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Table of Contents

Sumá rio
Agradecimentos
Apresentaçã o
Capítulo 1 - A prioridade nº 1
Capítulo 2 - A conformaçã o de sua mente: o Salmo 1
Capítulo 3 - Jesus Cristo é o cumprimento das Escrituras
Capítulo 4 - Aprendendo e Proclamando as Escrituras
Capítulo 5 - As Escrituras nã o podem ser deixadas de lado
C321e

Carson, D. A.
Encontro com a Palavra de Deus : palestras de D. A. Carson. – [Campina Grande, PB]: Visã o
Cristã , 2018.
107 p.

Inclui referências bibliográ ficas.


ISBN E-book 978-85-8132-446-3
1. Vida cristã . 2. Palavra de Deus (Teologia cristã ). I. 
Título.
CDD: 220

Catalogaçã o na publicaçã o: Mariana C. de Melo Pedrosa –


CRB07/6477
Encontro com a Palavra de Deus, por D. A. Carson
Copyright © 2017 Vinacc
Editado e adaptado à forma literá ria a partir das pregaçõ es de D. A.
Carson no 19º Encontro para a Consciência Cristã em fevereiro de
2017.

1ª Edição em português: 2018

Este livro foi preparado em coediçã o com a Editora Fiel.

Todos os direitos em língua portuguesa reservados por Editora


Fiel da Missão Evangélica Literária
Proibida a reproduçã o deste livro por quaisquer meios, sem a
permissã o escrita dos editores, salvo em breves citaçõ es, com
indicaçã o da fonte.

Diretor: Euder Faber

Transcriçã o: Natá lia Siqueira

Preparaçã o, organizaçã o e Revisã o: Shirley Lima: Papiros Soluçõ es


Textuais

Diagramaçã o e capa: BZL design

Coordenaçã o editorial: Lege Publicaçõ es

Versã o eBook: Livro em Pixel


ISBN E-book: 978-85-8132-446-3
SUMÁRIO
Apresentaçã o

Capítulo 1

A prioridade nº 1

Capítulo 2

A conformaçã o de sua mente: o Salmo 1

Capítulo 3

Jesus Cristo é o cumprimento das Escrituras

Capítulo 4
Aprendendo e proclamando as Escrituras

Capítulo 5

As Escrituras nã o podem ser deixadas de lado

AGRADECIMENTOS
Dirijo especial gratidã o ao Pastor Euder Faber, pois, por ocasiã o em que vivenciei
obstá culos quanto à obtençã o de meu visto para o Brasil, ele nã o apenas orou por mim,
como também esforçou-se em me ajudar corretamente, resolvendo esse problema a
contento.

Aprecio sobremaneira minhas viagens ao Brasil e, no ano de 2017, tive a oportunidade de


pregar na Conferência para Consciência Cristã , evento do qual sempre me alegro em
participar.
- D. A. Carson

APRESENTAÇÃO
Este pequeno livro reú ne cinco palestras proferidas por D. A. Carson
no 19º Encontro para a Consciência Cristã , realizado em maio de
2017. Importante lembrar que o tema-base desse Encontro foi “A
tua palavra é a verdade: celebrando os 500 anos da Reforma
Protestante”. Assim, o fio-condutor que permeia e costura as
palestras é o imensurá vel e indescritível valor da Palavra de Deus.
Donald Arthur Carson, mais conhecido como D. A. Carson, é teó logo
reformado evangélico. É um dos fundadores e diretores do
ministério The Gospel Coalition, além de professor-pesquisador do
Novo Testamento na Trinity Evangelical Divinity School, instituiçã o
na qual leciona desde 1978. Com relevante formaçã o acadêmica, é
Ph.D em Novo Testamento pela Universidade de Cambridge, na
Inglaterra. O Dr. Carson é autor/editor de mais de cinquenta livros.
Em 2017, em uma de suas vindas ao Brasil, ele nos presenteou com
belíssimas explanaçõ es acerca da Palavra de Deus. Esses textos
foram, entã o, transcritos e ora sã o publicados pela Editora Visã o
Cristã , buscando tornar perene esse registro.
As palestras, intituladas “A prioridade nº 1”, “A conformaçã o de sua
mente: o Salmo 1”, “Jesus Cristo é o cumprimento das Escrituras”,
“Aprendendo e proclamando as Escrituras” e “As Escrituras nã o
podem ser deixadas de lado”, apontam, todas, para a importância de
cada coração cristão encontrar-se com a Palavra de Deus e buscar
trilhar o caminho da fé plena em sua verdade absoluta.
Em “A prioridade nº 1”, D. A. Carson remete-nos à Palavra do Senhor
em Deuteronô mio 17.14–20. Nesse contexto, examina como
devemos priorizar, em primeiro lugar, o temor ao Senhor e à sua
Palavra. Mostra como lidar com conceitos de poder, autoridade e
liderança nos dias de hoje, enfatizando a importâ ncia de todos nó s
termos um coraçã o de servos – de servos do Senhor.
Em “A conformaçã o de sua mente”, D. A. Carson apresenta-nos ao
conteú do de Salmos 1, elucidando a relevâ ncia de termos
consciência de nossas imperfeiçõ es, mas, ainda assim, de
continuarmos a trilhar o caminho do justo, rejeitando todos os
conselhos dos ímpios.
Em “Jesus Cristo é o cumprimento das Escrituras”, D. A. Carson nos
lembra que, no ministério pastoral, é muito mais frequente trazer os
ensinamentos do Novo Testamento do que os do Antigo Testamento,
e indaga: Até que ponto a mensagem de Deus no Antigo Testamento
é a mesma do Novo Testamento? Carson também ressalta que nada
do que foi dito passará antes de tudo o que há na Palavra de Deus se
cumprir.
Em “Aprendendo e proclamando as Escrituras”, D. A. Carson nos
lembra a abundâ ncia de bênçã os do Senhor em nossas vidas,
explicando conceitos como de “regiõ es celestiais” e “filiaçã o”.
E, por derradeiro, em “As Escrituras nã o podem ser deixadas de
lado”, D. A. Carson, mais uma vez, traz-nos argumentos irrefutá veis
de que tudo o mais pode falhar, exceto as Escrituras, que sã o a
Palavra de Deus, na qual é preciso crer em sua inteireza, por toda a
eternidade.
Assim, conclui-se este pequeno livro com D. A. Carson lembrando-
nos da necessidade premente de crescermos no conhecimento das
Escrituras .
Esclarecemos que, em se tratando de uma traduçã o/transcriçã o do
texto apresentado oralmente, optamos por padronizar todas as
passagens bíblicas tomando como base a versã o da Bíblia Almeida
Revisada e Atualizada. Algumas adaptaçõ es se fizeram necessá rias
para a ediçã o desta versã o escrita, sem, contudo, alterar o sentido do
conteú do da exposiçã o oral, tã o somente alinhavando as ideias
apresentadas por tã o conceituado autor cristã o.
Desejamos que você se enriqueça espiritualmente no encontro com
esta leitura acerca da Palavra de Deus, trazida por D. A. Carson.
Os Editores.

CAPÍTULO 1

A prioridade nº 1 1

Nosso enfoque aqui reside na passagem em que Moisés e o povo da


Aliança estã o prestes a entrar na Terra Prometida. Nesse sentido, é
importante, com vistas a melhor compreendermos a explanaçã o que
se seguirá , lermos cuidadosamente a seguinte passagem bíblica:
Quando entrares na terra que te dá o SENHOR, teu Deus, e a
possuíres, e nela habitares, e disseres: Estabelecerei sobre mim um
rei, como todas as naçõ es que se acham em redor de mim,
estabelecerá s, com efeito, sobre ti como rei aquele que o SENHOR,
teu Deus, escolher; homem estranho, que nã o seja dentre os teus
irmã os, nã o estabelecerá s sobre ti, e sim um dentre eles.
Porém, este nã o multiplicará para si cavalos, nem fará voltar o povo
ao Egito, para multiplicar cavalos; pois o SENHOR vos disse: Nunca
mais voltareis por este caminho.
Tampouco para si multiplicará mulheres, para que o seu coraçã o se
nã o desvie; nem multiplicará muito para si prata ou ouro.
Também, quando se assentar no trono do seu reino, escreverá para
si um traslado desta lei num livro, do que está diante dos levitas
sacerdotes.

E o terá consigo e nele lerá todos os dias da sua vida, para que
aprenda a temer o SENHOR, seu Deus, a fim de guardar todas as
palavras desta lei e estes estatutos, para os cumprir.
Isso fará para que o seu coraçã o nã o se eleve sobre os seus irmã os e
nã o se aparte do mandamento, nem para a direita, nem para a
esquerda; de sorte que prolongue os dias no seu reino, ele e seus
filhos no meio de Israel.
(Deuteronômio 17.14–20)

Nã o é demais lembrar o contexto: Moisés se dirigia aos israelitas


antes da entrada na Terra prometida e prevê que, muitos séculos
depois, os israelitas teriam um rei. Por aproximadamente quatro
séculos, porém, isso nã o se concretizou. Mas Moisés valoriza o papel
de um rei de tal maneira que se preocupa com o futuro moná rquico
de Israel a ponto de se adiantar nas instruçõ es sobre quem deve ser
o rei. Por essa razã o, lista cuidadosamente o que o rei deve ou nã o
fazer, em ordem de prioridades.
Muitas pessoas nã o entendem, em sua inteireza, como as ordens
dadas ao futuro rei de Israel estã o associadas aos crentes do século
XXI. Assim, esforçam-se por assimilar a relaçã o entre a relevâ ncia
das ordens dadas a um rei e suas pró prias vidas. No entanto, é
indiscutível que aquilo que Deus determina como prioridade no
ministério de um rei de Israel deve ser também prioridade em
qualquer ministério realizado na Igreja de Cristo.
Dividido em dois pontos principais, o texto de Deuteronô mio
aborda: 1) o que você nã o deve fazer em seu ministério; 2) o que
você deve fazer como prioridade. Nesse sentido, os mandamentos
dados aos futuros reis de Israel destinam-se à queles que exercem o
ministério, nã o se restringindo, contudo, ao ministério pastoral,
pois, em uma Igreja, existem muito mais ministérios além desse. E,
no final das contas, esses deveres e prioridades estabelecidos para o
rei aplicam-se a todos os crentes.
O que o rei e o crente não devem fazer em seu
ministério
Primeiro: “O rei não multiplicará para si cavalos”
(Deuteronômio 17.16).
A primeira coisa que o rei nã o deve fazer é adquirir muitos cavalos.
Mas indaga-se: por que, na antiguidade, um rei iria querer juntar
para si muitos cavalos?
Responde-se: no mundo antigo, a funçã o dos cavalos equivalia à
funçã o atual de um tanque de guerra. Ou seja, é o mesmo que dizer
hoje: nã o construa para si muitos armamentos para mostrar seu
poder. Um tanque de guerra é uma das maiores e mais ofensivas
armas que compõ em o armamento de um exército. Adquirir muitos
cavalos significa acumular poder em um arsenal preparado para a
guerra. Em outras palavras, significa poder político e bélico. Portanto,
a recomendaçã o é: nã o acumule poder. 
Neste ponto, os crentes familiarizados com suas Bíblias costumam
lembrar-se de outra passagem em que alguém almejava poder
político e militar, tal qual um rei da antiguidade. Trata-se do
evangelho de Mateus, no capítulo em que a mã e de Tiago e Joã o, a
mulher de Zebedeu, vem até Jesus e lhe pede um favor. Ela pede que
um de seus filhos sente-se à sua direita e que o outro sente-se à sua
esquerda quando Jesus estivesse reinando em Israel: 
Entã o, chegou-se a ele a mulher de Zebedeu, com seus filhos, e,
adorando-o, pediu-lhe um favor.
Perguntou-lhe ele: Que queres? Ela respondeu: Manda que, no teu
reino, estes meus dois filhos se assentem, um à tua direita, e o outro
à tua esquerda.
Mas Jesus respondeu: Nã o sabeis o que pedis. Podeis vó s beber o
cá lice que eu estou para beber?
Responderam-lhe: Podemos.
Entã o, lhes disse: Bebereis o meu cá lice; mas o assentar-se à minha
direita e à minha esquerda nã o me compete concedê-lo; é, porém,
para aqueles a quem está preparado por meu Pai.
Ora, ouvindo isto os dez, indignaram-se contra os dois irmã os.
Entã o, Jesus, chamando-os, disse: Sabeis que os governadores dos
povos os dominam e que os maiorais exercem autoridade sobre eles.
Nã o é assim entre vó s; pelo contrá rio, quem quiser tornar-se grande
entre vó s será esse o que vos sirva; e quem quiser ser o primeiro
entre vó s será vosso servo; tal como o Filho do Homem, que nã o veio
para ser servido, mas para servir e dar a sua vida em resgate por
muitos.
(Mateus 20.20–28)
Em outras palavras, esse pedido mostra quanto os contemporâ neos
de Jesus acreditavam que o reino teria, primariamente, natureza
política. Eles almejavam poder, desejavam vencer os romanos, para
que Jesus se tornasse o rei político. E o favor que a mã e de Tiago e
Joã o pediu seria o equivalente, hoje, a que um de seus filhos fosse
secretário de Estado, e o outro, ministro da Defesa. Em outras
palavras: ela almejava que seus filhos ocupassem posiçõ es de poder,
assim como um rei na antiguidade almejava muitos cavalos em seu
exército.  E, a esse pedido feito por uma mã e com a anuência de seus
filhos, Jesus responde: “Vocês podem suportar o cá lice que eu irei
beber?” – ou seja, é como se Jesus perguntasse a eles se poderiam
compartilhar de todas as experiências que ele pró prio suportaria.
Porque Jesus bem sabia que seu caminho o conduzia diretamente à
cruz.   
E Tiago e Joã o, em sinal de grande arrogâ ncia, responderam que
podiam beber do mesmo cá lice de Cristo. De fato, seria possível
imaginar um gesto de concordâ ncia de Cristo logo em seguida. Pois,
em sua soberania, Cristo sabia que, de fato, um deles seria o
primeiro apó stolo a se tornar má rtir, enquanto o outro seria o
ú ltimo apó stolo a morrer, exilado em uma ilha. Portanto, de certa
forma, aqueles dois filhos de Zebedeu também iriam beber do cá lice
que Cristo haveria de beber. No entanto, quando os demais
apó stolos ouvem esse pedido, ficam indignados, pelo simples fato de
que nã o foram eles os primeiros a pedir esse favor. Naquele
momento, portanto, a situaçã o estava saindo de controle. Jesus,
entã o, reú ne todos eles e lhes diz o conteú do do versículo 25:
“Sabeis que os governadores dos povos os dominam e que os
maiorais exercem autoridade sobre eles. Nã o é assim entre vó s; pelo
contrá rio, quem quiser tornar-se grande entre vó s será esse o que
vos sirva”.
As autoridades políticas, tanto em uma monarquia como em uma
repú blica democrá tica, tendem a amar o poder nelas depositados.
No Brasil, nos Estados Unidos, no Canadá e em muitas outras partes
do mundo, o povo elege um candidato político que promete servir ao
povo. Porém, apó s algum tempo, resta evidente que, na verdade,
esses políticos estã o servindo apenas a si mesmos. Há uma lei quase
universal de que, no final das contas, aqueles que estã o no poder
sempre se convencem de que o poder que exercem é um direito seu.
Jesus, contudo, diz: “Nã o é assim entre vó s; pelo contrá rio, quem
quiser tornar-se grande entre vó s será esse o que vos sirva; e quem
quiser ser o primeiro entre vó s será vosso servo; tal como o Filho do
Homem, que nã o veio para ser servido, mas para servir e dar a sua
vida em resgate por muitos”. Em outras palavras, Jesus diz que o
caminho de autoridade trilhado por ele o levava diretamente para a
cruz. 
Quando Jesus afirma que devemos ser escravos um dos outros, nã o
quis dizer que os líderes da igreja nã o têm autoridade, tampouco
que ele pró prio nã o a tivesse. A autoridade de Jesus é expressa no
mais profundo compromisso de servir à queles sobre quem governa.
Esse compromisso é que o leva à cruz. E essa também foi a direçã o
que a autoridade dos apó stolos tomou nos dias de Jesus. 
Assim também ocorre com os pastores de nossos dias. Em nosso
meio, nã o queremos pessoas que simplesmente amam a autoridade
– a autoridade que consiste em acumular para si mesmas mais
poder. Pelo contrá rio, é preferível sermos movidos por um coraçã o
de servo, que nos leva a morrer todos os dias e tomar nossa cruz,
para seguir a Jesus e agir em favor dos outros.
Portanto, a primeira coisa que você não deve fazer ao exercer seu
ministério na Igreja é adquirir para si muitos cavalos.
Segundo: “... nem fará voltar o povo ao Egito para multiplicar
cavalos; pois o SENHOR vos disse: Nunca mais voltareis por este
caminho” (Deuteronômio 17.16b).
É importante lembrar o momento em que o povo de Israel libertou-
se do poder do Egito pela milagrosa mã o de Deus. Quando, pela
primeira vez, o povo deparou com escassez de á gua e falta de
variedade nas refeiçõ es, logo começou a murmurar. E reclamavam
dizendo: “Pelo menos no Egito tínhamos cebolas...”. Em outras
palavras, em Nú meros 11.5, os israelitas estã o dizendo: “Devíamos
nos livrar de Moisés e conseguir um líder que nos levasse de volta para
o Egito”. Ou seja, preferem a escravidã o e as cebolas à liberdade e
aos desafios do deserto. Desse modo, deixam claro que nã o confiam
em Moisés nem em Deus. 
Em todas as épocas, existem crentes que pensam da mesma forma,
sempre olhando para trá s. Para essas pessoas, o passado sempre é
melhor que o presente. Assim, qualquer coisa que aconteça nos dias
de hoje é muito ruim, mas ontem tudo foi muito melhor, razã o pela
qual desejam voltar a trilhar o mesmo caminho.   
No Novo Testamento, em Gá latas e Hebreus, encontramos, com mais
evidência ainda, a mesma forma de pensar. Em ambas as epístolas, o
Evangelho é explanado em minú cias. Nessa Nova Aliança, homens e
mulheres foram reconciliados na morte e na ressurreiçã o de Cristo.
Nossos pecados sã o contabilizados em Cristo e a justiça de Cristo é
imputada a nó s – obra realizada exclusivamente pela graça de Deus.
E esse presente grandioso da graça é recebido por nó s pela fé. Por
tal razã o, apó s a Reforma Protestante, enfatizou-se: Sola Gratia ,
somente pela graça, e Sola Fide , somente pela fé.
Entre os hebreus e os gá latas, havia alguns destinatá rios do
conteú do daquelas cartas, pessoas que estavam trilhando os
primeiros passos na fé e que haviam depositado sua confiança em
Cristo Jesus. Porém, logo depois, sentiam-se desejosas de voltar e
submeter-se à Antiga Aliança. Por isso questionavam: “Será que as
restriçõ es de alimentaçã o da lei judaica fazem sentido? Por que nã o
oferecer sacrifícios no templo para o qual os sacerdotes foram
estabelecidos?”. E, em vez de compreenderem as continuidades e as
descontinuidades entre a Antiga Aliança e a Nova Aliança, tentavam
voltar a viver sob a égide da Antiga Aliança. Nesse contexto, assim
como o povo de Israel, em Nú meros 11.5, desejava voltar ao Egito,
os hebreus e os gá latas queriam voltar à Antiga Aliança.
Assim, a última coisa que desejamos é que os pregadores cristãos
queiram levá-lo de volta para a lei e as obras sem a compreensão da
obra da graça.
Terceiro: “Tampouco para si multiplicará mulheres, para que o
seu coração se não desvie” (Deuteronômio 17.17)
Muita gente imagina que o versículo em questã o dificilmente se
aplicaria a seu caso. Mas nã o é porque você nã o deseje ter muitas
esposas ou muitos maridos que nã o haveria aplicaçã o mais
profunda desse versículo em sua vida. Afinal de contas, todos nó s
concordamos que, segundo o que Jesus nos ensinou, nã o devemos
ter muitas esposas ou muitos maridos. 
Por um lado, a aplicaçã o mais superficial é a de que, no mundo
ocidental, vivemos em uma sociedade “sensualizada”. Essa
advertência se faz bastante atual e necessá ria em razã o da época em
que vivemos. É certo que a pornografia nã o foi criada no século XXI,
mas a tecnologia contemporâ nea a tornou universalmente acessível.
Portanto, de certa maneira, esse versículo é um apelo à pureza
sexual. 
Mas nã o é só isso. Afinal, quem foi o filho herdeiro do Rei Davi?
Salomã o, que, no final de sua vida, acumulou mil concubinas e
esposas. Portanto, é necessá rio entender que tomar mil esposas nã o
diz respeito apenas a sexo. Na verdade, é muito mais sobre formar
redes de contato para aumentar o poder político. Israel tinha
fronteiras com vá rios pequenos reinados vizinhos. Havia moabitas,
filisteus e gideonitas, entre tantos outros povos. E Salomã o
descobriu que a melhor forma de firmar acordos de paz com esses
reis consistia em se casar com suas filhas princesas. Ou seja, quando
Salomã o, por exemplo, se casava com uma princesa moabita, evitava
que o rei moabita enviasse suas tropas para conquistar Israel. 
Nesse contexto, todos esses reis, com suas muitas esposas, usavam o
acordo matrimonial para formar redes de conexã o amigá veis, com o
propó sito de proteger seus reinos e suas tropas dos demais reis.
Portanto, ter muitas esposas nã o tinha a ver com sexo somente; no
final das contas, tratava-se de uma medida eficaz para manter boas
relaçõ es pú blicas e políticas com os reinos fronteiriços. Porém,
Salomã o foi desviado por suas esposas, porque, para mantê-las
felizes, começou a construir milhares de templos para os deuses
daquelas mulheres. Assim, no reinado de Salomã o, Jerusalém deixou
de ser a cidade do templo do ú nico Deus, tornando-se cidade
também dos templos de todos os deuses pagã os daquela época.
Com frequência, também nó s queremos construir muitos
relacionamentos de amizade com pessoas que nada têm a ver com o
Evangelho ou que até mesmo o odeiam. Assim, no final das contas,
estamos diluindo a mensagem do Evangelho. No entanto, nã o
queremos dizer, com isso, que é preciso abandonar a pró pria
cultura, porque, uma vez que se nasce em determinada cultura,
inevitavelmente faz-se parte dela.
O problema é que não devemos nos aproximar da cultura a ponto de
nos vermos obrigados a diluir o evangelho nela. E ao rei fora dito que
não fizesse isso.
Quarto: “(...) nem multiplicará muito para si prata ou ouro”
(Deuteronômio 17. 17b)
Hoje, todos sabemos que muitos países do Ocidente estã o em crise
financeira. Muitos de nó s gostaríamos de ter um saldo um pouco
maior em nossas contas. Mas é Jesus quem nos auxilia a ajustar o
foco correto nessa passagem. No Sermã o do Monte, ele diz: “Nã o
acumuleis para vó s outros tesouros sobre a terra, onde a traça e a
ferrugem corroem e onde ladrõ es escavam e roubam; mas ajuntai
para vó s outros tesouros no céu, onde traça nem ferrugem corroem,
e onde ladrõ es nã o escavam, nem roubam; porque, onde está o teu
tesouro, aí estará também o teu coraçã o” (Mateus 6.19–21).
Em outras palavras, Jesus nã o está dizendo: “guarde seu coração” ,
mas, principalmente, “escolha seu tesouro” . Porque o que você mais
valoriza é onde seu coraçã o estará . Se aquilo que mais valoriza é seu
dinheiro, é sobre isso que mais irá fantasiar, sonhar e direcionar
toda a sua imaginaçã o. O que você mais entesoura para si é o que
atrairá seu coraçã o. 
Entã o, se o rei começar a tomar o dinheiro do tesouro real e enfiá -lo
nos pró prios bolsos, isso fará dele mais honesto? Mais generoso?
Um governante melhor? Ou fará com que seu apetite por dinheiro
continue aumentando progressivamente, a ponto de o dinheiro
tornar-se seu deus? O dinheiro em si nã o é ruim, mas o desejo por
ele é pecado, porque, entã o, torna-se seu deus. Entã o, o que Moisés
diz para aquele que viria a ser rei é que nã o deve buscar riquezas.
Conclusão da lista do que  não se deve fazer
Em resumo, o que o rei nã o deve fazer: nã o adquirir muitos cavalos,
nã o fazer o povo voltar para o Egito, nã o ter muitas esposas e nã o
buscar riquezas. Esse resumo nos conduz a conceitos como poder,
segurança, aprovaçã o social e riqueza. E toda cultura, em todas as
geraçõ es, de um modo ou de outro, vive em busca desses quatro
elementos.
Seja você um rei sobre Israel, seja um crente que exerce seu
ministério no Brasil de hoje, não se deixe seduzir pelo desejo
de poder, segurança, aprovação social ou riqueza. 
A prioridade nº 1: o que o rei e você  devem fazer
Também, quando se assentar no trono do seu reino, escreverá para
si um traslado desta lei num livro, do que está diante dos levitas
sacerdotes.
(Deuteronômio 17.18)
Será que a primeira coisa que um rei, ao assumir seu reinado, deve
fazer é nomear seus ministros, chefes de Estado ou secretá rios de
Defesa? Ou fazer uma auditoria? Nã o, nada disso é prioridade.
A primeira coisa que o rei deve fazer é escrever sua própria cópia
deste livro. Se esse livro se referia apenas ao livro de Deuteronô mio
ou se era o Pentateuco inteiro, os cinco primeiros livros, isso nã o
sabemos. Mas o fato é que a primeira tarefa de cada rei de Israel era
fazer sua có pia dessa lei. O rei deveria pegar uma có pia pronta, um
rolo em branco, uma pena e, entã o, começar a copiar à mã o, em
hebraico. Naqueles dias, nã o havia impressoras, copiadoras ou
nuvem, da qual você pudesse baixar sua versã o preferida; assim, o
rei copiaria tudo à mã o, letra por letra, palavra por palavra.  E essa
có pia deveria ser feita com bastante cuidado, a ponto de ser sua
pró pria có pia pessoal de leitura. Além de copiar cuidadosamente, ele
traria essa có pia consigo e a leria todos os dias.
Quais as razões para Deus definir essa tarefa como a
prioridade nº 1 no exercício de um rei?
Temor ao Senhor e à sua Palavra
E o terá consigo e nele lerá todos os dias da sua vida, para que
aprenda a temer o SENHOR, seu Deus, a fim de guardar todas as
palavras desta lei e estes estatutos, para os cumprir.
(Deuteronô mio 17.19)
Muitos crentes concordam em que é importantíssimo ler a Bíblia
como um momento devocional diá rio e pessoal. Muitos falam da
importâ ncia dessa leitura sistemá tica das Escrituras. Porém, isso
nã o significa que tal momento implicaria desfrutar de um momento
bíblico má gico, como se “ler meio capítulo por dia afastasse o
Diabo”.
Na verdade, é preciso lermos nossa pró pria Bíblia todos os dias com
tamanha reverência a ponto de aprendermos a temer o Senhor.
Nesse sentido, leia devagar, leia meditando nela, leia de joelhos.
Aprenda a ler de uma forma tã o cuidadosa que aprenda a temer o
Senhor, seu Deus. Nã o causa admiraçã o o fato de a Reforma
Protestante ter insistido: Sola Escriptura, somente as Escrituras.
Humildade
Isto fará para que o seu coraçã o nã o se eleve sobre os seus irmã os
[...].
(Deuteronô mio 17.20)
Se alguém ler as Escrituras com temor, nã o terá a si mesmo como
superior aos outros. Da mesma forma, para o rei, era importante ler
assim, para que seu coraçã o nã o se elevasse sobre seus irmã os, pois
ele poderia imaginar ter sido escolhido por Deus por ser superior a
seus irmã os israelitas. 
O mesmo pode acontecer na Igreja. Com frequência, perpassam nossas
mentes pensamentos como: “Devo ser melhor que os outros aqui.
Afinal de contas, essa posição de líder, de diácono ou de responsável
pela Escola Bíblica foi confiada a mim por Deus. Essa posição é minha
porque devo merecê-la mais que os demais”.
Quã o diferente era a maneira de Paulo pensar! A verdade é que
muitos de nó s passamos a vida inteira imaginando se os outros
pensam menos a respeito de quem nó s somos. Paulo, por sua vez,
estava preocupado com outra coisa. Em 1 Coríntios 12, ele teme que
alguém pense a seu respeito mais do que ele realmente era. Assim,
quis assegurar-se de que todos soubessem que ele se via como o
pior dos pecadores. 
Uma das coisas mais importantes que você deve fazer para
alimentar a humildade piedosa em sua vida é ler e reler a Palavra de
Deus. Isso nã o somente porque ela nos traz encorajamento, como
também porque faz um excelente trabalho ao revelar nossa pró pria
hipocrisia. Você que prega, se costuma ler a Palavra de Deus apenas
o suficiente para preparar o pró ximo sermã o, nã o aprenderá a ser
humilde. Pois pode até mesmo convencer a si mesmo de que seu
sermã o está bom o suficiente, mas, se ler a Palavra de Deus com
frequência, ela o ensinará a ser humilde.
Não se desviar do mandamento
[...] e nã o se aparte do mandamento, nem para a direita nem para a
esquerda; de sorte que prolongue os dias no seu reino, ele e seus
filhos no meio de Israel. 
(Deuteronô mio 17.20b)
Meu pai, Tom Carson, era pastor batista e plantador de igrejas na
parte francesa do Canadá . Na verdade, nunca foi um pregador
famoso; ele plantava igrejas na parte extremamente cató lica e as
congregaçõ es para as quais pregava nunca chegaram a ter mais de
quarenta membros. Além de haver muita dificuldade para ele se
manter pregando, nã o era propriamente um pensador sistemá tico.
Por tal razã o, quando ele lia um livro ou um artigo sobre como ter
sucesso e atrair mais pessoas em suas congregaçõ es, sentia-se
tentado a seguir esses caminhos tortos. Mas o que salvou meu pai foi
o fato de ser um leitor assíduo da Bíblia: ele simplesmente amava
conhecer, ler e meditar na Palavra de Deus. Foi a Bíblia que o
manteve no caminho, sem se desviar para a esquerda ou para a
direita.        
À s vezes, encontramos nas igrejas irmã s ou irmã os bem idosos, com
pouquíssima formaçã o acadêmica. Eles nã o leram as obras dos
grandes teó logos da histó ria da igreja, mas amam ler as suas Bíblias.
E, assim, a cada vez que um ensino extravagante e cheio de
novidades chega à s suas igrejas, eles começam a questionar: “E
aquele versículos sobre esse assunto? Mas, entã o, o que Isaías 45
quis dizer?”. Eles nã o afirmam ter conhecimento superior; pelo
contrá rio, têm suas mentes tã o apegadas aos pensamentos de Deus
e tã o saturadas na Palavra de Deus que desenvolveram um “olfato
apurado” para distinguir ensinamentos que sã o contrá rios à
verdade bíblica. 
Assim, se esses versículos de Deuteronô mio 17 tivessem sido
cuidadosamente guardados pelos reis de Israel, toda a histó ria do
Antigo Testamento teria sido diferente. Os primeiros desvios, tanto
para direita como para a esquerda, sã o aqueles que nos afastam da
Palavra de Deus. Foi assim que a Serpente fez a cabeça de Eva em
Gênesis 3, ao questionar: “Nã o disse Deus?”. 
Perceba que é possível resumirmos da seguinte maneira: você não é
o que pensa ser; você é o que pensa. Você nã o é apenas o que diz, faz
ou ama, mas, acima de tudo, você é o que pensa . Assim como está
escrito: “Porque, como imagina em sua alma, assim ele é [...]”
(Provérbios 23.7a).
Lembremos, ainda, o que Paulo escreve aos romanos: “E nã o vos
conformeis com este século, mas transformai-vos pela renovaçã o da
vossa mente [...]” (Romanos 12.2a). Portanto, nã o devemos nos
conformar com este século, mas nos transformar continuamente
pela renovaçã o de nossas mentes. Porque você é aquilo que pensa.
Portanto, se o que você pensa o tempo todo é pornografia, entã o,
sejamos francos, você é um pervertido sexual. E, se você pensa o
tempo todo em dinheiro, é porque é um materialista ou avarento. O
que você pensa – é isso que você é. 
Portanto, Deus quer que tenhamos os mesmos pensamentos dele.
Ele quer que leiamos e releiamos sua Santa Palavra. Para que a
nossa visã o de mundo, nossa maneira de pensar, nosso
entendimento de Deus, nossa realidade, nossa salvaçã o e tudo o
mais que existe venham diretamente de Deus.
Uma coisa, o Brasil nã o pode deixar de aprender com a Reforma
Protestante, que é o seu pró prio fundamento: Sola Escriptura, as
Escrituras somente.

Oração conclusiva
“Senhor Deus, lembramos aquilo que disseste pela boca do profeta
Isaías. Sabemos que tu ouves aqueles de espírito humilde e que, com
os coraçõ es contritos, tremem diante de tua Santa Palavra. E por
isso te clamamos para que aqueles homens e mulheres que
concluíram a leitura até aqui voltem para suas pró prias rotinas e,
movidos por seu Espírito, leiam e releiam tua Santa Palavra, até que
aprendam a temer o Senhor. Em nome de Jesus Cristo. Amém.” 
- D. A. Carson

1  Este texto foi extraído da palestra proferida na Conferência para Consciência Cristã em
2017 (Á udio nº 1.718).

CAPÍTULO 2

A conformação de sua mente: o Salmo 1 2

Mais uma vez, é importante refletir sobre o conteú do do Salmo 1 em


nossa caminhada cristã . Assim, alguns questionamentos sã o feitos:
Esse Salmo refere-se ao nascimento virginal? Aborda a segunda
vinda de Cristo? É uma profecia? Existe alguma outra passagem da
Bíblia que nos auxilie a entendê-lo? E, por derradeiro, indaga-se:
Como esse Salmo foi originalmente estruturado? A fim de
respondermos a essas perguntas e observarmos os aspectos do
Salmo 1, é necessá rio lê-lo com muita atençã o:
Bem-aventurado o homem que nã o anda no conselho dos ímpios,
nã o se detém no caminho dos pecadores, nem se assenta na roda
dos escarnecedores.
Antes, o seu prazer está na lei do SENHOR, e na sua lei medita de dia
e de noite.
Ele é como á rvore plantada junto a corrente de á guas, que, no
devido tempo, dá o seu fruto, e cuja folhagem nã o murcha; e tudo
quanto ele faz será bem-sucedido.
Os ímpios nã o sã o assim; sã o, porém, como a palha que o vento
dispersa. Por isso, os perversos nã o prevalecerã o no juízo, nem os
pecadores, na congregaçã o dos justos. Pois o SENHOR conhece o
caminho dos justos, mas o caminho dos ímpios perecerá .
(Salmos 1.1–6)

O conteúdo abordado no Salmo 1


I – No primeiro versículo, o conteú do é expresso em termos negativos.
II – No versículo 2, o justo é descrito positivamente por suas açõ es.
III – No versículo 3, o justo é descrito sob um aspecto metafó rico.
IV – No versículo 4, o perverso nos é descrito.
V – No versículo 5, a descriçã o do perverso é mantida.
VI – No versículo 6, contrastam-se o caminho do justo e o caminho do ímpio.
Comecemos pelo versículo primeiro. Esse versículo descreve, em
minú cias, aquilo que o justo nã o faz e, em contrapartida, a forma
como o ímpio age.
Nesse contexto, depreende-se que a forma de agir do justo inclui
desacelerar seu ritmo ao longo da vida: “Bem-aventurado aquele
que nã o anda no conselho dos ímpios, nã o se detém no caminho dos
pecadores e nã o se assenta na roda dos escarnecedores”. Conclui-se,
assim, que o perverso começa por andar e colher maus conselhos de
outros ímpios.
Em outras palavras, é muito importante escolher aquele a quem
você ouve. Isso porque, se seus melhores amigos têm estruturas
mentais que ofendem o evangelho, no final das contas isso o afetará
sobremaneira. Pois, a partir do momento em que alguém começa a
andar com os ímpios, detém-se em seus caminhos de pecado. Assim,
aos poucos, o estilo de vida dessas pessoas vai-se tornando seu
pró prio estilo de vida. Você começa ouvindo maus conselhos e, logo
em seguida, contrai maus há bitos. E, se você permanecer nesse
caminho, descerá a um terceiro nível, no qual passa a tomar assento
entre os escarnecedores. Sentado em uma poltrona confortá vel, com
seus pés para cima e olhando através de seu nariz empinado de
autossuficiência, começa a julgar os cristã os, denominando-os
ignorantes, tolos e estúpidos . O grande pregador batista do século
XIX afirma que é nesse ponto que o homem recebe seu diploma de
mestrado em inutilidade e o de doutorado em maldiçã o. Assim
acaba o primeiro verso do livro de Salmos sobre como o justo não
age .
Passamos à pró xima questã o: Como, entã o, o justo deve agir? E essa
indagaçã o nos leva ao versículo 2, no qual o salmista descreve, em
termos afirmativos, o que o justo faz. Poderíamos, por intuiçã o,
supor que o conteú do em termos afirmativos seria uma ideia
diretamente oposta à quilo que o justo nã o faz. Dessa forma, seria
natural lermos algo parecido com “o justo anda no conselho dos
sábios , detém-se no caminho dos retos de coração e se assenta na
roda dos que louvam ”. Porém, nã o foi assim que o salmista
descreveu as açõ es do justo. Na verdade, o que ele diz no verso 2 é:
“Antes, o seu prazer está na lei do SENHOR, e na sua lei medita de
dia e de noite”. Em outras palavras, o justo valoriza a Palavra de
Deus. Como se diz: “Você nã o é aquilo que pensa, mas o que você
pensa, isso é quem você é”. Portanto, nã o há nada mais importante
do que mergulhar na Palavra e meditar nela dia e noite.
Hoje, em geral, todo mundo tem um computador, um tablet ou
smartphone. Mas, nã o importa qual seja o seu aparelho eletrô nico
com acesso à internet, todos têm um mesmo slogan implícito: “lixo
entra e lixo sai”. Assim, se você coloca lixo em uma má quina de
compra automá tica, é lixo que vai sair dessa má quina. E esse mesmo
princípio é verdadeiro em relaçã o à mente humana. A pessoa justa
enche sua mente com a Escritura, pois nela medita dia e noite.
O versículo 2 afirma que o justo medita nas Escrituras dia e noite. E
você? Sente necessidade de meditar sobre o quê? Em uma noite
insone, quando você acorda e nã o consegue mais dormir, para onde
seus pensamentos instantaneamente vã o? Talvez para as pressõ es
do trabalho ou para os filhos? Para onde sua mente vai,
instintivamente, quando você acorda de madrugada? Talvez para
um filme ao qual assistiu recentemente? E perguntamos: com que
frequência sua mente se volta para alguma passagem da Bíblia lida
recentemente? Seus pensamentos seriam algo como um sermão
sobre 1 Pedro que você ouviu na manhã anterior e, entã o, você
começa a meditar sobre isso? Dia e noite meditando na Palavra,
assim é o justo. É assim que, ao ler a Bíblia, ela transforma
profundamente nossa maneira de pensar.
No primeiro versículo, vimos a maneira como o justo nã o age; no
segundo, aquilo que o justo faz. No terceiro, veremos que a pessoa
justa é descrita de forma metafó rica: “Ele é como á rvore plantada
junto a corrente de á guas, que, no devido tempo, dá o seu fruto, e
cuja folhagem nã o murcha; e tudo quanto ele faz será bem-
sucedido”.
A imagem dessa á rvore surge de um cená rio muito comum entre
aqueles que escreveram e leram o texto por muitos séculos: em
Israel, a terra é semiá rida. Existem muitos riachos que, na época das
chuvas, correm e regam a terra, porém, durante a maior parte do
ano, esses riachos secam e a terra é totalmente á rida. As á rvores
que, na época das chuvas, ficam irrigadas e florescem passam boa
parte do ano – aquela em que nã o há chuva – sem folhas, a ponto de
parecerem estar mortas, somente voltando a parecer saudá veis
quando as chuvas voltam a cair.
Assim, para que uma á rvore produza frutos, é necessá rio mais que
chuvas esporá dicas; é necessá rio haver muito mais á gua. E a á rvore
descrita é plantada intencionalmente por Deus junto à s muitas
correntes de á guas. Assim, mesmo que uma das correntes de á gua
seque, isso nã o faz diferença para tal á rvore, porque ela está irrigada
por muitas correntes. O resultado disso é que, nã o importa o que
aconteça, suas folhas estarã o sempre verdes, nã o murcharã o e
sempre produzirã o frutos. E, em tudo o que se fizer, haverá
prosperidade.
Nesse contexto, alguns usam essa passagem bíblica para dar suporte
à teologia da prosperidade. Mas, claramente, a prosperidade do
Salmo em questã o diz respeito aos crentes. É igualmente importante
que se questione que tipo de prosperidade é essa. Assim, quando os
primeiros versículos sã o lidos com atençã o, fica claro que o Salmo
escrito para crentes aborda a prosperidade relativa à retidã o de
coraçã o e à justiça espiritual. Nã o se trata de adquirir um aparelho
de ar-condicionado, de fazer uma previdência pessoal farta ou de
prosperar financeiramente. E essa nã o é a ú nica passagem que fala
da prosperidade dos justos por meio de uma metá fora que contrasta
a terra á rida e a á rvore plantada junto à s á guas. Vejamos o que os
versículos 5 e 6 de Jeremias 17 dizem:
Assim diz o SENHOR: Maldito o homem que confia no homem, faz da
carne mortal o seu braço e aparta o seu coraçã o do SENHOR! Porque
será como o arbusto solitá rio no deserto e nã o verá quando vier o
bem; antes, morará nos lugares secos do deserto, na terra salgada e
inabitá vel.
Em acentuado contraste, os versículos 7 e 8 dizem:
Bendito o homem que confia no SENHOR e cuja esperança é o
SENHOR. Porque ele é como a á rvore plantada junto à s á guas, que
estende as suas raízes para o ribeiro e nã o receia quando vem o
calor, mas a sua folha fica verde; e, no ano de sequidã o, nã o se
perturba, nem deixa de dar fruto.
Por conseguinte, a prosperidade vista aqui é a prosperidade
espiritual que vem da confiança em Deus. Em outras palavras, diz
respeito à s consequências das açõ es dos ímpios – sequidã o, solidã o
e frustraçã o –, em contraste com as consequências das açõ es dos
justos, que envolvem prosperidade da justiça e retidã o. Portanto, os
versículos de 1 a 3 do Salmo 1 descrevem, sucessivamente, o justo
em termos negativos, em termos positivos e, por ú ltimo, em termos
metafó ricos.
Na sequência, nos quarto e quinto versículos, vemos expressõ es
fortes, começando já com uma negativa enfá tica. Em outras palavras,
o texto frisa que tudo aquilo que se pode dizer sobre alguém justo
nã o pode ser dito em relaçã o aos ímpios.
Assim, temos o seguinte quanto ao justo e aos perversos:
O justo evita ouvir os conselhos dos perversos? Os ímpios nã o sã o
assim.
O justo evita os maus há bitos dos perversos? Os ímpios nã o sã o
assim.
O justo evita fazer escá rnio dos que servem ao Senhor? Os ímpios
nã o sã o assim.
O prazer do justo está no Senhor? Os ímpios nã o sã o assim.
O justo medita dia e noite na Palavra do Senhor? Os ímpios nã o sã o
assim.
O justo produz frutos porque está sendo irrigado pela á gua da vida?
Os ímpios nã o sã o assim.
Entã o, como os ímpios sã o? O versículo 4 responde: eles sã o como a
palha – desprovidos de raízes, de vida, de valor e de frutos. Observe-
se que o texto diz respeito a uma perspectiva muito maior do que a
nossa visã o limitada oferece. Com frequência, vemos pessoas
famosas e ricas ao nosso redor, e achamos que sã o recompensadas
com coisas boas. Porém, a perspectiva bíblica é bem mais
abrangente: pense em cinquenta bilhõ es de anos daqui para a frente.
Assim, tais versículos tornam-se muito mais claros, pois os ímpios
nã o importam – sã o como palha levada pelo vento. Sã o desprovidos
de raízes, de vida, de valor e de frutos. Enquanto isso, o fruto do
justo segue de eternidade em eternidade, limpo e seguro pelo
sangue do Cordeiro.
Em seguida, no versículo 6, vemos o contraste entre o justo e o
ímpio. Mas esse contraste nã o é propriamente acerca do ímpio e do
justo, mas do caminho do justo e do ímpio. O texto diz que o Senhor
conhece o caminho do justo, enquanto o caminho do ímpio perecerá ,
pois é efêmero – é como pegadas deixadas na areia da praia. Uma
marca sempre é deixada atrá s de seus passos, mas sua duraçã o é
efêmera. A maré sobe e desce como em uma praia, e já nã o se veem
mais pegadas. Em cinquenta bilhõ es de anos, nã o haverá mais
memó rias – nenhum traço de Adolf Hitler, nenhum sinal de
escravidã o, nã o haverá mais perversã o sexual nem blasfêmia contra
Deus, nã o haverá mais arrogâ ncia ou autojustiça, tampouco orgulho
ou ganâ ncia. Todos esses caminhos perecerã o – a maré vai subir e
descer, e nã o haverá mais pegadas por toda a eternidade. Todos os
caminhos do ímpio perecerã o. Isso é o que nos diz o versículo 6 do
Salmo 1.
Até aqui, tudo o que vimos foi apenas um esboço para traçar um
painel da fluidez dos assuntos do Salmo 1. Daqui em diante,
caminharemos mais dois passos, elaborando alguns pontos sucintos,
a fim de aplicar os princípios relativos à conformaçã o da mente.
Agora, voltemos a atençã o principalmente aos versículos 2 e 3:
Primeiro passo: aplicação prática
I) As Escrituras são totalmente suficientes para nos fazer
pensar de maneira justa e reta
Por essa razã o, o versículo 2 está em nítido contraste com o
versículo 1: a pessoa ímpia ouve o conselho de outras pessoas
perversas e é influenciada por seus há bitos. Em oposiçã o absoluta
ao ímpio, o justo treina sua mente na Palavra de Deus, na qual sua
medita dia e noite. As Escrituras sã o completamente suficientes para
transformar nossa mente e nosso pensar de um modo reto e justo –
e isso acontece nã o apenas em relaçã o ao Antigo Testamento, mas
ao Novo Testamento também. Nã o apenas a lei de Moisés e os
Profetas, mas o evangelho do Senhor Jesus Cristo. As Escrituras sã o
totalmente suficientes para nos fazer pensar de maneira justa e reta,
e, obviamente, levam-nos a viver de forma piedosa.

II) As Escrituras, quando corretamente aceitas, combatem o


secularismo
Em primeiro lugar, devemos registrar que o termo secularismo é
entendido de muitas maneiras. Mas nã o significa apenas empurrar a
Palavra de Deus para a periferia da vida das pessoas. Na verdade,
secularismo significa fazer com que a Bíblia se torne tã o sem
importâ ncia a ponto de nã o moldar mais a vida das pessoas. Os
secularistas nã o se importam com os religiosos, desde que a sua
religiã o nã o diga a ninguém o que deve fazer. Assim, a religiã o se
torna algo completamente privado. E deixa de ser algo que pertence
ao domínio da confiança pú blica. A religiã o se torna uma opiniã o
pessoal, que até pode ser oposta a opiniõ es alheias, mas nã o deve
afetar a sua vida. Entã o, você pode ser religioso, desde que, por
exemplo, sua religiã o nã o afete a sua moral. Foi dessa forma que o
paganismo operou no século I. No paganismo, as pessoas podiam
adorar todas as divindades, e isso nã o afetaria sua maneira de viver.
Porém, a Palavra de Deus deve ser considerada de modo abrangente
e profundo, a ponto de afetar e transformar cada aspecto de nossas
vidas.
Charles Taylor, influente autor canadense, escreveu um livro
intitulado Uma era secular . 3  Taylor afirma que, em nossa era
secular, as pessoas aprovam o que ele chama de autenticidade .
Assim, uma pessoa autêntica é aquela que vive de acordo com a
identidade que ela pró pria escolheu para si. Entã o, para Charles
Taylor, cada um escolhe sua pró pria identidade. Por exemplo, se
alguém vê a si mesmo como brasileiro ou estrangeiro, homem ou
mulher, de um gênero específico, pode também ver a si mesmo
como materialista, mas, se foi ele mesmo quem escolheu ver a si
dessa forma, entã o isso é algo admirá vel. E, desde que viva de
acordo com a identidade que escolheu para si, seria considerada
uma pessoa autêntica.
Atualmente, tanto na América do Norte como na América Latina,
vemos que tal atitude é bastante elogiada e aprovada. No entanto,
em ú ltima instâ ncia, esse tipo de comportamento resulta em
rejeiçã o à autoridade de Deus, do Estado ou da tradicional
autoridade familiar. A rejeiçã o à s autoridades se dá porque a
autenticidade é um compromisso do indivíduo consigo – e só há
aprovaçã o quando se vive de acordo com a identidade escolhida
para si mesmo.
Porém, o versículo 2 nos oferece uma visã o totalmente diferente
dessa atitude: “Antes, o seu prazer está na lei do SENHOR”. Aqui,
vemos alguém que ama viver debaixo da Revelaçã o das Escrituras. A
identidade do justo está atrelada à Palavra de Deus. Portanto, as
Escrituras combatem o secularismo.
III) As Escrituras nos nutrem e produzem frutos
Existe uma conexã o bem nítida entre os versículos 2 e 3. No
versículo 2, diz-se acerca da importâ ncia e do prazer em meditar na
Lei do Senhor dia e noite. Ato contínuo, o versículo 3 nos diz que
uma á rvore plantada junto à s á guas é nutrida pela á gua corrente.
Essa nutriçã o é justamente a Palavra de Deus. Deixe-me insistir no
fato de que as Escrituras em si nã o nos nutrem ou sustentam, mas
nos permitem produzir frutos, por causa das ideias que contêm.
Porque a salvaçã o nã o vem das ideias que a Bíblia nos mostra acerca
de Jesus. Em verdade, a Bíblia nos ensina, por meio de suas ideias,
que somos salvos pelo pró prio Jesus Cristo.
E é por isso que você aprende sobre Jesus na Bíblia, nas ideias
apresentadas sobre Jesus. Quem ele foi na histó ria, o que fez na cruz,
como ressuscitou dos mortos e como reconciliou homens e
mulheres com Deus. Mas, apesar de muitos ateus secularistas
conhecerem cada uma das ideias da Bíblia, eles nã o creem e nã o sã o
salvos. Porque apenas as ideias nã o salvam as pessoas; somente
Jesus pode, aquele para quem as ideias apontam.
Por isso, lemos nossas Bíblias nã o para ter uma ideia do que elas
contêm, mas para conhecer o pró prio Deus, para conhecer o pró prio
Cristo, para confiar em Jesus, e nã o apenas nas histó rias sobre Jesus.
Assim, portanto, a Bíblia vem e nos nutre, permitindo-nos produzir
frutos, através do poder do Espírito Santo, o Deus trino.
Segundo passo: implicações sobre a dicotomia do
Salmo 1
É notó ria a presença de uma dicotomia absoluta no Salmo 1. Essa
dicotomia aponta para dois caminhos: o caminho do justo e o
caminho do ímpio, nã o havendo, pois, um terceiro caminho.
E existem muitas outras passagens bíblicas que nos mostram termos
absolutos como esse. Por exemplo, na literatura de sabedoria, o livro
de Provérbios, somos informados sobre a mulher adú ltera ou a
senhora sabedoria. Assim, as pessoas seguem uma das duas
senhoras: ou a senhora loucura ou a senhora sabedoria. Qual delas
você seguirá ?
Quando Jesus está pregando o Sermã o do Monte, conta-nos quatro
pará bolas para nos mostrar que existem apenas dois caminhos. Ele
diz que o caminho para o inferno é uma porta larga e que muitos
seguirã o esse caminho. Mas também há o caminho para a vida
eterna, cuja passagem é uma porta estreita, havendo poucos que se
encontram nele. Nã o há possibilidade de alguém dizer: “Esse
caminho tem uma porta larga demais, enquanto esse caminho
estreito é fundamentalista demais. Portanto, prefiro uma porta de
tamanho médio. Quero seguir por um caminho que nã o seja tã o
amplo e ímpio, nem tã o conservador e estreito”. Ninguém pode fazer
isso, pois Jesus afirma que existem apenas dois caminhos a seguir –
ou um ou outro.
Cristo relata que existem algumas pessoas que constroem suas casas
na rocha. Poucos têm suas casas construídas sobre rochas, mas,
nesse caso, quando a tempestade vem, o vento sopra e a enchente
inunda, essas casas nã o serã o abaladas, em completa oposiçã o
à quelas casas construídas na areia. Nesse ú ltimo caso, quando a
tempestade vem, o vento sopra e a enchente inunda, a casa
construída na areia se desfaz. Ninguém poderá dizer: “Casas
firmadas na rocha sã o muito caras, muito trabalhosas e levam tempo
demais para ficar prontas, e, como as casas feitas na areia sã o
instá veis demais, prefiro procurar uma terra mais consistente e
firme”. Ninguém pode fazer isso, pois Jesus disse que só existem dois
fundamentos possíveis.
E assim é também no Salmo 1, que aponta apenas dois caminhos.
Isso deveria nos preocupar, pois parece que, em outras passagens
bíblicas, há pessoas que trazem a possibilidade de um terceiro
caminho. Pense em Abraã o, o pai da fé, escolhido por Deus para ser
o patriarca de seu povo. Abraã o também mentiu mais de uma vez e
colocou sua esposa em perigo. Pense em Moisés, o homem mais
manso da face da terra; pense em Davi, o mais doce salmista de
Israel. Davi, com frequência descrito segundo o coraçã o de Deus,
também seduziu sua vizinha, matou cruelmente, corrompeu homens
justos e provou ser um pai terrível. E esse é o homem segundo o
coraçã o de Deus? Se esse é um homem segundo o coraçã o de Deus,
imagine o que seria se nã o o fosse!
E, remetendo-nos ao Novo Testamento, temos Pedro, discípulo que
ouviu do pró prio Jesus: “Bem-aventurado és, Simã o Barjonas,
porque nã o foi carne e sangue que to revelaram, mas meu Pai, que
está nos céus” (Mt 16.17). E, alguns versículos à frente, foi dito ao
mesmo Pedro: “Mas Jesus, voltando-se, disse a Pedro: Arreda,
Sataná s! Tu és para mim pedra de tropeço, porque nã o cogitas das
coisas de Deus, e sim das dos homens” (Mt 16.23). Pedro, o grande
protagonista e pregador de Pentecostes, o mesmo Pedro que negou
Jesus três vezes no dia da crucificaçã o.
Afinal, as narrativas das Escrituras nã o nos trazem tantos exemplos
em que as pessoas nã o seguem somente o caminho largo ou o
caminho estreito? Assim, como podemos entender o Salmo 1 e a
pessoa de Davi? Como podemos entender as pará bolas do Sermã o
do Monte e a vida de Pedro?
Quando você estiver sozinho lendo esse Salmo 1, volte-se
profundamente para seu coraçã o e pergunte a si mesmo: nessa
histó ria, você é o justo ou o perverso? Essa é uma questã o intrigante,
pois, se você for honesto consigo, terá consciência de que nã o se
identifica com o justo todos os dias. Você consegue afirmar que lê a
Bíblia dia e noite? Porque, afinal, há dias em que você está tã o
ocupado que nã o tem tempo de ler a Palavra de Deus... E, em vez de
produzir frutos da Palavra de Deus, está muito ocupado perseguindo
outras coisas. Por outro lado, você nã o consegue se identificar com o
perverso, porque, de alguma forma, sente-se atraído pela Palavra de
Deus. Afinal de contas, é fato que você está lendo este livro sobre
consciência cristã , sentindo-se claramente atraído pela Bíblia.
Portanto, como podemos nos identificar com o Salmo 1 quando
somos pessoas demasiadamente corrompidas pelo pecado?
Sabemos que Deus nos deu textos que nos mostram ambos os
contextos, como Salmos 1, Provérbios e o Sermã o do Monte, em que
se observa essa dicotomia absoluta. E também nos deu narrativas
como a de Davi, em que nos mostra que, em um mundo corrompido,
os santos de Deus também falham. Mas, em sua perfeita sabedoria, o
Senhor Deus nos deu ambos os contextos. E a verdade é que
precisamos dos dois. Pois, se tivéssemos apenas narrativas como a
de Davi e nã o tivéssemos também textos absolutos, sabe o que
iríamos dizer? Em nossos coraçõ es corrompidos, diríamos: “Afinal,
se Davi, o homem segundo o coraçã o de Deus, cometeu adultério, eu
também posso fazer isso. Pois, se ele era um coraçã o de Deus e
cometeu homicídio e adultério, eu também posso cometer esses
pecados”. Por essa razã o, os textos de dicotomia absoluta sã o
extremamente necessá rios para revelar a vontade de Deus. Porque,
assim, Deus nos diz qual é o seu padrã o – e, certamente, nã o é um
desvio hediondo. E, se o Senhor nos tivesse dado apenas textos
absolutos, estaríamos perdidos, em total desespero, condenados e
sem esperança, pois sabemos que nã o somos justos que meditam na
Palavra dia e noite.
Porém, o que encontramos nas Escrituras, ao contrá rio desses
extremos, é a maravilhosa ênfase na obra santificadora e
progressiva do Espírito Santo, além de uma ênfase ainda mais
maravilhosa na graça espetacular de Deus, que busca pecadores
quebrantados. Graça que busca, inclusive, Abraã o, que mentiu, e
Davi, que cometeu adultério. E ambas as cordas do instrumento da
Palavra de Deus vibram em ondas sonoras a cada livro, até
resultarem em uma grande explosã o, no Novo Testamento. Tal
explosã o é a cruz. Pois, na cruz, todas as exigências da justiça
perfeita de Deus sã o cumpridas na pessoa do Senhor Jesus Cristo.
Assim, podemos olhar para o Salmo 1 e saber que é assim devemos
ser, e nã o há nenhuma justificativa razoá vel para nã o sermos como
nos versículos de 1 a 3 de Salmos 1.
Graças a Deus, Jesus Cristo morreu por pecadores como eu. E, graças
à cruz, há um novo nascimento que nos transforma, uma obra
santificadora do Espírito de Deus em nossas vidas, que trabalha em
nó s, até que, no ú ltimo dia, Jesus será finalmente glorificado, pela
obra perfeita que fez em nó s.
Um dos hinos mais conhecidos em todo o mundo foi escrito por John
Newton. Esse hino, Preciosa Graça , é obra de um autor bastante
imprová vel, pois, durante quase toda a vida, Newton foi traficante
de escravos, tendo transportado aproximadamente mais de vinte
mil seres humanos da Á frica para o Ocidente. Newton foi convertido
pela graça transformadora e abandonou por completo esse ofício.
Até a sua morte, atuou como pastor em Olney, uma cidade pequena
da Inglaterra. Newton afirmou que, mesmo apó s abandonar essas
viagens, ainda acordava durante a noite por causa de pesadelos,
ouvindo os gritos dos escravos. No final de sua vida, ele escreveu as
seguintes palavras: “Eu não sou o que deveria ser, eu não sou o que
gostaria de ser e não sou o que haverei de ser, mas não sou quem eu
era. E, pela graça de Deus, eu sou o que sou” .

Oração conclusiva
“Grandioso Senhor Deus, que nunca cheguemos a ponto de diluir os
absolutos das Escrituras! Porque esses absolutos nos mostram os
teus padrõ es, Deus todo-poderoso. Mas nã o permitas que, de alguma
maneira, imaginemos poder alcançar teus padrõ es por meio de
nossos esforços. Louvamos e glorificamos a ti por ter colocado
textos assim nas Escrituras, pois eles nos reconduzem à cruz do
Calvá rio. Sabemos que há apenas um homem que pode cumprir
inteiramente o Salmo 1: o Senhor Jesus Cristo. E ele também
carregou nossos pecados sobre seu pró prio corpo naquela cruz.
Oferecemos ao Senhor graças e louvores em nome do Senhor Jesus.
Amém.”
- D. A. Carson

2  Este texto foi extraído da palestra proferida na Conferência para Consciência Cristã em
2017 (Á udio nº 1.749).
3   TAYLOR, Charles. Mais informaçõ es disponíveis em:
http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0100-85872009000200013.
Acesso em: 15 nov. 2017.

CAPÍTULO 3

Jesus Cristo é o cumprimento das Escrituras 4

Neste capítulo, convido você, leitor, a ler a seguinte passagem


bíblica: 
Nã o penseis que vim revogar a Lei ou os Profetas; nã o vim para
revogar, vim para cumprir.  Porque em verdade vos digo: até que o
céu e a terra passem, nem um i ou um til jamais passará da Lei, até
que tudo se cumpra. Aquele, pois, que violar um destes
mandamentos, posto que dos menores, e assim ensinar aos homens,
será considerado mínimo no reino dos céus; aquele, porém, que os
observar e ensinar, esse será considerado grande no reino dos céus.
Porque vos digo que, se a vossa justiça nã o exceder em muito a dos
escribas e fariseus, jamais entrareis no reino dos céus.
(Mateus 5.17–20)
No século II, houve um homem chamado Marciã o que acreditava que
o Antigo Testamento era inú til, fazendo declaraçõ es no sentido de
que, portanto, nã o deveria integrar o Câ non. Além disso, Marciã o
nã o gostava nem mesmo das passagens como a acima transcrita, que
alude diretamente ao Antigo Testamento.
A maioria dos protestantes, em suas muitas denominaçõ es, acredita
e aprova tanto o Antigo Testamento como o Novo Testamento como
a Palavra Santa de Deus. Mas, apesar de acreditarmos que os 66
livros da Bíblia sã o a Palavra de Deus revelada, muitos crentes já
ouviram muito mais sobre o livro de Filipenses do que sobre o livro
de Eclesiastes. E é fato que a maioria de nó s já teve o livro de
Romanos pregado expositivamente em nossas igrejas, mas nunca
contou com uma exposiçã o exegética sobre Zacarias ou 1 Samuel. De
vez em quando, costumamos ler alguns Salmos, e uma ou outra das
histó rias de Gênesis, mas quantos de nó s podem afirmar conhecer o
conteú do do Antigo Testamento?
Nesse contexto, devemos assinalar duas questõ es muito
importantes: 1) Qual o propó sito do Antigo Testamento para a vida
e o pensamento dos crentes do Novo Testamento? 2) De que
maneira a apresentaçã o de Deus no Antigo Testamento difere de sua
apresentaçã o no Novo Testamento?
Devemos, com certeza, ser cuidadosos ao abordar esses assuntos.
Porque ambos os testamentos tratam do mesmo Deus, o qual nã o
muda. A verdade é que muitos crentes concordam com isso, mas
também pensam: “Mas o Deus do Antigo Testamento não era um
pouco mais irado? Guerras, genocídios e coisas tais. Afinal de contas,
Jesus nos diz para dar a outra face àqueles que nos ferem. É muito
mais agradável estar sob os cuidados do Deus do Novo Testamento do
que sob os cuidados o Deus do Antigo, não é?” . Assim, mesmo que nã o
falemos isso em voz alta, bem lá no fundo, mantemos essa dú vida
incô moda em nossas mentes, ou seja, até que ponto a mensagem de
Deus no Antigo Testamento é a mesma do Novo Testamento?
É importante manter essas duas questõ es em mente. Ambas terã o
resposta até o final deste capítulo. E, por tal razã o, a passagem
bíblica que acabamos de ler é de suma importâ ncia, pois nos dá
suporte para responder a essas questõ es, uma vez que o pró prio
Jesus nos diz o que pensa a respeito de sua relaçã o com esses dois
Testamentos. 
Assim, tratemos de responder a essas questõ es em três partes.
Em primeiro lugar, comecemos por uma aná lise do texto de Mateus
5.17–20, respondendo à seguinte questã o: “Qual é o significado da
palavra cumprir? ”: “Nã o penseis que vim revogar a Lei ou os
Profetas; nã o vim para revogar, vim para cumprir”.
Portanto, claramente, Marciã o estava equivocado em suas
declaraçõ es. Pois o pró prio Jesus disse que nã o veio para revogar a
lei. O problema é que, em nossas mentes, entendemos,
equivocadamente, o termo revogar como oposto à ideia de manter .
Mas Jesus nã o disse: “Eu não vim revogar, eu vim para manter a Lei” .
Pelo contrá rio, ele disse que veio cumprir. Assim, quando lemos
esses versículos, achamos que o verbo cumprir , logo apó s o verbo
revogar (cuja ideia oposta é “manter”), a ele está associado. E
concluímos, erroneamente, que o termo cumprir significa manter .
Porém, no Evangelho de Mateus, o verbo cumprir é usado com mais
frequência que em qualquer outro livro da Bíblia. E, ainda que o
termo possa ter significados diferentes em situaçõ es diversas,
Mateus utiliza, majoritariamente, a palavra cumprir para dizer que
uma profecia foi concretamente completada.
Assim, quando há uma prediçã o e um evento que cumpre tal
prediçã o, cumprir significa trazer do passado algo e realizá -lo por
completo. Ou seja, tal profecia se concretizou. Existem muitas
profecias que foram citadas e completadas, como, por exemplo, a
profecia do profeta Miqueias, de que o Messias nasceria em Belém.
Em Mateus 2, o pró prio evangelista nos conta que essa prediçã o foi
realizada por completo. Verifica-se, pois, que uma profecia foi
verbalizada e que houve o cumprimento daquilo que fora predito.
No entanto, aqueles que estã o lendo suas Bíblias por um bom tempo
sabem que algumas dessas profecias nã o foram verbalizadas. O fato
é que houve instituiçõ es e eventos que hoje sabemos terem sido
profecias, que levaram a acontecimentos que viriam a ser
cumpridos, ou seja, realizados de forma completa no Novo
Testamento. 
Por exemplo, no Antigo Testamento, a partir do Ê xodo do Egito, os
judeus foram ordenados a observar a festa da Pá scoa. Assim, todos
os anos, os hebreus celebravam a Pá scoa. Isso implicava que, todos
os anos, deveriam livrar-se do fermento e comer pã es asmos; que,
igualmente, todos os anos, deveriam imolar um cordeiro, comendo o
cordeiro pascoal em suas casas com a família; que, todos os anos,
deveriam escorrer seu sangue e pintar os umbrais de suas portas
com ele. Tudo isso visava guardar na memó ria a noite em que o anjo
da morte passou pelas ruas do Egito para tirar a vida dos filhos
primogênitos de cada família, à exceçã o daquelas em que havia
sangue do cordeiro nos umbrais das portas. Assim, essas famílias
estavam seguras e nã o temiam o anjo da morte: pelo sinal de
obediência e fé no sangue do cordeiro, elas estavam protegidas.   
No final das contas, apó s dezenas, centenas e milhares de anos em
que os hebreus observavam a Pá scoa, cumprindo com as mesmas
obrigaçõ es, será que nã o começaram a se questionar? Será que nã o
faziam perguntas como: “Fazemos as mesmas coisas todos os anos a
fim de aplacar a ira de Deus e lembrar de quando ele livrou todos os
israelitas dos castigos destinados ao Egito”? Ou ainda: “Mas a ira
dele ainda nã o foi satisfeita apó s todos esses anos?”, “Será que é
possível que, depois de tudo isso, Deus ainda esteja irado conosco?”,
“Como se pode aplacar a ira de Deus?” ou “Quando a ira de Deus vai
acabar, afinal?”. Assim, alguns israelitas questionavam como
poderiam aplacar a ira de Deus ou mesmo se algum dia essa ira seria
satisfeita. 
Paulo tem a resposta a essas indagaçõ es. Apó s cerca de mil e
quatrocentos anos de umbrais pintados com o sangue de cordeiros,
Paulo respondeu a esses israelitas, escrevendo em 1 Coríntios:
“Cristo, a nossa Pá scoa, foi sacrificado por nó s”. Ou seja, aquela
primeira Pá scoa e todas essas celebraçõ es continuadas, que faziam
parte da Lei de Deus, apontavam para uma verdadeira Pá scoa.
Nessa Pá scoa verdadeira, o sacrifício de Jesus na cruz satisfez, de
uma vez por todas, a ira de Deus. Ou seja, a Pá scoa verdadeira e
efetivamente cumprida – o Cordeiro de Deus – é a nossa Pá scoa. Foi
ele quem cumpriu, de forma plena e concreta, a Pá scoa – aquela
instituiçã o antiga e significativa. Assim, o apó stolo Paulo observou
que nã o apenas as profecias verbalizadas viriam a ser cumpridas,
como também a Lei, incluindo os eventos e as instituiçõ es prescritos
pela Lei de Deus como prediçõ es nã o verbalizadas, as quais,
portanto, também eram profecias.
Existem outros exemplos que ainda descreveremos a seguir. Mas
acreditamos que é exatamente esse o conceito presente nas palavras
de Cristo. É como se ele dissesse: “Agora vou deixar claro o que não
vim fazer: não vim jogar fora a Lei, não vim para revogar a Lei” . Mas
ele também nã o disse ter vindo simplesmente para manter a lei nos
exatos termos do que sempre fora. Jesus nã o veio para revogar, mas
para cumprir a Lei. Em outras palavras, Jesus veio para ser e ensinar
tudo aquilo para o qual a Lei e os Profetas apontavam. 
O que Jesus fez foi cumprir toda a trajetó ria das celebraçõ es pascais.
Ele cumpre todas as prediçõ es sobre o Rei Davídico que haveria de
vir. Ele cumpre todo o papel e tudo o que o sacerdote deve fazer:
unir Deus e seu povo por meio do sacrifício de sangue em nome de
seu povo; e, como o sacerdote perfeito, ele fez o sacrifício final. Jesus
cumpre tudo aquilo que o templo significa, o local de encontro entre
Deus e seu povo, mas, em Joã o 2, declara ser ele mesmo o templo de
Deus, ou seja, ele mesmo é o local de encontro entre Deus e seu
povo.
Nesse contexto, as leis sobre o culto e o templo no Antigo
Testamento tinham um significado profético, pois apontavam para o
templo final e completo, o local de encontro entre Deus e seu povo.
E, por essa razã o, Jesus diz: “Porque em verdade vos digo: até que o
céu e a terra passem, nem um i ou um til jamais passará da Lei, até
que tudo se cumpra” (Mateus 5.18). Em outras palavras, Jesus diz
aqui que a pró pria Lei precisa ser cumprida, ou seja, realizada. E,
nesse versículo, existem duas frases que começam com a expressã o
“Até que...”. A primeira é “até que o céu e a terra passem”, ou seja,
até o final dessa era, até o final dos tempos. Toda a Lei deve ser
cumprida: nem um i ou um til jamais passará da Lei. E a segunda é:
“até que tudo se cumpra”. Nada do que foi dito passará antes de tudo
o que há na Palavra de Deus, na Lei do Senhor, se cumprir; assim,
nada do que foi escrito vai falhar, tudo será cumprido.
A Palavra de Deus permanece; assim, nã o apenas a Lei faz
exigências, como também as prediçõ es se cumprem em tudo o que
Cristo faz e fala. Nã o se trata apenas do que foi predito de forma
verbal, mas também de tudo aquilo que foi demonstrado. E isso
remete aos argumentos que Jesus tece logo em seguida: entã o, Jesus
começa uma série de antíteses, ou seja, é dito algo e, a isso,
acrescenta-se uma ideia contrastante. Começando por: “Vocês
ouviram que...; eu, porém, vos digo que...”.
Jesus, portanto, ensina por meio de uma série de antíteses. Alguns
ensinamentos sã o muito sutis, mas os princípios sã o bem claros,
como em: “Ouvistes que foi dito aos antigos: Nã o matará s; Quem
matar estará sujeito a julgamento” (Mateus 5.21). É como se Jesus
dissesse: “Deixe-me fazer com que vocês entendam de uma forma bem
clara: esta lei não é apenas sobre o pecado do ato do assassinato, mas
sobre a ausência de ódio” . Na sequência, ele nos diz: “Eu, porém, vos
digo que todo aquele que sem motivo se irar contra seu irmã o estará
sujeito a julgamento; e quem proferir um insulto a seu irmã o estará
a julgamento do tribunal; e quem lhe chamar: Tolo, estará sujeito ao
inferno sujeito de fogo” (Mateus 5.22–23).
Mais adiante, na lista de antíteses, Jesus aborda outro mandamento
da Lei que deve ser cumprido em seu Reino: “Ouvistes que foi dito:
Nã o adulterará s” (Mateus 5.27). Jesus quer deixar bem claro que, na
verdade, esse versículo é muito mais profundo. Cristo mostra que o
mandamento aponta para a proibiçã o do pecado da lascívia: “Eu,
porém, vos divo: qualquer que olhar para uma mulher com intençã o
impura no coraçã o já adulterou com ela” (Mateus 5.28).
E, vez apó s vez, nessa lista de antíteses, vemos como a Lei profetiza
e aponta para o que o Senhor Jesus ensina e cumpre. Nos versículos
17 e 18 levantamos e respondemos à questã o sobre o significado de
se cumprir a Lei. Agora, a partir do versículo 19, Jesus mesmo
questiona: Quem é o maior no Reino? Se Jesus insiste em dizer que o
que ele veio trazer é o Reino no qual toda a Lei será cumprida,
devemos atentar também para o que ele diz acerca de quem é o
maior em seu Reino: “Aquele, pois, que violar um destes
mandamentos, posto que dos menores, e assim ensinar aos homens,
será considerado mínimo no reino dos céus; aquele, porém, que os
observar e ensinar, esse será considerado grande no reino dos céus”
(Mateus 5.19).
E, nesse contexto, devemos questionar: O que sã o “esses
mandamentos”? Se esses mandamentos eram aqueles da Lei do
Antigo Testamento, implicitamente a Lei deveria ser mantida
exatamente como era. Mas Cristo veio para cumprir a Lei. E, no seu
Reino, a Lei é cumprida da maneira como ele cumpriu, que também
é a maneira como ele ensinou. Assim, cremos que “esses
mandamentos” sã o aqueles que foram ensinados por Jesus. E é por
isso que, no Novo Testamento, os crentes nã o mantêm a festa da
Pá scoa, pois entendem quem é o seu Cordeiro Pascal. Assim, os
maiores no Reino sã o aqueles que se curvam perante os
mandamentos da maneira como Jesus os guardou, cumpriu e
ensinou. Isso nos leva ao versículo 20 e responde à seguinte
questã o: O que é a verdadeira justiça? – “Porque vos digo que, se a
vossa justiça nã o exceder em muito a dos escribas e fariseus, jamais
entrareis no reino dos céus” (Mateus 5.20).
É verdade que, algumas vezes, os fariseus sã o tratados com
sarcasmo no Novo Testamento, mas nã o podemos esquecer que eles
se esforçavam para ser justos e retos. Eram respeitados pelo povo,
mantinham a lei, davam o dízimo até mesmo das ervas que
plantavam, liam e ensinavam o Antigo Testamento, e guardavam
com zelo o sá bado. E, assim como muitos que se intitulam crentes
hoje em dia, eles tinham uma vasta lista de regras para viver. Porém,
Jesus diz que a justiça dos fariseus nã o era suficiente para fazê-los
entrar no Reino dos Céus. Os discípulos de Jesus deveriam ter uma
justiça que excedesse a dos fariseus. 
Observamos que a ú nica justiça suficiente para nos fazer estar junto
de Deus em seu Reino é evidenciada no final do Evangelho de
Mateus, quando, finalmente, a narrativa sobre justiça nos leva até a
cruz de Cristo, mostrando-nos que o ú nico caminho para o Reino de
Deus é o Senhor Jesus Cristo. Pois a ú nica justiça que é aceita e
suficiente, e que garante a entrada no Reino é a justiça de Cristo,
como lemos no final desse Evangelho. De fato, é Cristo quem nos
salva e nos transforma. É pela morte e pela ressurreiçã o de Cristo
que nossas vidas sã o transformadas de dentro para fora. E, no
ú ltimo dia, quando Jesus Cristo voltar, teremos a justiça perfeita e
nó s mesmos seremos glorificados. Porque nele seremos feitos
justos, sem hipocrisia, pecado, fingimento ou engano. 
Como seria conseguir amar a Deus de todo o coraçã o, com todo o
entendimento e com todas as suas forças? Como seria conseguir
amar o pró ximo sempre como a mim mesmo? Exatamente assim é
que será a ordem das coisas nos novos céus e na nova terra, quando
o Reino dos Céus finalmente será consumado. Tudo isso foi
garantido por Cristo. Por tal razã o, é inú til tentarmos nos aproximar
de Deus com base na justiça moral dos fariseus, uma vez que a
justiça exigida de nó s é muito mais elevada que a justiça daqueles.
Apenas pela obra de Jesus Cristo, há garantia de uma justiça
suficiente, pois foi ele quem cumpriu e ensinou a Lei.
Nesse ponto, devemos retomar a primeira questã o apresentada no
início deste capítulo: Qual o propó sito do Antigo Testamento para a
vida e o pensamento dos crentes do Novo Testamento?
O Antigo Testamento estabelece todas as categorias essenciais para
entendermos quem é Jesus. Pense um pouco em algumas das
principais categorias necessá rias para se entender a narrativa
bíblica. Sã o elas: 
• Criaçã o. 
• Aliança. Pense em cada uma das alianças estabelecidas e na nova Aliança mencionada no
Novo Testamento pelo apó stolo Paulo. 
• Templo. Antes do Templo, o Taberná culo e o sistema sacrificial, incluindo os sacrifícios
de sangue. 
• Sacerdó cio. 
• Espírito, com ênfase para aquilo que o Espírito faz. 
• Reino, o Reino Davídico. 
• Escatologia, ou seja, a esperança de como todo este mundo irá terminar. 
Pare, por um instante, e reflita: O que Jesus fez com todos esses
conceitos e categorias estabelecidos no Antigo Testamento? O que
significa dizer que Cristo é o Cordeiro de Deus que tira o pecado do
mundo? O que isso significa para alguém que nã o sabe de onde vem
essa histó ria sobre cordeiros? O que você entende quando ouve que,
pela morte de Cristo, somos trazidos à presença de Deus? Como
entender as implicaçõ es dessa conquista de Cristo? Como entender a
reconciliaçã o sem saber que o que trazia o representante do povo de
Israel ao favor de Deus era o sangue do sacrifício de bodes, feito por
um ú nico sumo sacerdote, uma ú nica vez ao ano, em um local
separado e restrito ao Santo dos Santos no templo? Como entender
que, no Novo Testamento, chegou o tempo da Nova Criaçã o se você
nã o souber qual foi a primeira criaçã o? Em Romanos e 1 Coríntios,
lemos que Jesus foi o perfeito Adã o. Mas como entender o que está
escrito se antes nã o se entender quem foi o primeiro Adã o, aquele
que foi corrompido?
Assim, essas categorias é que nos ajudam a entender quem foi Jesus
e qual foi a sua obra; por meio dessas categorias é que podemos
chegar a pensar de forma correta sobre quem Jesus é e o que fez. E
cada uma dessas categorias foi estabelecida no Antigo Testamento.
Jesus é o cumprimento das principais categorias de predições e
profecias. Essas sã o as categorias que o pró prio Deus revelou sobre
si mesmo, a fim de pensarmos, de uma forma correta, sobre quem
ele é. 
Agora, vamos observar apenas uma das muitas categorias,
especificamente a categoria do Templo do Senhor .
O templo é o lugar no qual Deus se encontra com seu povo. Alguns
acreditam que o Jardim do É den era um protó tipo do templo, pois,
embora nã o fosse uma construçã o, o que caracteriza
verdadeiramente o templo é o encontro entre Deus e os homens – e
o Jardim do É den era o lugar no qual Deus se encontrava com Adã o e
Eva. É fato que Deus se encontrou com seu povo em muitas outras
localizaçõ es. Por exemplo, Deus se encontrou com Jacó em um
campo que ele chamou de Bet-el , ou seja, Casa de Deus – em outras
palavras, templo de Deus. 
Mais tarde, quando a Lei foi entregue, Deus mandou que Moisés
construísse um Taberná culo. E, por mais de trinta vezes, Deus
lembrou que o taberná culo deveria ser construído, sendo sempre
reerguido na peregrinaçã o pelo Deserto. E todas as medidas, todos
os materiais e todos os detalhes da mobília deveriam ser seguidos,
porque, para Deus, tudo era importante, a fim de demonstrar sua
santidade.
E Moisés construiu tudo de acordo com o que Deus estabeleceu. Era
um taberná culo feito numa tenda, cujo comprimento correspondia
ao dobro da largura. Nele, havia um local separado por um véu, um
cô modo como um cubo perfeito, com as mesmas medidas em
largura, comprimento e altura. No meio desse cubo, denominado
“Santo dos Santos”, havia uma arca, a Arca da Aliança, e também o
propiciató rio. No propiciató rio, havia dois querubins sobre a tampa.
Assim, o sacrifício deveria ser feito de maneira que o sangue
estivesse derramado debaixo das asas dos querubins. E isso era feito
para que os pecados do sacerdote que fazia o sacrifício fossem
perdoados, bem como os pecados de sua família e de todo o povo de
Israel.
Havia ainda, durante a noite, uma coluna de fogo sobre aquele
taberná culo; e, durante o dia, uma coluna de nuvem. Essas colunas
se moviam quando Deus queria que eles se movessem para um novo
local; desse modo, eles deviam desmontar o taberná culo e seguir a
coluna, fosse aquela de fogo, fosse aquela de nuvem. E, dessa forma,
o povo de Deus peregrinava pelo deserto guiado por Deus. E o
taberná culo era uma tenda, um templo mó vel, que era montado e
desmontado, empacotado e levado até um novo lugar, onde, entã o,
era montado novamente, utilizado e, mais tarde, desmontado e mais
uma vez levado pelos levitas e os sacerdotes. 
Quando, ao término da peregrinaçã o, finalmente o povo de Israel
entrou na Terra Prometida, o taberná culo ainda era uma tenda. E,
apenas nos dias do Rei Salomã o, Deus ordenou a construçã o do
templo em estruturas permanentes. E, debaixo do governo de
Salomã o, o templo foi construído de maneira perene, com as
mesmas especificaçõ es, medidas, detalhes e mobília estabelecidos
pelo Senhor nos escritos de Moisés. No templo construído por
Salomã o, também havia o cô modo com a mesma medida de altura,
largura e comprimento, o cubo perfeito, o Santo dos Santos. E este
era separado do restante do templo pelo véu. E, dentro do Santo dos
Santos, estavam a Arca da Aliança, os querubins e o propiciató rio.
Apó s o templo ser finalmente concluído, a gló ria de Deus encheu o
local de tal maneira que os sacerdotes que ali estavam tiveram de
sair correndo, pois nã o conseguiam suportá -la. 
O que podemos aprender de todas essas coisas?
Em primeiro lugar, que o templo é o lugar no qual Deus se encontra
com seu povo por meio dos sacrifícios de sangue que ele mesmo
havia ordenado. Mas acontecimentos terríveis acometeram
Jerusalém no ano 586 a. C. Jerusalém foi destruída pelos babilô nios,
que invadiram e destruíram o templo a ponto de derrubá -lo. O
profeta Jeremias havia predito a destruiçã o de Israel, mas o povo era
perverso, nã o se arrependeu nem ouviu Jeremias. Muitos israelitas
foram exilados, e muitos foram levados pelos babilô nios como
escravos.
Ezequiel foi um profeta que viveu entre os israelitas exilados, em um
lugar muito distante de Jerusalém, e ele também previu que o
Templo permanente, construído por Salomã o, seria derrubado. E
muitas pessoas se questionavam: “Como Deus pode permitir que o
templo seja destruído? Este é o lugar de encontro entre nó s e ele, o
lugar que ele mesmo nos mandou construir. É no templo que Deus
renova suas promessas da Aliança. Como Deus pode permitir que
Jerusalém seja destruída? Como vamos nos encontrar com ele?
Como teremos acesso a Deus sem o templo?”. Assim, Ezequiel, como
um profeta do Senhor, registrou uma visã o sobre o templo. Ezequiel
vê que a gló ria de Deus abandona o templo de Jerusalém, movendo-
se pelo vale de Cedron, vai para um trono que sobe, até se
estabelecer sobre o Monte das Oliveiras. E o que significa tudo isso?
Se o templo cai, é destruído e acaba, nã o é porque Deus seja fraco. Se
o templo cai, é porque Deus o abandona. E essa foi a ú nica razã o pela
qual os babilô nios conseguiram vencer aquela guerra. Enquanto a
Babilô nia vencia a guerra, o povo no exílio recebia, por meio de
Ezequiel, a mensagem de consolaçã o vinda do pró prio Deus. Assim,
no Capítulo 11, Deus diz: “Sim, Jerusalém foi destruída, mas eu vou
construir para vó s outros um santuá rio”. Em outras palavras, Deus
não precisa de homens e pedras para construir um templo para si .
E, de fato, Deus trouxe de volta seu povo para a Terra Prometida.
Deus construiu um novo templo para seu povo. Aqui, nã o faremos
uma explanaçã o detalhada sobre a maneira usada por Deus para a
construçã o desse novo lugar de encontro entre ele e seu povo. Mas é
interessante lembrar o que aconteceu em Joã o 2. Nessa narrativa,
Jesus está em Jerusalém com seus discípulos e, lá , diz que iria
destruir o templo e, em três dias, voltaria a levantá -lo.
Todos os discípulos, os fariseus, os escribas e Jerusalém ouviram
essas palavras, mas ninguém entendeu do que se tratava esse ato de
derribar e levantar o templo. Eles se questionavam: “Como seria
possível derrubar um templo de pedras em três dias?”. Nã o havia
dinamite naqueles dias. “E como seria possível reconstruí-lo nesse
mesmo prazo?” Sem os martelos ou as má quinas hidrá ulicas hoje
usados para mover grandes pedras, era impossível construir um
templo em três dias. Talvez você pudesse derrubar uma casa pré-
fabricada em três dias, mas nã o um templo enorme, todo feito de
pedras. De fato, ao longo de toda a histó ria, muitas construçõ es de
relevo foram erguidas. Mas as maiores basílicas da Europa, por
exemplo, nunca foram vistas prontas por seus arquitetos originais.
Isso porque as grandes construçõ es levavam muito mais de uma
vida para ser erguidas.
Até algumas centenas de anos atrá s, nã o havia possibilidade de
alguém concluir uma grande construçã o em três dias; por isso nã o
fazia sentido, para os ouvintes de Jesus, alguém ser capaz de
reconstruir um templo em três dias. Os discípulos nã o entendiam
como seria possível destruir e construir um templo em três dias. Por
isso, é fá cil imaginar Joã o e Pedro olhando um para o outro e
conversando:
“Você consegue entender o que ele está dizendo, irmã o?” 
“Nã o faço a menor ideia!”
“É profundo, irmã o, muito profundo.” 
“Um dia, certamente, iremos entender.” 
E, de fato, é isso que o texto diz: eles nã o faziam ideia do que se
tratava. E, apenas apó s a ressurreiçã o de Jesus, os discípulos foram
capazes de entender o que ele dissera. Assim, finalmente
entenderam e creram nas Escrituras, que, com frequência, ensinam
sobre o que é um templo. E finalmente entenderam que, na verdade,
precisamos de mais do que um local de encontro com Deus, em um
templo de pedras construído em Jerusalém. É necessá rio contarmos
com o lugar de encontro ordenado por Deus, no qual os pecadores
podem vê-lo por meio do sacrifício de sangue que ele pró prio
ordenou. 
Jesus se torna o verdadeiro templo, o verdadeiro sacerdote, o
verdadeiro cordeiro, o verdadeiro sacrifício. Jesus é o grande templo
de Deus. Mas o Novo Testamento ainda nã o havia sido terminado.
Há outro sentido segundo o qual a Igreja de Cristo é o templo de
Deus. Paulo utilizou essa linguagem referindo-se à Igreja, afirmando
tratar-se do templo. E ele nã o estava se referindo a construçõ es
físicas de igrejas, mas à queles que sã o transformados pelo sangue
do Cordeiro, no qual foram lavados e trazidos à presença de Deus.
Nó s somos a Igreja, o lugar de encontro entre Deus e o pecador. Em
algumas passagens do Novo Testamento, o templo é próprio corpo
dos cristãos . Porque, enquanto estamos no mundo, somos o lugar no
qual os incrédulos podem aproximar-se de Deus. É através dos
cristã os que Deus se manifesta para os nã o crentes e, em muitos
casos, nó s somos a possibilidade de os incrédulos chegarem ao
pró prio Deus.
Há também mais uma referência a ser tratada na ú ltima revelaçã o
profética do Novo Testamento. Uma das passagens do livro de
Apocalipse nos ajuda a entender um pouco mais a esse respeito. Nã o
irei, contudo, esmiuçar todos os simbolismos ali presentes. Em uma
de suas visõ es, Joã o viu uma cidade, a Nova Jerusalém, descendo do
céu. E, para responder à questã o sobre a relaçã o entre Cristo e o
templo, é importante lembrar o que Joã o afirmou nã o ter visto. Ele
nã o viu um templo na Nova Jerusalém. Porque, na Nova Jerusalém,
nã o precisaremos de um templo, pois nela encontram-se o pró prio
Cordeiro e o pró prio Deus todo-poderoso. A Nova Jerusalém é
descrita como uma cidade em formato de um cubo perfeito. 
Eu moro perto de Chicago e, com frequência, viajo de aviã o e vejo
muitas cidades de cima. No entanto, embora, hoje em dia, muitas
cidades possam ser vistas lá de cima, nã o encontro em nenhuma
delas semelhança com um cubo – e, de fato, nã o existem cidades com
esse formato hoje em dia.
Existe, contudo, uma ú nica construçã o no Antigo Testamento em
formato de cubo: o cô modo do templo denominado “Santo dos
Santos”. Assim, ao dizer que a Nova Jerusalém será construída em
formato de cubo, Joã o estava afirmando que a Nova Jerusalém será o
novo Santo dos Santos. Mas nã o precisaremos de um sacerdote para
nos representar lá dentro do Santo dos Santos, pois, na Nova
Jerusalém, já estaremos dentro do Santo dos Santos.
Nesse sentido, o que precisamos realmente entender é que essa é
apenas uma das muitas narrativas bíblicas que nos levam a entender
como Jesus é o cumprimento das Escrituras . Poderíamos traçar as
narrativas bíblicas sobre todas as demais vinte categorias essenciais
na Bíblia e concluir que todas elas nos conduzem ao á pice da pessoa
de Cristo, que as ensinou, as cumpriu e as realizará . E todas foram
estabelecidas no Antigo Testamento, nã o sendo possível entender
como as categorias essenciais se relacionam à pessoa do Senhor
Jesus Cristo a nã o ser pelo estudo do Antigo Testamento. Por
derradeiro, isso nos leva a responder à outra questã o formulada no
início deste capítulo: De que maneira a apresentaçã o de Deus no
Antigo Testamento difere de sua apresentaçã o no Novo
Testamento?
Você deve lembrar que, no começo deste capítulo, foi citado o
pensamento muito comum, permeado pela dú vida, sobre o Deus do
Antigo Testamento e o Deus do Novo Testamento serem ou nã o
equivalentes em cará ter. Tanto a percepçã o do Deus do Antigo
Testamento como um Deus mais irado que o Deus do Novo
Testamento quanto a percepçã o de que o Deus do Novo Testamento
é mais gentil que o Deus do Antigo Testamento, ambas estã o
profundamente erradas. Porque, no Antigo Testamento, somos
ensinados de que, assim como um pai cuida de seus filhos, também
Deus cuida de seu povo, pois o Senhor é cheio de misericó rdia, de
amor e bondade, pleno de amor pactual. E, no Novo Testamento,
ainda que haja menos ênfase em guerras, fome e pragas, também há
muito mais ênfase no inferno. E a pessoa que mais fala sobre o
inferno é o pró prio Deus filho, Jesus. 
Se você acha que a imagem de Deus no Novo Testamento é menos
sisuda, dê uma olhada na seguinte passagem de Apocalipse: “Saiu
ainda do altar outro anjo, aquele que tem autoridade sobre o fogo, e
falou em grande voz ao que tinha a foice afiada, dizendo: Toma a tua
foice afiada e ajunta os cachos da videira da terra, porquanto as suas
uvas estã o amadurecidas! Entã o, o anjo passou a sua foice na terra e
vindimou a videira da terra, e lançou-a no grande lagar da có lera de
Deus. E o lagar foi pisado fora da cidade, e correu sangue do lagar
até aos freios dos cavalos, numa extensã o de mil e seiscentos
está dios” (Apocalipse 14.18–20).
A imagem descrita é o que acontece em um vinhedo: os cachos de
uvas sã o jogados em uma piscina, um lagar. O que acontece é que os
servos tiram suas sandá lias, cingem seus vestidos, entram numa
piscina, o lagar, onde estã o as uvas, e as pisoteiam para que seu suco
seja liberado. E o suco daquelas uvas escorrem pelos pequenos
buracos embaixo do lagar de pedra e sã o acumulados em grandes
jarras enterradas, as quais, entã o, sã o enchidas do suco. 
Joã o está dizendo que os seres humanos é que estã o sendo postos no
lagar da ira de Deus, e que sã o pisoteados até seu sangue se
acumular na altura dos freios dos cavalos, a ponto de escorrer numa
extensã o de trezentos quilô metros. E, mesmo que essa imagem seja
metafó rica, ainda assim, trata-se de um julgamento terrível. 
Nã o é uma questã o de estarmos saindo de um Testamento antigo e
ruim para um Testamento novo e melhor. A verdade é que tudo o
que foi revelado no Antigo Testamento é ainda mais evidenciado no
Novo Testamento. A ira de Deus no Novo Testamento é ainda maior
e descrita com mais intensidade. E o amor de Deus no Novo
Testamento é ainda maior e também descrito com mais intensidade.
Você quer saber onde a ira de Deus se torna ainda mais evidente?
Estude a cruz de Cristo. Você quer saber onde o amor de Deus é mais
evidente? Estude a cruz de Cristo. O ponto de encontro de maior
clareza entre o amor de Deus e a ira de Deus é a cruz de Cristo. E
lembre-se do que o pró prio Jesus Cristo disse: “Eu nã o vim para
revogar a Lei, mas para cumpri-la”.

4  Este texto foi extraído da palestra proferida na Conferência para Consciência Cristã em
2017 (Á udio nº 1.751).

CAPÍTULO 4

Aprendendo e Proclamando as Escrituras


Há quinhentos anos, Martinho Lutero pregou, nas portas da Igreja
do Castelo de Wittenberg, as 95 teses. E essas teses resultaram
formalmente no início da Reforma Protestante.
Muitos anos apó s a Reforma, foi feito um resumo de seus principais
aspectos. Esse resumo foi um conjunto de cinco lemas que
representavam os fundamentos centrais do propó sito da Reforma.
Um deles é Sola Deo Gloria , que significa “Gló ria a Deus somente”. É
sá bio dispensar atençã o a esse Sola , estudando uma passagem
bíblica que enfatiza “Gloria a Deus somente”.
Para começarmos, vamos ler a passagem bíblica a seguir: 
Bendito o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, que nos tem
abençoado com toda sorte de bênçã o espiritual nas regiõ es celestiais
em Cristo, assim como nos escolheu, nele, antes da fundaçã o do
mundo, para sermos santos e irrepreensíveis perante ele; e em amor
nos predestinou para ele, para a adoçã o de filhos, por meio de Jesus
Cristo, segundo o beneplá cito de sua vontade, para louvor da gló ria
de sua graça, que ele nos concedeu gratuitamente no Amado, no qual
temos a redençã o, pelo seu sangue, a remissã o dos pecados, segundo
a riqueza da sua graça, que Deus derramou abundantemente sobre
nó s em toda a sabedoria e prudência, desvendando-nos o mistério
da sua vontade, segundo o seu beneplá cito que propusera em Cristo,
de fazer convergir nele, na dispensaçã o da plenitude dos tempos,
todas as coisas, tanto as do céu como as da terra; nele, digo, no qual
fomos também feitos herança, predestinados segundo o propó sito
daquele que faz todas as coisas conforme o conselho da sua vontade,
a fim de sermos para louvor da sua gló ria, nó s, os que de antemã o
esperamos em Cristo; em quem também vó s, depois que ouvistes a
palavra da verdade, o evangelho da vossa salvaçã o, tendo nele
também crido, fostes selados com o Santo Espírito da promessa; o
qual é o penhor da nossa herança, até ao resgate da sua
propriedade, em louvor da sua gló ria.
(Efésios 1.3–14)
O versículo 3 nos fornece uma visã o geral que varre tudo o que se
escreve em seguida, até o versículo 14. Essa visã o geral nos
proporciona uma varredura em todo o texto e evidencia a gló ria de
Deus. Do versículo 4 ao 14, há um enfoque detalhado, inclusive no
que diz respeito à gló ria de Deus.
É notá vel constatar que a palavra bênção aparece três vezes,
contando suas variaçõ es neste versículo: “Bendito o Deus e Pai de
nosso Senhor Jesus Cristo, que nos tem abençoado com toda sorte
de bênçã o espiritual nas regiõ es celestiais em Cristo” (Efésios 1.3).  
Ao escrever “Bendito o Deus”, Paulo está bendizendo ou abençoando
o pró prio Senhor. Nesse caso, Deus está sendo abençoado. Logo em
seguida, Paulo diz que o Senhor nos abençoou. Entã o, o que a ideia
de bendizer e abençoar significa? O que há em comum nos dois
termos? É importante entender que se trata de uma via de mã o
dupla, em que ambos sã o chamados benditos . O que temos aqui é
uma questã o de aprovaçã o: nó s bendizemos a Deus e ele nos
abençoa. Quando bendizemos a Deus, nó s o estamos aprovando por
tudo o que ele é, tudo o que faz e tudo o que diz. E isso equivale a
louvor. Assim, quando dizemos “Bendito seja Deus!”, estamos
dizendo “Louvado seja Deus!”.
Em seguida, Paulo registra que o pró prio Deus nos tem abençoado
com toda a sorte de bênçã os espirituais. Em outras palavras, em
alguns momentos, Deus também bendisse as pessoas, mas nã o no
mesmo sentido como nó s o bendizemos. Por exemplo, nas bem-
aventuranças, Jesus diz: “Bem-aventurados os humildes de espírito,
porque deles é o reino dos céus” (Mateus 5.3). Nessa passagem, as
pessoas a quem Deus aprova sã o os pobres de Espírito, e isso nã o
quer dizer que, de alguma maneira, esteja louvando-as ou adorando-
as. Na verdade, Deus os chama de bem-aventurados , ou seja,
abençoa aqueles que sã o pobres de espírito. Assim, ao chamar de
benditos aqueles que sã o pequenos e pobres, o Senhor nã o os está
louvando, mas abençoando-os.
Deus nos abençoa por meio de sua misericó rdia condescendente, a
qual é incondicionalmente derramada sobre nó s. Entã o, Paulo diz
que Deus nos deu toda a sorte de bênçã os espirituais. E o mais
interessante sã o as palavras que ele usa para fazer referência ao
lugar no qual nos abençoa com toda a sorte de bênçã os: “nas regiõ es
celestiais”. As regiõ es celestiais sã o o local onde Deus está , se
pudéssemos dizer que Deus está em algum lugar, pois ele é
onipresente.
Agora, você precisa entender que, na condiçã o de teó logo, costumo
utilizar palavras difíceis, e esse é o momento de usar algumas delas.
Explicarei os respectivos significados e, assim, você também poderá
usá -las quando quiser. As regiõ es celestiais sã o o equivalente
espacial ao que chamamos de Teologia Inaugurada. Você sabia que
Deus nos abençoou nas regiões celestiais ? Mas, quando você estiver
evangelizando alguém, talvez nã o seja sá bio citar essa expressã o,
embora valha a pena entender o que significa. 
Para começar, é importante assinalar que a expressã o “regiõ es
celestiais” aparece apenas cinco vezes na Bíblia. E, em todas elas, na
carta aos Efésios. 
I) “Bendito o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, que nos tem abençoado com toda
sorte de bênçã o espiritual nas regiõ es celestiais em Cristo” (Efésios 1.3). 
Essa é a primeira vez que a expressã o aparece e fala sobre Deus já
nos ter abençoado com toda a sorte de bênçã os nas regiõ es
celestiais.
II) “o qual exerceu ele em Cristo, ressuscitando-o dentre os mortos e fazendo-o sentar à
sua direita nos lugares celestiais” (Efésios 1.20).
Aqui, ele fala do poder que Deus exerceu ao ressuscitar Jesus dentre
os mortos. É possível afirmar que, nesse contexto, o significado
parece muito claro. Ou seja, podemos compreender que Deus está
em todos os lugares em onipresença, e Jesus nã o estava com ele ao
se esvaziar e assumir a forma de homem. No entanto, apó s a sua
morte e ressurreiçã o, Cristo voltou a se sentar à direita do Pai, em
onipresença, juntamente com ele. 
III) “juntamente com ele, nos ressuscitou, e nos fez assentar nos lugares celestiais em
Cristo Jesus” (Efésios 2.6).
Essa passagem é um pouco mais difícil, uma vez que é possível
entender que Jesus está com Deus nas regiõ es celestiais, mas como
nó s, humanos, mesmo que restaurados, podemos estar com ele nos
lugares celestiais?
IV) “pela igreja, a multiforme sabedoria de Deus se torne conhecida, agora, dos principados
e potestades nos lugares celestiais” (Efésios 3.10).
Em outras palavras, o grandioso plano de Deus para seu povo deve
ser anunciado nã o apenas nesta terra, mas também nos lugares
celestiais. 
V) “porque a nossa luta nã o é contra o sangue e a carne, e sim contra os principados e
potestades, contra os dominadores deste mundo tenebroso, contra as forças espirituais do
mal, nas regiõ es celestes” (Efésios 6.12).
Neste ponto, é necessá rio voltar à associaçã o do termo “Escatologia
Inaugurada” com o termo “regiõ es celestiais”.
Escatologia é a doutrina das ú ltimas coisas. Mas a expressã o
“Escatologia Inaugurada” é o mesmo que dizer que, em alguns
aspectos, as ú ltimas coisas já começaram. Por exemplo, Jesus já
reina. Assim, em Mateus, lemos que “toda autoridade foi dada a
Jesus no céu e na terra” e que seu reino já foi inaugurado.
Nesse sentido, mesmo que o Reino de Cristo ainda seja contestado
por alguns, sob o aspecto da ressurreiçã o o reino de Jesus já foi
iniciado. E nó s já fomos justificados. Somos justificados e nã o temos
mais condenaçã o, em virtude daquilo que Cristo fez por nó s. Nã o
precisamos esperar até o ú ltimo dia para ouvir de Deus que fomos
justificados, porque já experimentamos essa realidade. Ele já nos
revelou isso por meio da Bíblia.
Assim, embora ainda nã o tenhamos corpos ressurretos, contamos
com a garantia que nos foi dada por Cristo, o Espírito Santo, como
penhor de sua promessa. Em outras palavras, uma das coisas mais
maravilhosas sobre o Novo Testamento é que a era final já foi
inaugurada. E é por isso que muitos cristã os dizem que vivemos no
“já e ainda nã o”, expressã o comum entre os crentes. Já temos o
Espírito Santo, mas ainda nã o temos nossos corpos ressurretos. Já
temos Cristo reinando com autoridade, mas ele ainda nã o cumpriu
sua missã o de vencer os ú ltimos inimigos. Entã o, nó s vivemos numa
época equivalente de teologia inaugurada.
Quando Paulo escreve sobre “as regiõ es celestiais”, onde Cristo está
assentado à direita do pai, é como se Deus olhasse para nó s ali, ao
lado de seu Filho na gló ria. Porque a Igreja é identificada com Cristo.
Paulo, portanto, descreve um equivalente à Escatologia Inaugurada
ao fazer referência à s “regiõ es celestiais”. Afinal de contas, Jesus se
identifica conosco. Na estrada para Damasco, Cristo lhe diz: Saulo,
Saulo, por que me persegues? Cristo se identifica a tal ponto com sua
Igreja que nã o indaga: “Por que persegues a minha Igreja?”, ou seja,
Cristo se identifica a tal ponto conosco que, se a Igreja é perseguida,
é como se ele pró prio também fosse. 
Portanto, estamos tã o pró ximos de Cristo que somos identificados
com ele nas regiõ es celestiais; assim, é como se estivéssemos ao lado
dele. Ou seja, Deus pode nos ver ao lado de Cristo nas regiõ es
celestiais, de modo que podemos dizer que também estamos com
ele. E todos os seres de principados e potestades, todos os seres
demoníacos, sã o esmagados por Cristo, e nossa luta é contra eles. 
Por isso Paulo diz: “Bendito seja Deus, que nos abençoa com toda a
sorte de bênçã os nas regiõ es celestiais”. Mas ainda estamos
aguardando a consumaçã o de todas as coisas, e todas as bênçã os
pelas quais Paulo agradece estã o asseguradas a nó s em Cristo.
Temos ainda, ao final, a mençã o ao Espírito Santo. Assim, todas as
bênçã os espirituais sã o mediadas pelo Espírito Santo. E cada uma
delas é concedida pelo Pai. Essas sã o as bênçã os do Deus trino.
Neste ponto, destacamos quatro dessas bênçã os: 
I) Fomos escolhidos e adotados
Assim como nos escolheu, nele, antes da fundaçã o do mundo, para
sermos santos e irrepreensíveis perante ele; e em amor nos
predestinou para ele, para a adoçã o de filhos, por meio de Jesus
Cristo, segundo o beneplá cito de sua vontade, para louvor da gló ria
de sua graça, que ele nos concedeu gratuitamente no Amado.  
(Efésios 1.4–6)
Algumas pessoas ficam agitadas quando lemos esses versículos
sobre eleiçã o. Porque aqui se diz que fomos escolhidos pelo Pai
antes da fundaçã o do mundo. Nã o quero entrar em uma longa
discussã o a respeito disso. Mas é certo que, se a Bíblia usa essa
expressã o, concluo que eu também possa usá -la. À s vezes, tornamos
essa questã o da eleiçã o bem mais complicada do que ela de fato é.
Pense em algumas passagens da histó ria de Israel e na maneira
como Deus conduziu essa histó ria. 
Lembra-se de Abraão, de como ele veio a ocupar seu lugar na história
da redenção? Será que um dia ele acordou e disse para Deus: “Tive
uma ideia muito boa. Realmente este mundo caminha para o inferno,
mesmo o senhor já tendo sentenciado juízo nos dias da Torre de Babel
e na destruição pelo Dilúvio. Então, quero me voluntariar para ser o
cabeça de uma nova raça. Chamaremos essa etnia de israelitas. Você
pode ser o nosso Deus e nós seremos o seu povo. Eu seria o primeiro
nessa raça”? Em verdade, não foi isso que aconteceu, porque quem
teve a iniciativa de começar um povo separado foi o próprio Deus Pai. 
Anos mais tarde na histó ria, lemos que Moisés tentou ajudar seu
povo a se livrar das crueldades da escravidã o no Egito. Mas ele
realmente nã o soube fazer isso direito, e o resultado foi o exílio por
quarenta anos, na condiçã o de pastor de ovelhas no deserto. Foi
entã o que Deus o escolheu e o chamou para liderar o Ê xodo do
Egito. Ao lhe dar as orientaçõ es necessá rias e colocar as palavras em
sua boca, entregou-lhe a Lei e o ajudou a guiar o povo até a terra
prometida. Centenas de anos depois, nã o foi como se um garoto que
sonhava em ser rei se voluntariasse apó s Saul perder esse direito. O
que aconteceu foi que Samuel recebeu de Deus a ordem de ir até a
casa de Jessé e, lá , procurar por aquele que Deus ungira para ser rei.
E Davi foi o ungido do Senhor.
Vemos que, na histó ria de Israel, foi Deus quem tomou a iniciativa de
buscar essas pessoas. Nã o causa estranheza que o Deus que nã o
muda continuasse tomando a iniciativa em relaçã o à aliança, a quem
seria seu povo, a quem o lideraria e à forma como deveriam
proceder. Afinal, Deus sempre escolheu seu povo – e esse fato nã o é
diferente no Novo Testamento. Assim, antes da fundaçã o do mundo,
Deus nos escolheu para sermos santos e irrepreensíveis. O fato de a
escolha de Deus ter acontecido antes da fundaçã o do mundo deixa
bem claro que nã o tivemos qualquer influência nesse processo,
porque nã o havia nem mesmo um ú nico traço de nossa existência. E
foi nesse momento que Deus nos escolheu. Mas ele, “em seu amor,
nos predestinou para ele, para a adoçã o de filhos, por meio de Jesus
Cristo, segundo o beneplá cito de sua vontade”. 
Agora, vamos falar sobre filiação .
Hoje, poucos sã o os homens que exercem a mesma profissã o que seu
pai exercia com a mesma idade. No caso das mulheres, isso também
nã o é diferente, pois cada vez menos mulheres fazem o mesmo que
suas mã es faziam com a mesma idade. No mundo antigo, contudo, se
o seu pai fosse fazendeiro, a chance de você também se tornar
fazendeiro eram muito altas. Do mesmo modo, se seu pai fosse
carpinteiro, automaticamente, em algum momento, você também
seria carpinteiro. Entã o, a profissã o de seu pai era muito importante
na definiçã o de quem você seria. 
Por essa razã o, Jesus foi chamado, no Evangelho de Marcos, “o filho
do carpinteiro”. Porque é muito prová vel que, em algum momento
de sua vida, Jesus tenha exercido a mesma profissã o de seu
padrasto, José. Digamos que, antes de ser chamado para o
ministério, José lhe tenha ensinado seu ofício e, em algum momento,
na condiçã o de filho primogênito da casa, Jesus tenha assumido ou
viria a assumir o lugar de seu padrasto naquela funçã o.
Supondo que seu pai fosse fazendeiro, ele nã o mandaria você para
uma faculdade de agronomia, a fim de capacitá -lo a assumir as
tarefas da fazenda quando voltasse para casa. Nã o havia faculdades.
Era seu pai quem ensinava você a arar a terra e plantar as sementes,
esclarecendo a temporada certa para o plantio, como manter as
plantaçõ es irrigadas, como ler o clima e como fazer a colheita. Em
outras palavras, como filho, sua identidade estava necessariamente
ligada à identidade de seu pai. Assim, muitas expressõ es bíblicas
estã o profundamente ligadas à relaçã o de identidade filiar. Por
exemplo, no Antigo Testamento, muitas pessoas foram chamadas de
filhos de Belial, que significava filhos da perdiçã o ou filhos da
perversã o. Ou seja, se você mostrasse perversã o em sua conduta, a
ú nica explicaçã o para isso era fazer parte de uma família sem valor. 
Por outro lado, também existem as relaçõ es de filiaçã o definidas
pelo pró prio Senhor Jesus. Pois, nas bem-aventuranças, Jesus diz:
“Bem-aventurados os pacificadores, porque serã o chamados filhos
de Deus” (Mateus 5.9). Ou seja, se agirmos como aqueles da família
de Deus, a ú nica explicaçã o possível é que nó s também pertencemos
à família de Deus. E o Senhor é quem abençoa aqueles que, como ele,
sã o pacificadores e os chama de filhos seus. 
O ponto é que somos feitos à imagem de Deus. O que ele quer de nó s
por meio da Salvaçã o? A resposta é que Deus quer que possamos
agir como ele pró prio age. Cada alma transformada pelo Espírito
Santo é capaz de agir como Deus age em todas as situaçõ es. E é por
isso que nos é ensinado na Bíblia: “Sede santos, porque eu sou
Santo” (1 Pedro 1.16). Também vemos, em Joã o 17, que o amor que
os crentes têm uns pelos outros deve espelhar o amor entre Deus
Pai, Deus Filho e Deus Espírito Santo na trindade. Ou seja, em todos
os aspectos que o ser humano justificado pode ser como Deus é, tem
a responsabilidade de se tornar como ele é, porque fomos feitos à
sua imagem e transformados pelo Espírito na Salvaçã o.
Assim como ocorre na adoçã o de filhos, Deus escolheu seu povo
antes da fundaçã o do mundo. E isso implica dizer que essa
identidade advém da escolha de Deus, mas também traz para nó s a
responsabilidade de seguir os passos de nosso Pai eterno e de nos
esmerar em imitá -lo. Um dos aspectos do cará ter de Deus é ser
pacificador, e essa é uma característica que podemos obter e manter
em nosso pró prio cará ter. Assim, seremos reconhecidos, pela
semelhança entre o seu cará ter e o nosso, como seus filhos. O certo é
que, em  tudo aquilo que podemos ser como Deus, devemos nos
esforçar para ser.
E é isso que a Bíblia nos ensina ao mencionar a relaçã o de filiaçã o
que temos com o Deus. Nã o se trata apenas de compartilharmos um
DNA compatível com o de Deus. A questã o da filiaçã o diz respeito a
evidenciarmos o pró prio cará ter de Deus. Entã o, por um lado, é-nos
dito que somos escolhidos como santos e irrepreensíveis e, por
outro, que Deus nos predestinou como filhos de Deus. Entã o,
bendito seja nosso Senhor Jesus Cristo, porque fomos escolhidos e
adotados. 
II) Fomos redimidos e perdoados
no qual temos a redençã o, pelo seu sangue, a remissã o dos pecados,
segundo a riqueza da sua graça, que Deus derramou
abundantemente sobre nó s em toda a sabedoria e prudência. 
(Efésios 1.7–8)
No século I d.C., o termo “redençã o” era usado normalmente nas
transaçõ es financeiras. Quando você comprava algo de volta, isso
seria uma redençã o do que era seu. No mundo ocidental, a
escravidã o costuma estar associada à violência. A escravidã o
recente se dava pela captura de prisioneiros na Á frica. É por isso
que, em sua maioria, os escravos no Ocidente eram da raça negra,
sendo transportados do oeste da Á frica para fazendas e fá bricas na
América do Norte, América Central e América do Sul. No Oriente
Médio, principalmente até o século I d.C., a escravidã o podia, sim,
decorrer de guerras. Com o final de uma guerra, a naçã o vencedora
trazia para seus territó rios os prisioneiros que haviam perdido as
batalhas, forçando-os a trabalhar como escravos. Mas, em sua
maioria, a escravidã o advinha de falência financeira. Assim, por
exemplo, se, para iniciar um novo negó cio, alguém precisou fazer um
empréstimo de vulto e, por alguma razã o, o mercado nã o se mostrou
favorá vel, vindo, ao final, à falência, essa pessoa se tornou devedora.
Como nã o havia leis de proteçã o à falência, tal pessoa nã o tinha
escolha a nã o ser vender a si mesma e talvez até mesmo sua família
para pagar a dívida. 
Em outras palavras, na antiguidade, os escravos nã o eram,
necessariamente, prisioneiros de guerra, mas, na maioria das vezes,
pessoas endividadas ou falidas. Portanto, a escravidã o nã o estava
associada a uma raça específica. Na verdade, havia povos nó rdicos
escravos, livres e ricos; havia africanos nobres, livres e escravos.
Havia judeus escravos, livres e nobres. Muitos podiam até mesmo
ser professores, banqueiros, pessoas de elevada educaçã o, mas que,
por razõ es financeiras, se haviam tornado escravos.
Vamos supor que você vivesse no mundo antigo e fosse um
endividado que veio à falência, razã o pela qual teria precisado
vender a si mesmo e à sua família como escravos. Digamos, ainda,
que, nessa hipó tese, você ainda tivesse, por exemplo, um primo
vivendo a cerca de trinta quilô metros de distâ ncia do ocorrido e que,
depois de alguns meses, chegasse ao conhecimento desse primo rico
que você, primo pobre, fora vendido como escravo (como, naquela
época, nã o havia celulares ou telégrafos, as notícias corriam de boca
em boca e, em algum momento, se espalhavam). 
Continuando nesse fato hipotético, digamos que, assim que soube da
notícia, o primo rico tenha decidido resgatar você e sua família. Na
ocasiã o, tais deslocamentos eram feitos em alguns dias de viagem,
mas, como ele tinha muito dinheiro, foi a seu encontro para comprar
sua libertaçã o. Em outras palavras, ele veio para redimir você. E,
portanto, teria de pagar a quantia pedida para libertá -lo. Esse é o
significado da redençã o. Tal é a natureza da redençã o. Trata-se de
um pagamento por algo ou alguém que precisa de redençã o. Assim
como Deus libertou seu povo da terra do Egito, tratava-se de
redençã o, ou seja, Deus comprou e livrou seu povo da escravidã o no
Egito.
Passando para o Novo Testamento, mais especificamente para a
carta de Efésios, é-nos dito que, pelo sangue de Cristo, podemos
obter a redençã o dos pecados, a remissã o pelo sangue. Isso quer
dizer que a redençã o é dos pecados, ou seja, fomos libertos do
pecado, o que, implicitamente, significa que erá mos escravos do
pecado. Porém, Cristo, através de sua morte, libertou-nos da
escravidã o do pecado. Isso é redençã o, de acordo com a riqueza da
graça de Deus, derramada sobre nó s. E essa é uma verdade da qual
nunca devemos nos cansar. Porque, se Deus nos tivesse deixado em
nossos pecados, todos nó s pereceríamos. Todos nó s estaríamos
alienados da presença de Deus. Todos nó s iríamos para o inferno.
Todos nó s seríamos desesperançados. Estaríamos todos presos em
conduta pecaminosa. 
Mas em Cristo, pela sua morte, fomos libertos pelo derramar de seu
sangue. Nó s temos a redençã o da pena do pecado, pois, pelo poder
do Espírito, ele nos libertou da escravidã o dessa prá tica e, um dia,
quando formos ressurretos, também nos libertará de toda mancha
de pecado, garantia dada por ele. Em outras palavras, fomos
redimidos, e eu amo proclamar isto: somos redimidos pelo sangue de
Jesus Cristo . Bendito, pois, seja o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus
Cristo, que nos redimiu por seu sangue!
III) Deus nos mostra seu mistério
Isso é algo marcante e fenomenal. Com toda sabedoria e prudência,
Deus tornou conhecido a nó s o mistério de sua vontade. 
(...) desvendando-nos o mistério da sua vontade, segundo o seu
beneplá cito que propusera em Cristo, de fazer convergir nele, na
dispensaçã o da plenitude dos tempos, todas as coisas, tanto as do
céu como as da terra.
(Efésios 1.8–9)
Mas é importante deixar claro que a palavra “mistério” nã o está
relacionada apenas a coisas ocultas, à quilo que nã o
compreendemos. Nã o remete a um romance, no qual é necessá rio
descobrir quem fez algo e o que está escondido.
Aqui, o termo “mistério” remete a algo que, em alguma medida,
estava obscurecido ou escondido no passado, mas que agora é
esclarecido, ou seja, revelado. Isso é verdadeiro principalmente em
relaçã o ao que diz respeito à salvaçã o que Deus nos dá em Jesus.
Você se lembra do ocorrido em Cesá rea de Filipe? Veja:
Indo Jesus para os lados de Cesareia de Filipe, perguntou a seus
discípulos: Quem diz o povo ser o Filho do Homem? E eles
responderam: Uns dizem: Joã o Batista; outros: Elias; e outros:
Jeremias ou algum dos profetas. Mas vó s, continuou ele, quem dizeis
que eu sou? Respondendo Simã o Pedro, disse: Tu és o Cristo, o Filho
do Deus vivo.  Entã o, Jesus lhe afirmou: Bem-aventurado és, Simã o
Barjonas, porque nã o foi carne e sangue que to revelaram, mas meu
Pai, que está nos céus.
(Mateus 16.13–17)
Você sabe que, quando Pedro confessou que Jesus é o Cristo, nã o
quis dizer o mesmo que nó s quando dizemos que Jesus é o Cristo?
Afinal, quando confessamos que Jesus é o Cristo, nã o podemos evitar
pensar em sua morte e ressurreiçã o. Porém, em Cesareia de Filipe,
quando Jesus, na sequência, diz que era necessá rio que o filho do
homem padecesse muitas coisas, e fosse crucificado e morto, Pedro
claramente nã o tinha ideia do que Jesus estava dizendo. De fato,
Pedro sabia que Cristo era o Messias, mas sua concepçã o acerca de
Messias vinha acompanhada de realeza, poder e triunfo, nada tendo
a ver com sofrimento, crucificaçã o e morte. Entã o, ele repreende
Jesus, porque, para ele, o Reino do Messias nã o acabava, o Rei nã o
morria, pois era poderoso e, nessa qualidade, nã o podia ser
crucificado em um madeiro. Jesus, entã o, disse a ele: “Arreda-te de
mim, Sataná s”.
Desde esse tempo, começou Jesus Cristo a mostrar a seus discípulos
que lhe era necessá rio seguir para Jerusalém e sofrer muitas coisas
dos anciã os, dos principais sacerdotes e dos escribas, ser morto e
ressuscitado no terceiro dia. E Pedro, chamando-o à parte, começou
a reprová -lo, dizendo: Tem compaixã o de ti, Senhor; isso de modo
algum te acontecerá . Mas Jesus, voltando-se, disse a Pedro: Arreda,
Sataná s! Tu és para mim pedra de tropeço, porque nã o cogitas das
coisas de Deus, e sim das dos homens.
(Mateus 16.21–23)
Em outras palavras, mesmo Jesus tendo falado sobre o que era
necessá rio acontecer, sua morte e ressurreiçã o, seus discípulos nã o
dispunham de categorias para um Messias sofredor. E isso foi
verdadeiro até mesmo quando Jesus já havia saído do tú mulo. Apó s
a crucificaçã o, Jesus foi sepultado. E, entã o, os discípulos se
esconderam em uma sala trancada. E por que eles estavam lá ?  Será
que estavam aguardando ansiosamente pelo domingo? Nã o, nã o
havia expectativa; eles estavam se escondendo porque sentiam
medo de ser os pró ximos. E, embora Jesus tivesse dito cinco vezes,
no Evangelho de Mateus, o que estava prestes a acontecer apó s a sua
morte, os discípulos apenas olhavam uns para os outros, e tudo o
que podiam dizer era: “Profundo, muito profundo mesmo!”. Mas nã o
entendiam nada.
Eles nã o entendiam que o Rei Davídico seria também o servo
sofredor. Nã o entendiam que o Salvador também é o Cordeiro de
Deus que tira o pecado do mundo. Nã o entendiam que o Messias
também é o Cordeiro Pascal. Em outras palavras, embora essas
verdades estivessem presentes nas Escrituras, de muitas maneiras
estavam escondidas dos olhos dos discípulos.
Mas agora, com a vinda e a ressurreiçã o de Cristo, nó s podemos ver.
Nó s finalmente entendemos. Ou seja, Deus nos revelou coisas que
antes estavam escondidas aos olhos dos santos daquele tempo. Você
consegue perceber? Deus poderia salvar seus eleitos sem explicar
todas essas coisas. Ele nã o tinha a obrigaçã o de nos contar tudo isso;
poderia nos salvar sem dar todas essas explicaçõ es. Mas é uma
marca de graciosa bondade da parte de Deus haver tornado
conhecido o mistério de sua vontade.
(...) desvendando-nos o mistério da sua vontade, segundo o seu
beneplá cito que propusera em Cristo, de fazer convergir nele, na
dispensaçã o da plenitude dos tempos, todas as coisas, tanto as do
céu como as da terra.
(Efésios 1.9)
Louvado seja Deus, por nos ter revelado seu mistério!
IV) Louvado seja Deus, porque somos povo de Deus,
considerados a própria herança dele
Isso significa que fomos escolhidos numa espécie de lote para
sermos salvos por Deus. E o pano de fundo dessa questã o está no
Antigo Testamento, no livro de Deuteronô mio. É verdade que tudo o
que existe pertence ao Senhor. E as primeiras pessoas que ele
escolheu e das quais o texto de Deuteronô mio trata sã o os hebreus.
Mas ele escolheu pessoas específicas para ser o seu povo, a sua
porçã o particular, que é a sua herança. Assim, é-nos ensinado que o
povo de Deus, os judeus, foram escolhidos para ser herança. 
Quando o Altíssimo distribuía as heranças à s naçõ es, quando
separava os filhos dos homens uns dos outros, fixou os limites dos
povos, segundo o nú mero dos filhos de Israel. Porque a porçã o do
SENHOR é o seu povo; Jacó é a parte da sua herança.
(Deuteronô mio 32.8–9)
Aqui, Paulo se refere ao povo judeu, sendo ele mesmo judeu. Ele
menciona primeiro “nó s fomos feitos herança”. 
(...) nele, digo, no qual fomos também feitos herança, predestinados
segundo o propó sito daquele que faz todas as coisas conforme o
conselho da sua vontade, a fim de sermos para louvor da sua gló ria,
nó s, os que de antemã o esperamos em Cristo. 
(Efésios 1.10–11)
Em seguida, Paulo se refere ao círculo de pessoas salvas no qual os
gentios estã o incluídos:
em quem também vó s, depois que ouvistes a palavra da verdade, o
evangelho da vossa salvaçã o, tendo nele também crido, fostes
selados com o Santo Espírito da promessa; o qual é o penhor da
nossa herança, até ao resgate da sua propriedade, em louvor da sua
gló ria.
(Efésios 1.13–14)
E é por isso que, hoje, no Ocidente, podemos ser salvos. Porque
Cristo morreu para salvar nã o somente os judeus, mas também os
brasileiros, os peruanos, os venezuelanos, os colombianos, os
argentinos e talvez até mesmo alguns americanos e canadenses.
Pessoas de todas as tribos, povos e raças foram incluídas na herança
de Deus.
Assim, aqueles que creram em Jesus foram selados com o Santo
Espírito. No grego original, é marcante o fato de nã o se tratar de,
depois de crer, serem selados, mas sim de “quando creram, foram
selados”. Na antiguidade, algumas pessoas andavam com um cordã o
que carregava um pequeno cilindro amarrado ao pescoço – esse era
o seu selo. Cada pessoa carregava uma grafia diferente em seu
papiro, porque ali era escrito seu pró prio selo, o equivalente à
assinatura de um cheque, a uma senha eletrô nica ou a uma etiqueta
particular. Mas as vá rias imagens que formavam seu selo particular
eram compostas de gravuras. Quando as pessoas assinavam
documentos, passavam o cilindro na argila e, em seguida, por cima
do documento, ou podiam usar algum tipo de tinta, por exemplo,
selando o documento com a sua marca. 
Deus também utilizou o pró prio selo para marcar sua herança. E seu
selo é o pró prio Espírito Santo. Entã o, em outras palavras, quando
Deus nos dá o Espírito Santo, está dizendo: “Este é meu, eu coloquei
nele o meu selo!”. E por isso Paulo diz: “Bendito seja o Pai do nosso
Senhor Jesus Cristo, que nos selou com o Espírito Santo”.
Glória somente a Deus!

Oração conclusiva
“Em verdade, Senhor, nó s te bendizemos, por todas as bênçã os
espirituais que em ti recebemos nas regiõ es celestiais. Ajuda-nos,
Senhor, para que sejamos conscientes desses dons magníficos e
incompreensíveis. Para que nossas vidas sejam caracterizadas por
bem-aventuranças, gratidã o e louvor, mesmo no meio de nossas
lutas, dores e desapontamentos. Pois essas bênçã os asseguradas por
Cristo Jesus nunca poderã o ser tiradas de nó s. Agradecemos porque,
em sua mente, já estamos assentados junto a Cristo nas regiõ es
celestiais. Agradecemos porque, na tua graça, fomos escolhidos e
adotados como filhos. Agradecemos porque fomos redimidos e
perdoados. Agradecemos porque o Senhor nos explicou e nos
revelou seus mistérios. Agradecemos porque o Senhor nos tomou
como herança e nos selou com o Espírito Santo. Em nome do Senhor
Jesus Cristo. Amém.”

CAPÍTULO 5

As Escrituras não podem ser deixadas de lado 5

Celebrava-se em Jerusalém a Festa da Dedicaçã o. Era inverno. Jesus


passeava no templo, no Pó rtico de Salomã o. Rodearam-no, pois, os
judeus e o interpelaram: Até quando nos deixará s a mente em
suspenso? Se tu és o Cristo, dize-o francamente.
Respondeu-lhes Jesus: Já vo-lo disse, e nã o credes. As obras que eu
faço em nome de meu Pai testificam a meu respeito. Mas vó s nã o
credes porque nã o sois das minhas ovelhas. As minhas ovelhas
ouvem a minha voz; eu as conheço, e elas me seguem. Eu lhes dou a
vida eterna; jamais perecerã o, e ninguém as arrebatará da minha
mã o. Aquilo que meu Pai me deu é maior do que tudo; e da mã o do
Pai ninguém pode arrebatar. Eu e o Pai somos um.
Novamente, pegaram os judeus em pedras para lhe atirar. Disse-lhes
Jesus: Tenho-vos mostrado muitas obras boas da parte do Pai; por
qual delas me apedrejais?
Responderam-lhe os judeus: Nã o é por obra boa que te
apedrejamos, e sim por causa da blasfêmia, pois, sendo tu homem, te
fazes Deus a ti mesmo.
Replicou-lhes Jesus: Nã o está escrito na vossa lei: Eu disse: sois
deuses? Se ele chamou deuses à queles a quem foi dirigida a palavra
de Deus, e a Escritura nã o pode falhar, entã o, daquele a quem o Pai
santificou e enviou ao mundo, dizeis: Tu blasfemas; porque declarei:
sou Filho de Deus? Se nã o faço as obras de meu Pai, nã o me
acrediteis; mas, se faço, e nã o me credes, crede nas obras; para que
possais saber e compreender que o Pai está em mim, e eu estou no
Pai. Nesse ponto, procuravam, outra vez, prendê-lo; mas ele se
livrou das suas mã os. Novamente, se retirou para além do Jordã o,
para o lugar onde Joã o batizava no princípio; e ali permaneceu. E
iam muitos ter com ele e diziam: Realmente, Joã o nã o fez nenhum
sinal, porém tudo quanto disse a respeito deste era verdade. E
muitos ali creram nele. 
(Joã o 10.22–41)
A ideia central é a seguinte: “E a Escritura nã o pode falhar” (Jo
10.35b). O significado bá sico disso é muito claro: a Escritura diz a
verdade, é confiá vel e nã o pode falhar. E essa é uma liçã o
preciosíssima, pois muitas outras coisas falham: os casamentos
falham; a saú de falha; as promessas humanas falham; falhamos,
algumas vezes, no trabalho; os políticos falham. Porém, as Escrituras
nã o falham. É maravilhoso como a Palavra de Deus nos traz alegria,
em razã o de seu valor imenso.
Lembre-se de outras coisas que Deus nos ensinou. Por exemplo,
Jesus disse que céus e terra passarã o, mas a Palavra de Deus nã o
passará . Em outras palavras, até mesmo o Universo falha, mas as
Escrituras nã o podem falhar. Em Isaías 40 e 1Pedro, as Escrituras
nos revelam que todas as pessoas sã o como a erva:
Uma voz diz: Clama; e alguém pergunta: Que hei de clamar? Toda a
carne é erva, e toda a sua gló ria, como a flor da erva;
seca-se a erva, e caem as flores, soprando nelas o há lito do SENHOR.
Na verdade, o povo é erva;
seca-se a erva, e cai a sua flor, mas a palavra de nosso Deus
permanece eternamente.
(Isaías 40.6–8)

Pois toda carne é como a erva, e toda a sua gló ria, como a flor da
erva; seca-se a erva, e cai a sua flor;
a palavra do Senhor, porém, permanece eternamente. Ora, esta é a
palavra que vos foi evangelizada.
(1Pedro 1.24–25)
Ambiente argumentativo entre Jesus e seus adversários
Jesus diz: “O Pai e eu somos um”, ou seja, Jesus afirma ser Deus. E isso
explica por que alguns judeus pegaram em pedras para apedrejar
Jesus: eles julgavam que Jesus estivesse blasfemando. E Jesus lhes
pergunta: “Por qual obra me apedrejais? Eu curei os doentes, fiz os
cegos verem, expulsei demônios e fiz os coxos andarem, então por qual
dessas coisas vocês me apedrejarão?” . E eles respondem: “Não
estamos te apedrejando por boas obras fizeste, mas porque estás
blasfemando!” .
Jesus, pois, estava sendo julgado por blasfemar. A ló gica do
argumento dos adversá rios de Jesus era: “Porque, sendo tu homem,
clamas ser Deus”.
Lógica argumentativa entre Jesus e seus adversários
Ao dizer “O Pai e eu somos um”, Jesus foi acusado de blasfêmia
vá rias vezes pelos judeus. Mas Jesus era realmente culpado de
blasfêmia por causa dessa declaraçã o?
Uma pessoa só pode ser acusada de blasfêmia se tiver falado algo
que nã o é verdadeiro. Ou seja, se Jesus disse que era Deus e nã o era,
entã o teria cometido blasfêmia. Mas, se Jesus de fato era – como é –
Deus, entã o nã o podia ser acusado de blasfêmia, pois foi verdadeiro
em sua declaraçã o.
Acrescente-se que, pela ló gica, Jesus podia demonstrar sua
divindade para provar tal declaraçã o, evidenciando, assim, a pró pria
natureza divina aos judeus, a fim de que entendessem, de uma vez
por todas, que ele estava sendo verdadeiro e que, portanto, era –
como é – Deus. Jesus já mostrara, de diversas maneiras, que sua
declaraçã o era verdadeira, razã o pela qual, logicamente, nã o era
culpado de blasfêmia. 
No entanto, apó s inú meras demonstraçõ es de sua divindade, com
milagres que só podiam ser atribuídos a Deus, os fariseus ainda o
acusavam de blasfêmia. Desse modo, como nenhuma das
demonstraçõ es de sua divindade era aceita, Jesus decidiu mudar a
argumentaçã o. A ló gica dessa nova argumentaçã o encontra-se a
seguir:
Replicou-lhes Jesus: Nã o está escrito na vossa lei: Eu disse: sois
deuses? Se ele chamou deuses à queles a quem foi dirigida a palavra
de Deus, e a Escritura nã o pode falhar, entã o, daquele a quem o Pai
santificou e enviou ao mundo, dizeis: Tu blasfemas; porque declarei:
sou Filho de Deus?
(Joã o 10.34–35)
Essa passagem alude ao Antigo Testamento, no qual, em alguns
momentos, o Senhor chama os seres humanos de deuses. E, para
entender claramente as implicaçõ es do que Jesus disse, é necessá rio
retornarmos à s passagens e aos seus respectivos contextos. 
A palavra mais comum para Deus em hebraico é Elohim . Um aspecto
interessante nesse termo é que, algumas vezes, é usado para fazer
referência ao ú nico Deus verdadeiro; em outras, contudo, refere-se
aos deuses falsos de outras naçõ es. Além disso, também é usado com
frequência para se referir aos juízes de Israel. Isso porque o papel
dos juízes era praticar a Lei de Deus. Assim, na execuçã o de seu
mister, os juízes deviam trazer a Sabedoria e o Juízo de Deus para o
povo.
Entã o, o seu senhor o levará aos juízes, e o fará chegar à porta ou à
ombreira, e o seu senhor lhe furará a orelha com uma sovela; e ele o
servirá para sempre.  
(Ê xodo 21.6) 
Nessa passagem, podemos ler, em hebraico, no lugar de juízes, a
palavra elohim , ou seja, deuses . Contextualizando, observa-se que,
em determinadas circunstâ ncias, os donos de escravos tinham de
levar seus escravos para que os juízes julgassem sua causa. E,
embora Moisés se refira claramente aos juízes, a palavra usada em
hebraico é elohim . Ou seja, o sistema de juízes foi estabelecido por
Deus. Vejamos mais um exemplo:
Se alguém der ao seu pró ximo dinheiro ou objetos a guardar, e isso
for furtado à quele que o recebeu, se for achado o ladrã o, este pagará
o dobro.
Se o ladrã o nã o for achado, entã o o dono da casa será levado perante
os juízes, a ver se nã o meteu a mã o nos bens do pró ximo. 
(Ê xodo 22.8–9)
Em outras palavras, Deus estabelecia juízes, e as questõ es judiciais
deviam ser trazidas até eles, a quem Moisés chamava elohim , ou
seja, deuses . As pessoas iam até os juízes para obter justiça.
A seguir, temos mais uma passagem que se refere a juízes pelo
termo elohim . Na verdade, esse foi o exemplo citado por Jesus em
Joã o 10. Trata-se de um Salmo no qual o pró prio Deus está
condenando os juízes por defenderem os ímpios.
Deus assiste na congregaçã o divina; no meio dos deuses, estabelece
o seu julgamento. Até quando julgareis injustamente e tomareis
partido pela causa dos ímpios?
(Salmos 82.1–2)
Algumas de nossas traduçõ es usam a palavra deuses , enquanto
outras usam juízes . No versículo 2, Deus desafia os “deuses”, ou seja,
os juízes, dizendo: “Até quando julgareis injustamente?”. E, nos
versículos seguintes, a condenaçã o deles continua:
Fazei justiça ao fraco e ao ó rfã o, procedei retamente para com o
aflito e o desamparado. Socorrei o fraco e o necessitado; tirai-os das
mã os dos ímpios.
(Salmos 82.3–4)
Esses versículos mostram o que eles deveriam fazer mas nã o fazem.
No versículo subsequente, Deus diz que, em verdade, eles nã o sabem
nem enxergam nada: 
Eles nada sabem, nem entendem; vagueiam em trevas; vacilam
todos os fundamentos da terra.
(Salmos 82.5)
No entanto, eles sã o corrompidos em seu julgamento:
Eu disse: sois deuses, sois todos filhos do Altíssimo. Todavia, como
homens, morrereis e, como qualquer dos príncipes, haveis de
sucumbir.
(Salmos 82.6–7)
É fato que, apesar de Deus tê-los chamado de deuses, também lhes
dá um julgamento por terem sido corruptos a ponto de
abandonarem seus papéis de juízes e julgarem injustamente o povo.
Por isso, Deus os matará como meros homens mortais que sã o.
Agora, voltemos ao texto de Joã o 10, em que Jesus cita o Salmo 82.
No versículo 34, os judeus acusam Jesus de blasfemar contra Deus,
por afirmar ser filho de Deus. Voltemos à ló gica dos argumentos de
Jesus:
Replicou-lhes Jesus: Nã o está escrito na vossa lei: Eu disse: sois
deuses? Se ele chamou deuses à queles a quem foi dirigida a palavra
de Deus, e a Escritura nã o pode falhar, entã o, daquele a quem o Pai
santificou e enviou ao mundo, dizeis: Tu blasfemas; porque declarei:
sou Filho de Deus? 
(Joã o 10.34–36)
Nos versículos acima, Jesus declara que aqueles judeus deveriam ser
menos apressados e refletir um pouco. Os argumentos de Jesus
soariam mais ou menos assim para nós: “Já não está escrito na
própria Escritura que Deus chamou pessoas comuns de deuses? E a
Palavra de Deus não veio a eles para que fossem capazes de julgar
corretamente? Então, qual objeção vocês podem levantar contra mim
se eu chamar a mim mesmo de Deus ou Filho de Deus?” .
A base da argumentaçã o que se segue é um jogo de palavras feito
por Jesus. Trata-se de uma estratégia argumentativa denominada ad
hominem , deixando bem clara a incoerência daqueles homens ao
julgarem Jesus por dizer que é o Filho de Deus. No Antigo
Testamento, esses homens tã o somente recebiam a Palavra de Deus,
mas Jesus nã o recebe a Palavra de Deus, porque Jesus é a pró pria
Palavra de Deus. É como se Jesus dissesse: “Se alguém tem direito a
ser chamado de Filho de Deus, esse alguém sou eu”.
O fato é que existem muitas outras passagens em que Jesus clama
ser Deus no Evangelho de Joã o. Por exemplo:
Respondeu-lhes Jesus: Em verdade, em verdade eu vos digo: antes
que Abraã o existisse, EU SOU. 
(Joã o 8.58)
O interessante é que Jesus nã o diz que, antes de Abraã o ser, ele era.
Porque isso implicaria Jesus ter aproximadamente dois mil anos
naquele momento. Pelo contrá rio, Jesus disse que: “antes de Abraã o
ser, EU SOU ”. Assim, Jesus tomou o nome do pró prio Deus da
Aliança. Ele é o pró prio Deus.
Outro exemplo é Joã o 14. Na noite em que Jesus seria traído, um dos
discípulos vem até ele e diz:
Replicou-lhe Filipe: Senhor, mostra-nos o Pai, e isso nos basta.
Disse-lhe Jesus: Filipe, há tanto tempo estou convosco, e nã o me tens
conhecido? Quem me vê a mim vê o Pai; como dizes tu: Mostra-nos o
Pai?
Nã o crês que eu estou no Pai e que o Pai está em mim? As palavras
que eu vos digo nã o as digo por mim mesmo; mas o Pai, que
permanece em mim, faz as suas obras.
(Joã o 14.8–10)
Aqui, Jesus lembra Filipe de que quem vê o Filho vê o Pai. Portanto,
se você quiser entender claramente sobre Deus, estude mais sobre
Jesus. Ele mesmo disse que quem vê Jesus vê o Pai.
Em Joã o 5, quando Jesus clama ser o ú nico e verdadeiro Filho de
Deus, temos mais uma ilustraçã o disso. A verdade é que podemos
ser chamados de Filhos de Deus por muitas características. Por
exemplo, no Sermã o do Monte, Jesus disse: “Bem-aventurados sã o os
pacificadores, porque serã o chamados Filhos de Deus”. Mas, em Joã o
5, Jesus declara ser o ú nico filho verdadeiro de Deus, porque ali o
foco é que tudo o que o Pai faz, o Filho também faz.
Entã o, lhes falou Jesus: Em verdade, em verdade vos digo que o Filho
nada pode fazer de si mesmo, senã o somente aquilo que vir fazer o
Pai; porque tudo o que este fizer, o Filho também semelhantemente
o faz.
(Joã o 5.19)
Jesus é o ú nico filho verdadeiro de Deus que faz e fala tudo o que o
Pai faz e diz. Ninguém mais pode afirmar isso, porque ninguém mais
fez o Universo; apenas o Deus Trino. O Pai criou o Universo
juntamente com o Filho. Ninguém mais pode ressuscitar os mortos,
criar vida, curar e andar sobre as á guas; somente Deus pode. E é
nesse sentido que Jesus diz que quem o vê também vê o Pai.
Assim, se você tem um animal que se parece com um cavalo, reú ne
todos os atributos de um cavalo, corre como um cavalo, cheira como
um cavalo, age como um cavalo e faz tudo o que um cavalo faz, entã o
isso significa que você tem diante de si um cavalo. Da mesma forma,
se você tem diante de seus olhos alguém que faz tudo o que Deus faz,
e que reú ne todos os atributos de Deus e clama que quem o vê
também vê o Pai, entã o você tem diante de si o pró prio Deus ou um
mentiroso. 
Ainda na narrativa de Joã o, quando Jesus ressuscita dos mortos no
terceiro dia, finalmente é reconhecido por Tomé:
Respondeu-lhe Tomé: Senhor meu e Deus meu!
(Joã o 20.28)
Portanto, a ló gica empregada por Jesus na argumentaçã o com seus
adversá rios é: “Se Deus pode usar a palavra deuses para se referir a
seres humanos comuns com a funçã o de exercer o julgamento de
Deus no Antigo Testamento, quanto mais este termo pode se aplicar
a mim: este que o pró prio Deus enviou ao mundo, o seu filho
unigênito e verdadeiro!”.
Até aqui, foram desenvolvidas ideias sobre o ambiente da
argumentaçã o entre Jesus e os seus adversá rios, sobre a ló gica da
argumentaçã o; agora, iremos tratar dos pressupostos da
argumentaçã o:
O pressuposto na argumentação de Jesus
Se ele chamou deuses à queles a quem foi dirigida a palavra de Deus,
e a Escritura nã o pode falhar.
(Joã o 10.35)
Jesus baseia seu argumento em Salmos 82 – parte das Escrituras de
Deus. E as Escrituras nã o podem falhar. Todo o argumento de Jesus
baseia-se nesse pressuposto. Ou seja, leve a Escritura muito a sério!
A Palavra de Deus nã o falha, nem em relaçã o à s grandiosas e
importantes questõ es, nem em relaçã o à s corriqueiras.
• As Escrituras nã o falham ao nos revelar sobre Deus e a Criaçã o.
• As Escrituras nã o falham ao nos revelar sobre a Queda e a origem do pecado.
• As Escrituras nã o falham ao nos revelar os Dez Mandamentos.
• As Escrituras nã o falham ao nos revelar como Deus libertou seu povo da escravidã o no
Egito.
• As Escrituras nã o falham ao nos revelar que Deus apontou Davi como rei de Israel.
• As Escrituras nã o falham ao nos revelar, por intermédio de Isaías, que haveria um
Cordeiro que seria esmagado por nossas transgressõ es e ferido por nossas iniquidades. 
• As Escrituras nã o falham ao nos revelar o nascimento virginal de Cristo.
• As Escrituras nã o falham ao nos revelar que Jesus, graciosamente, curou doentes e
consolou aflitos.
• As Escrituras nã o falham ao nos revelar que Jesus pregou sermõ es grandiosos e também
desafiou os hipó critas.
• As Escrituras nã o falham ao nos revelar que Jesus morreu por nó s numa cruz, levando
consigo nossos pecados. 
• As Escrituras nã o falham ao nos revelar que o justo foi dado pelo injusto, e que a justiça
do justo foi imputada ao injusto e a injustiça do injusto foi imputada ao justo.
• As Escrituras nã o falham ao nos revelar que Jesus ressuscitou dos mortos.
• As Escrituras nã o falham ao nos revelar que Jesus construirá sua Igreja e que as portas do
inferno nã o prevalecerã o contra ela.
• As Escrituras nã o falham ao nos revelar que Jesus voltará e que haverá novos céus e
novas terras.
Em todos os grandes eventos da histó ria da redençã o, as Escrituras
nã o falham. As Escrituras sã o confiá veis e nã o falham em nenhum
dos aspectos grandiosos da histó ria. No entanto, Jesus vai mais longe
ainda: ensina que a Palavra de Deus nã o falha em nenhum detalhe, o
mais corriqueiro que seja, como, por exemplo, na escolha dos
termos empregados nas Escrituras. E, como as Escrituras nã o
podem falhar, você pode construir sobre ela sua argumentaçã o. Por
isso, Jesus afirmou que nem um ú nico til passará nas Escrituras.
Neste ponto, já caminhando para a conclusã o, é importante mostrar
a real importâ ncia dessas verdades. A veracidade e a confiabilidade
das Escrituras nã o sã o um fim em si mesmas. Em outras palavras,
nã o se intenta que aquele que conhece a infabilidade da Bíblia saia
por aí exibindo seus argumentos, orgulhando-se de ter em mã os um
livro infalível. Isso porque o Diabo conhece muito bem o fato de que
as Escrituras sã o infalíveis, mas isso nã o faz diferença nos caminhos
por ele trilhados.
A importâ ncia de conhecer o aspecto de infabilidade das Escrituras é
a maneira como devemos responder à sua mensagem. Já lemos em
Deuteronô mio 17 sobre o que o rei deveria fazer com as Escrituras.
Ao assumir o trono, cada rei de Israel deveria atentar para as
Escrituras, lê-la e fazer uma có pia pessoal do livro da lei, lendo-o
todos os dias de sua vida. Por que os reis deviam agir assim? O rei
devia ler a Palavra de Deus a fim de aprender a reverenciar o Senhor
Deus, nã o vendo a si mesmo como superior aos seus irmã os e nã o se
desviando nem para a direita, nem para a esquerda. Assim, em 2
Timó teo, lemos:
Toda a Escritura é inspirada por Deus e ú til para o ensino, para a
repreensã o, para a correçã o, para a educaçã o na justiça, a fim de que
o homem de Deus seja perfeito e perfeitamente habilitado para toda
boa obra.
(2 Timó teo 3.16–17)
A Bíblia foi escrita por homens inspirados por Deus para que
sejamos instruídos, repreendidos, corrigidos, exortados e educados
na justiça, capacitando-nos para toda boa obra. Deus nã o nos deu a
Bíblia apenas para que simplesmente a admiremos. Em outras
palavras, as Escrituras nã o falham porque devem ser usadas, no
respectivo contexto, para nos enriquecer no conhecimento de quem
é Jesus Cristo. Ele é aquele que é um com o Pai; é o Filho perfeito de
Deus, aquele a quem Deus separou e enviou a este mundo; ele é
aquele que foi para a cruz e ressuscitou para ser glorificado. 
Mas nã o apenas a Bíblia propriamente dita nos dá testemunho de
quem é Jesus; o pró prio Jesus e suas obras testificam quem ele é.
Assim, existem três testemunhos que apontam para quem Jesus é: a
Bíblia é testemunho, as obras de Jesus sã o testemunho e os
pró prios ensinamentos de Jesus sã o testemunho.
Se nã o faço as obras de meu Pai, nã o me acrediteis; mas, se faço, e
nã o me credes, crede nas obras; para que possais saber e
compreender que o Pai está em mim, e eu estou no Pai.
(Joã o 10.37–38)
E, quando chegamos aos versículos 40 e 41, podemos nos perguntar
sobre a razã o pela qual Joã o Batista – que pregou sobre o Cordeiro
que tira o pecado do mundo e foi executado por Herodes – foi
lembrado disso e volta para o lugar onde ele costumava pregar. O
fato é que Joã o Batista foi uma das testemunhas fiéis de Jesus. E,
apó s tudo o que foi cumprido, Joã o e os discípulos entenderam e
concluíram que, apesar de Joã o Batista nã o ter enviado nenhum
sinal, tudo o que ele disse a respeito de Jesus era verdadeiro:
Novamente, se retirou para além do Jordã o, para o lugar onde Joã o
batizava no princípio; e ali permaneceu. E iam muitos ter com ele e
diziam: Realmente, Joã o nã o fez nenhum sinal, porém tudo quanto
disse a respeito deste era verdade. E muitos ali creram nele.
(Joã o 10.39–41)
Assim, temos o testemunho dos sinais feitos por Jesus , o
testemunho das palavras ditas por Jesus , o testemunho de João
Batista a respeito de Jesus e também o testemunho das
Escrituras apontando para quem Jesus é . As Escrituras sã o
testemunho a respeito da verdade.
Alguma vez você pensou a respeito do que gostaria que fosse escrito
em sua lá pide apó s a sua morte? Talvez pelo fato de eu já ser velho,
já pensei a esse respeito. E nã o consigo pensar em um texto melhor
do que aquele que foi escrito a respeito de Joã o Batista no final de
sua vida. Eu gostaria que a mesma coisa fosse escrita a meu
respeito: D. A. Carson não fez nenhum milagre, mas tudo o que disse a
respeito de Jesus era verdadeiro. Querer isso nã o me faz melhor do
que ninguém, pois esse é o epitá fio que todos nó s deveríamos
desejar ter, o que todos nó s deveríamos buscar: sermos fiéis a
Cristo. 
Por exemplo, na lá pide de uma esposa, poderia ser inscrito que ela
nã o foi rica, nem famosa ou estudiosa; nã o foi nenhuma engenheira
em uma empresa bem-sucedida, mas tudo o que disse a respeito de
Jesus era verdadeiro. Perceba que isso é algo que todos nó s devemos
buscar. Da mesma maneira, todos os testemunhos encontrados na
Bíblia nã o apontam para si mesmos, mas para Jesus Cristo. E é por
isso que nã o deveríamos terminar a leitura de mais um livro sem
nos darmos conta da necessidade urgente de crescermos no
conhecimento das Escrituras . Porque, no final de nossas vidas,
nada é mais importante do que tudo o que dissemos a respeito de
Jesus Cristo.

Oração conclusiva
“Agradecemos ao Senhor por nos entregar a sua Palavra.
Agradecemos porque as Escrituras nã o falham. Tua Palavra é tã o
verdadeira quanto o Senhor mesmo é verdadeiro, apontando, de
forma resoluta, para o Senhor Jesus Cristo. Clamamos por clareza
ampla e imaginaçã o com fé para entender e crer em tudo que dizem
os testemunhos reais e verdadeiros a respeito de Cristo.
Acreditamos que algumas pessoas que estã o lendo estas palavras
ainda nã o conhecem pessoalmente o Senhor Jesus. Por essa razã o,
pedimos ao Pai que abra os olhos desses irmã os, para que
enxerguem, por meio da Escritura, que Jesus é verdadeiramente o
Senhor, aquele que veio para dar a pró pria vida em sacrifício por seu
povo. Ele morreu e ressuscitou para que fô ssemos reconciliados
com o Senhor. Imploramos que o Senhor trabalhe com seu Espírito
Santo naqueles que ainda nã o conseguem ver com os pró prios olhos
da fé, para que, onde estiverem, clamem: “Senhor, eu creio, ajude-me
na minha incredulidade”. Senhor, traga a salvaçã o para aqueles que
foram alcançados por este livro. Assim, oramos em nome do Senhor
Jesus Cristo. Amém.”
- D. A. Carson

5   Este texto foi extraído da palestra proferida na Conferência para Consciência Cristã
em 2017 (Á udio nº 1.787).
SOBRE O AUTOR
D. A. CARSON
Donald A. Carson, é um dos fundadores e diretores do ministério
The Gospel Coalition, e professor pesquisador do Novo Testamento
na Trinity Evangelical Divinity School. É mestre em Divindade pelo
Central Baptist Seminary, em Toronto, e Ph.D em Novo Testamento
pela Universidade de Cambridge, na Inglaterra. Carson já escreveu e
editou mais de 50 livros. Vá rios deles publicados em português.
Table of Contents
Sumá rio
Agradecimentos
Apresentaçã o
Capítulo 1 - A prioridade nº 1
Capítulo 2 - A conformaçã o de sua mente: o Salmo 1
Capítulo 3 - Jesus Cristo é o cumprimento das Escrituras
Capítulo 4 - Aprendendo e Proclamando as Escrituras
Capítulo 5 - As Escrituras nã o podem ser deixadas de lado

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