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Marcelo de Andrade
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Renata de Paula Oliveira
Resumo: Este artigo tem o intuito desenvolver ideias relativas à cozinha de Tia Nastácia, importante
personagem do Sítio do Pica-Pau Amarelo, livro de Monteiro Lobato. Pretende ainda, e
com base em referida personagem, demonstrar a importância da Gastronomia nos textos
do autor infantil. Visando atingir os objetivos propostos, o presente texto terá todo o seu
desenvolvimento sustentado em bases teóricas de pesquisa. Pesquisas bibliográficas
sustentarão as ideias que aqui se desenham.
Abstract: This article has the intention to develop ideas relating to Aunt Nastasya’s kitchen, important
character of Sitio do Pica-Pau Amarelo, Monteiro Lobato’s book. It intends to, and based
on that character, demonstrate the importance of gastronomy in the children's author texts.
In order to achieve the proposed objectives, this text will be sustained development in
theoretical research bases. Bibliographical research will support theideas.
Keywords: Gastronomy; Children´s Literature; Sítio do Pica-Pau Amarelo; Tia Nastácia; Monteiro
Lobato.
1 – Introdução
1
Licenciado em Letras pela PUC-MG. Aluno do curso de Gastronomia da Faculdade Promove. E-mail:
olecrandrade@yahoo.com
2
Mestre em Teoria da Literatura pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e Professora de Português
Instrumental do curso de Gastronomia da Faculdade Promove de Belo Horizonte. E-mail:
ren.oliveira@terra.com.br.
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FOLHA DE SÃO PAULO. Chef estrelado diz que a gastronomia do Brasil está ‘pronta para a competição’.
Disponível em: http://www1.folha.uol.com.br/comida/2015/06/1648922-chef-estrelado-diz-que-gastronomia-do-
brasil-esta-pronta-para-a-competicao.shtml. Acessado em: 10. març. 2016.
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LOBATO, Monteiro. Sitio do Pica-Pau Amarelo. São Paulo: Editora Brasiliense,1982(?). 4v
5
LOBATO, Monteiro. Sitio do Pica-Pau Amarelo. São Paulo: Editora Brasiliense,1982(?). 4v
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LOBATO, Monteiro. Serões de Dona Benta. In: O Sítio do Pica-pau Amarelo. São Paulo: Brasiliense,
1982(?). v. 4, p. 1766.
E, como se pode ver por uma carta de 1903, enviada ao escritor mineiro
Godofredo Rangel, Lobato era adepto de um tira-gosto inusitado:
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COSTA, Ewrton Rubens Coelho. Confrafria Gastronômica do Barão de Gourmandise. 2011.
Blog. Disponível em: <http://confrariadobaraodegourmandise.blogspot.com.br/2011/04/mesa-com-
monteiro-lobato-resgate-da.html>. Acesso em: 25 maio 2016.
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LOBATO, Monteiro. Sitio do Pica-Pau Amarelo. São Paulo: Editora Brasiliense,1982(?). 4v
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A primeira adaptação do livro de Monteiro Lobato para a televisão aconteceu em 1952.
10
ISER, Wolfgang. The Act of Reading.The Johns Hopkins University Press.Baltimore e London, 1978
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CARVALHO, Bárbara Vasconcelos de. Literatura infantil: visão histórica e crítica. São Paulo: Global, 1989.
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Na obra literária, o bolinho de chuva é chamado de bolinho de frigideira
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LOBATO, Monteiro. O Minotauro. In: O Sítio do Pica-pau Amarelo. São Paulo: Brasiliense, 1982(?). v. 3.
Mas apesar de não dialogar tanto quanto outros personagens, Tia Nastácia
mostra‐se nas ações. Não é a toa que se salvou do Minotauro com seus
bolinhos; essa mulher fala com as mãos. (VELOSO, 2012, p. 89)
De toda forma, não se pode falar que Tia Nastácia não tenha cultura, que
ela não sabe nada. O conhecimento dela é empírico. Ela aprende com o dia-a-dia,
com as experiências. Este saber, deve-se lembrar, naquela época e ainda hoje, não
é muito valorizado. Não é que Tia Nastácia não saiba de nada; a questão é que ela
possui outro tipo de conhecimento. Ela domina a arte da culinária, sabe na prática, e
não nas ciências:
- (...) Até Tia Nastácia, que Emília chama de poço de ignorância, sabe um
monte de coisas científicas – mas só as sabe praticamente, sem conhecer
as razões teóricas que estão nos livros. Querem ver? E Dona Benta
chamou a preta.‐ Tia Nastácia, que é do pano com que você enxugou a
mesa ontem? ‐Está no varal, secando, sinhá.‐ Bem. Pode ir. A negra
retirou‐se com um resmungo e Dona Benta prosseguiu: ‐ Vê como sabe
coisas e como aplica as ciências? Sabe que se deixasse o pano amontoado
num canto, ele emboloraria. Sabe que para não estragar o pano tem que
mantê‐lo seco. Sabe que para secá‐lo tem de estendê‐lo no varal, ao
sol ou ao vento. Mas faz tudo isso sem conhecer as razões teóricas do
emboloramento e da evaporação — coisas que vocês também não sabem,
porque ainda não abriram nenhum compêndio de física. (LOBATO, 1982?,
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p.1745)
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LOBATO, Monteiro. Serões de Dona Benta. In: O Sítio do Pica-pau Amarelo. São Paulo: Brasiliense,
1982(?). v. 4, p.1745.
Aí está a receita que até tia Nastácia usa quando faz o que ela chama
“sabão de cinza”. – Ela não, vovó – protestou Narizinho. Toda gente na roça
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diz assim. (LOBATO, 1982?, p.1766)
substantivo feminino
1. Conjunto de conhecimentos e práticas relacionados com a cozinha, com
o arranjo das refeições, com a arte de saborear e apreciar as iguarias.
gastronomia molecular
Ciência que estuda os processos físicos e químicos que intervêm na
preparação de alimentos e que investiga técnicas de confecção.
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LOBATO, Monteiro. Serões de Dona Benta. In: O Sítio do Pica-pau Amarelo. São Paulo: Brasiliense,
1982(?). v. 4, p. 1766.
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PRIBERAM DICIONÁRIO. Disponível em: http://www.priberam.pt/dlpo/gastronomia. Acessado em: 21 de
mai. de 2016.
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DICIO. Dicionário Online de Língua Portuguesa. Disponível em: http://www.dicio.com.br/culinaria/.
Acessado em: 21 mai. de 2016.
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ALEMÃO, Márcio. Síndrome de Tia Nastácia. In: Carta Capital. Disponível em:
http://www.cartacapital.com.br/cultura/sindrome-de-tia-nastacia. Acessado em: 4 de abr. de 2016.
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CHAVES, Guta. Na cozinha com Monteiro Lobato. Disponível em: http://receitas.ig.com.br/na-cozinha-
com-monteiro-lobato/n1237767351850.html. Acessado em: 15 de abr. de 2016.
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MERCURI, Isabela. Inspirada na Tia Nastácia, mineira abre bistrô e pretende oferecer ‘happy hour’
ainda neste mês. Disponível em: http://www.olhardireto.com.br/conceito/noticias/exibir.asp?noticia=inspirada-
na-tia-nastacia-mineira-abre-bistro-e-pretende-oferecer-happy-hour-ainda-neste-mes&edt=8&id=9360. Acessado
em: 23 març. de 2016.
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LOBATO, Monteiro. O poço do Visconde. In: O Sítio do Pica-pau Amarelo. São Paulo: Brasiliense, 1982. v.
2, p. 688.
–Estrelas! Cometas!... Mas isto é demais, meus filhos! Nunca imaginei uma
coisa semelhante. E ainda há o anjinho. Onde anda ele? Todos saíram
correndo em procura do anjinho, que havia fugido dali e estava na cozinha
conversando com tia Nastácia e provando um bolinho de frigideira. A negra,
plantada diante dele, babava de gosto. – Este mundo está perdido! – dizia
ela – Quando eu havia de pensar que até os santos e os anjos haviam de
comer os bolos fritos? Credo.... Nisto a voz de Dona Benta soou lá na sala,
chamando-a. -Já vou, Sinhá! (LOBATO, 1982 (?), p. 684).
(...)
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Vários artigos e teses já foram feitos sobre o racismo na obra de Lobato.
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LOBATO, Monteiro. Histórias Diversas. In: O Sítio do Pica-pau Amarelo. São Paulo: Brasiliense, 1982. v.
2, p. 488.
Os alimentos feitos por Tia Nastácia em sua cozinha também têm outras
funções nas histórias de Lobato. Uma delas, por exemplo, seria a de desenrolar as
narrativas, apresentando um fim inesperado e capaz de fazer com que as
personagens sobrevivessem a tal episódio.
No episódio do Sítio em que tia Nastácia foi presa pelo Minotauro – figura
da mitologia grega, que tinha cabeça e cauda de touro em corpo de homem
e se alimentava de seres humanos – as crianças ficaram desesperadas
pensando que não conseguiriam salvá-la antes do Minotauro a devorar.
Mas o bicho foi pego pelo estômago. Como disse a Emília, ele até se
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esqueceu da mania de comer gente. (CHAVES, 2010) .
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UOL EDUCAÇÃO. Culinária Brasileira: conheças as comidas típicas do Brasil. In: Cultura Brasileira.
Disponível em: http://educacao.uol.com.br/disciplinas/cultura-brasileira/culinaria-brasileira-conheca-as-comidas-
tipicas-do-brasil.htm. Acessado em: 10 de març. de 2016.
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CHAVES, Guta. Na cozinha com Monteiro Lobato. Disponível em: http://receitas.ig.com.br/na-cozinha-
com-monteiro-lobato/n1237767351850.html. Acessado em: 15 de abr. de 2016.
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CHAVES, Guta. Na cozinha com Monteiro Lobato. Disponível em: http://receitas.ig.com.br/na-cozinha-
com-monteiro-lobato/n1237767351850.html. Acessado em: 15 de abr. de 2016.
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CONSTRUINDO SABERES NA EDUCAÇÃO INFANTIL. Livro de receitas de Dona Benta. Disponível
em: http://construindosaberesnaeducacaoinfantil.blogspot.com.br/2013/04/livro-de-receitas-da-dona-benta-
projeto.html. Acessado em: 15 de abr. de 2016.
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CHAVES, Guta. Na cozinha com Monteiro Lobato. Disponível em: http://receitas.ig.com.br/na-cozinha-
com-monteiro-lobato/n1237767351850.html. Acessado em: 15 de abr. de 2016.
Faz-se importante ressaltar ainda que, no texto de Lobato, comer não serve
apenas para matar a fome. Até mesmo os bárbaros conheciam o hábito de comer
juntos (FLANDRIM; MONTANARI, 1998).
Cassotti também mostra que comer é muito mais do que uma necessidade
fisiológica: “Além de nutrir o organismo, inscrevem-se em uma complexa teia de
significados e símbolos, isto é, na cultura”. (CASSOTTI, 2002, p. 9). O ato de comer
em família, por exemplo, tende a aproximar as relações interpessoais. “A
alimentação revela a estrutura da vida cotidiana, do seu núcleo mais íntimo e mais
compartilhado. A sociabilidade manifesta-se sempre na comida compartida”
(CARNEIRO; POULIN apud MOREIRA, 2010)33.
Tia Nastácia, figura eleita por Lobato para desenvolver as delícias do Sítio
do Pica-Pau Amarelo, possibilitava a recuperação de atitudes que remontam ao
início da época em que o homem vivia da caça e da coleta de alimentos.
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Doce de mamão com rapadura (nota do autor)
30
Broto de abóbora (nota do autor)
31
Quiabo (nota do autor)
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LOBATO, Monteiro. Histórias Diversas. In: O Sítio do Pica-pau Amarelo. São Paulo: Brasiliense, 1982. v.2,
p. 485
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MOREIRA, Sueli Aparecida. Alimentação e comensalidade: aspectos históricos e antropológicos.
Disponível em: http://cienciaecultura.bvs.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0009-67252010000400009.
Acessado em: 12 de abr. de 2016.
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MOREIRA, Sueli Aparecida. Alimentação e comensalidade: aspectos históricos e antropológicos.
Disponível em: http://cienciaecultura.bvs.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0009-67252010000400009.
Acessado em: 12 de abr. de 2016.
Afinal chegou o Ano Bom. Era costume de dona Benta festejar essa data
com um jantar onde reunia vários parentes e vizinhos. Tia Nastácia
caprichava. Frangos assados. Peru recheado. Leitão de forno. Pastéis,
doces e quanta coisa gostosa havia. Era assim sempre e foi assim naquele
ano” (LOBATO, 1982?, p.47)
3 – Considerações finais
REFERÊNCIAS
ALEMÃO, Márcio. Síndrome de Tia Nastácia. In: Carta Capital. Disponível em:
http://www.cartacapital.com.br/cultura/sindrome-de-tia-nastacia. Acessado em: 4 de
abr. de 2016.
CUNHA, Maria Antonieta Antunes. Literatura infantil Teoria e Prática. 18. Ed. São
Paulo: Editora Ática, 2006.
SILVA, Luciana Meire da. O Brasil rural nas obras de Monteiro Lobato nas
décadas de 1910 a 1930. 2013. 178 f. Tese (doutorado) - Universidade Estadual
Paulista Júlio de Mesquita Filho, Faculdade de Filosofia e Ciências de Marília, 2013.
Disponível em: <http://hdl.handle.net/11449/101018>.
SOUSA, Ivan Vale de. Monteiro Lobato e o Folclore: Uma Análise de O Sítio do
Pica Pau Amarelo como Comunidade de Valorização e Vivência das Manifestações
Tradicionais Culturais e Folclóricas. 2013. XVI Congresso Brasileiro de Folclore -
UFSC. Disponível em: <http://www.labpac.faed.udesc.br/monteiro lobato e o
folclore_ivan vale de sousa.pdf>. Acesso em: 30 abr. 2016.