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Gastronomia na Literatura Infantil:

a Cozinha da Tia Nastácia na Obra de Monteiro Lobato


Gastronomy in Children's Literature:
Tia Nastácia’s Kitchen in Monteiro Lobato Work

1
Marcelo de Andrade
2
Renata de Paula Oliveira

Resumo: Este artigo tem o intuito desenvolver ideias relativas à cozinha de Tia Nastácia, importante
personagem do Sítio do Pica-Pau Amarelo, livro de Monteiro Lobato. Pretende ainda, e
com base em referida personagem, demonstrar a importância da Gastronomia nos textos
do autor infantil. Visando atingir os objetivos propostos, o presente texto terá todo o seu
desenvolvimento sustentado em bases teóricas de pesquisa. Pesquisas bibliográficas
sustentarão as ideias que aqui se desenham.

Palavras-chave: Gastronomia; Literatura Infantil; Sítio do Pica-Pau Amarelo; Tia Nastácia;


Monteiro Lobato.

Abstract: This article has the intention to develop ideas relating to Aunt Nastasya’s kitchen, important
character of Sitio do Pica-Pau Amarelo, Monteiro Lobato’s book. It intends to, and based
on that character, demonstrate the importance of gastronomy in the children's author texts.
In order to achieve the proposed objectives, this text will be sustained development in
theoretical research bases. Bibliographical research will support theideas.

Keywords: Gastronomy; Children´s Literature; Sítio do Pica-Pau Amarelo; Tia Nastácia; Monteiro
Lobato.

1 – Introdução

A Gastronomia no Brasil há muito se difunde como importante parte do


cotidiano das pessoas: diferentes culturas fazem da culinária nacional um prato
cheio para aprofundamento de estudos e de aprendizagem 3.
E se no dia-a-dia a Gastronomia se apresenta como acessível àqueles
que a amam e a consideram como uma arte, natural seria pensar que, em algum
momento, a Literatura também seria parte desse processo de difusão da arte de
cozinhar: o texto que aqui se desenha pretende, entre tantas possibilidades, discutir
como a Gastronomia, na figura da personagem Tia Nastácia, constituiu/constitui

1
Licenciado em Letras pela PUC-MG. Aluno do curso de Gastronomia da Faculdade Promove. E-mail:
olecrandrade@yahoo.com
2
Mestre em Teoria da Literatura pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e Professora de Português
Instrumental do curso de Gastronomia da Faculdade Promove de Belo Horizonte. E-mail:
ren.oliveira@terra.com.br.
3
FOLHA DE SÃO PAULO. Chef estrelado diz que a gastronomia do Brasil está ‘pronta para a competição’.
Disponível em: http://www1.folha.uol.com.br/comida/2015/06/1648922-chef-estrelado-diz-que-gastronomia-do-
brasil-esta-pronta-para-a-competicao.shtml. Acessado em: 10. març. 2016.

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relevante papel dentro da Literatura infantil, especialmente – será Monteiro Lobato e
o seu Sítio do Pica-Pau Amarelo4 o que ajudará a decifrar/entender como a comida
tem o poder de aproximar pessoas, desenvolver o imaginário infantil e alimentar
corpos, mentes e corações nas histórias infantis.
Sousa (2013) resume o nascimento da grande obra de Monteiro Lobato:

Objetivando a formação de um novo público e os caminhos que a literatura


infantil emergia de seus ideais, (Lobato) resolve criar um lugar em que a
imaginação e as aventuras infantis tivessem espaço garantido e, para a
concretização desse sonhador, Lobato, audaciosamente resolver criar
através das letras um lugar onde a calmaria e as turbulências aventureiras
pudessem ser uma constante. Nascia, portanto, o Sítio do Pica Pau
Amarelo. (SOUSA, 2013, p. 3)

Pretende-se identificar nas histórias do Sítio do Pica-Pau Amarelo5


manifestações da gastronomia e o significado que as personagens dão a ela,
principalmente, aqueles relacionados à importância dos alimentos nas relações
pessoais. Além disso, buscar-se-á comparar os exemplos dados pela Tia Nastácia,
no livro de Lobato, com pesquisa bibliográfica sobre significados de termos pontuais
na/da gastronomia, como práticas de higiene e sustentabilidade.
No livro de Monteiro Lobato, deve-se ressaltar, que muitas são as
personagens que buscam dar vida ao texto. Entre elas, e como dito anteriormente,
está aquela que norteará o estudo em comento: Tia Nastácia, que exerce em O
Sítio do Pica-Pau Amarelo a função de cozinheira - e a alimentação será, no livro
de Lobato, importante estratégia para reforçar ou construir relações sociais, bem
como demostrar a cultura brasileira e seu folclore.
Extremamente atual, o autor já nos alertava, com a figura de Tia
Nastácia, para a necessidade de aplicar a sustentabilidade na cozinha: temas como
desperdício serão abordados pela importante cozinheira e pelos demais
personagens, como quando Dona Benta relata para as crianças a receita do sabão
de cinzas feito por Tia Nastácia, utilizando sebo e restos de gordura na história
Serões de Dona Benta6. (LOBATO, 1982?).
As histórias do Sítio do Pica-Pau Amarelo, de maneira geral,
apresentam diversos exemplos de uso intencional da alimentação com objetivos

4
LOBATO, Monteiro. Sitio do Pica-Pau Amarelo. São Paulo: Editora Brasiliense,1982(?). 4v
5
LOBATO, Monteiro. Sitio do Pica-Pau Amarelo. São Paulo: Editora Brasiliense,1982(?). 4v
6
LOBATO, Monteiro. Serões de Dona Benta. In: O Sítio do Pica-pau Amarelo. São Paulo: Brasiliense,
1982(?). v. 4, p. 1766.

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muito além da nutrição. Em muitas situações, os quitutes feitos pela Tia Nastácia,
por exemplo, serão mencionados na obra de Monteiro Lobato inclusive como
solução de problemas das histórias: depois de vencida alguma dificuldade, todos se
convidam para comerem bolinhos de chuva ou outra iguaria preparada por ela. Além
disso, muitas decisões também são tomadas pelos personagens à mesa.
Segundo Flandrin e Montanari (1998), é a comensalidade que distingue o
homem civilizado dos animais e dos bárbaros. Para os autores, o homem civilizado
busca transformar o momento da alimentação em “um ato carregado de forte
conteúdo social e de grande poder de comunicação (...)”. (FLANDRIN; MONTANARI,
1998, p. 108).
Acredita-se que, ao unir os textos do livro de Lobato em um único
trabalho, dar-se-á visão mais ampla à importância da gastronomia no
desenvolvimento do ser humano, através das situações vividas pelas suas
personagens. De tal forma, e tendo como base as considerações apresentadas, o
presente artigo debaterá o seguinte questionamento: qual a importância da
gastronomia de Tia Nastácia nas histórias do Sítio do Pica-Pau Amarelo, de
Monteiro Lobato? Para tanto, e diferentemente de muitos trabalhos na área de
Gastronomia, que enfatizam o seu desenvolvimento em análises sensoriais e
aplicações práticas, o presente artigo terá todo o seu desenvolvimento sustentado
em bases teóricas de pesquisa.
Assim, e a fim de se alcançar os objetivos propostos, como metodologia
será realizada pesquisa bibliográfica em literatura científica (artigos, teses,
dissertações etc.) que relacione a gastronomia e o Sítio do Pica-Pau Amarelo. O
livro de Monteiro Lobato será o ponto principal na investigação que se propõe.
A Metodologia cabe lembrar, é a parte do projeto responsável por dizer ao
leitor quais métodos de pesquisa serão utilizados para se atingir os objetivos
propostos. (LAKATOS, 1992). De tal forma, faz-se importante pontuar que o
presente texto trabalhará com a pesquisa exploratória, enfatizando a pesquisa
bibliográfica, principalmente: serão realizadas leituras de livros, artigos, periódicos e
materiais outros, impressos ou digitais, que possam contribuir de forma ativa na
discussão proposta. A pesquisa aplicada também direcionará a discussão que se
quer desenvolver, aprofundando conhecimentos e debatendo questões pontuais,
quando necessário.

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Espera-se que o desenvolvimento das ideias aqui apresentadas seja tão
prazeroso como um quitute da famosa cozinheira. Além disso, faz-se importante
lembrar que a discussão aqui proposta pode disseminar entre os discentes,
principalmente, a importância do estudo teórico na área eleita, pois é ela quem
permitirá o desenvolvimento de tantas e possíveis outras relações.

2 – Autor, personagens e a figura de Tia Nastácia em O Sítio do Pica-


Pau Amarelo

Monteiro Lobato nasceu em 1882 e morreu em 1948. Conceituado autor


foi o responsável por traduzir, através das suas histórias de ficção, muitos exemplos
da cultura brasileira do século passado, pontuando inclusive sobre a rica relação que
as pessoas desenvolviam com a alimentação, o que hoje vem sendo estudado e
explorado pela gastronomia.
Costa (2011) traça um perfil gastronômico de Monteiro Lobato, mostrando
como ele gostava dos alimentos simples e que acabaram sendo incluídos na
cozinha de Tia Nastácia:

Adepto do leitão pururuca, picadinho e feijoada, entre outros petiscos da


terra, (Lobato) apreciava a boa comida “mastigável”, que nutre e sustenta.
Biscoito de polvilho, sequilhos, curau e paçoca eram seus quitutes da roça
preferidos, mas não dispensava goiabada cascão, sagu, banana frita e bolo
de fubá. Sem falar na rapadura que ele picava e punha no bolso para ir
mastigando durante o dia.

E, como se pode ver por uma carta de 1903, enviada ao escritor mineiro
Godofredo Rangel, Lobato era adepto de um tira-gosto inusitado:

“Não és capaz, nunca, de adivinhar o que estou comendo. Estou comendo...


Tenho vergonha de dizer. Estou comendo um companheiro daquilo que
alimentava S. João no deserto: içá torrado!”. Perdendo o medo de parecer
estranho, ele divaga, exagerando: “Sabe, Rangel, que o içá torrado é o que
no Olimpo grego tinha o nome de ambrosia? Está diante de mim uma
latinha de içás torrados que me mandam de Taubaté. Nós, taubateanos,
somos comedores de içás”, referindo-se às saúvas caçadas no verão
quando saem em revoada. Para Lobato, içá era o caviar do Vale do
7
Paraíba, que ele degustava devagar enquanto escrevia. (COSTA, 2011)

7
COSTA, Ewrton Rubens Coelho. Confrafria Gastronômica do Barão de Gourmandise. 2011.
Blog. Disponível em: <http://confrariadobaraodegourmandise.blogspot.com.br/2011/04/mesa-com-
monteiro-lobato-resgate-da.html>. Acesso em: 25 maio 2016.

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De todas as suas obras, O Sítio do Pica-Pau Amarelo8 é a que mais se
destaca na literatura infantil: a diversidade das personagens do Sítio do Pica-Pau
Amarelo mostra a cultura do autor e a sua preocupação em retratar os diversos tipos
sociais de brasileiros (estereótipos?), como a senhora branca (Dona Benta), a órfã
(Narizinho), o menino inteligente (Pedrinho) e a negra de estimação (Tia Nastácia),
entre outros (LOBATO, 1982?, v.1).
As histórias de Lobato cabem ressaltar, ainda hoje povoam o imaginário
de crianças que estão em fase de alfabetização, e de adultos que aprofundam seus
estudos em ensinos superiores - prova disso foi a versão televisiva exibida em
meados de 20019. Além disso, O Sítio do Pica-Pau Amarelo, de forma
vanguardista, torna-se um modelo de sustentabilidade, uma vez que temas como
desperdício e distribuição de renda já seriam abordados pelas personagens.
Fensterseifer (2005), ao analisar a nova versão televisa do Sítio do
Pica-Pau Amarelo – lançada em 2001 –, apresenta as principais personagens
dividindo-as em cinco grupos: as crianças (Narizinho e Pedrinho), os bonecos
(Emília e Visconde de Sabugosa), as personagens do folclore (a Cuca e o Saci),
os animais (o Marquês de Rabicó, o Conselheiro, que é um burro falante, e o
Quindim, que é um rinoceronte domesticado) e os adultos (Dona Benta, Tio
Barnabé e Tia Nastácia). Cada personagem de Lobato parece ter sido
cuidadosamente delineada a fim de cumprir papeis sociais específicos e de
representar um imaginário capaz de representar a brasilidade de cada um.
Vejamos.
Para Fensterseifer (2005, p. 53-56), Narizinho, por exemplo, é a "neta de
Dona Benta. É uma menina de oito anos que mora no Sítio do Pica-Pau Amarelo
com a avó. É uma menina gentil, carinhosa e inteligente”. Pedrinho, por sua vez, é
um “ garoto de dez anos, também neto de Dona Benta, mas que mora com a mãe na
cidade e vai para o Sítio nas férias”.
No que diz respeito aos bonecos, Emília

é uma boneca de pano, recheada de macela – foi a porta-voz de Lobato


em momentos importantes e em assuntos mais polêmicos”. Já Visconde
de Sabugosa “é um boneco de sabugo de milho feito por Pedrinho, que
ficou esquecido na biblioteca entre os livros. Aprendeu tudo o que leu e
virou um sábio, uma verdadeira enciclopédia ambulante.

8
LOBATO, Monteiro. Sitio do Pica-Pau Amarelo. São Paulo: Editora Brasiliense,1982(?). 4v
9
A primeira adaptação do livro de Monteiro Lobato para a televisão aconteceu em 1952.

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(FENSTERSEIFER, 2005, p. 53-56).

As personagens do folclore brasileiro também têm participação essencial


no texto de Lobato, como a Cuca e o Saci, que vivem atormentando os moradores
do Sítio, principalmente a vida de Tia Nastácia e Tio Barnabé. Os animais, assim
como os adultos, também cumprem a sua função no texto de Lobato, uma vez
que, usando do artifício da prosopopeia, o autor dá voz a eles.
Dona Benta, deve-se enfatizar, é a dona do Sítio que servirá de
cenário para todas as histórias narradas; Tia Nastácia “já Foi escrava de Dona
Benta quando jovem, e é a empregada do Sítio, cozinheira de mão cheia: é uma
negra com setenta anos de idade”. (FENSTERSEIFER, 2005, p. 53-56).
Apesar do sucesso que a obra televisiva sempre alcançou, Romano
(2010) alerta para a diferença entre esta e a obra literária: muitos professores
conhecem a obra de Lobato através das imagens televisas, prejudicando o
entendimento da linguagem do autor.

Embora de boa qualidade, a obra televisiva não é a obra literária, e a rica


linguagem lobatiana, por exemplo, não pode ser recuperada pela imagem.
Muitos professores que se formaram naquela época tomaram contato com a
obra de Lobato apenas pela linguagem da televisão e quase nunca tiveram
em mãos o texto propriamente dito. Ao levarem Lobato para a sala de aula,
quando isso acontece, recordam-se apenas das imagens e não das
experiências vivenciadas com o texto. Assim ocorre também com as
gerações seguintes a desses profissionais: muito pouco conhecem sobre o
lúdico presente nos textos infantis de Monteiro Lobato. O professor precisa
conscientizar-se de que os textos desse autor faziam parte de um projeto
maior que era o de ‘ampliar o universo cultural dos seus leitores’.
(ROMANO, 2010, p. 213-214).

Segundo Wolfgang Iser, citado por Bárbara Necyk,

[...] o texto literário é por essência um texto com ‘vazios’ ou ‘intervalos’ a


serem preenchidas pelo leitor, segundo o que ele é, ou seja, segundo seu
repertório constituído da vida social, cultural e comunitária. Não existem
verdades estabelecidas pelo autor e a produção de sentidos é uma
10
construção efetuada entre o texto e o leitor. (ISER apud NECYK, 1978)

Nas histórias do Sítio do Pica-Pau Amarelo, o leitor é convidado a


preencher os vazios citados acima. As crianças, seja pela inocência, seja pela
criatividade, constroem um mundo cheio de aventuras e fantasias. Não diferente

10
ISER, Wolfgang. The Act of Reading.The Johns Hopkins University Press.Baltimore e London, 1978

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disso, e após citar várias de suas personagens moradoras do Sítio, a figura da Tia
Nastácia é apresentada por Lobato da seguinte forma: “na casa ainda existem duas
pessoas – tia Nastácia, negra de estimação que carregou Lúcia em pequena, e
Emília, uma boneca de pano bastante desajeitada de corpo”. (LOBATO, 1982?, p.3).
Tia Nastácia, além de cozinheira da família, é aquela que também atende
a porta. Quando o Príncipe Escamado visita o Sítio com toda sua corte, em uma das
várias histórias de Lobato, apesar de todos estarem à mesa, Dona Benta grita para a
cozinha: “Nastácia, venha ver quem bate”. (LOBATO, 1982?, p. 64)
De tal maneira, faz-se impossível falar de Tia Nastácia sem citar sua
relação com a “Sinhá”: Dona Benta é a antítese da cozinheira. Detém o saber
erudito, o conhecimento científico e o poder matriarcal. Trata Tia Nastácia como a
uma amiga, mas o espaço destinado a ela, Tia Nastácia, é o espaço da cozinha.
Veloso (2012) traça um paralelo entre as duas personagens, entretanto dar-se-á
ênfase à descrição de Tia Nastácia. Santos (2007) descreve a relação de
dependência da cozinheira com a dona do Sítio:

(...) a dependência pessoal de Tia Nastácia em relação à Dona Benta,


constrói para ela uma ideia de pertencimento que se exprime numa
determinada dignidade que oferece alusão ao estatuto de indivíduo livre na
ordem burguesa moderna em que o Brasil queria inserir-se. (SANTOS,
2007, p.255)

Para Veloso (2012), Dona Benta não é o paradigma da mulher do interior.


Ela comanda o Sítio do Pica-Pau Amarelo como uma mulher de negócios. Não fica
apenas fazendo tricô. Incentiva e até participa de muitas das aventuras dos netos.
Ela é adepta de novidades, o que torna possível, por exemplo, a chegada de um
forno de micro-ondas e a internet na última versão levada à televisão.
Enquanto Dona Benta é o repositório do conhecimento erudito na
metáfora do Brasil que Lobato faz com o Sítio do Pica-Pau Amarelo, Tia Nastácia
representa o povo, é a detentora da sabedoria popular (VELOSO, 2012).

Pedrinho, na varanda, lia um jornal. De repente parou, e disse a Emília, que


andava rondando por ali: __ Vá perguntar a vovó o que quer dizer folclore.
__ Vá? Dobre a língua. Eu só faço coisas quando me pedem, por favor.
Pedrinho, que estava com preguiça de levantar-se, cedeu à existência da
boneca. __ Emilinha do coração – disse ele – faça-me o maravilhoso favor
de ir perguntar à vovó que coisa significa a palavra folclore, sim, tetéia? __
Dona Bento disse que folk quer dizer gente, povo; lore quer dizer sabedoria,

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ciência. Folclore são as coisas que o povo sabe por boca, de um contar
para o outro, de pais a filhos – os contos, as histórias, as anedotas, as
superstições, as bobagens, a sabedoria popular, etc., e tal. Por que
pergunta isso, Pedrinho? O menino calou-se. Estava pensativo, com os
olhos lá longe. Depois disse: __ Uma ideia que eu tive. Tia Nastácia é o
povo. Tudo que o povo sabe e vai contando, de um para o outro, ela deve
saber. Estou com o plano de espremer tia Nastácia para tirar o leite do
folclore que há nela. (LOBATO, 1982?, p. 513).

Santos (2007) apresenta também o Tio Barnabé como análogo à Tia


Nastácia. Ambos são “representantes do ‘trabalho livre’ no Brasil dos anos 20 do
século passado”. (SANTOS, 2007, p. 249). São descendentes de escravos e
dependem da troca de favores entre eles e Dona Benta. Tia Nastácia não tem
salário, mas tem moradia, alimentação, vestimenta e a simpatia de todos na casa.
Já Carvalho11 (1989, apud SOUSA, 2013) mostra os dois personagens
negros como aqueles que conheciam e divulgavam o folclore:

Tia Nastácia, folclórica de preta velha, cuja ignorância, pura e ingênua, é


vivida na plenitude de suas superstições, herança dessa boa raça negra,
representa uma personagem também imprescindível à obra. O tio Barnabé
com a tia Nastácia formam ambos os canais humanos do Folclore na obra
lobatiana. (CARVALHO, 1989, p. 157)

Veloso (2012) mostra que “Tia Nastácia é representada como uma


personagem muito querida pelos leitores das aventuras do Sítio, muitos sonham em
provar seus bolinhos e pipocas”. (VELOSO, 2012, p. 2980). O bolinho de chuva 12 é
muito apreciado, a ponto de o próprio Lobato mencionar no texto o envio de cartas
para Dona Benta pedindo a receita da iguaria:

‐ Pois é — disse Dona Benta — a razão da nossa viagem a estes séculos


foi uma razão ao mesmo tempo sentimental e culinária: a procura de Tia
Nastácia, que é nossa amiga e nossa cozinheira. E que cozinheira! Como
sabe manejar o violino do “gostoso” e tirar dele mil harmonias! O mais
simples guizado, um picadinho com batatas, um virado de feijão com
torresmos, um vatapá, tudo, enfim que sai de suas panelas, está para o que
chamamos comida, como os mármores ali dos Senhores Fídias e Policleto
estão para as esculturas comuns. Perfeitas obras‐primas.

‐ E os bolinhos, vovó? — lembrou a menina do outro lado da mesa. Os


bolinhos de tia Nastácia já estão famosos no Brasil inteiro. Quantas cartas a
senhora não recebe das crianças, pedindo a receita dos bolinhos de tia
13
Nastácia? (LOBATO, 1982?, p. 1282)

11
CARVALHO, Bárbara Vasconcelos de. Literatura infantil: visão histórica e crítica. São Paulo: Global, 1989.
12
Na obra literária, o bolinho de chuva é chamado de bolinho de frigideira
13
LOBATO, Monteiro. O Minotauro. In: O Sítio do Pica-pau Amarelo. São Paulo: Brasiliense, 1982(?). v. 3.

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Para um leitor mais desavisado, pode até parecer que a cozinheira tem
pouco conhecimento, e só tem uma fala em virtude das várias vezes que ela repete
a interjeição “Credo”:

Mas apesar de não dialogar tanto quanto outros personagens, Tia Nastácia
mostra‐se nas ações. Não é a toa que se salvou do Minotauro com seus
bolinhos; essa mulher fala com as mãos. (VELOSO, 2012, p. 89)

De toda forma, não se pode falar que Tia Nastácia não tenha cultura, que
ela não sabe nada. O conhecimento dela é empírico. Ela aprende com o dia-a-dia,
com as experiências. Este saber, deve-se lembrar, naquela época e ainda hoje, não
é muito valorizado. Não é que Tia Nastácia não saiba de nada; a questão é que ela
possui outro tipo de conhecimento. Ela domina a arte da culinária, sabe na prática, e
não nas ciências:

- (...) Até Tia Nastácia, que Emília chama de poço de ignorância, sabe um
monte de coisas científicas – mas só as sabe praticamente, sem conhecer
as razões teóricas que estão nos livros. Querem ver? E Dona Benta
chamou a preta.‐ Tia Nastácia, que é do pano com que você enxugou a
mesa ontem? ‐Está no varal, secando, sinhá.‐ Bem. Pode ir. A negra
retirou‐se com um resmungo e Dona Benta prosseguiu: ‐ Vê como sabe
coisas e como aplica as ciências? Sabe que se deixasse o pano amontoado
num canto, ele emboloraria. Sabe que para não estragar o pano tem que
mantê‐lo seco. Sabe que para secá‐lo tem de estendê‐lo no varal, ao
sol ou ao vento. Mas faz tudo isso sem conhecer as razões teóricas do
emboloramento e da evaporação — coisas que vocês também não sabem,
porque ainda não abriram nenhum compêndio de física. (LOBATO, 1982?,
14
p.1745)

Embora despida de conhecimentos formais, percebe-se, no trecho acima,


que Tia Nastácia já dominava algo que atualmente é matéria de estudo no curso de
Gastronomia: Higiene e Manipulação de Alimentos. Mesmo sem ter o conhecimento
científico, Tia Nastácia sabe como limpar um frango, como manter o pano seco para
não criar bactérias, como fazer sabão com restos de gordura, práticas importantes
na disciplina supracitada.

Azeite e água brigaram

14
LOBATO, Monteiro. Serões de Dona Benta. In: O Sítio do Pica-pau Amarelo. São Paulo: Brasiliense,
1982(?). v. 4, p.1745.

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Certa vez numa vasilha
Vai tabefe, vem tapona,
Socovelho ali fervilha.
Eis , porém, que a separá-los
A potassa se apressou.
Todos três se combinaram,
O sabão daí dotou.

Aí está a receita que até tia Nastácia usa quando faz o que ela chama
“sabão de cinza”. – Ela não, vovó – protestou Narizinho. Toda gente na roça
15
diz assim. (LOBATO, 1982?, p.1766)

Na maioria das vezes em que Tia Nastácia é lembrada, tem-se sempre a


necessidade da comida ou de atender uma porta como pano de fundo das cenas.

2.1 - Gastronomia e Culinária

Para o adequado entendimento da discussão que será aprofundada,


acredita-se ser necessária a diferenciação entre duas palavras importantes no
universo da alimentação: Gastronomia e Culinária.
Segundo o Dicionário Priberam da Língua Portuguesa16, gastronomia é

substantivo feminino
1. Conjunto de conhecimentos e práticas relacionados com a cozinha, com
o arranjo das refeições, com a arte de saborear e apreciar as iguarias.

2. Arte ou modo de preparar os alimentos, típicos de determinada região ou


pessoa (ex.: gastronomia goesa). = COZINHA

gastronomia molecular
Ciência que estuda os processos físicos e químicos que intervêm na
preparação de alimentos e que investiga técnicas de confecção.

Para o Dicio, dicionário online de Língua Portuguesa17, culinária é

s.f. Arte e a ciência do preparo de alimentos para a mesa, em geral pelo


aquecimento, até modificar seu sabor, consistência, aparência e
composição química. O cozimento acentua o sabor dos alimentos e torna

15
LOBATO, Monteiro. Serões de Dona Benta. In: O Sítio do Pica-pau Amarelo. São Paulo: Brasiliense,
1982(?). v. 4, p. 1766.
16
PRIBERAM DICIONÁRIO. Disponível em: http://www.priberam.pt/dlpo/gastronomia. Acessado em: 21 de
mai. de 2016.
17
DICIO. Dicionário Online de Língua Portuguesa. Disponível em: http://www.dicio.com.br/culinaria/.
Acessado em: 21 mai. de 2016.

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sua aparência mais atraente. Torna também os alimentos mais fáceis de
serem digeridos. Devido à importância da alimentação para a saúde, a
culinária transformou-se numa ciência, e é ensinada em escolas e
faculdades.

Sugano pensa que o

conceito de gastronomia, como compreendido na atualidade, foi popularizado pela


Nouvelle Cuisine, um movimento que (...) pregava um visual artístico aos pratos,
porções reduzidas e sabores muitas vezes inusitados. Desde então, as pessoas
deixaram de se alimentar simplesmente para manterem-se vivas fisicamente, mas
também passaram a nutrir seu imaginário e emoção, graças a essa modalidade, a
gastronomia. (SUGANO, 2015, p.19)

Tendo como referências as diferenciações acima apresentadas, pode-se


pensar, portanto, que a Gastronomia seja um ramo mais amplo que o ramo da
culinária, capaz de abranger todos os materiais que serão utilizados na alimentação,
os aspectos culturais associados a cada material, as bebidas etc., ocupando-se mais
especificamente de técnicas de confecção dos alimentos. (ALIMENTAÇÃO
SAUDÁVEL, 2016).
A culinária, por sua vez, relaciona-se com a arte de cozinhar, preparar
alimentos, modificando seu sabor e, às vezes, a sua aparência também.
(ALIMENTAÇÃO SAUDÁVEL, 2016).
Uma curiosidade associada a tais distinções refere-se ao fato de haver
muitos cozinheiros negros, mas poucos chefs. (ALEMÃO, 2012). (E não estaria Tia
Nastácia na contramão de tal condição? Lobato também se tornaria precursor de tal
condição: Tia Nastácia era sim e também cozinheira de mão cheia, havendo,
entretanto, momentos em que poderia ser considerada uma grande chefe de
cozinha).
Ainda para Márcio Alemão (2012)18, há várias razões para que haja
menos negros na figura de chefs. Uma delas estaria relacionada aos dizeres de
Marcus Samuelsson, citado em seu artigo: “nos EUA, quando o pai consegue ter
condições de pagar uma boa escola ao filho, costuma dizer: ‘agora você não vai
precisar cozinhar e limpar”. Você vai ser doutor’.

18
ALEMÃO, Márcio. Síndrome de Tia Nastácia. In: Carta Capital. Disponível em:
http://www.cartacapital.com.br/cultura/sindrome-de-tia-nastacia. Acessado em: 4 de abr. de 2016.

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Embora possam ser classificadas e diferenciadas separadamente,
gastronomia e culinária apontam para o mesmo caminho: é o amor aos alimentos
que norteia o seu desenvolvimento. E não a cor da pele.

2.2 - Monteiro Lobato e a Cozinha de Tia Nastácia

Monteiro Lobato era conhecido por ser um nacionalista fervoroso. O autor


defendia arduamente as iguarias nacionais.

Nacionalista, Lobato criticava a elite pretensamente afrancesada e esnobe,


que fazia receitas com ingredientes brasileiros e as batizavam com termos
franceses. Defensor implacável das raízes, o escritor achava isso
19
desprezível. (CHAVES, 2016)

Quanto à tia Nastácia, Monteiro se refere a ela como

‘A melhor quituteira deste e de todos os mundos que existem. Ela cozinhou


até para São Jorge, na Lua. Quem comia uma vez os seus bolinhos não
podia nem sequer sentir o cheiro de bolos feitos por outras cozinheiras’. Era
assim que Monteiro Lobato definia a Tia Nastácia, cozinheira e quituteira de
seu sítio do Pica Pau Amarelo. Segundo o escritor, em entrevistas, a
personagem era baseada em ‘Anastácia’, cozinheira real que trabalhou em
sua casa. Ela também dá nome ao novo bistrô da Rua 24 de Outubro, em
20
Cuiabá. (MERCURI, 2015) .

Tia Nastácia até frequentava os outros ambientes da casa de Dona


Benta, mas seu lugar é bem definido: “a cozinha é o lugar onde Tia Nastácia
encontra seu limite social na maioria dos livros de Lobato. Ela apenas aparece nas
histórias quando as personagens brancas precisam de seus serviços”. (SANTOS,
2007, p. 250). Ela não consegue absorver o conhecimento científico, por exemplo,
quando é convidada por Pedrinho para assistir uma aula do Visconde de Sabugosa
sobre Geologia21. Durante os Serões de Dona Benta, outra história de Lobato,
ninguém a convida para participar. Ela fica em seu ambiente preparando a ‘merenda’
para todos os moradores e visitantes do Sítio do Pica-Pau Amarelo.

19
CHAVES, Guta. Na cozinha com Monteiro Lobato. Disponível em: http://receitas.ig.com.br/na-cozinha-
com-monteiro-lobato/n1237767351850.html. Acessado em: 15 de abr. de 2016.
20
MERCURI, Isabela. Inspirada na Tia Nastácia, mineira abre bistrô e pretende oferecer ‘happy hour’
ainda neste mês. Disponível em: http://www.olhardireto.com.br/conceito/noticias/exibir.asp?noticia=inspirada-
na-tia-nastacia-mineira-abre-bistro-e-pretende-oferecer-happy-hour-ainda-neste-mes&edt=8&id=9360. Acessado
em: 23 març. de 2016.
21
LOBATO, Monteiro. O poço do Visconde. In: O Sítio do Pica-pau Amarelo. São Paulo: Brasiliense, 1982. v.
2, p. 688.

Revista Pensar Gastronomia, v.3, n.1, abr. 2017


Na obra de Lobato, filmada e divulgada pela Televisão, a cozinha é
apresentada com mais intensidade, pois trata-se de uma adaptação. Havia, naquela
ocasião, maior preocupação em não enfatizar o racismo, dando maior importância à
cozinha e à figura de Tia Nastácia22.
Vários programas sobre culinária apareceram na televisão brasileira,
atualmente, inclusive, tendo, na maioria das vezes, a mulher como apresentadora.
Diferentemente da Gastronomia, na qual os grandes nomes são masculinos,
destacam-se na culinária nomes como Ana Maria Braga, vovó Palmirinha, Ofélia (e
sua maravilhosa cozinha) e Cátia Fonseca.
Tia Nastácia, assim como as apresentadoras acima citadas, também abre
seu ambiente para outros personagens, recebendo até ajuda, como pode ser visto
em Histórias Diversas23 (LOBATO, 1982 (?), p. 488): “Narizinho e Dona Benta, na
cozinha, ajudavam tia Nastácia a ‘pelar vagens’”.
Depois da Viagem ao Céu, outra história de Lobato, novo personagem é
introduzido na história, e Tia Nastácia fica simplesmente encantada com ele, que é
encontrado na cozinha:

–Estrelas! Cometas!... Mas isto é demais, meus filhos! Nunca imaginei uma
coisa semelhante. E ainda há o anjinho. Onde anda ele? Todos saíram
correndo em procura do anjinho, que havia fugido dali e estava na cozinha
conversando com tia Nastácia e provando um bolinho de frigideira. A negra,
plantada diante dele, babava de gosto. – Este mundo está perdido! – dizia
ela – Quando eu havia de pensar que até os santos e os anjos haviam de
comer os bolos fritos? Credo.... Nisto a voz de Dona Benta soou lá na sala,
chamando-a. -Já vou, Sinhá! (LOBATO, 1982 (?), p. 684).

Utilizando a figura e a cozinha de Tia Nastácia, Monteiro Lobato fez


questão ainda de priorizar as receitas brasileiras, ratificando que está na culinária
nacional as maiores delícias da gastronomia mundial. No livro de Lobato, seria a
canjiquinha, o quiabo com carne, a marmelada, a farofa de torresmo e o bolo de
fubá exemplos distintos de iguarias que podem ser encontradas em diferentes partes
do Brasil.

(...)

22
Vários artigos e teses já foram feitos sobre o racismo na obra de Lobato.
23
LOBATO, Monteiro. Histórias Diversas. In: O Sítio do Pica-pau Amarelo. São Paulo: Brasiliense, 1982. v.
2, p. 488.

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Em Minas Gerais, há diversos pratos com carne de porco, galinha ao molho
pardo ou com quiabo e angu, arroz carreteiro, arroz com galinha, feijão
tropeiro, tutu, couve, torresmo e farofa. O pão de queijo, de origem mineira,
hoje é encontrado em várias capitais do país. Sobremesas: bolo de fubá,
goiabada com queijo, doces em calda (cidra, abóbora, figo) e doce de leite.
O Rio de Janeiro contribui com o picadinho de carne com quiabo e o
24
camarão com chuchu. (CULTURA BRASILEIRA, 2016) .

Lobato também expressava na cozinha de Tia Nastácia comidas típicas


do interior, com as quais convivia e se deliciava.

A culinária acreditada por Monteiro Lobato - e transferida para suas obras -


tinha leitão à pururuca, torresmo e sobremesas de frutas como cidra,
banana, limão e marmelo (...). Peixes não aparecem muito no cardápio do
escritor, só os de rio. Claro, naquela época, era difícil chegar peixe do mar
no interior, por conta da conservação. Mas comida de milho tinha muita,
como pamonha e canjica, que formam aqueles pratos caipiras de sítio.
25
(CHAVES, 2010) .

Os alimentos feitos por Tia Nastácia em sua cozinha também têm outras
funções nas histórias de Lobato. Uma delas, por exemplo, seria a de desenrolar as
narrativas, apresentando um fim inesperado e capaz de fazer com que as
personagens sobrevivessem a tal episódio.

No episódio do Sítio em que tia Nastácia foi presa pelo Minotauro – figura
da mitologia grega, que tinha cabeça e cauda de touro em corpo de homem
e se alimentava de seres humanos – as crianças ficaram desesperadas
pensando que não conseguiriam salvá-la antes do Minotauro a devorar.
Mas o bicho foi pego pelo estômago. Como disse a Emília, ele até se
26
esqueceu da mania de comer gente. (CHAVES, 2010) .

Curiosamente, e embora seja Tia Nastácia a cozinheira de tantas delícias,


faz-se necessário lembrar que muitos livros de receitas e mesmo alguns projetos de
culinária levam o nome de Dona Benta.
Muitos momentos das histórias do Sítio do Pica-pau Amarelo ocorrem na
cozinha da casa da Dona Benta. Não são poucas as vezes em que delícias
são preparadas ou, então, servidas aos personagens das histórias. Assim,
surgiu a ideia de prepararmos algumas receitas com a turma e, a partir
destas, construir um livro de receitas.

24
UOL EDUCAÇÃO. Culinária Brasileira: conheças as comidas típicas do Brasil. In: Cultura Brasileira.
Disponível em: http://educacao.uol.com.br/disciplinas/cultura-brasileira/culinaria-brasileira-conheca-as-comidas-
tipicas-do-brasil.htm. Acessado em: 10 de març. de 2016.
25
CHAVES, Guta. Na cozinha com Monteiro Lobato. Disponível em: http://receitas.ig.com.br/na-cozinha-
com-monteiro-lobato/n1237767351850.html. Acessado em: 15 de abr. de 2016.
26
CHAVES, Guta. Na cozinha com Monteiro Lobato. Disponível em: http://receitas.ig.com.br/na-cozinha-
com-monteiro-lobato/n1237767351850.html. Acessado em: 15 de abr. de 2016.

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Além da questão que nos remete às histórias do sítio, com o preparo das
receitas, as crianças poderão desenvolver noções de medidas e
quantidades, pois irão ajudar a medir e contar os ingredientes.

A primeira receita que preparamos com a turma foi o famoso Bolinho de


27
chuva da Dona Benta, que está sempre presente nas histórias .

Muitos trabalhos acadêmicos trabalham a ideia de Dona Benta nomear os


livros ou mesmo muitas receitas por acreditarem que Lobato expressaria nela a
figura da mulher branca, detentora do poder. Necessário enfatizar, entretanto, que é
Tia Nastácia quem literalmente coloca a mão na massa.
A cozinha de Tia Nastácia, de tal forma, aparece na obra de Monteiro
Lobato como um espaço reservado para a prática de suas invenções culinárias, de
confraternização e como reflexo e imagem da experiência do autor com a brasilidade
dos alimentos por ele eleitos como os melhores. Deve-se enfatizar também que, em
muitas histórias de Lobato, todos se reúnem à mesa ao fim de um episódio para
discutir eventuais soluções para problemas que aparecem nas narrativas,
enfatizando a importância das relações interpessoais à mesa.

No Sítio do Pica-Pau Amarelo dona Benta, seus netos Narizinho e Pedrinho,


o Visconde de Sabugosa e a boneca Emília estão sempre à mesa em
momentos de confraternização ou, nas suas voltas das aventuras,
28
cansados, buscando conforto nos quitutes de tia Nastácia .

Como dito anteriormente, a cozinha brasileira está presente em toda a obra


de Lobato. Ainda que não tenha sido Tia Nastácia quem tenha feito a comida para
um jantar que Branca de Neve oferece ao Gato de Botas no Sítio do Pica-pau
Amarelo, vários pratos da cozinha nacional são citados no banquete.

Embaixo da ‘mangueira grande’ fora armada a mesa do banquete, com uma


alvíssima toalha de linho e a rica baixela de prata que os anões de Branca
tinham trazido do castelo, para fazer companhia ás porcelanas oferecidas
pelo Príncipe Amede. O jantar ia ser servido pelos anões – e já lá estavam
eles trazendo coisas e mais coisas, das mais gostosas. Bolinhos quase
iguais aos de Tia Nastácia. Pastéis de nata feitos pelas doceiras do céu.
Pirâmides de fios-de-ovos. Cocadas de fita, manjar branco, pé-de-moleque,
pudim de laranja, queijadinhas, papo-de-anjo, bom-bocados, canudinhos de

27
CONSTRUINDO SABERES NA EDUCAÇÃO INFANTIL. Livro de receitas de Dona Benta. Disponível
em: http://construindosaberesnaeducacaoinfantil.blogspot.com.br/2013/04/livro-de-receitas-da-dona-benta-
projeto.html. Acessado em: 15 de abr. de 2016.
28
CHAVES, Guta. Na cozinha com Monteiro Lobato. Disponível em: http://receitas.ig.com.br/na-cozinha-
com-monteiro-lobato/n1237767351850.html. Acessado em: 15 de abr. de 2016.

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29
cocada com ovo, casadinhos, furrundu , ameixa recheada, pipoca coberta,
baba-de-moça, doce de abóbora com coco, doce de figo, doce de cidra,
doce de pêssego, doce de leite e mais cem qualidades de doces. – E
salgados não havia? – Como não? Peru recheado, carne seca desfiada com
angu de farinha de milho, mandioquinha frita, lombo com farofa,
30
cambuquira , lambari frito, suã de porco com arroz, torresmos pururucas,
31
quingombô , frango de espeto, galinha ensopada com palmito, peixe com
pirão, leitoa assada, cuscuz, linguiça frita, omeletas, punchero argentino,
salada russa, pernil de porco... que é que não havia lá? (LOBATO, 1982, p.
32
485)

Faz-se importante ressaltar ainda que, no texto de Lobato, comer não serve
apenas para matar a fome. Até mesmo os bárbaros conheciam o hábito de comer
juntos (FLANDRIM; MONTANARI, 1998).
Cassotti também mostra que comer é muito mais do que uma necessidade
fisiológica: “Além de nutrir o organismo, inscrevem-se em uma complexa teia de
significados e símbolos, isto é, na cultura”. (CASSOTTI, 2002, p. 9). O ato de comer
em família, por exemplo, tende a aproximar as relações interpessoais. “A
alimentação revela a estrutura da vida cotidiana, do seu núcleo mais íntimo e mais
compartilhado. A sociabilidade manifesta-se sempre na comida compartida”
(CARNEIRO; POULIN apud MOREIRA, 2010)33.
Tia Nastácia, figura eleita por Lobato para desenvolver as delícias do Sítio
do Pica-Pau Amarelo, possibilitava a recuperação de atitudes que remontam ao
início da época em que o homem vivia da caça e da coleta de alimentos.

A história do homem se confunde com a história da alimentação. A partilha


de alimentos, também denominada comensalidade, é prática característica
do Homo sapiens, desde os tempos de caça e coleta. Há bem mais de 300
mil anos o domínio do fogo permitiu a cocção dos alimentos, modificando-os
do cru ao cozido e dando origem à cozinha, o primeiro laboratório do
34
homem. (MOREIRA, 2010)

29
Doce de mamão com rapadura (nota do autor)
30
Broto de abóbora (nota do autor)
31
Quiabo (nota do autor)
32
LOBATO, Monteiro. Histórias Diversas. In: O Sítio do Pica-pau Amarelo. São Paulo: Brasiliense, 1982. v.2,
p. 485
33
MOREIRA, Sueli Aparecida. Alimentação e comensalidade: aspectos históricos e antropológicos.
Disponível em: http://cienciaecultura.bvs.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0009-67252010000400009.
Acessado em: 12 de abr. de 2016.
34
MOREIRA, Sueli Aparecida. Alimentação e comensalidade: aspectos históricos e antropológicos.
Disponível em: http://cienciaecultura.bvs.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0009-67252010000400009.
Acessado em: 12 de abr. de 2016.

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Cultura. Gastronomia. Cultura e Gastronomia. Lobato, como visionário que
era ao estereotipar as suas personagens, retratando com elas distintas figuras
nacionais, deu vida ao enredo principalmente nos momentos em que a comida
permitia a ligação entre acontecimentos e as personagens. E se a Gastronomia é
também resultado de distintas culturas devidamente respeitadas e representadas em
pratos característicos, acredita-se ser possível dizer que as refeições realizadas
pelos personagens do Sítio do Pica-pau Amarelo tinham um caráter cultural
aflorado: eles aproveitavam o tempo juntos para discutirem ou tramarem a próxima
aventura.
No livro de Monteiro Lobato, assim como em diversas casas, chamar alguém
para a mesa é dizer que ela é bem-vinda. Pode-se constatar esta prática nas
histórias de Lobato, quando Dona Benta, por exemplo, convida parentes e vizinhos
para festejar a passagem de ano:

Afinal chegou o Ano Bom. Era costume de dona Benta festejar essa data
com um jantar onde reunia vários parentes e vizinhos. Tia Nastácia
caprichava. Frangos assados. Peru recheado. Leitão de forno. Pastéis,
doces e quanta coisa gostosa havia. Era assim sempre e foi assim naquele
ano” (LOBATO, 1982?, p.47)

Diante de tais ponderações, e considerando que receber bem alguém em


sua casa é recebê-la (na cozinha?) também com refeições gostosas, vê-se que
todas as pessoas convidadas ao Sítio do Pica-pau Amarelo já esperavam os
quitutes feitos por Tia Nastácia. Além disso, reuniam-se na cozinha para desfrutar
tais quitutes.

3 – Considerações finais

Ainda que a Gastronomia ou a Culinária em si não sejam o enredo principal


das histórias de Monteiro Lobato no Sítio do Pica-pau Amarelo, nota-se um desejo
de apresentar a diversidade da culinária brasileira através de Tia Nastácia: pratos
tipicamente nacionais eram a sua especialidade. O respeito à cultura nacional e a
ênfase aos pratos tipicamente brasileiros colocam a Gastronomia no texto de Lobato
em um local privilegiado, ressaltando a sua importância e o seu caráter mágico:
capaz de unir pessoas, resolver histórias, apresentar inovações e práticas de
sustentabilidade, acalmar corações, despertar paixões.

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Em sua obra, de maneira geral, e principalmente em O Sítio do Pica-Pau
Amarelo, Lobato usa os alimentos para desenvolver o imaginário infantil: qual
criança, ao ler sua obra, não se imagina em um pé de jabuticaba ou comendo os
deliciosos bolinhos de chuva? O autor utiliza-se ainda de sua memória de infância
no sítio do avô, o Barão de Tremembé, para nos deliciar com suas histórias.
Tia Nastácia representa o povo e toda sua cultura empírica. Representa a
Gastronomia arte, a cozinha da alma. Representa também a cozinha sem nome,
mas plena de sabores e inovações; rude porque vinda das mãos de uma senhora
negra e sem conhecimento formal, e rica porque inovadora e além de seu tempo.
Mesmo sem ter o conhecimento científico, Tia Nastácia emprega métodos de cocção
para melhor conservação dos alimentos, usa práticas de higiene para evitar
contaminações e, principalmente, cozinha com o coração.

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