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Indicações da termografia infravermelha no estudo da dor

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Marcos Brioschi Lin Yeng


Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo University of São Paulo
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Manoel Jacobsen Teixeira


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Indicações da termografia
infravermelha no estudo da dor
Unitermos: imagem infravermelha, termografia, termometria cutânea.
Uniterms: infrared imaging, thermography, cutaneous thermometry.

Marcos Leal Brioschi


Especialista em Medicina Legal. Pós-doutor em Neurologia HC/FMUSP. Professor convidado do Programa de
Pós-Graduação em Cirurgia pela Universidade Federal do Paraná (UFPR). Membro da Academia Americana de
Termologia. Membro Aspirante do Colégio Brasileiro de Radiologia e Diagnóstico por Imagem. Responsável pelo
diagnóstico por infravermelho do Hospital 9 de Julho (SP). Presidente da Sociedade Brasileira de Termologia.
Contato: infrared@infraredmed.org

Lin Tchia Yeng


Professora doutora. Médica fisiatra, responsável pelo Grupo de Dor do Instituto de Ortopedia e Traumatologia do
Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. Membro do Centro de Dor e Liga
de Dor do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo.

Manoel Jacobsen Teixeira


Diretor técnico da Divisão de Neurocirurgia Funcional do Instituto de Psiquiatria do HC/FMUSP. Responsável pelo

8 Centro de Dor do HC/FMUSP. Diretor da Liga de Dor da FMUSP e da Escola de Enfermagem da USP.

O comprometimento ético de tratar a dor obri- de onda do infravermelho longo, entre 7,5 e 13 µm.
ga investigação para determinar aquelas técnicas e Por tratar-se de um método que mensura on-
métodos que facilitarão diagnósticos e tratamentos das de radiação infravermelha, utiliza-se o termo
que sejam seguros e eficazes, ainda obriga a utili- hiper-radiação para indicar o aquecimento provo-
zação destes métodos na prática clínica. cado pelo aumento do fluxo sanguíneo local devi-
A termografia infravermelha (IR) é um exame do à hipoatividade neurovegetativa simpática va-
diagnóstico funcional que mensura a energia infra- somotora e hiporradiação no caso de resfriamento
vermelha emitida pelo corpo, demonstrando por por diminuição do fluxo sanguíneo ou hiperativi-
imagem de alta resolução a distribuição térmica da dade neurovegetativa simpática vasomotora. Ana-
superfície cutânea. O aparelho consiste de um lisa-se a distribuição cutânea de mudanças térmi-
radiômetro que capta as ondas infravermelhas cas (mapa) de até 0,07oC não discerníveis pela sen-
emitidas pelo corpo sem nenhum tipo de contato sibilidade humana.
ou radiação iônica. A energia emitida por unidade
de tempo aumenta à medida que a temperatura INDICAÇÃO GERAL
aumenta. Dessa forma se pode mensurar a tempe-
ratura a partir da energia emitida pela superfície O diagnóstico diferencial das dores crônicas
cutânea de forma totalmente segura, isto é, sem relacionadas aos tecidos moles é ainda um desafio.
contraindicação alguma. Do extremo da simulação ao frustrante dilema da
A energia irradiada pelo corpo depende da dor crônica sem diagnóstico, a documentação tem
emissividade de sua superfície. E o corpo humano sido baseada na, maioria das vezes, experiência
atinge valores maiores que 97,8% no comprimento clínica do profissional de saúde.

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Brioschi, M.L. et al.

Figura 1 - Paciente com SDRC em mão direita confirmado pela sequência de imagens após teste de estímulo frio. Notar
a hiper-radiação reativa em mão devido à inibição do reflexo vasoconstritor.

Estabelecer às causas relacionadas à dor crôni- mas imitam os de outras enfermidades. Uma das
ca costuma ficar na dependência, sobretudo, da principais indicações do IR são, portanto, o diag-
história do paciente e de completo exame físico. nóstico precoce e o diferencial da SDRC1.
No entanto, devido à subjetividade que cada paci- Nos primeiros estágios desse distúrbio neuro-
ente refere seus sintomas, nem sempre se identifi- vegetativo, a IR pode revelar precocemente súbi-
ca a etiologia do problema na avaliação clínica. O tas mudanças assimétricas de temperatura relacio-
não reconhecimento da efetiva causa geradora da nadas com a instabilidade vasomotora inicial, com
dor é responsável por numerosos diagnósticos er- sensibilidade 93% e especificidade de 89%, poden-
rôneos e insucessos terapêuticos, de sintomas do- do definir o bloqueio simpático mais corretamen-
lorosos crônicos, perda da produtividade e conse- te. Particularmente útil no diagnóstico diferencial
quente incapacidade biopsicossocial. Em virtude das condições com sinais e sintomas que mimetizam
disso, muitos doentes com dor crônica são consi- SDRC, como mononeuropatias periféricas, síndro-
derados simuladores, hipocondríacos e neuróticos, me pós-traumática, inflamação localizada e doen-
apresentando anormalidades psicossomáticas ou ça vascular (vasoespasmos).
transtornos psíquicos. Na SDRC tipo I aguda, o membro acometido 9
Cerca de 87% dos pacientes com dor crônica se apresenta hiporradiante, entretanto após o teste
não tem um substrato anatômico demonstrável por de estímulo ao frio, em que se mergulha o mem-
exames rotineiros de imagem que explique sua dor. bro sadio colateral em água a 10oC, ocorre vasodi-
Na maioria dos casos são disfunções do sistema latação imediata do membro comprometido devi-
neuro-osteomuscular, o que justifica o uso de ou- do aumento do fluxo sanguíneo (Figura 1). Eviden-
tros recursos diagnósticos, sobretudo funcionais, cia-se uma hiper-radiação no membro afetado de-
que possam auxiliar no estudo da dor e no direcio- vido à inibição do reflexo vasoconstritor com dife-
namento clínico e terapêutico desses pacientes. E renças maiores que 1oC. A inibição central da ativi-
nestes casos a imagem infravermelha deve ser utili- dade simpática produz diminuição na liberação de
zada. norepinefrina nestas terminações nervosas.
Já previsto na tabela da Associação Médica Brasi- Na SDRC tipo I crônica evolui com hiper-radi-
leira com o nome termometria cutânea (39.01.007-4), ação devido à vasodilatação do membro compro-
é solicitado na quantidade de 34 territórios para metido, sem preservação do reflexo vasoconstritor
avaliação que abranja toda região cervical e mem- após teste de estímulo ao frio. Há vasodilatação
bros superiores, 36 para lombossacral e membros axônica reflexa devido à inibição ou à perda com-
inferiores, 36 tronco e 28 cefálico1,2. pleta do reflexo vasoconstritor após teste de estí-
mulo frio do membro contralateral.
SÍNDROME DE DOR REGIONAL COMPLEXA Nestas duas situações se confirma o distúrbio,
(SDRC) corroborando tratamentos medicamentosos espe-
cíficos e até mesmo bloqueio de gânglio simpático.
A detecção precoce da SDRC é fundamental Já na síndrome de lesão pós-traumática ocasio-
para o sucesso do tratamento, embora a detecção nado por trauma agudo, apesar da assimetria e hi-
no estágio inicial seja difícil, pois os sinais e sinto- porradiação do membro afetado, esta diferente-

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infravermelha no estudo da dor

mente da SDRC persiste ou se agrava após teste SÍNDROMES MIOFASCIAIS


provocativo ao estímulo frio, devido à vasoconstri-
ção, pois há preservação nítida do reflexo vasocons- O diagnóstico da síndrome dolorosa miofascial
tritor. (SDM) depende, sobretudo, da história e do exa-
Na mononeuropatia de fibras C (excitação no- me físico. No entanto, devido à subjetividade que
ciceptiva aferente de fibras finas) produz tanto li- cada paciente refere seus sintomas e circunstânci-
beração ortodrômica quanto antidrômica de subs- as psicossociais, nem sempre se identifica a síndro-
tâncias vasodilatadoras nas terminações nervosas, me e especialmente todos os seus pontos gatilho
em especial SP e CGRP. Os efeitos vasodilatadores (PG) característicos num exame clínico. O exami-
induzem aumento da temperatura cutânea e, con- nador deve ser bem treinado e experiente na ava-
sequentemente, maior emissão infravermelha. A liação destes pacientes, pois a confiabilidade
hiper-radiação é independente da atividade sim- interexaminadores varia de 35% a 74%, tornando
pática e é localizada no território de inervação das imprescindível associação de métodos que aumen-
fibras C. Observa-se na IR, hiper-radiação limitada tem a sensibilidade clínica. Com 82% de sensibili-
ao território nervoso com preservação do reflexo dade e 74% de especificidade o IR auxilia na do-
vasoconstritor após teste de estímulo ao frio ou plan- cumentação objetiva por imagem da SDM e seus
tar difuso no caso do pé diabético. PG miofasciais, além de seu acompanhamento te-
Note que o teste da função autônoma em água rapêutico. Os PG sintomáticos aparecem como áre-
fria é útil na identificação dos pacientes com um as de projeção hiper-radiantes (hot spots) bem de-
componente mediado simpaticamente e que irá limitados, podendo estar ou não associados com
reagir ao bloqueio dos nervos simpáticos. Esses hiporradiação na zona de dor referida somática
pacientes que respondem ao teste da função autô- (Figura 2). Tanto com o tratamento medicamento-
10 noma em água fria e que caracteristicamente não so quanto bloqueio anestésico, mesoterapia ou
respondem ao bloqueio dos nervos simpáticos são acupuntura eles podem regredir2,3.
inclinados ao diagnóstico de dor simpaticamente A imagem IR é pontualmente importante nos
independente (SIP), forma de SDRC I. casos em que o paciente se queixa de dor crônica
A falta de concordância na detecção, diagnós- referida nas extremidades e pode ser incorretamen-
tico, discernimento e precisão da SDRC surgiram te diagnosticado como tendo radiculopatia. Os PG
a partir de uma tendência de invocar o bloqueio do piriforme ou glúteo mínimo, por exemplo, po-
simpático como uma medida diagnóstica absolu- dem ser erroneamente interpretados como radicu-
ta. É importante lembrar que, enquanto alguns lopatia ciática, se não confirmados por exame po-
doentes com SDRC I são suscetíveis aos simpato- sitivo de IR, mesmo falso-positivo na ressonância
miméticos (por exemplo, antagonistas adrenérgi- magnética4. Assim como, também, diferenciar das
cos sistemicamente administrados, bloqueio sim- dores de origem articular, como da síndrome face-
pático intervencional), tais dores mantidas pelo sim- tária, espondilolisteses, fraturas de estresse, disco-
pático não ocorrem em todos os casos de CRPS I, patias, bursites, entesopatias, que se apresentam
e, por conseguinte, não é um critério totalmente com um padrão típico no esclerótomo correspon-
excludente. Além do que, é um procedimento que dente. Além de orientar tratamentos dirigidos, como
tem riscos e não deve ser utilizado indiscrimina- infiltração dos PG ou acupuntura dos pontos “Ah
damente. Schi”. Ao monitorar com imagens todo o tratamento
Pode-se, dessa maneira, monitorar por IR a in- por acupuntura, é possível alcançar efetividade te-
dicação e eficácia do bloqueio simpático, simpa- rapêutica de 93,1%3.
tectomia ou estimulação elétrica medular e avaliar Bonica e Kellgren demonstraram que as dores
sua progressão e resposta ao tratamento. Após blo- originárias dos músculos são referidas a porções
queio a IR é útil na avaliação do grau de inibição segmentares da pele5,6. Fisher e Chang concluíram
simpática da extremidade lesada. que a hiper-radiação cutânea sobre os PG é atribuí-

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Figura 2 - Diagrama de dor do ponto gatilho do músculo elevador da escápula com sua respectiva imagem infravermelha
em paciente com reflexo somatossomático.

da por uma resposta reflexa medular somatocutâ- cas difusas, presença de pontos dolorosos em regi-
nea provocada pela disfunção miofascial, indepen- ões anatomicamente bem determinadas e por cri-
dente da profundidade em que o músculo se en- térios bem definidos pelo Colégio Americano de
contre. A dor precipita vasodilatação da derme com Reumatologia10. O diagnóstico dessa síndrome é
inibição de receptores alfa-adrenérgicos, devido a eminentemente clínico.
impulsos nociceptivos locais dos PG, provocados Entretanto, o paciente com fibromialgia apre- 11
por contratura, isquemia e liberação de substânci- senta uma imagem IR hiper-radiante característica,
as algogênicas (substância P, histamina, bradicinina, de menor intensidade que na disfunção miofascial,
prostaglandinas, óxido nítrico)7. porém ampla e difusa sobre os pontos clássicos da
Também é possível identificar precocemente por doença, extensamente distribuída sobre a região
IR uma situação menos comum de hiporradiação e cervicotorácica em forma de “manto”, região lom-
vasoconstrição persistente devido à dor referida bar e glútea. Cerca de 70% dos casos estão associ-
somática, a síndrome pós-traumática já comentada. ados ao fenômeno de Raynaud leve com extremi-
Diversos autores demonstraram que a vasoconstri- dades frias e hiper-radiação periocular, devido con-
ção associada com lesões musculares, ligamentares gestão venosa palpebral provocada por distúrbio
ou articulares têm mal prognóstico e maior tempo do sono (Figura 3)11.
de recuperação8,9. O que torna prudente a investi- A imagem simétrica, porém anormal, sugere
gação por IR o mais breve possível nos casos de trau- alteração do mecanismo central de termorregulação
matismo ou lesão aguda, especialmente em atletas ainda pouco compreendido11. A imagem térmica
profissionais. É possível identificar um pior prognósti- oferece um critério objetivo no diagnóstico com-
co pela presença de vasoconstrição (hiperatividade plementar da fibromialgia12,13 que, geralmente, tem
simpática sem instabilidade vasomotora ao teste de sintomatologia vaga associada a componente psi-
estímulo frio) e orientar uma abordagem terapêuti- cossomático muito forte14. A IR pode ser um méto-
ca dirigida e mais agressiva, aumentando as chances do auxiliar na documentação diagnóstica e acom-
de uma recuperação mais rápida e completa. panhamento desta síndrome11,13,15-17, principalmen-
te quando associada a outras doenças que passam
Diagnóstico diferencial com fibromialgia despercebidas, como artrites reumatóides sorone-
A fibromialgia é uma síndrome crônica carac- gativas; neuropatias compressivas periféricas; sín-
terizada por queixas dolorosas músculo-esqueléti- drome miofascial, tendinopatias e outras11.

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infravermelha no estudo da dor

Figura 3 - Hiper-radiação ampla e simétrica junto aos pontos clássicos da fibromialgia, associado à hiporradiação das
mãos (fenômeno de Raynaud) e hiper-radiação periocular (distúrbio do sono).

12

Figura 4 - Diagrama de alteração térmica e sua respectiva imagem infravermelha em paciente com radiculopatia L5
esquerda. Observar heat flame lombar nível L4-L5 associado à assimetria de membros inferiores com hiporradiação
seguindo dermátomo de L5 esquerdo.

NEUROPATIAS imagem “em chama” (heat flame), correspondente


aos ramos cutâneos do ramo posterior do nervo
Seja na compressão de nervos periféricos, como espinhal envolvido, além de diminuição da radia-
mediano, ulnar, tibial, illioinguinal cutâneo lateral ção IR no dermátomo, achado típico vista em mais
da coxa e outros, radiculares e até mesmo plexula- de 80% dos casos de discopatias crônicas (Figura
res, como no caso da síndrome do desfiladeiro to- 4). A imagem IR se correlaciona com a RM e tomo-
rácico, a disfunção nervosa é acompanhada por grafia em 94% e 87% dos casos, respectivamente.
uma alteração de radiação IR exatamente no der- Apesar de identificar o nível da lesão, com preci-
mátomo correspondente, facilitando o diagnóstico são maior que 84%, é um diagnóstico funcional e
nos casos difíceis ou que não foram identificados não anatômico, para o estudo da dor.
por outros exames. Bem como na avaliação con- Esta imagem alterada tem uma correspondên-
junta de outras síndromes aqui descritas em um cia de 89% com a clínica do paciente, diretamente
único exame. proporcional ao grau de dor, auxiliando na deter-
Nas lesões em nível lombossacral pode haver minação do prognóstico, recuperação pós-opera-
uma extensão hiper-radiante linear paramediana, tória e avaliação de dor recorrente na síndrome pós-

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Brioschi, M.L. et al.

Figura 5 - Imagem infravermelha demonstrando hiper-radiação de joelho e punho direito em paciente com artrite
reumatóide soronegativa.

laminectomia. A gravidade dos sintomas pode ser COMENTÁRIOS FINAIS


avaliada pela magnitude da assimetria infraverme-
lha entre os membros. Apesar de sua alta especificidade, o mais im-
portante é sua maior sensibilidade, que permite
ATIVIDADE INFLAMATÓRIA identificar disfunções nos pacientes com dores crô-
nicas, muitas vezes único achado na ausência de
A temperatura é um dos sinais mais importan- outras alterações anatômicas19. Em um único exa-
tes da inflamação e único entre os sinais cardinais me, inócuo, abrangendo extensa área corporal,
(dor, edema, calor, hiperemia e limitação do movi- permite uma completa avaliação nos casos de LER- 13
mento) que pode ser mensurado objetivamente e DORT, auxiliando inclusive na documentação e
com precisão (Figura 5). A mensuração de tempe- perícia médica nas situações que envolvem litígio.
raturas absolutas da superfície corporal, por meio No processo de decisão terapêutica a imagem
da IR quantitativa, permitiu seu uso na Reumatolo- IR deve ser resguardada como parte de uma infor-
gia para o diagnóstico e acompanhamento das do- mação a ser integrada sempre com outros dados
enças inflamatórias do sistema músculo-esqueléti- clínicos. A imagem IR não demonstra a presença
co18,19. de dor, mas sim as alterações vasomotoras nas mes-
Graças à sua alta resolução de imagem se pode mas áreas de projeção.
identificar facilmente artrites, tendinopatias, bur- O número crescente de artigos a respeito das
sistes, sacroileítes, fasciítes, sinovites, epicondilites, aplicações da imagem IR tem definido seu papel
costocondrites, doença de Paget e outras doenças na prática médica, tornando-a de grande valor no
inflamatórias. Já foi demonstrada em diversos estu- estudo da dor, especialmente na documentação por
dos tanto sua alta correlação positiva com exames imagem das alterações vasomotoras envolvidas.
de imagem, como cintilografia e ultrassonografia, A Medicina se dedica na prestação de assistên-
quanto com índice articular de Ritchie, escore de cia tecnicamente correta e segura ao paciente. A
Mallya, força apreensão, rigidez matinal, VHS, VAS investigação diagnóstica facilita este fim, oferecen-
e migração leucocitária nos casos de artrite reuma- do conhecimento que: 1) permite que o clínico
tóide. Prestando-se assim no diagnóstico comple- avalie o valor relativo dos riscos e benefícios de
mentar por avaliação do corpo inteiro, especial- aplicações terapêuticas e, em última instância, re-
mente nos casos soronegativos, acompanhamento solver os impasses clínicos; e 2) habilita os pacien-
terapêutico e prognóstico18,19. tes a serem informados e participarem nas deci-
Não foi escopo deste artigo abordar as indica- sões relevantes para os cuidados clínicos, diminu-
ções relacionadas às dores viscerais e cefaléias. indo assim a sua inerente vulnerabilidade e desi-

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Indicações da termografia
infravermelha no estudo da dor

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