
requisitos da FIFA e do COI.
Foi assim que, entre 2010 e 2014, a cidade do Natal-RN, capital do Rio Grande do
Norte e polo da Região Metropolitana do Natal-RN, enfrentou os impactos devido às obras de
infraestrutura para abrigar 4 jogos de seleções de futebol na Copa do Mundo de Futebol FIFA
2014. O objetivo verdadeiro de tais obras de infraestrutura e aparelhos urbanos novos era
atender aos anseios de lucros dos investidores internacionais e grupos empresariais locais,
enquanto o discurso político-ideológico do Estado do RN e da Prefeitura do Natal-RN tinha a
intenção de criar um clima de união entre os seus habitantes em prol de tão renomado
megaevento esportivo, o qual teria impactos positivos sobre a economia e o turismo. A esse
respeito, para aumentar a aceitação, que já se esperava pelo fato do futebol ser o esporte de
maior preferência local, também se criou a possibilidade de investimentos nas áreas em
administração pública, comércio, lazer, turismo, mobilidade urbana, segurança, saneamento
básico e geração de energia elétrica, dando a ideia de um legado após a realização do referido
megaevento desportivo.
Orçada em R$ 28 bilhões com gastos, a Copa do Mundo FIFA 2014 encontra enorme
dificuldade na hora de precisar seus custos financeiros efetivos, na medida em que o nível de
integração entre os governos federal, estadual, municipal e empresas privadas em cada
cidade-sede não correspondeu a gestão integrada no aporte de investimentos, antes foi uma
fragmentação do processo decisório, apresentando diferenciações conforme cada caso. No que
diz respeito à cidade do Natal-RN, isso ocorreu quando da implantação do novo aeroporto
internacional no município de São Gonçalo do Amarante, que compõe a Grande Natal-RN,
denominado de Aeroporto Internacional Governador Aluízio Alves. Nesse exemplo, a pista de
pouso foi investimento realizado pelo Governo Federal, o terminal pela empresa privada
Consórcio Inframérica Aeroportos, a rodovia de acesso pelo Governo do Estado do RN e a
instalação da iluminação pública nos acessos novos pela prefeitura municipal do Natal-RN, ao
custo total de R$ 2,2 milhões. Tal investimento é difícil de ser avaliado com precisão, dado
que as rubricas possuem generalizações orçamentárias.
Segundo Alexsandro Ferreira Cardoso da Silva (2015), houve falta de transparência
quanto aos projetos e custos associados, visto que os dados e informações prestados pelos
valores orçamentários globais, na Matriz de Responsabilidades (MR), nos estudos específicos
do Governo Federal, nas pastas de turismo e esportes, no Tribunal de Contas da União e
matérias jornalísticas são carentes de análises críticas. Isso corrobora para a ausência de
21

transparência e é contra o suposto legado do megaevento esportivo Copa do Mundo de


Futebol FIFA 2014.
No que se refere aos investimentos na Copa do Mundo de Futebol FIFA 2014, ao
contrário do que foi apregoado pelo discurso governamental em 2007, os projetos nos anos de
preparação foram viabilizados, em sua maioria, com recursos públicos, e não através de
capital privado, o que se deu por intermédio de transferências governamentais diretas,
empréstimos da Caixa Econômica Federal ou utilizando linhas de crédito especiais do Banco
Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social – BNDES. Em suma, a Copa do Mundo
em 2014 foi financiada com fundos públicos destinados pelo Poder Executivo, nas esferas de
poder municipal, estadual e federal.
Não bastasse isso, também os movimentos sociais e Organizações Não
Governamentais criticaram a inexistência de fóruns de debates, o que proporcionaria maior
participação e transparência sobre projetos e custos (SILVA, 2015). Logo, é tarefa das mais
difíceis a pesquisa acadêmico-científica a identificação do custo verdadeiro aos cofres
públicos da Copa do Mundo de Futebol FIFA 2014.
Portanto:

De modo amplo, pode-se dizer que os portais de informação governamentais


tentam registrar os dados gerais, embora quanto mais próximo da escala
local (governos estaduais e municipais) os sítios de “transparência”
escasseiam suas informações – mais preocupadas em promover a imagem
turística, associada a informações orçamentárias atinentes a Matriz de
Responsabilidades (MR), como se esta correspondesse à totalidade dos
recursos e dos projetos envolvidos com a preparação do megaevento, o que
não é verdade. (SILVA, 2015, p. 15).

A esse respeito, destaca-se que os megaeventos esportivos, como é o caso da Copa do


Mundo de Futebol FIFA 2014, são importantes para a pesquisa científica não apenas pelo
orçamento envolvido, mas, sobretudo, pela gestão urbana, a qual congrega e apoia interesses
em favor de obras de mobilidade urbana e de equipamentos esportivos de grande porte. Em
termos de modificações das feições urbanas, isso ocasiona a cisão entre o que realmente é
necessário à cidade e o que são os interesses dos grupos econômicos e políticos
internacionais, nacionais, regionais e locais, cujo cenário de disputa está assentado nos três
níveis de governança, descartando os Planos Diretores Municipais e os movimentos sociais
em prol do planejamento, construção e acesso aos equipamentos urbanos públicos e da
reinvenção da cidade pelos cidadãos.
22

Diante do aumento da dívida pública do município do Natal-RN e do Estado do RN


por causa da Copa do Mundo de Futebol FIFA 2014, as promessas de desenvolvimento
econômico e social não se cumpriram no período de preparação desse megaevento esportivo
(2007-2012), comprometendo o planejamento das políticas públicas de responsabilidade dos
governos municipal e estadual e o legado para a capital potiguar prometido pelos
organizadores desse megaevento esportivo (ARAÚJO, 2015). Logo, em médio e longo prazo,
torna-se cada vez mais importante a pesquisa científica que investigue os legados ou dilemas
da gestão do território urbano natalense por ocasião do megaevento esportivo em questão.
23

3 METODOLOGIA E TÉCNICAS DE PESQUISA

A metodologia desse trabalho acadêmico utilizará uma base teórica complexa, a qual
pretenderá dar conta da totalidade do objeto de estudo em suas muitas dimensões.
Evidentemente, face à dinâmica da pesquisa e às descobertas advindas da realidade a ser
explorada, poderá haver a contribuição de outras correntes de pensamento teórico-
metodológico.
Em relação aos seus objetivos, essa pesquisa é exploratória, pois procurará o
aprofundamento científico maior em torno do objeto de estudo. Logo, isso se fará na reflexão
entre a problemática enfocada e a contribuição do pensamento de diversos autores acerca dos
efeitos do progresso técnico-científico sobre o território, sociedade e ambiente, tais como
Milton Santos, David Harvey, Gilmar Mascarenhas, Rogério Haesbaert, Tim Jackson e Edgar
Morin. Nesse sentido, autores novos poderão ser incorporados a esse trabalho, na medida em
que as exigências e novos desafios criados por essa pesquisa surjam.
Por outro lado, esse trabalho científico recorrerá à pesquisa documental, a partir da
consulta ao Plano Executivo das obras de infraestrutura da Copa do Mundo 2014, Secretaria
do Tesouro Nacional, Tribunal de Contas da União (TCU), Lei Geral da Copa, Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Matriz de Responsabilidades (MR) e Balanço
Anual da Prefeitura Municipal do Natal, além de dados coletados em livros, revistas, anuários
e documentos oficiais do poder público. Também utilizar-se-á a pesquisa de campo, na
medida em que a maior parte dos projetos de infraestrutura e aparelhos urbanos novos da
Copa do Mundo de Futebol FIFA 2014, além da sociedade afetada, serão alvo de observações
empíricas e aplicações de entrevistas, que procurarão investigar os impactos desse
megaevento esportivo no território, sociedade, economia e ambiente da cidade do Natal-RN.
Em relação a esse último ponto, cumpre destacar que tais informações serão de
natureza qualitativa. Assim, com base no aporte teórico-metodológico dos autores descritos
anteriormente e nas entrevistas junto aos órgãos públicos responsáveis do Governo do Estado
do Rio Grande do Norte e Prefeitura Municipal do Natal-RN, bem como demais atores
envolvidos, os dados primários e secundários serão coletados e submetidos à reflexão teórica,
crítica e interpretativa, de modo a orientar resultados e conclusões quanto aos legados e
dilemas da Copa do Mundo de Futebol FIFA 2014 para a cidade do Natal-RN.
24

4 PLANO DE TRABALHO E CRONOGRAMA DE EXECUÇÃO


ANOS
ATIVIDADES SEMESTRES LETIVOS
2020-3 2021-1 2021-2
Identificação, seleção e coleta do material bibliográfico referente à temática
central da pesquisa. X X
Leitura do material bibliográfico referente à temática central da pesquisa. X X X
Levantamento de dados empíricos (observações simples)/identificação dos
grupos atingidos (população da pesquisa). X
Confecção dos instrumentos de pesquisa (entrevistas estruturadas). X

Realização de pré-testes dos instrumentos confeccionados.


X
Revisão geral do delineamento proposto.
X

Levantamento de dados empíricos (entrevistas). X

Sistematização e discussão dos dados.


X
Produção de artigo científico para submissão a Revista Geoconexões e
relatório. X
25

5 RESULTADOS ESPERADOS

Espera-se a contribuição com a melhoria da qualidade de vida na capital norte-rio-


grandense, estimulando políticas públicas para a resolução da problemática no que diz
respeito à gestão do território urbano. Em suma, alcançado esse resultado com base na
investigação sobre o legado da Copa do Mundo 2014 na cidade do Natal-RN, tem-se maiores
subsídios para o planejamento, formulação, execução e avaliação de políticas públicas em
obras de grande porte durante megaeventos esportivos futuros, na medida em que a reflexão
crítica no campo da gestão territorial urbana conduz à intervenção futura mais democrática,
equânime e inclusiva.
Além disso, almeja-se a busca de relacionamento entre teoria e prática que trará a
reflexão crítica acerca de noções básicas para a ciência, particularmente território,
megaeventos, políticas públicas, globalização, mundialização, fragmentação, neoliberalismo,
desenvolvimento urbano, sociedade e ambiente, sustentabilidade, crescimento econômico,
prosperidade, decrescimento econômico e complexidade, e isso a partir das modificações
territoriais produzidas em função da realização do evento Copa do Mundo de Futebol FIFA
2014 na cidade do Natal-RN.
26

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