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SANEAMENTO

Eliane Conterato
Esgotos: tratamento
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:

„„ Calcular a perda de carga em diferentes partes do sistema de distri-


buição predial.
„„ Dimensionar o barrilete, coluna, ramal e sub-ramal.
„„ Analisar o funcionamento do sistema total de distribuição.

Introdução
Você já deve ter passado por situações desconfortáveis ao abrir uma
torneira ou um chuveiro e não possuir água em quantidade ou pressão
suficiente. Ao escolher o diâmetro da tubulação pela vazão total não
estamos considerando a perda de carga no caminho percorrido pela
água do reservatório até o ponto de utilização. Quando existe uma grande
perda de carga, a pressão dinâmica final pode não ser suficiente, ou seja,
a água não chegará com pressão adequada. 
Quando problemas como esse ocorrem é preciso redimensionar
a tubulação aumentando o diâmetro e recalculando novamente, até
obter um resultado satisfatório de pressão dinâmica. Nesta unidade de
aprendizagem você conhecerá os procedimentos de cálculo e verificação
para que a tubulação funcione adequadamente, desde o barrilete até o
ramal o ponto de utilização.

O esgoto sanitário
Definimos como esgoto sanitário todo o despejo líquido constituído de es-
gotos, seja doméstico e industrial, além de água de infiltração. Há três tipos
de despejos:

„„ Esgoto doméstico: despejo líquido resultante do uso da água para


higiene e necessidades fisiológicas humanas.
2 Instalações hidráulicas

„„ Esgoto industrial: despejo líquido resultante dos processos industriais,


respeitados os padrões de lançamento estabelecidos.
„„ Água de infiltração: toda água, proveniente do subsolo, indesejável
ao sistema separador e que penetra nas canalizações.

O foco deste capítulo é o esgoto doméstico. Ao fazermos todas as nossas


atividades cotidianas, como tomar banho, escovar os dentes, lavar a louça,
entre outros, sujamos a água que estava limpa. Essa sujeira, que constitui o
esgoto doméstico, é formada por uma mistura de detritos contendo restos de
alimentos, detergentes, urina, fezes e outras substâncias. Os esgotos domésticos
possuem impurezas físicas, químicas e biológicas, como:

„„ altos teores de sólidos dissolvidos, coloidais e suspensos;


„„ altos teores de nutrientes e matéria orgânica;
„„ altos números de bactérias do grupo coliformes (que indicam conta-
minação fecal);
„„ elevada DBO (demanda bioquímica de oxigênio para degradação de
matéria orgânica).

Uma pessoa gera, em média, de 100 a 200 litros de esgoto por dia, depen-
dendo da região onde vive e das atividades que desempenha. A quantidade
de esgoto gerado é uma função do consumo de água diário. Veja na Tabela 1
a seguir como é distribuído o consumo de água em uma residência.

Tabela 1. Distribuição do consumo médio de água por atividade em uma residência.

Distribuição Consumo (L/hab. dia)

Bebida e cozinha 10-20

Lavagem de roupa 20

Banhos e lavagens de mãos 25-55

Instalações sanitárias 15-25

Outros usos 15-30

Perdas e desperdícios 25-50

TOTAL 100-200
Esgotos: tratamento 3

O lançamento do esgoto in natura (sem tratamento) no meio ambiente gera


muitos inconvenientes. A matéria orgânica presente no esgoto causa dimi-
nuição do oxigênio presente na água, que é importante para a sobrevivência
de muitas espécies. Essa diminuição ocorre porque é necessário o consumo
de oxigênio para que a matéria orgânica seja degradada por microrganismos.
Outros inconvenientes são causados pelo lançamento de poluentes que causam
cor ou turbidez na água, influenciando na estética e na penetração de luz solar.
O esgoto doméstico possui também grande quantidade de nutrientes, o que
pode ocasionar o desequilíbrio na proliferação de algumas espécies de algas
ou outras plantas. Além dos citados, existem ainda os inconvenientes causados
pelo lançamento de óleos e graxas, ácidos e outros elementos tóxicos, que
prejudicam o desenvolvimento de plantas e animais no ambiente.
Os despejos domésticos são hoje uma grande preocupação no Brasil. Sem
coleta pública e tratamento em grande parte do País, muitas vezes o esgoto é
descartado de forma inadequada no meio ambiente. Para evitar esse tipo de
situação, uma solução simples é o tratamento individual que cada edificação
pode possuir.
Quando há um grande número de habitantes, como em condomínios re-
sidenciais de muitas moradias, é predominante a execução de Estações de
Tratamento de Esgotos (ETEs) mais complexas, que, por vezes, necessitam
de aparatos maiores, tanto para execução quanto para operação.
Há diversos métodos de tratamento, sendo que a escolha do procedimento
mais adequado deve partir de princípios técnicos e econômicos, bem como da
observância das características regionais. O tratamento de esgotos constitui-se
basicamente na remoção de poluentes de maneira que o efluente (esgoto que
sai do sistema de tratamento) adquira propriedades aceitáveis em relação ao
corpo receptor (onde será lançado), respeitando os limites físicos, químicos
e biológicos.

Tratamento de esgoto sanitário


Dentre os diversos tipos de tratamento de esgotamento sanitário, o mais usual,
e geralmente empregado em residências, é o sistema de fossa séptica, seguido
por outro componente, que pode ser um filtro anaeróbio, um sumidouro, uma
vala de filtração ou uma vala de infiltração. Uma configuração muito utilizada
em residências é o sistema fossa + filtro + sumidouro. Veja na Figura 1 a seguir
os principais processos.
4 Instalações hidráulicas

Figura 1. Processos de tratamento e disposição de efluentes de fossa séptica.


Fonte: Botelho e Ribeiro Jr. (2011, p. 184).

O primeiro processo é o de filtração pelo solo. Nesse esquema, o esgoto é


disperso em uma canaleta (preenchida com material que permita a percolação),
é coletado abaixo da camada de material por um tubo de coleta, e é levado
até uma caixa coletora. Da caixa coletora ele vai para a destinação final, que
pode ser um rio, por exemplo.
O segundo caso é a vala de infiltração. Nesse esquema, o esgoto é disperso
no solo, em valas com material que facilita a infiltração pelo solo. Deve-se
tomar cuidado com o posicionamento do lençol freático ao utilizar esse método.
O terceiro caso exemplifica um sumidouro, que é escavado no solo e
revestido e preenchido de forma que permita a infiltração do efluente no solo
pelas laterais e pelo fundo.
O último caso exemplifica um filtro anaeróbio. Esse sistema de fossa e
filtro resulta em uma boa eficiência na remoção de DBO. O filtro consiste em
uma câmara com material filtrante onde o fluxo passa no sentido ascendente.
Após passar pelo filtro, vai para destinação final.
A ABNT NBR 7229:1993 – Projeto, construção e operação de sistemas
de tanques sépticos – fornece os parâmetros mínimos que necessitam ser
considerados no dimensionamento. Para que um sistema de tratamento tra-
balhe de forma eficiente, torna-se primordial que os componentes sanitários
Esgotos: tratamento 5

antecedentes estejam corretamente dimensionados e sejam executados de modo


satisfatório, como as caixas de inspeção e de gordura. A caixa de inspeção
tem papel importante, pois permite o acesso e a verificação das tubulações. A
caixa de gordura também tem sua função, pois permite a retenção de grande
parte da gordura descartada, evitando que ela prossiga e cause entupimentos.
A fossa séptica, ou tanque séptico, é uma unidade de tratamento, comu-
mente executada em formato cilíndrico ou retangular prismático, que pode
ser industrializada ou moldada in loco, e que recebe o esgoto do sistema de
coleta predial e o direciona para o elemento seguinte, após a separação da
parte sólida presente no esgoto.
Os sólidos em suspensão presentes no esgoto são depositados no fundo da
fossa séptica, formando um lodo que é digerido por bactérias em condições
anaeróbias (isto é, a decomposição de matéria sem a presença de oxigênio).
Esse processo pode causar maus odores. A parte líquida segue para o próximo
processo.
A Figura 2 a seguir mostra exemplos de fossa industrializada e um corte
de uma fossa moldada in loco de concreto.

Figura 2. Tipos de fossa séptica (imagem de fossa industrializada e corte de fossa moldada
in loco).
Fonte: Adaptada de Botelho e Ribeiro Jr. (2011).

O filtro anaeróbio é um tanque que obriga o esgoto a circular no sentido


ascendente, passando através de camadas filtrantes que podem ser de dife-
rentes materiais. Em volta dessa camada filtrante se desenvolvem bactérias
que atuam na decomposição de outros poluentes que não foram degradados
na fossa séptica.
O sumidouro, também denominado poço absorvente, tem como função o
escoamento, para o solo, por meio de infiltração, da água residuária recebida
do tanque séptico. A vala de filtração é, em resumo, uma vala onde o efluente
é disperso superficialmente e coletado pelo fundo por um dreno, ou seja, como
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se fosse um processo de filtração. Já as valas de infiltração são valas que rece-


bem o efluente e permitem a infiltração pelo solo, assim como o sumidouro.
Um cuidado que deve ser realizado no projeto de um sumidouro e de valas
de infiltração é o posicionamento do nível do lençol freático, para evitar
contaminação.

Dimensionamento dos elementos de um


sistema de tratamento de esgoto individual
Um sistema de tratamento individual pode ser satisfatoriamente eficiente, desde
que seja projetado e posicionado de forma correta. A seguir você vai conhecer
os principais parâmetros e considerações a serem utilizados no processo de
dimensionamento dos sistemas mais usuais de tratamento de uma residência.

Dimensionamento de fossa séptica


O dimensionamento do volume útil total do tanque séptico (ou fossa séptica),
de acordo com a ABNT NBR 7229:1993, ocorre pela equação:

V = 1000 + N . (C.T + K. Lf )

Onde:
V = Volume útil do tanque séptico, dado em litros;
N = Número de habitantes ou unidades de contribuição;
C = Contribuição de esgoto, dada em L/Hab. x dia ou em L/Unid. x dia;
K =Taxa de acumulação de lodo;
Lf = Contribuição de lodo fresco, dado em L/Hab. x dia ou em L/Unid. x dia;
T = tempo de detenção, em dias.
O início do cálculo parte da identificação do número de ocupantes da resi-
dência ou do comércio, os quais contribuirão para os despejos de esgotamento
sanitário. A quantidade de pessoas é descrita na equação pela letra “N”.
Boa parte da água utilizada através dos aparelhos sanitários retorna ao
sistema de esgotamento sanitário. Esse percentual de esgoto é definido como
coeficiente de retorno (C) e especificado por norma pelo valor de C = 0,80,
ou seja, é como se considerássemos que 80% da água consumida na edificação
voltasse como água servida (esgoto). A mesma norma estabelece que este
valor pode variar quando devidamente justificado pelo projetista. Há casos
em que não é possível quantificar o consumo de água predial, assim, o uso do
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coeficiente de retorno torna-se ineficaz. Nessas situações, há a possibilidade


de estimativa de contribuição diária de esgoto, cujo volume dependerá basi-
camente do tipo de ocupação e do padrão (baixo, médio ou alto), conforme
demonstrado na Tabela 2 a seguir.

Tabela 2. Contribuição diária de esgoto (C) e de lodo fresco (Lf) por tipo de prédio e de
ocupante.

Contribuição
de esgotos (C) e
Prédio Unidade lodo fresco (Lf)

1. Ocupantes – residência
„„ Padrão alto pessoa 160 1
„„ Padrão médio pessoa 130 1
„„ Padrão baixo pessoa 100 1
„„ Hotel (exceto lavanderia e cozinha) pessoa 100 1
„„ Alojamento provisório pessoa 80 1

2. Ocupantes temporários
„„ Fábrica em geral pessoa 70 0,30
„„ Escritório pessoa 50 0,20
„„ Edifícios públicos ou comerciais pessoa 50 0,20
„„ Escolas (externatos) e locais de longa pessoa 50 0,20
permanência
„„ Bares pessoa 6 0,10
„„ Restaurantes e similares refeição 25 0,10
„„ Cinemas, teatros e locais de curta lugar 2 0,02
permanência
„„ Sanitários públicos (A) bacia sanitária 480 4,0
(A) Apenas de acesso aberto ao público (estação rodoviária , ferroviária, logradouro público, estádio
esportivo, etc.).

Fonte: Associação Brasileira de Normas Técnicas (1993).

Na tabela anterior, além do volume de contribuição de esgotos, existe


a indicação do coeficiente para o lodo fresco (Lf), utilizado em virtude do
início do processo de digestão, que designa o valor que se deve escolher para
o dimensionamento do volume útil do tanque séptico.
Como visto anteriormente, o primeiro local para o tratamento de esgoto
é o tanque séptico. Nesta fase, haverá um período em que a parte líquida do
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esgoto será separada da parte sólida, devido à decantação. O tempo médio


em que ocorre este processo é denominado período de detenção de esgoto,
e a escolha do valor na tabela depende da contribuição diária da edificação,
dada em litros. Veja a seguir a tabela do período de detenção dos despejos,
por faixa de contribuição diária, mostrando a variação do tempo, em dias e
horas, em função do volume de esgoto lançado diariamente.

Tabela 3. Período de detenção dos despejos, por faixa de contribuição diária.

Contribuição diária (L) Tempo de detenção

Dias Horas

Até 1500 1,00 24

De 1501 a 3000 0,92 22

De 3001 a 4500 0,83 20

De 4501 a 6000 0,75 18

De 6001 a 7500 0,67 16

De7501 a 9000 0,58 14

Mais que 9000 0,50 12

Fonte: Associação Brasileira de Normas Técnicas (1993).

Dentre os parâmetros a serem utilizados no dimensionamento do tanque


séptico, é preciso definir também a taxa de acumulação total de lodos (K),
cujo valor depende da temperatura ambiente e dos intervalos anuais entre as
limpezas que o tanque receberá. Percebe-se que as peculiaridades regionais
inerentes ao clima influenciam significativamente na escolha da taxa, portanto,
a análise do local de implantação do tratamento é importante. O intervalo entre
as limpezas precisa ser averiguado pelo projetista, o qual terá de pensar no
custo-benefício, que está ligado às despesas com execução e com manutenção
(quanto maior for o intervalo de tempo entre as limpezas, menor será o dinheiro
gasto com a manutenção, porém, eleva-se o custo de implantação devido ao
aumento do volume útil do tanque séptico). Veja a seguir a tabela de taxa de
acumulação de lodo em função do intervalo entre as limpezas e da temperatura.
Esgotos: tratamento 9

Tabela 4. Taxa de acumulação total de lodo (K), em dias, por intervalo entre limpezas e
temperatura do mês mais frio.

Intervalo entre Valores de K por faixa de temperatura


limpezas (anos) ambiente (t), em °C

t ≤ 10 10 ≤ t ≤ 20 t > 20

1 94 65 57

2 134 105 97

3 174 145 137

4 214 185 177

5 254 225 217

Fonte: Associação Brasileira de Normas Técnicas (1993).

As dimensões do tanque séptico vão variar segundo a escolha de seu


formato geométrico. Se o tanque for circular, o diâmetro interno mínimo não
poderá ser menor do que 1,10 m. Em situações que se deseja construí-lo no
formato prismático, deverá ser observada a largura interna mínima de 0,80
m, e a relação comprimento/largura de, no mínimo, 2:1 e, no máximo, 4:1.
As profundidades mínimas e máximas relacionam-se com o volume útil e
precisam ser adotadas conforme a Tabela 5 a seguir.

Tabela 5. Profundidade útil mínima e máxima, por faixa de volume útil.

Profundidade Profundidade útil


Volume útil (m3) útil mínima (m) máxima (m)

Até 6,0 1,20 2,20

De 6,0 a 10,0 1,50 2,50

Mais que 10,0 1,80 2,80

Fonte: Associação Brasileira de Normas Técnicas (1993).


10 Instalações hidráulicas

Dimensionamento de filtro anaeróbio


Muitas vezes, para melhorar a eficiência de um tratamento individual, é uti-
lizado um filtro anaeróbio após a fossa séptica, como mostrado no esquema
da Figura 3 a seguir.

Figura 3: Esquema de fossa séptica seguida de filtro anaeróbio.


Fonte: Loureçon (2011).

O filtro é dimensionado em função do número de ocupantes, do tempo de


detenção e da contribuição per capita de esgotos, conforme equação a seguir:

Vu = 1,6 N . C . T

Onde:
V = Volume útil do filtro, dado em litros;
N = Número de habitantes;
C = Contribuição de esgoto, dada em L/Hab. x dia;
T = Tempo de detenção hidráulica dado em dias (fornecido pela Tabela 6
a seguir).
Esgotos: tratamento 11

Tabela 6. Tempo de detenção hidráulica de esgotos por faixa de vazão e temperatura do


esgoto (em dias).

Vazão L/dia Temperatura média do mês mais frio

Abaixo de Entre Maior que


15°C 15°C e 25°C 25°C

Até 1500 1,17 1,0 0,92

De 1501 3000 1,08 0,92 0,83

De 3001 a 4500 1,00 0,83 0,75

De 4501 a 6000 0,92 0,75 0,67

De 6001 a 7500 0,83 0,67 0,58

De 7501 a 9000 0,75 0,58 0,50

Acima de 9000 0,75 0,50 0,50

Fonte: Associação Brasileira de Normas Técnicas (1993).

O volume útil de um filtro deve ser, no mínimo, de 1 m³ (1000 litros). A


altura do meio filtrante, já incluindo a altura do fundo falso, tem de ser de,
no máximo, 1,2 m.

Dimensionamento de sumidouro
O sumidouro consiste em um grande tanque onde o efluente é infiltrado pelo
fundo e pelas laterais. Pode ser preenchido com um material poroso ou ainda
ter o fundo e as laterais cobertas por material que permita a infiltração.
Para o dimensionamento do sumidouro, é preciso conhecer as caracterís-
ticas do solo em que este será instalado, pois isso determina como o efluente
infiltrará. O cálculo é simples e necessita apenas do volume total (em litros)
de contribuição diária de esgoto e do coeficiente de infiltração do solo (dado
em L/m² x dia).
A contribuição diária total de esgoto é a mesma encontrada anteriormente
no cálculo do tanque séptico, ou seja, será o número de habitantes multiplicado
pela contribuição diária por pessoa. O coeficiente de infiltração é encontrado
por meio de teste de percolação no solo. Cada tipo de solo apresenta um
12 Instalações hidráulicas

coeficiente diferente, conforme verificamos na Tabela 7 a seguir. Para fins


de dimensionamento, conhecendo o tipo de solo, é possível utilizar valores
apresentados em bibliografias.

Tabela 7. Coeficiente de percolação de acordo com a constituição provável do solo.

Constituição provável Coeficiente de infiltração


do solo (Lm2 x dia)

Rochas, argilas compactas Menor que 20

Argilas de cor amarela ou marrom 20 a 40


medianamente compactas

Argila arenosa 40 a 60

Areia ou silte argiloso 60 a 90

Areia bem selecionada Maior que 90

Fonte: Botelho e Ribeiro Jr. (2011, p. 190).

De posse do coeficiente de infiltração do solo e do volume total de con-


tribuição diária de esgoto, é possível calcular a área do sumidouro a partir da
seguinte equação:

A= V/C

Onde:
A = Área de infiltração necessária para o sumidouro, em metros quadrados;
V = Volume total de contribuição diária de esgoto, em litros por dia;
C = Coeficiente de percolação do solo (l/m²/dia).
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Calcule o volume total útil do tanque séptico e do sumidouro e suas dimensões para
uma residência padrão alto com 5 habitantes. Adote a temperatura ambiente da região
de 25ºC e coeficiente de infiltração de 40 L/m² x dia.
Resolução:
1° – Conforme a tabela de contribuição diária de esgoto para esse tipo de residência,
o volume de esgoto é de 160 litros/pessoa x dia, e a contribuição de lodos frescos é
de 1 litro por pessoa.
2° – Basta multiplicar o volume de contribuição de cada habitante pelo número de
pessoas: 160 x 5 pessoas = 800 litros /dia.
3° – O volume total de esgoto lançado pela edificação em um dia é de 800 litros.
4º – Com o valor encontrado do volume total de esgoto lançado pela edificação
(800 litros), verifique na tabela o tempo de detenção, que será de T = 1 dia, já que o
volume está abaixo da faixa de 1500 litros.
5º – Para encontrar a variável que falta, basta analisar a temperatura que foi informada,
e definir o intervalo entre as limpezas do sistema. Adotando o período de intervalo de
limpeza de 2 anos, a taxa de acumulação total de lodo será K = 97.
6º – Agora, basta dimensionar o volume útil da fossa pela equação:

V = 1000 + 5 · (160 · 1 + 97 · 1)
V = 2285,00 litros = 2,285 m3

7º – Adotando um tanque prismático retangular, observe a tabela de profundidades


úteis mínimas e máximas, por faixa de volume útil, e verifique que a profundidade
deverá ser estabelecida entre 1,20 e 2,20 m para o volume de 2,285 m³ (menor que 6 m³).
Adotando a profundidade mínima de 1,20 m, uma largura de 1,0 m e o comprimento
de 2,0 m, o volume da fossa com as medidas estabelecidas será:

V = 1,2 · 1 · 2
V = 2,4 m3 = 2400 litros

Vale salientar que as medidas escolhidas (profundidade, largura e comprimento)


foram determinadas seguindo os conceitos de dimensões mínimas, e enquadram-se
nas referências estabelecidas em norma (por exemplo, a largura mínima admitida de
0,80 m e a relação comprimento/largura de 2:1).
14 Instalações hidráulicas

8º – Cálculo da área necessária para o sumidouro de formato cilíndrico: O volume


total de contribuição diária de esgoto é de 800 litros. Considerando o coeficiente de
infiltração dado por 40 L/m² x dia, é possível calcular a área de infiltração:

800
A=
40

A = 20 m2

9º – Estimativa das dimensões:


Diâmetro (D) = 2,0 m
Raio (R) = 1,0 m

A = π · R2 + 2 · π · R · h
20 = π · 12 + 2 · π · 1 · h
h = 2,68 metros

Pela melhor praticidade de execução, será adotada a altura de 2,70 m, assim, o


volume do sumidouro será:

V = π · R2 · h
V = π · 12 · 2,70
V = 8,48 m3
Esgotos: tratamento 15

1. O esgoto doméstico pode d) Possui baixos teores


ser definido como: de sólidos, não sendo
a) Despejo resultante das importante esse parâmetro
atividade domésticas, exceto o para fins de tratamento.
despejo dos vasos sanitários. e) Não possui alta presença de
b) Despejo doméstico somado óleos e graxas, não sendo
ao despejo industrial. necessário a construção de
c) Os despejos gerados nos dispositivos específicos de
banheiros das residências, não remoção de gorduras.
incluindo os despejos de pias de 3. A utilização de fossas sépticas é
cozinha nem da área de serviço. uma maneira simples e barata de
d) Despejo líquido resultante disposição dos esgotos, sobretudo,
do uso da água para higiene para a zona rural ou residências
em geral e necessidades isoladas. Sobre os processos que
fisiológicas humanas. ocorrem em um fossa séptica,
e) Despejos de esgotos doméstico e escolha a alternativa correta.
industrial e a água de infiltração. a) A fossa séptica não
2. As substâncias presentes nos remove a maior parte dos
esgotos são prejudiciais aos corpos sólidos em suspensão.
de água. A matéria orgânica pode b) Na fossa séptica os sólidos
causar a diminuição da concentração em suspensão sedimentam
de oxigênio dissolvido provocando a e sofrem o processo de
morte de peixes e outros organismos digestão anaeróbia.
aquáticos. A matéria em suspensão c) Não há formação de
e diluída causa escurecimento da lodo na fossa séptica.
água e impede a passagem da luz d) Por ser um processo
solar. Sobre a constituição do esgoto anaeróbio não há risco da
doméstico é correto afirmar: geração de maus odores.
a) É constituído em grande parte e) O principal processo de
de sólidos oriundos da lavagem degradação de matéria
de alimentos e despejos fecais. orgânica é de formas aeróbias
b) Possuem pouca matéria (com presença de ar), por
orgânica, já que sua maior bactérias presentes em todo
composição é água. o volume da fossa séptica.
c) O esgoto doméstico apresenta 4. Um sistema de tratamento individual
grande concentração de pode ser satisfatoriamente eficiente,
bactérias do grupo coliforme, desde que corretamente projetado
que indicam contaminação e posicionado. Sobre o projeto de
de origem fecal. uma fossa séptica é correto afirmar:
16 Instalações hidráulicas

a) O dimensionamento não sanitário depois de passar pela


leva em consideração os fossa ou fossa/filtro. Sobre o
ocupantes da residência, dimensionamento e construção de
apenas o tipo de edificação. um sumidouro é correto afirmar:
b) O tempo que o esgoto a) Um sumidouro é um sistema
permanece na fossa séptica não de fácil construção e pode ser
interfere no dimensionamento. adotado em qualquer caso.
c) O intervalo entre limpezas altera b) O tipo de solo influencia no
o volume total da fossa, ou tamanho do sumidouro, já
seja, quanto maior o intervalo que influencia na velocidade
entre limpezas maior será o de infiltração efluente.
volume adotado para a fossa. c) O sumidouro deve possuir um
d) A relação comprimento largura tamanho mínimo de 1 m³.
não precisa ser considerada d) Pode-se utilizar apenas o
no dimensionamento de sumidouro como sistema de
uma fossa séptica. tratamento de esgotos de
e) Uma fossa séptica pode ser uma pequena residência.
construída de qualquer forma e) É recomendado que o
geométrica, não havendo sumidouro seja sempre
limitação em seu tamanho. construído de forma retangular.
5. O sumidouro é uma boa alternativa
para a destinação final do esgoto
Esgotos: tratamento 17

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. ABNT NBR 7229:1993. Projeto, cons-


trução e operação de sistemas de tanques sépticos. Rio de Janeiro: ABNT, 1993.
BOTELHO, M. H. C.; RIBEIRO JR., G. A. Instalações hidráulicas prediais: utilizando tubos
plásticos. 3. ed. São Paulo: Edgard Blucher, 2011.
LOUREÇON, A. C. Desenvolvimento urbano. Téchne, ed. 169, abr. 2011. Disponível
em: <http://techne.pini.com.br/engenharia-civil/169/artigo285862-1.aspx>. Acesso
em: 04 jul. 2017.

Leituras recomendadas
BRASIL. Ministério do Meio Ambiente. Conselho Nacional do Meio Ambiente. Resolução
CONAMA n° 397, de 3 de abril de 2008. Altera o inciso II do § 4o e a Tabela X do § 5º,
ambos do art. 34 da Resolução do Conselho Nacional do Meio Ambiente- CONAMA
no 357, de 2005, que dispõe sobre a classificação dos corpos de água e diretrizes
ambientais para o seu enquadramento, bem como estabelece as condições e padrões
de lançamento de efluentes. Brasília: CONAMA, 2008.
BRASIL. Ministério do Meio Ambiente. Conselho Nacional do Meio Ambiente. Reso-
lução CONAMA n° 430, de 13 de maio de 2011. Dispõe sobre as condições e padrões de
lançamento de efluentes, complementa e altera a Resolução no 357, de 17 de março
de 2005, do Conselho Nacional do Meio Ambiente-CONAMA. Brasília: CONAMA, 2011.
JORDÃO, E. P.; PESSÔA, C. A. Tratamento de esgotos domésticos. 7. ed. Rio de Janeiro:
ABES, 2014.
NUVOLARI, A. Esgoto sanitário: coleta, transporte, tratamento e reuso agrícola. 2. ed.
São Paulo: Edgard Blücher, 2011.
VON SPERLING, M. Introdução à qualidade das águas e ao tratamento de esgotos. 3. ed.
Belo Horizonte: UFMG, 2005.
Conteúdo:

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