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RELATÓRIO DA PALESTRA E DAS VISITAS TÉCNICAS

RESUMO

Verifica-se que a construção de um aterro não se resume na escolha de um terreno


grande e vazio onde o lixo vai sendo acumulado em camadas, na verdade esse processo
é muito mais complicado do que parece. Nota-se a grande importância das usinas de
reciclagem de resíduos da construção civil, pois além de ser o setor que mais consome
recursos é um dos que mais apresentam desperdício. Trata-se de uma apunhado de
dados que caracterizam essas empresas. Efetuou-se um detalhamento das etapas de
operação e também os benefícios e malefícios que trazem para a sociedade.

Palavras-chave: Resíduo. Reciclagem. Aterro.


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1 INTRODUÇÃO

Este relatório vai caracterizar e descrever o funcionamento de uma usina de


reciclagem, uma estação de tratamento de água e de um aterro sanitário. Uma Usina
de Reciclagem de Resíduos da Construção Civil, além de reduzir o entulho
depositado de forma clandestina, diminui o volume de entulho destinado aos aterros
sanitários, grande parte desses resíduos dá para ser reaproveitado. O aterro sanitário,
por enquanto para o Brasil, é uma boa opção para se descartar os rejeitos, nele há
todo um controle para se evitar a contaminação do solos e das águas subterrâneas.

2 ATERRO SANITÁRIO DE BRUSQUE

O aterro sanitário de Brusque está sob o controle da RECICLE. Ele recebe


cerca de 600 toneladas de resíduos por dia (40% só de Blumenau) e atende a 22
municípios da região, de Blumenau a Navegantes. Na construção de um aterro, o
primeiro passo a dar é a investigação geológica, ela permite a identificação do tipo de
solo, o quanto de peso e movimentação de terra que ele suportaria, a localização de
lençóis freáticos, dentre outras informações. Segundo o palestrante, Savi, não havia
mata nativa no local e o aterro foi licenciado pela FATMA. O aterro está localizado em
uma fazenda de 400 hectares, mas os resíduos estão dispostos em uma área específica
de 14 hectares, a empresa se preocupou em comprar as áreas adjacentes para evitar, que
já está começando a ter. Hoje, esse aterro fica próximo de 3 shoppings, tudo a menos de
5 km de distância e eventualmente o cheiro chega nesse lugares, o lixo novo não tem
grande odor, mas quando se faz alguma drenagem o cheiro sobe.

A fazenda possui argila sobrando, ela é usada para cobrir o próprio aterro,
diferente da região oeste do estado que apresenta mais pedra que argila, fazendo com
que os aterros de lá tenham que pegar argila em outros municípios. A RECICLE não
precisa entrar com processo junto com o Departamento Nacional de Produção Mineral
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(DNPM), pois tudo é feito no mesmo sítio, se essa argila fosse carregada pra outra área,
teria.

A primeira impermeabilização é feita com uma argila vermelha (plástica),


espalha-se com um trator de esteira e depois se compacta com um rolo, essa camada
possui espessura de cerca de 0,5 m. A topografia é fundamental para o aterro, o
georreferenciamento é muito utilizado. Foram adicionados marcos de referência de
adensamento e todos os cortes são projetados. Nessa marcação mede-se três
coordenadas e seis meses depois mede-se de novo para ver quanto de chorume foi
gerado.

Depois da impermeabilização com argila é aplicada a geomembrana ou manta de


PEAD (Polietileno de Alta Densidade), ela dispõe de 6 metros de largura e tem como
principal função resistir a produtos agressivos, essas “fatias” são soldadas por
termofusão para garantir que o chorume não escoa e atinja o lençol freático. Em cima da
geomembrana é aplicada uma camada de geotêxtil, que são fibras sintéticas não
tramadas que oferecem uma maior resistência mecânica, pois a geomembrana ao atingir
35º fica mole e acaba furando. Sob a camada de geotêxtil é espalhado 0,5 m de areia e
pedriscos (brita 0) e colocados os drenos horizontais (escoamento do chorume) e em
cada intersecção um dreno vertical (para captar os gases). Em cada camada se emenda
os drenos verticais, como um edifício. Neste aterro não há reaproveitamento dos gases,
são queimados na boca do dreno vertical. Eles são chamados de “metano sujo”, pois, em
geral, na sua constituição não há somente metano, ele só corresponde a 54%.

A espessura de cada célula é, em média, de 7 m, em função da abertura das


garras da retroescavadeira. Também não há um número exato de sobreposições de
células, o limite de altura está em projeto, mas enquanto isso fica até quanto o caminhão
consiga chegar. A terra de cobertura desse lixo não tem um valor definido, serve apenas
para cobrir e para que não haja geração de odor. O aterro conta com uma usina de
triagem (empresa terceirizada), nela há uma separação dos materiais que ainda podem
ser reutilizados, como plásticos, papel, vidro e metal., esses resíduos são encaminhados
para ONGs e associações.
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Depois de capturado, o chorume é bombeado para lagoas para ser tratado, lá


ele sofre processo biológico e depois processo físico-químico para retirar de cor. O
chorume passa de preta para amarelo e é descartado no rio. O aterro produz de 6 a 8 m³
de chorume por hora. Não é possível tratar todo chorume, pois ainda há a geração de um
lodo, que acaba sendo aterrado novamente.
O aterro não se preocupa apenas com a impermeabilização do solo, ele possui
um poço de monitoramento das águas subterrâneas. Existe uma previsão de que a daqui
16 anos ele fechará, apesar disso não se poderá construir nada nesse local, porque
durantes muitos anos o lixo gerará gases e chorume, exigindo monitoramento
permanente.

3 USINA DE RECICLAGEM DE RESÍDUOS DA CONSTRUÇÃO CIVIL EM


BALNEÁRIO CAMBORIÚ

É considerável o desperdício no setor da construção civil, ocorre: 30% de


desperdício geral numa obra, 12% de concreto (principalmente na nivelagem) e 50% de
cerâmicas (tijolos nas olarias). Esse é o setor que gera mais impacto ambiental, falta
planejamento, precisa-se mudar o método construtivo. Falta um Plano de
Gerenciamento de Resíduos para as cidades, Balneário Camboriú contem, Itajaí
também, mas acaba aterrando por não possuir uma usina. Não existem muitas usinas
pelo Brasil, pelo fato de que quase não há incentivos por ordem do poder público
(prefeituras), então, apesar de todos os benefícios gerados, nem sempre é viável do
ponto de vista financeiro implantar uma usina de reciclagem de resíduos da construção
civil. Outro passo importante seria a implantação da política reversa, depois de usado o
produto ou material o fabricante deveria recolher o resíduo. A usinagem possui três
ganhos: ambiental (evita-se jogar os resíduos na natureza e reduz a atividade
extrativista), social (geração de empregos) e econômico (os produtos oriundos da usina
são mais baratos).
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A Central de Tratamento de Resíduos da Construção Civil está localizada no


município de Balneário Camboriú e está um pouco distante do perímetro urbano. É de
propriedade do engenheiro civil e ex-aluno da Furb, Paulo Caseca. O local possui
licença ambiental para funcionamento, e foi escolhido devido a grande área e posição
estratégica para o transporte de materiais. O processo tem início com a chegada do
transportador na Usina, ele é recepcionado pela administração onde é checado as
informações daquela carga. Em seguida o caminhão espalha todo o material no pátio,
onde será carregado por um trator até o galpão de triagem.

Nesse galpão, os resíduos são jogados em uma esteira rolante e são separados
manualmente por 6 pessoas, essa separação é feita em categorias: plástico, ferro,
madeira, papel, etc. Cada tipo de material possui o seu monte específico. O papel e o
plástico são vendidos e a madeira vira farelo para ser usado em olarias. No final da
esteira, o que sobra, vai para a máquina recicladora, na qual o material é triturado na
britadeira e passa por uma espécie de peneira, de onde saem saibros fino, médio e
grosso. Segundo o proprietário Paulo Caseca, no início do negócio ele não conhecia os
resíduos que vinham, os primeiros saibros vendidos possuíam uma enorme quantidade
de pregos, o que gerava um grande transtorno para os clientes, pois era comum furar-se
pneus com esse material. Hoje, essas esteiras apresentam eletroímãs que ‘seguram’
esses pregos e o encaminham para um local separado, a central chega a colher 4 m³ de
prego por semana.

O saibro fino por possuir boa densidade é utilizado no lugar da areia suja na
fabricação de viga baldrame, enquanto o saibro sai por R$ 13 o m³, a areia suja sairia
por R$ 30 o m³. O saibro grosso pode ser utilizado na fundação de terrenos não-
sedimentados, ele custa R$ 12 o m³, bem menos que o material comumente usado, O
gesso até pouco tempo atrás não era reaproveitado. Por 90% da produção nacional vir
do estado de Pernambuco, o valor do frete era consideravelmente alto, era preciso
reciclar esse tipo de material, hoje ele é utilizado como corretivo de solo, na produção
do cimento e pode ser reciclado sucessivamente.
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As peças pequenas são encaminhadas para o britador tipo mandíbula, nele é


necessário que se tenha trabalho manual, porque o eletroímã não consegue segurar o
ferro que está dentro do concreto. As peças grandes são enviadas para o prensador
hidráulico, esse equipamento veio da Itália e custou R$ 600 mil, ele contem uma tesoura
hidráulica que aplica grande pressão e consegue cortar os ferros de pilares e vigas.

4 EMASA

A Empresa Municipal de Água e Saneamento de Balneário Camboriú


(EMASA) começou a sua atividade em 2005, quando a CASAN deixou de tratar a água
do município. A água é retirada do rio Camboriú e tratada para suprir uma população de
até 400 mil habitantes, ela abastece os municípios de Balneário Camboriú e Camboriú.
No verão, o município chega a receber quase 2 milhões de pessoas e empresa não
consegue atender a todas as pessoas.

5 ATERRO INDUSTRIAL DE BLUMENAU

A Central de Tratamento de Resíduos de Blumenau (CTRB) possui uma área


projetada para receber, tratar e destinar de forma correta os resíduos da indústrias e
serviços de saúde da região. Ela foi projetada e construída pela Momento Engenharia
Ambiental, uma empresa pioneira do ramo em Santa Catarina e está em funcionamento
a 14 anos. Há uma previsão de que daqui a 8 anos a primeira parte que foi usada para
aterrar já esteja fechada. Para se construir um aterro industrial é preciso atender a
inúmeros fatores, ele deve ser afastado da população (ele está localizado na Vila
Itoupava por causa do odor que ocasionalmente é gerado), seguir as determinações da
ISO 14001 (é uma forma do aterro garantir ao cliente e à comunidade que a empresa
está agindo dentro dos padrões legais), dentre outros fatores.
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Abrange uma área de 2 milhões de m², a licença para operação é concedida


pela FATMA e foi obtida após todas as exigências previstas em lei serem atendidas. O
aterro segue algumas etapas. O gerenciamento começa no local onde o resíduo é gerado,
ou seja, na indústria, no comércio ou na prestação de serviços. Um representante da
CTRB visita o futuro cliente após os esclarecimentos um contrato de
corresponsabilidade entre as duas empresas é firmado. Segundo Micheli, responsável
pela visita, o aterro recebe de 150 a 300 caminhões de resíduos por dia, cada caminhão
chega com um documento que apresenta todas as informações do resíduo e garante uma
rastreabilidade, desde a geração, transporte e destino final. Na recepção essa carga é
pesada e feita uma conferência nas suas especificações.

De todas as cargas que chegam ao aterro são retiradas amostras de acordo com
o plano estatístico de amostragem de resíduos, a amostra é analisada em laboratório para
verificar sua toxicidade e o resultado é anotado em arquivo. O aterro industrial de
Blumenau está apto a receber 4 tipos de resíduos: Classe 1, Classe 2, resíduos de
serviços de saúde (RSS) e os efluentes de estação de tratamento. O resíduo classe 1 é
classificado como perigoso, porque oferece risco à saúde pública e ao meio ambiente
por conter, por exemplo, metais pesados ou elementos tóxicos. O resíduo classe 2 não é
considerado perigoso, como por exemplo o lodo que resulta dos processos da indústria
têxtil. O resíduo de serviços de saúde, mais conhecidos como lixo hospitalar, é gerado
em hospitais, clínicas, farmácias, são exemplos desse tipo de resíduo: medicamentos
vencidos, seringas, agulhas e peças anatômicas. O quarto tipo de resíduo tratado no
aterro são os efluentes líquidos gerados em diferentes atividades ou processos.

Os resíduos que chegam em pasta ou lodo considerados não-perigosos ou


classe 2 são tratados na usina de solidificação. O lodo é separado em um “pátio” e são
acrescidos aglomerantes para solidificar o resíduo, pois da forma que ele chega à
Central não pode-se aterrar, por já estar num estado pastoso pode atingir o lençol
freático. Esse processo de solidificação foi desenvolvido por engenheiros da Momento
Engenharia. Os resíduos sólidos classe 2 que não necessitam de solidificação são
compactados e depositados no aterro.
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Os resíduos classe 1 também podem ser sólidos ou pastosos e são separados de


acordo com a forma de tratamento contratada pelo cliente. Uma das opções oferecidas é
o coprocessamento, esse processo garante a destruição total dos resíduos através da
queima nos fornos da Companhia Votorantim de Cimentos. Ele é aplicado em resíduos
com poder calorífico comprovado, é uma forma de reaproveitamento de resíduos para a
geração de energia de forma limpa e sustentável. Antes de serem enviados para a fábrica
da Votorantim, em Curitiba, os resíduos são triturados e moídos. O coprocessamento é
realizado de acordo com as resoluções do CONAMA com as rígidas especificações
técnicas da Votorantim. O local encaminhado dos materiais classe 1 que não sofrem
coprocessamento é chamado de células de depósito, são cobertas com duas camadas,
uma de geomembrana e outra de geotêxtil. Nestas células é que são dispostos os fardos,
as pastas solidificadas de classe 1 e também as pilhas e baterias, que são envolvidas em
concreto dentro de recipientes de polietileno. Cada célula tem cerca de 2 mil toneladas
de resíduos e quando atinge a capacidade máxima é coberta com manta de PEAD
(geomembrana).

O aterro possui uma Estação de Tratamento de Efluente (ETE), totalmente


automatizada e controlada por computadores, para essa estação é bombeado todo o
chorume drenado nas células, ele é tratado por processos biológicos e físico-químicos
que garantem que o efluente chegue ao rio Massaranduba sem causar danos. Nos
laboratórios são feitos testes diários para certificação de que o tratamento esteja sendo
feito com segurança. Periodicamente são recolhidas amostras do rio e de poços em
pontos em torno da CTRB. O lixo hospitalar diferente do que ocorre no aterro de
Brusque, no qual é descontaminado e aterrado depois, na CTRB ele é tratado por
incineração, a queima é feita em uma temperatura tão alta que quase 98% do material
vira gás, esses gases são lavados no próprio incinerador para evitar a poluição
atmosférica. As cinzas resultantes, por serem quase desprezíveis, são depositadas nas
células de resíduos classe 1. Essa é a melhor destinação do lixo, pois não precisa ficar
escavando terra, porém a sua operação é muito cara, tornando inviável para os clientes e
para o próprio aterro a incineração de grandes quantidades de resíduos.
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6 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A engenharia é a principal fonte de soluções para a preservação do meio


ambiente. Ela deve incentivar e difundir a cultura da reciclagem e da reutilização no
setor da construção civil, porque esse é um meio de desenvolver ambientalmente e
socialmente o país e de garantir o uso racional dos recursos naturais. Apesar de todos
esses benefícios, nem sempre os órgãos públicos apoiam a iniciativa, tornando inviável
do ponto de vista financeiro implantar uma usina de reciclagem. Pode-se perceber que
os aterros sanitários no Brasil já estão ficando cheios e que daqui a alguns anos não vai
ser mais possível utilizar esta técnica para destino de resíduos. A população está
consumindo cada vez e em pouco tempo não haverá tantos locais para aterrar.

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