Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
LINK: https://brasil.elpais.com/icon_design/2020-02-03/como-a-china-
conseguiu-erguer-o-hospital-do-coronavirus-de-wuhan-em-10-dias.html
Por mais que surpreenda a velocidade da execução da obra, o hospital mastodôntico não
é nenhum prodígio da tecnologia. "Reproduziram a técnica norte-americana de
construção. São especialistas em imitação e em reduzir prazos", diz o arquiteto Ramón
Araujo, diretor do Mestrado em Construção e Tecnologia da Escola Técnica Superior de
Arquitetura de Madri (ETSAM) e autor, entre outras obras, do Hospital Infanta Leonor,
em Madri. "O que realmente é admirável é sua iniciativa, sua vitalidade e sua capacidade
de organização com um volume enorme de mão de obra. Mas, repito, não há nenhuma
novidade", diz ele.
Garrido tem uma longa experiência em arquitetura hospitalar e os prazos aqui tratados
diferem amplamente. “O habitual é levar de seis a sete anos para concluir um hospital.
Primeiro, você precisa avaliar os meios de que dispõem hospitais próximos, para não
duplicar os serviços. Esse levantamento pode levar um ano. Depois, é necessário planejar
a obra; isso leva mais dois anos. Quando já se tem clareza do que se necessita, então um
escritório é encarregado do projeto. Essa etapa pode ser prolongada por mais um ano ou
um ano e meio. Finalmente, chega a fase da execução, que pode levar mais três ou quatro
anos”, avalia Garrido, que também é professor titular no Departamento de Projetos
Arquitetônicos na ETSAM e fez o projeto do Madrid Río, entre outros.
Essa notável diferença nos prazos se explica, segundo Araujo, pela falta de interesse da
Espanha em acelerar o processo. "Aqui ocorre bem o oposto: correr além da conta não
interessa de modo algum porque se perde dinheiro. Não é um bom negócio ir mais rápido
que os bancos e a Administração. Demoramos para construir porque o processo
burocrático é insano, não porque tecnicamente não sejamos capazes", argumenta.
Para Garrido, o importante é “garantir que esse tipo de edifício seja padronizado”. Se há
um modelo de hospital que funciona, deveria ser repetido, aperfeiçoado cada vez mais. E
quando o modelo estiver suficientemente testado, sua construção passa a ser
industrializada. Isso reduziria bastante os custos e prazos.”
O professor Araujo recorda a evolução nos prazos da construção para pôr em perspectiva
o marco alcançado em Wuhan:
“A velocidade foi uma das características que deram impulso à renovação até se chegar à
arquitetura moderna. No século XIX, com as novas estruturas de aço, houve uma redução
drástica nos prazos, muito maiores com os antigos sistemas de paredes e abóbadas de
pedra”. Esse novo ritmo de construção foi antecipado sobretudo nas exposições
universais, construídas em tempo recorde à base de elementos pré-fabricados, como o
palácio de Cristal de Paxton, em Londres, talvez o edifício que mais chamou a atenção a
esse respeito. E depois, claro, a Torre Eiffel: “Eiffel foi, de certo modo, o inventor do
edifício ou ponte pré-fabricados à base de peças industrializadas unidas com grande
precisão”.
Nos Estados Unidos, a velocidade sempre importou, eles a carregam nos genes: “Ali,
nasceu com as casas de madeira da Conquista do Oeste —a balloon frame, antecessora
dos módulos leves pré-fabricados—, das quais há imagens surpreendentes de como
construíam fachadas completas em horas”, conta Araujo. O aço substituiu a madeira nos
prédios de escritórios do início do século XX, herdando sua ideia de velocidade e
precisão.
A arquitetura moderna nasceu de tudo isso, “e com as estruturas de aço e concreto armado
e as fachadas leves se generalizou uma maneira de construir muito mais rápida do que a
anterior, de tijolo e pedra, e isso foi crucial para seu sucesso", continua. Daí surgiu a pré-
fabricação que permitiu “a reconstrução da Europa após a Segunda Guerra Mundial com
todo o tipo de novas patentes à base de elementos e módulos pré-fabricados”. Nesta época
destaca sobretudo sua aplicação ao crescimento da Rússia e dos países do Leste Europeu.
“Tudo isso decaiu com a crise do petróleo nos anos 70: a industrialização da construção
perdeu força, assim como as viagens espaciais e tantos outros mitos da época”,
exemplifica. "Além disso, hoje em dia a construção é muito importante nas políticas de
emprego, e construir rápido demais reduz empregos.”
Hoje, todo esse mundo fascinante está se recuperando em países com um novo boom na
construção, onde as questões que foram tão importantes para a Europa e os Estados
Unidos voltam a fazer sentido.