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Instalações Hidráulicas – Esgoto e Drenagem

SCHOLA DIGITAL
2018

Material Didático de Leitura


Obrigatória utilizado na
Disciplina de Instalações
Hidráulicas – Esgoto e
Drenagem – Revisão 00 de
Janeiro de 2018
Instalações Hidráulicas – Esgoto e Drenagem
ÍNDICE

UNIDADE 1 – ESGOTOS PREDIAIS

Aula 1: Contexto e Conceitos.....................................................................................................1

Aula 2: Classificação e Projetos................................................................................................18

Aula 3: Dimensionamento........................................................................................................32

UNIDADE 2 – ESGOTO URBANO E DESTINAÇÕES

Aula 4: Sistema Público de Esgotos..........................................................................................48

Aula 5: Tratamento de Esgotos I..............................................................................................56

Aula 6: Tratamento de Esgotos II.............................................................................................72

UNIDADE 3 – DRENAGEM PREDIAL

Aula 7: Águas Pluviais..............................................................................................................82

Aula 8: Instalações Prediais.....................................................................................................90

Aula 9: Reutilização de AP’s...................................................................................................105

UNIDADE 4 – DRENAGEM URBANA

Aula 10: Generalidades..........................................................................................................109

Aula 11: Dispositivos de Microdrenagem..............................................................................121

Aula 12: Dispositivos de Macrodrenagem.............................................................................130


Aula 1 - Contextos e Conceitos
UNIDADE 1 – EGOTOS PREDIAIS

Unidade 1 – Esgotos Prediais

Aula 1: Contextos e Conceitos

Uma instalação predial de Esgotos Sanitários visa atender às exigências mínimas de habitação
em relação à higiene, segurança, economia e conforto dos usuários. O objetivo original desta
aula é de fornecer subsídios que permitam o projeto de instalações de esgotos sanitários em
edificações ou unidades domiciliares, sem levar em consideração o destino final dos esgotos
sanitários.

1. Generalidades e Definições

É característico de qualquer comunidade humana, o consumo de água como uma


necessidade básica para desempenho das diversas atividades diárias e, consequentemente,
a geração de águas residuárias sem condições de reaproveitamento. A água consumida
deve ser de procedência conhecida, requerendo, na maioria das vezes, tratamento prévio
para que ao atingir os pontos de consumo, a mesma esteja qualificada com um grau de
pureza que possa ser utilizada de imediato para o fim a que se destina. As instalações
necessárias para que a água seja captada, tratada, transportada e distribuída nos pontos de
consumo constituem o sistema de abastecimento de água.

Os processos de consumo da água, na sua maioria geram vazões de águas residuárias


que, por não disporem de condições de reutilização, devem ser coletadas e transportadas
para locais afastados da comunidade, de modo mais rápido e seguro, onde, de acordo com
as circunstâncias, deverão passar por processos de depuração adequados antes de serem
lançadas nos corpos receptores naturais. Este condicionamento é necessário para preservar
o equilíbrio ecológico no ambiente atingido direta ou indiretamente pelo lançamento. Este
serviço é executado pelo sistema de esgotos sanitários.

Paralelamente à operação dos serviços citados devem também ser drenadas as águas
de escoamento superficial, em geral vazões sazonais de origem pluvial, através de um
sistema de galerias e canais, para os corpos receptores de maior porte da área tais como

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Aula 1 - Contextos e Conceitos
INSTALAÇÕES HIDRÁULICAS –
ESGOTO E DRENAGEM

córregos, rios, lagos, etc. A existência desse conjunto de condutos artificiais de


esgotamento‚ denominado de sistema de drenagem pluvial ou sistema de esgotos pluviais,
é fundamental para preservação da estrutura física salubre, pela redução ou controle dos
efeitos adversos provocados pela presença incontrolada dessas vazões.

Entende-se, pois, que a existência dos serviços descritos é essencial para o bem-estar
de todos. Por definição, esse conjunto de serviços compõe o denominado Saneamento
Básico, e tradicionalmente tem sido de responsabilidade, pelo menos no seu
gerenciamento, do poder público.

É fundamental, também, observar-se que a boa operação e confiabilidade dos


sistemas que compõem as atividades de Saneamento Básico respondem diretamente por
melhores condições de saúde, conforto e segurança e produtividade em uma população
urbana.

1.1. Classificação das Águas

A expansão demográfica e o desenvolvimento tecnológico trazem como consequência


imediata o aumento de consumo de água e a ampliação constante do volume de águas
residuárias não reaproveitáveis que, quando não condicionadas de modo adequado,
acabam poluindo as áreas receptoras causando desequilíbrios ecológicos e destruindo os
recursos naturais da região atingida ou mesmo dificultando o aproveitamento desses
recursos naturais pelo homem. Essas águas, conjuntamente com as de escoamento
superficial e de possíveis drenagens subterrâneas, formarão as vazões de esgotamento ou
simplesmente esgotos.

Sendo assim, de acordo com a sua origem, os esgotos podem ser classificados
tecnicamente da seguinte forma:

• Esgoto sanitário ou doméstico ou comum;


• Esgoto industrial;
• Esgoto pluvial.

Denomina-se de esgoto sanitário toda a vazão esgotável originada do desempenho das


atividades domesticas, tais como lavagem de piso e de roupas, consumo em pias de cozinha
e esgotamento de peças sanitárias, como por exemplo, lavatórios, bacias sanitárias e ralos
de chuveiro.

O chamado esgoto industrial é aquele gerado através das atividades industriais,


salientando-se que uma unidade fabril onde seja consumida água no processamento de sua

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UNIDADE 1 – EGOTOS PREDIAIS

produção, gera um tipo de esgoto com características inerentes ao tipo de atividade (esgoto
industrial) e uma vazão tipicamente de esgoto doméstico originada nas unidades sanitárias
(pias, bacias, lavatórios, etc.).

O esgoto pluvial tem a sua vazão gerada a partir da coleta de águas de escoamento
superficial originada das chuvas e, em alguns casos, lavagem das ruas e de drenos
subterrâneos ou de outro tipo de precipitação atmosférica.

2. Sistemas de Esgotos

Para que sejam esgotadas com rapidez e segurança as águas residuárias indesejáveis,
faz-se necessário a construção de um conjunto estrutural que compreende canalizações
coletoras funcionando por gravidade, unidades de tratamento e de recalque quando
imprescindíveis, obras de transporte e de lançamento final, além de uma série de órgãos
acessórios indispensáveis para que o sistema funcione e seja operado com eficiência. Esse
conjunto de obras para coletar, transportar, tratar e dar o destino final adequado às vazões
de esgotos, compõe o que se denomina de Sistema de Esgotos.

O conjunto de condutos e obras destinados a coletar e transportar as vazões para um


determinado local de convergência dessas vazões é denominado de Rede Coletora de
Esgotos. Portanto, por definição, a rede coletora é apenas uma componente do sistema de
esgotamento.

Para se projetar convenientemente as instalações, é necessário que:

• Promova-se o rápido escoamento dos esgotos; isto é conseguido através de


traçados convenientes, evitando-se curvas verticais e horizontais. No caso de
necessidade, as curvas devem ser preferencialmente de 45o. Quando
inevitável as curvas de 90o deverão ser de raios longos, utilizando-se peças de
inspeção antes e depois das mesmas. As ligações entre canalização deverão
ser feitas sempre que possível através do traçado mais curto, com prioridade
para a de maior diâmetro;
• Vede-se a passagem de gases e animais das tubulações para o interior dos
edifícios: provendo-se todas as peças ou canalizações ligadas a elas, de fecho
hídrico (coluna líquida de 50 mm de altura no mínimo), que deve ser mantido
sob quaisquer condições de funcionamento da rede;
• Impeça-se a poluição da água de consumo e de gêneros alimentícios: evitando
as interconexões, bem como a passagem de canalizações de água em rebaixos
de pisos ou canaletas de águas servidas. De qualquer maneira, a existência de

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vazamentos na canalização de esgotos, pode causar problemas de


contaminação da água de abastecimento e de gêneros alimentícios.
• Impeça-se vazamentos, escapamentos de gases e formação de depósitos no
interior das tubulações: para se evitar vazamentos é aconselhável que a
instalação antes de ser posta em funcionamento, seja submetida ao teste de
fumaça, ou outro qualquer, a fim de se detectar possíveis falhas na execução
da mesma. Devem ser evitados colos que permitam a deposição de material
particulado presente nos esgotos. Deve-se prover as tubulações de inspeções
(peças especiais ou causas de inspeção) que permitam a manutenção da rede,
através da introdução de equipamentos utilizados na limpeza das mesmas.
Por fim a durabilidade das instalações está diretamente ligada à qualidade do
material empregado, que deve ser resistente à corrosão, e da execução dos
serviços, por isso a instalação não deve nunca estar solidária à estrutura do
prédio;
• Permita-se a ventilação contínua da rede pública coletora de esgotos: está é
conseguida através da manutenção de canalização abertas à atmosfera e
ligadas diretamente à rede pública sem nenhuma obstrução. Tal condição é
satisfeita pelas instalações de ventilação que apresentam como único
objetivo, a veiculação de gases e de ar.

2.1. Funções e Requisitos de Desempenho

O sistema predial de esgoto sanitário (SPES), como dito, é um conjunto de tubulações


e acessórios, o qual destina-se a coletar e conduzir o esgoto sanitário a uma rede pública de
coleta ou sistema particular de tratamento. Além desta função básica, o SPES deve atender
aos seguintes requisitos segundo a norma brasileira NBR 8160 “Sistemas prediais de esgotos
sanitários – Projeto e execução” (ABNT, 1999). Analogamente às caracterizações do tópico
2, tem-se:

• Deve ser garantida a qualidade da água de consumo;


• Permitir o rápido escoamento da água utilizada e dos despejos introduzidos,
evitando a ocorrência de vazamentos e a formação de depósitos no interior
das tubulações;
• Impedir que os gases provenientes do interior do SPES atinjam áreas de
utilização;
• Deverá haver uma separação absoluta em relação ao sistema predial de águas
pluviais.

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Aula 1 - Contextos e Conceitos
UNIDADE 1 – EGOTOS PREDIAIS

A contaminação da água de consumo deve ser evitada, protegendo-se tanto o interior


dos sistemas de suprimento, como os ambientes receptores.

A necessidade de viabilizar o rápido e seguro escoamento do esgoto sanitário, assim


como garantir o funcionamento adequado dos fechos hídricos, deve ser considerada desde
a concepção do SPES. A velocidade do escoamento nos trechos horizontais está associada à
eficiência no transporte dos materiais sólidos, evitando que estes venham se depositar no
fundo das tubulações. Nos trechos verticais, a velocidade do escoamento influencia
significativamente nas pressões pneumáticas desenvolvidas no interior das tubulações.

Já os fechos hídricos funcionarão adequadamente se os mesmos não se romperem,


uma vez que os mesmos impedem que os gases no interior das tubulações penetrem no
ambiente, conforme já comentado. Esta condição de não rompimento será garantida se as
variações das pressões pneumáticas no interior do sistema forem limitadas. Os fenômenos
que induzem as variações das pressões pneumáticas serão discutidos posteriormente.

A separação absoluta do SPES em relação ao sistema predial de águas pluviais deve ser
garantida, assegurando a inexistência de ligação entre tais sistemas.

2.2. Constituição

São separados como proposto a seguir.

2.2.1. Subsistemas do Sistema Predial de Esgoto Sanitário

O SPES pode ser dividido nos seguintes subsistemas:

• Coleta e Transporte de Esgoto;


• Ventilação.

O subsistema de coleta e transporte é composto pelo conjunto de aparelhos


sanitários, tubulações e acessórios destinados a captar o esgoto sanitário e conduzi-lo a um
destino adequado.

O subsistema de ventilação, por sua vez, consta de um conjunto de tubulações e/ou


dispositivos destinados a assegurar a integridade dos fechos hídricos, de modo a impedir a
passagem de gases para o ambiente utilizado, assim como conduzir tais gases à atmosfera.

Outra classificação que tem sido frequentemente utilizada considera o sistema de


aparelhos sanitários independente do de esgoto sanitário, já que o mesmo consiste em uma

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Aula 1 - Contextos e Conceitos
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interface entre aqueles dois sistemas.Neste documento está sendo considerada a primeira
classificação citada, tendo em vista que o escoamento no interior dos aparelhos sanitário
influencia o escoamento no sistema de esgoto sanitário.

Na Figura abaixo é apresentado um esquema do sistema predial de esgoto sanitário.

2.2.2. Componentes
2.2.2.1. SUBSISTEMA DE COLETA E TRANSPORTE

a) Aparelhos Sanitários

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Aula 1 - Contextos e Conceitos
UNIDADE 1 – EGOTOS PREDIAIS

Com a função básica de coletar os dejetos, os aparelhos sanitários devem propiciar


uma utilização confortável e higiênica por parte do usuário. Entre os aparelhos sanitários
usuais encontram-se a bacia sanitária, o lavatório, a banheira, o bidê, etc.

b) Desconectores

Um desconector tem por função, através de um fecho hídrico próprio, vedar a


passagem de gases oriundos das tubulações de esgoto para o ambiente utilizado. Tal
contenção ocorre através da manutenção do referido fecho hídrico por meio do controle
das ações atuantes sobre o mesmo. Entre estas ações, vale citar a auto-sifonagem, a
sifonagem induzida, a sobrepressão e a evaporação. Exemplos de desconectores são a caixa
sifonada, o ralo sifonado e os sifões. Observar:

As caixas sifonadas recebem o esgoto de vários ramais de descarga, encaminhando-os


para o tubo de queda, através de um ramal de esgoto (estas definições são apresentadas a
seguir)

Anteriormente, dispunha-se apenas de caixas sifonadas onde as entradas (3 para a


caixa 100 x 100 x 50 e 7 para a caixa 150 x 150 x 50) estavam dispostas seguindo um
determinado ângulo (45° ou 90°). Atualmente, existe no mercado uma caixa sifonada que
permite ângulos diferenciados entre as entradas e a saída da mesma, o que evita uma
patologia bastante comum nos SPES no Brasil, o aquecimento das tubulações para a
obtenção de desvios. Nas Figuras são ilustradas a referida caixa sifonada.

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c) Tubulações

As tubulações do sistema predial de esgoto sanitário compreendem os ramais de


descarga e de esgoto, tubos de queda, subcoletores e coletores. Suas respectivas definições
são as seguintes:

• Ramal de Tubulação: que recebe diretamente os efluentes dos aparelhos de


descarga;
• Ramal de Esgoto: Tubulação, usualmente horizontal, que recebe os efluentes
dos ramais de descarga, diretamente, ou através de um desconector (caixa
sifonada, por exemplo);

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• Tubo de Queda: Tubulação vertical para a qual se dirigem os efluentes dos


ramais de esgoto e de descarga;
• Subcoletor: Tubulação horizontal que recebe efluentes dos tubos de queda
e/ou dos ramais de esgoto;
• Coletor: É a tubulação horizontal que se inicia a partir da última inserção do
subcoletor (ou ramal de descarga ou ramal de esgoto) e estende-se até o
coletor público ou sistema particular de tratamento e disposição de esgoto.

d) Conexões

Elementos cuja função é interligar tubos, tubos e aparelhos sanitários, tubos e


equipamentos, além de viabilizar mudanças de direção e diâmetro da tubulação. São

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exemplos o Tê, o cotovelo, a junção simples, curvas, etc., nos mais variados diâmetros,
conforme ilustra a Figura.

Os desvios na horizontal das tubulações do sistema de esgoto sanitário devem ser


efetuados com peças com ângulo central igual ou inferior a 45°. Em função disso, as
conexões disponíveis no mercado possibilitavam desvios a 45° ou a 90° (vertical ou
horizontal). Atualmente, dispõe-se de algumas conexões que permitem desvios em ângulos
variáveis, sempre inferiores a 45°, tal como a representada na Figura. Este tipo de conexão
evita o aquecimento de tubos para a obtenção de desvios.

e) Caixas de Gordura

Trata-se de um dispositivo complementar, cuja finalidade é a retenção de substâncias


gordurosas contidas no esgoto. Na Figura abaixo é apresentado um esquema de uma caixa
de gordura pré-fabricada, em material plástico e uma caixa de gordura em argamassa.

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f) Dispositivos de Inspeção

São elementos complementares, através dos quais tem-se acesso ao interior do


sistema, de maneira a possibilitar inspeções e desobstruções eventuais. A caixa de inspeção
e as conexões com uma das derivações com um plug ou com um cap são dispositivos de
inspeção bastante usados. A Figura ilustra uma junção simples com um plug.

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A Figura abaixo mostra uma caixa de inspeção em argamassa e uma caixa de inspeção
pré-fabricada, em material plástico.

2.2.2.2. SUBSISTEMA DE VENTILAÇÃO

O subsistema de ventilação pode ser composto apenas de ventilação primária ou pelo


conjunto de ventilação primária e secundária. A ventilação primária constitui-se no
prolongamento do tubo de queda além da cobertura do prédio, denominado tubo
ventilador primário, enquanto que a ventilação secundária consiste de ramais e colunas de
ventilação ou de apenas colunas de ventilação. Não obstante, a ventilação secundária pode
ser configurada também pela utilização de dispositivos de admissão de ar, os quais podem
substituir ramais e colunas de ventilação. A eficiência deste subsistema será satisfatória na
medida em que os fechos hídricos sejam preservados. As definições destes componentes
são as seguintes:

• Tubo Ventilador Primário: é o prolongamento do tubo de queda além da


cobertura do prédio, cuja extremidade deve ser aberta à atmosfera;
• Ramal de Ventilação: Tubulação que conecta o desconector, ramal de
descarga ou ramal de esgoto à coluna de ventilação;
• Coluna de Ventilação: Tubulação vertical que abrange um ou mais andares,
com a extremidade superior aberta ou conectada a um barrilete de
ventilação;

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• Barrilete de Ventilação: Consta de uma tubulação horizontal aberta à


atmosfera, na qual são conectadas as colunas de ventilação, quando
necessário;
• Dispositivos de Admissão de Ar: Elementos cuja finalidade é a atenuação das
flutuações das pressões pneumáticas desenvolvidas no interior das
tubulações.

3. Tipos de Escoamento

Os tipos de escoamentos que se estabelecem em um sistema predial de esgoto


sanitário variam por trechos da configuração. Com relação ao subsistema de coleta e
transporte do esgoto sanitário, nos trechos horizontais (ramais de descarga e de esgoto,
subcoletores e coletores) admite-se que o escoamento seja em canal. Nos trechos verticais
(tubo de queda), o escoamento é anular, isto é, uma lâmina de água escoa pelas paredes do
tubo em forma de anel e, no interior deste, há escoamento de ar. Quanto ao subsistema de
ventilação, admite-se que o escoamento de ar se desenvolva sob regime permanente e
forçado.

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4. Fenômenos Ocorrentes nos SPES’s

4.1. Estabelecimento da Velocidade Terminal

Conforme já comentado no item anterior, o escoamento de esgoto no tubo de queda é


considerado anular, isto é, o esgoto escoa no formato de um cilindro oco, aderido à parede
do tubo. A velocidade de escoamento deste cilindro é crescente até atingir um valor
máximo e constante, a qual é denominada velocidade terminal.

A distância ao longo do eixo do tubo de queda, entre o ramal mais a jusante que está
contribuindo (de cima para baixo) e o ponto onde o escoamento atinge a velocidade
terminal é denominado comprimento terminal. Este comprimento é relativamente curto,
situando-se normalmente entre 3,0 e 4,0 m.

A determinação da velocidade e comprimento terminais é importante para a


estimativa das vazões de ar no núcleo do tubo de queda, conforme será abordado
posteriormente. A Figura abaixo apresenta o perfil de distribuição de velocidades na seção
transversal.

4.2. Ações Sobre os Fechos Hídricos

4.2.1. Ações Decorrentes do Escoamento

O escoamento do esgoto nas tubulações horizontais deve ser a conduto livre e nos
trechos verticais deve ser anular, uma vez que deve ser evitado o desenvolvimento de
cargas hidrostáticas no interior das tubulações. Estas restrições também podem evitar
distúrbios excessivos das pressões pneumáticas no interior do sistema, que podem ter
origem nos fenômenos de auto-sifonagem, sifonagem induzida e sobrepressão, de acordo
com a AMERICAN SOCIETY OF PLUMBING ENGINEERS (ASPE, 1991).

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A auto-sifonagem atua sobre um fecho hídrico quando através deste ocorre uma
descarga. Nesta situação, desenvolve-se uma depressão a jusante do fecho hídrico, o qual
poderá ser rompido, dependendo da magnitude desta depressão. A figura ilustra o
desenvolvimento deste fenômeno.

A sifonagem induzida, igualmente, impõe depressões a jusante de um determinado


fecho hídrico, com a diferença que o escoamento não se desenvolve através deste fecho
hídrico, mas sim ao longo de outras tubulações conectadas a ele, conforme se observa na
Figura a seguir. Por outro lado, quando a jusante do fecho hídrico forem desenvolvidas
pressões positivas, ocorre a sobrepressão. Este fenômeno pode fazer com que os gases
borbulhem através do fecho hídrico e atinjam o ambiente. A Figura da página abaixo
apresenta tais fenômenos, onde percebe-se que a sobrepressão surge em regiões próximas
ao encontro do tubo de queda com o subcoletor, devido à mudança de direção do
escoamento.

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É salientado também o problema gerado pela formação de espumas, devido ao uso de


detergentes. A espuma dificulta a ventilação do sistema e tende a propagar-se através das
tubulações nos primeiros andares, podendo atingir os fechos hídricos e, conseqüentemente,
penetrar nos ambientes.

4.2.2. Ações Independentes do Escoamento

A evaporação, a tiragem térmica e a ação do vento no topo do tubo de queda são


fenômenos que podem atuar nos fechos hídricos independentemente do sistema estar em
uso.

A tiragem térmica é função da diferença entre as temperaturas do ar no interior das


tubulações (temperatura interna) e no meio ambiente (temperatura externa). Se a
temperatura interna for superior à externa, se desenvolverão depressões pneumáticas no
interior do tubo de queda, uma vez que neste caso o ar tende a sair do tubo de queda para
atingir o meio ambiente. Sendo a temperatura interna inferior à externa, inverte-se o
sentido do fluxo do ar e sobrepressões se estabelecerão no interior do tubo de queda.

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Aula 1 - Contextos e Conceitos
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Onde:

htq é a altura do tubo de queda;


ρi é a densidade do ar interno;
ρe é a densidade do ar externo.

A ação do vento no topo do tubo de queda pode gerar depressões ou sobrepressões


no interior do sistema, o que depende da posição da ponta do tubo de queda em relação à
cobertura da edificação. A Figura abaixo ilustra o fenômeno.

As perdas de fecho hídrico por evaporação dependem do tempo de exposição do


mesmo ao ambiente (maior tempo de exposição causa maior perda), temperatura e
umidade relativa do ar ambiental e do coeficiente de evaporação do sifão. Em locais onde
associam-se altas temperaturas e baixos valores de umidade relativa do ar, maiores são as
perdas por evaporação. Outro fenômeno ainda a ser citado é o congelamento do fecho
hídrico que pode ocorrer em regiões de baixa temperatura, inviabilizando assim o
escoamento, não sendo comum no Brasil.

Baseado e adaptado de ABNT,


GONÇALVES (2000), GRAÇA
(1985). Edições sem prejuízo
de conteúdo.

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Aula 2 - Classificação e Projetos
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Aula 2: Classificação e Projetos

O critério básico de classificação do Sistema Predial de Esgoto Sanitário refere-se ao tipo de


ventilação existente no mesmo. Assim, serão apresentados nesta aula os tipos e classificações
pertinentes e usuais bem como algumas tipificações alternativas, mas não menos
interessantes. Ademais, serão inseridos os conceitos de Projetos, tópico este fundamental
para a próxima etapa de dimensionamento.

1. Tipologias

1.1. SPES’s com Ventilação Primária e Secundária

São divididas em duas, sendo elas apresentadas a seguir.

1.1.1. Ventilação através do tubo ventilador primário, coluna e ramais de


ventilação.

Esta tipologia encontra-se ilustrada na Figura. A linha contínua representa o


subsistema de coleta e transporte de esgotos sanitários (aparelhos sanitários, ramais de
descarga e de esgoto, tubo de queda, subcoletores e coletores). Já a linha pontilhada
representa o subsistema de ventilação. O subsistema de ventilação desta tipologia divide-se
em primário e secundário. A ventilação primária é basicamente a extensão do tubo de

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Aula 2 – Classificação e Projetos
UNIDADE 1 – EGOTOS PREDIAIS

queda além do ramal conectado mais elevado; esta extensão é denominada tubo ventilador
primário e sua extremidade fica em contato com a atmosfera. Já a ventilação secundária é
composta de colunas e ramais de ventilação.

1.1.2. Ventilação através do tubo ventilador primário e coluna de ventilação

Esta tipologia, conforme Figura abaixo, diferencia-se da tipologia anterior apenas pelo
fato de não apresentar ramais de ventilação, isto é, a ventilação secundária consta somente
de uma coluna conectada ao tubo de queda.

1.2. SPES Apenas com Ventilação Primária

Nesta tipologia, há apenas previsão da ventilação primária, através do prolongamento


do tubo de queda.

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1.3. Tipologias Alternativas

1.3.1. SPES com Dispositivos de Admissão de Ar

Os dispositivos de admissão de ar são utilizados no intuito de substituir os ramais e


colunas de ventilação, equilibrando as pressões pneumáticas que normalmente se
estabelecem no interior do sistema quando sob solicitação. Quanto à concepção, há dois
tipos básicos de dispositivos de admissão de ar.

1.3.1.1. VÁLVULAS DE ADMISSÃO DE AR

As válvulas de admissão de ar, em função de suas dimensões e pontos de instalação,


dividem-se em dois tipos:

• Válvulas de topo de tubo de queda;


• Válvulas para ramais.

As válvulas de topo de tubo de queda possuem dimensões maiores em relação às para


ramais e são instaladas de forma a evitar a perfuração dos telhados para a passagem de
ventilação. a Figura abaixo ilustra uma válvula para topo de tubo de queda.

As válvulas para ramais podem ser instaladas no topo do tubo de queda, porém, para a
instalação no tubo de queda há limitações a serem observadas quanto a somatória das
Unidades de Contribuição de Hunter (UHCs) e do diâmetro do tubo de queda. A Figura a
seguir apresenta a estrutura da válvula para ramais e a próxima apresenta os
posicionamentos possíveis das válvulas.

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Aula 2 – Classificação e Projetos
UNIDADE 1 – EGOTOS PREDIAIS

Ambos os tipos de válvulas apresentam o mesmo mecanismo de funcionamento,


conforme pode ser observado na Figura 28. Quando ocorrem depressões pneumáticas no
interior da tubulação, o diafragma abre-se, possibilitando, assim, o acesso de ar para o

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Aula 2 - Classificação e Projetos
INSTALAÇÕES HIDRÁULICAS –
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interior da mesma equilibrando, consequentemente, a pressão pneumática. Atingido tal


equilíbrio, o diafragma fecha-se e obstrui a saída dos gases.

1.3.1.2. SIFÕES AUTO-VENTILADOS

Consta de um sifão ao qual é acoplado um mecanismo que viabiliza sua auto-


ventilação quando surgem depressões pneumáticas no interior dos respectivos ramais.

1.3.2. Sistema SOVENT

Este sistema é composto, basicamente, pelos seguintes componentes:

• Um ramal de descarga por andar;


• Tubo de queda único;
• Uma conexão aeradora por andar;
• Uma conexão de aeradora nas mudanças de direção.

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Aula 2 – Classificação e Projetos
UNIDADE 1 – EGOTOS PREDIAIS

Tanto a conexão aeradora, assim como a deaeradora possuem a função de equilibrar


as pressões pneumáticas no interior da tubulação. A conexão aeradora equilibra as pressões
negativas, enquanto os deaeradores aliviam as sobrepressões. Estas conexões encontram-
se esquematizadas ao lado.

1.3.3. Sistema Gustavsberg

O objetivo deste sistema é atender os requisitos básicos de um SPES, viabilizando


concomitantemente economia no consumo de água e redução das quantidades e diâmetros
das tubulações. Os componentes deste sistema são os seguintes:

• Bacia sanitária com caixa acoplada de volume reduzido de descarga;


• Diafragma instalado entre a bacia sanitária e o ramal de descarga, cuja função
é aumentar a capacidade de sifonagem da bacia;
• Tubulações em PVC, cujos diâmetros são reduzidos em conformidade aos
volumes reduzidos de descarga;
• Reservatório com sifão, no qual um certo volume de esgoto será acumulado,
viabilizando posterior carregamento dos dejetos, de maneira a garantir a
autolimpeza das tubulações.

2. Projetos

Neste tema é apresentada, inicialmente, a estrutura básica de um projeto do sistema


predial de esgoto sanitário. Posteriormente, encontram-se algumas recomendações
técnicas relacionadas ao desenvolvimento do projeto propriamente dito.

2.1. Estrutura Básica

As etapas do projeto do SPES são as seguintes:

1º Passo: Concepção;
2º Passo: Dimensionamento;
3º Passo: Elaboração do projeto de produção;
4º Passo: Quantificação e orçamentação;
5º Passo: Elaboração do projeto “como construído” (as built).

Inicialmente, concebe-se o SPES estabelecendo-se uma configuração que deverá ter


um desempenho adequado diante das diversas solicitações previstas. Devem ser
consideradas, igualmente nesta fase fatores como a integração deste sistema com os

23
Aula 2 - Classificação e Projetos
INSTALAÇÕES HIDRÁULICAS –
ESGOTO E DRENAGEM

demais sistemas da edificação, a normalização vigente, materiais e componentes


disponíveis no mercado, etc.

Concebido o SPES e definida uma configuração, procede-se o dimensionamento do


mesmo, onde as dimensões obtidas deverão atender às solicitações previstas. Concluído o
dimensionamento do sistema, elabora-se o projeto para a produção, o qual consta de
simbologia utilizada, representações gráficas e um conjunto de documentos. A
representação gráfica deve conter, basicamente, o seguinte:

• Planta baixa da cobertura, do pavimento tipo, do térreo e do subsolo,


apresentando os tubos de queda, ramais, desvios, colunas de ventilação e
dispositivos diversos;
• Planta baixa do pavimento inferior, apresentando os subcoletores, coletores,
dispositivos de inspeção, pontos de emissão dos esgotos sanitários, entre
outros detalhes específicos;
• Esquema vertical (fluxograma) sem escala, no qual serão apresentados os
principais componentes do sistema;
• Plantas dos ambientes sanitários apresentando o traçado e diâmetros das
tubulações, normalmente em escala 1:20;
• Detalhes específicos.

A seguir são apresentadas a simbologia e algumas representações gráficas usualmente


empregadas no projeto dos SPES.

24
Aula 2 – Classificação e Projetos
UNIDADE 1 – EGOTOS PREDIAIS

A documentação básica, por sua vez, é a seguinte:

• Memorial descritivo;
• Memória de cálculo;
• Especificações técnicas;
• Quantificação;
• Orçamento.

Conforme Autores, o memorial descritivo deve apresentar, basicamente, as


características da solução proposta. As justificativas dos métodos e técnicas para atingir tal
solução também devem ser apresentadas. A memória de cálculo consta da apresentação de
todo o dimensionamento e as referências normativas. As especificações técnicas devem
conter, basicamente, a especificação comercial dos materiais e os detalhes construtivos,
entre outras informações julgadas importantes.

Na sequência realiza-se a quantificação e a orçamentação dos componentes do


sistema. O projeto “as built”, por fim, registrará aqueles detalhes executivos que não
seguiram o projeto de produção visando-se, assim, ter o registro fiel do sistema instalado.

2.2. Recomendações Gerais

As seguintes recomendações são de caráter geral e estão em conformidade com a


NBR-8160 (ABNT,1999). Recomendações mais específicas devem ser observadas na norma
citada.

a) Todos os aparelhos sanitários devem ser protegidos por desconectores, os quais


podem atender apenas um aparelho ou a um conjunto de aparelhos de um mesmo
ambiente.
b) As caixas sifonadas podem ser utilizadas para a coleta dos despejos de conjuntos
de aparelhos sanitários (lavatórios, bidês, chuveiros) de um mesmo ambiente, além
de águas provenientes de lavagens de pisos; neste caso as caixas sifonadas devem
ser providas de grelhas. Quanto às bacias sanitárias, as mesmas já são providas
internamente de um desconector, devendo, assim, ser ligadas diretamente ao tubo
de queda (Figura).

25
Aula 2 - Classificação e Projetos
INSTALAÇÕES HIDRÁULICAS –
ESGOTO E DRENAGEM

c) Devem ser previstos dispositivos de inspeção nos ramais de descarga de pias de


cozinha e máquina de lavar louças (ver Figura).

d) Os tubos de queda devem, sempre que possível, ser instalados em um único


alinhamento. Quando necessários, os desvios devem ser feitos com peças com
ângulo central igual ou inferior a 90o, de preferência com curvas de raio longo ou
duas curvas de 45o.
e) Para edifícios de dois ou mais andares, quando os tubos de queda recebem
efluentes contendo detergentes geradores de espuma, pelo menos uma das
seguintes soluções, a fim de evitar o retorno de espuma para os ambientes
sanitários, deve ser adotada:

26
Aula 2 – Classificação e Projetos
UNIDADE 1 – EGOTOS PREDIAIS

• Não conectar as tubulações de esgoto e de ventilação nas regiões de


ocorrência de sobrepressão;
• Atenuar a sobrepressão através de desvios do tubo de queda para a
horizontal, utilizando uma curva de 90º de raio longo ou duas curvas de
45o;
• Instalar de dispositivos que evitem o retorno de espuma.
• São consideradas regiões de sobrepressão (ver próxima figura):
• O trecho, de comprimento igual a 40 diâmetros, imediatamente a
montante de desvio para horizontal, o trecho de comprimento igual a 10
diâmetros imediatamente a jusante do mesmo desvio e o trecho
horizontal de comprimento igual a 40 diâmetros imediatamente a
montante do próximo desvio;
• O trecho, de comprimento igual a 40 diâmetros, imediatamente a
montante da base do tubo de queda e o trecho do coletor ou subcoletor
imediatamente a jusante da mesma base;
• Os trechos a montante e a jusante o primeiro desvio na horizontal do
coletor ou subcoletor, com comprimento igual a 40 diâmetros e a 10
diâmetros, respectivamente;
• O trecho da coluna de ventilação, para o caso de sistemas com ventilação
secundária, com comprimento igual a 40 diâmetros, a partir da ligação da
base da coluna com o tubo de queda ou ramal de esgoto.

27
Aula 2 - Classificação e Projetos
INSTALAÇÕES HIDRÁULICAS –
ESGOTO E DRENAGEM

f) Para pias de cozinha e máquinas de lavar louças, devem ser previstos tubos de
queda especiais com ventilação primária; estes tubos devem descarregar em uma
caixa de gordura coletiva.
g) Recomenda-se o uso de caixas de gordura para efluentes que contenham resíduos
gordurosos.
h) As pias de cozinha e/ou máquinas de lavar louças instaladas superpostas em vários
pavimentos devem descarregar em tubos de queda exclusivos, os quais conduzem
os esgotos para caixas de gordura coletivas; sendo vetado o uso de caixas de
gordura individuais nos andares.
i) O interior das tubulações deve ser sempre acessível através de dispositivos de
inspeção.
j) Desvios em tubulações enterradas devem ser feitos empregando-se caixas de
inspeção.
k) A extremidade aberta de um tubo ventilador primário ou coluna de ventilação:
• Deve elevar-se verticalmente pelo menos 0,30 m acima da cobertura;
todavia, quando esta atender outros fins além de simples cobertura, a
elevação vertical deve ser, no mínimo, de 2,00 m (ver Figura abaixo); não
sendo conveniente o referido prolongamento, pode ser usado um
barrilete de ventilação.
• Deve conter um terminal tipo chaminé, tê ou outro dispositivo que impeça
a entrada das águas pluviais diretamente ao tubo de ventilação.

l) O projeto do subsistema de ventilação deve ser feito de modo a impedir o acesso


de esgoto sanitário ao interior do mesmo.
m) O tubo ventilador primário e a coluna de ventilação devem ser verticais e, sempre
que possível, instalados em uma única prumada.
n) Todo o desconector deve ser ventilado. A distância máxima de um desconector até
o ponto onde o tubo ventilador que o serve está conectado consta na Tabela.

28
Aula 2 – Classificação e Projetos
UNIDADE 1 – EGOTOS PREDIAIS

o) Toda coluna de ventilação deve ter:


• Diâmetro uniforme;
• A extremidade inferior ligada a um subcoletor ou a um tubo de queda, em
ponto situado abaixo da ligação do primeiro ramal de esgoto ou de
descarga, ou neste ramal de esgoto ou de descarga;
• A extremidade superior situada acima da cobertura do edifício, ou ligada a
um tubo ventilador primário a 0,15 m, ou mais, acima do nível de
transbordamento da água do mais elevado aparelho sanitário por ele
servido.

Nota: Entende-se por nível de transbordamento da água do mais alto dos aparelhos sanitários aquele
referente aos aparelhos sanitários com seus desconectores ligados a tubulação de esgoto primário
(bacias sanitárias, pias de cozinha, tanques de lavar, etc.) excluindo-se aparelhos sanitários que
despejem em ralos sifonados de piso. Não devem ser considerados como pontos mais altos de
transbordamento as grelhas dos ralos sifonados de piso, quando o ramal a ser ventilado serve também
para outros aparelhos não ligados diretamente aos mesmos.

p) Quando não for conveniente o prolongamento de cada tubo ventilador até acima
da cobertura, pode ser usado um barrilete de ventilação.
q) As ligações da coluna de ventilação aos demais componentes do sistema de
ventilação ou do sistema de esgotos sanitários devem ser feitas com conexões
apropriadas:
• Quando feita em uma tubulação vertical, a ligação deve ser executada por
meio de junção a 45°;
• Quando feita em uma tubulação horizontal, deve ser executada acima do
eixo da tubulação, elevando-se o tubo ventilador de uma distância de até
0,15 m, ou mais, acima do nível de transbordamento da água do mais alto
dos aparelhos sanitários por ele ventilados, antes de ligar-se a outro tubo
ventilador, respeitando-se o que se segue:
✓ A ligação ao tubo horizontal deve ser feita por meio de tê
90° ou junção 45°, com a derivação instalada em ângulo, de

29
Aula 2 - Classificação e Projetos
INSTALAÇÕES HIDRÁULICAS –
ESGOTO E DRENAGEM

preferência, entre 45° e 90° em relação ao tubo de esgoto,


conforme a Figura;
✓ Quando não houver espaço vertical para a solução
apresentada no item acima, podem ser adotados ângulos
menores, com o tubo ventilador ligado somente por junção
45° ao respectivo ramal de esgoto e com seu trecho inicial
instalado em aclive mínimo de 2%;
✓ A distância entre o ponto de inserção do ramal de ventilação
ao tubo de esgoto;
✓ O cotovelo de mudança do trecho horizontal para a vertical
deve ser a mais curta possível.

r) Quando não for possível ventilar o ramal de descarga da bacia sanitária ligada
diretamente ao tubo de queda, o tubo de queda pode ser ventilado imediatamente
abaixo da ligação do ramal da bacia sanitária (ver Figura).

30
Aula 2 – Classificação e Projetos
UNIDADE 1 – EGOTOS PREDIAIS

s) É dispensada a ventilação do ramal de descarga de uma bacia sanitária ligada


através de ramal exclusivo a um tubo de queda a uma distância máxima de 2,40m,
desde que esse tubo de queda receba, do mesmo pavimento, imediatamente
abaixo, outros ramais de esgoto ou de descarga devidamente ventilados, conforme
Figura.

t) Bacias sanitárias instaladas em bateria devem ser ventiladas por um tubo


ventilador de circuito ligando a coluna de ventilação ao ramal de esgoto na região
entre a última e a penúltima bacia sanitária, conforme a Figura. Deve ser previsto
um tubo ventilador suplementar a cada grupo de, no máximo, oito bacias
sanitárias, contadas a partir da mais próxima ao tubo de queda.

Baseado e adaptado de ABNT,


GONÇALVES (2000), GRAÇA
(1985). Edições sem prejuízo
de conteúdo.

31
Aula 3 – Dimensionamento
UNIDADE 1 – EGOTOS PREDIAIS

Aula 3: Dimensionamento

As tubulações do SPES podem ser dimensionadas pelo Método das Unidades de Hunter de
Contribuição (UHC) ou pelo Método Racional, devendo, em qualquer um dos casos, serem
respeitados os diâmetros mínimos dos ramais de descarga apresentados na sequência.

1. Método das Unidades de Hunter de Contribuição (UHC)

Este método baseia-se na atribuição de Unidades de Hunter de Contribuição (UHC)


para cada aparelho sanitário integrante do SPES em questão. Tais unidades constam na NBR
8160/1999, e encontram-se reproduzidos na Tabela 1. Definidas as UHC dos aparelhos
sanitários integrantes do sistema, inicia-se o dimensionamento dos demais componentes,
conforme será apresentado a seguir.

1.1. Subsistema de Coleta e Transporte de Esgoto Sanitário

1.1.1. Tubulações

a) Ramais de Descarga

Para os ramais de descarga devem ser adotados, no mínimo, os diâmetros


apresentados na Tabela 1. Para aparelhos não relacionados nesta tabela, devem ser
estimadas as UHC correspondentes e o dimensionamento deve ser feito pela Tabela 2.

b) Ramais de Esgoto

Neste caso, deve ser utilizada a Tabela 3. Recomenda-se ainda, com relação às
declividades mínimas:

• 2% para tubulações com diâmetro nominal (DN) igual ou inferior a 75;


• 1% para tubulações com diâmetro nominal (DN) igual ou superior a 100.

c) Tubos de Queda

Os tubos de queda devem ser dimensionados pela somatória das UHC conforme a
Tabela 4.

33
Aula 3 - Dimensionamento
INSTALAÇÕES HIDRÁULICAS –
ESGOTO E DRENAGEM

Todavia, quando apresentarem desvios da vertical, os tubos de queda devem ser


dimensionados da seguinte forma:

• quando o desvio formar ângulo inferior a 45o com a vertical, o tubo de queda
é dimensionado pela Tabela 4;
• quando o desvio formar ângulo superior a 45o com a vertical, deve-se
dimensionar:
✓ A parte do tubo de queda acima do desvio como um tubo de queda
independente, com base no número de unidades Hunter de
contribuição dos aparelhos acima do desvio, de acordo com a Tabela
4; e a parte horizontal do desvio de acordo com a Tabela 5, uma vez
que, neste caso, o trecho é tratado como subcoletor;
✓ A parte do tubo de queda abaixo do desvio com base no número de
unidades Hunter de contribuição de todos os parelhos que
descarregam neste tubo de queda, de acordo com a Tabela 4, não
podendo o diâmetro adotado, neste caso, ser menor do que o da
parte horizontal. Ver a figura abaixo, a qual ilustra a geometria dos
desvios e opções de ventilação.

34
Aula 3 – Dimensionamento
UNIDADE 1 – EGOTOS PREDIAIS

d) Coletor Predial e Subcoletores

O coletor predial e os subcoletores podem ser dimensionados pela somatória das UHC
conforme a Tabela 5. O coletor predial deve ter, no mínimo, um DN igual a 100.

No dimensionamento do coletor predial e dos subcoletores em prédios residenciais,


deve ser considerado apenas o aparelho de maior descarga de cada banheiro para a
somatória do número de unidades Hunter de contribuição. Nos demais casos, devem ser
considerados todos os aparelhos contribuintes para o cálculo do número de UHC.

35
Aula 3 - Dimensionamento
INSTALAÇÕES HIDRÁULICAS –
ESGOTO E DRENAGEM

1.1.2. Desconectores

Os desconectores devem atender aos seguintes requisitos:

• Ter fecho hídrico com altura mínima de 0,05 m;


• Apresentar orifício de saída com diâmetro igual ou superior ao do ramal de
descarga a ele conectado.

As caixas sifonadas devem ser dimensionadas conforme a Tabela 6.

36
Aula 3 – Dimensionamento
UNIDADE 1 – EGOTOS PREDIAIS

No caso das caixas sifonadas especiais, o fecho hídrico deve ter altura mínima de 0,20
m; as mesmas devem ser fechadas hermeticamente com tampa facilmente removível e o
orifício de saída deve ter o diâmetro nominal, de no mínimo 75 mm.

1.1.3. Dispositivos Complementares

a) Caixa de Gordura

As caixas de gordura são dimensionadas em função do número de cozinhas por elas


atendidas. Desta forma, assim procede-se:

• Para a coleta de apenas uma pia de cozinha pode ser usada a caixa de gordura
pequena;
• Para a coleta de uma ou mais cozinhas deve ser usada, pelo menos, a caixa de
gordura simples;
• Para a coleta de duas a doze cozinhas deve ser usada, pelo menos, a caixa de
gordura dupla;
• Para a coleta de mais de doze cozinhas, ou ainda, para cozinhas de
restaurantes, escolas, hospitais, quartéis, etc. devem ser previstas caixas de
gordura especiais.

A tipologia das caixas de gordura em função de suas dimensões características é


apresentada na Tabela 7.

37
Aula 3 - Dimensionamento
INSTALAÇÕES HIDRÁULICAS –
ESGOTO E DRENAGEM

Com relação a caixa de gordura especial (CGE), prismática de base retangular, as


seguintes características devem ainda ser apresentadas:

• O Volume da câmara de retenção de gordura obtido pela fórmula:

V = 2N + 20

Onde:

N é o número de pessoas servidas pelas cozinhas que contribuem para a caixa de


gordura;
V é o volume em litros.

1.1.4. Dispositivos de Inspeção

a) Caixas de Inspeção

A caixa de inspeção é um dispositivo destinado a permitir a inspeção, limpeza,


desobstrução das canalizações, a junção de coletores e a mudança de declividade.

b) Caixas de Passagem

Caixas de passagem são dispositivos que permitem a inspeção, limpeza e desobstrução


das canalizações de esgoto. São caixas de inspeção com apenas uma entrada e uma saída
para o esgoto. Quando cilíndricas, devem ter diâmetro mínimo de 0,15 m e, quando
prismáticas de base poligonal, permitir na base a inscrição de um círculo de diâmetro
mínimo de 0,15 m; as mesmas devem possuir grelha ou tampa cega, e uma altura mínima
de 0,10 m.

1.1.5. Instalações de Recalque

Esta instalação é utilizada para recalcar os esgotos acumulados em caixas coletoras


situadas abaixo do nível da rede pública de esgoto, provenientes de aparelhos sanitários e
de dispositivos instalados nesse nível. A caixa coletora, é disposta de modo a receber todo o
esgoto por gravidade, sendo que, a partir dela, recalca-se o esgoto para o coletor predial ou
dispositivo de tratamento de esgotos por meio de bombas.

O dimensionamento da instalação de recalque deverá considerar aspectos como a


capacidade da bomba, que deverá atender à vazão máxima provável de contribuição dos
aparelhos e dispositivos instalados que possam estar em funcionamento simultâneo, o
tempo de detenção do esgoto na caixa e o intervalo de tempo entre duas partidas
consecutivas do motor.

38
Aula 3 – Dimensionamento
UNIDADE 1 – EGOTOS PREDIAIS

Quanto ao dimensionamento da caixa coletora, a mesma deve ter a sua capacidade


calculada de modo a evitar a frequência exagerada de partidas e paradas das bombas por
um volume insuficiente, bem como a ocorrência de estado séptico por um volume
exagerado.

O volume útil da caixa coletora (Vu), ou seja, o volume compreendido entre o nível
máximo e o nível mínimo de operação da caixa (faixa de operação da bomba), pode ser
determinado através da seguinte expressão:

Q. t
Vu =
4

Onde:

Q é a capacidade da bomba, em m3/min, determinada em função da vazão afluente de


esgotos à Caixa Coletora;
t é o intervalo de tempo entre duas partidas consecutivas do motor, em min;

O tempo de detenção do esgoto na caixa coletora (d) pode ser determinado a partir da
seguinte equação:

Vt
d=
q

Onde:

d é o tempo de detenção, em min;


Vt = volume total da caixa coletora, em m3;
q é a vazão média de esgoto afluente, em m3/min.

O tempo de detenção do esgoto na caixa não deve ultrapassar 30 minutos. Quando


receber efluentes de bacias sanitárias, a caixa coletora, deve possuir uma profundidade
mínima de 0,90 m, a contar do nível da geratriz inferior da tubulação afluente mais baixa. O
fundo deve ser suficientemente inclinado para impedir a deposição de materiais sólidos
quando a caixa for esvaziada completamente. A caixa coletora também deve ser ventilada
por um tubo ventilador primário, independentemente de qualquer outra ventilação
utilizada no edifício. Por outro lado, caso a caixa coletora não receba efluentes de bacias
sanitárias, a profundidade mínima a ser considerada é de 0,60 m.

As tubulações de sucção devem ser uma para cada bomba e possuir diâmetro
uniforme e nunca inferior aos das tubulações de recalque. Já as tubulações de recalque
devem atingir um nível superior ao da rede de maneira que impossibilite o refluxo dos
esgotos, devendo ser providas de dispositivos para este fim.

39
Aula 3 - Dimensionamento
INSTALAÇÕES HIDRÁULICAS –
ESGOTO E DRENAGEM

É recomendável que a capacidade da bomba seja considerada como sendo igual a duas
vezes a vazão afluente de esgotos sanitários e que o intervalo entre duas partidas
consecutivas do motor não seja inferior a 10 minutos, no sentido de se preservar os
equipamentos eletromecânicos de frequentes esforços de partida.

1.2. Componentes do Subsistema de Ventilação

São apresentados a seguir os critérios a serem coletados para o dimensionamento do


sistema de ventilação secundária.

• Ramal de Ventilação: os diâmetros mínimos a serem utilizados constam na


Tabela 8;
• Coluna de Ventilação: Os diâmetros nominais mínimos são apresentados na
Tabela 9, em função das UHC e do comprimento. Este comprimento é medido
desde a extremidade superior da coluna, que se encontra em contato a com
atmosfera até sua base, no encontro com o tubo de queda;
• Barrilete de Ventilação: Os diâmetros nominais mínimos são apresentados na
Tabela 9. O número de UHC de cada trecho é a soma das unidades de todos
os tubos de queda servidos pelo trecho e o comprimento a considerar é o
mais extenso, da base da coluna de ventilação mais distante da extremidade
aberta do barrilete até essa extremidade;

40
Aula 3 – Dimensionamento
UNIDADE 1 – EGOTOS PREDIAIS

2. Dimensionamento Racional

O dimensionamento racional visa flexibilizar a atuação do projetista do SPES,


outorgando ao mesmo um poder de decisão maior do que aquele proporcionado pela
metodologia convencional. Acredita-se que tal flexibilização auxilie substancialmente as
emergentes necessidades de racionalização e otimização na Construção Civil.

Este dimensionamento racional consta basicamente em estabelecer, em princípio,


uma configuração inicial para o SPES apenas com ventilação primária; na sequência, segue-
se com a determinação probabilística das vazões de projeto, caracterização das vazões de

41
Aula 3 - Dimensionamento
INSTALAÇÕES HIDRÁULICAS –
ESGOTO E DRENAGEM

descarga dos aparelhos sanitários, dimensionamento das tubulações e a verificação da


suficiência da ventilação primária. Caso esta não seja suficiente, altera-se a geometria da
configuração inicial proposta ou concebe-se para a mesma a ventilação secundária. Caberá
ao projetista a definição da melhor solução. A idéia é que esta metodologia racional seja
suficientemente abrangente, oferecendo ao projetista condições de trabalhar as diversas
variáveis de projeto, isto é, flexibilidade. A escolha do tipo de bacia sanitária, por exemplo,
poderá estar definindo o nível da ventilação necessária.

2.1. Apresentação do Dimensionamento Racional

A seguir será abordada a determinação probabilística da vazão de projeto e o


equacionamento racional propriamente dito, onde equações básicas da hidráulica e
algumas de suas variantes são utilizadas. Diversas formulações específicas desenvolvidas
por pesquisadores do assunto são consideradas como, por exemplo, a determinação da
velocidade e comprimento terminais, a capacidade do tubo de queda, entre outras. Por
último será apresentada a idéia básica do modelo matemático para verificar a necessidade
da ventilação secundária.

2.1.1. Vazão de Projeto

Uma postura adequada para determinar a vazão de projeto é considerá-la como


função da simultaneidade de uso e da tipologia dos aparelhos sanitários. Há diversos
métodos probabilísticos desenvolvidos para determinar a simultaneidade de uso, muitos
deles baseados nas distribuições normal, binomial e multionomial. Entre estes métodos,
pode-se citar os trabalhos de Hunter, Webster, Courtney, Konen e Murakawa. Este autor
também desenvolveu um modelo probabilístico o qual é aberto para a entrada de diversos
dados específicos da realidade de cada projeto. É importante também salientar que tais
métodos estatísticos permitem ao projetista estabelecer qual o nível de confiança que o
mesmo deseja trabalhar. Quanto ao levantamento da tipologia dos aparelhos sanitários,
mais especificamente as bacias sanitárias, cresce em importância a escolhas de bacias
eficientes, mas se reduzido consumo de água.

2.1.2. Equacionamento

2.1.2.1. DIMENSIONAMENTO DO SUBSISTEMA DE COLETA E TRANSPORTE DE


ESGOTO SANITÁRIO

O escoamento no tubo de queda é considerado anular, isto é, o esgoto escoando pelas


paredes do tubo de queda na forma de um cilindro oco onde circula ar. Em qualquer seção
transversal deste escoamento, a razão entre a seção de água e a seção de ar deve situar-se
entre 1/4 e 1/3, de maneira a evitar que o escoamento preencha totalmente a seção

42
Aula 3 – Dimensionamento
UNIDADE 1 – EGOTOS PREDIAIS

transversal, condição esta que perturbaria sensivelmente as pressões de ar no interior do


sistema.

O diâmetro do tubo de queda pode ser determinado a partir da seguinte equação:

0,116 . n3/8 . Q tq 3/8


dtq =
t o 5/8

Onde:

dtq é o diâmetro interno do tubo de queda, em m;


Qtq é a vazão de projeto no tubo de queda, em l/s;
n é o coeficiente de Manning, em s/m1/3;
to é a taxa de ocupação de água durante o escoamento no tubo de queda.

Esta equação é uma variante da equação de Manning para escoamento anular e


permanente, onde o valor de Qtq é aquele onde ocorre a velocidade terminal. Sendo o
escoamento no tubo de queda anular, o valor do to pode ser expresso da seguinte forma:

Se
to =
Stq

Onde:

Se é a área da seção transversal da coroa circular por onde escoa a água no tubo de
queda;
Stq é a área da seção transversal do tubo de queda.

A fim de se garantir a manutenção do escoamento anular no tubo de queda,


recomenda-se utilizar to entre 1/4 e 1/3 conforme, comentado anteriormente. A velocidade
terminal tem a seguinte formulação:

2/5
Q tq
vt = 13 . ( )
dtq

Onde:

vt = velocidade terminal, em m/s;


dtq = diâmetro interno do tubo de queda, em mm.

Com relação à vazão de projeto, a mesma pode ser obtida através das diversas
metodologias citadas no item 3.4 da Norma. Utilizando-se, por exemplo, a distribuição
binomial, a qual foi incorporada no texto da NBR, tem-se a seguinte formulação básica:

43
Aula 3 - Dimensionamento
INSTALAÇÕES HIDRÁULICAS –
ESGOTO E DRENAGEM

Q tq = ∑ mi . qi
n=1

Onde:

Qtq é a a vazão de projeto no trecho considerado (l/s);


i é o índice representativo do tipo de aparelho sanitário;
n é o número de tipos de aparelhos sanitários no trecho considerado;
mi é o número de aparelhos sanitários do tipo i a serem considerados em uso
simultâneo, entre J aparelhos instalados, para um dado fator de falha;
J é o número de aparelhos sanitários do tipo i instalados no trecho considerado;
qi é a vazão unitária do aparelho sanitário do tipo i (l/s).

A distribuição binomial estabelece, para um dado nível de confiança a ser estipulado


pelo projetista, o número de aparelhos sanitários do tipo i em uso simultâneo (mi) entre o
total instalado ao trecho considerado (J). O tipo de aparelho sanitário em questão
determinará as respectivas vazões a serem fornecidas pelos fabricantes, assim como as
frequências de uso e durações das descargas, as quais são dados de campo.

O diâmetro dos ramais de descarga, ramais de esgoto, subcoletores e coletor predial


pode ser calculado a partir da seguinte equação, considerando-se escoamento à meia
seção:

n3/8 . Q e 3/8 . 𝐼 −3/16


de =
6,644

Onde:

de é o diâmetro do trecho considerado, em m;


n é o coeficiente de Manning, em s/m1/3;
Qe é a vazão no trecho considerado, em l/s;
I é a declividade do trecho considerado em m/m.

A vazão em cada trecho, no caso do ramal de descarga, será dada por:

Qe = q i

A vazão em cada trecho, no caso do ramal de esgoto, será dada por:

Q e = ∑ mi . qi
n=1

Onde:

44
Aula 3 – Dimensionamento
UNIDADE 1 – EGOTOS PREDIAIS

n é o número de tipos de aparelhos sanitários no trecho considerado;


mi é o número de aparelhos sanitários do tipo i a serem considerados em uso,
simultâneo, para um dado fator de falha;
qi é a vazão de contribuição do aparelho sanitário do tipo i.

A vazão em cada trecho, no caso dos subcoletores, será dada por:

Qe = Qtq

A vazão em cada trecho, no caso do coletor predial, será dada por:

Q e = ∑ mi . qi
n=1

A declividade I adotada na equação 05 para o dimensionamento dos subcoletores e


coletores deve ser testada quanto as condições de arraste do material sólido através do
princípio da tensão trativa:

Tr = γ . Rh . I ≥ 1,0 Pa

Onde:

Rh é o raio hidráulico, em m;
Tr é a tensão trativa, em Pa;
γ é o peso específico, em N/m2;

2.1.2.2. DIMENSIONAMENTO DO SUBSISTEMA DE VENTILAÇÃO

O subsistema de ventilação pode ser composto por tubulações ou dispositivos de


ventilação ou, ainda, uma combinação de ambos. O equacionamento da ventilação
primária, isto é, o valor do diâmetro do tubo de queda que propicie uma vazão de ar que
equilibre as pressões pneumáticas, no interior do sistema, em torno da pressão atmosférica,
é dado pela seguinte equação:

Qar = c . Qtq2/5 - 1,5 Qtq

Onde:

Qar é a vazão de ar que escoa pelo núcleo de ar no tubo de queda, em l/s;


C é o coeficiente adimensional;
Qtq é a vazão de projeto no tubo de queda, em l/s.

45
Aula 3 - Dimensionamento
INSTALAÇÕES HIDRÁULICAS –
ESGOTO E DRENAGEM

Já para o dimensionamento das tubulações da ventilação secundária, a seguinte


equação é utilizada considerando-se uma perda de carga máxima de 25 mm.c.a e
desconsiderando-se a perda de carga nas singularidades:

Dv = 4,06 [f . Lv (Qar')2 ]1/5

Onde:

Dv é o diâmetro da tubulação de ventilação, em mm;


Lv é o comprimento da tubulação de ventilação, em mm;
f é o coeficiente de perda de carga distribuída, adimensional;
Qar’ é a vazão de ar na tubulação de ventilação, em l/s.

A vazão de ar na coluna de ventilação é estimada como sendo igual a 2/3 da vazão de


ar no interior do tubo de queda, chegando-se, então, a seguinte relação:

Qar' = 40 Qar

Onde:

Qar neste caso é a vazão de ar na coluna de ventilação, sendo obtida em l/min.

Caso a ventilação secundária seja composta por dispositivos de ventilação, serão


necessárias as especificações dos fabricantes.

2.1.2.3. MODELO PARA VERIFICAÇÃO DA NECESSIDADE DA VENTILAÇÃO


SECUNDÁRIA

A verificação da necessidade da ventilação secundária em um SPES com tubo de queda


único (sistema sem ramais e colunas de ventilação) é possível através da utilização de um
equacionamento desenvolvido por GRAÇA (1985), onde são determinadas, a partir do
conhecimento das características geométricas do sistema e das condições climáticas do
ambiente , as magnitudes estimadas e admissíveis das variáveis referentes às perdas de
altura do fecho hídrico assim como as pressões desenvolvidas no interior do sistema. O
conjunto de inequações a seguir, se obedecido, indica não ser necessária a ventilação
secundária:

a) Ha,i ≥ Hr,i b) Da,s ≥ Dr c) Sa,s ≥ Sr

Onde:

Ha,i = perda de altura do fecho hídrico admissível para o desconector i (mm);


Hr,i = perda de altura do fecho hídrico provocada por auto-sifonagem (mm);
Da,s = depressão admissível no sistema (N/m2);

46
Aula 3 – Dimensionamento
UNIDADE 1 – EGOTOS PREDIAIS

Dr é a depressão máxima provocada pelos efeitos de sifonagem induzida, tiragem


térmica;
ação do vento e das variações da pressão ambiental (N/m2);
Sa,s é a sobrepressão admissível no sistema (N/m2);
Sr é a sobrepressão máxima no sistema (N/m2).

As variáveis Ha,i , Da,s e Sa,s dependem das características geométricas do sistema,


enquanto as variáveis Hr,i , Dr e Sr dependem das condições ambientais dos fenômenos
associados ao escoamento. Todas as equações envolvendo estas variáveis, as quais formam
um equacionamento bastante extenso e complexo, e não será apresentado.

Como pode-se perceber, a metodologia de Dimensionamento Racional é mais


complexa e entra nesta aula a título de informação, apenas, como alternativa ao método
Hunter.

Baseado e adaptado de ABNT,


GONÇALVES (2000), GRAÇA
(1985). Edições sem prejuízo
de conteúdo.

47
Aula 4 - Sistema Público de Esgotos
INSTALAÇÕES HIDRÁULICAS –
ESGOTO E DRENAGEM

Unidade 2 – Esgoto Urbano e Destinações

Aula 4: Sistema Público de Esgotos

Uma rede de captação pública é projetada para receber o esgoto sanitário e mais uma parcela
das águas pluviais, que será estudada nas unidades de Drenagem. Nesta Unidade, serão
estudadas as contribuições dos Sistemas de Esgotos para a rede urbana e algumas de suas
particularidades.

1. Sistema Público Convencional

Para melhor conhecer este sistema, primeiramente vamos estudar suas partes
constitutivas. Elas são, basicamente, classificadas da seguinte maneira:

a) Ramal predial: são os ramais que transportam os esgotos das casas até a rede
pública de coleta;
b) Coletor de esgoto: recebem os esgotos das casas e outras edificações,
transportando-os aos coletores tronco;
c) Coletor tronco: tubulação da rede coletora que recebe apenas contribuição de
esgoto de outros coletores;
d) Interceptor: os interceptores correm nos fundos de vale margeando cursos d’água
ou canais. São responsáveis pelo transporte dos esgotos gerados na sub-bacia,
evitando que os mesmos sejam lançados nos corpos d’água. Geralmente possuem
diâmetro maiores que o coletor tronco em função de maior vazão;
e) Emissário: são similares aos interceptores, diferenciando apenas por não receber
contribuição ao longo do percurso;
f) Poços de visita (PV): são câmaras cuja finalidade é permitir a inspeção e limpeza da
rede. Os locais mais indicados para sua instalação são:
• Início da rede;

48
Aula 4 - Sistema Público de Esgotos
UNIDADE 2 – EGOTO URBANO E
DESTINAÇÕES

• Nas mudanças de: (direção, declividade, diâmetro ou material), nas


junções e em trechos longos. Nos trechos longos a distância entre PV’s
deve ser limitada pelo alcance dos equipamentos de desobstrução.

g) Elevatória: quando as profundidades das tubulações tornam-se demasiadamente


elevadas, quer devido à baixa declividade do terreno, quer devido à necessidade de
se transpor uma elevação, torna-se necessário bombear os esgotos para um nível
mais elevado. A partir desse ponto, os esgotos podem voltar a fluir por gravidade.
h) Estação de Tratamento de Esgotos (ETE): a finalidade da ETE é a de remover os
poluentes dos esgotos, os quais viriam causar uma deterioração da qualidade dos
cursos d’água. Um sistema de esgotamento sanitário só pode ser considerado
completo se incluir a etapa de tratamento. A Estação de Tratamento de Esgoto
(ETE), pode dispor de alguns dos seguintes itens, ou todos eles:
• Grade;
• Desarenador;
• Sedimentação primária;
• Estabilização aeróbica;
• Filtro biológico ou de percolação;
• Lodos ativados;
• Sedimentação secundária;
• Digestor de lodo;
• Secagem de lodo;

49
Aula 4 - Sistema Público de Esgotos
INSTALAÇÕES HIDRÁULICAS –
ESGOTO E DRENAGEM

• Desinfecção do efluente.
i) Disposição final: após o tratamento, os esgotos podem ser lançados ao corpo
d’água receptor ou, eventualmente, aplicados no solo. Em ambos os casos, há que
se levar em conta os poluentes eventualmente ainda presentes nos esgotos
tratados, especialmente organismos patogênicos e metais pesados. As tubulações
que transportam estes esgotos são também denominadas emissário.

1.1. Sistema Condominial

O sistema condominial de esgotos é uma solução eficiente e econômica para


esgotamento sanitário desenvolvida no Brasil na década de 1980. Este modelo se apóia,
fundamentalmente, na combinação da participação comunitária com a tecnologia
apropriada. Esse sistema proporciona uma economia de até 65% em relação ao sistema
convencional de esgotamento, graças às menores extensão e profundidade da rede coletora
e à concepção de microssistemas descentralizados de tratamento.

O nome Sistema Condominial é em função de se agregar o quarteirão urbano com a


participação comunitária, formando o condomínio, semelhante ao que ocorre num edifício

50
Aula 4 - Sistema Público de Esgotos
UNIDADE 2 – EGOTO URBANO E
DESTINAÇÕES

e apartamentos (vertical); dele se distingue, todavia, por ser informal quanto à sua
organização e por ser horizontal do ponto de vista físico.

Desse modo, a rede coletora básica ou pública apenas tangência o quarteirão-


condomínio ao invés de circundá-lo como no sistema convencional. As edificações são
conectadas a essa rede pública por meio de ligação coletiva ao nível do condomínio (Ramal
condominial), cuja localização, manutenção e, às vezes, a execução são acordadas
coletivamente, no âmbito de cada condomínio e com o prestador do serviço, a partir de um
esquema de divisão de responsabilidade entre a comunidade interessada e o poder público.

1.1.1. Partes Constitutivas

Dividem-se, mais comumente, em:

• Ramal condominial: rede coletora que reúne os efluentes das casas que
compõem um condomínio e pode ser:

✓ De passeio: quando o ramal condominial passa fora do lote, no


passeio em frente a este a aproximadamente 0,70m de distância do
muro;
✓ De fundo de Lote: quando o ramal condominial passa por dentro do
lote, no fundo deste. Esta é a alternativa de menor custo pois desta
maneira é possível esgotar todas as faces de um conjunto com o
mesmo ramal;
✓ De jardim: quando o ramal condominial passar dentro do lote, porém
na frente do mesmo.

51
Aula 4 - Sistema Público de Esgotos
INSTALAÇÕES HIDRÁULICAS –
ESGOTO E DRENAGEM

• Rede Básica: rede coletora que reúne os efluentes da última caixa de inspeção
de cada condomínio, passando pelo passeio ou pela rua;

• Unidade de Tratamento: a cada microssistema corresponde uma


estação para tratamento dos esgotos, que pode ser o tanque séptico
com filtro anaeróbio.

1.1.2. Fase de Elaboração do Projeto do ramal Condominial (Recomendações)

a) Croqui: A primeira fase do processo de execução do ramal condominial é a


elaboração do croqui do conjunto, assinalando a posição das casas e fossas de
cada lote. De posse do croqui, definir a melhor opção que atende o conjunto,
considerando os seguintes aspectos:

• Face mais baixa dos lotes (topografia);


• Localização do maior número de fossas;
• Disponibilidade de área livre para passagem do ramal nos lotes.

b) Reunião com a Comunidade: De posse do pré-lançamento dos ramais nos croquis,


são realizadas reuniões com os moradores de cada conjunto, onde são
apresentadas as possíveis opções para o atendimento do mesmo, sendo, dos
moradores a decisão final sobre o tipo de ramal a ser implantado.
c) Topografia: Com a opção definida, inicia-se o levantamento topográfico, o que é
feito por conjunto e por tipo de ramal, onde a unidade considerada é o lote. Esse
levantamento é executado com mangueira de nível ou nível laser e deve definir:

• Profundidade da ligação predial de cada lote;


• Um RN (referencial) para cada inspeção (geralmente marcado num
poste);
• Uma caixa de inspeção (CI) para cada lote;
• Cota do terreno de todas as CI’s e Tês;
• CI no início do ramal de passeio;
• CI externa, na saída dos ramais para ligação com PV (poço de visita),
quando necessário;
• Lançamento das CI’s externas o mais próximo possível dos muros
garantindo que fiquem protegidas, ao máximo, de tráfego de veículos;
• Demarcação dos ramais a aproximadamente 0,70m do muro dos lotes;
• Localização de CI na direção da ligação predial do morador;

52
Aula 4 - Sistema Público de Esgotos
UNIDADE 2 – EGOTO URBANO E
DESTINAÇÕES

• Desviar as CI’s das entradas de garagens ou no mínimo da faixa de


passagem dos pneus do carro para evitar quebra das mesmas.

d) Projeto: Na elaboração do projeto executivo, deve-se garantir que o morador seja


atendido pelo ramal e que este tenha lançamento favorável em pelo menos um
ponto da rede básica ou pública. Para tanto deve ser previsto:

• Profundidade mínima da CI abaixo da cota da ligação predial do morador;


• Profundidade e declividade mínima do ramal em função do item anterior
e nunca menor que 0,5%;
• Evitar desvio do ramal;
• Ligação da CI ao ramal de passeio através de um Tê;
• CI’s intermediárias para o ramal de passeio a cada 50 m;
• Lançamento do ramal condominial na almofada do PV, formando uma
canaleta de seção mínima de 50% da tubulação;
• Sempre que possível será eliminada a última CI dos ramais, sendo estes,
ligados direto à rede básica ou pública.

Nos casos em que não estão previstos CI’s para ligação do ramal o mesmo será
ligado à última CI do outro ramal, evitando uma entrada a mais na CI da rede
pública, já que esta terá número limitado de entradas. As particularidades a
seguir podem depender da legislação municipal):

• A última CI do ramal será de diâmetro de 0,60 m somente quando a


profundidade for maior que 0,90 m e quando houver interligação de
mais de um ramal;
• Todas as ligações dos ramais à rede pública serão em CI’s ou PV’s e em
sentido do fluxo;
• A profundidade da última CI quando houver interligação entre ramais,
com corte de pista, será de 1 metro;
• As redes no passeio, inclusive a ligação à rede pública, será de PVC.

e) Considerações para o Projeto: Na realidade, a rede pública é uma rede


convencional do ponto de vista hidráulico, portanto, deveria ser dimensionada em
conformidade com as recomendações técnicas usuais.
f) Diâmetro Mínimo: As redes coletoras do sistema convencional adotavam o
diâmetro mínimo de 150 mm apesar das normas vigentes não colocarem
nenhuma restrição quanto à utilização do diâmetro de 100 mm, desde que atenda
ao dimensionamento hidráulico.

53
Aula 4 - Sistema Público de Esgotos
INSTALAÇÕES HIDRÁULICAS –
ESGOTO E DRENAGEM

g) Recobrimento Mínimo: No sistema convencional, usualmente as redes coletoras


localizam-se no terço médio mais baixo das ruas. Já no sistema condominial este
procedimento é evitado e procura-se sempre que possível lançar as redes no
passeio, fora das ruas pavimentadas onde há tráfego de veículos. Com isso é
permitido reduzirmos o recobrimento das tubulações sem contudo oferecer riscos
de rompimento das mesmas e também sem ferir as recomendações das normas
vigentes que são:

h) Profundidade Mínima: A profundidade mínima da tubulação deve ser tal que


permita receber os efluentes por gravidade e proteger a tubulação contra tráfego
de veículos e outros impactos. No caso do ramal condominial, a profundidade
mínima será aquela que esteja abaixo da cota de ligação predial do morador,
garantindo que este seja atendido.

De forma a se obter o menor volume de escavação, deve-se adotar sempre que


possível a declividade da tubulação igual à do terreno e a profundidade da rede
será mantida igual à mínima sempre que a declividade do terreno for superior à
declividade mínima.

i) Elementos de Inspeção: Tem como objetivo permitir o acesso de homens ou


equipamentos às redes, para proceder à limpeza e à desobstrução. No sistema
condominial os elementos utilizados são:
• Caixa de inspeção com diâmetro ou largura de 0,40 m:
✓ Uma dentro de cada lote para efetuar a ligação predial quando a
profundidade do coletor for até 0,90m; no ramal condominial
para mudança de direção;

54
Aula 4 - Sistema Público de Esgotos
UNIDADE 2 – EGOTO URBANO E
DESTINAÇÕES

✓ No ramal de passeio poderá substituir o diâmetro da caixa de


0,60 m quando a profundidade da mesma for até 0,90 m.

• Caixa de inspeção com diâmetro ou largura de 0,60 m:


✓ Na rede básica ou pública em substituição aos PV’s sempre que a
profundidade do coletor for até 1,2 0m e estiver no passeio;
✓ Nos ramais condominiais de passeio a cada 50 m ou fração,
quando a profundidade do coletor for de 0,90 m até 1,20 m;
✓ No final de cada conjunto residencial antes de interligar o ramal
condominial interno à rede básica, sempre que houver
interseção de ramais;
✓ Dentro de cada lote substituindo as CI’s de 0,40 m, quando a
profundidade for de 0,90 m até 1,20 m;
✓ Nos ramais condominiais de passeio para mudança de direção,
quando a profundidade do coletor for de 0,90 m até 1,2 0m;
✓ Uma no meio de cada conjunto, nos ramais condominiais de
passeio, quando a profundidade do coletor for de 0,90 m até
1,20 m.
• Poços de visita com diâmetro ou largura de 1,00 m:
✓ Na reunião de dois ou mais trechos de coletores públicos;
✓ Em locais de mudança de direção e de declividade do coletor;
✓ Ao longo da rede pública a cada 80m ou fração;
✓ No início da rede.
• Caixa de Inspeção:
✓ As medidas da caixa de inspeção podem ser de diâmetro ou
largura de 40 cm ou 6 0cm.

Baseado e adaptado de
FUNASA. Edições sem prejuízo
de conteúdo.

55
Aula 5 – Tratamento de Esgotos I
INSTALAÇÕES HIDRÁULICAS –
ESGOTO E DRENAGEM

Aula 5: Tratamento de Esgotos I

Basicamente, Tratamento de Esgotos consistem em uma Estação de Tratamento de Esgoto


(ETE) que é responsável por tratar a água poluída e devolvê-la ao meio ambiente em forma de
água tratada, formando um ciclo de reaproveitamento sustentável. O esgoto captado é
submetido a uma série de etapas que incluem floculação, separação de impurezas, filtragens,
cloração até que a água poluída esteja apta a ser reutilizada ou devolvida sem ser uma
ameaça à saúde e ao meio.

1. Tanque Séptico

Os registros de caráter históricos apontam como inventor do tanque séptico “Jean


Louis Mouras” que, em 1860, construiu, na França, um tanque de alvenaria, onde passava
os esgotos, restos de comida e águas pluviais, antes de ir para o sumidouro. Este tanque,
fora aberto 12 anos mais tarde e não apresentava acumulada a quantidade de sólidos que
foi previamente estimada em função da redução apresentada no efluente líquido do
tanque.

Os tanques sépticos são câmaras fechadas com a finalidade de deter os despejos


domésticos, por um período de tempo estabelecido, de modo a permitir a decantação dos
sólidos e retenção do material graxo contido nos esgotos transformando-os
bioquimicamente, em substâncias e compostos mais simples e estáveis. Supondo-se uma
vazão do esgoto de 150 l/dia o tanque séptico poderá ser empregado para tratamento a
nível primário de até um máximo de 500 habitantes. Economicamente o tanque séptico é
recomendado para até 100 habitantes. Esse sistema requer que as residências disponham
de suprimento de água.

56
Aula 5 - Tratamento de Esgotos I
UNIDADE 2 – EGOTO URBANO E
DESTINAÇÕES

1.1. Funcionamento

As fases de funcionamento são distintas em:

• Retenção: o esgoto é detido na fossa por um período racionalmente


estabelecido, que pode variar de 12 a 24 horas, dependendo das
contribuições afluentes, (tabela 1);
• Decantação: simultaneamente à fase de retenção, processa-se uma
sedimentação de 60% a 70% dos sólidos em suspensão contidos nos esgotos,
formando-se o lodo. Parte dos sólidos não decantados, formados por óleos,
graxas, gorduras e outros materiais misturados com gases é retida na
superfície livre do líquido, no interior do tanque séptico, denominados de
escuma;
• Digestão: tanto o lodo como a escuma são atacados por bactérias anaeróbias,
provocando uma destruição total ou parcial de organismos patogênicos;
• Redução de volume: da digestão, resultam gases, líquidos e acentuada
redução de volume dos sólidos retidos e digeridos, que adquirem
características estáveis capazes de permitir que o efluente líquido do tanque
séptico possa ser lançado em melhores condições de segurança do que as do
esgoto bruto.

O tanque séptico é projetado para receber todos os despejos domésticos (de cozinhas,
lavanderias domiciliares, lavatórios, vasos sanitários, bidês, banheiros, chuveiros, mictórios,

57
Aula 5 – Tratamento de Esgotos I
INSTALAÇÕES HIDRÁULICAS –
ESGOTO E DRENAGEM

ralos de piso de compartimento interior, etc.). É recomendada a instalação de caixa de


gordura na canalização que conduz despejos das cozinhas para o tanque séptico.

São vetados os lançamentos de qualquer despejo que possam causar condições


adversas ao bom funcionamento dos tanques sépticos ou que apresentam um elevado
índice de contaminação.

1.2. Caixa de Gordura

As águas servidas, destinadas aos tanques sépticos e ramais condominiais, devem


passar por uma caixa especialmente construída com a finalidade de reter as gorduras. Essa
medida tem por objetivo prevenir a colmatação dos sumidouros e obstrução dos ramais
condominiais. Abaixo está representada uma CG para uma cozinha padrão.

1.3. Dimensionamento

Os TS´s de uma câmara são dimensionados pela seguinte relação:

V = 1000 + N (C . T + K . Lf)

Onde:

V é o Volume útil, em litros;


N é o número de pessoas ou unidades de contribuição;
C é a contribuição de despejos, em litro/pessoa x dia ou em litro/unid. x dia (tabela 1);
T é o período de detenção, em dias (tabela 2);
K é a taxa de acumulação de lodo digerido em dias, equivalente ao tempo de
acumulação de lodo fresco (tabela 3);
Lf é a contribuição de lodo fresco, em litro/pessoa x dia ou em litro/unid. x dia ou em
litro/unid. x dia (tabela 1);

58
Aula 5 - Tratamento de Esgotos I
UNIDADE 2 – EGOTO URBANO E
DESTINAÇÕES

59
Aula 5 – Tratamento de Esgotos I
INSTALAÇÕES HIDRÁULICAS –
ESGOTO E DRENAGEM

1.4. Disposição dos Efluentes Líquidos dos TS’s

O efluente líquido é potencialmente contaminado, com odores e aspectos


desagradáveis, exigindo, por estas razões, uma solução eficiente de sua disposição. Entre os
processos eficientes e econômicos de disposição do efluente líquido das fossas têm sido
adotados os seguintes tipos:

• Diluição (corpos d’água receptores): para o tanque séptico a proporção é de


1:300;
• Sumidouro;
• Vala de infiltração e filtração;
• Filtro de areia;
• Filtro anaeróbio.
• A escolha do processo a ser adotado deve considerar os seguintes fatores:
• Natureza e utilização do solo;

60
Aula 5 - Tratamento de Esgotos I
UNIDADE 2 – EGOTO URBANO E
DESTINAÇÕES

• Profundidade do lençol freático;


• Grau de permeabilidade do solo;
• Utilização e localização da fonte de água de subsolo utilizada para consumo
humano;
• Volume e taxa de renovação das água de superfície.

1.5. Disposição dos Lodos e Escumas

A parte sólida retida nas fossas sépticas (lodo) deverá ser renovada periodicamente, de
acordo com o período de armazenamento estabelecido no cálculo destas unidades. A falta
de limpeza no período fixado acarretará diminuição acentuada da sua eficiência.

Pequeno número de tanques sépticos instalados e de pouca capacidade não


apresentam problemas para a disposição do lodo. Nestes casos, o lançamento no solo, a
uma profundidade mínima de 0,60m, poderá ser uma solução, desde que o local escolhido
não crie um problema sanitário.

Quando o número de tanque séptico for bastante grande ou a unidade utilizada é de


grande capacidade, o lodo não poderá ser lançado no solo, mas sim encaminhado para um
leito de secagem.

Não é admissível, o lançamento de lodo e escuma removidos dos tanques sépticos, nos
corpos de água ou galerias de águas pluviais.

1.6. Eficiência

A eficiência do tanque séptico é normalmente expressa em função dos parâmetros


comumente adotados nos diversos processos de tratamento. Os mais usados são: sólidos
em suspensão e Demanda Bioquímica de Oxigênio (DBO). As quantidades de cloretos,
nitrogênio amoniacal, material graxo e outras substâncias podem interessar em casos
particulares, quadro abaixo.

São dadas as seguintes recomendações para operação, manutenção e o bom


desempenho dos tanques sépticos:

61
Aula 5 – Tratamento de Esgotos I
INSTALAÇÕES HIDRÁULICAS –
ESGOTO E DRENAGEM

• Para que ocorra um bom funcionamento, o tanque séptico, antes de entrar


em operação, deve ser enchido com água a fim de detectar possíveis
vazamentos;
• A remoção do lodo deve ocorrer de forma rápida e sem contato do mesmo
com o operador. Para isso recomenda-se a introdução de um mangote, pela
tampa de inspeção, para sucção por bombas;
• As valas de filtração ou de infiltração e os sumidouros devem ser
inspecionados semestralmente;
• A havendo a redução da capacidade de absorção das valas de filtração,
infiltração e sumidouros, novas unidades deverão ser construídas;
• Tanto o tanque séptico como o sumidouro, quando abandonados, deverão

ser enchidos com terra ou pedra.

1.6.1. Procedimentos Práticos para a Manutenção

• Para a limpeza do tanque séptico, escolher dias e horas em que o mesmo não
recebe despejos;
• Abrir a tampa de inspeção e deixar ventilar bem. Não acender fósforo ou
cigarro, pois o gás acumulado no interior do tanque séptico é explosivo;
• Levar para o local, onde o tanque séptico está instalado, um carrinho sobre o
qual está montada uma bomba diafragma, para fluídos, de diâmetro de 75
mm a 100 mm na sucção, manual ou elétrica;
• O mangote será introduzido diretamente na caixa de inspeção ou tubo de
limpeza quando existir;
• O lodo retirado progressivamente do tanque séptico será encaminhado para
um leito de secagem ou para um carro-tanque especial que dará o destino
sanitariamente adequado;
• Se o lodo do tanque séptico ficar endurecido, adicionar água e agitar com
agitador apropriado;
• Deixar cerca de 10% do lodo (ativado) para facilitar o reinicio do processo,
após a limpeza;
• No fim dessa operação, fazer a higienização do local e equipamentos
utilizados.

2. Filtro Anaeróbico

Aparentemente nova, a solução é considerada uma das mais antigas e surgiu


simultaneamente à evolução dos filtros biológicos convencionais. É importante, no entanto,

62
Aula 5 - Tratamento de Esgotos I
UNIDADE 2 – EGOTO URBANO E
DESTINAÇÕES

informar que a aplicação racional dos filtros anaeróbios teve maior divulgação a partir das
experiências realizados nos Estados Unidos da América, por Perry L. Mc Carty em 1963,
1966 e 1969. No Brasil a escola de engenharia de São Carlos, da Universidade de São Paulo,
confirmou em 1977 a eficiência do filtro, já obtida por Mc Carty, realizando experiências em
unidades pilotos.

O filtro anaeróbio (formado por um leito de brita nº 4 ou nº 5) está contido em um


tanque de forma cilíndrica ou retangular, que pode ser com fundo falso para permitir o
escoamento ascendente de efluente do tanque séptico ou sem fundo falso, mas totalmente
cheio de britas.

O filtro anaeróbio é um processo de tratamento apropriado para o efluente do tanque


séptico, por apresentar resíduos de carga orgânica relativamente baixa e concentração
pequena de sólidos em suspensão.

As britas nº 4 ou nº 5, reterão em sua superfície as bactérias anaeróbias (criando um


campo de microrganismo), responsáveis pelo processo biológico, reduzindo a Demanda
Bioquímica de Oxigênio (DBO - quadro acima).

2.1. Dimensionamento

A NBR n˚ 13.969/1997, preconiza para dimensionamento as seguintes fórmulas:

Para Volume Útil:

V = 1,6 . N . T . C

Onde:

V = Volume útil do leito filtrante em litros;


N = Número de contribuintes;
C = Contribuição de despejos, em litros x pessoa/dia (tabela 1);
T = Tempo de detenção hidráulica, em dias (tabela 2);

Seção Horizontal:

S = V/1,8

Onde V é o Volume útil calculado em m3 e S é a Área da seção horizontal, em m2.

Alguns aspectos a serem observados na construção do filtro anaeróbio são:

• O tanque tem que ter forma cilíndrica ou retangular;

63
Aula 5 – Tratamento de Esgotos I
INSTALAÇÕES HIDRÁULICAS –
ESGOTO E DRENAGEM

• Leito filtrante composto de britas (nº 4 ou nº 5). A altura do leito filtrante, já


incluindo a altura do fundo falso, deve ser limitada a 1,20m;
• A altura do fundo falso deve ser limitada a 0,60m, já incluindo a espessura da
laje;
• O volume útil mínimo do leito filtrante deve ser de 1.000 litros.;
• A carga hidrostática mínima é no filtro de 1kPa (0,10m); portanto, o nível da
saída do efluente do filtro deve estar 0,10m abaixo do nível de saída do
tanque séptico;
• Fundo falso deve ter aberturas de 2,5cm, a cada 15cm. O somatório da área
dos furos deve corresponder a 5% da área do fundo falso;
• A altura total do filtro anaeróbio, em metros, é obtida pela equação H = h +
h1 + h2, onde: H é a altura total interna do filtro anaeróbio, h é a altura total
do leito, h1 é a altura da calha coletora ou lâmina livre e h2 é a altura
sobressalente ou do vão livre (variável).

2.2. Eficiência e Manutenção

A ABNT considera que os filtros anaeróbios de fluxo ascendente são capazes de


remover do efluente do tanque séptico de 70% a 90% da DBO (quadro acima). A eficiência
dos filtros só poderá ser constatada três meses após o início da operação que é o tempo
necessário para o bom funcionamento do mesmo.

Para a limpeza do filtro deve ser utilizada uma bomba de recalque, introduzindo-se o
mangote de sucção pelo tubo guia. Quando a operação com bomba de recalque não for
suficiente para a retirada do lodo, deve ser lançado água sobre a superfície do leito filtrante,
drenando-o novamente. A lavagem completa do filtro não é recomendada, pois retarda o
início da operação do filtro, neste caso, deixe uma pequena parcela do lodo diluído.

64
Aula 5 - Tratamento de Esgotos I
UNIDADE 2 – EGOTO URBANO E
DESTINAÇÕES

3. Destino do Efluente Pós Tanque ou Filtro

3.1. Sumidouro

O lançamento dos esgotos domésticos no subsolo é uma prática tão natural e lógica,
tendo pesquisas arqueológicas registrado que há cerca de 6000 anos os habitantes de
Sumere (região Sul do antigo império Caldeu) descarregavam seus esgotos em covas, cujas
profundidades variavam de 12 a 15 metros. Em um dos últimos livros da Bíblia,
Deuteronômio, Moisés ordenava que os despejos humanos fossem enterrados fora da área
do acampamento.

65
Aula 5 – Tratamento de Esgotos I
INSTALAÇÕES HIDRÁULICAS –
ESGOTO E DRENAGEM

Esta prática, extremamente antiga, demonstrou a sua aplicabilidade, no exemplo


clássico do Estado de West Virgínia (EUA), quando se adotou como solução para o combate
às febres tifoide e paratifoide a implantação de um programa de construção de 282148
unidades de privadas.

Os sumidouros também conhecidos como poços absorventes ou fossas absorventes,


são escavações feitas no terreno para disposição final do efluente de tanque séptico, que se
infiltram no solo pela área vertical (parede). Segundo a ABNT, NBR nº 13.969/1997 “seu uso
é favorável somente nas áreas onde o aquífero é profundo, onde possa garantir a distância
mínima de 1,50m (exceto areia) entre o seu fundo e o nível aquífero máximo”.

3.1.1. Dimensionamento

As dimensões dos sumidouros são determinadas em função da capacidade de


absorção do terreno, conforme tabela abaixo. Como segurança, a área do fundo não deverá
ser considerada, pois o fundo logo se colmata.

A área de infiltração necessária em m2 para o sumidouro é calculada pela fórmula:

A = V/Ci

Onde:

A = Área de infiltração em m2 (superfície lateral);


V = Volume de contribuição diária em litros/dia, que resulta da multiplicação do
número de contribuintes (N) pela contribuição unitária de esgotos (C), conforme tabela 1;
Ci = Coeficiente de infiltração ou percolação (litros/m2 x dia) obtido no gráfico abaixo.

66
Aula 5 - Tratamento de Esgotos I
UNIDADE 2 – EGOTO URBANO E
DESTINAÇÕES

3.1.2. Detalhes Construtivos

Os sumidouros devem ser construídos com paredes de alvenaria de tijolos, assentes


com juntas livres, ou de anéis (ou placas) pré-moldados de concreto, convenientemente
furados. Devem ter no fundo, enchimento de cascalho, coque ou brita no 3 ou 4, com altura
igual ou maior que 0,5 0m.

As lajes de cobertura dos sumidouros devem ficar ao nível do terreno, construídas em


concreto armado e dotados de abertura de inspeção de fechamento hermético, cuja menor
dimensão será de 0,60 m.

Na construção do sumidouro, manter a distância mínima de 1,50 m entre o fundo do


poço e o nível do lençol freático.

Havendo necessidade de redução da altura útil do sumidouro em função da


proximidade do nível do lençol freático, poderá reduzir a altura do mesmo, aumentando o
número destes, a fim de atender a área vertical (parede), inicialmente calculada.

Quando for necessária a construção de dois ou mais sumidouros, a distribuição do


esgoto deverá ser feita através de caixa de distribuição. Os sumidouros devem ficar
afastado entre si a uma distância mínima de 1,50 m.

67
Aula 5 – Tratamento de Esgotos I
INSTALAÇÕES HIDRÁULICAS –
ESGOTO E DRENAGEM

3.2. Valas de Infiltração

O sistema de vala de infiltração consiste em um conjunto de canalizações assentado a


uma profundidade determinada, em um solo cujas características permitam a absorção do
esgoto efluente do tanque séptico. A percolação do líquido através do solo permitirá a
mineralização dos esgotos, antes que os mesmos se transformem em fonte de
contaminação das águas subterrâneas e de superfície. A área por onde são assentadas as
canalizações de infiltração também são chamados de “campo de nitrificação”.

68
Aula 5 - Tratamento de Esgotos I
UNIDADE 2 – EGOTO URBANO E
DESTINAÇÕES

3.2.1. Dimensionamento

Para determinação da área de infiltração do solo, utiliza-se a mesma fórmula do


sumidouro, ou seja: A = V/Ci. Para efeito de dimensionamento da vala de infiltração, a área
encontrada se refere apenas ao fundo da vala.

No dimensionamento tem que se levar em conta as seguintes orientações:

• Em valas escavadas em terreno, com profundidade entre 0,60m e 1,00m,


largura mínima de 0,50m e máxima de 1,00m, devem ser assentados em
tubos de drenagem de no mínimo 100mm de diâmetro;
• A tubulação deve ser envolvida em material filtrante apropriado e
recomendável para cada tipo de tubo de drenagem empregado, sendo que
sua geratriz deve estar a 0,30m acima da soleira das valas de 0,50m de largura
ou até 0,60m, para valas de 1,00m de largura. Sobre a câmara filtrante deve
ser colocado papelão alcatroado, laminado de plástico, filme de termoplástico
ou similar, antes de ser efetuado o enchimento restante da vala com terra;
• A declividade da tubulação deve ser de 1:300 a 1:500;
• Deve haver pelo menos duas valas de infiltração para disposição do efluente
de um tanque séptico;
• Comprimento máximo de cada vala de infiltração é de 30m;
• Espaçamento mínimo entre as laterais de duas valas de infiltração é de 1,00m;
• A tubulação de efluente entre o tanque séptico e os tubos instalados nas valas
de infiltração deve ter juntas tomadas;
• Comprimento total das valas de infiltração é determinado em função da
capacidade de absorção do terreno, calculada segundo a formula A=V/Ci;
• Esquema de instalação do tanque séptico e valas de infiltração deve ser
executado conforme a próxima figura.

Exemplo: Calcule o campo de absorção (galeria de infiltração) para efluente diário de


um tanque séptico é de 2.100 litros sendo o coeficiente de infiltração do terreno de 68
litros/m2/dia.

Resolução:

A = V/Ci → A = 2100/68 → A = 30,9 m³

O comprimento do campo de absorção para uma vala com largura de 0,60 m e


considerando a área encontrada acima, é:

L = 30,9/0,6 → L = 51,5 m

69
Aula 5 – Tratamento de Esgotos I
INSTALAÇÕES HIDRÁULICAS –
ESGOTO E DRENAGEM

Este comprimento poderá ser subdividido em três ramais, portanto:

51,5/3 → 3 valas de 17,2 m

Abaixo segue um esquema de instalação de tanque séptico e valas de infiltração.

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Aula 5 - Tratamento de Esgotos I
UNIDADE 2 – EGOTO URBANO E
DESTINAÇÕES

Baseado e adaptado de
FUNASA. Edições sem prejuízo
de conteúdo.

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Aula 6 – Tratamento de Esgotos II
INSTALAÇÕES HIDRÁULICAS –
ESGOTO E DRENAGEM

Aula 6: Tratamento de Esgotos II

Esta Aula dará prosseguimento a tratamentos de esgotos. Serão abordadas aqui outras
metodologias aplicadas na Construção Civil e no Saneamento Básico para a destinação dos
resíduos líquidos como alternativas às tratadas na Aula passada, cada qual com suas
especificidades, variando assim, então, as suas recomendações ou não de utilizações frente os
cenários e características que as demandam.

1. ETE´s Para Pequenas Demandas

O esgoto chega a ETE, passando pelo gradeamento e caixa de areia, onde se dá o


tratamento preliminar, retendo os sólidos grosseiros e a remoção do lodo. Em seguida terá
início o tratamento primário no tanque de sedimentação ocorrendo a decantação e a
digestão do lodo. Finalmente o efluente passa pelo filtro biológico onde ocorre o
tratamento secundário, após o que o efluente é lançado num corpo receptor.

Frequentemente, deverá ser feita limpeza na caixa de areia, com a remoção dos
sólidos grosseiros da grade, bem como a retirada da areia depositada. Ao final de cada ano
de operação deverá ser feito descarga de fundo dos elementos anteriormente citados para
o poço de lodo. Este lodo após a descarga deverá ser retirado mecanicamente ou não
dependendo das condições topográficas e encaminhado a um leito de secagem.

1.1. Metodologia Construtiva

As unidades, serão construídas com tijolos maciços, argamassa 1:4 de cimento e areia
ou concreto armado ambos os métodos com revestimento traço 1:3 de cimento e areia e
impermeabilização traço 1:10. A pintura interna deverá ser feita com tinta anticorrosiva na
cor preta.

A tubulação utilizada no tanque de sedimentação e filtro biológico, para o poço de


lodo deverá ser de ferro fundido com diâmetro 150 mm. Nas demais tubulações poderá ser
utilizada manilha de barro vitrificada ou tubos de PVC para esgoto no diâmetro 150 mm.

72
Aula 6 - Tratamento de Esgotos II
UNIDADE 2 – EGOTO URBANO E
DESTINAÇÕES

73
Aula 6 – Tratamento de Esgotos II
INSTALAÇÕES HIDRÁULICAS –
ESGOTO E DRENAGEM

2. Leito de Secagem

Os leitos de secagem são unidades de tratamento, geralmente em forma de tanques


retangulares, projetados e construídos de modo a receber o lodo dos digestores, ou
unidades de oxidação total, onde se processa a redução da unidade com a drenagem e
evaporação da água liberada durante o período de secagem. Podem ser caracterizados
pelas seguintes partes:

• Tanques de armazenamento;
• Camada drenante;
• Cobertura.

Os leitos de secagem podem ser construídos ao ar livre ou cobertos. Nos países


tropicais não se justifica o uso de cobertura nos mesmos. Esta concepção torna o processo
bastante oneroso. Quando os leitos de secagem são cobertos geralmente nos países com
grande precipitação de neve adota-se telhas transparentes, idênticas às utilizadas em
estufas de plantas.

2.1. Funcionamento

O funcionamento dos leitos de secagem é um processo natural de perda de umidade


que se desenvolve devido aos seguintes fenômenos:

• Liberação dos gases dissolvidos ao serem transferidos do digesto (pressão


elevada) e submetidos à pressão atmosférica nos leitos de secagem;

74
Aula 6 - Tratamento de Esgotos II
UNIDADE 2 – EGOTO URBANO E
DESTINAÇÕES

• Liquefação graças à diferença de peso específico aparente do lodo digerido e


da água;
• Evaporação natural da água em virtude de contato íntimo com a atmosfera;
• Evaporação em virtude do poder calorífico do lodo.

O lodo em condições normais de secagem poderá ser removido do leito de secagem


depois de um período, que varia de 20 a 40 dias, cuja umidade atinge valores de 60% a 70%.
Em experiências realizadas em estações e tratamento de esgoto, o lodo lançado no leito de
secagem com umidade média de 95% atinge valores de 50% depois de 20 dias de secagem
em condições ótimas.

75
Aula 6 – Tratamento de Esgotos II
INSTALAÇÕES HIDRÁULICAS –
ESGOTO E DRENAGEM

3. Outros Tipos de Tratamento

3.1. Tanque Imhoff e OMS

Compreende os tanques sépticos de câmaras superpostas.

Os tanques Imhoff e OMS destinam-se ao tratamento primário do esgoto, à


semelhança dos tanques sépticos comuns. Compõem-se de uma câmara superior de
sedimentação e outra inferior de digestão. A comunicação entre os dois compartimentos é
feita unicamente por uma fenda que dá passagem aos lodos. A única diferença entre a fossa
OMS e o tanque Imhoff está no detalhe da construção da câmara de decantação. Na OMS,
esta câmara é vedada por cima, impedindo qualquer comunicação de gases entre os dois
compartimentos.

3.1.1. Funcionamento

Os dispositivos de entrada e saída do esgoto no tanque são semelhantes aos dos


tanques comuns. O esgoto penetra na câmara de decantação onde esta se processa; a
parte sedimentável precipita-se na câmara de digestão através de uma abertura (fenda),
com 15cm de largura e comprimento igual à câmara de decantação.

Apresenta as seguintes vantagens sobre o tanque séptico:

• Menor tempo de retenção, que poderá ser reduzido até duas horas,
tornando-o mais econômico;
• Melhor digestão, pois com a ausência de correntes ascendentes e
descendentes, o processo de digestão não é perturbado, obtendo-se maior
eficiência;
• Melhor efluente, uma vez que graças à eficiência dos processos, de
decantação e digestão, o líquido efluente é praticamente livre de partículas
sólidas e tem a qualidade bacteriológica bastante melhorada;
• Atendimento a populações maiores, pois se aplicam economicamente para
atender até cerca de 5.000 pessoas.

3.1.2. Dimensionamento

A determinação do volume útil do tanque Imhoff é obtida seguindo o processo de cálculo


abaixo:

V = V 1 + V 2 + V3

76
Aula 6 - Tratamento de Esgotos II
UNIDADE 2 – EGOTO URBANO E
DESTINAÇÕES

Sendo:

V1 - Volume da câmara de decantação (mínimo 500 litros): V1 = N . T . C

V2 - Volume decorrente do período de armazenamento do lodo: V2 = R1 . N . Lf . Ta

V3 - Volume correspondente ao lodo em digestão: V3 = R2 . N . Lf . Td

Onde:

N = número de contribuintes;
C = contribuição de despejos em litro/pessoa/dia (Aula 05);
T = período de retenção em dias (2 horas = 1/12 dia);
Ta = período de armazenamento de lodo em dias. Prevendo-se a limpeza anual
do tanque.
Ta = 360 - Td = 300 dias;
Td = período de digestão de lodo em dias. Aproximadamente 60 dias;
Lf = contribuição de lodos frescos p/ pessoa/dia (Aula 05);
R1 = 0,25 - coeficiente de redução do lodo digerido;
R2 = 0,50 - coeficiente de redução do lodo em digestão.

77
Aula 6 – Tratamento de Esgotos II
INSTALAÇÕES HIDRÁULICAS –
ESGOTO E DRENAGEM

Para as dimensões internas de Tanques Prismáticos, tem-se:

• Largura mínima: 1,00 m;


• Altura útil mínima: 1,20 m;
• Inclinação para as abas inferiores da câmara de decantação: 1,2:1 - sendo 1 na
horizontal;
• Espaçamento mínimo para a fenda de saída da câmara de decantação: 0,10
m;
• Superposição das abas inclinadas inferiores na câmara de decantação, de tal
maneira que impeçam a penetração de gases e partículas de lodo.
Aproximadamente 25 cm.

78
Aula 6 - Tratamento de Esgotos II
UNIDADE 2 – EGOTO URBANO E
DESTINAÇÕES

3.2. Lagoas de Estabilização

As lagoas de estabilização são o mais simples método de tratamento de esgotos


existentes. São construídas através de escavação no terreno natural, cercado de taludes de
terra ou revestido com placas de concreto. Geralmente têm a forma retangular ou
quadrada. Podem ser classificadas em quatro diferentes tipos:

a) Lagoas Anaeróbias: Têm a finalidade de oxidar compostos orgânicos complexos


antes do tratamento com lagoas facultativas ou aeradas. As lagoas anaeróbias não
dependem da ação fotossintética das algas, podendo assim ser construídas com
profundidades maiores do que as outras, variando de 2.0m a 5,0m. São projetadas
sempre que possível associada a lagoas facultativas ou aeradas;
b) Lagoas Facultativas: O seu funcionamento é por intermédio da ação de algas e
bactérias sob a influência da luz solar (fotossíntese). A matéria orgânica contida
nos despejos é estabilizada, parte transformando-se em matéria mais estável na
forma de células de algas e parte em produtos inorgânicos finais que saem com
efluente. Estas lagoas são chamadas de facultativas graças às condições aeróbias
mantidas na superfície liberando oxigênio e às anaeróbias mantidas na parte
inferior onde a matéria orgânica é sedimentada. Têm profundidade variando de
1,0m a 2,5m e áreas relativamente grandes;
c) Lagoas de Maturação: A sua principal finalidade é a redução de coliformes fecais,
contido nos despejos de esgotos. São construídas sempre, depois do tratamento
completo de uma lagoa facultativa ou outro tipo de tratamento convencional. Com
adequado dimensionamento, pode-se conseguir índices elevados de remoção de
coliformes, garantindo assim uma eficiência muito boa. As profundidades
normalmente adotadas, são iguais as das lagoas facultativas;
d) Lagoas aeróbias ou de alta taxa: Têm como principal aplicação a cultura colheita de
algas. São projetadas para o tratamento de águas residuais decantadas.
Constituem um poderoso método para produção de proteínas, sendo de 100 a
1.000 vezes mais produtivas que a agricultura convencional. É aconselhável o seu
uso, para tratamento de esgoto, quando houver a viabilidade do reaproveitamento
da produção das algas. A sua operação exige pessoal capaz e o seu uso é restrito. A
profundidade média é de 0,3 m a 0,5 m.

3.3. Lagoas Aeradas Mecanicamente

As lagoas aeradas mecanicamente são idênticas às lagoas de estabilização, com uma


única diferença, são providas de aeradores mecânicos de superfície instalados em colunas
de concreto ou do tipo flutuantes e também de difusores. A profundidade varia de 3,0m a

79
Aula 6 – Tratamento de Esgotos II
INSTALAÇÕES HIDRÁULICAS –
ESGOTO E DRENAGEM

5,0m. O esgoto bruto é lançado diretamente na lagoa depois de passar por um tratamento
preliminar (caixa de areia). Funcionam como um tanque de aeração no qual os aeradores
artificiais substituem a oxidação através das algas nas lagoas de estabilização.

A área para construção é inferior às das lagoas de estabilização em virtude da


profundidade e do tempo de detenção para a estabilização da matéria orgânica, que
também é menor. Há necessidade de energia elétrica para funcionamento desses
aeradores. Podem ser classificadas em três diferentes tipos:

• Aeróbia com mistura completa;


• Aerada facultativa;
• Aerada com aeração prolongada.

As mais usadas, são as duas primeiras em função de ter menor custo e menor
sofisticação em sua operação.

3.4. Caixa de Areia

As caixas de areia ou desarenadores, são unidades destinadas a reter areia e outros


minerais inertes e pesados que se encontram nas águas de esgoto (entulhos, seixo,
partículas de metal, carvão, etc.).

Esses materiais provêm de lavagem, enxurradas, infiltrações, águas residuais das


indústrias, etc.

Têm como seu principal emprego a proteção dos conjuntos elevatórios evitando
abrasões, sedimentos incrustáveis nas canalizações e em partes componentes das ETE’s,
como, decantadores, digestores, filtros, tanques de aeração, etc.

3.5. Lodos Ativados

Ainda que apresentem variações em certos detalhes, os processos de lodos ativados


consistem essencialmente da agitação de uma mistura de águas residuais com um certo
volume de lodo biologicamente ativo, mantido em suspensão por uma aeração adequada e
durante um tempo necessário para converter uma porção biodegradável daqueles resíduos
ao estado inorgânico, enquanto que o remanescente é convertido em lodo adicional. Tal
lodo é separado por uma decantação secundária e em grande parte, é retornado ao
processo sendo que a quantidade em excesso é disposta pelos meios usuais (digestão).

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Aula 6 - Tratamento de Esgotos II
UNIDADE 2 – EGOTO URBANO E
DESTINAÇÕES

Os lodos ativados consistem de agregados floculentos de microrganismos, materiais


orgânicos e inorgânicos. Os microrganismos considerados incluem bactérias, fungos,
protozoários e metazoários como rotíferos, larvas de insetos e certos vermes. Todos eles se
relacionam por uma cadeia de alimentação: bactérias e fungos decompõem o material
orgânico complexo e por essa atividade se multiplicam servindo de alimento aos
protozoários, os quais, por sua vez, são consumidos pelos metazoários que também podem
se alimentar diretamente de bactérias, fungos e mesmo de fragmentos maiores dos flocos
de lodos ativados.

O processo envolve então um estágio de aeração seguida por uma separação de


sólidos da qual o lodo obtido é recirculado para se misturar com o esgoto. Na etapa de
aeração ocorre uma rápida adsorção e floculação dos materiais orgânicos dissolvidos e em
suspensão coloidal. Ocorre ainda uma oxidação progressiva e uma síntese dos compostos
orgânicos adsorvidos e daqueles que são continuamente removidos da solução. Finalmente,
oxidação e dispersão das partículas de lodo com o prosseguimento da aeração.

O processo dos lodos ativados é o mais versátil dos processos biológicos de


tratamento. Pode produzir um efluente com concentração de matéria orgânica variando de
muito alta a muito baixa. Historicamente, foi desenvolvido a partir de 1913 na Inglaterra e
permaneceu sem sofrer grandes alterações por quase trinta anos. Quando começaram as
mudanças elas foram provocadas mais pelos operadores das estações, ao tentarem
solucionar problemas especiais, do que propriamente por engenheiros envolvidos em
projetos ou pesquisas. Com o avanço da tecnologia, entretanto, começaram os grupos de
pesquisa a trazer sua contribuição em termos de modificações básicas no processo.

Muitas modificações do processo de lodos ativados têm sido desenvolvidas nos


últimos anos, mas apenas duas variações básicas devem ser consideradas:

• Sistema convencional, no qual absorção, floculação e síntese são alcançadas


em um estágio;
• Sistema de estabilização por contato, no qual a oxidação e a síntese do
material orgânico removido ocorrem em um tanque de aeração separado.

Baseado e adaptado de
FUNASA. Edições sem prejuízo
de conteúdo.

81
Aula 7 – Águas Pluviais
INSTALAÇÕES HIDRÁULICAS –
ESGOTO E DRENAGEM

Unidade 3 – Drenagem Predial

Aula 7: Águas Pluviais

O progresso das civilizações está intrinsecamente ligado a disponibilidade de água. Assim, o


aumento acelerado do consumo mundial de água, sobretudo após a revolução industrial é
responsável por situações críticas de abastecimento em diversas regiões mundiais. Novas
considerações a respeito do manejo de água em regiões áridas e semiáridas para minimizar
escassez vêm sendo propostos e aplicados com sucesso.

1. Noções Básicas de Hidrologia

De acordo com estudos, aproximadamente 97,3% da água no mundo é de mares e


oceanos, 2,34% são águas em forma de gelo ou localizadas nos lençóis freáticos profundos e
0,36% são de águas de rios, lagos e pântanos. Essa pequena fração, 0,36%, que é apropriada
para o consumo, está distribuída desigualmente pelo mundo.

Os registros históricos apontam que as águas de chuva são utilizadas pela humanidade
há milhares de anos. Cisternas escavadas são datadas em até 3.000 a.C. A fortaleza de
Masada, por exemplo, localizada em Israel, possui dez reservatórios escavados na rocha
com capacidade de armazenamento de até 40 (quarenta) milhões de litros de água.

A civilização maia que abrangeu territórios de cinco países como: México, Honduras,
Belize, Guatemala e El Salvador, com existência datada em 2600 a.C e declínio em 400 d.C,
encontravam meios para captação das águas de chuva com cisternas, reservatórios, açudes
e canais destinados aos campos agrícolas. Os astecas, a qual a existência data do século IX
até o século XVI, aproveitavam a água de chuva assim como a civilização maia para fins
agrícolas.

82
Aula 7 – Águas Pluviais
UNIDADE 3 – DRENAGEM PREDIAL

1.1. O Ciclo Hidrológico

É o fenômeno global que ocorre na superfície terrestre através da circulação da água


de maneira fechada entre a superfície terrestre e a atmosfera, realizado principalmente
pela atuação da energia solar associada à ação da gravidade e à rotação do globo terrestre .

O conceito de ciclo hidrológico, que ocorre na Hidrosfera, corresponde ao movimento


e à troca de água nos seus diferentes estados físicos entre os oceanos, os calotes de gelo, as
águas superficiais, as águas subterrâneas e a atmosfera.

Este movimento permanente deve-se ação do Sol, que fornece a energia para que
água evapore saindo da superfície terrestre para a atmosfera, além da ação da gravidade,
fazendo com que a água antes condensada caia através das precipitações assim, uma vez na
superfície, circule através das bacias hidrográficas, reunindo-se em rios até atingir os
oceanos, a qual se denomina escoamento superficial ou infiltrem nos solos e nas rochas,
através dos seus poros, fissuras e fraturas (escoamento subterrâneo). Vale ressaltar que
nem toda a água precipitada alcança a superfície terrestre, haja vista que uma parte, na sua
queda, pode ser interceptada pela vegetação e volta a evaporar-se.

A água que se infiltra no solo, por sua vez é sujeita a evaporação direta para a
atmosfera e é absorvida pela vegetação, que através da transpiração, retorna à atmosfera.
Este processo chamado é chamado de evapotranspiração. A água que infiltra no solo é a
principal responsável pela recarga dos aquíferos ou lençóis de água subterrânea.

A quantidade de água e a velocidade com que ela circula nas diferentes fases do ciclo
hidrológico são influenciadas por diversos fatores como, por exemplo, a cobertura vegetal,
altitude, topografia, temperatura, tipo de solo e geologia.

83
Aula 7 – Águas Pluviais
INSTALAÇÕES HIDRÁULICAS –
ESGOTO E DRENAGEM

1.2. Disponibilidade da Água

Apesar de a água parecer abundante para algumas regiões do planeta, em outras a


quantidade é praticamente inexistente. A maior parte da água doce existente no mundo
está localizada em apenas 10 países, entre eles o Brasil, além disso, deve-se levar em
consideração que a é distribuída de maneira irregular, situação piorada quando são levados
em conta os fatores climáticos.

Em alguns lugares há muita chuva e as enchentes causam grandes problemas,


enquanto em outros a seca é grande. No início do século passado, a população mundial era
estimada em pouco menos de 2 bilhões de habitantes, hoje já passa de 6 bilhões e em 2025
haverá 8,3 bilhões de pessoas no mundo. Enquanto a população se multiplica, a quantidade
de água continua a mesma. O maior problema é que o consumo de água está cada vez
maior. Nos últimos 100 anos, enquanto a população mundial triplicava, o uso da água doce
multiplicava-se por seis (boa parte pelo aumento da irrigação da agricultura, que
revolucionou a produção agrícola, mas criou uma nova dificuldade, porque sozinha utilizava
70% da água doce disponível). Isto é necessário pois as pessoas precisam se alimentar, e
não cabe aqui um estudo geográfico e econômico do “problema”. Portanto, passamos
adiante.

De acordo autores, apesar de o Brasil possuir uma das maiores reservas mundiais de
água doce o problema também é perceptível. São Paulo, por exemplo, o estado mais
desenvolvido do país, enfrenta grande dificuldade devido às aglomerações como a da região
metropolitana. O caso do Nordeste já é clássico, além do semiárido, a região recebe chuva
de maneira irregular, sofrendo pela falta de água por uma série de características
geográficas e geológicas pertinentes à região.

1.3. Tipos de Chuvas

A precipitação atmosférica é a transferência da água contida na atmosfera para a


superfície terrestre. Existem diferentes tipos de precipitação, os quais são diferenciados de
acordo com o estado e o tamanho das partículas de água precipitada. Neblina, chuva,
orvalho, geada, neve, granizo e saraiva são exemplos de precipitação.

A formação das chuvas está intimamente ligada a vários fatores peculiares, dentre eles
a quantidade de vapor d’água presente no meio atmosférico, a característica
geomorfológica local e o clima da região. Os tipos de precipitação em forma de chuva
podem ser classificados como convectivas, frontais ou ciclônicas e orográficas.

84
Aula 7 – Águas Pluviais
UNIDADE 3 – DRENAGEM PREDIAL

As chuvas convectivas são mais frequentes em regiões equatoriais, onde os ventos são
mais brandos e a movimentação do ar é, geralmente, normal à superfície. São formadas a
partir do aquecimento do ar úmido próximo ao solo. Em seguida, essa massa de ar quente e
úmida, ao atingir determinada altura, se resfria e o vapor d’água presente se condensa
ocorrendo então a precipitação. São chuvas de fortes intensidades, pequena duração e que
atingem pequenas áreas. Grande parte das enchentes urbanas é ocasionada por esse tipo
de chuva.

As chuvas frontais ou ciclônicas são provenientes do encontro de extensas massas de


ar frias e quentes. Algumas interfaces (frentes) podem atingir até 3000 km de extensão. As
frentes de ar frio que vêm dos polos da Terra, ao interagirem com as frentes de ar quente,
elevam estas bruscamente. Esse processo provoca a condensação do vapor d’água presente
em grande quantidade e ocasiona chuvas. São chuvas de intensidade média, porém que
abrangem grandes áreas e por um longo período de tempo.

Já as chuvas orográficas são as que têm sua formação muito ligada às características
geográficas. As massas de ar que seguem do oceano para o continente trazem junto a
umidade proveniente do mar. Ao chegarem à superfície e encontrarem relevos
montanhosos, essas massas de ar quente e úmido se elevam como se fosse para superar a
barreira geográfica. Sendo assim, elas se resfriam e se condensam formando nuvens e
chuvas. São chuvas com intensidades menores que as das chuvas convectivas, de grande
duração e áreas pequenas.

2. Funções das Águas Pluviais

As águas pluviais são de grande importância para a humanidade, pois elas são
fundamentais nos processos da natureza, já que é uma das fases do ciclo hidrológico,
promovendo uma série de serviços ambientais, dentre elas podemos destacar:

• Manutenção da Biodiversidade e do Ecossistema Urbano – o controle da


temperatura, a rega das plantas, a lixiviação para evitar a salinização em
algumas áreas, as inundações para dar continuidade ao ciclo de vida de
algumas espécies, como alguns peixes e insetos, dentre outras.
• Recarga do Aquífero – Os aquíferos dependem das águas pluviais para se
recomporem. Pode ser naturalmente, proporcionada pelas águas retidas pela
vegetação, infiltradas e retidas no solo, retidas em depressões e armazenadas
dinamicamente nos rios e várzeas, ou artificialmente, através de
reservatórios, indicados para áreas urbanas que já apresentam problemas

85
Aula 7 – Águas Pluviais
INSTALAÇÕES HIDRÁULICAS –
ESGOTO E DRENAGEM

devido à impermeabilização. Nesses pode controlar-se a qualidade da água


que infiltra, pois esta geralmente é poluída em seu percurso de escoamento.
• Recarga de Corpos Hídricos – Assim como os aquíferos algumas depressões
naturais ou artificiais servem de reservatórios, sendo que alguns destes
reservatórios são exclusivamente alimentados por águas pluviais.
• Solvente Universal - vai carreando todo tipo de impurezas, dissolvidas,
suspensas, ou simplesmente arrastadas mecanicamente, tanto da atmosfera,
como do solo ou até de algum curso d’água, realizando um processo natural
de diluição e autodepuração, ao longo de seu percurso hídrico, até o seu
destino final.

2.1. Utilização em Áreas Urbanas

A busca por fontes alternativas de água é uma forma de se dispor de diferentes formas
de obtenção da mesma, evitando a dependência de uma única fonte e, em uma situação de
emergência, problemas graves de abastecimento. A dependência de um abastecimento de
água baseado somente na retirada em rios e lagos pode deixar a população exposta a
problemas sérios na ocorrência de eventos naturais ou contaminações por produtos
químicos ou nocivos para a saúde humana.

A água de chuva não possui a qualidade de uma água tratada ou mineral, entretanto
consiste em um recurso limpo se comparado a alguns rios onde é captada água para
tratamento e abastecimento. Portanto, torna-se claro que esse recurso deve ter algum
aproveitamento, basta analisar onde este trará maior retorno econômico.

O aproveitamento das águas pluviais, em toda a literatura, está sempre vinculado a


termos como reaproveitamento ou reuso da água, o que pode gerar preconceito e repulsa
desse recurso. Porém como essas águas não foram previamente utilizadas, possuem uma
qualidade relativamente boa, e não deveriam ser associadas a esses termos.

Uma questão importante na mudança de visão da sociedade sobre a gestão de águas


pluviais que será discutida mais adiante é a visão desta como um recurso, e considerá-la
uma água de reuso é uma barreira para essa mudança de pensamento.

O aproveitamento de águas pluviais é um sistema descentralizado e alternativo de


suprimento de água que promove a conservação da água potável. Os benefícios do
aproveitamento são:

86
Aula 7 – Águas Pluviais
UNIDADE 3 – DRENAGEM PREDIAL

• Aumento da segurança hídrica, seja para atender o crescimento populacional,


seja para atender áreas deficientes de abastecimento;
• Redução dos investimentos na captação da água em mananciais cada vez mais
distantes das concentrações urbanas para atender a demanda diária e a
demanda de pico;
• Redução do volume de água a ser captada e tratada, e minimização do uso de
água tratada para fins secundários;
• Menor entropia, ou seja, redução dos custos energéticos de transporte e dos
custos de tratamento, pois a água terá o nível de tratamento adequado para
seu uso (Estudos mostram que o custo energético tem se constituído num
montante aproximado de 25% a 45% do custo total de operações de sistemas
de abastecimento de água;
• Melhor distribuição de carga de água de chuva imposta ao sistema de
drenagem;
• Redução dos riscos de enchentes, erosão dos leitos dos rios e assoreamento
nas áreas planas no início da temporada de chuvas torrenciais e em eventos
isolados;
• Redução dos custos proporcionados por inundações e alagamentos;
• Possibilidade de uso para recarga dos lençóis subterrâneos e manutenção dos
níveis de lençol freático elevado.

Uma das desvantagens deste sistema é a diminuição do volume de água coletada em


períodos de estiagem, sendo necessário em alguns casos, áreas de captação e reservatórios
muito grandes para o fornecimento contínuo.

Outra questão importante é a possibilidade do armazenamento em grande escala


destas águas alterarem o balanço hídrico da região, pois haveria uma redução da
quantidade de água que infiltra no solo assim como da quantidade evaporada, provocando
algum desequilíbrio no ecossistema local. Mas em áreas já densamente urbanizadas, com
um sistema de drenagem já construído sobre os conceitos clássicos, onde a água de chuva é
coletada por calhas, e direcionadas diretamente para bocas de lobo ou poços de visita, as
alterações no balanço hídrico pós-urbanização devem ser pequenas, só alterando parte da
evaporação nos cursos de água que podem estar com nível menor, logo com uma superfície
de evaporação menor. É importante lembrar que a determinação dos impactos dessas
alterações é de extrema complexidade.

Como a captação em grande escala, a ponto de interferir no balanço hídrico, só


poderia se dar em áreas densamente ocupadas (muitas edificações realizando captação) e

87
Aula 7 – Águas Pluviais
INSTALAÇÕES HIDRÁULICAS –
ESGOTO E DRENAGEM

como estas áreas já costumam ter seu balanço hídrico alterado significativamente, o
impacto do aproveitamento de água de chuva em grande escala pode vir a ser insignificante
em relação ao impacto da urbanização.

Também deve-se analisar os impactos da retenção e desvio dessas águas para a rede
de esgotos sanitários nos cursos d’água, que a usam como solvente e como carreador de
impurezas, havendo maior concentração de poluentes nos cursos d’água.

A utilização de água de chuva torna-se mais atraente em as áreas de precipitação


elevada, com escassez de abastecimento e dificuldades de extração de água subterrânea,
porém em situações normais podem vir a ser interessante como será estudado.

As águas pluviais podem ser classificadas pelo uso, em potável e não potável. Os usos
potáveis são: ingestão, assepsia, preparo de alimentos e lavagem de utensílios. Os usos não
potáveis são: vasos sanitários e mictórios, lavagem de roupa, pisos, veículos, irrigação e
enchimento de piscinas.

Devido aos custos de monitoramento e tratamento os usos potáveis para a água de


chuva costumam ser feitos em áreas com escassez de abastecimento e indisponibilidade de
aproveitamento de águas subterrâneas. Exemplo: Cingapura. O custo da água da
concessionária é bem menor que o custo da água de chuva tratada, porém pode-se optar
por pagar mais por questões sociais, tal como independência do sistema e preservação do
meio ambiente. Exemplo: Algumas residências na Alemanha. No caso do Brasil só realizado
onde não há sistema de abastecimento convencional ou esse não atende à demanda.
Exemplo: Fernando de Noronha e Sertão Nordestino.

Uma das principais razões para que o uso de água de chuva para fins potáveis não seja
viável em áreas urbanas é a falta de indicadores da qualidade das águas pluviais, para poder
estabelecer um tratamento adequado, sendo necessário controle constante da qualidade da
água para garantir o cumprimento das exigências de qualidade da água, o que pode ser
muito oneroso e dispendioso.

Quanto aos usos não potáveis, os sistemas de aproveitamento proporcionam o uso de


águas com qualidade correspondente e específica para cada tipo de uso. Porém, ainda
assim, possuem padrões mínimos de qualidade de água que precisam ser respeitados para a
segurança do usuário e duração dos equipamentos envolvidos na atividade em questão.

88
Aula 7 – Águas Pluviais
UNIDADE 3 – DRENAGEM PREDIAL

A viabilidade do aproveitamento de águas pluviais para fins não potáveis deve ser
analisada em cada caso, pois cada região possui suas singularidades, mas em geral para
consumo doméstico pode ser bem vantajoso, assunto a ser tratado na Aula 09.

Em alguns estudos recentes a viabilidade nas indústrias, empreendimentos comerciais


e em prédios públicos, que são notadamente os maiores consumidores de água, não só tem
sido possível como a taxa de retorno é rápido. No caso da indústria outra grande vantagem
pode ser acrescentada: o aumento da disponibilidade de água, proporcionando o aumento
da produção sem a necessidade de incremento na captação e tratamento da água.
Normalmente, só a agregação de valor ao produto pela economia de água no processo já
seria vantajosa, mas se torna essencial em situações de conflitos pelo uso e de outorgas
restritas. No caso de organizações de caráter industrial ou comercial, a divulgação do PCA
(Programa de Conservação de Água) torna-se uma estratégia interessante para melhorar a
visão da organização na sociedade e promover sua responsabilidade social. O
aproveitamento dessa água traz benefícios ecológicos e econômicos, melhorando a imagem
da empresa perante a sociedade.

No caso de indústrias ela pode ser até viável para tratá-la para consumo humano, já
que por ser uma água livre de produtos químicos diferente da fornecida pela
concessionária, usualmente possui um custo de tratamento (retirada do cloro e do flúor)
menor para os processos produtivos.

Por fim, temos que a construção da infraestrutura de aproveitamento já é obrigatória


para certos empreendimentos em alguns municípios.

Baseado e adaptado de Heitor


Viola, Janerson Oliveira.
Edições sem prejuízo de
conteúdo.

89
Aula 8 – Instalações Prediais
INSTALAÇÕES HIDRÁULICAS –
ESGOTO E DRENAGEM

Aula 8: Instalações Prediais

O dimensionamento que se aplica à drenagem de águas pluviais é extraído da NBR 10844 e


direcionado para coberturas e demais áreas associadas ao edifício, tais como terraços, pátios,
quintais e similares. Esta norma não se aplica a casos onde as vazões de projeto e as
características da área exijam a utilização de bocas-de-lobo e galerias, que serão estudadas
na próxima unidade.

1. Instalações

As instalações de águas pluviais devem ser projetadas de modo a obedecer às


seguintes exigências:

• Recolher e conduzir a vazão de projeto até locais permitidos pelos


dispositivos legais;
• Serem estanques;
• Permitir a limpeza e desobstrução de qualquer ponto no interior da
instalação;
• Absorver os esforços provocados pelas variações térmicas a que estão
submetidas;
• Quando passivas de choques mecânicos, ser constituída de materiais
resistentes a estes choques;
• Nos componentes expostos, utilizar materiais resistentes às intempéries;
• Nos componentes em contato com outros materiais de construção, utilizar
materiais compatíveis;
• Não provocar ruídos excessivos;
• Resistir às pressões a que podem estar sujeitas;
• Ser fixadas de maneira a assegurar resistência e durabilidade.

A instalação predial de águas pluviais se destina exclusivamente ao recolhimento e


condução das águas pluviais, não se admitindo quaisquer interligações com outras
instalações prediais. O destino das águas pluviais pode ser:

• Escoamento superficial;

90
Aula 8 – Instalações Prediais
UNIDADE 3 – DRENAGEM PREDIAL

• Infiltração no solo por meio de poço absorvente;


• Disposição na sarjeta da rua ou por tubulação enterrada no passeio; pelo
sistema público, as águas pluviais chegam a um córrego ou rio;
• Cisterna (reservatório inferior) de acumulação de água, para uso posterior
(assunto da próxima aula).

1.1. Terminologia

São as seguintes, aplicadas para sistemas de captação:

a) Altura pluviométrica: volume de água precipitada por unidade de área horizontal.


b) Área de contribuição: soma das áreas das superfícies que, interceptando chuva,
conduzem as águas para determinado ponto da instalação.
c) Caixa de areia: caixa utilizada nos condutores horizontais destinados a recolher
detritos por deposição.
d) Calha: canal que recolhe a água de coberturas, terraços e similares e a conduz a
um ponto de destino.
e) Condutor horizontal: canal ou tubulação horizontal destinada a recolher e
conduzir águas pluviais até locais permitidos pelos dispositivos legais.
f) Condutor vertical: tubulação vertical destinada a recolher águas de calhas,
coberturas, terraços e similares e conduzi-las até a parte inferior do edifício.
g) Duração de precipitação: intervalo de tempo de referência para a determinação
de intensidades pluviométricas.
h) Intensidade pluviométrica: quociente entre a altura pluviométrica precipitada
num intervalo de tempo e este intervalo.
i) Perímetro molhado: linha que limita a seção molhada junta as paredes e ao fundo
do condutor ou calha.
j) Período de retorno: número médio de anos em que, para a mesma duração de
precipitação, uma determinada intensidade pluviométrica é igualada ou
ultrapassada apenas uma vez.
k) Ralo: caixa dotada de grelha na parte superior, destinada a receber águas pluviais.
l) Seção molhada: área útil de escoamento em uma seção transversal de um
condutor ou calha.
m) Tempo de concentração: intervalo de tempo decorrido entre o início da chuva e o
momento em que toda a área de contribuição passa a contribuir para
determinada seção transversal de um condutor ou calha.
n) Vazão de projeto: vazão de referência para o dimensionamento de condutores e
calhas.

91
Aula 8 – Instalações Prediais
INSTALAÇÕES HIDRÁULICAS –
ESGOTO E DRENAGEM

92
Aula 8 – Instalações Prediais
UNIDADE 3 – DRENAGEM PREDIAL

1.2. Materiais

Nos telhados empregam-se calhas que podem ser de aço galvanizado, folhas-de-
flandres, cobre, aço inoxidável, alumínio, fibrocimento, PVC rígido, fibra de vidro, concreto
ou alvenaria.

Nos condutores verticais, devem ser empregados tubos e conexões de ferro fundido,
fibrocimento, PVC rígido, aço galvanizado, cobre, chapas de aço galvanizado, folhas-de-
flandres, chapas de cobre, aço inoxidável, alumínio ou fibra de vidro.

Nos condutores horizontais, devem ser empregados tubos e conexões de ferro


fundido, fibrocimento, PVC rígido, aço galvanizado, cerâmica vidrada, concreto, cobre,
canais de concreto ou alvenaria.

2. Dimensionamento

2.1. Fatores Meteorológicos

A determinação da intensidade pluviométrica “I”, para fins de projeto, deve ser feita a
partir da fixação de valores adequados para a duração de precipitação e o período de
retorno. Tomam-se como base dados pluviométricos locais. O período de retorno deve ser
fixado segundo as características da área a ser drenada, obedecendo ao estabelecido a
seguir:

• As águas pluviais não devem ser lançadas no coletor de esgoto doméstico.


• A rede de águas pluviais não deve ser ligada a qualquer outra instalação
predial;
• O acesso de gases do esgoto primário à rede de águas pluviais deve ser
bloqueado;
• Nas junções, e no máximo de 20 em 20 metros, deve haver uma caixa de
inspeção;
• Quando houver risco de obstrução, deve-se prever mais de uma saída;
• Lajes impermeabilizadas devem ter declividade mínima de 0,5%;
• Calhas de beiral e platibanda devem ter declividade mínima de 0,5;
• Nos casos em que um extravasamento não pode ser tolerado, pode-se prever
extravasores de calha que descarreguem em locais adequados;
• Sempre que possível, usar declividade maior que 0,5% nos condutores
horizontais
• O período de retorno a ser adotado (T) deve ser de:

93
Aula 8 – Instalações Prediais
INSTALAÇÕES HIDRÁULICAS –
ESGOTO E DRENAGEM

✓ T = 1 ano, para áreas pavimentadas, onde empoçamentos possam


ser tolerados;
✓ T = 5 anos, para coberturas e/ou terraços;
✓ T = 25 anos, para coberturas e áreas onde empoçamento ou
extravasamento não possa ser tolerado.

A duração de precipitação deve ser fixada em t = 5min. Para construção até 100 m2 de
área de projeção horizontal, salvo casos especiais, pode-se adotar: I = 150 mm/h. Para as
demais construções utilizar a Tabela abaixo.

A ação dos ventos deve ser levada em conta através da adoção de um ângulo de
inclinação da chuva em relação à horizontal igual a arc tg² θ, para o cálculo da quantidade
de chuva a ser interceptada por superfícies inclinadas ou verticais. O vento deve ser
considerado na direção que ocasionar maior quantidade de chuva interceptada pelas
superfícies consideradas.

94
Aula 8 – Instalações Prediais
UNIDADE 3 – DRENAGEM PREDIAL

2.2. Área de Contribuição

No cálculo da área de contribuição, devem-se considerar os incrementos devidos à


inclinação da cobertura e às paredes que interceptem água de chuva que também deva ser
drenada pela cobertura. Em suma, a área de contribuição deve:

• Ser tomada na horizontal;


• Receber um incremento devido à inclinação da chuva.

Os incrementos devidos à inclinação da chuva são calculados segundo certas situações


que podem se apresentar, e a NB 611 prevê a seguintes situações e as fórmulas
correspondentes:

95
Aula 8 – Instalações Prediais
INSTALAÇÕES HIDRÁULICAS –
ESGOTO E DRENAGEM

2.3. Vazão de Projeto

A vazão de projeto deve ser calcula pela seguinte Equação:

C .I . A
Q=
60

Onde:

Q é a vazão em l/min;
A é a área de contribuição em m²;
C é o coeficiente de escoamento (C = 1 para áreas impermeáveis);
I é a intensidade pluviométrica em mm/h.

Observação: a vazão de projeto deve ser multiplicada pelos seguintes fatores, caso a
saída da calha esteja a menos de 4 m de uma curva:

2.4. Calhas

A inclinação das calhas de beiral e platibanda deve ser uniforme, com valor mínimo de
0,5%. As calhas de água-furtada têm inclinação de acordo com o projeto da cobertura.

Quando não se pode tolerar nenhum transbordamento ao longo da calha, extravasores


podem ser previstos como medida adicional de segurança. Nestes casos, eles devem
descarregar em locais adequados.

Em calhas de beiral ou platibanda, quando a saída estiver a menos de 4 m de uma


mudança de direção, a Vazão de projeto deve ser multiplicada pelos coeficientes da Tabela
abaixo.

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Aula 8 – Instalações Prediais
UNIDADE 3 – DRENAGEM PREDIAL

O dimensionamento das calhas deve ser feito através da fórmula de Manning-Strickler,


indicada a seguir, ou de qualquer outra fórmula equivalente:

S
Q = K. . R 2/3 . i1/2
n H

Onde:

Q = vazão de projeto (L/min);


S = área da seção molhada (m²);
n = coeficiente de rugosidade (Tabela abaixo);
RH = raio hidráulico (m);
i = declividade da calha (m/m);
K = 60.000.

A figura abaixo ilustra uma calha de seção retangular. O cálculo do raio hidráulico é
obtido dividindo-se a área molhada pelo perímetro molhado.

𝑎. 𝑏
𝑅𝐻 =
𝑏 + 2𝑎

A seção retangular mais favorável ao escoamento ocorre quando a base é o dobro da


altura d’água no canal, isto é, para valores de b = 2a. Pode-se resumir o RH também como
sendo a razão da área (seção transversal molhada) pelo perímetro molhado: RH = S/2pmolhado

97
Aula 8 – Instalações Prediais
INSTALAÇÕES HIDRÁULICAS –
ESGOTO E DRENAGEM

A Tabela a seguir fornece as capacidades de calhas semicirculares, usando coeficiente


de rugosidade n = 0,011 para alguns valores de declividade. Os valores foram calculados
utilizando a fórmula de Manning-Strickler, com lâmina de água igual à metade do diâmetro
interno.

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Aula 8 – Instalações Prediais
UNIDADE 3 – DRENAGEM PREDIAL

2.5. Condutores Verticais

Os condutores verticais podem ser colocados externa e internamente ao edifício,


dependendo de considerações de projeto, do uso e da ocupação do edifício e do material
dos condutores. Os condutores verticais podem ser ligados na sua extremidade superior a
uma calha (casa com telhado) ou receber um ralo quando se trata de terraços ou calhas
largas.

Devem ser projetados, sempre que possível, em uma só prumada. Quando houver
necessidade de desvio, devem ser usadas curvas de 90o de raio longo ou curvas de 45o e
devem ser previstas peças de inspeção.

O diâmetro interno mínimo dos condutores verticais de seção circular é 70 mm. Como
os condutores são verticais, seu dimensionamento não pode ser feito pelas fórmulas do
escoamento em canal. A NBR 10844/89 apresenta ábacos específicos para o
dimensionamento dos condutores verticais a partir dos dados a seguir. Para calhas com
saída em aresta viva ou com funil de saída, deve-se utilizar, respectivamente, o primeiro ou
segundo ábaco, conforme imagens:

99
Aula 8 – Instalações Prediais
INSTALAÇÕES HIDRÁULICAS –
ESGOTO E DRENAGEM

Procedimento:

1º: Levantar uma vertical por Q até interceptar as curvas de H e L correspondentes.


2º: Se não haver curvas dos valores de H e L, interpolar entre as curvas existentes.
3º: Transportar a interseção mais alta até o eixo D.
4º: Adotar o diâmetro nominal cujo diâmetro interno seja superior ou igual ao valor
encontrado.

O dimensionamento dos condutores verticais também pode ser feito com emprego da
tabela a seguir que fornece o diâmetro do condutor e o valor máximo da área de telhado
drenada pelo tubo.

Exemplo: Encontrar o diâmetro de um condutor vertical para escoar 1400 l/min em um


condutor de 3 metros de comprimento advindo de uma calha em aresta viva, bem como a
altura mínima de água dentro da calha para escoar esta vazão.

100
Aula 8 – Instalações Prediais
UNIDADE 3 – DRENAGEM PREDIAL

Resolução:

Do ábaco:

Parte-se de Q = 1400 l/min até se encontrar a linha do L = 3,00 m. Encontrando-a,


traça-se uma linha horizontal para a esquerda, a fim de se encontrar o diâmetro da
tubulação (neste caso, 90 mm → 100 mm comercial) e outra em harmonia aos segmentos
das linhas das alturas “H”, onde tem-se o ponto aproximado de 8,5 cm.

2.6. Condutores Horizontais

Os condutores horizontais devem ser projetados, sempre que possível, com


declividade uniforme, com valor mínimo de 0,5%. O dimensionamento dos condutores
horizontais de seção circular deve ser feito para escoamento com lâmina de altura igual a
2/3 do diâmetro interno (D) do tubo. As vazões para tubos de vários materiais e inclinações
usuais estão indicadas na Tabela abaixo.

101
Aula 8 – Instalações Prediais
INSTALAÇÕES HIDRÁULICAS –
ESGOTO E DRENAGEM

2.7. Ralos

Nos locais de onde se pretende esgotar águas pluviais, usam-se ralos que coletam a
água de áreas cobertas ou de calhas, canaletas e sarjetas, permitindo sua entrada em
condutores e coletores. O ralo compreende duas partes:

• Caixa, e
• Grelha (ralo propriamente dito). As grelhas podem ser planas ou hemisféricas
(também chamado “cogumelo” ou “abacaxi”).

2.8. Caixas de Areias e Inspeção

Nas tubulações aparentes, devem ser previstas inspeções sempre que houver
conexões com outra tubulação, mudança de declividade, mudança de direção e ainda a
cada trecho de 20 m nos percursos retilíneos.

Nas tubulações enterradas, devem ser previstas caixas de areia sempre que houver
conexões com outra tubulação, mudança de declividade, mudança de direção e ainda a
cada trecho de 20 m nos percursos retilíneos.

A ligação entre os condutores verticais e horizontais é sempre feita por curva de raio
longo, com inspeção ou caixa de areia, estando o condutor horizontal aparente ou
enterrado.

Exemplo: Dimensionar as águas pluviais do projeto abaixo sabendo-se que se situa em


Goiânia.

102
Aula 8 – Instalações Prediais
UNIDADE 3 – DRENAGEM PREDIAL

Resolução:

1º Passo: Área de Contribuição

Para esta análise, existem alguns pontos a serem observados. A norma não nos dá
exatamente a área de contribuição para este modelo de projeto. Portanto, utilizaremos a
fórmula para “Superfície Plana Inclinada” sabendo que haverá uma superdimensionamento
desta área pois existe uma platibanda lateral interceptando um pouco essa chuva. Como
são 4 tubos de quedas de AP´s localizados nas arestas, a área de contribuição respectiva de
cada um será uma área A, que é igual a A1 e a A2 do desenho.

Portanto:

h 1
A = A1 = A2 = (a + ) . b → A = (5 + ) . 10 → A = 55 m²
2 2

2º Passo: Intensidade Pluviométrica

O exercício nos referenciou que a cidade é Goiânia, portanto, pela tabela, T = 5 anos
(coberturas e terraços), I = 178 mm/h.

3º Passo: Determinação da Vazão de Projeto

C .I. A 1 . 178 . 55
Q= →Q= → Q = 163,17 l/min
60 60

4º Passo: Dimensionamento da Calha (Vazão)

103
Aula 8 – Instalações Prediais
INSTALAÇÕES HIDRÁULICAS –
ESGOTO E DRENAGEM

Como o exercício não nos deu o material da calha, iremos presumir que seja de aço
galvanizado. A declividade da calha também não foi fornecida, portanto, usaremos a
inclinação mínima da Norma que é 5% (i = 0,05). Infelizmente, deveremos dimensionar a
calha na tentativa e erro, pois o exercício não faz mesão de medidas convencionais. Devido
a isto, iremos comparar, ao final do exercício, se a vazão da calha será suportada pelos
tubos de queda.

Utilizando-se medida padrão de calhas, com base (b) de 10 cm e altura útil (a) de 5 cm:

𝑆 𝑎. 𝑏 0,05 . 0,10
𝑅𝐻 = → 𝑅𝐻 = → 𝑅𝐻 = → 𝑅𝐻 = 0,025 𝑚
2𝑝 𝑏 + 2𝑎 0,10 + 0,10

E ainda, n = 0,011 (aço), tem-se:

S 0,005 3
Q= K. . R H 2/3 . i1/2 → Q = 60000 . . √0,0252 . √0,05 → Q = 164,8 l/min
n 0,011

Portanto, a vazão da calha é maior que a vazão de projeto. Então ok!

5º Passo: Cálculo do Condutor Vertical

Do ábaco, para L = 3 m, com este valor de vazão, seria mais que suficiente um
diâmetro de 50 mm. Porém, a norma solicita um diâmetro mínimo de 70 mm e,
comercialmente, o próximo DN de tubulações de esgoto é 75 mm, que deverá ser utilizado.

Baseado e adaptado de Adolar


Ricardo Bohn e Silvia Romfim.
Edições sem prejuízo de
conteúdo.

104
Aula 9 – Reutilização de AP
UNIDADE 3 – DRENAGEM PREDIAL

Aula 9: Reutilização de AP

O aproveitamento de água de chuva em residências pode contribuir com a conservação de


mananciais, com a redução de enchentes nas cidades e com a diminuição da utilização de
energia e insumos na captação, adução, tratamento e distribuição de água potável.

1. Utilização de AP’s Para Uso Doméstico

Em zonas rurais e regiões onde há carência de água podem ser utilizadas reservatórios
(cisternas) construídos com o objetivo de acumular água durante período de precipitações
pluviométricas, para utilização na época de estiagem.

A água de chuva armazenada sem tratamento adequado pode ser utilizada apenas
para consumo não potável. A água de chuva tem potencial para utilização na descarga de
vasos sanitários, lavagem de roupas, irrigação de jardins, na lavagem de carros, em sistemas
de ar-condicionado e em sistemas de combate de incêndios, entre outros.

Um sistema de aproveitamento de água de chuva possui, em geral, os seguintes


componentes (figura abaixo).

• Área de coleta: local onde a chuva precipita a fim de ser captada. É


importante no dimensionamento do volume de reservação, pois quanto mais
for à área de captação maior será o volume de água de chuva capturado e
armazenado. A área de captação deve suprir a demanda de consumo de água.
• Calhas e condutores: Condutos que levam a água captada até o reservatório.
As calhas são dispostas na horizontal e os condutos na vertical. Os
dimensionamentos desses componentes devem seguir a NBR 10844.
• Dispositivo de descarte das “primeiras águas”: componente utilizado para
descartar a água que lava a área de captação, local onde se acumula poeira,
fuligem e outros contaminantes atmosféricos que podem alterar a qualidade
da água. Para este descarte pode-se dispor de desvio manual da água ou
dispositivos instalados em boias de tanques intermediários.
• Separador de materiais grosseiros: dispositivo utilizado para a separação de
galhos, folhas e outros materiais que podem ser depositados na área de

105
Aula 9 – Reutilização de AP
INSTALAÇÕES HIDRÁULICAS –
ESGOTO E DRENAGEM

captação. Existem no mercado filtros produzidos para esta função, podendo


também ser fabricados.
• Armazenamento: sistema composto por dois reservatórios. Um inferior,
enterrado com o objetivo armazenar a água coletada e compensar a variação
da precipitação de chuva, e um reservatório superior para distribuição por
gravidade até os pontos de utilização.
• Sistema de recalque: composto por bomba, tubulações e conexões.
Responsável pelo transporte de água do reservatório inferior para o
reservatório superior.
• Sistema de distribuição: responsável pelo abastecimento de água de chuva
nos pontos de utilização (ex.: bacias sanitárias). Composto por barrilete,
colunas, ramais e sub-ramais de distribuição.

106
Aula 9 – Reutilização de AP
UNIDADE 3 – DRENAGEM PREDIAL

1.1. Dimensionamento

1.1.1. Previsão do Consumo de Água Não Potável

Para o dimensionamento do sistema é necessário que primeiramente seja estimado o


consumo de água a ser utilizado. Na ausência de dados locais podem ser utilizados dados da
literatura, como os dados das tabelas abaixo:

Segundo estudos, o consumo mínimo diário de água é de 14 L/pessoa.dia.

O volume de água a armazenar pode ser calculado pela expressão:

Vmin = K . N . Cu . D

Onde:

Vmin é o volume mínimo para o reservatório (L);


K é o coeficiente correspondente às perdas;
N é o número de consumidores;
Cu é o consumo unitário de água (L/pessoa.dia);
D é o número de dias de armazenamento de água.

1.1.2. Volume do Reservatório

107
Aula 9 – Reutilização de AP
INSTALAÇÕES HIDRÁULICAS –
ESGOTO E DRENAGEM

Para determinação do volume de reservação deve ser calculado o volume precipitado


em função de dados meteorológicos de precipitação da região. Para efeito de cálculo, o
volume de água que pode ser aproveitado não é o mesmo que o precipitado. Para isto usa-
se um coeficiente de escoamento superficial chamado de coeficiente de Runoff (C), que
depende do tipo de superfície. Recomenda adotar C = 0,8. O volume captado por uma
superfície é dado pela expressão:

Vc = A . P . C

Onde:

Vc é o volume mensal ou anual captado (L);


A é a área de contribuição (m2);
P é a precipitação média mensal ou anual (mm);
C é o coeficiente de escoamento;

O volume mínimo de água necessário (Vmin) deve ser menor ou igual ao volume
captado (Vc) para atender a demanda de água.

Exemplo: Dimensione a cisterna do sistema de captação de água de chuva para uma


residência com 5 pessoas. A área do telhado é de 200 m² e a área do jardim de 100 m². O
uso será para fins não potáveis como descargas de vasos sanitários, lavagem de roupas e
irrigação de jardim. Considere a precipitação média mensal de 25 mm e o número de dias de
armazenamento de água de 30 dias.

Resolução:

1º Passo: Estimativa do Consumo de Água

Para perda de 5%, tem-se:

Vmin = K . N . Cu . D → Vmin = 1,05 . 5 . 14 . 30 → Vmin = 2205 L

2º Passo: Volume Captado

Vc = A . P . C → Vc = 200 . 25 . 0,8 → 4000 L

Portanto, sendo o volume de captação maior que a demanda do período, deve-se


escolher uma cisterna de volume comercial imediatamente maior que o volume
demandado para suprir os 30 dias.

108
Aula 10 - Generalidades
UNIDADE 4 – DRENAGEM URBNA

Unidade 10 – Drenagem Urbana

Aula 10: Generalidades

No processo de assentamento dos agrupamentos populacionais, o sistema de drenagem se


sobressai como um dos mais sensíveis dos problemas causados pela urbanização, tanto em
razão das dificuldades de esgotamento das águas pluviais quanto em razão da interferência
com os demais sistemas de infraestrutura, além de que, com retenção da água na superfície
do solo, surgem diversos problemas que afetam diretamente a qualidade de vida desta
população.

1. Introdução

O sistema de drenagem de um núcleo habitacional é o mais destacado no processo de


expansão urbana, ou seja, o que mais facilmente comprova a sua ineficiência,
imediatamente após as precipitações significativas, trazendo transtornos à população
quando causa inundações e alagamentos. Além desses problemas gerados, também
propicia o aparecimento de doenças como a leptospirose, diarreias, febre tifoide e a
proliferação dos mosquitos anofelinos, que podem disseminar a malária. E, para isso tudo,
estas águas deverão ser drenadas e como medida preventiva adotar-se um sistema de
escoamento eficaz que possa sofrer adaptações, para atender à evolução urbanística, que
aparece no decorrer do tempo.

Para que este objetivo seja atingido, é de fundamental importância a realização de


pesquisas entomoepidemiológicas detalhadas, para identificação com precisão dos locais
escolhidos pelo vetor para reprodução, de forma a orientar as ações de drenagem.

Um sistema geral de drenagem urbana é constituído pelos sistemas de


macrodrenagem e macrodrenagem. Sob o ponto de vista sanitário, a drenagem visa
principalmente:

109
Aula 10 - Generalidades
INSTALAÇÕES HIDRÁULICAS –
ESGOTO E DRENAGEM

• Desobstruir os cursos d’água dos igarapés e riachos, para eliminação dos


criadouros (formação de lagoas);
• A não propagação de algumas doenças de veiculação hídrica.

2. Conceitos

2.1. Microdrenagem

A microdrenagem urbana é definida pelo sistema de condutos pluviais a nível de


loteamento ou de rede primária urbana, que propicia a ocupação do espaço urbano ou
periurbano por uma forma artificial de assentamento, adaptando-se ao sistema de
circulação viária. É formada de:

• Boca de lobo: dispositivos para captação de águas pluviais, localizados nas


sarjetas;
• Sarjetas: elemento de drenagem das vias públicas. A calha formada é a
receptora das águas pluviais que incidem sobre as vias públicas e que para
elas escoam;
• Poço de visita: dispositivos localizados em pontos convenientes do sistema de
galerias para permitirem mudança de direção, mudança de declividade,
mudança de diâmetro e limpeza das canalizações;
• Tubos de ligações: são canalizações destinadas a conduzir as águas pluviais
captadas nas bocas de lobo para a galeria ou para os poços de visita;
• Condutos: obras destinadas à condução das águas superficiais coletadas.

2.2. Macrodrenagem

É um conjunto de obras que visam melhorar as condições de escoamento de forma a


atenuar os problemas de erosões, assoreamento e inundações ao longo dos principais
talvegues (fundo de vale). Ela é responsável pelo escoamento final das águas, a qual pode
ser formada por canais naturais ou artificiais, galerias de grandes dimensões e estruturas
auxiliares. A macrodrenagem de uma zona urbana corresponde à rede de drenagem natural
pré-existente nos terrenos antes da ocupação, sendo constituída pelos igarapés, córregos,
riachos e rios localizados nos talvegues e valas.

Os canais são cursos d’água artificiais destinados a conduzir água à superfície livre. A
topografia do terreno, natureza do solo e o tipo de escoamento, determinam a forma da
seção a ser adotada, as inclinações de taludes e declividade longitudinal dos canais.

110
Aula 10 - Generalidades
UNIDADE 4 – DRENAGEM URBNA

Apesar de independentes, as obras de macrodrenagem mantêm um estreito


relacionamento com o sistema de drenagem urbano, devendo, portanto, serem projetadas
conjuntamente para uma determinada área.

As obras de macrodrenagem consistem em:

• Retificação e/ou ampliação das seções de cursos naturais;


• Construção de canais artificiais ou galerias de grandes dimensões;
• Estruturas auxiliares para proteção contra erosões e assoreamento, travessias
(obras de arte) e estações de bombeamento.

As razões para a necessidade de implantar ou ampliar nos centros urbanos, as vias de


macrodrenagem são:

• Saneamento de áreas alagadiças;


• Ampliação da malha viária em vales ocupados;
• Evitar o aumento de contribuição de sedimento provocado pelo
desmatamento e manejo inadequado dos terrenos, lixos lançados sobre os
leitos;
• Ocupação dos leitos secundários de córregos.

2.3. Licenciamento Ambiental

Para a execução de qualquer obra de drenagem, deverá ser obtida no órgão de


proteção ambiental do município ou do estado a:

• “I - Licença Prévia (LP) – concedida na fase preliminar do planejamento do


empreendimento ou atividade aprovando sua localização e concepção,
atestando a viabilidade ambiental e estabelecendo os requisitos básicos e

111
Aula 10 - Generalidades
INSTALAÇÕES HIDRÁULICAS –
ESGOTO E DRENAGEM

condicionantes a serem atendidos nas próximas fases de sua


implementação;”
• “II - Licença de Instalação (LI) – autoriza a instalação do empreendimento ou
atividade de acordo com as especificações constantes dos planos, programas
e projetos aprovados, incluindo as medidas de controle ambiental e demais
condicionantes, da qual constituem motivo determinante;”
• “III - Licença de Operação (LO) – autoriza a operação da atividade ou
empreendimento, após a verificação do efetivo cumprimento do que consta
das licenças anteriores, com as medidas de controle ambiental e
condicionantes determinados para a operação.”

“Parágrafo único – As licenças ambientais poderão ser expedidas isolada ou


sucessivamente, de acordo com a natureza, características e fase do empreendimento ou
atividade”.

2.4. Tipos de Drenagens

Os principais tipos de drenagens são caracterizados conforme descrições a seguir.

2.4.1. Superficial

É utilizada mais adequadamente para terrenos planos, com capa superficial


sustentável e subsolo rochoso ou argiloso impermeável, impede o encharcamento do
terreno, evita a saturação prolongada do solo e acelera a passagem de água sem risco de
erosão e acumulação de lama no leito. Consta dos seguintes serviços:

• Preparação da superfície do terreno;


• Melhoria dos leitos naturais das águas;
• Construção de valas.

2.4.2. Subterrânea

A drenagem subterrânea tem como objetivo descer o lençol freático até um nível que
favoreça os cultivos e garantir a estabilidade das estradas e a segurança das construções.

A drenagem subterrânea, utilizando valas, é aplicada nos casos em que não é preciso
descer o lençol freático mais que 1,5 m, isto porque o volume de terra a ser removido será
proporcional ao quadrado da profundidade da vala.

112
Aula 10 - Generalidades
UNIDADE 4 – DRENAGEM URBNA

2.4.3. Vertical

É utilizada em terrenos planos quase sem declive para que a água drene, como nos
pântanos e marisma. Estes terrenos possuem uma capa superficial encharcada por existir
abaixo dela uma camada impermeável, impedindo, assim, a infiltração. Poder-se-á dar saída
às águas superficiais e subterrâneas, pelos poços verticais, fincados ou perfurados,
preenchidos com pedras, cascalho ou areia grossa, protegendo assim, a sua estabilidade.

Deve-se tomar precauções, em decorrência deste tipo de drenagem ocasionar risco de


contaminação das águas subterrâneas.

2.4.4. Elevação Mecânica

É utilizada nas seguintes situações:

• Quando o nível da água a ser bombeada é inferior ao nível do local destinado


a receber o líquido, uma vez que não há carga hidráulica no extremo inferior
da área a ser drenada;
• Quando o lençol freático do terreno é elevado, podendo-se substituir a rede
de drenagem superficial por sistema de poços, a partir do bombeamento para
as valas coletoras.

2.5. Critérios e Estudos para Obras de Drenagens

Devem ser levados em consideração os seguintes critérios.

• Levantamento topográfico que permita:

✓ Avaliar o volume da água empoçada;


✓ Conhecer a superfície do pântano em diferentes alturas;
✓ Determinar a profundidade do ponto mais baixo a drenar;
✓ Encontrar a localização de uma saída apropriada; e
✓ Determinar o traçado dos canais ou valas;

• Estudo da origem da água que alimenta a área alagada, análise das


consequências prováveis da vazão máxima e mínima, o uso da água e a
reprodução de vetores;
• Estudo do subsolo com ênfase na sua permeabilidade;
• Distâncias a zonas povoadas, de trabalho ou lazer;
• Exame da possibilidade de utilizar o material ao escavar as valas;

113
Aula 10 - Generalidades
INSTALAÇÕES HIDRÁULICAS –
ESGOTO E DRENAGEM

• Estudo das consequências ecológicas e da aceitação da drenagem pela


população.

3. Infraestrutura de Água no Meio Urbano

A saber, os principais sistemas hídricos em ambiente urbano, uns já estudados, outros


em estudos e alguns apenas para conhecimento, são:

• Mananciais de águas;
• Abastecimento de água;
• Coleta e tratamento de águas servidas (efluentes domésticos e industriais);
• Controle da drenagem urbana;
• Controle de inundações ribeirinhas.

Os mananciais de água urbana são as fontes superficiais ou subterrâneas de água para


abastecimento humano, animal e industrial. Os mananciais superficiais são os rios e lagos
adjacentes às comunidades. Nestes sistemas, a quantidade de água disponível varia ao
longo do tempo e, para atender a demanda, muitas vezes é necessário construir um
reservatório para garantir o atendimento da demanda hídrica da comunidade ao longo do
tempo. Os mananciais subterrâneos são os aquíferos que armazenam água no subsolo e
permitem o atendimento da demanda através de bombeamento. A água subterrânea
geralmente é utilizada em cidades pequenas e médias, pois depende da capacidade do
aquífero de suportar a vazão que se deseja retirar sem comprometer seu balanço de
entrada e saída de água.

O abastecimento de água envolve a utilização da água extraída de mananciais que é


transportada até a estação de tratamento de água (ETA) e depois distribuída à população
por uma rede de encanamentos. Este sistema depende de suntuosos investimentos,
geralmente públicos, para garantir água em quantidade e qualidade adequada à população.
O assunto é melhor aprofundado na disciplina de Instalações Hidráulicas – Água Fria e
Quente.

O sistema de coleta e tratamento de águas servidas, como estudado em sulas


anteriores, é o sistema de coleta dos efluentes residenciais, comerciais e industriais, de
transporte deste volume, tratamento numa estação de tratamento de esgoto (ETE) e
despejo da água tratada de volta ao sistema hídrico natural.

O controle de inundações ribeirinhas consiste em evitar que a população seja atingida


pelas inundações naturais. Os rios nos períodos chuvosos extravasam seu leito menor e

114
Aula 10 - Generalidades
UNIDADE 4 – DRENAGEM URBNA

ocupam o leito maior, dentro de um processo natural. Como isto ocorre de forma irregular
ao longo do tempo, a população tende a ocupar o leito maior, ficando sujeita ao impacto
das inundações.

A drenagem urbana, como se sabe, envolve a rede de coleta de água precipitada sobre
as superfícies urbanas, tratamento, que acaba acontecendo apenas nos casos em que é
conduzida conjuntamente com as águas servidas, e o retorno aos rios. Como as cidades,
geralmente, encontram-se assentadas em proximidades de corpos hídricos, o controle de
inundações ribeirinhas passa a ser efetuada conjuntamente com o controle da drenagem.

Assim como inundações ribeirinhas impactam e influenciam o controle da drenagem


de pluviais, outros setores apresentam interfaces que, num planejamento integrado, devem
ser consideradas.

3.1. Inundações Ribeirinhas

Um vale de inundação (Figura) é definido principalmente por dois leitos: O leito


menor, que representa a seção de rio por onde as águas escoam na maior parte do tempo,
e o leito maior, por onde o rio escoa durante as inundações. O leito menor é claramente
definido pelas margens dos rios e o leito maior é delimitado pelo vale onde o rio meandra.

As inundações ocorrem quando as águas dos rios, riachos ou galerias pluviais saem do
leito menor de escoamento devido à falta de capacidade de transporte de um destes
sistemas e ocupa áreas utilizadas pela população para moradia, transporte (ruas, rodovias e
passeios), recreação, comércio, indústria, e outras atividades humanas.

Quando a precipitação é intensa e o solo não tem capacidade de infiltrar, grande parte
do volume escoa para o sistema de drenagem, superando sua capacidade natural de
escoamento. O excesso do volume que não consegue ser drenado ocupa a várzea
inundando-a de acordo com a topografia das áreas próximas aos rios. Estes eventos

115
Aula 10 - Generalidades
INSTALAÇÕES HIDRÁULICAS –
ESGOTO E DRENAGEM

ocorrem de forma aleatória em função dos processos climáticos locais e regionais. Este tipo
de inundação é aqui denominado inundação ribeirinha.

4. Planos Diretores de Drenagem Urbana

Plano Diretor de Drenagem Urbana (PDDrU) tem sido cada vez mais instrumento das
Cidades no planejamento e gestão das águas e que tem como objetivo criar os mecanismos
de gestão da infraestrutura urbana relacionados com o escoamento das águas pluviais e dos
cursos d’água na área urbana. Com isso, visa evitar perdas econômicas e melhorar as
condições de saúde e meio ambiente da cidade.

4.1. Princípios

Os princípios essenciais para o bom desenvolvimento de um programa consistente de


drenagem urbana são:

a) O PDDrU faz parte do Plano de Desenvolvimento Urbano e Ambiental (PDDUA) da


cidade. A drenagem faz parte da infraestrutura urbana, portanto deve ser
planejada em conjunto com os outros sistemas, principalmente o plano de
controle ambiental, esgotamento sanitário, disposição de resíduos sólidos e
tráfego.
b) O escoamento durante os eventos chuvosos não pode ser ampliado pela ocupação
da bacia, tanto num simples loteamento como nas obras de macrodrenagem
existentes no ambiente urbano. Isto se aplica tanto a um simples aterro urbano
como também se aplica à construção de pontes, rodovias e impermeabilização dos
espaços urbanos. O princípio é de que cada usuário urbano não deve ampliar a
cheio natural.
c) O plano de controle da drenagem urbana deve contemplar as bacias hidrográficas
sobre as quais a urbanização se desenvolve. As medidas não podem reduzir o
impacto de uma área em detrimento de outra, ou seja, os impactos de quaisquer
medidas não devem ser transferidos. Caso isso ocorra deve-se prever medidas
mitigadoras.
d) O plano deve prever a minimização do impacto ambiental devido ao escoamento
pluvial, através da compatibilização com o planejamento do saneamento
ambiental, controle de materiais sólidos e a redução da carga poluente das águas
pluviais que escoam para o sistema fluvial externo à cidade.
e) A regulamentação do PDDrU deve contemplar o planejamento das áreas a serem
desenvolvidas e a densificação das áreas atualmente loteadas. Depois que a bacia
ou parte dela estiver ocupada, dificilmente o poder público terá condições de

116
Aula 10 - Generalidades
UNIDADE 4 – DRENAGEM URBNA

responsabilizar aqueles que estiverem ampliando a cheia, portanto se a ação


pública não for realizada preventivamente através do gerenciamento, as
consequências econômicas e sociais futuras serão muito maiores para o
município.
f) O controle de enchentes é realizado através de medidas estruturais e não
estruturais, que dificilmente estão dissociadas. As medidas estruturais envolvem
grande quantidade de recursos e resolvem somente problemas específicos e
localizados, o que não significa que este tipo de medida seja totalmente
descartada. A política de controle de enchentes certamente poderá chegar a
soluções estruturais para alguns locais, mas dentro da visão de conjunto de toda a
bacia, onde estas estão racionalmente integradas com outras medidas preventivas
(não–estruturais) e compatibilizadas com o esperado desenvolvimento urbano. O
controle deve ser realizado considerando a bacia como um todo e não trechos
isolados.
g) Valorização dos mecanismos naturais de escoamento na bacia hidrográfica,
preservando, quando possível, os canais naturais.
h) Integrar o planejamento setorial de drenagem urbana, esgotamento sanitário e
resíduo sólido. A palavra-chave é a integração da drenagem com outros aspectos
dos recursos hídricos urbanos.
i) Os meios de implantação do controle de enchentes são o Plano Diretor Urbano, as
Legislações Municipal/Estadual e o Manual de Drenagem. O primeiro estabelece
as linhas principais, as legislações controlam e o Manual orienta.
j) 1Controle permanente: o controle de enchentes é um processo permanente; não
basta que se estabeleçam regulamentos e que se construam obras de proteção; é
necessário estar atento às potenciais violações da legislação na expansão da
ocupação do solo das áreas de risco; nenhum espaço de risco seja desapropriado
se não houver uma imediata ocupação pública que evite a sua invasão; a
comunidade deve ter uma participação nos anseios, nos planos, na sua execução e
na contínua obediência das medidas de controle de enchentes.
k) A educação de engenheiros, arquitetos, agrônomos e geólogos, entre outros
profissionais, da população e de administradores públicos é vista como essencial
para que as decisões públicas sejam tomadas conscientemente por todos.
l) O custo da implantação das medidas estruturais e da operação e manutenção da
drenagem urbana deve ser transferido aos proprietários dos lotes,
proporcionalmente a sua área impermeável, que é a geradora de volume
adicional, com relação as condições naturais.

117
Aula 10 - Generalidades
INSTALAÇÕES HIDRÁULICAS –
ESGOTO E DRENAGEM

m) O conjunto destes princípios prioriza o controle do escoamento urbano na fonte,


distribuindo as medidas para aqueles que produzem o aumento do escoamento e
a contaminação das águas pluviais.

4.2. Estrutura

A estrutura do Plano Diretor de Drenagem Urbana pode ser vista na Figura a seguir. Os
grandes grupos são: dados de entrada, fundamentos, desenvolvimento, produtos e
programas. Cada uma destas etapas é explicada a seguir.

4.2.1. Dados de Entrada

São as informações básicas necessárias para a elaboração do Plano Diretor. Estas


informações abrangem os Planos de Gerenciamento e aspectos institucionais; cadastros
físicos e dados hidrológicos.

• Planos de Gerenciamento: Plano de Desenvolvimento urbano da cidade,


Plano de Saneamento ou esgotamento sanitário, Plano de Controle dos
Resíduos Sólidos e Plano Viário. São Planos que apresentam interface
importante com a Drenagem Urbana. Quando os planos de Água e

118
Aula 10 - Generalidades
UNIDADE 4 – DRENAGEM URBNA

Saneamento e Resíduos sólidos são desenvolvidos de forma integradas as


interfaces entre estes elementos devem ser destacadas;
• Aspectos Institucionais: Legislação municipal relacionada com o Plano Diretor
Urbano e meio ambiente; Legislação estadual de recursos hídricos e
Legislação federal; Gestão da drenagem dentro do município;
• Cadastro Físico: Cadastro da rede pluvial, bacias hidrográficas, uso e tipo de
solo das bacias, entre outros dados físicos;
• Dados hidrológicos: precipitação, vazão, sedimentos e qualidade da água do
sistema de drenagem.

O ideal é que este conjunto de informações esteja informatizado através de um SIG


(Sistema Geográfico de Informações) e banco de dados georreferenciados.

4.2.2. Fundamentos

São os elementos definidores do Plano, englobam os princípios, objetivos, estratégias


e cenários; subdivisão da cidade em sub-bacias e sua compatibilização com o sistema de
administração da mesma para a gestão da drenagem; e um diagnóstico do conjunto da
drenagem urbana da cidade e suas interfaces. A seguir são descritos estes elementos.

• Objetivos: um PDDrU deve buscar: (i) planejar a distribuição da água no


tempo e no espaço, com base na tendência de ocupação urbana
compatibilizando esse desenvolvimento e a infraestrutura para evitar
prejuízos econômicos e ambientais; (ii) controlar a ocupação de área de risco
de inundação através de restrições em áreas de alto risco e (iii) convivência
com as enchentes nas áreas de baixo risco.
• Estratégias: podem ser estabelecidas considerando o desenvolvimento do
Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano e outros planos e a infraestrutura
existente na cidade. Assim, o PDDru pode adotar estratégias quanto ao
desenvolvimento do Plano, quanto ao controle ambiental, ou outros
aspectos.

O PDDrU precisa apresentar medidas para remediar os problemas já existentes em


decorrência da urbanização, como também deve apresentar medidas para prevenção da
ocorrência de enchentes e inundações em áreas que futuramente venham a ser
urbanizadas.

4.2.3. Desenvolvimento

119
Aula 10 - Generalidades
INSTALAÇÕES HIDRÁULICAS –
ESGOTO E DRENAGEM

Inclui medidas estruturais e não-estruturais. As principais medidas não-estruturais


envolvem legislação e regulamentação sobre o aumento da vazão devido à urbanização e a
ocupação de áreas de risco em regiões ribeirinhas, além da gestão dos serviços urbanos
relacionados com as águas pluviais. O próprio Plano de Drenagem configura uma medida
não estrutural de controle das enchentes urbanas, pois através de nova legislação ou da
regulamentação da legislação existente busca-se introduzir os seus princípios.

As medidas estruturais envolvem a determinação dos locais onde a drenagem não tem
capacidade de escoamento e produz inundações para o cenário e risco escolhido. O Plano
deve apresentar solução para evitar que eventos deste tipo ocorram.

As etapas usuais são as seguintes:

• Avaliação da capacidade de drenagem existente;


• Identificação dos locais críticos, onde ocorrem inundações para o cenário e
riscos definidos;
• Estudo de alternativas para controle destas inundações;
• Avaliação econômica;
• Avaliação ambiental.

4.2.4. Programas

São os estudos complementares de médio e longo prazo recomendados dentro do


PDDrU visando a melhoria do planejamento da drenagem urbana de cada cidade. Dentro
deste contexto podem ser previstos programas relacionados com o monitoramento de
dados necessários ao planejamento e estudos complementares, manutenção e educação. A
sua fiscalização deve ser incorporada na gestão.

Baseado e adaptado de
FUNASA, Christopher Freire,
Lidiane Souza. Edições sem
prejuízo de conteúdo.

120
Aula 11 – Dispositivos de Microdrenagem
UNIDADE 4 – DRENAGEM URBNA

Aula 11: Dispositivos de Microdrenagem

O aspecto funcionalidade está relacionado a problemas que podem afetar as etapas de


projeto, execução e manutenção. Quanto ao projeto, percebe-se, em muitos casos, ausência
completa dos mesmos, detalhamentos falhos e incompletos. Em relação a etapas de
construção e manutenção, o que mais se percebe são sistemas ineficientemente construídos e
mantidos. Desta forma, esta Aula objetiva apresentar um modelo mais padronizado de
dispositivos e elementos de drenagens urbanas mais usuais para o esclarecimento do aluno.

1. Elementos de Projetos de Drenagem Urbana

O objetivo desta aula é mostrar como funciona os principais tipos de captação de


microdrenagem. Cada vez mais vem aumentando a demanda para melhorar a qualidade de
vida, isso, juntamente com uma explosão demográfica desordenada da população, nos
mostra que uma cidade bem projetada e com controle pode obter melhores resultados no
que tange o escoamento das águas.

1.1. Sarjetas

As sarjetas são canais que possuem, aproximadamente, a forma triangular e servem


para captar e conduzir longitudinalmente a água proveniente das precipitações locais, que

121
Aula 11 – Dispositivos de Microdrenagem
INSTALAÇÕES HIDRÁULICAS –
ESGOTO E DRENAGEM

incidem sobre a rua. Em geral, devem ser construídas em concreto devido às deformações
significantes advindas do pavimento asfáltico, aumentando assim sua vida útil. Segundo
estudos, geralmente é permitido o escoamento superficial desde que a faixa inundável das
sarjetas não ultrapasse 0,80 m nas vias principais e 1,00 m nas vias secundárias. A
velocidade máxima não deverá ultrapassar 3,0 m/s.

1.2. Caixas de Ralo (Bocas de Lobo)

São dispositivos com a finalidade de captar a vazão de água proveniente das sarjetas e
direcioná-las às redes coletoras. Podem ser feitas de ferro fundido ou concreto, ficando a
critério de projeto. As grelhas variam de dimensão de acordo com os Municípios e seus
distanciamentos também. A capacidade máxima de captação da grelha padrão é de 30 a 40
l/s, calculado pelo Método Racional, e não devem exceder uma distância de 70 metros
entre si para esta vazão. Deve-se evitar o posicionamento em esquinas, para que o fluxo de
água não atrapalhe a passagem de pedestres, recomendando-se a posição um pouco a
montante de cada faixa.

A foto da esquerda mostra uma boca de lobo de guia enquanto a outra mostra uma
boca de lobo de sarjeta.

122
Aula 11 – Dispositivos de Microdrenagem
UNIDADE 4 – DRENAGEM URBNA

A boca de lobo de guia é feita com um pré-moldado especial conhecido como Guia
Chapéu, e a boca de lobo de sarjeta é feita com um pré-fundido de aço ou de concreto,
podendo ser de simples encaixe ou com dobradiça.

As bocas de lobo devem propiciar segurança e bem-estar dos veículos e transeuntes.


Em dias de chuva, a água da chuva correndo pela superfície da rua forma uma enxurrada.
Quando a enxurrada toma certo volume, pode acarretar riscos e inseguranças como a
inundação de estabelecimentos, derrubar e arrastar uma pessoa e até dificuldades de se
atravessar uma rua.

Os dimensionamentos das bocas de lobo dependem de diversos fatores. Para seu


cálculo (quando não adotado o dimensionamento padrão supracitado), deve-se levar em
consideração a quantidade de água recolhida pela sarjeta. A sarjeta é inclinada para conter
a água escoando sem transbordar (figura).

Ruas estreitas e loteamento com padrão pequeno de lotes irá exigir poucas bocas de
lobo, isto é, as bocas de lobo poderão ficar longe uma das outras. Ruas largas e loteamento
com padrão grande de lotes irá exigir muitas bocas de lobo e até agrupamento de bocas de
lobo no formato duplo, triplo e até mais.

123
Aula 11 – Dispositivos de Microdrenagem
INSTALAÇÕES HIDRÁULICAS –
ESGOTO E DRENAGEM

Em ruas muito íngremes que causam enxurradas de alta velocidade pode acontecer da
água passar direto pela boca de lobo. Então nesses casos é possível se fazer um rebaixo na
sarjeta para facilitar o desvio do fluxo hidráulico para dentro da boca de lobo. Em zonas
urbanas devemos evitar esse tipo de rebaixo pois além da sarjeta já ter uma inclinação que
oferece certo risco às pessoas, a confecção desse rebaixo irá criar um risco adicional aos
transeuntes.

1.3. Canaleta em Degrau

As canaletas em degraus ou escadas hidráulicas são geralmente adotadas em caso de


implantação de redes de drenagem em terrenos íngremes, especialmente em áreas de
ocupação irregular. Sempre que possível, as canaletas deverão ter a base igual à altura,
observando-se os detalhes construtivos de projeto e considerações da legislação local. Caso
não seja possível tal condição, deverá ser adotado o seguinte critério: Hmínima = 1,43 . Yc,
onde Yc é a altura crítica da seção proposta.

Deverão ser previstas estruturas dissipadoras de energia nos casos de entrada em


galeria ou mudanças bruscas de direção.

A declividade do patamar não deverá ser superior a 3%, devendo ser mantidas
invariáveis as dimensões dos patamares e degraus em cada trecho, com exceção de regiões
com relevo acentuado e não uniforme, onde o comprimento dos degraus deverá ser obtido
em função da declividade do trecho considerado.

1.4. Dissipadores de Energia

Dissipadores de energia são dispositivos que têm a função de reduzir a energia de


fluxos d’água concentrados por outros dispositivos de drenagem, promovendo a redução de
velocidade de escoamento, minimizando os efeitos erosivos da disposição final junto ao
terreno natural. Em geral, são de concreto denteado ou arranjos de pedras de mão de

124
Aula 11 – Dispositivos de Microdrenagem
UNIDADE 4 – DRENAGEM URBNA

aproximadamente 0,10 a 0,15 cm cada, assentadas sobre uma caixa escavada no terreno,
revestidas em concreto, situada à frente e sob a extremidade de outro dispositivo de
drenagem.

1.5. Bueiros de Greide

125
Aula 11 – Dispositivos de Microdrenagem
INSTALAÇÕES HIDRÁULICAS –
ESGOTO E DRENAGEM

Consiste numa linha de tubos de concreto, normalmente armado, apoiado num berço
de concreto magro localizado próximo à superfície, com objetivo de propiciar adequadas
condições de desague das águas coletadas por dispositivos de drenagem superficial cuja
vazão admissível tenha sido atingida ou drenar pontos baixos. São localizados em seções
mistas, passagens de corte para aterro, pontos mais baixos dos aterros e transposições de
pistas quando necessário.

Geralmente, são implantados transversal ou longitudinalmente ao eixo da rodovia,


com alturas de recobrimento atendendo à resistência de compressão estabelecida para as
diversas classes de tubo pela NBR-9794 da ABNT. O dimensionamento poderá ser feito
através da fórmula de Manning, sempre adotando 0,80 m como diâmetro mínimo.

1.6. Poços de Visita

São dispositivos visitáveis que permitem a inspeção e limpeza das galerias. Quando
dotados de queda para controlar a declividade do sistema, também podem ser
denominados de poços de queda.

Segundo as instruções padrões, devem ser executados sempre que existam mudanças
de direção, nos pontos de confluência de tubulações importantes, ou em trechos longos
sem inspeção. O espaçamento máximo entre os poços de visita (PV) deve estar

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Aula 11 – Dispositivos de Microdrenagem
UNIDADE 4 – DRENAGEM URBNA

compreendido entre 30 e 40 metros independentemente do diâmetro da tubulação, e os


que possuírem uma altura superior a 3,0 metros deverão ser construídos em concreto
armado.

1.7. Galerias Fechadas

São dispositivos destinados a transportar as águas pluviais de um ponto inicial até um


local de desague determinado. Este escoamento deverá ocorrer de forma gravitacional,
geralmente não sendo aceitas galerias pressurizadas em qualquer ponto do sistema.

Estes condutos, geralmente, são feitos de concreto armado ou PVC, com forma circular
ou retangular, sendo o de concreto o que possui maior resistência à esforços, o que o torna
a melhor escolha para sistemas mais profundos.

127
Aula 11 – Dispositivos de Microdrenagem
INSTALAÇÕES HIDRÁULICAS –
ESGOTO E DRENAGEM

Para efeitos construtivos, o menor diâmetro comercial de uma tubulação em concreto


armado é de 0,40 m, e sua forma de assentamento está representada abaixo.

Para efeitos de projeto, todas as galerias são dimensionadas utilizando-se a fórmula de


Manning, com velocidades máxima e mínima de 5,0 m/s e 0,8 m/s respectivamente.

As seções circulares são as mais empregadas por sua maior capacidade de escoamento
e pela facilidade de obtenção de tubos pré-moldados de concreto para confecção dos
condutos. Na ausência de tubos pré-moldados ou para galerias com diâmetros equivalentes
superiores a 1,50 m, situações pouco frequentes em sistemas de microdrenagem, pode-se
recorrer ao emprego de seções quadradas ou retangulares, em geral, com paredes verticais
em alvenaria e lajes horizontais em concreto armado.

Apesar do diâmetro mínimo recomendado para galerias pluviais ser de 400 mm, é
comum, principalmente em projetos de baixo custo, o emprego do diâmetro de 300 mm em
trechos iniciais e em condutos de ligação.

As dimensões das galerias são sempre crescentes para jusante não sendo permitida a
redução da seção no trecho seguinte (estrangulamento) mesmo que, por um acréscimo da
declividade natural do terreno, o diâmetro até então indicado passe a funcionar
superdimensionado. Nos condutos circulares a capacidade máxima é calculada pela seção
plena e nos retangulares recomenda-se uma folga superior mínima de 0,10 m.

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Aula 11 – Dispositivos de Microdrenagem
UNIDADE 4 – DRENAGEM URBNA

Para que não haja sedimentação natural do material sólido em suspensão na água,
principalmente areia, no interior das canalizações, a velocidade de escoamento mínima é de
0,75 m/s para que as condições de autolimpeza sejam assim preservadas.

Por outro lado, grandes velocidades acarretariam danos às galerias, tanto pelo grande
valor de energia cinética como poder abrasivo do material sólido em suspensão. O valor
limite de velocidade máxima é função do material de revestimento das paredes internas dos
condutos. Em geral, velocidades de escoamento superiores a 4,0 m/s carecem de
informações técnicas adicionais, justificando sua adoção pelo projetista.

A declividade de cada trecho é estabelecida a partir da inclinação média da do terreno


ao longo do trecho, do diâmetro equivalente e dos limites de velocidade. Na prática os
valores empregados variam normalmente de 0,3% a 4,0%, pois para declividades fora deste
intervalo é possível a ocorrência de velocidades incompatíveis com os limites
recomendados.

Terrenos com declividades superiores a 10% normalmente requerem do projetista


soluções específicas para a situação. Em terrenos planos são frequentes problemas de
lançamento final de efluentes.

Hidraulicamente tem-se que quanto maior a declividade das galerias maior será a
velocidade de escoamento e quanto maior as dimensões transversais dos condutos menor
será a declividade necessária.

Em função da estrutura da canalização, adota-se como recobrimento mínimo 1,0 m e


como limite máximo 4,0 m. Valores fora do intervalo citado, normalmente requerem tubos
ou estruturas reforçadas e análises especiais que justifiquem a opção do projetista.

Baseado e adaptado de Carlos


Alberto de Araujo, elipe
Quintas Peres. Edições sem
prejuízo de conteúdo.

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Aula 12 – Dispositivos de Macrodrenagem
INSTALAÇÕES HIDRÁULICAS –
ESGOTO E DRENAGEM

Aula 12: Dispositivos de Macrodrenagem

A macrodrenagem envolve bacias geralmente com área superior a 2 km2, onde o escoamento
é composto pela drenagem de áreas urbanizadas e não urbanizadas. O planejamento da
drenagem urbana na macrodrenagem envolve a definição de cenários, medidas de
planejamento do controle de macrodrenagem e estudos de alternativas de projeto.

1. Abordagem Inicial

Pode-se dizer que este sistema é o mais importante, pois é através dele que se
controla as enchentes e se conduz as vazões de projeto dos sistemas de microdrenagem de
um município.

O sistema de macrodrenagem pode ser representado pela figura abaixo. Esta tem
como objetivo mostrar as etapas do planejamento, dimensionamento e verificação desta
superestrutura.

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Aula 12 – Dispositivos de Macrodrenagem
UNIDADE 4 – DRENAGEM URBNA

O seu planejamento é de suma importância para que haja uma melhor caracterização
da bacia, identificando as características geológicas, o relevo, o tipo de solo, a forma de
ocupação da população, identificar as direções de escoamento, as bacias que contribuem
para a vazão total, obter o máximo de dados hidrológicos, assim como, precipitação, dados
sobre as chuvas e a vazão do local.

Os cenários de planejamento, que são as áreas ocupadas que não foram previstas,
áreas desocupadas parceladas e áreas que deverão ser parceladas futuramente, devem ser
representados pelo Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano e Ambiental do município.

Nem sempre executar este sistema com segurança e qualidade implica menor custo de
implantação e de manutenção. Geralmente, para maior segurança, é necessário, na escolha
do risco de precipitação, um maior tempo de retorno e para este tipo de implantação o
custo é bem alto. Após escolher a precipitação, é necessário fazer uma simulação da bacia
hidrográfica quanto aos fenômenos naturais, em relação às redes de drenagem existentes
ou projetadas. Para fazer esta simulação são feitos modelos hidrológicos, os quais têm a
finalidade de compreender os fenômenos naturais dentro do sistema da bacia hidrológica,
de modo que é montado um modelo para cada fenômeno e para cada local. A finalidade
desta simulação é saber se o sistema de drenagem tem capacidade de comportar toda a
vazão existente e a de projeto.

Quando a situação for de verificação da capacidade das redes de drenagem, devem ser
identificadas as limitações existentes no sistema e os locais onde ocorrem. O mais
importante nesta verificação é a busca para a solução do controle das vazões. Neste caso,
devem-se buscar sempre soluções que não ultrapassem a capacidade de vazão da jusante,
para que não haja mais enchentes nas ruas.

Ao analisar e definir as alternativas acima, faz-se necessário simulá-las para o risco e


cenário definidos como meta. Nesta simulação, verifica-se a capacidade de evitar
inundações das ruas para riscos menores ou iguais ao de projeto. Esta verificação é feita
para cenários atuais e futuros de ocupação.

Ao finalizar as simulações, para todas as medidas e ações adotadas, é necessário


analisar a qualidade da água no início, no meio e no término do seu trajeto nas estruturas
de drenagem. Geralmente, as causas mais conhecidas da degradação da água são os lixos
gerados pela urbanização e redes de esgoto deficientes devido ao tempo de vida útil e por
falhas na sua construção. Desta forma, faz-se necessário analisar esta temática para abster-
se de possíveis moléstias de veiculação hídrica, entupimento de bueiros e galerias.

131
Aula 12 – Dispositivos de Macrodrenagem
INSTALAÇÕES HIDRÁULICAS –
ESGOTO E DRENAGEM

Uma vez que todas as diretrizes foram tomadas, é imprescindível avaliar a viabilidade
econômica do sistema para que possa haver uma apreciação do método de drenagem,
sendo possível com esta análise, propor mudanças em toda a estrutura.

1.1. Conceito de Volumes Urbanos

A diferenciação de conceitos é necessária para maior entendimento dos próximos


tópicos. Ela se dá da seguinte maneira:

• Cheia (ou enchente): é o aumento temporário do nível de água no canal de


drenagem (rio) devido ao aumento da vazão, atingindo a cota máxima do
canal (sem transbordamento);
• Inundação: transbordamento das águas de um canal de drenagem, atingindo
as áreas marginais (planície de inundação ou área de várzea);
• Alagamento: acúmulo de água nas ruas e nos perímetros urbanos em função
de problemas de drenagem.

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Aula 12 – Dispositivos de Macrodrenagem
UNIDADE 4 – DRENAGEM URBNA

2. Bacias

Uma Bacia de Drenagem é uma área onde um rio principal juntamente com seus
afluentes, drenam águas e demais sedimentos para um ponto de saída, formando o que
podemos chamar de sistema fluvial, ou rede de drenagem. Em outras palavras, uma Rede
de Drenagem constitui-se de todos os corpos d’água da bacia e canais de escoamento. A
rede de drenagem é extremamente importante para caracterização e manejo das bacias
hidrográficas, determinando suas características de escoamento superficial e o potencial de
produção e transporte de sedimentos.

Observa-se que estas propriedades hidrológicas são de grande importância para o


manejo da bacia, especialmente no contexto ambiental e são diretamente influenciadas
pelas características da rede de drenagem.

Os processos hidrológicos que ocorrem na bacia são a precipitação, as perdas iniciais, a


infiltração e o escoamento superficial. A precipitação é um dado hidrológico de entrada
para o dimensionamento da macrodrenagem urbana, existindo as seguintes situações:
precipitação de projeto e precipitação conhecida.

A precipitação de projeto da área estudada é determinada pelas seguintes etapas:

• Escolha de um posto pluviográfico representativo da área em estudo;


• Determinação do tempo de concentração da bacia;
• Obtenção da duração total da chuva e o tempo de simulação;
• Determinação do intervalo de tempo de simulação;
• Determinação das precipitações máximas a partir da curva IDF (intensidade-
duração-frequência);

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Aula 12 – Dispositivos de Macrodrenagem
INSTALAÇÕES HIDRÁULICAS –
ESGOTO E DRENAGEM

• Transformação da precipitação em vazão.

Com relação aos processos de transformação da chuva em vazão, cada processo pode
ser tratado por uma metodologia específica até a determinação final do escoamento
superficial que será utilizado para o dimensionamento. Um dos modelos que tratam estes
processos é o SCS (Soil Conservation Service – a título de informação). O modelo utilizado na
bacia deve possuir condições de representar os cenários de urbanização (planejamento)
além das condições de infiltração, dadas pelo tipo e uso do solo.

3. Canais e Condutos

Os modelos de simulação do escoamento em galerias, canais e condutos em geral


podem possuir as seguintes características:

• Modelo do tipo armazenamento: considera basicamente os efeitos de


armazenamento no conduto ou canal, transladando as ondas de cheias. Não
considera efeitos de remanso no escoamento. Este tipo de modelo é útil para
representar o escoamento de projeto, onde geralmente é definida a
capacidade dos condutos, ou a primeira verificação da capacidade de
escoamento no sistema de drenagem existente. O modelo mais utilizado na
prática deste tipo é o de Muskingun-Cunge;
• Modelo Hidrodinâmico: o modelo hidrodinâmico pode trabalhar à superfície
livre ou considerar as condições de pressão dentro dos condutos. Este último
considera todos os efeitos do escoamento dentro dos condutos como refluxo,
remanso, ressalto, escoamento supercrítico e o escoamento sob pressão de
gradientes de pressão moderados.

No dimensionamento de canais, os elementos geométricos constituem propriedades


da secção transversal do canal, as quais podem ser caracterizadas pela forma geométrica e
pela altura de água. Estes elementos são indispensáveis ao dimensionamento hidráulico. No
caso de secções simples e regulares, os elementos hidráulicos são expressos e relacionados
entre si matematicamente em função da altura de água no canal. No entanto, no caso de
secções mais complexas e não uniformes, como são os canais naturais, não há uma equação
simples que possa correlacioná-los, uma vez que são variáveis

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Aula 12 – Dispositivos de Macrodrenagem
UNIDADE 4 – DRENAGEM URBNA

Um ponto importante a ser considerado no dimensionamento de canais é a velocidade


de escoamento, que não deve ser excessiva a ponto de causar erosão no canal e nem
demasiadamente baixa, para evitar problemas de sedimentação nos canais. A esse respeito,
são recomendados valores de velocidade de escoamento variando de 0,76 m/s (terreno
arenoso comum) a 6,00 m/s (concreto).

O planejamento, projeto e construção de um conduto estão condicionados por uma


série de restrições de natureza variada. O projeto de um conduto em um sistema de
drenagem urbana, por exemplo, depende de condições topográficas, geotécnicas,
construtivas, de influência do sistema viário, existência de obras de arte, faixa de domínio,
legislação, questões ambientais, etc. Todas estas condições de caráter não

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Aula 12 – Dispositivos de Macrodrenagem
INSTALAÇÕES HIDRÁULICAS –
ESGOTO E DRENAGEM

hidráulico/hidrológico limitam a liberdade do projetista no dimensionamento das seções. A


seção do conduto deverá atender às vazões previstas, ser estável, ter baixo custo, atender
aos critérios de segurança e legais, com a mínima interferência no ambiente.

4. Reservatórios de Detenção (Piscinões)

O armazenamento natural do escoamento superficial existe em várias formas, como:


na vegetação; infiltração e armazenamento no subsolo; em pequenas depressões
superficiais; nos cursos de água e nas várzeas de inundação.

O reservatório de detenção é utilizado para armazenamento do volume de deflúvio


superficial, por curtos períodos de tempo, para reduzir as vazões de pico. Este reservatório
não reduz o volume de escoamento, ele apenas tem a finalidade de redistribuir as vazões ao
longo de um período maior.

No dimensionamento de reservatórios de detenção, faz-se necessário o estudo da


propagação em reservatórios que se destinam, basicamente, no conhecimento do
amortecimento de cheias gerado durante o escoamento da vazão de projeto da
macrodrenagem. O amortecimento de cheias permitirá que a vazão efluente seja menor
que a vazão afluente.

Com o amortecimento das cheias, todas as estruturas hidráulicas à jusante dos


reservatórios serão projetadas para a vazão efluente (de saída), menor que a afluente
(entrada); logo, isso implicará em maior segurança e economia no projeto. Tratando-se do
dimensionamento de reservatórios de amortecimento, o método racional não deve ser
utilizado pois, em projetos de macrodrenagem, normalmente as bacias de contribuição

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Aula 12 – Dispositivos de Macrodrenagem
UNIDADE 4 – DRENAGEM URBNA

possuem área superior a 2 km², portanto, o método racional não é válido para essa
condição. Neste caso, o dimensionamento deve ser feito conforme: 1) determinação dos
hidrogramas de pré e pós-desenvolvimento, utilizando o procedimento de transformação
chuva-vazão (Hidrograma do SCS), para obtenção da vazão afluente; 2) propagação do
hidrograma em reservatório utilizando o modelo de Puls, para obtenção da vazão efluente.
Estes conceitos são a título de conhecimento e não serão abordados na aula por se tratar de
assunto de especialistas.

Segundo alguns autores, o projeto definitivo inclui a determinação do volume do


reservatório de detenção, a profundidade média, a área ocupada, o custo e a relação
custo/benefício. O projeto executivo de um reservatório de detenção será finalizado com o
cálculo das estruturas de saída, as quais determinarão as vazões efluentes dos reservatórios
de detenção.

Baseado e adaptado de
Suzane Naiara Teixeira e
Heloise G. Knapik. Edições sem
prejuízo de conteúdo.

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