Você está na página 1de 15

FACULDADE HERRERO

CURSO DE PSICOLOGIA

ANA CAROLINA DOS SANTOS


CAMILE SILVA DOS SANTOS
DANUZY CRISTINY CHAVES CORREIA
IGOR CAIO MARTINS
JÉSSICA FERNANDA DE LIMA BRITO
JOÃO VICTOR NASCIMENTO DOS SANTOS
MARCELINA GUEDES MARTINS

COMPLEXO MATERNO POSITIVO NO HOMEM E COMPLEXO


PATERNO POSITIVO NA MULHER

CURITIBA
2023
ANA CAROLINA DOS SANTOS
CAMILE SILVA DOS SANTOS
DANUZY CRISTINY CHAVES CORREIA
IGOR CAIO MARTINS
JÉSSICA FERNANDA DE LIMA BRITO
JOÃO VICTOR NASCIMENTO DOS SANTOS
MARCELINA GUEDES MARTINS

COMPLEXO MATERNO POSITIVO NO HOMEM E COMPLEXO


PATERNO POSITIVO NA MULHER

Trabalho de pesquisa bibliográfica


visando atender às exigências da
disciplina de Psicologia da
Personalidade II, do curso de
Psicologia da Faculdade Herrero.

Orientadora: Prof.: Me. Elisângela de


Pádua

CURITIBA
2023
1 INTRODUÇÃO

A seguinte resenha diz respeito a obra de Verena Kast, "Pais e filhas, mães e
filhos", que aborda o conceito de Complexos com base na teoria de Carl Gustav
Jung. De acordo com Kast (1997) é de conhecimento comum aos estudiosos da
psicologia que as pessoas possuem complexos materno e paterno integrados ao
seu complexo do EU. A presente resenha tem por objetivo exprimir as principais
características de dois tipos de complexos dos tantos citados na obra de Kast. A
seguir veremos os Complexos Materno Originalmente Positivo no Homem e o
Paterno Originalmente Positivo na Mulher.
Segundo Kast (1997), o conceito de Complexo pode ser definido como uma
constelação de experiências e fantasias condensadas e carregadas de forte
emoção. Ou então como núcleos afetivos da personalidade, encorajados por um
confronto significativo do sujeito com acontecimentos para os quais ele não estaria
preparado.

2 COMPLEXO MATERNO ORIGINALMENTE POSITIVO NO HOMEM

Ao descrever os Complexos Originalmente Positivos, Kart (1997) indica que


são complexos que tiveram uma influência originalmente positiva na construção da
identidade do sujeito em questão e sobre o sentimento de vida, eles são
“originalmente” positivos, pois, mesmo que positivos, devem ter um desligamento
adequado à idade do sujeito.
A criança que vivenciou o Complexo Materno Positivo é retratada por Kast
(1997) como possuindo um sentimento de direito à existência inegável, podendo se
relacionar com um “outro” de forma confiante, tendo o corpo como a base do
complexo do EU, onde as necessidades corporais são vivenciadas com
naturalidade, por exemplo, a sexualidade, a alimentação e a vitalidade, podendo
compartilhar também a intimidade da psique, compreendendo assim o outro e
fazendo-se compreender.
Já na adolescência o sujeito deveria iniciar a tomada de consciência sobre os
complexos, o desprendimento. Kast (1997) destaca a intensidade dos complexos,
que podem influenciar comportamentos de risco, relacionamentos interpessoais e
auto-percepção, podendo ter implicações a longo prazo na saúde mental e
emocional.

2.1 Esperando a sorte grande

A autora inicia este capítulo descrevendo como o complexo pode mudar seu
sentido ao longo do desenvolvimento do sujeito, Kast (1997) explica que se o
complexo não sofrer o desligamento necessário ao longo do desenvolvimento, um
complexo que inicialmente era promotor de vida poderá se tornar inibitório, assim o
complexo originalmente positivo terá um efeito negativo na vida do sujeito.
O sujeito que a autora descreve e nomeia como Balthasar é um homem de 40
anos que se diz muito sensorial e declara que seu processo terapêutico seria uma
experiência compensadora para a terapeuta, pois o mundo deveria apreciar alguém
como ele.
Ele tinha dificuldades de se comprometer com tarefas e pessoas, se
considerava bissexual e com 35 anos teve uma crise, criando uma espécie de
aversão a vida, sentimentos de fúria, depressão e “problemas” com o álcool.

2.2 Ir embora é pecado

Segundo a autora, Balthasar alegava ter memórias vividas em relação ao


passado, contando com ênfase de lembranças de sua mãe e avó na cozinha, e do
cheiro marcado em suas roupas da comida de sua mãe, ele abre espaço também
para comentar de seu pai alcoólatra, no fim Kast (1997) conclui que o complexo não
é apenas evidente pela relação dele com sua mãe, é visto também em um todo
relacionado a experiência do materno, estando o significado de materno ligado com
a ideia de uma segurança, como a de uma barriga materna, que promove segurança
e nutrição, onde o pai é inserido com uma visão de pertencer ali mas não estar
presente, por conta de sua relação ao álcool
Kast (1997) explica que a família é descrita por Balthasar como ‘’unida contra
o mundo mau’’, colocando-os em uma posição onde eles mesmo não conseguem
atender as exigências estabelecidas, onde a uma carga negativa ao mundo exterior,
afastando-os de experiências necessárias para um desenvolvimento de distanciar se
do complexo materno, onde todos estão marcados com tal complexo.
A autora questiona se Balthasar se lembrava de alguma frase da mãe que
indicasse proibição e ele descreve a frase “ir se embora é pecado”. Esta frase dita
por Balthasar exprime como sua família lida com essas palavras, seus irmãos
queriam estar juntos de suas parceiras, se casaram cedo, e nenhum deles morou
em outra casa, continuaram morando todos juntos.
A mãe de Balthasar faleceu quando ele tinha 35 anos, aos 65 anos. O luto
para ele foi cada vez mais se agravando negativamente, seu consolo era ver que
suas irmãs conseguiram expressar a mesma aura materna, segundo Kast (1997),
ele transferiu seu complexo materno para suas irmãs, mostrando fortemente seu
interesse de pertencer a essa ideia maternal.
Kast (1997) descreve Balthasar como alguém que interpreta situações
corriqueiras, como um amigo ir embora mais cedo de uma festa, como abandono,
ele descreve como absurdo o fato de alguém simplesmente querer terminar a
diversão mais cedo, afinal “ir embora é pecado”. Essas situações trazem a ele
sentimentos de culpa e depressão, que o fazem acabar descontando no uso
excessivo de álcool.
A autora conclui que Balthasar identifica-se com o papel da mãe, de cuidar
das pessoas igual a falecida o fazia, sempre mantém as pessoas unidas, e tem uma
compulsividade em satisfazer suas necessidades, porém a uma observação do
porquê ser assim, sendo o filho que nunca partiu, tem se essa necessidade de
cumprir as expectativas das pessoas ao seu redor, por conta de facilmente transferir
seu complexo materno para as outras pessoas. Kast (1997).

2.3 De alto valor como entretenimento

Nessa subdivisão do texto, Kast (1997) trata do Complexo Materno


Originalmente Positivo no Homem em relação ao processo terapêutico.
De acordo com a autora, Balthasar manifesta em seu discurso uma
necessidade de ser entretenimento para ela, assim ela discorre que ele pode ter
usado isso com sua mãe e avó como forma de recompensa pelos cuidados
maternais. Ela ainda explica que pôde inferir que sua relação com a comunicação
advinha de sua família, onde se esperava que as coisas fossem ditas sem usar
palavras, estilo esse que trouxe a ele sentimento de insegurança, medo e raiva
(KAST, 1997).
Foi percebido por Kast (1997) que ele se encontrava ainda na posição de
filho, sempre com a sensação de estar sendo abandonado ou com medo de perder
o amor de outras pessoas, sem de fato passar pela separação do complexo e se
esquivando de tomar suas próprias decisões, mesmo que em contraponto se
sentisse sufocado pelo complexo materno.

2.4 Ser Traído - Essa dor louca.

"Bhaltazar nunca se envolveu realmente em um relacionamento, ele estava


sempre em fuga", esse trecho de acordo com a autora mostra o complexo de busca
incansável desse homem pela Deusa-mãe, não podendo nenhuma mulher terrena
ocupar esse lugar. Para Kast (1997) outra característica grande no Complexo
Materno positivo, é essa pessoa ter grande dificuldade de se separar, isso se deve
ao fato de as separações representarem a destruição do sentimento vital de
pertencer um ao outro. Por esse motivo Balthasar se sentia deprimido e com
problemas de auto estima, mesmo em separações insignificantes.
De acordo com a autora, uma característica grande em homens com esse
complexo é a expectativa de que a vida e o mundo existam como uma grande mãe
doadora, que nutre e admira, fazendo com que assim quando essas pessoas
encontram alguém nessa mesma atmosfera, se entreguem com mais intensidade
trazendo uma sensação de "pode tudo", Outro motivo que Kast (1997) atribui o fato
dos relacionamentos dele não durarem, era seu desejo inconsciente de ser amado
de forma incontestável, sem precisar retribuir faz parte do Complexo Materno
positivo se poder desfrutar do amor em abundância e excesso, o que é ótimo, o lado
ruim é que o parceiro se deixa estragar, com os momos na posição de filho. Pessoas
que vivem nesse complexo se sentem em uma barriga de mãe, ampliada e
aconchegante. Uma mãe deixa seu filho crescer e o expulsa na hora certa, é
primitivo, feminino. Expulsar para a vida adulta e responsabilidades é o que falta
nesse complexo,por essa razão com o tempo se converte em complexo materno
negativo.
Ao não experimentar o que Kast (1997) considera como “expulsão do
paraíso", muitas vezes por ser algo que traz dor ao sujeito, mas que em
contrapartida os permite viver sua própria vida, essa vida acaba morrendo, com isso
é necessário que ele renasça.
3 COMPLEXO PATERNO ORIGINALMENTE POSITIVO NA MULHER

O complexo paterno positivo da filha em relação ao pai caracteriza-se por


relações, durante a infância, com muita dedicação, atenção e interesse, onde a filha
venera o Pai. Em geral, essas são filhas diligentes, consideradas a “filha do Pai”. A
presença da mãe está em segundo plano. A seguir, tem-se dois exemplos de
mulheres consteladas por este complexo.

3.1 Nora: “Os homens são simplesmente mais interessantes”

Nora, a paciente, caminhando ao encontro com a terapeuta, acaba torcendo o


pé em frente ao consultório e solta um: “O que a gente não faz por causa dos
homens!”. A sua terapeuta ressalta que não vê um homem em lugar algum, o que
faz ser perceptível em como o complexo evoca o simbólico para o mundo real.
Nora quer muito resolver suas crises de relacionamento, pois ela relata que é
apaixonada pelo o seu professor que é um homem mais velho, particularmente ela
prefere os homens mais velhos, o que faz todo o sentido, já que a representação da
figura paterna é de um homem mais velho que transmite segurança e ao mesmo
tempo autoridade. Porém, nem o seu marido e nem o professor sabem dessa
paixão. E no decorrer de uma conversa com a sua terapeuta, ela soltava frases
como “Meu marido também diz, meu marido quer, meu marido decidiu que…” frases
essas que são análogas aos que o pai diria para ela, segundo a própria Nora.
Kast (1997) discorre que quando o indivíduo mulher contém em si traços
maiores do Complexo Paterno Positivo, tendem a desenvolver aspectos mais
dependentes dos homens, tendo um relacionamento marcado por aprovação do
homem para que ela se sinta mais “segura”, dessa forma correspondendo ao desejo
do homem. Contudo, tem dificuldade em desenvolver fortes laços de amizades com
mulheres, criando internamente um quadro de rivalidade. Tanto que, na consulta, a
Nora diz que abriu uma exceção para a sua terapeuta que é mulher, mas a
terapeuta relata que quando indaga a Nora sobre adquirir aprendizagem através do
saber da mulher, a Nora responde que é possível, mas que na prática é difícil.
Sentindo-se irritada, ela diz que com homem é mais fácil.
Como a Nora sempre buscou a aprovação do pai anteriormente para as
coisas, esse ciclo se repete com o seu marido também, o que faz desse complexo
paterno positivo, estar enraizado em sua dinâmica de vida. E quando tratado de
assunto fora do relacionamento, a Nora mostra ser uma mulher inovadora,
interessada, levando uma vida prática e atenta.

3.1.1 A Marca e o Efeito desse Complexo Paterno

Nora relata que na infância, por inúmeras vezes, começava a chorar e gritar
para chamar a atenção de seu pai, e este sempre vinha correndo em seu socorro, o
que a deixava com orgulho. Outro exemplo desta configuração, é com relação a
dança, onde ela, por volta dos 16 anos, sempre dançava com o pai, em detrimento à
mãe, que não era uma boa dançarina. Desta forma, podemos observar que existia
uma relação mútua de admiração entre eles, deixando a mãe em segundo plano.
Além disso, outra característica encontrada no complexo paterno positivo é que,
geralmente, o indivíduo é favorável a convenções e padrões que a maioria das
pessoas seguem, no caso de Nora, ela insiste em usar roupas da moda, apesar de
se sentir desconfortável com elas no início (KAST, 1997).
Ao longo da vida escolar, Nora sempre se deu bem com professores que a
compreendiam e lhe agradavam, deixando inclusive o pai com ciúmes destes,
mostrando que um dos sinais do complexo, segundo Kast (1997), é que a filha não
pode admirar ninguém mais, além do pai. Ainda jovem, aos 19 anos, ela casou-se
com um rapaz que trabalhava na empresa da família, e lembra que seu pai sempre
quis o ter como filho. No matrimônio, Nora se mostrou muito adaptável, o que
aprendeu de seu pai. Ela conta que foi desde mãe, companheira, até sedutora
sexual, não sabendo identificar qual papel gostou ou desgostou mais, pois em todos
encontrava satisfação.
No trabalho, um ambiente repleto de mulheres, Nora é mais crítica e mantém
uma grande competição com as outras funcionárias, sendo esta outra característica
do complexo paterno positivo: em ambientes externos ao que o complexo é
manifestado, as mulheres tendem a ser independentes e inovadoras (KAST, 1997).
Nos últimos tempos, tem surgido nela um medo crescente de tomar decisões
na sua vida particular, medo decorrente do fato que, ao longo da vida ela sempre se
apaixonou por homens mais velhos, sentimentos não despertados com seu atual
marido. Kast (1997) afirma que o complexo paterno está se transformando na sua
psique, e seu desejo por homens de ação (pai, marido), está se deslocando para
homens da palavra, que carregam o aspecto intelectual e espiritual, lado do
complexo paterno pouco experienciado por ela até agora. E o conflito interno em
que ela está passando, é porque, sua constelação de complexo diz que ela não
pode admirar mais ninguém além de seu pai, sentimento que foi transferido para a
relação conjugal com o marido. Adicionalmente, este medo também levanta uma
importante questão, pois, ao se tirar a transferência do complexo paterno para com
o marido, o que sobrará de afeição entre eles ou como a relação se sustentará?
Independente da resposta, um desenvolvimento precisa acontecer, porque isto está
incomodando muito Nora.
Direcionando um pouco a análise para o pai de Nora, Kast (1997) percebeu
que ele, provavelmente, teve um complexo materno positivo, pois estes pais são
eróticos, apreciam a vida e a admiração, que é mais facilmente encontrada e
mantida com as filhas, desde que estas se identifiquem com o papel atraente de um
pai que se pode endeusar, garantindo muita disponibilidade para ambos. Estas filhas
são muito inteligentes, mas só a utilizam em determinadas situações e possuem
muita auto-estima, porque sempre foram admiradas e queridas pelo pai. A mãe é
escanteada, não havendo muitos diálogos ou valorização.
Kast (1997) aponta que, a partir deste complexo, podem surgir problemas
referentes à auto-estima devido ao fato que estas mulheres ficam à mercê dos
homens, quando ocorre a admiração mútua, e se o perdem, a auto-estima também
vai embora. Além disso, os homens são experienciados como condutores, e quanto
mais a mulher se deixar ser conduzida, maior a possibilidade dela ficar à margem de
seus reais interesses e necessidades de desenvolvimento. Quando surge a
possibilidade do rompimento desse vínculo, surge o temor e sentimentos de vazio,
pois elas não aprenderam a ter responsabilidades e lidar com a tomada de decisões,
mesmo as mais simples. Paralelamente com isto, existe uma certa dificuldade em
reconhecer o problema, pois as características do complexo paterno positivo
passam a ideia de um eu bem estruturado e forte, que realmente acontece na vida
profissional, mas não quando se trata do próprio desenvolvimento. E, diante desta
situação, o propósito de vida deve ser de se afastar deste complexo paterno e criar
a própria identidade.
Por último, com relação ao inconsciente coletivo deste complexo, Kast (1997)
enxerga que Nora tem atitudes que materializam um antigo ideal de mulher, que já
não é válido nos dias atuais, recebendo inclusive críticas de sua mãe e amigas
sobre isso. Este papel despreza sua auto-configuração de mulher.

3.2 Anne: “Falta Humanidade”

Anne com seus 34 anos, uma acadêmica muito dedicada e um cargo de


liderança na sua área, após receber um feedback que não é humanizada vai para a
análise.
Anne sente frustração quanto suas expectativas de liderança, embora se
dedique totalmente e siga com rigidez todas as normas, o que é uma forma de
conquistar respeito e aprovação, a mesma aprovação que busca em figuras de
autoridade referência que vem de seu pai. Nessa preocupação de ter
reconhecimento de autoridades acaba sendo uma autoridade como reflexo, com
rigidez às normas.
Em sua busca pela aclamada aprovação, embora precise ser reconhecida por
autoridades, preocupa-se com a aceitação que recebe por seu esforço no trabalho.
Durante o feedback da sua equipe houve elogios à sua dedicação e trabalho, mas o
que a recolheu para si foi a rejeição.
No campo amoroso ela se envolve com homens que a tragam essa postura
de sustentação e autoridade, mas na tentativa incessante de aprovação acaba
ouvindo e se dedicando tanto no campo emocional que vira uma ótima parceira, mas
não companheira amorosa.
Anne reconhece que tem sua participação nas relações que deram errado,
mas não reconhece seu reflexo de autoridade na liderança e nem sua excessiva
tentativa de agradar figuras a qual reconhece como autoridades em sua vida.

3.2.1 Quem não compreende isso é inapto para a vida

Apesar desse desejo não realizado, em ter um filho homem, ele se encantou
bastante com sua inteligente filha, Anne, a mais velha de seus irmãos, à qual, no
entanto, ele não dedicava muito tempo.
Anne lembra-se, sobretudo, de que direito, ordem, justiça, mas também
comedimento e perguntas concernentes à medida correta eram importantes.
Ela se sentia muito significativa quando podia passear sozinha com o pai e
este lhe perguntava o que tinha acontecido na escola, levando-a, por suas
perguntas, a decidir se o que ocorria era justificável, bom ou ruim. Ela recebia assim
uma argumentação masculina: há regras e elas devem valer . O pai não deixava
prevalecer a ideia de que regras, confirmam o modo de relação deveriam ser
modificadas.
Ela havia mentido para proteger uma amiga. No entanto, ela quis mostrar
para seu pai que essa mentira não deveria ser avaliada como se avalia uma mentira
egoísta. O pai insistiu: mentir é ruim .
Pesquisas psicológicas atuais mostram claramente que Anne defendeu uma
forma tipicamente feminina de argumentação, uma argumentação que leva em conta
a situação relacional na qual se fez ou se deixou de fazer algo. Em seguida, ela
assumiu o pensamento do pai nesse discurso ético.

3.3 Alunas inteligentes: pontos comuns deste complexo

Segundo Kast (1997), o principal ponto em comum para as mulheres


consteladas pelo complexo paterno originalmente positivo é a atração por homens
mais velhos, que podem ser: eróticos, espirituais ou ambos (a configuração mais
atraente). E a manifestação destas características nos pais, vai depender de como
eles próprios foram afetados por seus complexos. Em pais marcados pelo complexo
materno positivo, se sobressai as características eróticas, enquanto nos pais
marcados pelo complexo paterno, se destaca o lado espiritual ou a relação
platônica. Além disso, elas são mulheres inteligentes, mas que falam pouco de si,
dando ênfase às atitudes dos homens, como foi o caso de Nora, que sempre trazia
falas do marido, ou de Anne, preferencialmente, trazendo resultados de pesquisas
de homens.
Mais a frente, Kast (1997) aponta que a principal dificuldade destas filhas é a
“idealização dos homens e do masculino - que é simultâneo à desvalorização quase
imperceptível de si mesma como mulher, das mulheres e do feminismo” (KAST,
1997, p.146). Neste cenário, sua própria identidade é mal desenvolvida, e as
vontades do pai e do marido, além daquilo representado como masculino (teorias e
conhecimentos), são encarados como verdades absolutas, como se fossem teses
sagradas. E esta dependência não condiz com suas reais capacidades, visto que
elas são muito competentes no que fazem, não explorando assim, todo o seu
potencial.
Portando, a constelação deste complexo traz para a mulher uma identidade
que precisa ser validada pelo homem, pela autoridade, pelo intelecto, e isto, em
algum momento da vida, precisa ser superado, para que a auto-identidade seja
alcançada consigo mesma, com as relações com outras mulheres e com o materno.

3.4 Ordem e uma generosa aplicação das leis

De acordo com o texto, o complexo paterno não está somente nas


experiências individuais de pai para filho, que desempenha um papel com a marca
desse complexo. Também transcende a imagem coletiva de pai. O autor chama
essa imagem de "semi-deus de mil formas”. E ressalta que apesar das gerações
passarem por mudanças, a imagem coletiva paterna não poderá sofrer mudanças
repentinamente (KAST, 1997).
A autora cita os três deuses-pai, que podem representar arquetípicos de
imagens paternas, sendo eles: Zeus, Odin e Deus.
Kast (1997) discorre que Zeus é uma divindade que tem autoridade que
governa e conduz a vida humana, porém ele não tem controle sobre as moiras, que
são as senhoras responsáveis pelo destino, vida e morte. Mas em relação à vida
humana, ele consegue ser um pai que pune quando necessário, o qual o complexo
vem à tona com a liberação de energia, que no caso Zeus, ele lança raios, ou
quando está furioso, ele projeta trovoadas sobre os mortais e imortais. Contudo,
representa também a figura de um pai amistoso e bondoso, passando a imagem de
liberdade o que condiz com as suas aventuras sexuais. Proporcionando a ordem da
legalidade paterna, a espiritualização da vida, projetando o complexo paterno
positivo.
Outra figura de deus-pai, é o Odin, que é denominado pai de todos, uma
imagem coletiva paterna para aquela cultura. É considerado o deus da guerra, mas
que na verdade só conduz a cavalaria, não tomando parte da guerra e apesar dele
ter essa representação de senhor da guerra, ele também é considerado o deus da
sabedoria e poesia. O autor traz a representação de um homem que senta no seu
trono tendo uma visão panorâmica do mundo e que averigua se os homens agem de
forma hospitaleira, defendendo a ordem das coisas de forma persistente. (KAST,
1997).
A terceira representação do deus-pai, é Deus do cristianismo, representação
essa, que se firma pela relação com o seu filho Jesus, então temos a relação de
Deus com os humanos, sendo simbolizada por seu filho Jesus. O autor ressalta que
Jesus possivelmente teria o complexo paterno positivo, pois ocorreu a cisão do
complexo quando Jesus desabafou: “Meu Deus, por que me abandonastes?”. Esse
corte no complexo, é necessário para que a pessoa desenvolva a sua
individualidade, ou seja, o indivíduo sai do núcleo do complexo e é lançado para o
ego.
Com isso, a autora destaca que essas representações dos 3 deuses-pai tem
uma certa coincidência, além de caracterizarem um impulso de energia, eles
também são componentes arquetípicos paternos, buscando sempre a ordem das
coisas e que deve ser sempre desenvolvida e que tenha um significado positivo,
havendo o equilíbrio.

3.5 O PAI COMO O OUTRO - Seu papel na psicologia do desenvolvimento

Segundo a psicologia clássica do desenvolvimento o pai tem a função de


possibilitar ao filho uma abertura para o mundo, para além da estreita simbiose
mãe-filho. Bovensiepen, que se volta contra a atribuição patriarcal de normas,
autoridade, ordem e intelecto à pessoa do pai, fala da faculdade do pai "de iniciar,
impulsionar processos de desenvolvimento e de catalisar mudanças na relação
pai-mãe-filho". Estímulos deveriam ser possíveis tanto a partir do pai como da mãe.
Quando, no entanto, o dar estímulos pertencente à mãe é delegado ao pai porque
"deve ser assim", então certamente o pai precisará dar os estímulos.
É natural esperar que os pais dêem seus estímulos diferentemente das mães.
A função do pai de criar para o filho a abertura para o mundo originou-se da teoria
da simbiose, que deve ser "aberta", ou, por exemplo na perspectiva da psicologia
profunda, da teoria da "irrupção do arquétipo paterno", que dá ao filho a
possibilidade de se voltar para a realidade, saindo do âmbito matemo¹. Com isso
seria mais fácil para a criança envolver-se em novas situações. Ela seria mais
flexível, teria mais possibilidades de reação, não estaria tão exclusivamente à mercê
de uma constelação de complexo.
Deste modo, um desligamento do complexo materno apropriado à idade seria
mais simples. " Neste processo o pai não deveria representar normas coletivas,
autoridade etc.", ele simplesmente deveria ter uma relação "diferente" da que a mãe
estabelece com o filho. Na vida futura do filho, o pai deveria então colocar sua forma
da orientação no mundo, ao lado da orientação da mãe.

3.6 O ESTRANHO FASCINANTE

Para o desenvolvimento apropriado a idade, deve se desenvolver além do


complexo materno a Anima, descrito como fenômeno fascinante, mistério na psique
do ser humano, que se funde com o complexo materno. Na Anima o complexo
materno se desdobra em fantasias, onde pode- se ver nitidamente a dimensão deste
complexo. O mesmo vale para o Animus, descrito como imagens do masculino na
nossa psique, incitam nossas fantasias e as coloca em ação.
Animus é o correspondente aspecto masculino presente na mulher, que pode
atuar por meio de suas fantasias como um homem frio e violento ou apresentar a
determinação masculina de se levar algo até o fim ou, ainda, como uma entidade
que acaba inspirando espiritualmente a mulher.
Uma mulher com grande capacidade de acolher as pessoas sem julgar, que
goste de se relacionar e de receber pessoas e que se sinta viva e empolgada com a
vida, apesar de suas complexidades, desafios e injustiças, pode, de repente,
responder friamente a uma pessoa querida, falando ‘verdades’ chocantes e trazendo
para a presente situação há muito ocorridas que ficaram ‘atravessadas na garganta’.
Um homem calmo e racional poderá, de repente, se surpreender com um ataque de
mau-humor e então a menor provocação de fora despertará nele uma enxurrada de
ressentimentos e reclamações de cunho emocional vindo de uma fantasia da sua
psique. A mudança é brusca e impressiona profundamente quem o observa, pois é
como se algo houvesse tomado conta dele, algo que não tem nada a ver com sua
personalidade dominante”.
A importância do Animus e Anima na vida do indivíduo segundo JUNG e sua
teoria, é que sem o Animus não teria a parte “prática e racional” e sem o Anima não
seria desenvolvido sentimentos “fraternos e amorosos”, sendo desta forma
necessário a presença dos mesmos na psique dos indivíduos.

Você também pode gostar