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Neste módulo, vamos apresentar um método para estimarmos a variabilidade

associada ao sistema de medição. Como apresentado no módulo análise dos


sistemas de medição, a variabilidade é decomposta em dois termos:
Repetitividade - VE
Variação das medidas obtidas por um único operador, utilizando o mesmo
equipamento de medição e método, ao medir repetidas vezes uma mesma
grandeza de uma única peça (corpo de prova).

Reprodutibilidade - VO
Variação das médias obtidas por diferentes operadores utilizando o mesmo
equipamento de medição para medir repetidamente uma mesma grandeza de
uma única peça (corpo de prova).

RR
É a soma das variações devido à falta de Repetitividade e Reprodutibilidade.

Como em qualquer análise, o planejamento é fundamental para que façamos


uma boa análise da repetitivdade e reprodutibilidade:
1) A técnica a ser utilizada deve ser planejada. Por exemplo, tem alguns
sistemas de medição cujo o efeito da reprodutibilidade é desprezível, por
exemplo, para sistemas de medição automáticos no qual a única interferência
do operador é apertar um botão. Neste caso, planejamos o estudo sem a
reprodutibilidade (MSA, página 73).
2) O número de operadores, número de peças e o número de réplicas devem
ser determinados através dos critérios:

 Criticidade da medida, dimensões críticas requerem mais peças e/ou


réplicas;
 Quando lidamos com peças pesadas ou de difícil manuseio, utilizamos menos
peças e mais réplicas;
 Requisito do cliente;
3) Os operadores devem ser escolhidos entre todos os que utilizam o sistema
de medição;
4) A seleção das peças é crítica para uma boa análise do RR. Esta seleção
depende do propósito do sistema de medição e da disponibilidade de peças
que representem o processo de produção. Na página 73, o manual MSA
estabelece os seguintes propósitos:

 Controle de Produto: sistemas de medição cujo resultado e critério de


decisão determinam a conformidade ou não conformidade do produto com
relação às especificações (inspeção 100% ou por amostragem). Neste caso, as
peças selecionadas não precisam cobrir toda a faixa de variação do processo.
 Controle de Processo: sistemas de medição cujo resultado e critério de
decisão determinam a estabilidade e/ou capacidade do processo de
produção (CEP, Gráfico Farol, Melhoria Contínua). Neste caso, a
disponibilidade de peças que cobrem toda a faixa de variação do processo de
produção é fundamental. Muitas vezes, um estudo complementar para
determinar a capacidade do processo é requerido e recomendado para
avaliar a adequabilidade do sistema de medição para o controle do processo.
 O instrumento de medição deve ter uma discriminação de pelo menos um
décimo da tolerância ou variação do processo de produção.
 Assegurar que o método de medição está medindo a dimensão correta e que
o método é corretamente aplicado.
 

Variabilidade interna do produto


 Em muitos sistemas de medição, a variação interna (ou, inerente) das peças,
como ovalização, podem inflacionar nossa estimativa da repetitividade. A
variabilidade interna pode ser avaliada e separada da repetitividade. O
procedimento é mais complexo e consiste basicamente em:

 Obter a medida em vários pontos da peça;


 Trabalhar com os valores médios (ou valores máximo e/ou mínimo) para
cada peça;
 À partir destes experimentos estimar a variabilidade interna.
A variabilidade interna deve sempre ser objeto de estudo para a melhoria do
processo produtivo.

Índice RR:
A partir do propósito do sistema de medição (Controle de Produto ou Controle
de Processo), devemos estabelecer um índice para "facilitar" a intepretação
do RR:
Controle de Processo: Comparar a variabilidade do sistema de medição (RR)
com a variação esperada do processo de produção.
Controle de Produto: Comparar a variabilidade do sistema de medição (RR)
com a tolerância do produto.
Variabilidade entre partes (variabilidade do processo de produção) - VP
É a variação das medidas observada entre os itens produzidos pelo processo,
isto é, a variabilidade observada nas peças. Salientamos que a variabilidade
entre as partes pode ser obtida à partir de um estudo de capacidade do
processo ou à partir do próprio estudo para determinar o RR.
Variabilidade total
É a soma das variações devidas ao sistema de medição e ao processo.

ou

Com isso, podemos calcular o índice RR da seguinte forma:


Controle de Produto

Controle de Processo

 
Os critérios para análise do RR estão definido na página 78 do MSA. Para um
sistema de medição cujo propósito é analisar um processo, uma regra geral
para aceitar um sistema de medição é definido na seguinte tabela: 

RR Decisão Comentários
Sistema de medição
Recomendável, especialmente útil quando tentamos ordenar ou
Abaixo geralmente
classificar peças ou quando for requerido um controle apertado do
de 10% considerado
processo.
aceitável
A decisão deve ser baseada primeiro, por exemplo, na importância
Entre Poder ser aceito
da aplicação da medição, custo do dispositivo de medição, custo do
10% e para algumas
retrabalho ou reparo. O sistema de medição deve ser aprovado pelo
30% aplicações
cliente.
Todos os esforços devem ser tomados para melhorar o sistema de
medição. Esta condição pode ser resolvida pelo uso de uma
Acima Considerado
estratégia apropriada para a medição; por exemplo, utilizar a
de 30% inaceitável
média de diversas medições da mesma característica da mesma
peça a fim de reduzir a variabilidade da medida final.
 

Outra estatística que avalia a variabilidade de um sistema de medição é


número de cateorias distintas (NDC). Esta estatística indica o número de
categoria dentro do qual as medições do processo podem ser divididas. O NDC
deve ser maior ou igual a cinco e é aplicado somente para sistema de medição
cujo o propósito é analisar um processo (página 78 do MSA). O NDC é definido
por:

Cuidado: O uso do RR como único índice para avaliar um sistema de


medição não é aceitável.
Ao aplicar os critérios de aceitação como simples valores de corte
(thresholds), assumimos que as estatísticas são estimativas determinísticas da
variabilidade do sistema de medição (o que não são). Especificar os valores de
corte como critério pode levar a um comportamento inadequado. Por
exemplo, o fornecedor pode ser "criativo" ao encontrar um determinado valor
de RR, eliminando as principais fontes de variação (como a interação peça X
operador) ou simplesmente manipular o estudo.
Comentários: Infelizmente este é um fato que ocorre em muitas empresas no
Brasil. O cliente impõe um RR abaixo de 10% e o fornecedor manipula os
dados. NÃO DEVEMOS TER UM CRITÉRIO SIMPLES (ÚNICO) PARA TODOS OS
SISTEMAS DE MEDIÇÃO. Cada aplicação deve ser avaliada individualmente.
Quando analisamos a variação de um sistema de medição é importante olhar
para cada aplicação individualmente, para sabermos o que é requerido e
como esta medição será utilizada. Por exemplo: a precisão requerida da
medição de temperatura poder ser diferente para aplicações não similares.
Um termostato para sala pode regular a temperatura para conforto de um
humano e ser barato, porém tem um RR acima de 30%. Isto é aceitável para
esta aplicação. Mas, em um laboratório, no qual pequenas variações de
temperatura podem impactar nos resultados dos testes, uma medição e
controle de temperatura mais sofisticados devem ser requeridos.  Este
termostato será mais caro e também vamos requerer uma menor variabilidade
(menor valor de RR).  

Diretrizes para o estudo de RR - Replicável


 

Como em qualquer análise, um bom planejamento deve ser realizado para que
possamos conduzir o estudo de RR.  

1. Selecionar aleatoriamente operadores que utilizam e conhecem bem o


sistema de medição a ser estudado. Em geral recomendamos três
operadores. Se isto não for viável, utilizar pelo menos dois
operadores. Caso o operador não influencie na medição, não avalie a
reprodutibilidade.
2. Utilizar equipamentos de medição devidamente calibrados. 
3. Selecionar de 5 a 15 peças da produção cujas dimensões varram o
campo de variação do processo
o Se o sistema de medição for utilizado para processos com campos de
variação muito distintos, recomendamos realizar estudos RR distintos.
o Sempre que possível procure obter g = (número de peças) X (número de
operadores) maior que 15. Se isto não for possível, aumente o número
de leituras por peças.
4. Escolher o método de conduzir e analisar o estudo.
o Análise de Variância (ANOVA).
Para sistemas de medição no qual o resultado da medição é utilizado para
determinar a "conformidade" ou "não conformidade" do produto com respeito
a uma especificação as amostras selecionadas NÃO precisam abranger toda a
especificação. Além disso, a análise do RR deve ser realizada em relação à
tolerância. Neste caso, calculamos a porcentagem RR em relação à tolerância.
Para o caso em que o sistema de medição controla o processo, isto é, o
resultado da medição é utilizado para determinar a estabilidade, tendência e
variabilidade do processo, através de um estudo de CEP, devemos utilizar a
variação do processo para avaliar o RR. Neste caso, devemos escolher bem as
peças, pois estas devem abranger toda a faixa de variação do processo. Se for
possível, devemos realizar um estudo independente para estimar a
variabilidade do processo. Assim, calculamos a porcentagem RR em relação à
variabilidade total.
A seguir, descrevemos os passos para aplicarmos o método da ANOVA.
1o Passo

 Selecionar as peças de tal forma que representem a variação natural do


processo. Em geral, tomamos peças de lotes distintos de produção. Identificar
as peças.
2o Passo

 Selecionar os operadores de forma a envolver todos os turnos. Os operadores


devem ter treinamento para utilizar o sistema de medição. O número de
operadores vezes o número de peças deve ser maior que 15. Caso o operador
não influencie na medição, escolhemos apenas um operador e não avaliamos a
reprodutibilidade.
3o Passo

 Cada operador mede três ou mais vezes cada peça em ordem aleatória.
4o Passo

 Aleatorizar as medições.
 

5o Passo
 

Operado Medidas
Peça R
r 1 2 3
1     
2      
3      
4      
5      
A
6          
7          
8          
9          
10          
B 1      
2      
3      
4      
5      
6         
7         
8           
9           
10           
1      
2      
3      
4      
C 5      
6
7
8
9
10
Média       

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