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PROJETO ACESSOCIDADES
O
Projeto AcessoCidades é uma 2. DIAGNÓSTICO E CAPACITAÇÃO:
iniciativa da Frente Nacional de mapeamento do uso de dados abertos e
Prefeitos (Brasil), em parceria oficinas de capacitação do corpo técnico
com a Confederación de Fondos de para a geração, abertura, atualização e
Cooperación y Solidaridad (Espanha) e utilização de dados de transportes para o
Associazione Nazionale Comuni Italiani planejamento municipal;
(Itália), que visa qualificar as políticas de 3. PLANEJAMENTO E VIABILIZAÇÃO
mobilidade urbana em cidades brasileiras, DE BOAS PRÁTICAS: apoio à realização
espanholas e italianas. de diagnósticos locais de mobilidade e
O projeto é cofinanciado pela União Europeia acessibilidade urbana e à implementação de
e se articula por 4 eixos centrais: ações técnicas e políticas que promovam o
desenvolvimento urbano sustentável;
variedade de elementos naturais, sociais, culturais pessoas parte do reconhecimento de que cada uma delas vive
e históricos, que interagem constantemente a cidade de formas diferentes e de que tem o direito a vivê-la, o
entre si. Sendo assim, o espaço não é neutro, mas constrói e que significa inverter prioridades e conceber as cidades de forma
reproduz as relações de poder, privilégios e opressões que flexível e na escala humana.
estruturam cada sociedade e cada contexto urbano. Como
resultado, diferentes grupos sociais, como homens, mulheres Nesse sentido, um planejamento da mobilidade voltado às
e pessoas LGBTQIA+, por exemplo, têm diferentes usos, pessoas passa por entender e reconhecer as maneiras com que
acessos, controles e apropriações do espaço urbano, o que os gêneros se deslocam nas áreas urbanas, por desenvolver
se traduz em diferentes experiências e percepções da cidade e implementar estratégias e ações que tenham como foco a
e dos espaços públicos. construção de cidades mais humanas e igualitárias e por avaliar
os resultados obtidos, retroalimentando o ciclo da política pública.
Essa realidade diversa e complexa impõe a superação do olhar No caso das mulheres, apesar das especificidades de cada
dual do espaço e da mobilidade, com a remoção de barreiras contexto social e urbano, diversos estudos e pesquisas realizados
físicas e simbólicas e a consideração das pessoas no centro em diversas partes do mundo apontam para alguns elementos
do planejamento urbano e de transportes, incorporando suas comuns em relação à mobilidade urbana feminina1.
1. Outros relatórios técnicos que tratam da questão de gênero na mobilidade urbana podem ser encontrados a seguir:
• Gonzalez et al (2020) Por que ela se move? Um estudo da mobilidade das mulheres em cidades latino-americanas. World Bank
• Escalante et al (2021). Movilidad cotidiana con perspectiva de género.Guía Metodológica para la Planificación y el Diseño del Sistema de Movilidad y Transporte. CAF.
entre os gêneros, que delegaram às mulheres mais mais o transporte público coletivo do que os
atividades relacionadas ao cuidado da casa e da família, homens, inclusive em viagens intermodais. Isso
elas tendem a apresentar viagens mais curtas e pode ser relacionado com dois aspectos principais: uma
encadeadas, com diversos motivos ao longo do dia, proporção menor de mulheres têm cartas de condução
incluindo trabalho, saúde, compras, cuidado com os filhos ou ou carteiras de motorista e possuem automóveis
pessoas idosas, etc2. próprios; e, quando a família possui apenas um carro,
este tende a ser conduzido pelo homem, por decisões
• As mulheres são mais propensas a concentrar suas
viagens dentro do espaço de vizinhança, distribuindo o seu tomadas no âmbito da família4.
tempo em menos locais de atividades. Em especial, há maior
• Como consequência da falta de priorização à
fluxo de mulheres perto de hospitais, centros de concentração
mobilidade a pé e ao transporte público coletivo nas
de lojas e serviços e pontos de táxi, por exemplo3;
cidades, à baixa integração tarifária entre os sistemas
• Em razão destes diferentes motivos de viagem, as viagens e das diferenças salariais e de renda entre os gêneros,
realizadas pelas mulheres são mais distribuídas ao longo as mulheres dedicam mais tempo e mais recursos
do dia, sendo menos concentradas nos horários de pico; econômicos nos deslocamentos cotidianos.
2. Rosenbloom (2006) Understanding Women’s and Men’s Travel Patterns: The Research Challenge. Conference on Research on Women’s Issues in Transportation, Chicago/
Illinois, United States.
3. Gauvin et al (2020) Gender gaps in urban mobility. Humanit Soc Sci Commun 7, 11
4. Olivieri e Fageda (2021) Urban mobility with a focus on gender: The case of a middle-income Latin American city. Journal of Transport Geography 91
diferentes aspectos da mobilidade feminina pode ser analisada cidades, a troca de experiências é de extrema importância
e incorporada ao planejamento por meio de indicadores para a formulação e monitoramento de políticas públicas
obtidos por meio de dados de oferta e demanda e de pesquisas inteligentes e eficientes, que tenham como objetivo a
quantitativas, como pesquisas origem-destino ou mesmo promoção da mobilidade urbana sustentável e a redução de
pesquisas de satisfação (tipo survey), uma parte importante desigualdades sociais e urbanas.
pode apenas ser identificada por meio de pesquisas qualitativas,
que buscam aprofundar os conhecimentos a partir de um número Este documento sistematiza os principais desafios e ações
menor de pessoas. Técnicas de entrevistas semi-estruturadas, debatidas no quarto encontro de troca de experiências entre
grupos focais e oficinas participativas podem levar à identificação cidades, organizado pelo projeto AcessoCidades, que teve
de problemas e sentimentos não facilmente identificados em como tema a relação entre mobilidade urbana e gênero. O
pesquisas quantitativas e que são também fundamentais para o evento teve a participação de representantes de municípios
desenho de políticas públicas. latinoamericanos, africanos e europeus.
População metropolitana:
Maputo, porém ainda conta com serviços bastante precários e
Maputo
Incorporar a perspectiva
Área Metropolitana de Barcelona
feminina nos espaços de
A Área Metropolitana de Barcelona possui duas normativas
planejamento, gestão e operação internas destinadas a construir uma organização sem
dos sistemas de transporte desequilíbrios, desigualdades e discriminações de gênero,
de maneira direta ou indireta, entre seus funcionários.
O Plano de Igualdade de Gênero é estruturado por
9 objetivos e 27 ações voltados especialmente à
consolidação dos princípios de igualdade na organização,
ao aumento do número de mulheres em áreas em que
elas sejam sub representadas e ao aprimoramento dos
mecanismos de prevenção e atendimento aos casos de
assédio sexual e discriminação.
Maputo
O Caderno de Procedimentos Metropolitanos: promover a mobilidade com equidade
de gênero e diversidades (CPM 02) é voltado para os técnicos municipais e tem
como objetivo principal trazer a questão de gênero de forma transversal a todas
as fases dos projetos de mobilidade: planejamento, desenho, implementação e
avaliação, de forma a garantir a equidade de todas as pessoas.
Maputo
DESAFIO 4:
Com base no diagnóstico de que uma porcentagem significativa de casos
Adequar a infraestrutura de violência de gênero acontecia nos pontos de parada e terminais de
transporte coletivo, foi iniciado um processo de (re)desenho de pontos de
do espaço público e de parada que incorporassem a inclusão e o enfoque de gênero e diversidades.
mobilidade às necessidades O processo foi desenvolvido por meio das seguintes etapas:
durabilidade
No item de segurança em relação ao assédio, por
segurança viária exemplo, foram identificados os pontos de parada
que continham banheiros ou espaços escondidos,
segurança em relação ao assédio que poderiam propiciar mais casos de assédio.
DESTAQUE
nos municípios brasileiros
Existe uma grande diversidade em como o tema da integração com áreas rurais ou outros municípios.
mobilidade urbana está presente na gestão pública dos O padrão predominante no Brasil, em especial nas médias
municípios brasileiros. Dentre os 1.456 municípios brasileiros e grandes cidades, é que a mobilidade urbana seja tratada
majoritariamente urbanos, segundo o IBGE5, 18% possuem em um setor subordinado ou construído em conjunto com
uma secretaria ou um órgão da administração indireta outras políticas setoriais. Em especial, destacam-se as
responsáveis exclusivamente pela mobilidade urbana, 58% pastas de segurança pública ou obras públicas - herança
possuem um setor subordinado a outra secretaria ou em de uma visão da mobilidade urbana especialmente voltada
conjunto com outras políticas setoriais, e 25% não possuem ao trânsito e à segurança viária -, e planejamento ou
estrutura para o tema ou este é gerenciado por um setor desenvolvimento urbano.
subordinado diretamente à chefia do executivo6. Esse
Cidades acima de 500 mil habitantes e/ou capitais
padrão varia de acordo com o porte do município e com os
estaduais tendem a apresentar estruturas mais
desafios enfrentados em relação à mobilidade urbana.
consolidadas para a mobilidade urbana, com uma secretaria
Municípios de pequeno porte (até 50 mil habitantes), exclusiva e/ou órgão da administração indireta, como uma
geralmente não possuem estrutura ou possuem autarquia ou uma empresa pública. Como consequência,
estruturas bastante frágeis. Na grande maioria, não dispõem de mais recursos humanos e técnicos para
existem sistemas de transporte público e as maiores desenhar e implantar soluções de mobilidade urbana,
preocupações estão relacionadas ao sistema viário e à voltadas aos mais diversos modos de transporte.
DESTAQUE
mulheres ocupando a gerência da mobilidade urbana em
apenas 9,9% das cidades, considerando o mesmo recorte
populacional. A ocupação das mulheres nas secretarias e
órgãos gestores da mobilidade no âmbito municipal é maior
entre as capitais do que entre as pequenas e médias cidades, Pessoas responsáveis pelo órgão gestor de transporte
mas ainda bastante tímida em relação à paridade de gênero. nos municípios por gênero e raça
REALIZAÇÃO
COFINANCIAMENTO