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Fomes e epidemias no séc.

XIV
O ano de 1333 foi tão mau por todo o Portugal que andou o alqueire de
trigo a 21 ceitis (1) [...] e faltaram todos os outros frutos de que a
população se mantinha. Nesse ano morreram muitas pessoas de fome
[...], sendo tantos os mortos que não cabiam nos adros das igrejas e os
enterravam fora dos adros e deitavam nas covas aos quatro e aos seis.
[...]. No ano de 1348, pelo dia de S. Miguel de Setembro [dia 29 de
Setembro], começou a peste; foi grande a mortandade pelo mundo,
tendo, em média, morrido as duas partes das gentes (2). As principais
queixas eram bubões que as pessoas tinham nas virilhas e debaixo dos
braços. E a maioria das pessoas, tanto as que morreram como as que
ficaram, tiveram essas dores.

(1) O preço médio, em anos normais, rondava os 3,5 ceitis (ou soldos). (2) Dois terços. Trata-se de um cálculo
muito exagerado.

As fomes, as epidemias, o abandono das terras e as guerras influenciam


a moeda. Como há menos compradores, menos comércio, os preços
tendem a baixar, sobretudo se forem expressos em ouro; mas como há
menos trabalhadores, os salários sobem. A reação dos Estados é
multiplicar a pequena moeda corrente e desvalorizar as moedas boas
(ouro e prata). Estas manipulações monetárias (inflações seguidas de
desvalorizações) controlam artificialmente a crise.

Uma revolta camponesa


Durante o Verão de 1358, os camponeses da região de Beauvais, vendo
[...] que os nobres os oprimiam como verdadeiros inimigos, revoltaram-se
contra eles. Pegaram em armas, reuniram-se em grupo e nomearam
como chefe um tal Guilherme. Dessa forma, avançando com armas e
bandeiras, percorreram toda a região, matando os nobres que
conseguiam encontrar e nem o seu próprio senhor escapou. [...] Não
contentes com isso, derrubavam os castelos da nobreza. Os cavaleiros
nobres uniram as suas forças e, desejando vingar-se, degolaram sem
piedade os camponeses, tanto os revoltosos como os outros, quer
estivessem nas suas casas ou ocupados a trabalhar nas vinhas e nas
searas.

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