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CENTRO UNIVERSITÁRIO LUTERANO DE PALMAS

Curso de Psicologia / Semestre I – 2022

Disciplina: Neurofisiologia do Comportamento Humano

Atividade: Resumo sobre o Tema: Temperatura

Acadêmicos: Ada Cristine Araújo Costa, Amanda Nunes Ferreira, , Laíse Lira Oliveira e
Ludimylla Alves de Sousa.

“O receptor é um transdutor, o qual converte o estímulo em um sinal


intracelular, que normalmente é uma mudança no potencial de
membrana”

TERMORREGULAÇÃO

O nosso corpo é regulado pela temperatura corporal no qual tem diversas funções
essenciais para a manutenção da homeostase que são controladas pelo sistema nervoso central
(SNC). A Homeostase é o sistema responsável pelos mecanismos para manter o equilíbrio
do corpo, por exemplo quando fazemos alguns exercícios o nosso corpo libera suor através
das glândulas sudoríparas e resfriando o corpo por meio da evaporação, ajudando a manter a
temperatura interna do corpo em equilíbrio. O comportamento é o meio mais eficiente para o
processo de termorregulação do indivíduo, esse processo ocorre de forma automática sendo
responsável pelas sensações de frio e calor, que desencadeiam a procura por ambientes
quentes ou frios, ou a adoção de posturas que reduzem ou aumentam a troca de calor.

No artigo: Fundamentos da Termorregulação, McArdle et al., 2001 indica que o calor


pode ser eliminado de quatro modos:

1. Irradiação: O corpo humano irradia os raios de calor em todas as direções. Se a


temperatura do corpo é maior do que a temperatura do ambiente, uma Revista da
Universidade Ibirapuera Jan/Jun 2017 n.13: 63-70 64 maior quantidade de calor é irradiada
do corpo do que a que é irradiada para o corpo.

2. Condução: a condução de calor do corpo para o ar é autolimitada.


3. Convecção: Quando o corpo é exposto ao vento, a camada de ar imediatamente
adjacente à pele é substituída por ar novo com uma velocidade muito maior do que a normal,
e a perda de calor por convecção aumenta proporcionalmente. Na água, é impossível para o
corpo formar uma “zona de isolamento” como ocorre no ar. Portanto, a velocidade de perda
de calor para a água geralmente é muito superior à velocidade de perda de calor para o ar.

4. Evaporação: é necessária em temperaturas do ar muito altas quando o calor pode


ser eliminado por irradiação e condução. Em imersão, este processo fica na dependência da
área corporal não imersa.

Para diminuir a temperatura quando o corpo está muito quente, nosso sistema utiliza
diversos mecanismos, como a vasodilatação cutânea (por inibição dos centros simpáticos no
hipotálamo posterior que causam a vasoconstrição), sudorese e diminuição na produção de
calor. Os mecanismos que causam o excesso de produção de calor, como os calafrios e a
termogênese química, são fortemente inibidos (McArdle et al., 2001; Guyton e Hall, 2006;
Schrepfer, 2011).

CINCO ESTADOS TÉRMICOS

Os cinco estados térmicos foram descritos a partir do modelo do set point


termorregulatório. Pode-se entender a definição de set point como uma referência em que a
temperatura corporal é comparada à ele, em que pode gerar ou não mensagens de erros. Deste
modo, quando a Tc é igual ao set point significa que há ausência de erro e não teve ativação
de mecanismos compensatórios. No entanto, no momento em que existe um erro, haverá a
ativação de mecanismos termorregulatórios para corrigi-lo, o que resultará na elevação da TC
até ficar igual ao set point. Quando a temperatura corporal fica abaixo do set point
termorregulatório é ativado mecanismos de ganho de calor e inibido mecanismos de perda de
calor, já quando os valores da Tc estão acima do set point ocorre o oposto.

Os estados de alterações térmicas são:

1. Eutermia:

É quando os valores do set point e da temperatura corporal são iguais. É um estado que pode
ser mantido até quando a temperatura ambiente apresenta ampla variação além da zona
termoneutra.
2. Hipertermia:

Ocorre por falha ou exaustão dos mecanismos termorregulatórios de perda de calor,


estes buscavam evitar que a Tc se elevasse acima do valor da eutermia. Nos casos deste
estado térmico, existe uma sobrecarga de calor ambiental ou metabólica. Essa situação pode
ser acompanhada de sinais e sintomas como edema dos membros inferiores, tontura, síncope,
dor de cabeça, vômito e diarreia. No entanto, pode haver casos mais graves, neles temos o
chamado heart stroke, é o colapso dos mecanismos termorregulatórios, com o aumento
abrupto da Tc acima dos 39°C. O estado de hipertermia descrito é diferente da hipertermia
maligna, a qual é uma doença hereditária autossômica dominante rara e pode ser fatal. Esse
distúrbio envolve grave alteração metabólica do músculo esquelético, os agentes
desencadeantes são anestésicos voláteis ou relaxantes musculares.

3. Hipotermia:

Pode ser branda, moderada ou grave. Considera-se branda quando a temperatura


corporal está em torno de 34 a 35°C, moderada quando a Tc é de 30 a 34°C e grave quando a
Tc está abaixo dos 30°C. É resultado da falha ou exaustão nos mecanismos
termorregulatórios na manutenção da eutermia, em casos de distúrbio metabólicos, alteração
do SNC, efeito de drogas ilícitas, abusos de bebidas alcoólicas ou exposição ao frio. A pessoa
hipotérmica apresenta depressão das funções mentais como apatia, a qual pode evoluir para
letargia e coma. Os sintomas da hipotermia são coordenação motora reduzida, tropeços,
confusão na fala, irracionalidade, amnésia, dilatação da pupila, decréscimo na frequência
respiratória e pulso arterial fraco e irregular, nos casos extremos pode ocorrer a acidose.
Esses sintomas ocorrem em decorrência da redução na velocidade de condução dos impulsos
nervosos. No entanto, a redução da Tc pode ser benéfica em condições de escassez de
oxigênio, como a hipotermia forçada que é utilizada em procedimentos cirúrgicos ou
situações de isquemia encefálica.

4. Febre:

A febre é um sintoma utilizado como indicativo de infecção. Ela é considerada como


uma resposta benéfica quando exerce papel no combate a infecções, isso é devido ao fato da
elevação da Tc em alguns casos aumentar a eficiência do sistema imunológico e criar
condições desfavoráveis para o crescimento da maioria dos microrganismos patogênicos.
Contudo, esses aspectos benéficos são limitados pela magnitude da resposta febril, quando
ocorre um aumento nos valores da Tc por um longo período pode resultar em prejuízos ao
organismo e até mesmo a morte. Pode-se citar algumas consequências de febres muito
elevadas, como desidratação, delírio, lesões no encéfalo, convulsões, lesões hepáticas,
sobrecarga cardiorrespiratória, balanço nutritivo negativo e possíveis consequências
teratogênicas. A febre difere-se da hipertermia, pois ela é uma elevação regulada da Tc e
ocorre por meio da ativação de mecanismos de ganho de calor e inibição dos mecanismos de
perda de calor, os quais estão associados a alterações comportamentais como a escolha por
um ambiente mais quente.

5. Anapirexia:

É um estado de queda regulada da Tc, é importante em pacientes hipóxicos. A


anapirexia é utilizada quando o oxigênio é um fator limitante para a recuperação de estados
patológicos como hemorragia, anemia, parada cardíaca, traumatismo craniano e
envenenamento, e durante alguns procedimentos cirúrgicos envolvendo coração e encéfalo.
Ela é capaz de reduzir a demanda metabólica dos tecidos no momento em que a oferta de
oxigênio é limitada. É importante ressaltar que a anapirexia é diferente da hipotermia forçada,
pois a mesma é acompanhada pela ativação de mecanismos de ganho de calor e inibição de
mecanismos de perda de calor, estas respostas podem ocasionar estresses fisiológicos e
psicológicos.

SENSIBILIDADE SOMÁTICA E TERMORRECEPTORES

O Sistema Somatossensorial tem o objetivo de captar experiências do meio externo


por meio de receptores específicos e é constituído pelo tato, propriocepção, dor e
temperatura. Para que haja a percepção absoluta do meio externo pelo sistema sensorial é
necessário que todo tipo de estímulo seja transformado em potencial de ação.

Os receptores sensoriais são responsáveis por reconhecer um estímulo no ambiente e


que o mesmo exerça alguma ação no corpo, abordaremos sobre os termorreceptores. Eles são
receptores capazes de detectar frio e calor. São terminações nervosas livres e são conectadas
às mesmas fibras que conduzem a sensação dolorosa. Os receptores estão localizados em toda
a pele, sendo a mesma o maior órgão sensorial do corpo, no entanto, a maior concentração é
nas regiões faciais, pés e mãos.
Os receptores também são classificados de acordo com o local onde captam os
estímulos, neste momento iremos evidenciar apenas dois deles, os quais estão relacionados
com a temperatura.

1. Exteroceptores: Receptores que captam estímulos provenientes do ambiente, como


luz, calor, sons e pressão. São estímulos de fora do corpo.
2. Interoceptores: São receptores que percebem as condições internas do corpo, como
grau de acidez, pressão osmótica, temperatura e composição química do sangue, entre
outros.

TIPOS DE RECEPTORES:

Os receptores específicos do frio existem em maiores quantidades, denominam-se


corpúsculos de Krause, e nesse caso são sensíveis a temperaturas mais baixas do corpo (5°C a
35°C). Por sua vez, os corpúsculos de Ruffini são os receptores específicos do calor e existem
em menor número, sendo sensíveis a temperaturas que se estendem de 33°C a 45°C.

Os receptores da dor são estimulados apenas por graus extremos de frio ou de calor. Os
receptores de dor para calor excessivo anunciam, caso a temperatura do objeto for mais de 45
°C, o perigo iminente de uma possível queimadura. Se a temperatura do objeto esfriar menos
de 5oC, os receptores de dor para o frio excessivo entram em ação, agora anunciando o
perigo de congelamento.

ATUAÇÃO NO SISTEMA NERVOSO CENTRAL

De acordo com pesquisas recentes, os canais de receptores transientes de potencial


(TRP) medeia e é responsável pela transdução da sensação térmica. Os potenciais gerados
conseguem entrar no SNC por meio da raiz dorsal da medula espinal, decussam e seguem
pelos tratos espinotalâmico e espino-hipotalâmico. Parte dessas aferências projetam-se para o
tálamo ventrobasal e o córtex somatossensorial, tornando-se possível a discriminação da
sensação da temperatura cutânea. São as áreas somatossensoriais 3,2,1 de Brodmann
responsáveis por receber os impulsos nervosos provenientes do tálamo. No entanto, para a
termorregulação as projeções dos termorreceptores periféricos convergem para a formação
reticular do tronco encefálico e se projetam para a área pré óptica (APO) do hipotálamo. Em
suma, os termorreceptores periféricos e centrais detectam variações da Temperatura corporal
do organismo, eles são neurônios localizados em diversas regiões do SNC, incluindo a
medula espinhal, a formação reticular e a própria APO.
TIPOS DE MEDIDAS DA TEMPERATURA CORPORAL

A técnica invasiva consiste em medir a temperatura por sondas no esôfago, pela


artéria pulmonar e pela bexiga urinária. Necessitam que se tenha um corte para chegar nesses
pontos de melhor medição da temperatura corporal. Já a técnica não invasiva, pode ser
realizada de forma externa, como medir através da cavidade oral, pelo tímpano, pela axila,
pela testa e pelo reto.

Cavidade oral: confiável quando realizada da forma correta, que é colocando o


termômetro posteriormente no bolso sublingual. A artéria sublingual acompanha a alteração
da temperatura corporal. Outras regiões da boca podem ter variações inferiores, não sendo
confiáveis.

Temperatura Timpânica: Para que essa forma de medição seja confiável, o ouvido
precisa estar devidamente limpo, caso contrário a cera atrapalha e causa variações no
resultado. A membrana timpânica é sensível a emissão de infravermelho, captados por sondas
no canal auditivo externo

Vantagens desse método é por ser rápido (menos de 1 minuto), fácil execução, não
invasivo. Temperatura Axilar: Comumente usada, onde a medição é através do uso de
termômetros no centro da axila. Temperatura da Artéria Temporal: Medidas rápidas pela
emissão de infravermelho da pele. Porém, em casos de infecção nos seios da face, pode-se ter
alterações nos resultados.

Temperatura Retal: Método de medição precisa, porém, muitos pacientes são contra,
por ser um pouco invasivo.

CASO CLÍNICO DA HIPOTERMIA

Apresenta-se um caso de uma mulher de 82 anos, trazida ao serviço de urgência por


alteração do estado de consciência. À admissão, em escala de coma de Glasgow de 3,
hipotermia extrema, hipotensa, bradicárdica e com acidemia respiratória. No
electrocardiograma objetivada bradicardia, prolongamento dos intervalos PR, QRS, QT e
ondas de Osborn. Efectuou-se aquecimento físico, reposição volêmica e suporte vasopressor,
com melhoria progressiva do quadro, estabilização hemodinâmica e normalização dos
achados do ECG.
DISCUSSÃO

Entre as várias alterações eletrocardiográficas descritas com a hipotermia, a mais


distintiva é a presença das ondas de Osborn. Estas ondas, embora não sejam patognomônicas
desta condição, quando a ela associadas surgem em função inversa da temperatura. A
identificação precoce das ondas de Osborn torna-se fulcral, devido ao seu potencial
arritmogênico e como precursor de distúrbios potencialmente fatais, para que estes possam
ser antecipados e/ou tratados rapidamente. Sendo a hipotermia uma emergência médica, a
monitorização apropriada destes doentes em unidades diferenciadas, associada a uma pronta e
correcta abordagem, pode melhorar o seu prognóstico.

DIAGNÓSTICO DA HIPOTERMIA

O diagnóstico preciso da hipotermia depende basicamente da medida de temperatura


corpórea central inferior a 35ºC, o que é um tanto complicado em nosso meio, já que a
maioria dos termômetros de mercúrio que dispomos marca exatamente como a menor
temperatura mensurável 35ºC. Termômetros cutâneo, oral ou com luz infravermelha são
imprecisos no paciente hipotérmico. Uma sonda de temperatura esofágica é preferível para
hipotermia grave.
REFERÊNCIA:

GUYTON, A.C. e Hall J.E. -- Tratado de Fisiologia Médica. Editora Elsevier. 12ª ed., 2012.

GUYTON AC, HALL. Tratado de Fisiologia Médica. 11° ed. 2006.

MCARDLE ET AL., 2001; Guyton e Hall, 2006; Schrepfer, 2011.

O Sistema Somatosensorial. In: Bear, M. F. Connors, B. W., Paradiso, M. A.

Antonio, B. B. (2021). Sistema Somatossensorial. In: Sato, M. A. (Org.) Tratado de


Fisiologia Médica. (100-106). Rio de Janeiro: Guanabara Koogan.

Neurociências: Desvendando O Sistema Nervoso (4 Ed., Pp. 415-452). Porto Alegre: Artmed

Bear, M. F. Connors, B. W., & Paradiso, M. A. (2017). O Sistema Somatosensorial. In:

Bear, M. F. Connors, B. W., & Paradiso, M. A. Neurociências: desvendando o sistema


nervoso (4 ed., pp. 415-452). Porto Alegre: Artmed

Gardner, E. P. Johnson, K. O. (2014) O sistema somatossensorial: receptores e vias centrais.


In: Kandel, E. R. Schwartz, J. H. Jessell, T. M. Siegelbaum, S. A., & Hudspeth, A. J.
Princípios de Neurociências (5 ed., pp. 415-433). Porto Alegre: Artmed

Schiffman, H. R. (2005). Os sentidos da pele. In: Schiffman, H. R. Sensação e Percepção (5


ed., pp. 300-326). Rio de Janeiro: LTC

Silverthorn, D. U. (2017) Fisiologia Sensorial. In: Silverthorn, D. U. Fisiologia Humana:


Uma Abordagem Integrada (7 ed., pp. 309-357). Porto Alegre: Artmed
São receptores capazes de
Estão localizados em diversas

detectar frio e calor regiões do sistema nervoso central,

ATUAÇÃO NO SNC incluindo a medula espinhal, a


Corpo regulado pela

Os receptores específicos do
formação reticular e a própria
temperatura corporal,

calor e existem em menor número,


área pré-óptica. para melhor manutenção

sendo sensíveis a temperaturas

da homeostase
que se estendem de 33°C a 45°C
O comportamento é o

Os receptores específicos do frio


meio mais eficiente para

existem em maiores quantidades, e TERMORECEPTORES TERMOREGULÇÃO


regulaação da TC
nesse caso são sensíveis a

Formas de eliminar

temperaturas mais baixas do

corpo (5°C a 35°C);


o calor:
Quando a temperatura está

abaixo de 5oC e acima de 45oC

ativam os receptores da dor


TEMPERATURA
Irradiação Condução Convecção Evaporação

Medida da

ESTADOS TERMICOS
temperatura
Temperatura retal
Eutermia:valores set

point e TC iguais
SISTEMA

Hipertermia: ocorre por

falha ou exaustão; perda


SOMATOSENSORIAL Temperatura axilar

de calor

Hipotermia:TC<35°C;

Cavidade oral
Pode ocorrer apatia,

Tem o objetivo de captar


coma e letargia Para que haja a percepção
experiências do meio
absoluta do meio externo
Anapirexia: queda
externo por meio de
Temperatura

pelo sistema sensorial é timpânica


regulada da TC
receptores específicos e é
necessário que todo tipo de
constituído pelo tato,
Febre:indicativo de infecção,
estímulo seja transformado Temperatura da

propriocepção, dor e
resposta benéfica, porém se
em potencial de ação artéria temporal

muito alto traz malefícios temperatura.

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