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SINOPSE DO CASE: Termografia infravermelha e suas aplicações1

Millena Muniz Rodrigues Torres2


Gláucia Corrêa de Oliveira3

1. DESCRIÇÃO DO CASO

Em meados de 460 a.C. o tratado “Da Natureza do Homem” foi elaborado pelo
famoso médico grego Hipócrates, na qual afirmava que o corpo humano possuía quatro
humores distintos e ligados as estações do ano. Um ponto em comum entre esses quatro estados
possíveis seria a presença de particularidades térmicas. Dentre eles, o sague é descrito como
quente e úmido, predominantemente na primavera.
Apesar dos avanços científicos terem desmentido tal hipótese, atualmente sabe-se
que a constatação de temperatura é um condicionamento para a vida biótica, independente da
espécie. Nesse contexto, um indivíduo saudável apresenta uma temperatura média dentro do
intervalo de 36,1º C e 37,2º C e o desvio dessa escala, tanto para mais, quanto para menos, pode
significar determinados quadros patológicos.
A termografia infravermelha (TI) é uma técnica secular baseada na detecção de
raios de luz, invisíveis a olho nu, emitidos por qualquer objeto ou corpo previamente aquecido.
Trazendo para o contexto médico, a TI é um método de diagnóstico na qual um equipamento
especializado capta o infravermelho emitido através de sensores cuja principal função é
converter essa radiação em temperatura e por fim, permitir uma leitura dinâmica de imagens
projetadas com padrões térmicos. Com isso, os tópicos seguintes do presente trabalho buscam
aprofundar a discussão a respeito da temática proposta, evidenciando fundamentos, benefícios
e desvantagens da técnica em questão.

2. IDENTIFICAÇÃO E ANÁLISE

2.1 Descrição das decisões possíveis

1
Case apresentado à disciplina de Processos Biofísicos, do Centro Universitário Dom Bosco – UNDB.
2
Aluna do 4º período do curso de Biomedicina, do Centro Universitário Dom Bosco – UNDB.
3
Professora, Doutora, Orientadora, do Centro Universitário Dom Bosco – UNDB.
Ao longo dos séculos, inúmeras técnicas de detecção térmica foram propostas como
tentativa de quantificar a temperatura dos corpos. Por exemplo, em meados do século II d.C, o
estudioso Cláudio Galeno propôs, pela primeira vez, uma escala térmica baseadas nas sensações
de quente e frio no intervalo de 0º a 8º C. Já em 1709, o físico Gabriel Fahrenheit inventou o
termômetro cujo intervalo era de 0º a 100º C. A TI, por sua vez, se encaixa em uma dessas
técnicas, porém, não utiliza o contato direto e/ou invasivo como forma de quantificação térmica.
Na verdade, a termografia utiliza os comprimentos de onda da radiação, que,
teoricamente, são constantemente emitidas pelos corpos no geral como fonte de luz. Dessa
forma, ao captar essa luz, o equipamento à quantifica em temperatura e em seguida transforma-
a em representações colorimétricas e opticas, capazes de serem interpretadas pelos profissionais
de modo clínico e analítico, afim de diagnosticar determinadas condições médicas. Quando
assumimos que a temperatura de um corpo não é completamente constante e inalterada, a
termografia é capaz de detectar tanto pontos frios, quanto pontos aquecidos, podendo
representar, respectivamente, a diminuição ou aumento do fluxo sanguíneo na área.
Assumindo que qualquer tipo de patologia desencadeie respostas corporais
fisiologicamente visíveis, o enciclopedista Aulo Cornélio Celso registrou em sua obra os quatro
primeiros sinais cardinais da inflamação: dor, calor, rubor e tumor. Desses quatro, o calor diz
respeito do aumento do fluxo sanguíneo para a área afetada, facilitando a diapedese celular e
aumentando a quantidade de proteínas presentes ali. Quando isso ocorre, a TI pode detectar
precocemente uma inflamação previamente desconhecida ou constatar causas de desconfortos
articulares como as artrites e tendinopatias, visando um tratamento adequado e eficaz.
Contudo, apesar da alta tecnologia empregada nos equipamentos de termografia,
esta técnica ainda não é capaz de detectar pontos mais profundos dos tecidos ou dar relatórios
anatômicos mais concisos, sendo necessários outros tipos de exames de imagem
complementares para tal. Recomenda-se a utilização da TI como ferramenta profilática,
sobretudo na prevenção de possíveis lesões esportivas, já que as imagens proporcionam um
mapeamento das áreas de risco diretamente proporcional a carga de trabalho empregada.

2.2 Argumentos capazes de fundamentar cada decisão

A temperatura pode ser definida como uma grandeza física que descreve
propriedades termo sensíveis de algo ou alguém. Quando relacionada com a biologia, sabe-se
que a regulação da temperatura corporal é uma das características dos seres vivos, bem como a
capacidade de adaptação térmica frente aos constantes estímulos ambientais que são expostos,
como tentativa de alcançar a homeostasia ou equilíbrio corpóreo (OLIVEIRA, et al., 2016).
Dentre os conceitos que rondam a patologia clínica, destaca-se a doença como um
agente capaz de desencadear adaptações e respostas corporais, dependendo dos mecanismos
previamente ativados. Dessa forma, Pereira (2019), define a inflamação como “uma reação dos
tecidos a um agente agressor caracterizada morfologicamente pela saída de líquidos e de células
do sangue para o interstício” visando a execução profilática do sistema imunitário. Logo,
independentemente do tipo de lesão, a inflamação surge como resposta natural dos sistemas
corpóreos, desencadeando os cinco sinais cardinais da inflamação. É justamente por isso que
áreas que estão visivelmente inflamadas costumam apresentar vermelhidão, inchaço, dor e
aumento de temperatura. (FILHO; 2019).
Em 1500 d. C., Leonardo da Vinci sugeriu que, ao contrário do que se pensava na
época, a luz tratava-se de uma espécie de onda. Séculos mais tarde, tal teoria foi defendida pelo
físico Christiaam Huygens, que a batizou de modelo ondulatório de luz. Prosseguindo o
raciocínio, pode-se assumir que a onda de luz sofre refração ao ser refletida em determinadas
superfícies cuja velocidade de propagação difere-se do local de origem. Além disso, quando a
colorimetria é mencionada, fisicamente assume-se que o ponto de observação esteja sendo
iluminado pela cor branca e consequentemente essa luz sofra refração em diferentes feixes de
cores distintas (OLIVEIRA, et al., 2016).
No entanto, a visualização humana é limitada quando comparada com a quantidade
de comprimento de ondas existentes, sendo restrita às faixas de 400 a 750 nm cuja identificação
e percepção é feita pelos cones oculares. Tais estruturas são capazes de identificar diferentes
pigmentos de acordo com o intervalo de comprimento de onda. Dentre essas cores e números,
o vermelho se encaixa entre + 480 e + 750 nm. Já o infravermelho, agora imperceptível ao olho
humano, fica entre os intervalos de 0,75 a 1000 micrômetros (OLIVEIRA, et al.; CORTÊ;
HERNANDEZ, 2016).
Com base em tudo supracitado, a termografia infravermelha como meio diagnóstico
parte do princípio que um ser humano está passando por inúmeros processos metabólicos de
modo ininterrupto, sejam eles metabólicos, fisiológicos ou patológicos e com isso liberam
diferentes níveis de energia no comprimento de onda invisível ao olho humano, o
infravermelho. Nesse cenário, equipamentos automatizados são utilizados para captar essa luz
e quantifica-las em forma de calor, permitindo a visualização de diferentes níveis de irrigação
sanguínea em áreas distintas do corpo (CORTÊ; HERNANDEZ, 2016; SANTOS; ROCHA;
PÓVOAS, 2019).
Beneficamente, áreas com inflamação naturalmente são mais quentes que as
demais, permitindo assim a percepção de possíveis danos, sobretudo em tecidos mais
superficiais como a pele e articulações. No entanto, tal técnica limita-se a visualização intuitiva,
sendo impossível a avaliação anatômica do mesmo, além de não dar um diagnóstico preciso
para a problemática. Com isso, caso haja alertas durante a TI, recomenda-se a realização de
outros exames mais precisos e sensíveis para melhor avaliação (ROMÃO, et al., 2021).

2.3 Descrição dos critérios e valores contidos em cada decisão possível

2.3.1 Foram realizadas pesquisas sistemáticas em artigos de caráter científico publicados em


periódicos e livros de referências da área de biofísica acerca das novas tecnologias diagnósticas,
sobretudo a termografia infravermelha e suas aplicações.
2.3.2 Analisou-se as condições físicas, bioquímicas, metabólicas e fisiológicas que se
relacionam ao aumento ou diminuição na temperatura corporal, destacando os processos
inflamatórios cuja área afetada torna-se mais irrigada de sangue e consequentemente mais
aquecida.
2.3.3 Investigou-se as indicações clínicas para a realização do exame de termografia
infravermelha, bem como suas limitações anatômicas e precisão frente a baixa visualização
clínica.
REFERÊNCIAS

CORTÊ, A. C. R.; HERNANDEZ, A. J. Termografia médica infravermelha aplicada à


medicina do esporte. Rev. Bras. Med. Esporte, v. 22, n. 04, São Paulo, 2016. p. 315 – 319.
Disponível em: http://dx.doi.org/10.1590/1517-869220162204160783 Acesso em: 03. Mar.
2023.

FILHO, G. B. Bogliolo Patologia Geral. 6. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2019.
328 p.

OLIVEIRA, J. R. et al. Biofísica – para ciências biomédicas. 4. ed. Porto Alegre:


EDIPUCRS, 2016. 299 p.

PEREIRA, F. E. L.; FILHO, G. B. Introdução à patologia. In: Bogliolo Patologia Geral. 6. ed.
Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2019, capítulo 1. p. 03 -12.

ROMÃO, W., et al. A utilização da termografia infravermelha em atletas de endurance: uma


revisão sistemática. Rev. Motricidade, v. 17, n. 02, 2021, Rio de Janeiro. Disponível em:
https://doi.org/10.6063/motricidade.21116 . Acesso em: 05. mar. 2023.

SANTOS, C. F.; ROCHA, J. H. A.; PÓVOAS, Y. V. Utilização da termografia infravermelha


para detecção de focos de umidade em paredes internas de edificações. Ambiente
Construído, v. 19, n. 1, Porto Alegre, 2019. p. 105 – 127. Disponível em:
http://dx.doi.org/10.1590/s1678-86212019000100296 . Acesso em: 03. Mar. 2023.

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