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hot rods # 140

ISSN 1808-9399
ano 11 #140
R$ 19,90

chevy commercial 1938: não é rabecÃO!


ford t-bucket - picape ford 1929 - chevy commercial 1938

aprovada
pelo mito
Batizada de “Ferruginha”,
picape Ford 1929 ganha
www.cteditora.COM.BR

personalidade própria e é
elogiada por Jack Costello FORD t-bucket: capricho artesanal lincoln continentaL: inspiração custom
Legislação: Saiba como legalizar um carro artesanal Rodder Review: Testamos produto e serviço para vitrificação da pintura
Técnica: Regulagem da mistura ar/combustível Vitrine: Lançamentos de peças e acessórios para seu hot
Editorial

O que acontece em Vegas...


Equipe de Hot Rods vai ao SEMA Show e traz todas as novidades na
próxima edição da maior feira de peças e acessórios do mundo
Ademir Pernias e Ricardo Kruppa - editores

E
nquanto você lê esta edição, uma O SEMA é a maior vitrine, não apenas No segmento de carros esportivos
equipe da Revista Hot Rods, capita- de produtos e serviços, mas, principal- e hot rods, o SEMA Show tem um
neada pelo editor Ricardo Kruppa, mente de tendências das novidades que pavilhão, conhecido com “Beco dos
está em Las Vegas, no estado norte- devem ocupar as ruas e garagens dos Hots”, com estandes de empresas
-americano de Nevada, para mais consumidores nos meses que se suce- dedicadas ao “hot rodding”, como
uma maratona de SEMA Show. O Las dem ao avento. Outra característica do peças de perfromance e até mesmo
Vegas Convention Center, um dos maiores SEMA é a presença cada vez mais visí- peças antigas para reposição.
complexos de exposições da cidade, rece- vel das principais montadoras de auto- Kruppa deve voltar com a mala, e a
be o público especializado (a feira não é móveis, não apenas dos Estados Unidos, máquina fotográfica, recheadas de
aberta ao público em geral, mas apenas a mas de todo o mundo. As marcas apro- novidades, que prometemos mostrar em
profissionais do segmento de peças, aces- veitam para apresentar carros-conceito e detalhes na próxima edição. E atenção:
sórios e customização da indústria automo- muitas delas têm aproveitado o espaço cobertura ao vivo no site da Hot Rods e
tiva) entre os dias 1º e 4 de novembro. para exibir seus modelos clássicos. também nas mídias sociais. Não perca!
Sumário

picape ford 1929

06 Concebida a partir de sobras de outros projetos, picape Ferruginha ganha personalidade


própria sem esquecer da memória, sem contar que o mito Jack Costella aprovou!

Hot Rods
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história Garage tech

18 Saiba como legalizar um carro artesanal,


que desde maio não exige airbag e ABS 22 Correção do ângulo dos braços de direção
acaba com problemas de veículo instável

cultura garage oldschool

26 Estilo e suavidade nas linhas são segredos


para construção de um verdadeiro “kustom” 32 Construção do Fordinho tem etapa do
assoalho concluída e entra na reta final

t-bucket chevy commercial 1938

54 Modelo artesanal combina as cores da


carroceria com as dos acabamentos internos 64 No melhor estilo rat rod,Chevy alia mecânica
original com detalhes que fazem a diferença
Picape Ford 1929

É bom para o moral


Concebida a partir de sobras de outros projetos, essa picape ganhou
personalidade própria sem esquecer da memória; acessórios pontuais e
pintura enferrujada enaltecem cultura rat rod – sem contar que o mito Jack
Costella aprovou!
Texto: Bruno Bocchini::Fotos: Ricardo Kruppa
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Picape Ford 1929

F
erruginha é um distrito do muni- bem diferente da restauração de clás- nho, em sua memória”, recorda.
cípio brasileiro de Conselheiro sicos ou construção de um hot. Muitas Essas sensações e sentimentos reforça-
Pena, no interior do estado de das ideias vieram de revistas america- dos na infância transformaram quase
Minas Gerais. Mas também é o nas, mas na prática elas se transformam como uma “filosofia de vida” as deci-
apelido carinhoso desta picape apenas em referências. O projeto muda sões que o entusiasta mantém. Basta
Ford 1929 que pertence a Moacir muito. Cria personalidade própria e se questioná-lo sobre a provável venda
Mansur Boscardin, 58 anos, funcioná- torna único”, garante o entusiasta. de alguns de seus automóveis. “Tenho
rio público de Curitiba (PR). O modelo Mas esse entusiasmo de Boscardin não alguns carros que dificilmente venderia.
surgiu como parte de pagamento em parece ser tão atual. Ainda garoto, Eles têm um valor sentimental muito for-
uma troca que Boscardin realizou: ele ouviu o ronco de um clássico cupê te, fazem parte da minha história, mas
foram vários carros inacabados por um – som que mexeu com o imaginário ins- confesso que às vezes gosto de trocar
restaurado. “Essa picape ficou três anos tantaneamente. “Os garotos da minha de brinquedo. É bom experimentar
no jardim de casa e adquiriu uma colo- idade tinham como sonho um pedalinho outros modelos, ter novas experiências
ração muito peculiar: ferrugem. Então Jeep 1951, que era muito popular e e, em certas ocasiões, usar os recursos
tive a ideia de fazer um carro despoja- que eu também ganhei logo cedo. Mas da venda para investir em outro projeto
do. Sempre gostei dos rat rods e não quando tinha uns 12 anos fui ao banco e na melhoria ou atualização dos já
tive dúvida”, explica. pagar uma conta para meu pai. Encos- existentes. Como aconteceu com essa
A ação partiu de sobras de projetos tei a “magrela” e quando já estava picape”, explica.
anteriores nos moldes norte-americanos. saindo um senhor bateu na partida de
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Foram três anos até que pudesse ser um Ford Coupé 40 com motor flathead. A doce realidade em detalhes
ouvido o ronco do motor. “Eu tenho Aí tudo começou: paixão eterna. Meu Essa picape Ford 1929 foi adquirida
outros hots e alguns originais também. pai sempre me incentivou e ensinou a no ano de 2009 e as transformações
Mas confesso que fiquei muito entusias- regular o motor da Kombi 1960 que foram totais – desde o chassi boxeado,
mado, pois pude participar do projeto anos mais tarde ganhei de presente e suspensão com eixo rebaixado em
e da construção desta picape 29. Algo que conservo até hoje com muito cari- 4 polegadas, freios a disco nas qua-
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Picape Ford 1929

tro rodas, para-lamas e estribos que


remetem ao Ford T. Sem falar do visual
particular: rebaixamento de teto, esca-
Pinstripe sobre a pintura “ferrugem” envernizada
pamento dimensionado com ponteiras
“cabeça de dragão” e demais aces-
sórios aplicados minuciosamente. “Na
verdade, cada peça colocada no pro-
jeto tem uma história e sei exatamente
de onde veio. Isso é muito gratificante,
pois na busca os velhos amigos sempre
estiveram presentes, colaborando com
ideias, com peças e trabalho no mais
autêntico espírito rodder. Sem contar
também com os novos amigos que se
faz”, reforça Boscardin.
Na parte estética, a grade é do cami-
nhão 1932 estampada inteira, sem
divisões. Já as ponteiras dianteiras, que
funcionam como para-choques, são do
Ford 1949. Os faróis dianteiros foram
incorporados do raro Velle 1924.
As rodas vieram do Ford 1934 com
pneus convencionais. Mas, para somar
o estilo rat rod, a pintura é o grande
destaque: ferrugem natural envernizada
em fosco e pinstripe. “A parte visual
foi bem trabalhosa. A combinação de
peças exige um estudo bem aprofun-
dado. Tem que equilibrar harmonia
estética com segurança. A pátina, para
ficar de acordo, passou por lixamentos,
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repasse de whash primer, tf7, lixamento


e exposição ao tempo. Essa ação de
lixamento foi repetida várias vezes –
demorou um ano e meio”, comenta.
Se não bastasse o trabalho incansável
diante da pintura desgastada, Boscar-
din ainda lembra que sua esposa o peças de outros carros garimpados em esse motor tem pouco torque, mas gira
surpreendeu durante o processo de fina- oficinas, ferros-velhos e garagens dos a 5mil rpm). Os freios são a disco nas
lização e acabamento da carroceria. amigos. Peças que você compra barato quatro rodas, sendo na frente de GM
“Minha esposa foi comprar cinco latas ou até ganha para desocupar lugar. O Opala e atrás de GM Kadett.
de verniz em spray e passou no carro que acaba saindo bem mais em conta”, A suspensão aplicada na traseira é coil
todo. Quando voltei do trabalho estava sugere Boscardin. over e na frente de eixo rígido com um
pronto. E sabe, ficou muito bom. Esse é No cofre, quem comanda a cena é um feixe de mola transversal Brás. “É um
o espírito”, comemora. motor Emi-sul de câmara hemisférica. carro maravilhoso. Tem bom espaço,
Esse bloco ficou conhecido por ser utili- pois a cabine é um pouco maior que a
Quebra-cabeça e colcha zado pela Simca na década de 1960 original. Na verdade é um modelo feito
de retalhos – similar aos Hemi norte-americanos. sob medida para mim – desde a posi-
O painel da picape é de um carro típi- Ele tem cerca de 150 cavalos, mas ção dos bancos, pedaleiras e volante.
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co e clássico inglês, mas há volante de Boscardin optou por incluir um carbura- O carro me veste. E é muito prazeroso.
um Ford T, coluna de direção do Ford dor Holley 390 cfm, coletor de escape O motor gira bem e o ronco é indescrití-
29, caixa de direção do Ford 37 e os dimensionado feito sob medida, caixa vel. A única mudança que talvez fizesse
bancos sob medida são em couro. “O de câmbio do Maverick 4 cilindros seria acrescentar um teto solar de lona,
rat é bem isso, uma colcha de retalhos, e diferencial 4:27 (uma relação bem fora isso é um projeto que me agrada
um quebra-cabeça feito com partes e curta similar à dos Simca, uma vez que ao extremo”, afirma Boscardin.
Picape Ford 1929
Em pleno Curitiba Motor Show do ano causa surpresa às pessoas. Elas vão
passado foram feitos os pinstripe e a descobrindo os detalhes aos poucos: as
pintura nas portas em homenagem ao lanternas e cor, o painel que acende as
Clube Curitiba Roadsters, que Boscar- luzes nos olhos das caveiras, as ferradu-
din ajudou a criar. “Também foi pintado
o nome da minha filha Nicole no painel
ras e o estilo fazendeira, bem como os
pinstripes. Tudo encanta”, conclui.
Bloco Emi-sul de
e depois demos uma volta na pista do
Autódromo de Curitiba. Foi um momen-
Ainda tem dúvida sobre a qualidade e
competência do projeto? Saiba: Jack
câmara hemisférica sob
to muito especial e inesquecível, pois a
família toda curte muito os antigos”.
Costella, piloto que bateu mais de 100
recordes de velocidade, esteve em outu-
o capô. A caçamba é de
Boscardin conta que as pessoas ficam
surpresas com o modelo, isso porque
bro na casa de Boscardin e conferiu de
perto a picape Ford 1929. “Ele adorou
uma típica “fazendeira”
carros assim são vistos apenas em o carro, aprovou muito. A lenda se apai-
encontros nos Estados Unidos ou em xonou pela picape”, vibra o entusiasta
revistas especializadas. “A Ferruginha do universo Hot Rod.
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Hot Rods 15
Picape Ford 1929

Picape Ford 1929


Pintura na porta
Mecânica Estética
Bloco Emi-sul de câmera hemisférica, carbura- Grade do caminhão 1932 estampada inteira, homenageia o
dor Holley 390 cfm, coletor de escape dimen- sem divisões, ponteiras dianteiras do Ford 1949,
sionado feito sob medida, caixa de câmbio do faróis dianteiros do Velle 1924, rodas do Ford Clube Curitiba
Maverick 4 cilindros, diferencial 4:27, freios a 1934, pneus convencionais, pintura ferrugem
disco nas quatro rodas, potência de 150 cavalos; natural envernizada em fosco e pinstripe, aces- Roadsters. Acima,
sórios na caçamba estilo fazenda;
Estrutura Boscardin e o
Suspensão coil over na traseira e de eixo rígido Quem fez?
com um feixe de mola transversal na frente; Projeto: Moacir Mansur Boscardin; adaptação piloto americano
chassi e mecânica: Haroldo Froma Adaptações;
Hot Rods 16

Interior escape: André - Escapamento dos Estados; Jack Costella:


Painel clássico inglês, volante de um Ford elétrica: Rubens Gadotti; estofamento: Louri-
T, coluna de direção do Ford 29, caixa de val (“Cata Ovo”) e Paulo Dembick; pinstripe: “Ele adorou”
direção do Ford 37 e os bancos sob medi- Márcio Bkw; tela: Gabriel Alves Neto e pintura
da em couro; pátina ferrugem: Moacir e Fernanda Boscardin.
Hot Rods 17
História

Carro artesanal,
carro legal!
Conheça os procedimentos para legalizar um carro “artesanal”, que desde
maio deste ano está isento de air bag e ABS
Texto: Aurélio Backo::Fotos: Divulgação

Ford 32 fabricado pelo Costalonga, um dos pioneiros dedicados aos hot rods (SP)
Hot Rods 18

N
os primórdios do hot rodding nos carros velhos e que não tinham muito Isso fez surgir fabricantes de réplicas de
Estados Unidos, e em especial na valor. Mas, por volta da década de 70, carrocerias, como as dos Ford Modelo
década de 1950, a quantidade de o hot rodding começou a se tornar mais T e Ford das décadas de 20 e 30. E,
carros à disposição dos rodders era popular e a demanda maior fez rarear a desde então, passou a ser possível a
grande. Os modelos usados eram oferta dos modelos mais procurados. montagem de hots usando apenas peças
novas, pois também havia fabricantes de
chassi e de reproduções de partes como
grades, lanternas e muito mais.
No Brasil, o gosto por hot rods sem-
pre existiu, apesar de a demanda ser
pequena. E, por aqui, o aparecimento
de reproduções voltadas ao público inte-
ressado em hots só começou a surgir por
volta da década de 90. Mas ficava uma
pergunta: se você cria um carro, como
fazer para registrá-lo? No Brasil isso é
previsto na Resolução Contran número
63. Mas, assim como construir uma
casa, há regras e limites a ser seguidos.

Resolução Contran número


63, de 21 de maio de 1998
Essa resolução, emitida em 21 de maio
de 1998, disciplina o registro e o licen-
ciamento de veículos de fabricação
artesanal, conforme o artigo 106 do
Código de Trânsito Brasileiro. Segundo
esta resolução, “considera-se veículo de
fabricação artesanal todo e qualquer
veículo concebido e fabricado sob
responsabilidade de pessoa física ou
jurídica, que atenda a todos os precei-
tos de construção veicular”. É permitido
o registro e licenciamento de até três
veículos para cada fabricante dentro de
um mesmo ano e é vedada a fabrica-
ção de veículo artesanal do tipo ônibus,
microônibus e caminhão.
A resolução especifica que alguns com-
ponentes deverão ser necessariamente
novos: pontas de eixo; cubos de rodas;
rolamentos; braço de direção; ponteira de
direção; caixa de direção; amortecedo- Certificado de Registro e Licenciamento de carro artesanal: no número do chassi
res; molas; rodas; pneus; sistema de freio a terceira letra sempre é “Z”
completo; sistema elétrico e de iluminação;
lanternas sinalizadoras. Os demais com- CSV. Este certificado é expedido por mente as 72 páginas da RTQ 24 (aces-
ponentes poderão ser recondicionados, ou uma entidade credenciada pelo Inme- sar www.inmetro.gov.br).
em bom estado de conservação. tro – Instituto Nacional de Metrologia,
Alguns hot rods de que tanto gostamos Normalização e Qualificação. Estas Resolução Técnica de Quali-
talvez não sejam vistos como veículos empresas credenciadas emitem este dade Número 24
Hot Rods 19

por um cidadão “automobilisticamente certificado com base no Regulamento A RTQ 24 informa a documentação
normal”. E para estabelecer o que pode Técnico de Qualidade número 24 (RTQ que deverá ser apresentada quando da
ser considerado um veículo passível 24). Este regulamento foi emitido pelo solicitação do certificado:
de registro, a Resolução 63 determina próprio Inmetro em 22 de janeiro de a) Documento de identificação do
que este veículo deverá apresentar o 2004. Quem quiser montar um carro proprietário.
Certificado de Segurança Veicular – e emplacá-lo deve antes ler cuidadosa- b) Desenhos técnicos com as dimensões
História

Chevrolet 34: a W.W. Trevis foi uma das pioneiras a fabricar carcaças para hot rods (SP)

e especificações técnicas do veículo. RTQ 24 também estabelece os seguin- tura, sistema de arrefecimento, sistema
c) Anotação de responsabilidade téc- tes sistemas e componentes que serão de transmissão e seus elementos.
nica (ART) do engenheiro responsável inspecionados na sua instalação e fun- Se o veículo passar na inspeção, o CSV
pelo projeto e fabricação do veículo. cionamento pela empresa credenciada: será emitido e poderá ser dado entrada
d) Documentos fiscais de aquisição dos a) Equipamentos obrigatórios: para- no processo junto ao Detran. O Detran
principais componentes/conjuntos utili- -choques, espelhos retrovisores, limpa- irá emitir o VIN, número de identificação
zados na fabricação do veículo. dor e lavador de para-brisa, para-sol, do veículo que deverá ser marcado no
e) Declaração do proprietário e do velocímetro, buzina, cintos de seguran- chassi por outra empresa autorizada. Este
engenheiro responsável de que o veícu- ça, extintor de incêndio, triângulo de número segue o mesmo padrão usado
lo atende integralmente aos requisitos segurança e estepe. pelas montadoras, mas o terceiro dígito é
de segurança veicular pertinentes à b) Sinalização: lanternas indicadoras “Z” que indica carro de fabricação pró-
legislação vigente, conforme projeto de de direção, de posição, de freio, de pria. Posteriormente os documentos são
engenharia e memorial descritivo arqui- freio elevada (brake light), de marcha a encaminhados pelo Detran à Coordena-
vados sob sua responsabilidade. ré e intermitentes de advertência. ção Geral de Infraestrutura de Trânsito, no
No item b, os desenhos citados basica- c) Iluminação: faróis principais, ilumina- Denatran de Brasília. Após vários meses,
mente mostrariam o veículo de frente, ção da placa traseira e do painel. o processo é aprovado e o Detran de
lado e traseira com as suas dimensões. d) Freios. entrada do processo poderá enfim, emitir
As especificações técnicas, por sua vez, e) Direção. o Certificado de Registro do veículo!
informariam as características do veículo f) Eixos e suspensão. O custo do processo, sem considerar os
desde o motor utilizado até a descrição g) Pneus e rodas. honorários do engenheiro, seria de cer-
Hot Rods 20

de todos os seus componentes, muitos h) Sistemas e componentes complemen- ca de R$ 2.500,00 (esse valor foi deta-
dos quais são listados na RTQ 24. tares: portas e tampas, vidros e janelas, lhado no artigo da edição 119 relativo
Já a ART (item c) é um documento no qual bancos, sistema de alimentação de a um processo efetivado em 2014).
o engenheiro informa ao CREA (Conselho combustível, sistema de exaustão dos O processo é trabalhoso e custoso, mas
Regional de Engenharia e Arquitetura) gases, carroçaria (componentes gerais, nesse ano ficou um pouco mais fácil.
que é o responsável técnico pelo veículo. painel de instrumentos, para-lamas), ins- Isso porque foi resolvido um impasse que
Além da documentação necessária, a talação elétrica e bateria, chassi/estru- pairava sobre a legalização dos arte-
Chevrolet 1938 da SS Fiberglass (RS)

sanais. A legislação atual obriga que


carros novos saiam de fábrica com ABS
e air bag. Em maio desse ano, entrou
em vigor a Resolução Nº 567, que
agora isenta os carros artesanais dessas
exigências. Motivo para comemorar!
Segundo o jornal Diário do Grande
ABC, essa resolução concedendo a
isenção do air bag e ABS foi consegui-
da por um trabalho junto ao Denatran
da Agência de Desenvolvimento Econô-
mico do Grande ABC. Ainda segundo
a reportagem, a ação da agência teria
partido a partir da solicitação da Sig-
ma Sport Car, construtora de hot rods
localizada no Grande ABC, mais preci-
samente na cidade de Santo André.
Nesta hora se percebe a importância
de associações representativas. E fica
claro que clubes de hot rods fortes
poderiam conquistar muito para seus
Hot Rods 21

membros e para o hot rodding nacio- Reproduções em metal: o mercado está se sofisticando, como mostram essas carroce-
nal. E vale lembrar que uma boa opção rias feitas em metal por Carlos Alberto Medeiros (41) 8746-9895, em Pinhais, PR.
para os clubes ganharem mais repre-
sentatividade é a filiação à Federação
Brasileira de Veículos Antigos, como atualmente presidida por Roberto Suga ração foi acolher na federação também
já fez o Curitiba Roadsters. A FBVA é e uma das suas ações à frente da fede- os hot rods.
Garage Tech

Fim do ziguezague
Correção do ângulo dos braços de direção acaba com o problema
da instabilidade do veículo
Texto e fotos: Norberto Jensen

A
construção de um hot rod, ou mesmo a restauração de veículo em velocidade e, principalmente, ao passar por imper-
um carro antigo, muitas vezes requer adaptações. E, feições na pista, o que faz com que o veiculo “jogue” de um
algumas vezes, essas adaptações não são executadas lado para outro, comprometendo totalmente a dirigibilidade.
da melhor forma, o que gera problemas na dirigibilida- Nesta edição, vamos mostrar a realocação da caixa de
de do veículo. Quando se trata da adaptação de sus- direção. Essa correção fará com que a geometria de trabalho
pensão e caixa de direção, o problema mais comum é o carro fique correta, acabando com o problema descrito acima. Dúvi-
“passarinhar”, termo usado para descrever a instabilidade do das e sugestões, escreva para suporte@hotcustoms.com.br.

01
Hot Rods 22

Esta foto mostra o braço de direção trabalhando totalmente fora de posição, ou seja, em ângulo em relação à roda
02 03

A caixa está fixada em dois apoios, e verificamos que há espaço


Soltamos os parafusos de fixação
para esta mudança

04 05

Alinhamos a caixa na posição correta e medimos o quanto


Neste caso, vamos subir 40 mm os suportes de fixação
devemos deslocar

06 07
Hot Rods 23

Com ferramenta de corte, soltamos os suportes originais Com a solda ponteamos a nova posição dos suportes
Garage Tech
08 09

Conferimos a nova posição para aferir com as medidas Soldamos de forma definitiva os suportes

10 11

Repare que, agora, o braço está mais horizontal, o que impedirá


Soltamos os parafusos de fixação da coluna de direção
que o carro oscile

12 13
Hot Rods 24

Retiramos a conexão da coluna e a reposicionamos. Está pronto


Retiramos esses parafusos
o trabalho
Hot Rods 25
Cultura Hot

Estilo e suavidade
O desafio da construção de um verdadeiro custom de qualidade
Hot Rods 26

começa com a escolha do carro certo e da visão certa para


transformá-lo em um sonho sobre rodas
Texto: Victor Rodder::Fotos: Reprodução/“Custom Cars”, de Alan Mayes
o segredo dos kustoms
N
unca escondi que sempre fui um nada por ter tido na garagem, não sem gando na internet, ou especialmente
rodder muito mais custom do muito esforço, paciência e dedicação, quando podemos vê-los ao vivo e em
que hot. E que são os carros do alguns belos espécimes dessa raça de cores, este mês resolvi escrever sobre
Hot Rods 27

final da década de 1940 e da carros, que a cada dia está mais rara. uma das coisas que mais me atraem
década de 50 que me encantam. Meu último kustom que ficou pronto foi dentre os vários fatores que fazem com
Logicamente adoro os hots, streets, mus- um Shoebox 51, que, modéstia à par- que um kustom seja realmente admirá-
cles... Mas são os customs, na verdade te, merece os prêmios que ganhou. E vel: a fluidez de suas linhas.
os kustoms, que me deixaram apaixona- pensando nisso, em carros que temos e
do pelo universo da cultura hot. personalizamos, ou às vezes em carros ALTERAÇÕES SUTIS
E hoje me considero uma pessoa afortu- que admiramos quando estamos nave- A coisa mais legal de um kustom é poder
Cultura Hot

olhá-lo de ponta a ponta e enxergar a coisas acontecem. Vejamos que, ao


suavidade com que as alterações foram personalizar um carro, estamos pegan-
feitas, ver as linhas do carro respeitadas, do a criação de outra pessoa, um carro
mas melhoradas. Percebam como os cus- desenhado por um designer profissio-
toms da década de 50, em sua esmaga- nal, e tentamos melhorá-lo.
dora maioria, se inspiram em desenhos
de foguetes ou aviões: na frente sempre
E se vamos mexer no projeto de outra
pessoa, é melhor que o trabalho seja
Receita para que um
algo remete a potência, turbinas, aero-
dinâmica, e segue suavemente ao longo
bom! O limite entre o muito legal e o
muito brega é tênue. E a receita ideal
custom agrade aos
da carroceria (fuselagem) até encontrar a para um custom que realmente agrade olhos é que ele tenha
Hot Rods 28

traseira (cauda). Assim é, ou pelo menos aos olhos é que ele tenha uma fluidez
deveria ser, o que vemos na criação de
carro feito sob medida para seu dono,
nas linhas e na aparência geral, que
pareça aos olhos dos leigos que saiu
fluidez nas linhas e na
um custom made.
O criador do projeto de um custom
assim de fábrica. Que foi assim con-
cebido. E esse conceito não é só meu.
aparência geral
tem de ser cauteloso e muito atento aos Recentemente comprei um excelente
detalhes, pois são nos detalhes que as livro de Alan Mayes, fotógrafo e editor
da Old Skool Rodz e da Car Kulture
Deluxe, duas revistas norte-americanas
sensacionais, chamado “Custom
Cars”. Lendo este livro vi que meu con-
ceito sobre qual era o truque para que
um custom ficasse bom ou não estava
certo.

PLANO GERAL
Nas palavras de Alan, que tomo a
liberdade de traduzir aqui, um bom cus-
tom deveria se parecer com um carro
saído das pranchetas de um designer.
Embora os carros sejam vistos como um
grande trabalho geral, sua construção
é realizada em pequenas sessões. Isso
faz com que seja duplamente importan-
te para o construtor de carros modifica-
dos ter um plano geral do que vai fazer.
Ter em mente a visão completa do carro
antes de cortar, soldar, rebaixar e emen-
dar. Justamente para que ele não se dis-
traia e venha a perder o foco principal
do projeto algum lugar.
Hot Rods 29

É muito provável que todos nós já


tenhamos visto um custom do qual,
obviamente, o construtor, ou não tinha um
plano ou tinha um mau gosto excepcio-
nal. Nesses carros, o que acontece é que
o construtor escolheu vários elementos
únicos que ele gostava, mas não parou
Cultura Hot

Exemplos de customs
que “deram certo”,
extraídos do livro
de Alan Mayes
de carroceria certo, as peças do carro
doador certas, e selecionar a combi-
nação perfeita de acessórios, interior,
motor, pintura e revestimento, é muito
difícil. São inúmeras e infinitas, eu diria,
as combinações e possibilidades. Por
isso, uma boa dica para começar é jus-
tamente pesquisando. E uma boa fonte
é este livro, cheio de ideias e elementos
que funcionaram bem em outros carros,
que conseguiram uma modificação sua-
ve e coesa em seus projetos.
Hot Rods 30

para pensar em como eles ficariam jun- carro vai ficar muito pior do que era antes Nas fotos que ilustram este artigo,
tos. É o que eu chamei acima de limite de ser modificado. bons exemplos de carros que deram
entre o muito legal e o brega demais. O desafio da construção de um ver- certo, e que estão nas páginas do livro
Nesse livro de Alan, temos uma série de dadeiro custom de qualidade começa de Alan Mayes. O livro custa US$
ótimas ideias de pequenos elementos que com a escolha do carro certo e da 25,00, em média, pode ser encontra-
podem deixar um custom incrível. Mas, se visão certa para transformá-lo em um do na Amazon, e vale cada centavo.
não souber como combiná-las, no final o sonho sobre rodas. Escolher o estilo Eu recomendo.
Hot Rods 31
Projeto Hot Rods
Hot Rods 32
Feito em casa (continuação)
Hot Rods 33

Reforço estrutural e foco no assoalho são as etapas atuais


do projeto Ford T 1927
Texto e fotos: Ricardo Kruppa
5º Santa
Projeto
Catarina
Hot Rods
Custom Show

01 02

Para a estutura do assoalho foi utilizada chapa 18 lisa e sem vinco

C
ontinuamos com foco total na
customização de nosso Ford 03
T Roadster 1927. Na última
edição, nós concluímos toda a
estrutura do assoalho e a chapa
de aço que fica sobre ele. Utilizamos
uma chapa 18 lisa e sem vinco. O
material utilizado para a fixação foi
cola de aço e pontos de solda.
A partir de agora, voltaremos nossa
atenção para remendar os buracos
“podres” da lataria, bem como sua
Hot Rods 34

preparação, para que esteja apta


para receber a nova pintura.
Acompanhe em nosso site o vídeo
com o resumo do que foi feito em
nosso Ford 1927 durante estas últi-
mas semanas e fique ligado na conti-
nuação do nosso projeto.
07
04

06
05

Hot Rods 35
5º Santa
Projeto
Catarina
Hot Rods
Custom Show

08

Na reta final, próxima etapa cuidará nos remendos e “podres” na lataria

09 10 11

12
Hot Rods 36
13 15

14

16 17

18 19
Hot Rods 37
Rodder Review

Pintura protegida
A seção que tem uma visão crítica e nada imparcial sobre produtos e serviços
do mundo dos hot rods traz o teste com vitrificação automotiva
Texto: Victor Rodder::Fotos: Divulgação
5º Santa
Rodder
Catarina
ReviewCustom Show

Processo de limpeza e descontaminação da pintura

U
m dos itens mais importantes
para a conservação de um auto-
móvel, e sem dúvida uma das
coisas que mais chamam a aten-
ção em um carro, é a pintura.
Seja a qualidade da pintura existente,
ou a inexistência dela, a pintura é
responsável inclusive por dizer se seu
carro é um hot, rat, custom ou low...
E num item tão importante do carro,
como é possível melhorar ainda mais
a proteção que ela oferece? Podemos
proteger e, ao mesmo tempo, manter as
características de brilho, tom e lumines-
Hot Rods 42

cência da tinta que está sobre seu carro?


Para responder a essa pergunta, este
mês fui falar com um especialista em
estética automotiva, o Snowflakes.
Ele é de Curitiba (PR), está no ramo
há 15 anos e atende em sua oficina
localizada no bairro Hauer ou em
Carro novo ou antigo
podem receber técnica
de conservação

Hot Rods 43
5º Santa
Rodder
Catarina
ReviewCustom Show

domicílio, conforme o tipo de traba- moderno em termos de proteção da Os raios UVA/UVB, que fazem as
lho a ser realizado. pintura”, explica. tintas de nossos carros desbotarem
Quando perguntei ao Snow o que Snowflakes me explicou que esse “nano com o tempo, ou ainda o temido cocô
poderia ser feito para, não só melhorar, revestimento” é feito basicamente a partir de pássaro e as amaldiçoadas seivas
mas manter a aparência da pintura, a de produtos com Sio2 na fórmula. O de árvores não serão mais problemas
primeira resposta foi vitrificação. “Se Sio2, ou vidro líquido, como também é com esse produto. “E não é só isso. A
você cuida do seu veículo – seja ele conhecido, cria na superfície da pintura vitrificação dá maior durabilidade no
carro, moto, barco ou até um helicóp- uma película resistente, que vai proteger a brilho, no tom e, em certos casos, dimi-
tero –, e está buscando uma maneira tinta dos efeitos de diversos agentes exter- nui inclusive a incidência de pequenos
de melhorar a aparência e conservar nos. “Não importa se o veículo é “zero” riscos. Há fabricantes que garantem
ainda mais o trabalho que foi feito nele, ou antigo. Ambos podem receber essa até cinco anos de proteção se algumas
a vitrificação, ou nano revestimento, é proteção que, se for bem feita, vai manter medidas forem tomadas, como lava-
o que existe hoje no mercado de mais e até devolver a aparência de novo”, diz. gem e limpeza sem produtos agressivos
Processo de lustro para abertura de brilho e remoção de marcas leves
5º Santa
Rodder
Catarina
ReviewCustom Show

Limpeza da peça para remoção de eventual óleo ou resíduo para aplicar o vitrificador

e de PH neutro, a utilização de toalhas


de microfibra na limpeza e secagem
etc”, diz o especialista.
Hot Rods 46

Snow já trabalhou com diversas marcas


e produtos diferentes, mas para este tes-
te utilizou o produto da marca Cosmic.
Esse fabricante tem uma linha completa
para revestimento e proteção das partes
do veículo, com produtos para lataria,
vidros, rodas, metais, plásticos etc.
Hot Rods 47
5º Santa
Rodder
Catarina
ReviewCustom Show
Para testar esse produto, usamos um
Golf. O processo de aplicação come-
çou com uma descontaminação de pintu-
ra (para remover qualquer impureza que
tenha aderido à tinta ou verniz). Depois
disso, um polimento técnico correcional
(para a remoção de imperfeições na
superfície e até corrigir pequenos riscos)
e finalmente a aplicação do vitrificador.
“Agora, com o processo concluído,
as sujeiras do dia a dia, fezes de pás-
saros, barro etc serão mais facilmente
removidas. E até mesmo o menor núme-
ro de vezes que o veículo precisará de
cera cai significativamente. Tem cliente
meu que nem encera mais”, conta.

Produto ganhou nota A!


O vitrificador da marca Cosmic Crystal
Coating, o X1, pode ser encontrado
Fotos do produto na embalagem e
na página oficial da marca no Brasil
no Facebook (https://www.facebook.
aplicação dele no veículo
com/CosmicsBrasil), pelo preço de R$
600,00, e rende aplicação em quatro
ou cinco carros pequenos.
Uma das vantagens do produto é que,
após a aplicação, ele precisa de ape-
nas 24 horas antes de entrar em conta-
to com água. A cura total do produto
se dá em três dias (segundo recomen-
da o fabricante), o que é um diferen-
cial em relação a outros produtos, que
levam mais tempo para a cura total.
Outra vantagem é a fácil aplicação e
remoção do produto quase como se
fosse uma cera.
Logicamente que nem todos têm o
talento necessário para fazer a correta
aplicação desse produto. Se todas as
etapas não forem respeitadas e os cri-
térios técnicos ignorados, os resultados
podem não ser alcançados.

SERVIÇO
Hot Rods 48

Se você precisar de mais informações


sobre vitrificação ou estética automotiva
em geral, fale com o Snowflakes. Ele
está em Curitiba (PR), à Rua Frederico
Maurer, 2.460, tel. (41) 8438-6073.
O blog dele é snowflakes-polimentos.
blogspot.com.
Hot Rods 49
técnica

Motor a combustão
Saiba regular a mistura ar/combustível de acordo com o
parte 4

combustível utilizado e também a altitude


Texto: Manoel G. M. Bandeira::Fotos: Divulgação

Q
Hot Rods 50

uem tem acompanhado esta série para que ele aspire maior quantidade depende muito do tipo de combustível
de artigos sobre eficiência volu- de mistura, o que irá aumentar sensivel- utilizado. Em um carro com motor movi-
métrica percebeu que falamos mente seu rendimento. do a gasolina comum, por exemplo, a
muito em mistura ar/combustível. Mas e esta mistura de ar e combustí- relação de mistura deve ser aproxima-
Já vimos o que é necessário fazer vel, como ela deve ser? Na verdade damente 18 partes de ar para uma par-
para melhorar a aspiração do motor, a quantidade de ar e combustível te de gasolina. No caso de um motor
Nos motores carburados a gasolina, deve-se dividir o diâmetro
do venturi por 18, para obter o tamanho do giclê a ser utilizado
movido a álcool ou etanol, essa relação construídos especialmente para bater Outra solução, mais fácil, seria a de
muda para 15 partes de ar para uma recordes de velocidade plena. Ao che- misturar um pouco de álcool à gaso-
parte de etanol. garem lá eles encontraram um proble- lina. É evidente que, se o motor for
É claro que esses números são calculados ma: os carros que saíram de Curitiba, alimentado por um sistema de injeção
para um funcionamento ao nível do mar, com os motores afinados a 900 metros inteligente, a própria injeção se autorre-
em que a pressão atmosférica é maior e, de altitude, não funcionaram bem a gula, reduzindo a quantidade de com-
sendo assim, a concentração de molécu- 3.600 metros. bustível. Ela faz isso por meio da leitura
las de oxigênio também é maior. Isso é fácil de compreender. Com da quantidade de CO² liberada pelo
Como o poder calorífico da gasolina a altitude o ar fica mais rarefeito e, escapamento e o sistema de injeção
é superior ao do etanol, para termos sendo assim, quando em funciona- corrige a quantidade de combustível a
uma explosão de mesma intensidade mento, o motor acaba aspirando uma ser injetada.
necessitamos de mais moléculas de eta- quantidade menor de moléculas de
nol para cada molécula de oxigênio. oxigênio, mesmo mantendo a mesma Com injeção eletrônica
Por isso mesmo é que um motor movido relação de mistura (no caso dos car- Como você pode verificar e acertar
a etanol consome mais combustível do ros a gasolina, 18 partes de ar para essa relação na prática? Se o seu motor
que seu similar a gasolina. uma parte de gasolina). é injetado e você utiliza o módulo de
Hot Rods 51

Para compensar essa diferença deve- injeção original do fabricante do motor,


Altitude conta mos diminuir a entrada de combustível, não há muito o que fazer, pois o siste-
No instante em que escrevo este arti- reduzindo o orifício dos giclês do car- ma já é projetado para se autorregular.
go, uma equipe de brasileiros está na burador. Ou, se mantivermos o mesmo Cuide apenas para que a sonda lam-
Bolívia, no salar de Uyuni, a 3.600 giclê, podemos aumentar o diâmetro do bda instalada no escapamento faça a
metros de altitude, acelerando carros venturi, empobrecendo a mistura plena. leitura correta do nível de CO² descar-
técnica
tado pelos canos de escape.
Este nível informa à injeção se todo
o combustível injetado está sendo
queimado, ou se o motor está tra-
balhando com excesso ou falta de
combustível. Caso utilize uma unidade
de controle de injeção com regulagem
manual, você pode optar por injetar
mais ou menos combustível, até obter
um funcionamento redondo do motor.

Com o bom e velho


carburador
Mas, se o seu motor é alimentado por
um bom e velho carburador, você deve
medir a abertura do venturi (abertura
por onde passa o ar dentro do carbura-
dor). No caso dos motores a gasolina
deve-se dividir o diâmetro do venturi por
18 e assim obter o tamanho do giclê a
ser utilizado. Quer um exemplo? Diga-
mos que seu venturi tenha uma boca de
28 mm, dividindo 28 por 18 você tem
1,55. Então, o tamanho do seu giclê
deve ser de 1,55 mm para motores
a gasolina. Geralmente no giclê vem
estampado o tamanho do seu orifício
(neste caso viria estampado 155). Acima, exemplos de agulhas e giclês
No mesmo caso, se o motor é movido
a etanol, utilizando o mesmo venturi de
28 mm, o cálculo seria dividir a aber- borboleta totalmente fechada, admitin- forçar, depois gire para a esquerda
tura do venturi por 15. Então a conta do ar e combustível através de orificios duas voltas e meia. Então ligue o motor
seria 28 dividido por 15, o que daria devidamente calibrados. e faça o acerto fino abrindo ou fechan-
um giclê de 1,87 mm ou 187. Esses sistemas auxiliares podem fazer do um pouco mais os parafusos de ar.
Geralmente esses cálculos funcionam com que o cálculo do tamanho do giclê Você irá notar que a marcha lenta osci-
muito bem na prática. Porém, não principal se altere em uma regulagem la. A marcha lenta ideal depende do
podemos esquecer que existem vários fina, um pouco para cima ou para tipo do motor. Em um V8 de concepção
tipos de carburadores no mercado, e baixo, dependendo do caso. Mas, de antiga, por exemplo, ela deve variar
que os carburadores, de uma maneira qualquer forma, o cálculo apresentado entre 500 e 700 rpms.
geral, não alimentam o motor apenas nos dá um ótimo ponto de partida. A Agora é regular os carburadores e sair
pelo sistema principal de aspiração maioria dos carburadores conta com para a rua acelerar e sentir como o
através do venturi. A maioria dos car- um ou mais parafusos de ajuste da motor funciona mais macio quando o
buradores conta com artifícios, como entrada de ar da marcha lenta. Esses carburador está devidamente regulado.
válvula de máxima, que é um dispo- parafusos ficam no pé do carburador Não perca a próxima edição da revista
Hot Rods 52

sitivo que corrige a mistura em altas e têm sua ponta cônica. Quanto mais Hot Rods. Nela estaremos contando
velocidades ou quando o carburador você o aperta, mais ele fecha a entrada como foi a aventura de nossos amigos
está trabalhando a pleno, com a bor- de ar do motor, engordando a mistura. no salar de Uyuni, na Bolívia. Vamos
boleta toda aberta. falar sobre as dificuldades que eles
Outro sistema do carburador é da Regulagem da marcha lenta encontraram por lá e do prazer de estar
marcha lenta, que permite que o motor Para iniciar a regulagem aperte o para- desbravando um novo horizonte no
continue funcionando mesmo com a fuso de marcha lenta até o final, sem mundo dos Hot Rods. Até lá.
Hot Rods 53
Ford T-Bucket
Hot Rods 54
Bactéria nervosa!
Entusiasta é contaminado pela cultura rodder, fabrica T-Bucket de
primeira linha com bloco 292 de 250 cv e ainda emplaca acabamento
sofisticado com direito a bancos costurados na cor da carroceria
Texto: Bruno Bocchini::Fotos: Ricardo Kruppa

Hot Rods 55
Ford T-Bucket

C
laudio Chatagnier Neto, 64 anos,
projetista mecânico de Curitiba
(PR), foi contaminado. A bactéria
chamada “T-Bucket” resulta de
uma ação comum que afeta,
sobretudo, rodders. É quase como um
problema em busca de resolução: o
número de bactérias de uma cultura t,
horas após o início de certo experimen-
to, é dado pela expressão N(t)=1200.
2 ^{o,4t}. Nessas condições, quanto
tempo após o início do experimento a
cultura terá 38.400 bactérias? Tudo
bem, você não precisa resolver. Mas o
exemplo, em forma de brincadeira, ser-
ve para que você compreenda: amor,
trabalho, dinheiro e tempo investido
conduzem a mesma fórmula diante de
qualquer projeto. O resultado final é
sempre positivo. E a cultura é a mesma.
“Há muito tempo sou apaixonado por
modelos hot e a escolha de um T-Bucket
se deu por achar que esse é o carro
que mais simboliza a cultura hot rod
dos anos 50. Tenho outros carros tam-
bém fabricados por mim, mas este é
especial”, garante o entusiasta.
A relação de Claudio com o modelo
T começou há seis anos, período no
qual o projeto começou a ser desenvol-
vido. Desde a concepção do chassi,
passando pelo conjunto mecânico até
a finalização e acabamento de pintura,
o proprietário fez parte da realização.
“Tinha o projeto desenhado na cabeça
há um bom tempo, então fui compran-
do as peças, o motor, eixo traseiro e
acabei ganhando um eixo dianteiro de
um amigo. Comprei a carroceria de
fibra de vidro do amigo Aurélio Backo.
Faltava apenas o chassi”, explica.
Após essa seleção de peças, Claudio
começou a construção do chassi e o
restante foi sendo desenvolvido até tem-
pos depois chegando à conclusão com
os acertos finais na mecânica. “Toda
a construção de chassi, suspensão coil
over, assoalho em chapa, estrutura para
os bancos, coluna e caixa de direção,
freios e demais adaptações foram ser-
viços executados por mim, um projeto
ford T-Bucket

totalmente autoral”, confirma. profissional. “Antes dos 15 anos eu


Experiência adquirida ao longo de já tinha meu carro antigo, e como ele T-Bucket leva o motor
Hot Rods 58

30 anos à frente da oficina mecânica, sempre dava problema, eu mesmo tinha


Claudio começou jovem na profissão.
Aos 14 já estava matriculado em um
que ajustá-lo. Estou com 64 anos hoje,
então tenho em soma 50 anos de car-
Ford Y-block 292 do
curso técnico de mecânica. A partir
daquele momento, dezenas de antigos
reira nesse segmento”, pontua. Galaxie. Volante
restaurados, streets e hots, além de
muscle cars passaram pelas mãos do
Inocular é preciso!
O T-Bucket leva o bloco Ford Y-block
é um Grant
Hot Rods 59
ford t-Bucket
292 do modelo Galaxie com comando
de válvulas Iskenderian 278, cabe-
çotes retrabalhados, carburação bijet
Motorcraft e escapamento artesanal
- receita que confere algo em torno de
250 cavalos ao modelo. A transmissão
adaptada ao projeto é de três marchas
(também do Galaxie), porém, com tram-
bulador adequado para a aplicação
do câmbio no assoalho. Para o kit de
freios, Claudio instalou discos e pinças
de GM Opala na dianteira e tambores
do Ford Maverick na traseira. Detalhe
para o sistema de servo freio que com
o cilindro mestre do Opala confere um
sistema confiável.
O eixo traseiro de Ford Maverick com
relação 3,31:1 (muito curto) é compen- Rodas são modelo SS do Opala. Sistema de
sado pela escolha dos grandes pneus
Yokohama 255-60. Na dianteira os escapamento foi feito artesanalmente
Hot Rods 60
Hot Rods 61
ford t-Bucket

pneus utilizados são Michelin 185-60-


14 e as rodas são de aço estampado
- modelo SS do Opala (14”x7 na frente
e 15”x10 na traseira).
Diante da estética, o T-Bucket recorre a
duas cores: azul Turner e prata Andino -
com pequena faixa vermelha que circun-
da a carroceria. O mesmo ocorre com
o estofamento feito com carpete azul e
bancos e laterais em couro nas mesmas
cores da carroceria. As costuras dos
bancos receberam a cor vermelha para
atribuir ainda mais charme ao interior
do clássico. “Todo projeto é trabalhoso,
mas o que exige mais cuidado na pre-
paração é a pintura, de fato. É preciso
ficar lisa e com perfeição, o que é um
tanto difícil. Mas o resultado ficou atraen-
te e até sofisticado. Esses detalhes do
interior também fizeram a diferença com
o volante Grant”, define Claudio.
Para muitos entusiastas, adquirir um
Hot Rods 62

clássico já é motivo de alegria. Agora,


imagine quando seu automóvel foi
fabricado com as próprias mãos. Clau-
dio garante que a primeira sensação
é de “missão cumprida”. “A segunda
sensação e as demais são maravilhosas
porque ronco de V8 e vento na cara
Cores azul e prata da
carroceria se repetem
no estofamento

Ford T-Bucket
Mecânica
Bloco Ford Y-block 292, comando
de válvulas Iskenderian 278, cabe-
çotes retrabalhados, carburação
bijet Motorcraft, escapamento
artesanal, transmissão de três mar-
chas, discos e pinças de freio GM
Opala na dianteira e tambores do
Ford Maverick na traseira e siste-
ma de servo freio;

Interior
Volante Grant, câmbio no asso-
alho, estofamento feito com
carpete azul e bancos e laterais
em couro nas mesmas cores da
carroceria, costuras dos bancos na
cor vermelha;

Estética
Na dianteira os pneus utilizados
são Michelin 185-60-14 e as rodas
são de aço estampado - modelo
SS do Opala (14”x7 na frente e
15”x10 na traseira), traseira com
pneus Yokohama 255-60, carroce-
ria em duas cores: azul Turner e
prata Andino e faixa vermelha;
são insubstituíveis”, afirma. da por nossa equipe. Veja só o resulta- Quem fez?
Entre uma acelerada e outra é difícil eli- do da brincadeira. Mecânica - Auto Mecânica Perfor-
N(t) = 1200 * 2^(0.4t) mance (41) 9645-3020; Elétrica
Hot Rods 63

minar a bactéria T-Bucket do organismo.


Talvez, para Claudio, essa “doença” 1200 * 2^(0.4t) = 38400 - Rubens Gadolti (Rubão) - (41)
não tenha cura. Fato é que o resgate e 2^0.4t = 38400/1200 = 32 = 2^5 9603-6096; Estofamento - Cristo
a concretização de um sonho já valem 0.4t = 5 Estofamentos (41) 3338-3570 e
qualquer vida. t = 5/0.4 = 12h 30minutos. Com esse Escapamento - Escapepar (41)
Se você ficou curioso, a resposta da tempo daria para começar a abrir a 3333-5462.
expressão do início do texto foi resolvi- lata do Primer, não é mesmo?
Chevy Commercial 1938
Hot Rods 64
Não é carro funerário!
No melhor estilo rat rod, Chevy embala soma de mecânica original
com detalhes que fazem a diferença por onde passa; marcha lenta é “a
menina dos olhos” para este que é o terceiro proprietário
Texto: Bruno Bocchini::Fotos: Ricardo Kruppa

Hot Rods 65
Chevy Commercial 1938

F
ábio Athaydes Tatsch, 41 anos,
parece inquieto. Não apenas
pela profissão que escolheu,
mecânico de automóveis, mas,
sobretudo, pela capacidade de
não desistir tão facilmente de projetos e
aliá-los ao gosto excessivo por modelos
antigos. Proprietário da Old Brothers
Customs and Repair, em Curitiba (PR),
o entusiasta reviveu este modelo Chevy
Commercial 1938 em sua própria
oficina. E, acredite, passaram-se muitos
anos até que o automóvel chegasse a
essa configuração atual.
“Curto muito carros Chevrolet das déca-
das de 1920 a 50. Tenho outros carros
e caminhões de outras marcas também.
Comprei esse Chevy em 1993, todo
original, do filho do primeiro proprietá-
Hot Rods 66

rio. Então já faz 23 anos que mantenho


o veículo”, conta Fábio.
Antigamente, o veículo era utilizado
pela família do primeiro dono para a Rodas 16” foram pintadas de vermelho com
prática de caça. Mas 30 anos avança-
ram e o clássico ficou parado durante sobrearo de inox de Ford 1941 e calotas brancas
todo esse período. “O carro permane-
Hot Rods 67
Chevy Commercial 1938

cia em um galpão desde que o dono resolveu desmontá-lo. “É aquela velha cial e colocar em jogo suas ideias e
havia falecido. Mas a família se preo- história: casa de ferreiro, espeto de inquietudes diante das ações. Para isso,
Hot Rods 68

cupava em fazer a mecânica funcionar pau. Desmontei o carro e ele ficou por manteve a mecânica praticamente ori-
sempre. Quando decidi comprar, usei o 15 anos assim, encostado na minha ginal (que hoje registra 30 mil milhas).
Chevy com a pintura e interior originais garagem”, explica. Trata-se de um motor seis cilindros em
durante cinco anos”, lembra. linha com sistema de lubrificação “pes-
Após essa fase, Fábio dava sinais de RETOMANDO O FôLEGO cador”, bomba de combustível de vidro
que precisava implementar suas carac- Somente no ano passado Fábio decidiu e filtro de combustível de vidro, carbu-
terísticas no automóvel. Foi então que resgatar o projeto do modelo Commer- rador pé de ferro, motor de arranque
Lataria teve a pintura original removida e é
mantida escura com produto antiferrugem
no pé (com quatro pedais no assoalho, amarelo inclusive nos arcos do ragtop
sendo que o do canto direito é a parti- 100% originais. O painel permanece
da), um câmbio de três marchas e dife- com a pintura original bege com todos
rencial e caixa de direção originais. os instrumentos originais funcionando.
A suspensão é composta de quatro Fábio fez apenas duas alterações inter-
feixes de molas originais recalandrados nas: chave de seta de painel anos 50 e
para rebaixar e amortecedores originais os bancos, que vieram de um Chevrolet
de varão com dupla ação. “Foram alte- Suburban 1949. “Parecem bancos
Hot Rods 69

rações para melhorar o rodar do carro concha de lata forrados de algodão cru
no dia a dia, mas mantive original pen- no tom bege e marrom. Ficaram legais.
sando em deixá-lo alinhado para somar Detalhe também do Rat Fink pintado a
a linha original com o estilo rat rod que pincel por mim no porta-luvas”, detalha.
viria”, garante. Esteticamente, o Chevy teve a cor do
Na estrutura interna da carroceria um bloco e caixa em vermelho (antes era
show à parte: há referências de ipê verde). O chassi, eixos e a suspensão
Chevy Commercial 1938

foram devidamente tratados e pintados


de preto Cadillac PU. Já a lataria por
fora teve apenas a pintura original
removida e é mantida escura com pro-
duto antiferrugem. “Esse tipo de carro
sempre fez sucesso por onde passa.
Neste caso, quando as madeiras apo-
dreciam eram enviadas diretamente
para a fundição. Sempre havia cuidado
em manter a originalidade. E uma curio-
sidade é que, como apliquei o visual rat
macabro e nas portas a pintura “Fune-
Hot Rods 70

rária Saint Gertrudes” sempre tem gente


que pergunta se é um carro funerário
mesmo. É engraçado”, comenta Fábio.
A inscrição nas portas não foi acaso.
Ipê amarelo nos ragtops originais e bancos
Gertrudes era a sogra do primeiro
proprietário deste Chevy Commercial e
de Chevrolet Suburban 1949: show à parte
Fábio quis manter a homenagem (mas
de um jeito um tanto quanto inusitado).
E para completar esse visual “agressi-
vo”, rodas aro 16 pintadas de vermelho
com sobrearo de inox de Ford 1941.
Há ainda calotas de C10 brancas com
pintura original para combinar com as
faixas brancas dos pneus 6.50 conven-
cionais. “Eu nunca vi uma igual, muito
menos nesse estilo rat. Sei que existem
três registradas no Brasil, mais também
nunca vi algum desses modelos. Uso
esse Chevy raramente. Tenho prazer
em mantê-lo comigo, mas só saio em
dias ensolarados ou noites estreladas
para dar uma voltinha. A marcha lenta
é linda. Se os outros donos de Chevy
Commercial também rodam pouco, por
isso nunca os encontrei”, pontua.
Do velho meio de locomoção para
um trabalhador que caçava, passan-
do pela poeira de trinta anos de um
Hot Rods 71

galpão até chegar ao vigor pleno que


exibe nas ruas. Este Chevy Commercial
tem “aposentadoria” especial por tem-
po de serviço. E se precisar, as calotas
originais existem e estão guardadas.
Dá para acreditar?
Chevy Commercial 1938

Fábio Tatsch, que


construiu seu carro
com as próprias mãos:
15 anos de espera

Chevy Commercial 1938


Mecânica
Bloco 6 cil em linha com sistema
de lubrificação “pescador”, bomba
de combustível de vidro e filtro de
combustível de vidro, carburador pé
de ferro, motor de arranque no pé,
câmbio de três marchas e diferencial
e caixa de direção originais;

Estrutura
Suspensão de quatro feixes de mola
originais e amortecedores originais
de varão com dupla ação;

Interior
Volante original, painel original,
chave de seta de painel anos 50 e os
bancos de Chevrolet Suburban 1949;

Exterior/estética
Carroceria estilo rat rod (desgas-
tada), rodas aro 16 pintadas de
vermelho com sobre aro de inox de
Ford 1941, calotas de C10 brancas
com pintura original, pneus faixas
brancas 6.50 convencionais, ragtop e
Hot Rods 72

acabamentos em Ipê amarelo;

Quem fez?
Old Brothers Customs and Repair.
Tel. (41) 9909-2622.
Hot Rods 73
Vitrine

Mais oxigênio!
A sugestão da Pro-1 é a corneta Velocity Stack, da Mr Gasket, para
carburação quadrijet. O componente garante maior fluxo de ar
para dentro do motor.
Informações: www.pro-1.com.br ou tel. (11) 3045-5544.

Novas opções
Dois modelos estão em destaque este mês na Cosmos Wheels. A
Wire Wheels 80 é uma roda cromada com calota e está disponível
na medida 15 x 7” (furação multi – 5 x 114,3/120/127). Outro
destaque é a Wire Wheels 52, também na medida 15 x 7” (multi
– 5 x114,3/120/127. Trata-se de uma roda crua com pintura a
definir com sobrearo e calota cromada.
Informações: www.cosmoswheels.com.br ou tel. (41) 3367-4844.

Móveis com estilo


A Cia 66 permite que você leve sua paixão por carros especiais
para dentro de casa. A sugestão desta edição é a linha de
sofás customizados. E atenção: leitores da Hot Rods ganham
desconto especial.
Informações: Tel. (11) 2629-4500 ou www.cia66.com

Scoop V8 polido
Hot Rods 74

A Original Hot Rod destaca nesta vitrine o scoop Hilborn V8 polido. A


peça é fabricada em alumínio, para aplicação em carburador Quadrijet/
Bijet MotorCraft. Produto de alta qualidade e acabamento, acompanha
acionamento borboleta, na medida 50 x 35 x 18 cm.
Informações: www.originalhotrod.com.br ou tel. (11) 2640-3453.
Booster eletrônico
A novidade da Rads Racing é o booster eletrônico, desenvolvido
para carros de alta performance, com tecnologia microprocessada. O
equipamento oferece mecanismo de resposta rápida, fácil visualização
de cada estágio acionado, botão de reset no próprio visor, dispensa uso
de relé externo, acionamento por aterramento ou entrada 12V, fácil
instalação, modo de funcionamento sequencial ou individual e LED’s de
indicação de alto brilho. O corpo é fabricado em plástico injetado preto
fosco, adesivo de acabamento em vinil resistente a altas temperaturas e
módulo principal independente do visor.
Informações: Tel. (11) 4564-9626 ou www.radsracing.com.br

Tampa de válvulas
O destaque da Veloparts é a tampa de válvulas cromada lisa Ford 302.
Fabricada em aço, com defletores, respiros e juntas incluídos. Vendido
aos pares.
Informações: www.veloparts.com.br ou tel. (51) 3593-8881.

Rodas especiais
Hot Rods 75

Firestone na V Fort
A Rodas Santa Rita dispõe de rodas especiais para projetos
A V Fort destaca o pneu Firestone Wide oval, de aplicação universal, diferenciados e executa reforma, pintura, alargamento, mudança de
fabricado pela Firestone (Coker Tire). Consulte as medidas aro, entre outros serviços. A empresa é especialista no segmento de
disponíveis. rodas para hot rods e está no mercado há mais de 56 anos.
Informações: www.vfort.com.br ou tel. (41) 3254-5222. Informações: Tel. (11) 3031-6580 ou www.rodassantarita.com.br.
NOVEMBRO

01 - Auto Show Collection – Sambódromo - São Paulo (SP) 15 - Auto Show Collection – Sambódromo - São Paulo (SP)
05 - Encontro de Carros Antigos de Fortaleza (CE) 20 - Encontro Mensal de Automóveis Antigos, Clássicos e Especiais –
06 - Encontro Mensal no Parque da Luz - São Paulo (SP) Guaxupé (MG)
06 - Confraria Fifty Riders & Garagem Motors – Londrina (PR) 20 - Encontro do Clube do Galaxie - São Paulo (SP)
06 - Evento Fixo Encontro no Largo Epatur - Porto Alegre (RS) 20 - Trancas Old Cars Club – Guarulhos (SP)
06 - Encontro Mensal de Carros Antigos - Bento Gonçalves (RS) 22 - Auto Show Collection – Sambódromo - São Paulo (SP)
06 - Encontro Mensal de Fuscas Antigos e Derivados de Mandirituba (PR) 27 - Encontro Hot Rods Brasil - São Bernardo do Campo (SP)
08 - Auto Show Collection – Sambódromo - São Paulo (SP) 27 - Evento Mensal do Clube V8 & Cia – Campinas (SP)
12 e 13 - Goodguys 27th Autumn Get-Together - Alameda County Fairgroun- 27 - Antigomobilistas de Interlagos - São Paulo (SP)
ds - 4501 Pleasanton Ave, Pleasanton, CA 27 - Encontro de Carros Antigos - São Paulo (SP)
13 - Encontro Mensal de Carros Antigos da Fundação S. A. - Santo André (SP) 29 - Auto Show Collection – Sambódromo - São Paulo (SP)

DEZEMBRO

03 - Encontro de Carros Antigos de Fortaleza (CE) 18 - Encontro Mensal de Automóveis Antigos, Clássicos e Especiais -
04 - Encontro Mensal de Carros Antigos - Bento Gonçalves (RS) Guaxupé (MG)
04 - Encontro Mensal no Parque da Luz - São Paulo (SP) 18 - Trancas Old Cars Club Guarulhos (SP)
04 - Confraria Fifty Riders & Garagem Motors – Londrina (PR) 18 a 20 - Goodguys 19th Southwest Nationals - WestWorld of Scottsdale -
04 - Evento Fixo Encontro no Largo Epatur - Porto Alegre (RS) 16601 North Pima Road, Scottsdale, AZ
04 - Encontro Mensal de Fuscas Antigos e Derivados de Mandirituba (PR) 20 - Auto Show Collection – Sambódromo - São Paulo (SP)
06 - Auto Show Collection – Sambódromo - São Paulo (SP) 25 - Antigomobilitas de Interlagos - São Paulo (SP)
11 - Encontro Mensal de Carros Antigos da Fundação Santo André - 25 - Encontro Hot Rods Brasil - São Bernardo do Campo (SP)
Santo André (SP) 25 - Evento Mensal do Clube V8 & Cia – Campinas (SP)
13 - Auto Show Collection – Sambódromo - São Paulo (SP) 25 - Encontro de Carros Antigos – São Paulo (SP)
18 - Encontro do Clube do Galaxie - São Paulo (SP) 27 - Auto Show Collection – Sambódromo - São Paulo-SP
Hot Rods 76
Hot Rods 77
Original

Lincoln
Continental 1940
Conheça a história de um automóvel clássico que surgiu a partir de um carro
“customizado” para as férias do herdeiro da Ford
Texto: Aurélio Backo::Fotos: Divulgação

experiência prévia na indústria automobi-


lística. Participou, desde a fundação, em
1902, da prestigiosa Cadillac, deixando-
-a apenas em 1917.
Leland, um excelente torneiro, mecânico
e engenheiro, primava sempre pela
qualidade e precisão de seus trabalhos.
Nos automóveis Lincoln, essa qualidade
foi mantida. O primeiro modelo lança-
do era um carro luxuoso e de grande
refinamento mecânico, equipado com
motor de oito cilindros em linha.
Apesar das suas qualidades, o modelo
Lincoln Continental 1940: o modelo surgiu como um carro de veraneio para Edsel Ford não vendeu em quantidades suficientes
para justificar o investimento imobiliza-

P
do. Como a empresa era de capital
ara 1940, a Ford Motor Com- recebeu na ensolarada Flórida um carro aberto, seus diretores resolveram pôr a
pany lançou um novo carro: o único! Era um belíssimo conversível desen- fábrica à venda. No começo de 1922,
Continental. A novidade era um volvido a partir de um Lincoln Zephyr Henry Ford a comprou e a anexou à
produto da divisão Lincoln, o seg- extremamente “customizado” (personaliza- Ford Motor Company. Nos dois pri-
mento de luxo da montadora. do). Esse era o primeiro Continental! meiros meses de 1922, Henry Leland
A ideia do novo veículo foi de Edsel Ford, havia vendido 150 carros, enquanto
o filho de Henry Ford. Diferentemente do Lincoln nos demais meses do ano, sob a presi-
pai, Edsel tinha um bom senso estético e A Lincoln Motor Company havia sido dência de Edsel Ford, 5.512 unidades
dentro da fábrica sua influência tornou os fundada em 1917por Henry Leland. foram vendidas, mantendo-se a mesma
Ford, Mercury e Lincoln mais bonitos e O objetivo da empresa era atender um qualidade. Edsel era um apreciador
Hot Rods 78

elegantes. Sendo filho do dono de uma contrato com o governo norte-americano de carros bem desenhados, mecânica
montadora, ele desfrutava de algumas para a produção de motores. Esses moto- e esteticamente (diferentemente do
regalias, como pedir ao departamento de res equipariam aviões militares que com- pai, que considerava o estilo um item
estilo modelos especiais. bateriam na Europa, na Primeira Grande secundário). Sob sua direção, a Lincoln
No final de 1938, Edsel teve a ideia de Guerra. Com o fim do conflito, em 1918, passou a oferecer automóveis com
fazer um carro diferente para desfrutar a estrutura da fábrica foi adaptada para excelente estilo aliado às qualidades
nas suas férias. E, em março de 1939, a produção de carros. Leland já tinha mecânicas herdadas de Henry Leland.
estendendo o capô e para-lamas dian-
teiros em 30 cm. Já a tampa traseira foi
alterada para receber um pneu estepe
externo. Para deixar o carro mais baixo
uma intervenção mais ousada foi feita:
seccionar horizontalmente a carroceria.
Uma secção foi retirada acima dos
para-lamas. Essa “fatiada” no carro
criou um capô de motor quase na altura
dos para-lamas dianteiros. Esse estilo
de capô seria adotado por todas as
Lincoln Zephyr 1936: o Zephyr era o modelo de entrada na marca e foi montadoras, dez anos depois.
um sucesso de vendas O para-brisa dianteiro original era
bipartido e foi substituído por um intei-
riço e plano. As colunas laterais do
para-brisa foram feitas bem finas dando
leveza e esportividade ao veículo.

Lincoln Zephyr 1939: a base do Con-


Lincoln Zephyr 1936: primeiro modelo da marca com estilo “aerodinâmico”
tinental foi a carroceria do modelo con-
versível de quatro portas, pois tinham o
assoalho e chassi mais reforçados
Lincoln Zephyr
O modelo Zephyr foi lançado na linha
de 1936. A Lincoln passou então a
ser formada por uma linha de entrada,
Zephyr, e uma outra top, denominada
“K”. Os modelos “K”, apesar de mais
caros e luxuosos, apresentavam um
estilo semelhante ao de 1935. Já a linha Lincoln Continental 1940: o modelo
Zephyr adotava um estilo completamente era oferecido apenas com duas portas,
novo, moderno e muito aerodinâmico. conversível ou de teto fixo
As duas séries eram impulsionadas por
motores de 12 cilindros em “V”, nada
Motor V12: os Lincoln eram equipados
mais apropriado para um carro de luxo. O carro obtido com essas intervenções
com motores de doze cilindros – um carro
Enquanto os “K” eram equipados com era uma obra de arte sobre rodas.
de luxo de verdade!
motores de 6,7 litros e 150 hp, iguais O desenho do Zephyr original já era
aos de 1935, a Zephyr usava um novo excelente, mas o Continental ia além,
motor de 4,4 litros e 110 hp. Lincoln Continental pois seu estilo era mais leve e mais
Hot Rods 79

A nova série foi um sucesso de vendas, Na criação do primeiro Lincoln Conti- limpo. Edsel comprovou pessoalmente o
com 14.994 unidades vendidas. Um nental, que Edsel desfrutou na Flórida, quanto o carro chamava a atenção na
carro sofisticado, mas com um preço mais foi utilizado como base um Zephyr sua temporada de férias. Essa receptivi-
acessível, na faixa de 1.300 dólares. A 1939 conversível. Da carroceria origi- dade ao modelo culminou na decisão
série “K” era vendida por 4.000 dólares. nal pouca coisa restou. O objetivo era de se construir mais um protótipo, não
Um Ford básico de 1936, para compa- criar um carro mais longo e mais baixo. idêntico, mas com soluções para uma
ração, custava a partir de 560 dólares. O aumento no comprimento foi obtido eventual produção em massa.
Original

Lincoln Continental 1940: a


carroceria baixa conferia ao modelo
elegância

Lincoln Continental 1940: mesmo no


modelo fechado, as colunas dos vidros Lincoln Continental 1940: nesta imagem é possível ver quão baixo era
laterais eram finas como as do conversível o capô dianteiro

Em outubro de 1939 foi lançada a linha


Lincoln 1940, e entre os novos modelos
estava o Continental. O Continental
1940 apresentava todas as virtudes do
carro especial de Edsel, mas também
compartilhava detalhes do novo Zephyr
de 1940, como faróis “sealed-beam”
Hot Rods 80

e novas lanternas traseiras. Além do


modelo conversível era ofertada uma
carroceria coupe fechada. A motoriza-
ção continuava sendo o majestoso V12,
Lincoln Continental 1940: o estepe externo se tornou um símbolo do modelo
mas com 4,8 litros e 120 hp. Ao final
Continental e “kit Continental” passou a significar o acessório de estepe externo
da temporada de 1940, um total de 404
nos carros mais novos
unidades foram vendidas. Uma quantida-
Hot Rods 81
Original

Lincoln Continental 1940: o para-brisa era plano

Ilustração do Lincoln Zephyr 1940,


onde é possível ver as carrocerias
muito mais alta que a do Continental

de pequena, mas esse era um chamariz


que atraía compradores para dentro das
concessionárias e que ajudaram a vender
Hot Rods 82

21.642 modelos Zephyr 1940... O Con-


tinental foi produzido até 1948, sempre
seguindo a mesma receita. Hoje tem
“status” de “Clássico” nos eventos de
carros antigos pelo mundo, pois apresen- Lincoln Continental 1946: o modelo foi fabricado de 1940 até 1948 com a mesma
ta um estilo soberbo, mecânica V12 e a carroceria básica
exclusividade da pequena produção.
Hot Rods 83

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