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Eliane Conterato
Esgotos: tratamento
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:
Introdução
Você já deve ter passado por situações desconfortáveis ao abrir uma
torneira ou um chuveiro e não possuir água em quantidade ou pressão
suficiente. Ao escolher o diâmetro da tubulação pela vazão total não
estamos considerando a perda de carga no caminho percorrido pela
água do reservatório até o ponto de utilização. Quando existe uma grande
perda de carga, a pressão dinâmica final pode não ser suficiente, ou seja,
a água não chegará com pressão adequada.
Quando problemas como esse ocorrem é preciso redimensionar
a tubulação aumentando o diâmetro e recalculando novamente, até
obter um resultado satisfatório de pressão dinâmica. Nesta unidade de
aprendizagem você conhecerá os procedimentos de cálculo e verificação
para que a tubulação funcione adequadamente, desde o barrilete até o
ramal o ponto de utilização.
O esgoto sanitário
Definimos como esgoto sanitário todo o despejo líquido constituído de es-
gotos, seja doméstico e industrial, além de água de infiltração. Há três tipos
de despejos:
Uma pessoa gera, em média, de 100 a 200 litros de esgoto por dia, depen-
dendo da região onde vive e das atividades que desempenha. A quantidade
de esgoto gerado é uma função do consumo de água diário. Veja na Tabela 1
a seguir como é distribuído o consumo de água em uma residência.
Lavagem de roupa 20
TOTAL 100-200
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Figura 2. Tipos de fossa séptica (imagem de fossa industrializada e corte de fossa moldada
in loco).
Fonte: Adaptada de Botelho e Ribeiro Jr. (2011).
V = 1000 + N . (C.T + K. Lf )
Onde:
V = Volume útil do tanque séptico, dado em litros;
N = Número de habitantes ou unidades de contribuição;
C = Contribuição de esgoto, dada em L/Hab. x dia ou em L/Unid. x dia;
K =Taxa de acumulação de lodo;
Lf = Contribuição de lodo fresco, dado em L/Hab. x dia ou em L/Unid. x dia;
T = tempo de detenção, em dias.
O início do cálculo parte da identificação do número de ocupantes da resi-
dência ou do comércio, os quais contribuirão para os despejos de esgotamento
sanitário. A quantidade de pessoas é descrita na equação pela letra “N”.
Boa parte da água utilizada através dos aparelhos sanitários retorna ao
sistema de esgotamento sanitário. Esse percentual de esgoto é definido como
coeficiente de retorno (C) e especificado por norma pelo valor de C = 0,80,
ou seja, é como se considerássemos que 80% da água consumida na edificação
voltasse como água servida (esgoto). A mesma norma estabelece que este
valor pode variar quando devidamente justificado pelo projetista. Há casos
em que não é possível quantificar o consumo de água predial, assim, o uso do
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Tabela 2. Contribuição diária de esgoto (C) e de lodo fresco (Lf) por tipo de prédio e de
ocupante.
Contribuição
de esgotos (C) e
Prédio Unidade lodo fresco (Lf)
1. Ocupantes – residência
Padrão alto pessoa 160 1
Padrão médio pessoa 130 1
Padrão baixo pessoa 100 1
Hotel (exceto lavanderia e cozinha) pessoa 100 1
Alojamento provisório pessoa 80 1
2. Ocupantes temporários
Fábrica em geral pessoa 70 0,30
Escritório pessoa 50 0,20
Edifícios públicos ou comerciais pessoa 50 0,20
Escolas (externatos) e locais de longa pessoa 50 0,20
permanência
Bares pessoa 6 0,10
Restaurantes e similares refeição 25 0,10
Cinemas, teatros e locais de curta lugar 2 0,02
permanência
Sanitários públicos (A) bacia sanitária 480 4,0
(A) Apenas de acesso aberto ao público (estação rodoviária , ferroviária, logradouro público, estádio
esportivo, etc.).
Dias Horas
Tabela 4. Taxa de acumulação total de lodo (K), em dias, por intervalo entre limpezas e
temperatura do mês mais frio.
t ≤ 10 10 ≤ t ≤ 20 t > 20
1 94 65 57
2 134 105 97
Vu = 1,6 N . C . T
Onde:
V = Volume útil do filtro, dado em litros;
N = Número de habitantes;
C = Contribuição de esgoto, dada em L/Hab. x dia;
T = Tempo de detenção hidráulica dado em dias (fornecido pela Tabela 6
a seguir).
Esgotos: tratamento 11
Dimensionamento de sumidouro
O sumidouro consiste em um grande tanque onde o efluente é infiltrado pelo
fundo e pelas laterais. Pode ser preenchido com um material poroso ou ainda
ter o fundo e as laterais cobertas por material que permita a infiltração.
Para o dimensionamento do sumidouro, é preciso conhecer as caracterís-
ticas do solo em que este será instalado, pois isso determina como o efluente
infiltrará. O cálculo é simples e necessita apenas do volume total (em litros)
de contribuição diária de esgoto e do coeficiente de infiltração do solo (dado
em L/m² x dia).
A contribuição diária total de esgoto é a mesma encontrada anteriormente
no cálculo do tanque séptico, ou seja, será o número de habitantes multiplicado
pela contribuição diária por pessoa. O coeficiente de infiltração é encontrado
por meio de teste de percolação no solo. Cada tipo de solo apresenta um
12 Instalações hidráulicas
Argila arenosa 40 a 60
A= V/C
Onde:
A = Área de infiltração necessária para o sumidouro, em metros quadrados;
V = Volume total de contribuição diária de esgoto, em litros por dia;
C = Coeficiente de percolação do solo (l/m²/dia).
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Calcule o volume total útil do tanque séptico e do sumidouro e suas dimensões para
uma residência padrão alto com 5 habitantes. Adote a temperatura ambiente da região
de 25ºC e coeficiente de infiltração de 40 L/m² x dia.
Resolução:
1° – Conforme a tabela de contribuição diária de esgoto para esse tipo de residência,
o volume de esgoto é de 160 litros/pessoa x dia, e a contribuição de lodos frescos é
de 1 litro por pessoa.
2° – Basta multiplicar o volume de contribuição de cada habitante pelo número de
pessoas: 160 x 5 pessoas = 800 litros /dia.
3° – O volume total de esgoto lançado pela edificação em um dia é de 800 litros.
4º – Com o valor encontrado do volume total de esgoto lançado pela edificação
(800 litros), verifique na tabela o tempo de detenção, que será de T = 1 dia, já que o
volume está abaixo da faixa de 1500 litros.
5º – Para encontrar a variável que falta, basta analisar a temperatura que foi informada,
e definir o intervalo entre as limpezas do sistema. Adotando o período de intervalo de
limpeza de 2 anos, a taxa de acumulação total de lodo será K = 97.
6º – Agora, basta dimensionar o volume útil da fossa pela equação:
V = 1000 + 5 · (160 · 1 + 97 · 1)
V = 2285,00 litros = 2,285 m3
V = 1,2 · 1 · 2
V = 2,4 m3 = 2400 litros
800
A=
40
A = 20 m2
A = π · R2 + 2 · π · R · h
20 = π · 12 + 2 · π · 1 · h
h = 2,68 metros
V = π · R2 · h
V = π · 12 · 2,70
V = 8,48 m3
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Leituras recomendadas
BRASIL. Ministério do Meio Ambiente. Conselho Nacional do Meio Ambiente. Resolução
CONAMA n° 397, de 3 de abril de 2008. Altera o inciso II do § 4o e a Tabela X do § 5º,
ambos do art. 34 da Resolução do Conselho Nacional do Meio Ambiente- CONAMA
no 357, de 2005, que dispõe sobre a classificação dos corpos de água e diretrizes
ambientais para o seu enquadramento, bem como estabelece as condições e padrões
de lançamento de efluentes. Brasília: CONAMA, 2008.
BRASIL. Ministério do Meio Ambiente. Conselho Nacional do Meio Ambiente. Reso-
lução CONAMA n° 430, de 13 de maio de 2011. Dispõe sobre as condições e padrões de
lançamento de efluentes, complementa e altera a Resolução no 357, de 17 de março
de 2005, do Conselho Nacional do Meio Ambiente-CONAMA. Brasília: CONAMA, 2011.
JORDÃO, E. P.; PESSÔA, C. A. Tratamento de esgotos domésticos. 7. ed. Rio de Janeiro:
ABES, 2014.
NUVOLARI, A. Esgoto sanitário: coleta, transporte, tratamento e reuso agrícola. 2. ed.
São Paulo: Edgard Blücher, 2011.
VON SPERLING, M. Introdução à qualidade das águas e ao tratamento de esgotos. 3. ed.
Belo Horizonte: UFMG, 2005.
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