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A água está presente na superfície terrestre em seus três estados físicos (sólido,

líquido e gasoso) e participa de um ciclo hidrológico fechado perpassando pelos


três estados físicos da matéria conforme variam as temperaturas e estações
anuais no decorrer do ano. Veja o esquema abaixo:

Figura 1. Ciclo Hidrológico. Fonte: EMBRAPA

A água na atmosfera está na forma gasosa e, a depender das condições


climáticas locais, tais características físicas se alteram e ocorre a precipitação
(chuvas). A precipitação é na forma líquida – quando temos os três tipos de
chuvas, seja de verão, orográfica ou frontal – ou ainda na forma de gelo através
de granizo ou neve. Em outras palavras, a água superficial de rios, lagos,
oceanos etc. evapora – passa do estado líquido para o estado gasoso através
da vaporização – e forma as nuvens cheias de vapor d’água e gotículas d’água,
na atmosfera a água condensa ou liquefaz – quando passa do estado gasoso
para o líquido – e retorna para os corpos hídricos da superfície terrestre por meio
das precipitações. Ademais, pode-se sublimar – do estado gasoso para o sólido
– e haver a precipitação na forma de granizo ou neve.

Há gelo na superfície de regiões de climas com invernos frios e rigorosos,


notadamente climas polares, temperados e de montanha, e quando as estações
de verão elevam a temperatura há a tendência do derretimento da massa gélida
– fusão do estado sólido para o líquido – e infiltração d’água no solo, nos corpos
hídricos.

Outrossim, há a evapotranspiração nas regiões de vegetações tropicais e de


climas equatoriais. As plantas latifoliadas perdem água para o meio ambiente
através da transpiração e tal umidade evapora por causa das elevadas
temperaturas locais.
Distribuição da Água no Planeta

O modo como a água se distribui na superfície terrestre é sem dúvidas o motivo


para compreendermos sua geopolítica, a escassez em certas regiões e os
conflitos que existem para controle desse recurso importante. Além disso, a
abundância de certas regiões. Observe a figura abaixo:

Figura 2. Elaborado pelo autor.

Conforme se pode depreender a água no planeta se distribui da seguinte


maneira:
- 97,5% da água da Terra é salgada; e
- 2,5% apenas da água superficial é doce.

Dos 2,5% de água doce da Terra, somente 0,4% ocorre superficialmente na


forma de rios, lagos, atmosfera, solos, regiões pantanosas etc. pois a maior parte
da água doce do planeta ocorre nas geleiras (69%) nas regiões polares e
montanhosas ou é subterrânea (30%) nos aquíferos e lençol freático.

Tal distribuição justifica muito da necessidade que muitos países têm de


dessalinizar água do mar, os geoconflitos pelo acesso à água em várias regiões
do globo e porque aproximadamente 1,8 bilhão de pessoas, segundo a ONU,
não possuem acesso à água doce superficial. Entretanto, toda água doce que
há na superfície terrestre é muito mais que suficiente para toda humanidade.
O problema que envolve a água não é sua falta no mundo, necessariamente,
mas o difícil acesso e sua má distribuição.

Usos d’Água no Mundo

O uso da água é importantíssimo para diversos setores da vida humana e ao


dividirmos a percentagem de água usada nos setores econômicos (primário,
secundário e terciário) é surpreendente como as atividades em torno da
produção de alimentos consomem volume muito superior, na média mundial, que
as demais atividades econômicas. Observe o gráfico abaixo da Organização das
Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO em inglês).

Figura 3. Uso da água em média mundial. Fonte: FAO

Denota-se que, muito superior às demais atividades econômicas, a agricultura


consome grandes volumes d’água e em média representa 70% de seu total, já a
indústria consome por volta dos 22% e as atividades domésticas usam 8%.

Entretanto, quando se analisa a realidade tecnológica dos países e o quanto


suas economias são mais industrializadas e desenvolvidas, percebe-se que a
porcentagem destinada à agricultura e à indústria variam muito de país para país.
Os países da Europa ocidental e os Estados Unidos, por exemplo, são países
industrializados que demandam maior volume d’água na atividade industrial se
comparados com a média mundial. Já os continentes asiático e africano
consomem ao menos 80% da água na atividade agrícola e pecuária.

Distribuição da Água Doce Superficial no Mundo

Há enorme má distribuição da água doce no mundo, pois os continentes


dispõem de volumes muito diferentes de água doce.

A Oceania, por exemplo, possui apenas 5% da água doce mundial e é


certamente bem menor que a água na América, cuja percentagem chega aos
41%. Há aqui o continente com maior percentual de água doce e um dos
continentes com a menor percentagem, pois a Antártida também possui somente
5%.

Ao analisarmos os demais continentes, evidencia-se o quanto a desigualdade na


distribuição da água é bastante expressiva, pois a Ásia possui 31% de toda água
doce do mundo, na sequência vem a África com apenas 1/3 desse total e que
conta com apenas 10% e, por fim, a Europa com meros 7% da água doce
mundial.

O mapa abaixo evidencia esses números.


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Figura 4. Distribuição da água doce superficial no mundo. Fonte: Ana Lúcia Souto. Disponível em:
https://pt.khanacademy.org/science/5-ano/matria-e-energia-a-gua-na-terra/a-agua-na-terra/a/distribuicao-da-
agua-na-terra Acesso: 23/02/2021

E mais, quando se compara tais percentuais de água doce com a população que
vive nesses continentes, evidencia-se outro problema que é a dissonância
espacial entre água e demografia. No caso, a distribuição populacional no globo
não coincide com as regiões onde há água doce. Ou seja, por mais que toda
água doce do mundo seja suficiente para a humanidade a água é mal distribuída
e as grandes concentrações demográficas não estão necessariamente onde há
os maiores volumes percentuais da água doce.

No caso, os continentes mais populosos são na sequência:

- Ásia. 60,5% da população mundial com 31% da água;


- África. 15% da população mundial com 10% da água;
- América. 14% da população mundial com 41% da água;
- Europa. 10% da população mundial com 7% da água; e
- Oceania. 0,5% da população mundial com 5% da água.

Diante desse cenário surge o estresse hídrico. Compreende-se como estresse


hídrico situações em que a demanda por água é maior que sua disponibilidade
em determinada região geográfica. Exemplifique-se, à grosso modo, a Ásia é o
segundo continente com maior volume de água percentual do planeta Terra,
porém concentra a maior população mundial disparadamente. Neste exemplo
temos 60% da população mundial para 31% da água doce. Não significa que em
todas as regiões e países do continente falta água, mas em termos continentais
é um continente que tende a apresentar problemas em relação ao acesso à água
por sua população. Entretanto, a Oceania possui 5% da água doce do mundo,
mas apenas 0,5% da população mundial.

O estresse hídrico, todavia, deve ser considerado em escalas mais regionais e


locais, pois mesmo no continente que detém 2/5 de toda água doce do mundo,
há regiões de vulnerabilidade quanto ao acesso à água doce pela sua população.
Observe o mapa da FAO (Food and Agriculture Organization), que é organização
da ONU para agricultura e alimentação mundial. O mapa nos traz as regiões de
vulnerabilidade, escassez e estresse hídrico:

Figura 5. Disponibilidade de água doce em metros cúbicos. Fonte: FAO. Disponível em:
https://ecodebate.com.br/pdf/rcman32.pdf Acesso: 23/02/2021

Geopolíticas da Água

Guerras pela água... a má distribuição da água doce sobre a superfície terrestre


e a crescente falta de acesso ao importante recurso gera vulnerabilidade,
escassez e estresse hídrico que podem desencadear zonas de tensão, regiões
conflituosas e zonas de guerra pela água.

As zonas de instabilidade em virtude do acesso pela água se estendem em


diversas regiões do globo e sua disputa envolve tanto águas superficiais de
grandes bacias hidrográficas, quanto águas subterrâneas em aquíferos
internacionais.

Disputas pelo rio Nilo

Na porção nordeste africana temos um dos maiores rios da Terra, o rio Nilo. As
nascentes do Nilo estão na zona tropical e deságuam no mar Mediterrâneo ao
norte do Egito. A confluência dos rios Nilo Branco e Nilo Azul em Cartum, no
Sudão, dão origem ao Nilo que atravessará todo território das pirâmides
egípcias. O Nilo Branco é oriundo de Uganda e tem nascente no Lago Vitória,
em Uganda, em plena região equatorial de clima muito úmido, o rio Nilo Azul se
origina nos planaltos da Etiópia e atravessa o país até chegar ao Sudão.

Veja o mapa abaixo:


Figura 6. Rio Nilo. Fonte: https://www.chegg.com/flashcards/exam-2-ancient-greece-notes-b6858cf7-cb35-43ce-
b03d-77a924234296/deck Acesso: 24/02/2021

O rio Nilo tem drenagem exorréica em sentido sul – norte. No Egito, a partir de
Assuã, o Nilo abre enorme e considerável leque que forma uma planície
habitável há milhares de anos em foz no formato delta entre as cidades de
Alexandria e o Cairo.

O Egito tem forte identidade com o Nilo desde a antiguidade e no imaginário da


população egípcia o Nilo lhes pertence. Quaisquer intervenções no Nilo, exceto
as egípcias, não são bem-vistas pelo Egito, que tem desenvolvido projeto de
colonização do deserto através da transposição das águas do rio Nilo. Na década
de 1970, construíram a Barragem de Assuã com o apoio da união soviética e a
construção do Lago Nasser, tal empreendimento controla as cheias do Nilo e
evita extravasamento da água no baixo curso do rio. O Sudão também construiu
barragens no rio Nilo a fim de irrigação agrícola e mais recentemente, a partir de
2011, a Etiópia desenvolveu projeto Grande Renascença Etíope e estão
construindo a maior barragem do continente africano.

Tanto Egito, quanto o Sudão, questionam o projeto etíope e alegam que as


represas podem resultar em falta d’água em seus países em momentos de baixa
vazão no canal hídrico, ambos países acham inaceitável a postura etíope. A
Etiópia, entretanto, alega soberania territorial e direito sobre as águas que cortam
dentro de suas fronteiras e recentemente começou a encher suas barragens. A
tensão crescente envolvendo os países africanos foi intermediada pela ONU,
União Africana e Estados Unidos. Egito e Sudão alegam que a Etiópia deve abrir
as comportas em épocas de secas sazonais, mas por enquanto as disputas
pelas águas do grande Nilo não chegaram numa solução final.

Mesopotâmia: rios Tigres e Eufrates

A Mesopotâmia do mundo antigo é região do atual país do Iraque. As nascentes


dos rios Tigre e Eufrates estão na Turquia e tais rios atravessam a Síria e o
Iraque até desaguarem no golfo Pérsico.

Como as nascentes de ambos os rios estão na península da Anatólia, atual


Turquia, é o país turco quem controla a vazão de suas águas em virtude da
construção de barragens para geração de energia que foram construídas nas
últimas décadas. Síria e Iraque criticam a postura da Turquia de construir tais
barragens, pois tais países têm sofrido com intensificação de secas regionais
nos últimos anos. Observe o mapa abaixo:

Figura 7. Rios Tigre e Eufrates. Fonte: Enciclopédia Britânica.

Rio Jordão, nem tudo é disputa religiosa no Oriente Médio

O rio Jordão nasce nas famigeradas Colinas de Golã. O território estratégico de


Golã pertenceu à Síria até 1967 e desde então é administrado por Israel que o
anexou na Guerra dos Seis Dias daquele ano.

Observe o mapa abaixo:


Figura 8. Rio Jordão. Fonte: https://smartwatermagazine.com/blogs/mark-zeitoun/israel-hoarding-jordan-river-its-
time-share-water Acesso: 24/02/2021

A região é desértica e as águas do Jordão são importantes para as populações


locais, sejam sírios, jordanianos, palestinos ou israelenses. Entretanto, parte
considerável do Vale do Jordão é administrado por Israel.

O rio Jordão tem drenagem no sentido norte-sul, nasce mais precisamente no


Monte Hermón, atravessa o mar da Galiléia e deságua no mar Morto, são 200km
de extensão. Separa Israel – que ocupa e administra as zonas C na Cisjordânia
– e a Jordânia. Ou seja, está imbricado entre os países da Jordânia, Israel e Síria
– que questiona Golã para si –, bem como o território palestino da Cisjordânia.

Os acordos entre Israel e Jordânia na década de 1990 estabeleceram uso


comum das águas do Jordão, entretanto, no começo de 2020, o governo Donald
Trump, dos Estados Unidos, e o 1° Ministro israelense, Benjamin Netanyahu,
propuseram acordo aos palestinos a fim de anexarem todo o Vale do Jordão. Os
palestinos rechaçaram o acordo, tanto quanto os jordanianos.

As planícies do Jordão são férteis e têm importância enorme para agricultura


local. Além disso, é região estratégica para Israel e separa os desertos locais de
Israel e da Jordânia. Para Israel estender suas fronteiras até o vale jordaniano é
questão de defesa própria e soberania, conforme crêem.

Sul e Sudeste da Ásia

O continente asiático é o mais populoso do mundo e apresenta 31% da água


doce mundial. Nesse cenário de proporções enormes há, na mesma medida,
tensão geopolítica no continente envolvendo o acesso à água doce. Além do
Oriente Médio supracitado, as regiões sul e sudeste da Ásia, apresentam-se
como enclaves de disputas por recursos hídricos.

O planalto do Tibete, na porção sudoeste chinesa, é atravessado por importantes


rios da região, pois a topografia regional, bem como seu clima são favoráveis à
configuração das bacias hidrográficas locais, que despertam constante tensão
entre os países que partilham suas águas. São rios que nascem na Cordilheira
do Himaláia, cuja água do degelo, nos meses mais quentes, abastecem os rios
que atravessam o Tibete, bem como as chuvas de Monções que trazem grande
volume de água para a região.

Figura 9. Planalto Tibetano e principais rios locais. Mapa: Diana Hubert-Benedetti/Epoch Times

Os rios nascem na China e correm para os países fronteiriços ao Dragão


Asiático. Os rios Mekong, Brahmaputra, Ganges, Indo ao saírem da China
banham diversos países locais e o uso das águas desses rios pela China tem
desagradado seus vizinhos.

O rio Mekong atravessa Laos, Tailândia, Camboja e deságua no Vietnã onde


forma um delta nas planícies vietnamitas antes de suas águas caírem no mar
Meridional da China. No trecho de 97km do rio Mekong, na Tailândia, a China
tem pretensões de daquelas águas para navegar com seus cargueiros com
destino a Mianmar, além de eventuais navios de guerra. Este trecho do Mekong
é quase fronteiriço entre Mianmar e Laos e certamente é fundamental paras as
pretensões de Pequim.

Além disso, o gigante asiático tem pretensões em toda bacia hidrográfica do


Mekong e por meio do slogan ‘’rio compartilhado, futuro compartilhado’’ tenta
amenizar suas posturas imperiais na região e alega necessidade de
desenvolvimento sustentável no curso do grande rio e propõem
compartilhamento dos eventuais ganhos. Outrossim, os países banhados pelo
Mekong dependem de suas águas para abastecimento de suas populações, na
casa de milhões de habitantes, e vêem cada vez mais suas águas usadas pela
China e para a construção de barragens.
E mais, o Laos desenvolve projetos de barragens para geração de
hidreletricidade e desperta questionamentos por parte do Camboja.

Figura 10, Rio Mekong

O rio Brahmaputra atravessa China, Índia e deságua no rio Ganges – o qual é


sagrado para o hinduísmo – e que segue caminho para o delta do Ganges que
se forma nas planícies do golfo de Bengala, no Bangladesh.

O rio gera tensão entre China e Índia e Índia e Bangladesh. Como o rio, antes
de entrar na Índia, atravessa o planalto tibetano, a China detém o controle da
nascente e alto curso do rio, logo constrói barragens em trecho chinês do rio. A
Índia protesta e acusa a China de ter pretensões de desviar águas do rio para o
norte chinês e suas regiões árida, a exemplo do deserto de Gobi. Ironicamente,
todavia, o Bangladesh também questiona o uso pelas águas do rio Brahmaputra
em solo indiano, pois a Índia também construiu barragens no trecho indiano do
corpo hídrico. Veja o mapa do delta do Ganges no Bangladesh:
Figura 11. Delta do rio Ganges.

O rio Ganges nasce nas altas topografias do Himaláia. Percorre a planície do


Ganges, na Índia e deságua no golfo de Bengala, no Bangladesh, após receber
as águas de diversos afluentes, inclusive do importante rio Brahmaputra. Tem
drenagem exorréica e percurso no sentido oeste-leste (sudeste) até adentrar as
fronteiras do Bangladesh.

Figura 12. Rio Ganges. Fonte: https://www.nature.com/articles/d41586-018-05872-w Acesso: 20/02/2021


O rio Ganges alimenta ao menos 600 milhões de pessoas na Índia e Bangladesh.
Possui importância religiosa para o hinduísmo. A população hindu, que
compõe uma das maiores religiões do planeta, pratica rituais às margens do
caudaloso rio. Os indianos desde a antiguidade veneram a deusa Shiva e Ganga.
A cidade de Varanasi é a mais sagrada para o hinduísmo. Afluem para tal cidade
milhares de peregrinos diariamente. As práticas religiosas às margens do rio e
dentro do rio envolvem, queima de corpos dos falecidos às margens do Ganges,
cujas cinzas são jogadas dentro do leito hídrico, os fiéis se banham no rio para
curarem as impurezas de espírito e é comum que bebam suas águas in loco, é
comum que corpos de mulheres grávidas e crianças mortas, os quais são
considerados impuros, sejam jogadas no Ganges sem serem cremados, bem
como de vacas mortas, pois a vaca é animal sagrado para o hinduísmo. Estima-
se que pelo menos 2 milhões de fiéis se banham no Ganges diariamente. Veja
a foto na cidade de Varanasi as piras de madeira onde são queimados os mortos,
cujas cinzas são depositadas nos rios para que fiquem puros e se livrem da
reencarnação.

Figura 13. Rituais às margens de Varanasi, na Índia. Fonte: https://pixabay.com/pt/photos/%C3%ADndia-varanasi-


ganges-3365741/ Acesso: 26/02/2021

Diante desse cenário, o que temos é significativa poluição das águas do rio
sagrado. A presença de lixo e fezes é grande nas regiões de rituais no rio.
Outrossim, há problemas de saneamento básico e tratamento de esgoto no país,
cujo destino são as águas puras do rio que nasce cristalino no Himaláia.

Ademais, a construção de barragens e canais de irrigação na Índia preocupa o


abastecimento bengali rio abaixo. Há preocupação, por parte de Bangladesh,
quanto ao abastecimento de água de seu território. Antes de chegar no
Bangladesh a água atravessa a Índia.
O rio Indo atravessa Índia, após nascer no planalto tibetano, e deságua no mar
Arábico após cruzar, de norte a sul, o Paquistão. A região de nascente do rio
Indo é zona de conflito entre ambos os países desde suas independências das
ruínas do Império Britânico em 1947. É a famigerada região da Caxemira. A
tensão entre ambos os países é considerável e a delimitação da fronteira entre
Paquistão e Índia é objeto de tensão e ambos já lutaram três grandes guerras. E
em alguma medida as disputas territoriais na Caxemira envolvem o controle das
águas do rio Indo e de suas nascentes.

Figura 14. Sistemas de rios do Indo. Fonte: https://professorjamesonnig.wordpress.com/2012/08/16/o-tratado-da-


agua-do-rio-indus-um-outro-olhar-sobre-a-caxemira/ Acesso: 26/02/2021

Bacia Hidrográfica também conhecida como bacia de drenagem. A bacia


hidrográfica é uma porção territorial que se compõe de corpos hídricos, unidade
de relevo e divisores d’água. A drenagem d’água, dentro da bacia, está
intimamente associada às características topográficas e de relevo. A água – que
compõe a bacia hidrográfica – forma uma rede de drenagem com rios, riachos,
ribeirões, igarapés, seus afluentes e sub-afluentes. Em outras palavras, a bacia
de drenagem é composta por um rio principais e seus tributários, que são rios de
menor volume hídrico que deságuam na calha do rio principal.

As características dos rios envolvem o relevo, a variação do volume de águas


em virtude do clima e a declividade. As bacias hidrográficas apresentam
nascente do principal, leito do rio principal, afluentes ou tributários, várzea,
trechos retilíneos ou meandrantes e foz.
Figura 15. Características do Rio. Fonte: https://br.pinterest.com/pin/380906080977838655/
Adaptado pelo autor.

Perfil Longitudinal e Transversal do Rio

Figura 16. Perfis Longitudinal e Transversal do Rio. Fonte: https://revisegeo.wordpress.com/a-level/changing-


channel-characteristics/Adaptado pelo autor
Os perfis longitudinal e transversal do rio nos indicam a declividade do rio, o
tamanho do canal, a extensão do rio, as regiões de quedas abruptas no trecho
do rio, os trechos sujeitos à erosão e à sedimentação.

O perfil longitudinal é aquele que se estende da nascente até a foz e é


composto pelo alto curso do rio, médio curso do rio e baixo curso do rio.
Evidencia a declividade também chamado de gradiente do rio.

O perfil transversal é aquele que se estende de uma margem à outra do rio e


perpassa pelo ponto mais fundo do leito. O ponto mais fundo do rio é chamado
de talvegue e as laterais da calha do rio são conhecidas como talude.

Figura 17. Perfil Transversal do Rio. Elaborado pelo autor

Classificação dos rios quanto à forma do escoamento:

Rios Intermitentes: também conhecidos como rios sazonais ou temporários,


são rios que secam em períodos de pouca chuva.
Rios Perenes: são rios permanentes e não secam. Possuem água em seu leito
no curso de todo ano.

Classificação dos rios quanto à drenagem de suas águas:

Rios Exorréicos: rios cuja drenagem de suas águas é o litoral, escoam para fora
do território.
Rios Endorréicos: rios cuja drenagem de suas águas é o interior, escoam para
dentro do território.
Rio Arréicos: rios cuja drenagem de suas águas escoam somente dentro de
determinado território e não chegam ao litoral, pois têm foz que deságua em
lagos.

Classificação dos rios quanto ao relevo:

Rios de Planalto: rios que escoam sobre terrenos planálticos, tendem a


apresentar maior declividade e terrenos acidentados que formam cachoeiras e
corredeiras. Os desníveis topográficos são essenciais para construção de
barragens para usinas hidroelétricas e lagos artificiais para armazenagem
d’água com fins agricultáveis. É nos rios de planalto que se constroem eclusas
para o transporte sobre suas águas.
Rios de Planície: rios que escoam sobre terrenos de planícies, tendem a
apresentar menor declividade e terrenos pouco acidentados. É propício à
navegação.

Classificação dos rios quanto à origem das águas:


Rios Pluvial: rios que se formam a partir de chuvas.
Rios Nival: rios que se formam a partir de degelo de neve.
Rio Misto: rios que recebem águas de chuvas e de neve.

Tipos de foz: a foz também é conhecida como desembocadura. Trata-se do final


do rio que deságua em outros rios ou em mares ou nos oceanos.

O Brasil possui 13% da água doce do planeta Terra e é, portanto, um dos países
que mais dispõe desse recurso dentro de suas fronteiras. Entretanto, os grandes
volumes d’água no Brasil não significam que não haja falta d’água em algumas
regiões do território nacional, nem que estamos livres de tensões geopolíticas
com nossos países vizinhos, nem mesmo que o acesso às regiões hídricas no
Brasil estejam livres de disputas internas.

A distribuição da água no território nacional é muito desigual.

A região que apresenta o maior volume de água doce do Brasil é a região Norte,
pois segundo a Agência Nacional da Água há 68% de toda água doce do Brasil
nessa região e apenas 3% da água doce está na região Nordeste. A região mais
populosa do Brasil, o Sudeste, só possui 6% da água do país, já as regiões Sul
e Centro-Oeste possuem 7% e 16% de toda água do Brasil, respectivamente.

Tais dados são notáveis e denotam o grande hiato que há entre demanda e
recursos, pois as regiões mais populosas do País possuem os menores volumes
percentuais de água doce no Brasil.

A região Sudeste tem 2/5 da população nacional, mas dispõe de meros 6% das
águas brasileiras. Entretanto, a região Norte com seus 68% de toda água do
Brasil tem pouco mais que 8,5% da população nacional. O Nordeste com apenas
3% da água doce do Brasil é a segunda região mais populosa e conta com quase
28% da população nacional. Sul com 7% de água, tem a terceira maior
percentagem demográfica nacional – algo em torno de 14% – e a região Centro-
Oeste, curiosamente, possui a mesma quantidade de água que as regiões do
Sudeste, do Nordeste e do Sul juntas, pois dispõe de 16% da água nacional e
apenas 7% de sua população. Observe o mapa abaixo da Agência Nacional de
Águas com a distribuição populacional do Brasil e distribuição da água:
Figura 18. Distribuição da água e população no Brasil. Fonte: ANA

Usos d’água no Brasil

Tanto quando nos demais países, exceto países industrializados, o Brasil


consome grande volume percentual de sua água na produção agrícola por meio
da irrigação. Observe o consumo de água no Brasil segundo a Agência Nacional
de Águas em 2012:

Figura 19. Consume de Água no Brasil. Fonte: ANA.

Bacias Hidrográficas Brasileiras

Conforme a Agência Nacional de Águas (ANA) nosso País dispõe de 12 bacias


hidrográficas, de acordo com o próprio site da ANA:

‘’a Divisão Hidrográfica Nacional, instituída pelo Conselho Nacional de Recursos


Hídricos (CNRH), estabelece as doze Regiões Hidrográficas brasileiras. São
regiões hidrográficas: bacias, grupo de bacias ou sub-bacias hidrográficas
próximas, com características naturais, sociais e econômicas similares. Esse
critério de divisão das regiões visa orientar o planejamento e gerenciamento dos
recursos hídricos em todo o país.’’

Observe o mapa abaixo das bacias hidrográficas do Brasil:

Figura 20. Bacias Hidrográficas do Brasil. Fonte: ANA.

Como se observa na figura acima, o Brasil apresenta 12 bacias hidrográficas.


Podemos dividi-las em bacias hidrográficas principais e bacias hidrográficas
secundárias.

São 4 bacias principais:


Amazônica;
Tocantins-Araguaia;
São Francisco; e
Paraná.

Portanto, restam as 8 bacias secundárias: Atlântico Nordeste Ocidental,


Parnaíba, Atlântico Nordeste Oriental, Atlântico Leste, Atlântico Sudeste,
Atlântico Sul, Uruguai e Paraguai.

Bacia Hidrográfica Amazônica

A Bacia Hidrográfica Amazônica se estende por mais de 40% de todo o território


nacional. Ocupa, sobretudo, os estados da região Norte do Brasil – Acre, Amapá,
Amazonas, Pará, Rondônia e Roraima – e o estado da região Centro-Oeste, o
estado do Mato Grosso.

A bacia do rio Amazonas dispõe de enorme rede de rios e igarapés. Há


grandiosa abundância de água doce, é comum nos referirmos a essa bacia como
mar doce. Alguns de seus rios são o próprio rio Amazonas, o rio Xingu, o rio
Solimões, o rio Madeira, o rio Tapajós, o rio Purus, o rio Trombetas e o rio Negro.

A região Norte brasileira dispõe de gigante extensão geográfica e territorial, mas


ao mesmo tempo possui significativos e imensos vazios demográficos, cujas
principais ocupações estão às margens da calha do dos rios amazonenses.

Mas a região concentra percentual elevadíssimo das águas superficiais do


Brasil. Ao menos 80% da bacia do rio Amazonas ainda mantém sua cobertura
vegetal nativa em virtude do isolamento territorial. A região amazonense está no
epicentro de muitas polêmicas ambientais nos últimos anos, especialmente no
que diz respeito ao uso de suas águas para a geração de eletricidade. Ademais,
o desmatamento que pode intensificar o assoreamento dos corpos hídricos, a
expansão urbano-industrial e consequentes impactos por causa do saneamento
básico rarefeito, e, as obras polêmicas de construção de usinas hidroelétricas e
hidrovias.

Características da Bacia Amazônica: como se pode constatar, por apresentar


grande volume de água em seus rios e afluentes é perene. A maior parte da
bacia de drenagem está inserida nas planícies e terras baixas amazônicas.
Entretanto, os afluentes do rio Amazonas são de planalto e dispõe de grande
potencial hidroelétrico, mas pouco aproveitados para tais fins. O regime da bacia
é misto (recebe águas pluviais e nivais), porque além do grande volume de água
– resultante do clima equatorial – há o derretimento de neve da cordilheira dos
Andes, cujas águas adentram ao território nacional.

Além disso, o rio principal, o Amazonas, corre em direção ao oceano Atlântico,


logo se trata de uma bacia de drenagem exorréica. E mais, a foz do rio Amazonas
é mista, pois apresenta-se no formato estuário e déltico.

Bacia Hidrográfica Tocantins-Araguaia

A bacia dos rios Tocantins e Araguaia corresponde a 10,8% do território nacional.


Trata-se da maior bacia hidrográfica totalmente brasileira. Distribui-se por
seis estados do País. Alguns deles na região Centro-Oeste – Goiás, Mato Grosso
e no Distrito Federal –, dois deles na região Norte – Tocantins e Pará – e um
estado nordestino, o Maranhão. O rio Tocantins é de planalto e nasce nas
cercanias do norte goiano, o rio Araguaia é de planície e nasce no Mato Grosso.
O rio Araguaia é afluente do rio Tocantins e a confluência de suas águas ocorre
no estado tocantinense.

Características da Bacia Tocantins-Araguaia: os rios Tocantins e Araguaia


são perenes e possuem drenagem exorréica. Tem foz em estuário. Conforme
citado, o Araguaia está inserido na Planície do Araguaia e tem declive suave, é
um importante corredor de exportação e é muito usado para transportes, já o rio
Tocantins é planáltico, não por acaso abriga uma das maiores usinas
hidroelétricas do mundo.

Na extensão de toda a bacia estão presentes a Floresta Amazônica, ao norte e


noroeste, e o Cerrado nas demais áreas. Possui grande potencial para o
turístico, a exemplo da pesca, o turismo ecológico, as praias fluviais, além disso
dispões da maior ilha fluvial do mundo (Ilha do Bananal), bem como os polos
turístico de Belém, o Parque Estadual do Jalapão, no estado do Tocantins, e o
Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros, em Goiás.

Em termos econômicos, há forte exploração energética, pois é nessa bacia que


há a terceira maior usina hidroelétrica do País com capacidade de gerar 8,5
mil megawatts de energia. Mais precisamente a Usina de Tucuruí está no rio
Tocantins, no estado paraense a 350km de distância de Belém.

Os rios Tocantins-Araguaia também apresentam polêmicas de natureza


ambiental no que diz respeito ao uso de suas águas. A questão do saneamento
básico é um dos grandes problemas nacional, inclusive, e que não se restringe
apenas às bacias estudadas até aqui. Além disso, há os impactos oriundos da
geração de energia e da navegação, a atividade da hidrovia do Araguaia é o
grande destaque.

Bacia Hidrográfica São Francisco

A bacia do rio São Francisco ocupa 7,5% do território nacional. Trata-se da


segunda maior bacia hidrográfica totalmente brasileira. Distribui-se por 7
estados do País. O rio São Francisco tem nascente na região Sudeste, nasce
Minas Gerais, mais precisamente na Serra da Canastra onde o clima é o tropical
de altitude. O rio São Francisco se estende para a região Nordeste e atravessa
os estados da Bahia, de Pernambuco, de Alagoas e de Sergipe. Em dois estados
da região Centro-Oeste há afluentes do Velho Chico e que abrangem a bacia do
rio dos currais, são os estados de Goiás e Distrito Federal.

A precipitação média anual, na bacia do São Francisco, é muitíssima abaixo da


média nacional em virtude de se localizar em região de clima Semi-árido ao norte
de Minas ou nos estados nordestinos. Apresenta, portanto, frequentes situações
de escassez hídrica com vazantes baixas. Apesar disso, tem importante papel
na geração de energia para as regiões Nordeste e Sudeste do País. O potencial
elétrico do rio São Francisco é fortemente aproveitado. São pelo menos cinco
grandes usinas hidroelétricas, a exemplo de Três Marias, em Minas Gerais,
Sobradinho e Paulo Afonso (ambas na Bahia) e Xingó, na fronteira entre Alagoas
e Sergipe.

Ademais, tem ganhado destaque a região em fronteira dos estados da Bahia e


Pernambuco onde se assiste à importante produção vinícola através do plantio
de uvas no vale do São Francisco. Essa região é conhecida como tapete verde
nos municípios de Petrolina (PE) e Juazeiro (BA).

E mais, o São Francisco é usado para a navegação através de sua importante


hidrovia que se estende de Pirapora, em Minas Gerais, até Juazeiro, na Bahia.
Geopolítica do São Francisco: a principal polêmica sócio-ambiental para a
gestão das águas na bacia do São Francisco envolve a transposição das águas
do rio São Francisco para os estados do nordeste setentrional, no caso o
Ceará, a Paraíba e o Rio Grande do Norte. A transposição das águas do São
Francisco apresenta dois trechos (eixos) de transposição.

Figura 21. Eixos de Transposição do S Francisco. Fonte: Ministério do Desenvolvimento Regional.

Eixo Leste: um dos eixos é no sentido leste para o estado da Paraíba. Este eixo
capta águas de Pernambuco, no município de Floresta e tem drenagem até o
município de Monteiro, no Sertão da Paraíba, quando deságua no rio Paraíba.

Eixo Norte: o outro eixo é no sentido norte que cruza toda região de Sertão do
Pernambuco até desaguar em açudes e rios intermitentes nos estados do Ceará,
Paraíba e Rio Grande do Norte. Parte do município de Cabrobó e deságua no
açude de Castanhão, e nos rios Jaguaribe e Salgado, no Ceará, e no rio
Piranhas-Açu e rio Apodi, no Rio Grande do Norte.

Outras polêmicas ambientais do São Francisco se associam à seca na região e


a eventos ‘’críticos da seca’’ envolvidos na Indústria da Seca, os abastecimentos
urbanos-industrial, bem como a qualidade das águas para irrigação.
Características da Bacia do São Francisco: o rio São Francisco é conhecido
por diversos nomes. Conhece-se por Nilo Brasileiro, pois atravessa região árida
e não secam suas águas, pois é perene. É chamado de rio da Integração
Nacional, pois interliga as regiões Nordeste e Sudeste. É chamado
carinhosamente de Velho Chico pelo sertanejo e é chamado de rio do currais,
dada a importância econômica em suas margens. É de planalto de drenagem
exorréica. Possui afluentes intermitentes. A foz é em formato de estuário, embora
na região que deságuam as águas do São Francisco haja uma planície deltaica.

Bacia Hidrográfica Tietê-Paraná

A bacia dos rios Tietê e Paraná fazem parte da macro-bacia Platina, também
conhecida como bacia do rio da Prata. A chamada macro-bacia do Prata
envolve as sub-bacias dos rios Paraguai, Uruguai e dos rios Tietê e Paraná.

A bacia dos rios Tietê e Paraná envolvem as regiões Sul e Sudeste do Brasil,
bem como os países vizinhos do Paraguai e Argentina. A bacia do Tietê-Paraná
ocupa em torno de 10% do território nacional e se estende por abrangendo sete
estados. A bacia do Tietê-Paraná é a segunda maior bacia hidrográfica do
Brasil, atrás apenas da bacia Amazônica.

O rio Tietê corta o estado de São Paulo e é um tributário do rio Paraná. A bacia
do Tietê-Paraná ocupa importantes os estados do Sudeste, São Paulo e Minas
Gerais, e os estados sulistas do Paraná e de Santa Catarina. Além dos estados
do Mato Grosso do Sul, Goiás e o Distrito Federal.

Trata-se da região Centro-sul, a mais populosa e de maior desenvolvimento


econômico do País. Consequente a isso concentra as maiores demandas por
recursos hídricos e tem como destaque o uso agrícola e industrial. É também a
região com maior área irrigada e maior aproveitamento do potencial hidráulico
disponível. Em suma, é a bacia mais explorada em termos econômicos em nosso
país.

E mais, possui a maior usina hidroelétrica do Brasil. No caso, a Usina


Binacional de Itaipu. Construída nos anos 1970 a usina pertence ao Brasil e ao
Paraguai e tem capacidade de gerar 14.000 megawatts de energia. Os
problemas ambientais e gestão da bacia são o intenso abastecimento urbano-
industrial e a alta demanda pela irrigação agrícola. Há problemas de poluição,
especialmente de saneamento básico. Na região metropolitana de São Paulo há
fortes problemas associados ao alagamento de áreas urbanas.

Características da Bacia dos rios Tietê e Paraná: o rio Paraná é


essencialmente de planalto e apresenta muitas quedas d’água que são usadas
economicamente para geração de energia. Recebe as águas de importantes
afluentes, como o rio Grande, o rio Paranaíba e faz confluência com o rio Tietê,
um de seus maiores tributários, bem como recebe as águas do rio
Paranapanema. O rio Paraná deságua no deságua na foz do rio Iguaçu na região
de tríplice fronteira entre Brasil, Argentina e Paraguai.
As águas do Tietê-Paraná são originadas das chuvas locais, portanto o regime
é pluvial, é perene e possui drenagem endorréica porque corre para o interior di
Brasil.

As bacias secundárias do Brasil são 8 e apresentam menor porte que as 4


principais supracitadas.

Bacia Hidrográfica do rio Paraguai

A bacia hidrográfica do rio Paraguai ocupa em torno de 4% do território nacional.

O rio Paraguai é também um dos afluentes da grande bacia Platina. No Brasil,


abrange parte dos estados do Centro-Oeste, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul,
e suas águas ocupam a maior parte do Pantanal matogrossense, que é a maior
área úmida contínua do planeta Terra.

A densidade demográfica regional é pequena e conta com aproximadamente 3,5


vezes menos habitantes que a média brasileira. A gestão dos recursos hídricos
na região tem apresentado problemas de natureza ambiental e estão associados
à dinâmica da economia de pecuária bovina. O rio Paraguai tem nascente no
Mato Grosso, mais precisamente na Chapada dos Parecis, e escoa sobre a
planície do Pantanal e adentra os territórios do Paraguai e da Argentina, até
chegar na bacia do rio Paraná em território argentino. Trata-se, inclusive, do
principal afluente do rio Paraná.

Bacia Hidrográfica do rio Uruguai

A bacia hidrográfica do rio Uruguai se localiza na porção oriental dos estados de


Rio Grande do Sul e Santa Catarina. Ocupa apenas 3% do território nacional.

Nasce da confluência dos rios Pelotas e Canoas. A região possui atividades


agrícolas e industriais muito desenvolvidas, fortemente mecanizadas e com
mão-de-obra qualificada tecnicamente. O rio Uruguai é importante fonte de
recursos hídricos na Sul região para tais atividades. Há grande potencial
hidroelétrico na bacia por se tratar de um rio planáltico. O clima é o Subtropical
brasileiro com chuvas bem-distribuídas ao longo de todo o ano, mas com maior
concentração no inverno entre os meses de maio a setembro.

As sub-bacias do Tietê-Paraná, do Paraguai e Uruguai constituem a bacias


hidrográfica do Prata, vejam o mapa abaixo:
Figura 22. Rios da bacia do Prata. Fonte: https://www.bnamericas.com/en/news/asuncion-urban-development-
plans-center-on-paraguay-river Acesso: 4/3/2021

Bacia Hidrográfica do Parnaíba

A bacia hidrográfica do rio Parnaíba ocupa quase 4% do território nacional,


distribui-se em três estados da região Nordeste. Mais precisamente na porção
noroeste da região nordestina. Ocupa os estados do Ceará, do Piauí e do
Maranhão. Estende-se sobretudo no clima Semi-árido do Brasil, caracteriza-se
pela intermitência das chuvas, com precipitação média anual bem abaixo da
média nacional. O principal uso da água na região é a irrigação agrícola. Uma
característica importante é a foz no formato déltico, durante muitos anos
considerada a única foz em formato delta nas Américas.

Bacia Hidrográfica do Atlântico Nordeste Ocidental

A bacia do Atlântico Nordeste Ocidental ocupa apenas 3% do território nacional,


estende-se em sua quase totalidade no estado do Maranhão e uma diminuta
porção no estado paraense.

O uso urbano de suas águas é preponderante. Está presente na região de três


biomas brasileiros: Caatinga, Cerrado e Amazônico, em importante ecótono, a
Mata de Cocais.

Bacia Hidrográfica do Atlântico Nordeste Oriental

A bacia do Atlântico Nordeste Oriental ocupa pouco mais que 3% do território


brasileiro, estende-se por seis estados nordestinos, o Piauí, Ceará, Rio Grande
do Norte, Paraíba, Pernambuco e Alagoas.

Possui grande concentração populacional. A densidade demográfica regional é


em torno de 4 vezes maior do que a média nacional por causa de sua posição
geográfica costeira, a qual historicamente foi ocupada desde o Brasil colonial.

Quase a totalidade de sua área pertence ao clima Semi-árido, caracterizada por


apresentar períodos de estiagens prolongadas em decorrência da escassez de
chuvas e temperaturas elevadas durante todo o ano. Esta é a região hidrográfica
com a menor disponibilidade hídrica do Brasil.

Bacia Hidrográfica do Atlântico Leste

A bacia hidrográfica do Atlântico Leste ocupa 4% do território nacional e se


estende por 4 estados do Brasil, a Bahia, Minas Gerais, Sergipe e o Espírito
Santo. Grande extensão da bacia está situada na região de clima Semi-árido, o
qual possui períodos de prolongadas estiagens.

A bacia do Atlântico Leste possui a segunda menor disponibilidade hídrica dentre


todas as bacias de drenagem do Brasil. Tal fato se dá em virtude de dois fatores
geográficos: elevada demanda demográfica e clima pouco chuvoso em
considerável extensão da bacia.

Bacia Hidrográfica do Atlântico Sudeste

A bacia do Atlântico Sudeste ocupa quase 3% do território nacional e se estende


por 5 estados do Brasil. Os 4 estados da região Sudeste – Minas Gerais, Espírito
Santo, Rio de Janeiro e São Paulo – além estado sulista do Paraná.

A região da bacia é a mais populosa do Brasil, bem como a que a presenta a


maior densidade demográfica sendo a mais povoada.

Apresenta diversas atividades econômicas e a maior concentração industrial do


hemisfério sul, é uma região muito desenvolvida e consequentemente demanda
grande volume d’água.

Bacia Hidrográfica do Atlântico Sul

A bacia hidrográfica do Atlântico Sul é a mais meridional do Brasil, junto à bacia


do rio Uruguai e ocupa pouco mais que 2% do território brasileiro e se estende
em partes dos estados de São Paulo, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do
Sul.

Destaca-se por abrigar significativo contingente habitacional, pelo


desenvolvimento econômico e por sua importância de sua economia ligada ao
turismo. Possui alta densidade demográfica e consequentemente grande
demanda por seus recursos hídricos.

Regiões de Disputa Hídrica no Brasil e Aquíferos

O Aquífero Guarani se distribui na Bacia Sedimentar do Paraná, pois nesta


região temos fraturas na estrutura de rocha basáltica que permitem a infiltração
d’água que percola o relevo arenítico e por fim penetra para o interior da rocha
porosa. No caso, as rochas sedimentares do arenito são bastante porosas e têm
enorme capacidade de absorção hídrica se assemelhando a uma ‘’esponja’’. A
propósito, o sistema do Aquífero Guarani já foi considerado o maior do Brasil em
decorrência de sua enorme extensão territorial, são estimados1,2 milhão de km²
e grande volume d’água. O Sistema do Aquífero Guarani se estende pelos
países do Cone Sul-americano, a saber, a Argentina, o Brasil, o Paraguai e o
Uruguai, cujas águas se distribuem em rochas de estrutura arenítica recobertas
por rochas de basalto. No entanto, a partir de 2013, estudos geológicos e
hidrológicos constataram que o Aquífero Alter do Chão, na região Amazônica
brasileira, apresenta maior volume de recursos hídricos que o Aquífero Guarani.

Uso do Aquífero Guarani: o estado de São Paulo utiliza sim grandiosos


volumes de água do Aquífero Guarani, já não mais considerado o maior do Brasil
desde 2013, conforme supracitado. As cidades paulistas usam água em grandes
quantidades oriundas do Aquífero, notadamente Ribeirão Preto, já no Planalto
Ocidental, onde 100% do abastecimento se dá com água do reservatório
subterrâneo. Além disso, cidades como Araraquara, Bauru e São Carlos também
usam água do aquífero transfronteiriço. Aliás, em Araraquara, cujo clima típico
do Oeste paulista é o Tropical Continental – em magnânimas paisagens de
nosso Cerrado –, a água do aquífero corresponde a 70% já do abastecimento
local. Na maior extensão territorial do aquífero a água está confinada e o mapa
abaixo denota claramente que as maiores extensões de área do fenômeno
hidrológico transfronteiriço se localizam no Brasil, país que detém 70% do
terreno, em 840 mil de km². Já a Argentina possui 255 mil km², Paraguai e
Uruguai possuem aproximadamente 59 mil km² cada.

Há disputas regionais que nos permitem classificar o a zona do aquífero como


região hidro-conflitiva, pois os países vizinhos questionam o uso de suas águas
pelo Brasil e acusam nosso país de contaminar suas águas com excessivo uso
de defensivos agrícolas como os agrotóxicos, os pesticidas, os fungicidas e
fertilizantes. Por fim, o uso de suas águas tem feito o relevo sofrer subsidência
em algumas regiões porque o peso da carga rochosa tende a rebaixar levemente
a região explorada, sobretudo à medida que bombeamos água das rochas que
funcionam semelhantemente a esponjas.

Figura 23. Extensão do Aquífero Guarani. Fonte: Portal do Professor. MEC


Observe o mapa abaixo e perceba que o Brasil apresenta aquíferos, que são
recursos hídricos armazenados no seio de estruturas rochosas, em todas as
regiões do Brasil.

Figura 24. Aquíferos do Brasil. Fonte: ANA.

A disputa pela água no Brasil é mais evidente na região Nordeste do País por
causa de suas condições geográficas naturais. Suas tensões se traduzem na
Indústria da Seca e nas disputas geohídricas que envolveram o projeto de
transposição das águas do rio São Francisco. O projeto transposição das
águas do Velho Chico se arrastaram, no curso de nossa história, desde o
governo de D. Pedro II. O tema voltou à cena nacional na década de 1980 e
passou a ser executado na década de 2000, foi viabilizado a partir de 2005 sob
o governo do ex-presidente Lula.

O objetivo é amenizar as secas da região de nossa Caatinga e possibilitar a


produção agrícola local. Entretanto, houve muitas críticas ao projeto em virtude
dos impactos ambientais causados pelas obras de transferência das águas, bem
como discussões sobre os recursos hídricos nacionais, onde alguns estudos
sugerem que o problema do acesso à água potável no Sertão brasileiro é por
falta de gestão hídrica, não de sua ausência.

Na região Sudeste, inclusive, no ano de 2014 houve menor volume de chuvas


e os governos dos estados de São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro
trocaram farpas sobre o direito ao uso das águas do rio Paraíba do Sul.

O menor volume de chuvas na região levou o governo paulista a discutir a


possibilidade de usar águas do rio para abastecer regiões da capital paulista e
sua metrópole ao entorno. Os baixos volumes hídricos no Sistema Cantareira –
que abastece parte da maior metrópole do Brasil – se transformou num debate
nacional e em disputa hídrica regional, pois os governos de Minas e Rio de
Janeiro questionaram São Paulo quanto ao uso da bacia hidrográfica do rio
Paraíba do Sul.

A bacia do Prata é foco de disputa entre os países sul-americanos que utilizam


suas águas. Desde a Guerra do Paraguai, no século XIX, o uso das águas dos
rios locais é disputado pelos países do chamado Cone-Sul. A indefinição
fronteiriça foi uma de suas marcas ao longo de nossa história e motivos de
beligerância. Além disso, quando Brasil e Paraguai começaram a construir Itaipu
a Argentina questionou o destino que ambos os países estavam dando às águas
do rio Paraná.

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