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Universidade Estadual de Campinas - UNICAMP

João Vitor Valeriano (218982)


Lucas José Rodrigues Fialho Moreira (220801)
Pedro Guilherme Fioravanti (223299)
Rodrigo Narciso da Silva (224221)

PLANO DE AULA
“A Importância dos Alimentos nas Trocas Culturais da América Espanhola.”

CAMPINAS - SP
2019
Apresentação:
A aula a seguir tem como seu público alvo turmas do 2° ano do Ensino Médio de
Escolas Públicas. Tem como pretensão abordar uma pequena revisão do conteúdo de
América Espanhola, aspectos da economia e sistemática colonial, assim como características
culturais dos povos indígenas pré-colombianos, focando nas trocas culturais – a partir do
conceito de Intercâmbio Colombiano– a partir dos alimentos, mais especificamente o Milho e
a Batata. A aula será ministrada como última de uma série de aulas, que abordem os temas de
América pré-colombiana e América Espanhola Colonial. Será necessário uma aula de 50
minutos para a exposição do conteúdo, e outra aula de mesmo tempo para a aplicação da
avaliação.

Objetivos Gerais:
1. Retomar o conteúdo da conquista e da colonização da América espanhola e dos povos
pré-colombianos;
2. Historicizar alguns alimentos próprios da Américas a fim de gerar uma reflexão e
desnaturalização, por parte dos alunos, acerca da possibilidade de pensar história a
partir de elementos cotidianos, neste caso os alimentos;
3. Demonstrar como a mundialização – no sentido das trocas materiais a partir do século
XVI - foi responsável por estabelecer diversos elementos sociais e culturais que hoje
são bases de diversas sociedades, e fazem parte de seus cotidianos.

Objetivos Específicos:
1. Analisar, no âmbito da sala de aula, um trecho de Popol Vuh dentro da cosmologia
maia;
2. Refletir sobre a diversidade cultural presente nos povos pré-colombianos;
3. Estimular a análise iconográfica dos alunos e sua capacidade de correlacionar a
análise com os conteúdos passados em sala de aula;
4. Estimular a interpretação de texto com os alunos e a análise de fontes históricas -
especificamente de uma cultura diferente-, a fim de estimular seu pensamento crítico e
analítico.
Materiais:
1. Data show, lousa e giz;
2. Os alunos já devem ter estudado os conteúdos de América pré-colombiana e sistema
colonial na América Espanhola;
3. Projeção do trecho do ​Popol Vuh e das imagens da ​El primer nueva corónica y buen
gobierno ​– caso o professor não tenha acesso a este recurso, uma cópia impressa do
texto e das imagens para cada aluno;
4. Um exemplar de batata e um exemplar de espiga milho para estabelecer com os
alunos um elemento lúdico, para dar início à discussão;
5. Livro didático utilizado pelo professor e pelos alunos: ​SANTIAGO, Pedro;
CERQUEIRA, Célia; APARECIDA PONTES, Maria. ​Por Dentro da História.​ 4ª
edição. São Paulo: Escala Educacional, 2016.

Conteúdo/ Procedimentos didáticos:


1. Pequena revisão acerca do sistema colonial espanhol (5 minutos)
Fazer uma pequena introdução, no início da aula, lembrando e revisando as
dinâmicas do sistema colonial na América Espanhola, e apontar a importância
do comércio de metais preciosos (prata e ouro) como base desse sistema. Após
isso, apresentar a importância da agricultura como produto de exportação e de
uso interno, para a sustentação do sistema local.
2. Apresentar a difusão dos alimentos (batata e milho) nas trocas coloniais espanholas. (5
minutos)
Levando uma batata e uma espiga de milho para a sala de aula e os usando
como elemento lúdico. Introduzir o tema com os alunos a partir de perguntas
como: “ao pensar em milho e batata, a culinária de quais partes do mundo vêm
à cabeça?”; “vocês consideram a batata e o milho como alimentos de
importância mundial?”; “de que parte do mundo vocês acham que vieram as
batatas e os milhos?”. A partir das respostas dos alunos deve-se historicizar a
batata e o milho e assim demonstrar como o estudo da História pode
desnaturalizar alguns conceitos e estruturas mentais.
3. Discussão sobre a batata (10 minutos)
Utilizando a batata como exemplo, explicar como é possível, a partir dos
alimentos, compreender algumas das lógicas e das dinâmicas presentes nas
diversas trocas culturais que se deram nos contatos entre os povos colonizados
e os colonizadores.Apresentar a batata, hoje, como um alimento presente em
escala mundial, e que constitui a base de alimentação de diversos países da
Europa - como a República da Irlanda, o Reino Unido e a Alemanha-, mas que
chegou nesses países apenas após o contato do europeu com os nativos da
América. Destacando as mudanças culturais da alimentação nestes países
durante o processo. Dessa forma, trazendo para os alunos uma reflexão acerca
dos impactos que a colonização das Américas trouxe a nível mundial, e como
seus elementos podem ser encontrados até hoje, em situações que não
costumamos pensar, por serem parte já muito fixa de nosso cotidiano.
4. Exposição do trecho do Popol Vuh e discussão acerca do milho (15 minutos)
Fazer uma breve apresentação para os estudantes do significado do ​Popol Vuh
para a cosmologia Maia. Exibir o trecho selecionado do ​Popol Vuh1 para a
turma, acerca da criação dos homens a partir do milho, e lê-lo em conjunto.
Instigar o debate com os estudantes sobre a importância do milho para esta
cosmologia a partir da pergunta: “alguma vez vocês já pensaram que um
alimento poderia ter tanta importância para a religiosidade de um grupo? E
para a sua história?”. Deixar o debate ocorrer livremente.
5. Término da aula.(5 minutos)
Retomar, de forma breve, a reflexão sobre a importância, trazendo à tona
aspectos dos debates anteriores, de pensar história a partir de elementos
cotidianos, neste caso a comida. Explicar a avaliação para os alunos e após
encerrar a aula.
Obs: 5 - 10 minutos estão separados para possíveis implicações em sala de aula, como a
chamada e organização dos alunos.

Avaliação:
A avaliação será feita com base nos conteúdos passados e nas discussões feitas ao
longo do semestre sobre os temas América pré-colombiana e Sistema Colonial espanhol; os

1
O trecho selecionado vai do início do Quarto Canto (parte XLIII) até o término da parte XLVI.
alunos deverão analisar imagens presentes na obra El primer nueva crónica y buen gobierno
de Felipe Guaman Poma de Ayala - que serão passadas em aula - relacionando-as com os
temas citados acima junto com o professor. Ao final da atividade, os alunos deverão entregar
suas análises para o professor; espera-se que os alunos interpretem as imagens e consigam
encontrar nelas elementos que dialogam com o conteúdo e com as reflexões propostas nessa
aula e com os principais temas de América espanhola trabalhados durante o semestre, tais
quais: a importância dos alimentos nas dinâmicas culturais e sociais dos povos
pré-colombianos; qual era seu lugar na mentalidade dessas populações e quais elementos de
suas estruturas sociais podem ser identificadas através da produção desses alimentos. É
importante salientar, entretanto, que essa atividade não substituirá a prova bimestral, mas,
sim, constituirá um bônus de nota para os alunos.

Apêndice:

Trecho da fonte “​Popol Vuh​”:


Quarto Canto:
XLIII
E este é o começo da invenção do homem e da procura do que iria dentro do corpo do
homem. Então falaram Alom e Qaholom, Aquele que era Tzakol E Bitol , Tepev e Quq
Kumatz, como são chamados : “O amanhecer já começou; a criação já foi feita, e há
claramente um nutridor aparecendo , um sustentador, nascido da luz, engendrado pela luz. O
homem já apareceu, a população da superfície da Terra", eles disseram. E foi tudo reunido e
veio e foi, a sabedoria deles, na escuridão, no tempo escuro, enquanto eles criavam coisas e
dissolviam coisas. Eles pensaram; e meditaram lá assim veio sua sabedoria diretamente,
brilhante e clara. eles encontraram e preservaram o que veio a ser o corpo do homem. Isso
foi apenas um pouco mais tarde, não tinha ainda aparecido o Sol, a Lua e as Estrelas sobre as
cabeças de Tzakol e Bitol.
XLIV
De Pakil (A Fenda), de Kayal A (A Água Amarga), como era chamada, de lá vieram então
espigas de milho amarelo e espigas de milho branco.
XLV
E estes eram os nomes dos animais; eram estes os carregadores de comida: lince, coiote,
periquito, e corvo. São os quatro animais que trouxeram a notícia sobre as espigas de milho
amarelo e as espigas de milho branco. Lá foram eles então a Paxil, e lá eles descobriram a
comida com que se fez a carne das pessoas construídas, das pessoas modeladas. E água era
seu sangue; tornou-se o sangue do homem. Lá vieram Alom e Qahalom as espigas de milho,
e eles se alegraram então com a descoberta da maravilhosa montanha repleta de muitas e
muitas espigas de milho amarelo e espigas de milho branco, e também grande quantidade de
cacau e chocolate, muitas sapotas, asiminas, frutas-de-conde, nances, mata-sãos e mel. Havia
abundância de alimentos muito doces na cidade de Paxil, e em Kayal A, como era chamada.
Havia alimento lá de todos os tipos: pequenos vegetais. grandes vegetais, pequenas plantas e
grandes plantas. A estrada foi indicada pelos animais. E então o milho amarelo estava moído,
e o milho branco, e nove alqueires foram preparados por Xmucane. A comida se juntou com
a água para criar força, e se tornou a banha do homem e se transformou na sua gordura
quando preparada por Alom e Qahalom, Tepev e Quq Kumatz, como são chamados. E assim
eles puseram em palavras a criação, a modelagem de nossa primeira mãe e nosso pai. Apenas
de milho amarelo e milho branco eram seus corpos. Apenas de alimento eram as pernas e os
braços do homem. Aqueles que eram nosso primeiros pais eram os quatro homens originais.
Apenas de alimento no começo estavam feitos seus corpos.
XLVI
Existem os nomes dos primeiros homens que foram feitos, que foram modelados: o primeiro
homem era Balam Kitze (Jaguar Quiché), e o segundo foi , Balam Aqab (Jaguar Noite),e o
terceiro era Mahuqutah (Zero), e o quarto era Iq Balam , (Vento Jaguar) , e estes são os
nomes de nossas primeiras mães e pais. Apenas construídos, apenas modelados conta-se que
foram. Eles não tinham mãe; eles não tinham pai. Apenas Herois por si mesmos, foi-nos dito.
Nenhuma mulher os gerou; nem foram engendrados por Tzakol e Bitol, Alom e Qahalom.
Apenas poder, apenas magia, foi sua construção, sua modelação, por Tzakol e Bitol, Alom e
Quq Kumatz. E quando se assemelharam a homens, ele falaram e conversaram. eles viram e
ouviram. eles caminharam; agarraram as coisas; eles eram homens perfeitos. Eram belos.
Face máscula era sua aparência. Eles tiveram alento e existiram. E podiam ver também;
imediatamente sua visão começou. Eles começaram a ver; eles chegaram a conhecer tudo sob
o Céu, quando puderam ver. Repentinamente eles puderam olhar ao redor e ver ao redor No
Céu, na Terra. Foi só um instante antes que tudo pudesse ser visto. Eles não tiveram de
caminhar a princípio, a fim de olhar atentamente para o que estava sob o çéu: eles estavam
apenas lá e olharam. Sua compreensão se tornou grande. Seu olhar atravessou as árvores,
pedras, lagos, mares, montanhas, vales. De fato então eles foram os mais amados dos
homens, Balam Kitze , Balam Aqab , Mahuqutah e Iq Bala m.
Imagem I:
Imagem II:
Fontes e Bibliografia:
DE AYALA, Felipe Guaman Poma. ​El primer nueva corónica y buen gobierno.​ Disponível
em: <​http://www.biblioteca.org.ar/libros/211687.pdf​>. Acesso em: 30 maio 2019.

HERNÁNDEZ, José Antonio Serratos. ​El origen y la diversidad del maíz en el continente
americano.​ ​2012. Elaborado para o Greenpeace México. Disponível em:
<https://www.academia.edu/24496249/El_origen_y_la_diversidad_del_ma%C3%ADz_en_el
_continente_americano>. Acesso em: 30 maio 2019.

BREEN, Benjamin. “Meio ambiente e trocas atlânticas” in: ESGUERRA, J. Cañizares-;


FERNANDES, L. E. O.; MARTINS, M. Cristina Bohn (Orgs.). As Américas na Primeira
Modernidade​. 1ed. Curitiba: Editora Prismas, 2017, v. 1, pp. 245 - 276.

BROTHERSTON, Gordon; MEDEIROS, Sérgio (Orgs.). ​Popol Vuh.​ São Paulo: Iluminuras,
2007. pp. 262-271.

SANTIAGO, Pedro; CERQUEIRA, Célia; APARECIDA PONTES, Maria. ​Por Dentro da


História.​ 4ª edição. São Paulo: Escala Educacional, 2016.

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