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Uma Análise Pedagógica Dentro Da Literatura: A Trajetória Escolar Do

Personagem Cazuza De Viriato Correia

ARTIGO ORIGINAL

OLIVEIRA, Daniela Alves [1]

OLIVEIRA, Daniela Alves. Uma Análise Pedagógica Dentro Da Literatura: A Trajetória Escolar
Do Personagem Cazuza De Viriato Correia. Revista Científica Multidisciplinar Núcleo do
Conhecimento. Ano 06, Ed. 04, Vol. 15, pp. 136-150. Abril de 2021. ISSN: 2448-0959, Link de
acesso: https://www.nucleodoconhecimento.com.br/educacao/analise-pedagogica

Contents

RESUMO
1. INTRODUÇÃO
2. A TRAJETÓRIA ESCOLAR DA PERSONAGEM CAZUZA DE VIRIATO CORREIA E PENSAMENTOS
PEDAGÓGICOS
3. CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS

RESUMO

É possível estudar aspectos pedagógicos dentro de uma literatura. Embasado nessa


afirmação foi realizado esse trabalho. Através dessa pesquisa foi perceptível que algumas
literaturas brasileiras falam da atuação da escola na vida do aluno, como lembranças
inauditas para a sociedade. Dentro desse contexto foi escolhido diante diversas obras, o livro
Cazuza de Viriato Correia. Ele retrata que cada instituição representa um comportamento
relacional entre o aluno e o professor. O livro trata de três escolas em tempo e lugares
diferentes, o efeito e a influência do comportamento dos professores foi o sofrimento do
aluno protagonista. E esse artigo objeta a relação que essa literatura possui com aspectos
encontrados em alguns estudos pedagógicos, sendo estes, apresentar reflexões sobre a
relação professor/aluno analisando o comportamento do Personagem Cazuza, seus
professores e comunidade. A metodologia desse trabalho foi pautada através de um estudo
bibliográfico dando ênfase num olhar pedagógico para Cazuza e seus docentes dentro e fora
do convívio escolar. Com essa análise os pedagogos e demais leitores terão a oportunidade

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de conhecer um personagem literário maranhense, ter parâmetros das tendências escolares


no passado e identificar quais eram seus resultados no discente. Deixando ao leitor a
oportunidade de comparar sua aprendizagem através da análise dessa literatura com a
escola do mundo real.

Palavras-chave: Escola, Tendências, Professor, Aluno.

1. INTRODUÇÃO

O foco desse artigo será pautado sobre uma análise pedagógica dentro da literatura, este
tema que argui sobre a o percurso de um estudante na escola, e isso envolve a interação do
Professor e aluno, afetos, família etc. Tudo dentro da literatura Maranhense Cazuza de Viriato
Correa. Talvez pode-se dizer que essa literatura infanto juvenil será o local da pesquisa de
campo deste trabalho. Por isso é relevante ler a mesma para entender melhor cada
comentário. Ao leitor que ainda não teve contato com o campo de pesquisa dessa análise,
com certeza se sentirá interessado pela leitura da mesma. Fica uma motivação.

Em alguns momentos, não se pode medir o quanto vale, uma simplória atitude do professor
na vida do aluno. É de extrema relevância a forma como o docente atua em sua profissão.
Essa literatura é como um campo de estudo pedagógico que explica através de livros
literários a Relação professor e aluno.

É fascinante, como o tema escola vem ocupando um espaço significativo na rotina diária de
crianças e jovens há muito tempo. Sendo uma vivência partilhada pela maioria da sociedade,
logo passou a beneficiar o ambiente fictício da arte literária. Existem diversas literaturas que
tratam sobre o tema, e como o ambiente escolar em personagens que fascinam os olhos do
leitor, percebe-se isso por exemplo no livro Matilda Roald Dahl, Coração de Edmund Amicis,
Ateneu de Raul Pompéia e entre outros.

O livro Cazuza de Viriato Correia centraliza-se na vida escolar do protagonista, sendo o nome
do livro, este se estrutura como um relato de memórias, sendo narrado em primeira pessoa,
o interessante desse livro é a inovação do padrão, onde traz dois narradores e mostra três
escolas em tempo e lugares diferentes.

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É através destas três escolas agraciadas pelo personagem Cazuza, que se percebe um
estudo pedagógico da relação do aluno com o professor, observe que ao longo da história, ou
seja, ao decorrer do tempo, ocorreu uma evolução perceptiva através das tendências
pedagógicas. E que com essas evoluções e consequentemente mudanças de comportamento
para com o aluno, automaticamente o mesmo, por ser o mesmo em todas as partes, acabam
mudando de atitudes e percepções para com a escola, formando assim uma trajetória de
amadurecimento de afeições.

O livro Cazuza é uma literatura que mostra os traços históricos que essa instituição passou.
Ele é divido em três partes, onde respectivamente analisam-se aspectos das tendências
pedagógicas, desde a Tendência Tradicional, Liberal e Progressista crítico-social na qual
vivemos. O protagonista vive as cenas de guisa intensa, fazendo com que a escola seja um
aparato comparado á relevância da família.

A chave desse artigo está focada em estudar a escola dentro da literatura, respaldando um
estudo entre os parâmetros da interação Professor e aluno na literatura Cazuza e
pensamentos pedagógicos da escola real. O texto organiza-se em cinco partes: Introdução; a
trajetória escolar da personagem Cazuza de Viriato Correia e pensamentos pedagógicos e
Considerações finais.

2. A TRAJETÓRIA ESCOLAR DA PERSONAGEM CAZUZA DE VIRIATO CORREIA E PENSAMENTOS

PEDAGÓGICOS

São diversas as obras que tratam sobre ESCOLA. Mas como diz a autora Vera Maria
Tietzmann Silva em sua obra Literatura Infantil Brasileira um guia para professores e
promotores de leitura:

(…), ainda que carregue nas tintas maniqueístas para acentuar o avanço que a
escola da vila apresenta em relação á escola rural, Viriato Correia exalta a escola
como instituição, reconhece que ela cumpre seu papel de formar o homem
integralmente, inculcando-lhe conhecimentos formais e valores permanentes de
amor ao próximo, justiça, civismo, tolerância. Ou seja, na trajetória escolar de
cazuza, Viriato Correia mostra ao leitor que tanto o protagonista quanto a escola

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conseguem alcançar um patamar satisfatório.(SILVA, 2009, p. 27)

Nessa citação existe uma comparação que o livro mostra da escola rural em relação às
escolas urbanas, hodiernamente isso também é muito frequente de ser contrastado. Além
desse estudo de paradoxo educativo, observa-se a relevância que o educador possui para o
aluno, o que torna a escola ser satisfatória ao decorrer do livro é a convivência do aluno com
o seu docente e família.

Sabe-se que, desde os primórdios o homem sentiu a necessidade de perpassar seus


conhecimentos aos seus sucessores. Se pararmos para analisar, a educação começa nesse
contexto cultural, pois, no ponto de vista sociológico, Pérsio Santos de Oliveira em seu livro
introdução á Sociologia da Educação, diz que:

A educação é uma das atividades básicas de todas as sociedades humanas, pois a


sobrevivência de qualquer sociedade depende da transmissão de sua herança
cultura aos jovens. Toda sociedade, portanto, utiliza os meios necessários para
perpetuar sua herança cultural e ensinar aos mais jovens os costumes do grupo.
(OLIVEIRA, 2002, p.11)

Nessa passagem a educação está definida como uma socialização de saberes que perduram,
alguns filósofos estudavam embaixo de arvores, com o tempo o local de socializar as
informações foi mudando, até que se tornou conhecido como escola, esta passou por
diversas alterações para uma interação plausível de saberes.

Essa literatura infanto-juvenil é dividida em três partes no qual cada parte é uma fase da
vida do protagonista Cazuza, essa fase é especificada principalmente na escola, cada escola
vivida pelo personagem tem peculiaridades, tempo e lugares distintos, que também se
percebe traços de algumas tendências pedagógicas.

Sua estrutura narrativa considera-se uma história dentro da história, sendo um memorial de
relatos e experiências de um adulto quando fora criança. No inicio de sua obra é explicado o
porquê do título Cazuza, onde o autor explica que recebeu um manuscrito de seu vizinho
chamado pelo povo por Cazuza, o manuscrito era intitulado História Verdadeira de um
Menino de Escola, o vizinho havia viajado, e o autor não viu mais o sujeito. Viriato lia o

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manuscrito para os sobrinhos, e os mesmos abreviaram carinhosamente o nome do livro


para Cazuza para facilitar as petições de leitura. Assim o autor acabou colocando este nome
por opinar ser mais curto, infantil e Brasileiro.

A primeira parte do livro, trata do desejo que o Cazuza tinha de ir para a escola, o mesmo
tinha muita vontade de trocar suas vestes de crianças para usar calças, além disso, o
protagonista diz: “(…) o primeiro contato que tive com uma escola foi através de uma festa.
E ficou-me na cabeça a ideia de que a escola era um lugar de alegria.” (CORREIA, 1984, p.
13.) esse trecho deixa implícito a ideia de um engano, que logo foi comprovado quando ele
explica que o nome dessa festa animada se chamava “festa da palmatória”. Neste dia festivo
por ser o ultimo dia de aula. A escola amanhecia enfeitada com flores e os alunos quando o
professor saía, aprontavam brincadeiras com anseio da morte do objeto.

Observe que a escola dessa época é temida pelos alunos. As características físicas da escola
simbolizavam a pobreza,

As escolas antigamente não tinham, às vezes, mobiliário que prestasse, material


de ensino que servisse, professores que cuidassem das lições, mas… uma
palmatória, rija, feita de boa madeira, não havia escola que não tivesse.
(CORREIA, 1984, p.14)

A escola ficava no fim da rua, num casebre de palha com biqueiras de telha,


caiado por fora. Dentro – unicamente um grande salão, com casas de maribondos
no teto, o chão batido, sem tijolo. De mobiliário, apenas os bancos e as mesas
estreitas dos alunos, a grande mesa do professor e o quadro-negro arrimado ao
cavalete. (CORREIA, 1984, p.28)

Essa passagem mostra que a escola não tinha estruturas rebuscadas, pelo contrário, era
simples e pacata. E isso também é uma vertente que auxiliava os alunos á não gostarem da
escola.

Em diálogos com os amigos sobre a ida para a escola, o medo e comentários dos colegas de
rua alerta o protagonista, porém em seu primeiro dia de aula ele logo muda suas alertas para
verídicas decepções,

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A minha decepção começou logo que entrei. Eu tinha visto aquela sala num dia de
festa, ressoando pelas vibrações de cantos, com bandeirinhas tremulantes, ramos
e flores sobre a mesa. Agora ela se me apresentava tal qual era: as paredes nuas,
cor de barro, sem coisa alguma que me alegrasse a vista. Durante minutos fiquei
zonzo, como a duvidar de que aquela fosse a casa que eu tanto desejara. E os
meus olhinhos inquietos percorriam os cantos da sala, á procura de qualquer coisa
que me controlasse, nada. As paredes sem caiação, a mobília polida de preto –
tudo grave, sombrio e feio, como se a intenção ali fosse entristecer a
gente.(CORREIA, 1984, p.28)

Procurei um rostinho alegre naqueles rostos. Nenhum. Os meninos pareciam


condenados; olhos baixos, voz assustada e dolorosa expressão de terror na
fisionomia. Tentei encarar o professor e um frio esquisito me correu da cabeça aos
pés. O que eu vira era uma criatura incrível, de cara amarrada, intratável e feroz.
Os nossos olhos cruzaram-se. Senti uma vontade louca de fugir dali. Pareceu-me
estar diante de um carrasco.(CORREIA, 1984, p.29)

Após sair da escola a reação de ansiedade e alegria do cazuza mudou, observe a citação
abaixo:

A Chiquinha perguntou-me, curiosa:

– Cazuza, você gostou?

Eu quis enganar a mim próprio, escondendo a minha decepção, mas o Vavá, que
ainda tinha as orelhas a arder, respondeu prontamente:

– Gostou nada! Quem pode gostar daquilo?! É um inferno. (CORREIA, 1984, p.29)

Ao decorrer da obra ele confessa que a escola não devia ser como uma prisão. A partir
dessas citações observa-se como era a escola, a afetividade negativa entre professor e
aluno, Tudo nessa primeira escola dava medo aos alunos, o Professor João Ricardo não era
um educador ideal, pois representava em todas as cenas de suas aulas, uma pessoa
ameaçadora. Por isso Cazuza preferia estar doente a ir pra escola. E isso retrata exatamente
o ensino tradicional, é priorizado o ensino no professor, os alunos são apenas receptores.

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Augusto Cury fala que fazemos parte de uma sociedade doente e também somos, e com isso
tem-se construído pessoas doentes, na primeira escola de Cazuza clarifica-se a linha de
raciocínio do aluno, onde pelas suas entrelinhas do pensar do protagonista, o professor ideal
gera um aluno ideal, João Ricardo, nesse caso não é ideal e por isso o aluno também não se
sentia como um aluno com tais características, pelo contrário ele como um ser pensante
preferia fugir dessa falta de idealização. Ellen G. White no seu livro Educação já dizia que

a verdadeira educação significa mais do que a prossecução de um certo curso de


estudos. Significa mais do que a preparação para a vida presente. Entretanto (a
escola ou) educação visa o ser todo, e todo o período da existência possível ao
homem. Ou seja, é o desenvolvimento harmônico das faculdades físicas,
intelectuais e espirituais. (WHITE, 2008, p.13)

É com essa reflexão que se compreende que Cazuza por ser aluno, sentiu um impacto no
físico por preferir está doente, no espiritual por ver que para seus amigos a escola era um
inferno, e no intelectual é percebido na cena ‘A aposta de escrita’, aonde cazuza conta o
relato no qual se sentiu injustiçado, pois como diz o título, era uma espécie de competição
em dupla, onde quem tivesse a caligrafia mais bonita poderia receber o prêmio de esbofetear
na mão do colega perdedor a palmatória com uma dúzia de “bolos”(nome dado a cada batida
da palmatória na mão). A injustiça ocorreu por que o professor achou as duas letras
parecidas, sem saber qual era melhor que a outra. Mas como mostra no diálogo abaixo, o
julgamento não foi tão bom como o elogio:

E lançou o julgamento:

– Empate.

Respirei livremente.

O professor entregou-me a palmatória.

– Para que isso? Perguntei.

– Para que há de ser?! Disse-me. Os dois não empataram? Você dá seis “bolos”
nele, e ele lhe dá seis “bolos”.

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Achei aquilo um disparate. Olhei o velho com surpresa.

– Que é que você me está olhando? Roncou ele asperamente.

A minha língua destravou.

– Não posso compreender isso! Exclamei. Por que houve empate? Por que Doca
tem letra boa e eu tenho letra boa, então quem tem letra boa apanha?

João Ricardo ergue-se da cadeira com um berro.

– Não quero novidades! Sempre e sempre foi assim. Atrevido! Quem é aqui o
professor?

E entregou a palmatória ao Doca (CORREIA, 1984, p.52)

Especificamente nessa citação encontra-se além da injustiça, o autoritarismo do professor, e


aversão a mudanças. Incontinenti analisa-se que em todas as passagens, as aproximações
do aluno para perto do professor, o fazia tremer, isso demonstra o quanto o comportamento
do professor tinha influências negativas sobre o aluno, pois tudo que fazia era por medo, e
por isso, pouco era a sua motivação para aprender. Além disso, soma-se a repetição de
exercícios e exigência de memorização nas atividades escolares, resultando em mais fatores
que caracterizam a tendência pedagógica tradicional.

A primeira parte termina quando os pais dos alunos, após verem o resultado das mãos do
filho depois de uma sabatina de tabuada o Cazuza não ia mais á escola, e com um diálogo
com o tio Olavo que é a favor desse sistema de ensino, iria aprender em casa, e depois iria
para vila. E com isso Cazuza sonhou com essa escola onde palmatória já não existia mais.
Logo em seguida seus pais decidem partir para a Vila a procura de uma condição de vida
melhor.

Na segunda parte já começa relatando sobre a vila, que para ele era um verdadeiro
deslumbramento, e claro que o principal encantamento dele foi a escola. O estado físico da
escola não era tão belo, pois como ele mesmo descreve, funcionava num velho casarão de
vastas salas, que devia ter meio século, mas o carinho da Dona Janoca, diretora da escola, a

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escola da vila era bem diferente da escolinha da povoação como o dia o é da noite. Quem
trabalhava na escola era mulheres, o afeto que possuía era maior, além disso, o atrativo na
estrutura física também era notório, pois as professoras como voluntárias mão de obra
pintaram as paredes, e nas mesmas tinha uma infinidade de quadros, bandeiras, mapas,
fotografias, figuras recortadas de revistas, retratos de grandes homens e entre outros
conhecimentos apaixonantes para as crianças que lá estudavam. O vislumbre era tão grande
pra Cazuza, que ele deixava de brincar todo o tempo do recreio para admirar cada detalhe
das paredes.

Sua professora Neném foi a primeira que entrou em seu coração, diferente do professor
carrasco, ela era uma criatura doce, delicada, suavíssima. Uma facilitadora como se
caracteriza o professor na tendência Renovadora progressista. Ficava numa sala com mais
de trinta alunos, entre meninos e meninas. Diferente do Henrique do livro o coração de
Edmundo Amices, livro no qual o autor Viriato Correia se inspirou, que também amava sua
professora, mas só estudava com meninos. Entretanto as histórias e lições de vida
continuava em ambas as literaturas, mostrando temas sobre respeito, bondade etc.

A riqueza não dá superioridade a ninguém, esse e outros ensinos eram muito abordados nas
vivências do Cazuza na Vila, parecido com Henrique do Coração, as diferenças sociais, a
humildade, e as condições de vida de seus colegas são verdadeiras lições de vida que
mechem com o desenvolvimento e com os pensamentos de Cazuza.. É nessa reflexão que se
percebe que Cazuza já está começando a viver um pouco das tendências progressistas.

Na visita do voluntário do Paraguai, relacionado com o protagonista Henrique do livro o


Coração, percebe-se um patriotismo, todavia o que mais chama a atenção é que aquele
voluntário, chamado por Velho Honorato em uma conversa com a diretora Janoca não
compreendia que a diretora não usasse castigar os alunos, e isso nos remete aos contextos
históricos da educação referentes a troca da tendência tradicional da primeira parte do livro
por novas tendências educativas. Pois para a educação extinguir essa base de castigos
houve muitas oposições a serem vencidas. Aqui centra a tendência liberal renovadora, onde
o papel da escola oscila entre adequar a necessidades individuais ao meio social, onde
ocorre formação de atitudes, e onde a escola é modeladora do comportamento humano
através de técnicas específicas.

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O patriotismo da segunda parte do livro se encerra na citação abaixo, quando o velho


Honorário pergunta ao padre se teve uma atitude certa em soltar um prisioneiro jovem
oposto à sua pátria, e o padre em sua resposta nos ensina o valor de uma pátria.

(…) Nunca pode ser um ato mau aquele que é um ato de piedade humana. No
mundo não deve haver povos amigos, povos inimigos; só deve haver irmão. O
bom patriotismo é aquele que se pode praticar juntamente com a fraternidade.
Por que o bom patriotismo não é o que vence as guerras, mas o que realiza a paz
e a concórdia dos homens. (CORREIA, 1984, p.122)

Antes de terminar a segunda parte vê-se o aniversário da Dona Janoca, a diretora da escola
da Vila, e o carinho que a comunidade tem por sua pessoa, gerando dessa forma um grande
contraste com a aversão ao professor e diretor da primeira escola.Além disso, percebe-se
uma lição de vida sobre o perdão, sua amada professora chamada Dona Neném lhes dita um
conto que fala dos fortes e fracos no qual fala que,

Se os pequeninos e os fracos, mesmo sem querer, lhe causam um dano


insignificante, mostra-se ofendida e vinga-se terrivelmente. Mas, se o dano é
causado pelo fortes, finge não perceber.

E concluindo:

– Os verdadeiros valentes são aqueles que se batem com os Gaviões, mas que
sabem perdoar os Mosquitos, ás abelhas e aos Besourinhos. (CORREIA, 1984,
p.128)

Esse relato faz os alunos, e o ledor imbuir cognitivamente à relevância de perdoar e ter
coragem. Ou seja, percebe-se que assim como o ledor obtém uma aprendizagem, Cazuza
através das aprendizagens na escola tem a oportunidade de construir seu próprio caráter.

No ultimo capítulo da segunda parte o protagonista num dos últimos dias de dezembro, no
fim do jantar, descobre que no começo de fevereiro, seu pai ia levá-lo para o colégio, em São
Luís, algo se assemelha com a própria vida do autor, pois Viriato Correia também foi estudar
no internato Liceu Maranhense. A escola quase toda o acompanhou para embarcar para ir á
cidade, que logo era qualquer coisa parecida com ir para o céu. Isso mostra a idealização que

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a segunda escola gerou em Cazuza, ao invés de ser o doente que Cury disse que a sociedade
doente gera, ele se tornou num aluno e ser humano amado, com aprendizagens que
serviram para sua construção para um ser melhor. E com o apito do “gaiola” se encerra a
segunda parte do livro.

A terceira parte começa com a chegada de Cazuza em São Luís. Aos olhos do protagonista
que vinha da roça, São Luís era esplendor das cidades. Ele passou quinze dias na casa da
Titia Calu, conhecendo a cidade, mas na manhã seguinte á partida do pai foi internado no
colégio. Nesse colégio a primeira figura que aparece não é feminina como a anterior, mas é a
figura paternal do diretor que o recepciona e logo o cativa. Mas o mais lhe mexeu na alma foi
a saudade de sua mãe. Apesar dessa saudade, Cazuza conseguiu amigos de quarto.

Sobre a estrutura do colégio, assim como no livro Ateneu de Raul Pompéia era talvez o maior
colégio da cidade, observa-se as descrições abaixo:

O colégio Timbira ficava no largo do palácio, num velho sobrado de azulejos, com
a frente voltada para o mar.

Era um casarão imenso, de escadaria afidalga, com muitas janelas, muitas salas e
muitos quartos. Embaixo funcionavam as aulas primárias e secundárias; em cima,
a secretaria, a sala de estudos, o refeitório e o dormitório.(CORREIA, 1984, p.141)

Quanto aos professores, diz:

Havia os de todos os feitios, os ásperos, os pacientes, os bons, os desleixados, os


que gostavam de dar cascudos e os que não sabiam ensinar senão com berros.

(…) João Câncio era, no entanto, o melhor professor do colégio.

Não havia ninguém mais tolerante, como não havia ninguém mais justo. O que
dizia tinha sempre um tom de novidade. As coisas difíceis tornavam-se fundo do
entendimento como um raio de sol atravessa uma vidraça. (CORREIA, 1984,
p.142)

Apesar de uma aparência a primeira vista desagradável e amedrontadora para Cazuza, aos

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poucos foi entrando ao coração um apego ao Professor. Principalmente quando num domingo
fez um gesto de apreço por uma velhinha negra, aquele professor era um deleite em pessoa,
pois até mesmo quando não estava na sala de aula, atraia as crianças para aprender sobre
os valores da vida. Aqui encontramos o professor Ideal.

Freire (1996), em seu livro Pedagogia da Autonomia, nos deixa claro que nenhuma pessoa é
educada sozinha. Sempre para aprender algo, existirá alguém que ensina. Mesmo que seja a
família, amigos ou um professor. O professor Câncio era ideal por ter como característica a
comunhão educativa, que atraía o saber dos alunos. A amizade e inimizade também é um
tema muito pautado por Cazuza, afinal ninguém é uma ilha. Pois relacionamento é algo
extremamente útil para a vida de todo ser humano.

Dando seguida a vivências de Cazuza, percebe-se que o patriotismo da terceira parte


assemelha-se com o do livro coração, o professor incitava os alunos a realizar composições
acerca do Brasil. Câncio também falava história do Brasil e sobre personagens do mesmo. E o
professor também incitava os alunos a realizar composições acerca do Brasil. Essas lições
levava os alunos a honrar a essência de cada detalhe de seu país e a admirar mais ainda seu
professor.

Com relação ao afeto dos alunos ao professor Cazuza diz em uma visita a catedral, no dia de
Corpus Christi,

Naquele ano, a não ser o diretor( que sempre estava ao nosso lado nos dias de
formatura), João Câncio foi o único professor que nos acompanhou á igreja. De
pernas muito compridas e andar desengonçado, dava a impressão exata de um
macaco. Com aquele andar esquisito, qualquer outro professor provocaria, em
nós, um verdadeiro ataque de gargalhadas. Mas João câncio apenas nos fazia
sorrir. No fundo, nenhum de nós o tinha como professor. O bem que lhe
queríamos era um bem de companheiro e de irmão. (CORREIA, 1984, p.175)

A afetividade entre o protagonista para com o Professor, é um laço que facilita o processo
cognitivo dos alunos, o respeito dos alunos motivava atenção para o saber. Ana Ignez e
Rosemary (2011) no livro psicologia da aprendizagem parafrasearam La Rosa, p.79, no qual
completa essa linha de pensamento em relação á aprendizagem escolar, dizendo

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É importante que o professor ofereça, constantemente, diferentes modelos de


observação para o aluno, considerando a “adequação destes às capacidades dos
alunos e a valência afetiva do professor, ou seja, a atratividade do professor como
modelo para os alunos”. (NUNES e SILVEIRA, 2011, p.74)

No final do ano letivo é feito cerimônia de encerramento, e é entre uma medalha ao melhor
aluno, houve empate e desempate. Cazuza não foi quem disputou o desempate da medalha
de ouro, mas recebeu a medalha de prata, e isso repercutiu positivamente na família, tio
Eugênio e Tia Calu, o parabenizaram, e ele pensava na alegria que o pessoal da vila sentiria
quando visse a medalha. Até que em um passeio ao centro, seu primo Julinho comentou que
ele já tinha terminado o primário. E assim se encerra a terceira e última parte da trajetória
escolar de Cazuza, com a transformação de uma criança em um Homenzinho, provando
assim o gostinho da última tendência, sendo ela progressista Crítico-social dos conteúdos, a
qual alinha e encaminha o discente para o mundo adulto. De fato pela narrativa do livro foi
isso que ocorreu.

Por conseguinte, pelo comportamento dos professores com o aluno destaca-se a relevância
de que ensinar exige respeito à autonomia do ser do educando, pois o respeito à autonomia
e à dignidade de cada um é um imperativo ético e não um favor que podemos ou não
conceder uns aos outros. (FREIRE, 1996 p.31)

Embora se tratando de uma literatura infanto-juvenil, “Cazuza” não se demonstra pequenez,


ao contrário, incita crianças e adultos a refletirem sobre as diversas construções e fronteiras
que são criadas em nossa sociedade. De acordo com a pesquisa de Marianne Machado
denominada A construção feminina em Viriato Corrêa, Artigo do 18º Redor (2014),é
necessário estudar Cazuza de acordo com o cotidiano escolar,

Embora seja uma narrativa da década de 1930, observamos que estas


representações repercutem na atualidade.

(…) Diante disso, faz-se necessário uma maior discussão sobre esta narrativa no
espaço escolar. Segundo Ferro (2010), Viriato Corrêa se propôs a escrever para
um público em formação, sobretudo, a formação da conduta moral e cívica das
crianças. Percebe-se que ele cumpre seu objetivo com a difusão de ideias e ideais

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de sua época. Seria pertinente ainda, investigarmos os usos que são feitos dessa
literatura no cotidiano escolar. (MACHADO, 2014, p.13)

O que terá mudado na escola brasileira, sobretudo a pública, desde a experiência de Cazuza
até nossos dias? a resposta é encontrada na semelhança do personagem com alunos
hodiernos. É certo dizer que houve muitas mudanças. Porém também vale destacar que
apesar dessas variações, ainda existe resquícios de atitudes de professores parecidas com os
de Cazuza, ainda existe casos de escolas rurais com situações precárias, E entre outros
fatores. Mas, Com certeza a evolução das tendências pedagógicas na vida do protagonista é
o que se destaca. As tendências pedagógicas visualizadas na vida escolar do protagonista,
revelam que a escola naturalmente busca uma evolução, e esse progresso beneficia tanto o
aluno quanto o professor.

3. CONSIDERAÇÕES FINAIS

A literatura que foi estudada nesse artigo nos ensina várias particularidades da escola, é
certo que deleitar-se na vida da personagem gera muita alegria para cada leitor. É uma
literatura infanto-juvenil que além de cativar seus leitores, faz um resgate histórico de como
a escola era.

Esse resgate que nos revela o caminho que a escola trilhou, e também incentiva a quem leu
o estudo revelado no artigo a pesquisar como a escola está atualmente, e com isso criar
comparações. Essa trilha pedagógica especifica as tendências. Que nada mais é que retratos
de como foi a história na época.

Antes, para ser um bom educador, bastava saber transmitir conhecimentos e exercer
autoridade em sala de aula. Hoje, o perfil desse educador mudou. Com relação ao
conhecimento, ele não deve mais transmiti-lo, apenas. Deve interagir, discutir e aprender
junto com o educando.

Com essa pesquisa percebeu-se o quanto é relevante a família e a relação do aluno com o
professor. Tudo isso é um fator de extrema importância para o processo de aprendizagem do
aluno, no caso, foi visualizado isso em Cazuza.

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Uma Análise Pedagógica Dentro Da Literatura: A Trajetória Escolar Do
Personagem Cazuza De Viriato Correia

REFERÊNCIAS

CANAL DO EDUCADOR. BRASIL ESCOLA. Tendências Pedagógicas Brasileiras. Disponível em:


https://educador.brasilescola.uol.com.br/trabalho-docente/tendencias-pedagogicas-brasileiras
.htm Acesso em: 20 de novembro de 2019.

CORREIA, Viriato. Cazuza. 32. ed. São Paulo: Ed. Nacional, 1984.

CURY, Augusto. O código da inteligência: A formação de mentes brilhantes e a busca pela


excelência emocional e profissional. Rio de janeiro: Thomas Nelson / Ediouro, 2008

FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. São Paulo:
Paz e Terra, 1996.

MACHADO, Marianne. A construção feminina em Viriato Corrêa. Artigo do 18º REDOR,


Universidade Federal Rural de Pernambuco, Recife – PE, 2014.

NUNES, Ana Ignez Belém Lima. Psicologia da aprendizagem: processos, teorias e contextos.
3. ed. Brasília: Liber livro, 2011.

OLIVEIRA, Pérsio Santos. Introdução á Sociologia da Educação. 3.ed. São Paulo: Ed. Ática,
2002.

SILVA, Vera Maria Tiertzmann. Literatura infantil brasileira: um guia para professores e
promotores de leitura.2. ed.Goiãnia: Cânone Editorial, 2009.

WHITE, Ellen Gould. Educação. Ed. Casa Publicadora Brasileira, 2008.

[1]
Graduada em Pedagogia (Faculdade Futura) e Letras. Licenciatura em Língua Portuguesa e
suas literaturas (UEMA). Pós-graduada em Administração Escolar e Supervisão Escolar. Pós-
graduada em Metodologia De Ensino De Língua Portuguesa, Literatura E Língua Espanhola.
Pós-graduada em Informática Da Educação e Docência Do Ensino Superior. (ambas na
Faculdade Futura).

Enviado: Novembro, 2021.

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Uma Análise Pedagógica Dentro Da Literatura: A Trajetória Escolar Do
Personagem Cazuza De Viriato Correia

Aprovado: Abril, 2021.

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