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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA COMARCA DE (MUNICÍPIO-UF)

Eu, (nome em negrito e maiúsculo), brasileiro, estado civil ( ), (profissão), portador


do documento de identidade RG (......) e inscrito no CPF (.....), residente e domiciliado na/em (.....),
vem, respeitosamente, com fulcro no art. 5º, XV 1 e LXVIII2, da Constituição Federal, do art. 15 3, da
Lei nº 10.406 de 10 de Janeiro de 2002, Código Civil Brasileiro bem como nos demais normativos
legais e regimentais de regência, impetrar

HABEAS CORPUS
que está a sofrer constrangimento ilegal imposto pelo (Governador, Prefeito Municipal, Reitor, etc),
que editou o (Decreto Estadual, Municipal, Portaria, Resolução nº xxx) e ao fazê-lo restringiu
ilegalmente o direito de locomoção do paciente.

O presente Writ é interposto, também, em caráter COLETIVO a favor de todos os que são
igualmente alcançados pelo ato coator, (Decreto, Portaria, Resolução).

I - DOS FATOS:

1. O Paciente foi surpreendido pela edição do (Decreto, Portaria, Resolução Nº …), expedido no
último dia XXX pelo(a) (autoridade coatora) e, ainda, com a recente.

2. Referido (Decreto, Portaria, Resolução Nº …) impôs a seguinte exigência para locomoção e


acesso a estabelecimentos no âmbito do território do Estado, Município, Universidade):

(transcrição do dispositivo que trata da restrição)

3. O mesmo(Decreto, Portaria, Resolução Nº …) adotou como alternativa ao cartão de vacinação


ou aplicativo digital oficial, a apresentação de teste negativo de RT-PCR, com antecedência
máxima de 72 horas, contudo, sem assegurar aos cidadãos os meios para realização desses
exames.

4. Quadra destacar, em primeira plana, que a exigência administrativa imposta pelo(a) (Decreto,
Resolução, Portaria) escapou por completo do mero exercício do poder de polícia, em razão de
ofensas à Constituição Federal e à legislação infraconstitucional que regula o direito à saúde e os
deveres do estado na sua promoção.

1 XV - é livre a locomoção no território nacional em tempo de paz, podendo qualquer pessoa, nos termos da lei, nele
entrar, permanecer ou dele sair com seus bens;
2 LXVIII - conceder-se-á habeas corpus sempre que alguém sofrer ou se achar ameaçado de sofrer violência ou coação
em sua liberdade de locomoção, por ilegalidade ou abuso de poder;
3 “Art. 15. Ninguém pode ser constrangido a submeter-se, com risco de vida, a tratamento médico ou a intervenção
cirúrgica.
5. A título de registro e antecipando o mérito deste writ, em um só ato a autoridade coatora (i)
solapou o direito à liberdade de locomoção assegurado pelo inciso XV do artigo. 5º da Constituição
Federal, sobretudo daqueles que não podem ser vacinados em virtude comorbidades e dos que
adquiriram imunidade natural ao contraírem a covid-19 e que se encontram no exercício do direito
fundamental de não serem vacinados; (ii) amputou o dever estatal de garantir o direito à saúde
mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros
agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção e
recuperação, na medida em que estabeleceu como alternativa à apresentação do cartão de
vacinação a exibição de teste negativo RT-PCR, sem contudo assegurar às condições para a sua
realização; (iii) fez tábula rasa do dever estatal de garantir a todos o pleno exercício dos direitos
culturais e acesso às fontes da cultura nacional, e de apoiar e incentivar valorização e a difusão
das manifestações culturais, conforme ordena o artigo 215 da Carta da República; (iv) impôs dever
impossível de ser atendido pelos cidadãos ao exigir esquema vacinal completo, quando sequer a
dose de reforço que o integra foi disponibilizada para a grande maioria da população.

6. Neste prado, como facilmente se descortina, o ato administrativo encontra-se viciado, isto
porque a determinação expedida pela autoridade coatora não se harmoniza com a dignidade
humana e os direitos fundamentais das pessoas.

7. A adoção de medidas indiretas, as quais compreendem, dentre outras a restrição ao exercício de


certas atividades ou à frequência de determinados lugares, prescindem de previsão em lei e devem
ter como base evidências científicas e análises estratégicas pertinentes, além de estarem
acompanhadas de ampla informação sobre a eficácia, segurança e contraindicações dos

imunizantes, providências essas que não foram adotadas em nenhum momento pelo(a)
(Governador, Prefeito, Reitor etc).

8. Por derradeiro, é imprescindível que as restrições adotadas atendam aos critérios de


razoabilidade e proporcionalidade; e sejam todas doses das vacinas distribuídas e todos os
exames exigidos disponibilizados universalmente e gratuitamente.

II - DOS MOTIVOS DA RECUSA

1. as vacinas são experimentais, seus testes não estão concluídos, portanto não desejo e não
consinto participar como voluntário destes estudos;
2. pessoa alguma pode ser forçada (mesmo que indiretamente) a receber uma intervenção
médica, muito mais de caráter preventivo e com efeitos adversos pouco conhecidos e
esclarecidos/informados;

3. que a vacinação como solução final para a pandemia é questionada por inúmeros médicos
e cientistas, tendo em vista evidências médico-científicas referentes à eficácia e à
segurança do tratamento com fármacos reposicionados;

4. que a autonomia do paciente está assegurada por um dos princípios bioéticos, que
corresponde à capacidade do indivíduo de decidir sobre ou buscar algo que seja melhor
para si segundo os seus próprios valores;

5. que o indivíduo deve ser livre para decidir, sem coerções (diretas ou indiretas) e
constrangimentos externos de controle que influenciam as suas decisões, o que envolve o
respeito aos direitos fundamentais do indivíduo, considerando-o um ser biopsicossocial e
espiritual, dotado de capacidade para tomar suas próprias decisões;

6. que, diante do surgimento de novas variantes e evidências científicas de redução da


eficácia das vacinas contra Covid19 para os novos tipos de vírus;

7. que eu me encontro saudável, pleno gozo de minhas faculdades cívicas, mentais,


emocionais e físicas, não concordando em correr os riscos de contrair a variante do
coronavírus bem como de expor-me a riscos de eventos adversos de vacinas experimentais
ainda desconhecidos;

8. que pela falta de clareza e informação quanto ao conteúdo dessas vacinas (mesmo que
experimentais), com base no Código de Defesa do Consumidor em vigor no Brasil, por lei, o
consumidor tem o direito de recusar um produto que não informe claramente se é/contém
organismos geneticamente modificados ou transgênicos;

9. que as vacinas têm caráter experimental conforme fontes oficiais que provam que todas as
vacinas contra covid-19 estão em fase de testes, o que configura caráter experimental,
sendo que dados detalhados sobre esses experimentos estão registrados no
ClinicalTrials.gov (U.S. Library of Medicine), que é um banco de dados de estudos clínicos
privados e públicos conduzidos em todo o mundo fornecido pela Biblioteca Nacional de
Medicina dos EUA;

10. que por esta razão aludida, dever-se-ia aplicar regras bioéticas de pesquisa com seres
humanos para aplicação do fármaco, o que exige de forma muito clara o consentimento
informado e a opção voluntária da pessoa que assume o risco de receber a intervenção
farmacológica;
11. que os fármacos disponíveis contra covid-19, todos, estão com seu uso aprovado de forma
emergencial, em caráter experimental e provisório, conforme RDC 475/2021 da Anvisa 4, e
este é o mesmo tratamento dado pelo FDA dos EUA e diversos outros centros de referência
no mundo;

12. que em relação à vacina da Pfizer5, apesar de obter o registro experimental e emergencial
da ANVISA (tal status ocorreu sob dados preliminares, pois o estudo segue em andamento
conforme registros no clinicaltrials.gov), estima-se que a conclusão dos estudos com os
resultados finais de segurança e eficácia só estará disponível em 2023 - mesmo com
registro definitivo ela segue em caráter experimental, pois a pesquisa segue na fase 3;

13. que o estudo da vacina Oxford AstraZeneca 6 atesta que os resultados finais de segurança e
eficácia só estarão disponíveis em 2023;

14. que os estudos da vacina Janssen7, na mesma linha, comprovam que o estudo de
segurança e eficácia de fase 3 só finaliza em 2038;

15. que a fase III do estudo da vacina Corona Vac8 também só será finalizada em 2022,
conforme estudo do Butantan;

16. que a vacinação como solução definitiva para a pandemia da covid-19 é questionada por
diversos médicos e cientistas renomados, tornando absurdo o uso desse argumento como
forma de forçar, coagir ou pressionar cidadãos a assumirem sozinhos os riscos e ônus de
terem de se vacinar, já que as farmacêuticas e os governos contrataram que não terão
responsabilidade alguma sobre lesões (graves ou não), morte ou quaisquer reações
adversas (permanentes ou temporários) em quem se vacinar, o que vem ocorrendo em
várias situações;

17. que a vacina é utilizada para gerar anticorpos imunizantes9;

18. que, curado da COVID, tenho anticorpos imunizantes em percentual suficiente de


imunização (comprovante anexo).

4 Disponível em:
<https://www.in.gov.br/en/web/dou/-/resolucao-rdc-n-475-de-10-de-marco-de-2021-307999666>. Acesso em
22/01/2022.
5 Disponível em:
<https://clinicaltrials.gov/ct2/show/NCT04368728?term=vaccine&cond=covid-19&draw=3>. Acesso em 22/01/2022.
6 Disponível em:
<https://clinicaltrials.gov/ct2/show/NCT04516746?term=astrazeneca&cond=covid-19&draw=2>. Acesso em
22/01/2022.
7 Disponível em:
<https://clinicaltrials.gov/ct2/show/NCT04505722?term=NCT04505722&draw=2&rank=1>. Acesso em 22/01/2022.
8 Disponível em: <https://www.clinicaltrials.gov/ct2/show/NCT04456595>. Acesso em 22/01/2022.
9 Disponível em: <https://www.nature.com/articles/d41586-021-01442-9>. Acesso em 22/01/2022.
Isto posto, está comprovado e documentado por meio desta, que as vacinas são
experimentais, significando que estão em fase de pesquisa e, nos termos da Constituição
Federal e do Art. 15 do Código Civil Brasileiro, ora em vigor, do Código de Nuremberg, da
Declaração de Helsinki, da Declaração Universal de Direitos Humanos, da Declaração
Universal de Bioética e Direitos Humanos da UNESCO e da grande maioria dos códigos de
ética médica, inclusive no art. 2º do Código de Ética Médica10 do CFM, ninguém pode ser
submetido a experimento científico de maneira forçada, por razões óbvias.

Forçar, mesmo que direta ou indiretamente, um cidadão a participar de experimentos


científicos desta natureza viola praticamente os códigos bioéticos do Brasil e do exterior, como
por exemplo o citado Art. 15 Lei nº 10.406 de 10 de Janeiro de 2002.

II – DA PERTINÊNCIA DA VIA ELEITA

Como se sabe, o habeas corpus, não obstante encontre previsão e disciplina no Código de
Processo Penal, é ação constitucional, do maior alcance e amplitude, que visa a tutelar,
jurisdicional e concretamente, direitos e garantias fundamentais do indivíduo, com expressa
anúncio no artigo 5º,inciso LXVIII, da Constituição Federal.

O remédio heroico se consubstancia na mais importante proteção conferida pelo


ordenamento jurídico democrático ao status libertatis, preceituando a Lex Mater ser este o remédio
jurídico adequado, pronto e eficaz, para conjurar qualquer ameaça de violência ou de supressão
(imediata ou mediata) da liberdade de locomoção por ilegalidade ou abuso de poder, bem
como de violações e desrespeitos ao devido processo legal.

Tal qual leciona Júlio Fabbrini Mirabete:

“O habeas corpus é uma garantia individual, ou seja, um remédio jurídico destinado a tutelar
a liberdade física do indivíduo, a liberdade de ir, ficar e vir. Pode ser conceituado, pois, como o
remédio judicial que tem por finalidade evitar ou fazer cessar a violência ou a coação à liberdade
de locomoção decorrente de ilegalidade ou abuso de poder” (Processo Penal, 2006, p. 739).[g.n.]

Por sua natureza garantista e imediata, o Código de Processo Penal, em seu art. 654,
dispõe que qualquer pessoa, seja em seu favor ou de outrem, poderá impetrar habeas-corpus,
razão pela qual o impetrante deste possui total legitimidade para instrumentalizá-lo.

No caso em tela, como se trata de ato administrativo, não é assegurado à autoridade


coatora o foro por prerrogativa de função nos termos da Constituição Federal.

Cabe temperar, que a imputação contida no presente remédio constitucional não diz
respeito a infração penal e sim a conduta de natureza constitucional-administrativa, razão pela qual

10 2º: "É assegurado ao paciente maior de idade, capaz, lúcido, orientado e consciente, no momento da decisão, o
direito de recusa à terapêutica proposta em tratamento eletivo, de acordo com a legislação vigente".
torna-se competente para processar e julgar o habeas corpus, o juiz de primeiro grau, sob pena,
inclusive, de supressão de instância.

Percebe-se, assim, que o ordenamento jurídico estabelece expressamente o cabimento do


habeas corpus como remédio saneador de qualquer coação ou ilegalidade imposta ao cidadão que
se encontre submetido aos comandos expedidos pela Administração Pública.

É absolutamente necessário ressaltar, ainda, a venerável tradição jurídica pátria,


consubstanciada na denominada “doutrina brasileira do habeas corpus”. Como bem ressaltou o e.
Min. RICARDO LEWANDOWSKI por ocasião do Agravo Regimental no Habeas Corpus n.º
163.943:
A partir dela, passou-se a conferir a maior amplitude possível a esse
importantíssimo instituto, abrigado em todas as Cartas Políticas brasileiras,
salvo naquelas editadas em momentos de exceção, e que encontrou em Ruy
Barbosa um de seus maiores entusiastas. Segundo essa doutrina, se
existe um direito fundamental violado, há de existir no ordenamento
jurídico, em contrapartida, um remédio processual adequado para
afastar a lesão; não existindo, instituto adequado seria o habeas
corpus. Com efeito, o mandamus em nosso País sempre foi considerado um
remédio constitucional de amplo espectro. Por isso nada impede a análise
dos fatos trazidos a estes autos, os quais podem ser perfeitamente
examinados tal como relatados, sem a necessidade de qualquer dilação
probatória, mostrando-se possível concluir, sem maiores esforços
hermenêuticos, que o paciente foi e está sendo submetido a flagrante
constrangimento ilegal, fazendo-se merecedor do writ pleiteado. [g.n]

Demonstradas, portanto, a adequação e a pertinência da via aqui eleita, bem como o


prejuízo acarretado pelo Decreto expedido pela autoridade coatora, concluem-se, à luz das balizas
expostas, que a presente matéria é examinável pela via do habeas corpus, conforme se passa a
fundamentar.

III – DO MÉRITO

É de entendimento pacífico na doutrina e na jurisprudência que num Estado Democrático de


Direito, a liberdade se configura não apenas como um direito fundamental a ser protegido, mas
também como pilar desta sociedade.

Assim, qualquer violação ilegal desta liberdade é uma violação ao próprio espírito
democrático e à própria democracia e cidadania.

Depreende-se das decisões de empresas, órgãos governamentais e governos, sejam


estaduais ou municipais, uma profunda discordância com a ordem constitucional e jurídica do
Brasil.

Conforme o inciso IV do § 4º do art. 60 da Constituição Federal, os direitos e garantias


fundamentais não podem ser objeto de proposta de emenda à Constituição que tenda a aboli-los.
Ora, se nem mesmo o mais eficaz dos instrumentos legislativos pode suprimir ou turvar o
gozo do direito de locomoção, como se pode conceber que tal restrição possa partir de um ato
administrativo ou uma lei estadual, municipal ou decisão de um proprietário de estabelecimento,
uma viação aérea, um hotel, entre outros?

Tal ocasião não pode significar nada diferente de um abuso de poder, fato que legitima a
impetração deste.

Para evitar que tal arbitrariedade venha a cercear o direito à liberdade é que o presente writ
se torna meio adequado e eficaz para evitar lesão a tão caro direito fundamental.

O constrangimento ilegal que aqui se passa a demonstrar, volta-se para o cerceamento


ilegal do direito fundamental à liberdade de locomoção, o exercício abusivo do poder de polícia por
meio do manejo irregular do poder regulamentar estatal, o descumprimento do dever de assegurar
o acesso universal às ações de saúde e o sufocamento do direito de acesso às atividades culturais
e ao lazer e entretenimento.

No entanto, este constrangimento ilegal não pode persistir, (i) seja porque impede que o
Paciente e todos que se encontram em idêntica situação exerçam o direito à não vacinação, uma
vez que este se encontra naturalmente imunizado, conforme comprovam vários exames
laboratoriais que acompanham este writ; (ii) seja porque ao estabelecer, como uma das condições
para acesso aos vários estabelecimentos e locais elencados pelo decreto municipal, a exigência de
exibição de teste negativo RT-PCR, é dever do município assegurar o correspondente acesso
universal e gratuito à realização dos testes laboratorias. (iii) seja, ainda, porque retira da população
impossibilitada por razões de comorbidades de se vacinar, bem como daqueles que não ostentam
condições financeiras para arcar com o pagamento do teste RT-PCR, o direito ao acesso aos
serviços de educação, saúde, às atividades culturais.

Ao primeiro, é oportuno dizer que não se desconhece os recentes julgados do Pretório


Excelso versando sobre a possibilidade dos estados e municípios adotarem meios indiretos que
restrinjam o exercício de certas atividades ou a frequência a determinados lugares. Ocorre que o
próprio Supremo Tribunal Federal admitiu referidas restrições por meio das ADI 6.586/DF 11 e
6.587/DF12 desde que previstas em lei, ou dela decorrentes, e tenham como base evidências
científicas e análises estratégicas pertinentes, venham acompanhadas de ampla informação sobre
a eficácia, segurança e contraindicações dos imunizantes, respeitem a dignidade humana e os

11 Disponível em <https://www.google.com/url?q=https://redir.stf.jus.br/paginadorpub/paginador.jsp?docTP%3DTP
%26docID%3D755517337&sa=D&source=editors&ust=1644314521233651&usg=AOvVaw2GrANp0K05wu_sAh1cVZ3e>.
Acesso em 08/02/2022.
12 Disponível em https://redir.stf.jus.br/paginadorpub/paginador.jsp?docTP=TP&docID=755517337>. Acesso em
08/02/2022.
direitos fundamentais das pessoas; atendam aos critérios de razoabilidade e proporcionalidade; e
sejam as vacinas, exames, tratamentos e medicamentos assegurados universal e gratuitamente.

Ocorre que a situação em apreço nem de longe se harmoniza com as balizas sedimentadas
pelo E. STF, haja vista que não se está diante da fixação de exigência com a correspondente
garantia de que a vacinação já esteja disponível para todos, notadamente a dose de reforço
(necessária para a completude do ciclo vacinal), bem como a garantia do pleno e gratuito acesso
aos exames de RT-PCR, exigidos como uma das condições para acesso aos estabelecimentos
alcançados pelos decretos municipais, com nítido abuso do poder regulamentar.

A propósito, vale descortinar as normas constitucionais que se seguem e que alcançam o


tema:
Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união
indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-
se em Estado Democrático de Direito e tem como fundamentos:
[...]
III - a dignidade da pessoa humana; (destacamos)
Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer
natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes
no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à
segurança e à propriedade, nos termos seguintes:
I - homens e mulheres são iguais em direitos e obrigações, nos
termos desta Constituição; (destacamos)
II - ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma
coisa senão em virtude de lei;
III - ninguém será submetido a tortura nem a tratamento desumano
ou degradante;

Art. 196. A saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido


mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução do
risco de doença e de outros agravos e ao acesso universal e
igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção e
recuperação. (destacamos)

O Código Civil Brasileiro, Lei 10.406/2002, andou no mesmo sentido que a Constituição
Federal:
Art. 15. Ninguém pode ser constrangido a submeter-se, com risco
de vida, a tratamento médico ou a intervenção cirúrgica.
(destacamos)

Logo e à luz de todos os dispositivos constitucionais e do que dispõe o Código Civil, o


Pretório Excelso, ao julgar as ADIs 6.586 e 6.587, bem como o ARE 1.267.879, fixou a
compreensão que de que vacinação compulsória não significa vacinação forçada, bem como
pontuou que eventual decisão política sobre a obrigatoriedade da vacinação deve ter como base
evidências científicas e análises estratégicas pertinentes, acompanhadas de ampla informação
sobre a eficácia, a segurança e as contraindicações dos imunizantes, de forma a respeitar a
dignidade humana e os direitos fundamentais das pessoas, bem como destacou a necessidade de
se observar os consensos científicos sobre a segurança e a eficácia das vacinas, a possibilidade
de distribuição universal e os possíveis efeitos colaterais, sobretudo aqueles que possam implicar
risco de vida.
Eis que aqui o (Governador, Prefeito, Reitor, etc) não implementou nenhuma campanha
que assegurasse ampla informação sobre a eficácia, a segurança e as contra indicações dos
imunizantes disponibilizados, como preconizado pelo STF. A ausência dessa prévia providência por
parte da autoridade coatora permite afirmar que a sua escolha administrativa não é indene às
medidas judiciais para afastar os excessos nas restrições e a absoluta ausência de razoabilidade e
proporcionalidade do ato impugnado e assim afastar o Decreto municipal e ou os seus efeitos nos
aspectos em que se revela causador de flagrante constrangimento ilegal.
É exatamente nessa linha de raciocínio que o ato coator decepou os direitos do Paciente e
de todos os demais afetados, pois: (i) a ausência de informação e da plena garantia de que as
vacinas (ainda experimentais) possuem eficácia e segurança, bem como a incerteza acerca de
todas as contraindicações legitimam ainda mais o exercício do direito de não se submeter à
vacinação; (ii) fere frontalmente o dever que a Constituição Federal atribuiu ao estado de assegurar
a todos o direito à saúde, sobretudo por meio da disponibilização de ações e serviços de forma
universal e gratuita, de modo que a exigência de exibição de exame RT-PCR sem disponibilizar a
sua realização na rede pública de atenção básica à saúde acabou por afastar de forma
desarrazoada o acesso às atividades culturais e de entretenimento.
O Paciente alcançado diretamente pelo presente Habeas Corpus contraiu a Covid19 e em
decorrência dela adquiriu imunidade natural, conforme comprovam os exames laboratoriais em
anexo, nominados de TESTE DE NEUTRALIZAÇÃO SARS-COV-2/COVID19, ANTICORPOS
TOTAIS, consoante se infere abaixo:

DATA DA COLETA LABORATÓRIO ÍNDICE MÍNIMO ÍNDICE APURADO

XXX XXXX XXXX XXX

Com efeito, os testes laboratoriais do paciente demonstram, à saciedade, a presença de


anticorpos que resultaram da própria COVID19, de modo que é absolutamente desarrazoado e
desproporcional exigir que o Paciente se submeta à vacinação, sobretudo em razão de inúmeros
estudos que apontam graves efeitos colaterais decorrentes nos imunizantes disponibilizados no
Brasil, conforme estudos que ora são apresentados, à guisa de exemplo.
Como corolário do direito à saúde e ao acesso às atividades culturais, ambos com
envergadura constitucional, nada mais lógico que antes de qualquer determinação de exigência de
exibição de cartão comprobatório de que o cidadão completou o ciclo de vacinação (aí
compreendida a dose de reforço, ainda não disponibilizada para a grande maioria da população) ou
exibição de teste RT-PCR, que o estado disponibilize universal e gratuitamente todas a doses de
vacina, bem como a realização, também gratuita, na rede municipal de atenção básica, a
realização do exame laboratorial, para somente após essas providências impor as restrições à
circulação dos locais fixados no (decreto, portaria, resolução).
Afigura-se intuitivo que o município não pode tangenciar as balizas sedimentadas pelo
Supremo Tribunal Federal nos julgamentos anteriormente citados e que tiveram como tema central
a adoção de medidas restritivas como as pretendidas pela autoridade coatora, ou seja, é imperioso
que o Estado primeiro disponibilize na completude e para todos os cidadãos todas as doses do
ciclo vacinal, bem como o acesso ao exame RT-PCR. Nada disso, ao revés, foi observado no ato
coator aqui reprochado.
Ademais, o ato coator também se mostra ilegal na medida em que ignorou completamente
a existência de uma parcela expressiva da população que não pode ser vacinada em virtude das
constraindicações, mormente porque não instituiu nenhuma alternativa para esses cidadãos.
Por todas essas razões e ainda mais pelas luzes do preclaro julgador, impõe-se a
concessão de todos os pedidos liminares que aqui serão formulados, bem como a confirmação, no
mérito, da ordem liminar a ser concedida.

IV - DO CABIMENTO DO CARÁTER COLETIVO NO PRESENTE WRIT

A jurisprudência pátria é uníssona quanto a possibilidade da propositura de ação


constitucional de HABEAS CORPUS COLETIVO e, por decorrência, não afasta a concessão do
HABEAS CORPUS COLETIVO DE OFÍCIO, sobretudo em hipóteses como a que aqui se expõe,
quando um número indeterminado de pessoas serão atingidas pelo malsinado (Decreto, Portaria,
Resolução), que fixou medidas restritivas a serem aplicadas já no próximo dia xxx deste mês de
xxx.
É absolutamente desarrazoado admitir que os juízes e tribunais podem conceder habeas
corpus de oficio quando impetrados individualmente, mas não podem quando se tratar de habeas
corpus coletivo. Se o direito à liberdade de locomoção individual deve ser protegido, mais ainda o
direito coletivo de liberdade.
É por esse motivo que o Código de Processo Penal legitima qualquer pessoa a ingressar
com ação de habeas corpus (art. 654 CPP) e isto porque a liberdade de locomoção, como sempre
tem se admitido, é um condomínio social, que a todos pertence.
O colendo STF já decidiu neste sentido quando se referiu aos presidiários em decorrência
da pandemia do Covid no referendo na medida cautelar do habeas corpus 188.820 (Distrito
Federal), cujo relator foi o ministro Edson Fachin.
Assim, a jurisprudência do Supremo Tribunal Federal admite a impetração de habeas
corpus coletivo para discutir pretensões de natureza individual homogênea. É um contra sensu
descabido admitir habeas corpus coletivo quando se tratar de presidiários, mas não o admitir nas
hipóteses em que a ordem requerida alcança pessoas livres, como no presente caso.Aqui, trata-se
de situação homogênea: todos os indivíduos afetados estão obrigados a exibir o cartão vacinal ou
o teste negativo RT-PCR e se não o fizerem estarão impedidos de circularem pelos locais citados
nos decretos impugnados.
A questão é a possibilidade ou não de um (Decreto, Portaria, Resolução) impedir a
circulação de pessoas pelas ruas e estabelecimentos sejam eles públicos e/ou privados,
academias, eventos, shoppings, cinemas, teatros, lojas, piscinas, e outros estabelecimentos, sem
que o Poder Público assegure todas as doses da vacina e acesso aos exames laboratoriais.
O (Decreto, Portaria, Resolução) divide a sociedade em dois tipos: os vacinados e os não
vacinados, impedindo os NÃO VACINADOS de circularem livremente pelos locais em que cita, com
grave violação à liberdade de locomoção que alcança a todos, notadamente os que não podem se
vacinar por razões médicas, bem como aqueles que exerceram o direito de não se submeterem a
vacinas experimentais e que agora não tem acesso garantido ao teste de RT-PCR, exigido
alternativamente pelo estado.
A autoridade coatora está dizendo quem vai andar ou não pelas ruas: somente os
vacinados e aqueles que, embora não vacinados, seja por razões médicas, seja por escolha
pessoal, ostentarem condições financeiras para arcar com o teste PCR. A grande maioria da
população, destituída de capacidade para arcar com o custo do teste laboratorial, simplesmente
restará condenada a não circular pela cidade, estarão com a liberdade de locomoção cerceada, ou
seja, estarão simplesmente marcados, rotulados, presos em suas residências, condenados à
reclusão.
A hipocrisia e a incoerência chegam a tal ponto de não se perceber que o transporte
público anda lotado de gente e funciona com péssima qualidade na prestação dos serviços, em
grande parte em decorrência da inércia do poder público; os bancos funcionam com filas
intermináveis e diversos outros exemplos poderiam aqui ser citados.
O (Decreto, Resolução, Portaria) parte de uma premissa simplesmente descabida, a de
que os vacinados não podem contrair a Covid19 e via de consequência não a podem transmitir.
Não se deve esquecer que os vacinados também estão contraindo a doença e assim acabam
sendo vetores do vírus.
Se a autoridade coatora pretende de fato adotar medida eficaz, nada melhor que o exame
RT-PCR que afere se o indivíduo encontra-se ou não contaminado e, via de consequência, se pode
ou transmitir a covid19. Daí a razão para se impor ao Poder Público o dever de disponibilizar na
rede municipal o teste para todos que dele necessitarem.

IV – DA NECESSIDADE DE CONCESSÃO DA LIMINAR


O fumus boni iuris se consubstancia na evidente violação do dever que possui o estado de
assegurar a disponibilização de todas as doses da vacina, universalmente a toda a população, bem
como disponibilizar, gratuitamente, a todos que necessitem, o teste RT-PCR, para só após exigir a
exibição do cartão de vacinação ou do referido teste laboratorial, porquanto a autoridade coatora
ceifou, ilegalmente, qualquer possibilidade dos cidadãos que não podem ser vacinados, dos
economicamente vulneráveis e daqueles que se encontram imunizados naturalmente acessarem
os locais alcançados pelo Decreto Municipal.

No caso específico do paciente (nome completo), a documentação acostada aos autos


comprova, de plano, a sua imunização natural, razão pela qual não se revela razoável e
proporcional a exigência de fornecimento de cartão vacinal, quando a vacina não pode ser aplicada
a força e é constitucional o direito de não se submeter a ela, conforme aliás também assegura o
Código Civil Brasileiro, garantia essa que se revela razoável ao ser exercida por quem já encontra-
se imunizado naturalmente.

A omissão nos Decretos municipais que não indicaram o caminho a ser tomado por aqueles
que não podem se vacinar, revela grave constrangimento ilegal, sobretudo porque a medida
alternativa, exibição de teste negativo RTPCR, não veio acompanhada da disponibilização na rede
de saúde pública do acesso à realização deste exame.

Por sua vez, o periculum in mora emerge límpido a partir do fato de que a autoridade
coatora já determinou que a partir do dia xxxx, somente poderão ter acesso e permanecer nos
espaços indicados pela norma coatora, aqueles que exibirem cartão de vacinação que comprove o
ciclo completo, quando sequer se encontra disponível a dose de reforço, ou quem apresentar teste
negativo RT-PCR, exame esse ainda não disponibilizado.

Ante o exposto e estando preenchidos os requisitos do fumus boni iuris e do periculum in


mora, urge requerer perante V. Exa. o deferimento da liminar a fim de elidir a escalada autoritária
consubstanciada nos atos manifestamente inconstitucionais, em todas as esferas, sejam públicas
sejam particulares.

É inconteste que a prova inequívoca do direito do impetrante está devidamente


demonstrada no caso em apreço, sendo de clareza solar o seu direito líquido e certo, além de se
comprovar a arbitrariedade levada a efeito pelas partes rés.

No que tange ao fundado receio de dano irreparável, faz-se mister ressaltar que este se
radica na iminência de violação à liberdade de consciência 13 (art. 5º, VI e VIII, CRFB/88) e
liberdade de ir e vir14 (art. 5º, XV, CF), do impetrante, com a adoção de normativas contrárias.

13 VI - é inviolável a liberdade de consciência e de crença, sendo assegurado o livre exercício dos cultos religiosos e
garantida, na forma da lei, a proteção aos locais de culto e a suas liturgias;
14 XV - é livre a locomoção no território nacional em tempo de paz, podendo qualquer pessoa, nos termos da lei, nele
entrar, permanecer ou dele sair com seus bens;
Desta feita, em uma breve análise de cognição sumária, no caso em exame, é imperiosa a
concessão da medida liminar, haja vista que, em consequência do ato manifestamente
inconstitucional, o impetrante está ameaçado de sofrer graves violações em seus direitos
fundamentais, notadamente a incontornável restrição à sua liberdade.

Verifica-se, portanto, que todos os requisitos para a concessão da ORDEM encontram-se


plenamente configurados.

VI – DOS PEDIDOS

Ex positis, com fulcro no art. 5º, LXVIII, da Constituição Federal, bem como nos demais
normativos legais e regimentais de regência, requer-se seja conhecida e concedida a ordem da
presente impetração para:

a) A concessão de medida liminar, a fim de se determinar à Autoridade Coatora, que se


abstenham de impedir o paciente, (NOME COMPLETO), de circular e permanecer nos
locais e espaços alcançados pela restrição imposta pelo (Decreto, Portaria, Resolução);
b) b) Como providência para se assegurar a plena eficácia da liminar acima requerida, que
seja determinado a expedição de ALVARÁ JUDICIAL a favor do paciente (NOME DO
PACIENTE), contendo a expressa garantia de acesso e permanência em todos os espaços,
locais e estabelecimentos relacionados no decreto municipal;
c) Requer, outrossim, a concessão de medida liminar, em CARÁTER COLETIVO, para se
determinar à autoridade coatora que garanta, no exercício do poder/dever que é lhe
concedido pela Constituição e pela legislação de regência, a todos os NÃO VACINADOS o
direito de acesso gratuito, na rede municipal de atenção básica à saúde, ao TESTE
LABORATORIAL RT-PCR, bem como determinar que sejam definidos e divulgados os
locais onde os cidadãos poderão se submeter ao referido exame;
d) Requer, também, a concessão de liminar, para se determinar à autoridade coatora que se
abstenham de aplicar o (Decreto, Portaria, Resolução);
e) Concedidas as liminares requeridas, sejam intimada a Autoridade Coatora para cumpri-las
imediatamente;
f) No mérito, seja concedida a ordem para se confirmar a concessão das medidas liminares
pleiteadas.

Nestes termos, pede deferimento.

Cidade, UF, dia, mês e ano.


_______________________________________________
NOME
RG

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