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ELETRICIDADE E ELETRICIDADE E

Eletricidade e Magnetismo
MAGNETISMO MAGNETISMO
Juliana Ikebe Otomo Juliana Ikebe Otomo

Ao mencionar o termo eletricidade, imediatamente pensamos nos equipamentos ele-


trônicos presentes em nosso dia a dia, como celular, computador, geladeira, fogão, en-
tre outros. Você já parou para pensar como é gerada a energia elétrica que faz funcio-
nar esses equipamentos? Como acontece a interação entre as cargas elétricas para que
todos esses equipamentos funcionem? Você sabia que a eletricidade existia antes da
energia elétrica ser descoberta por Benjamin Franklin?
O termo eletricidade é empregado para designar o movimento de elétrons produzido a
partir de um objeto condutor. Toda matéria existente é dotada de cargas elétricas – os
prótons e os elétrons – que, em grande parte do tempo, são mantidas neutralizadas
umas pelas outras. O movimento dos elétrons para gerar a eletricidade necessita de um
desequilíbrio entre essas cargas. É neste momento que introduzimos o segundo termo,
o magnetismo.
O magnetismo é uma propriedade de determinados metais e ímãs, e a distribuição dos
prótons e elétrons nesses materiais não ocorre de maneira uniforme, formando polos

GRUPO SER EDUCACIONAL


negativos e positivos, induzindo o movimento de elétrons em outros materiais.
As propriedades das cargas elétricas e as interações que ocorrem entre elas para gerar
energia será explorada neste conteúdo.

gente criando o futuro

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Presidente do Conselho de Administração Janguiê Diniz

Diretor-presidente Jânyo Diniz

Diretoria Executiva de Ensino Adriano Azevedo

Diretoria Executiva de Serviços Corporativos Joaldo Diniz

Diretoria de Ensino a Distância Enzo Moreira

Autoria Juliana Ikebe Otomo

Projeto Gráfico e Capa DP Content

DADOS DO FORNECEDOR

Análise de Qualidade, Edição de Texto, Design Instrucional,

Edição de Arte, Diagramação, Design Gráfico e Revisão.

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Recife-PE – CEP 50100-160

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Boxes

ASSISTA
Indicação de filmes, vídeos ou similares que trazem informações comple-
mentares ou aprofundadas sobre o conteúdo estudado.

CITANDO
Dados essenciais e pertinentes sobre a vida de uma determinada pessoa
relevante para o estudo do conteúdo abordado.

CONTEXTUALIZANDO
Dados que retratam onde e quando aconteceu determinado fato;
demonstra-se a situação histórica do assunto.

CURIOSIDADE
Informação que revela algo desconhecido e interessante sobre o assunto
tratado.

DICA
Um detalhe específico da informação, um breve conselho, um alerta, uma
informação privilegiada sobre o conteúdo trabalhado.

EXEMPLIFICANDO
Informação que retrata de forma objetiva determinado assunto.

EXPLICANDO
Explicação, elucidação sobre uma palavra ou expressão específica da
área de conhecimento trabalhada.

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Sumário

Unidade 1 - Cargas e forças elétricas


Objetivos da unidade............................................................................................................ 12

Cargas elétricas.................................................................................................................... 13
Definição de átomo.......................................................................................................... 13
Carga elétrica conservada ............................................................................................ 18
Carga elétrica quantizada............................................................................................... 21
Condutores e isolantes.................................................................................................... 24
Carga por indução............................................................................................................ 25

Forças elétricas..................................................................................................................... 27
Lei de Coulomb.................................................................................................................. 27
Força elétrica no hidrogênio.......................................................................................... 30
Superposição das forças................................................................................................ 31
Comparativo entre força elétrica e força gravitacional............................................ 37

Sintetizando............................................................................................................................ 40
Referências bibliográficas.................................................................................................. 41

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Sumário

Unidade 2 - Campos elétricos e capacitância


Objetivos da unidade............................................................................................................ 44

Campos elétricos................................................................................................................... 44
Campo elétrico produzido por uma partícula.............................................................. 46
Campo elétrico produzido por um dipolo elétrico....................................................... 50
Fluxo elétrico..................................................................................................................... 51
Lei de Gauss...................................................................................................................... 54

Potencial elétrico.................................................................................................................. 57

Capacitância.......................................................................................................................... 63
Capacitores de placas paralelas................................................................................... 65
Capacitores em série e em paralelo............................................................................. 66
Energia armazenada em um campo elétrico............................................................... 71
Capacitor com um dielétrico.......................................................................................... 71

Sintetizando............................................................................................................................ 73
Referências bibliográficas.................................................................................................. 75

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Sumário

Unidade 3 - Correntes e resistências elétricas


Objetivos da unidade............................................................................................................ 77

Correntes elétricas............................................................................................................... 78
Geração da corrente elétrica......................................................................................... 78
Densidade de corrente.................................................................................................... 80
Velocidade de deriva....................................................................................................... 81

Resistências elétricas.......................................................................................................... 83
Lei de Ohm ........................................................................................................................ 91
Força eletromotriz............................................................................................................ 93
Semicondutores e supercondutores........................................................................... 100

Sintetizando.......................................................................................................................... 103
Referências bibliográficas................................................................................................ 104

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Sumário

Unidade 4 - Circuitos elétricos, magnetismo e campos magnéticos


Objetivos da unidade.......................................................................................................... 106

Circuitos elétricos .............................................................................................................. 107


Circuito de resistores em série e paralelo................................................................. 107
Circuitos com mais de uma malha............................................................................... 112
Amperímetro e voltímetro............................................................................................. 116
Circuitos RC..................................................................................................................... 119

Magnetismo e campos magnéticos................................................................................. 122


Definição de campo magnético................................................................................... 123
Definição de força magnética...................................................................................... 125
Lei de Biot-Savart........................................................................................................... 130

Sintetizando.......................................................................................................................... 133
Referências bibliográficas................................................................................................ 135

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Apresentação

Olá, aluno(a). Seja bem-vindo(a) à nossa disciplina! Você está a poucas pági-
nas de conhecer uma nova forma de ver os objetos ao seu redor.
Ao mencionar o termo eletricidade, imediatamente pensamos nos equipamen-
tos eletrônicos presentes em nosso dia a dia, como celular, computador, geladeira,
fogão, entre outros. Você já parou para pensar como é gerada a energia elétrica
que faz funcionar esses equipamentos? Como acontece a interação entre as car-
gas elétricas para que todos esses equipamentos funcionem? Você sabia que a ele-
tricidade existia antes da energia elétrica ser descoberta por Benjamin Franklin?
O termo eletricidade é empregado para designar o movimento de elétrons
produzido a partir de um objeto condutor. Toda matéria existente é dotada de
cargas elétricas – os prótons e os elétrons – que, em grande parte do tempo,
são mantidas neutralizadas umas pelas outras. O movimento dos elétrons para
gerar a eletricidade necessita de um desequilíbrio entre essas cargas. É neste
momento que introduzimos o segundo termo, o magnetismo.
O magnetismo é uma propriedade de determinados metais e ímãs, e a
distribuição dos prótons e elétrons nesses materiais não ocorre de maneira
uniforme, formando polos negativos e positivos, induzindo o movimento de
elétrons em outros materiais.
As propriedades das cargas elétricas e as interações que ocorrem entre
elas para gerar energia será explorada neste conteúdo.

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A autora

A professora Juliana Ikebe Otomo é


doutora em Tecnologia Nuclear – Mate-
riais pelo Instituto de Pesquisas Energé-
ticas e Nucleares (IPEN) em 2015, mestra
em Tecnologia Nuclear pela Universida-
de de São Paulo (2010) e graduada em
Engenharia Ambiental (2007) pela Fa-
culdade Oswaldo Cruz. Trabalha, des-
de 2016, como professora do curso de
Engenharia Civil, lecionando disciplinas
de Hidráulica, Saneamento, Fenômenos
de Transporte, Instalações Hidráulicas
Prediais, Cinemática e Dinâmica, Cálculo
Diferencial e Integral.

Currículo Lattes:
http://lattes.cnpq.br/1635328092311925

Eu dedico este livro aos meus pais por me proporcionarem uma formação
pessoal e acadêmica de qualidade, mesmo com todas as dificuldades.
Dedico à minha orientadora acadêmica, sempre presente, me apoiando e
me incentivando em minhas atividades. Por fim, dedico ao meu marido pela
compreensão e apoio.

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UNIDADE

1 CARGAS E FORÇAS
ELÉTRICAS

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Objetivos da unidade
Descoberta da estrutura do átomo;
Definir o átomo e seus componentes;
Definir o que são cargas elétricas;
Apresentar características importantes das cargas elétricas;
Definir condutores e isolantes;
Conceituar o termo força elétrica;
Apresentar a lei de Coulomb;
Apresentar como ocorre a interação de forças entre duas cargas;
Apresentar o princípio da superposição das forças;
Apresentar como ocorre a interação das forças em um conjunto de cargas;
Resolver exemplos práticos.

Tópicos de estudo
Cargas elétricas
Definição de átomo
Carga elétrica conservada
Carga elétrica quantizada
Condutores e isolantes
Carga por indução

Forças elétricas
Lei de Coulomb
Força elétrica no hidrogênio
Superposição das forças
Comparativo entre força elétri-
ca e força gravitacional

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Cargas elétricas
Um clássico experimento no estudo de cargas elétricas consiste em utilizar
dois bastões de vidro igualmente atritados com um pedaço de seda. O primeiro
bastão é suspenso por um barbante e, ao aproximarmos o segundo bastão do
bastão suspenso, observa-se que o primeiro se afasta (Figura 1), mesmo sem
haver contato entre os dois. Na segunda parte do experimento, substituímos
o segundo bastão de vidro por um bastão de plástico e o esfregamos com um
pedaço de lã. Aproxima-se o bastão de plástico do bastão suspenso, mas agora
o bastão de vidro irá se aproximar do bastão de plástico (Figura 1).
Neste tópico, vamos descobrir porque e como isso ocorre.

Vidro Vidro
-F
-F
Vidro Plástico

-F

(a) (b)
Figura 1. Interação entre bastões. Fonte: HALLIDAY; RESNICK, 2016, p. 30. (Adaptado).

Definição de átomo
O estudo sobre cargas elétricas será iniciado pela definição de átomo. O
átomo, ao longo dos séculos XIX e XX, recebeu diferentes propostas para seu
modelo até alcançar sua definição atual.
Define-se matéria como todo corpo dotado de massa que ocupa um lugar. A
partir deste conhecimento, no ano 450 a.C., os filósofos Demócritos e Leucipo,

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na Grécia Antiga, imaginaram que toda matéria existente poderia ser dividida
até determinado ponto, no qual se chegaria a uma fração indivisível. A essa
fração foi dada o nome de átomo, que em grego significa indivisível.
Inicia-se, então, o desenvolvimento de diversas teorias e modelos, a fim de
decifrar a estrutura de uma partícula, que até então era desconhecida. Dentre
os modelos mais conhecidos, estão o modelo de Dalton, Thomson, Rutherford
e Bohr, e Schrödinger.
A Figura 2 apresenta as definições dos modelos atômicos propostos por
diferentes estudiosos em diferentes períodos.

O elétron se comporta como uma


Átomos possuem forma esférica
onda. Definiu o orbital das cama-
não maciça. O átomo é neutro,
das de energia, o que permitiu
formado por uma massa de
definir a geometria molecular das
cargas positivas, por onde os elé-
substâncias químicas e, assim,
trons se distribuem e podem ser
deduzir suas propriedades físicas
transferidos a outros átomos.
e químicas.

Dalton (1803) Thomson (1904) Rutherford e Bohr (1913) Schrödinger (1926)

Bola de bilhar Pudim de passas Modelo solar Modelo de orbitais atômicos


O átomo é uma esfera maciça,
O átomo possui um núcleo e os
indivisível e indestrutível. Um
elétrons orbitam ao seu redor.
elemento químico é composto
Os elétrons possuem 7 níveis de
por átomos de mesmo tamanho e
energia. Os átomos entendem ou
massa. Átomos de diferentes ele-
absorvem luz quando um elétron
mentos químicos apresentam dife-
“salta” de um nível de energia
rentes propriedades. Os átomos se
para outro.
diferenciam pelo seu peso.

Figura 2. Definição do modelo atômico em diferentes períodos. Fonte: Shutterstock. Acesso em: 08/11/2019. (Adaptado).

Em 1803, o químico John Dalton propôs o primeiro modelo atômico basea-


do em dados experimentais. Entretanto, sua proposta, conforme mostra a Fi-
gura 2, não apresentava com clareza a estrutura do átomo e sua comprovação
experimental era falha.
Passado um século, Joseph John Thomson (físico inglês) introduziu o con-
ceito de partículas subatômicas de carga negativa (conceituada por Benjamin
Franklin no século XVIII) após descobertas feitas por Geissler e Crookes em
experimentos com tubo de raios catódicos. Assim, contrariando a ideia do pri-
meiro modelo de átomo proposto por Dalton, Thomson descreveu o átomo

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como uma esfera não maciça, afirmando que o átomo é neutro e que possui
partículas subatômicas positivas, uma vez que se comprovou a existência de
partículas subatômicas negativas. Essas partículas podiam ser transferidas a
outro átomo em condições favoráveis.

CURIOSIDADE
Geissler e Crookes, em experimentos complementares, utilizaram uma
ampola de vidro preenchida com gás sob baixa pressão. Um eletrodo com
carga positiva era mantido em uma extremidade e outro eletrodo de carga
negativa era mantido na outra extremidade, gerando uma descarga elétri-
ca no gás. O resultado dessa descarga foi um raio luminoso concentrado
na extremidade oposto ao elétrodo negativo. Deduziram, então, que o gás
possuía uma partícula de carga negativa, que posteriormente foi denomina-
da elétron. A reprodução deste resultado com diferentes tipos de gases fez
com que concluíssem que todos os gases são constituídos por elétrons.

Alguns anos depois, em 1913, Ernest Rutherford e Niels Bohr postularam


um modelo atômico constituído por uma massa central chamada núcleo, com
órbitas de elétrons ao seu redor. Bohr dividiu os elétrons entre as órbitas, cha-
mando-as de camada de energia, sendo que cada camada possuía capacidade
limitada para armazenar elétrons, que representavam a quantidade de energia
da camada. Portanto, as camadas possuíam quantidades diferentes de energia.
O grande diferencial entre os modelos apresentados foi a possibilidade de
transferência de elétrons entre as camadas de energia. Bohr determinou que
os elétrons podiam transitar de uma camada para outra, absorvendo luz ao
passar de uma camada menos energética para outra mais energética. Na si-
tuação inversa, quando voltavam da camada mais energética para a de menos
energia, emitiam luz. As camadas de energia e o número de elétrons que as
constituem, pela definição de Bohr, são relacionados da seguinte forma:
1. Camada K: comporta até 2 elétrons;
2. Camada L: comporta até 8 elétrons;
3. Camada M: comporta até 18 elétrons;
4. Camada N: comporta até 32 elétrons;
5. Camada O: comporta até 32 elétrons;
6. Camada P: comporta até 18 elétrons;
7. Camada Q: comporta até 2 elétrons.

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Neste modelo de camadas, a camada denominada K está mais próxima do
núcleo e a Q está mais afastada. Os elétrons existentes na camada Q (camada
de valência) podem ser transferidos a outros átomos, resultando nas ligações
químicas que formam moléculas e substâncias.
Por fim, o modelo de Schrödinger acrescentou ao modelo de Bohr a dis-
tribuição dos elétrons em subcamadas (ou subníveis de energia), auxiliando
na definição da geometria molecular das substâncias químicas e permitindo
prever suas propriedades físicas e químicas.
Sumariamente, o átomo é constituído por um núcleo formado por nêutrons
(partículas sem carga), prótons (partículas de cargas positivas) e elétrons,
que orbitam o átomo. A Figura 3 apresenta o modelo atômico, mais popular e
utilizado. Diz-se que um átomo é neutro quando a quantidade de prótons é igual
a de elétrons, sendo o número total de prótons em um átomo, uma característica
de cada elemento químico. Assim, cada elemento químico tem um número de
prótons, que é definido como seu número atômico e é representado pela letra Z.

ÁTOMO

PRÓTON NÊUTRON

NÚCLEO

ELÉTRON
Figura 3. Estrutura do átomo de Rutherford e Bohr. Fonte: Shutterstock. Acesso em: 01/11/2019.

Sendo que os valores aproximados são:


Próton: tem carga positiva e massa em repouso de 1,673 . 10 -27 kg;
Nêutron: tem carga neutra e massa em repouso de 1,675 . 10 -27 kg;
Elétron: tem carga negativa e massa em repouso de 9,109 . 10 -31 kg.

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CURIOSIDADE
Os nêutrons (N) e prótons (P) são formados por um conjunto de três quarks.
Os quarks são partículas carregadas eletricamente que se diferenciam em
seis tipos: up, down, strange, charm, bottom e top. Os quarks que compõem
os N e P são do tipo up e down, de carga elétrica + 23 e - 13 , respectivamen-
te. A composição dos N é de 2 quarks down e 1 up, enquanto o P é formado
por 2 quarks up e 1 down. A força de atração entre esses quarks mantém os
P e N ligados, formando o núcleo do átomo. Essa força de atração é denomi-
nada Força Nuclear Forte (FNF).

Os elétrons se distribuem pelas camadas de energia que são atraídas pelo


núcleo do átomo, pois carga negativa atrai carga positiva. As camadas mais
próximas são mais fortemente atraídas, enquanto as camadas mais externas
são atraídas com menor intensidade. Por essa razão, a camada de valência
pode receber elétrons de outros átomos, bem como transferir elétrons. Nas
duas situações, o átomo torna-se um íon, podendo ser um íon positivo se per-
der elétrons (ou seja, perde carga negativa) ou um íon negativo se receber elé-
trons (ou seja, recebe carga negativa). Essa transferência de elétrons recebe o
nome de ionização.
O conceito das cargas elétricas foi de extrema importância para o desen-
volvimento de diversas áreas do conhecimento. Você já pensou no quanto de
Física existe dentro de uma impressora a laser, por exemplo?
O cilindro de impressão de uma impressora a laser é um objeto fotossensí-
vel (sensível à radiação da luz) carregado positivamente. Ao iniciar o processo
de impressão, o cilindro começa a girar e o raio laser ilumina as áreas selecio-
nadas, carregando-as negativamente. O toner de impressão é constituído por
um pó de carga positiva, que é atraído pela carga oposta da área iluminada
pelo laser. Ao colocar um papel sobre o cilindro de impressão, o pó adere a essa
superfície, reproduzindo a imagem ou o texto.
Outro exemplo de cargas elétricas muito interessante é sua aplicação em
equipamentos que visam identificar uma ou mais moléculas (ou átomos) pre-
sentes em uma substância ou solução de diferentes compostos químicos. Es-
ses equipamentos são chamados de espectrômetro de massas e são empre-
gados para solucionar casos da área forense, realizar análise de doping em
jogos esportivos, na indústria farmacêutica e clínica, em análises químicas e

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ambientais, entre outras. Além disso, esse foi um dos equipamentos utilizados
para descobrir se existe água em Marte.

CURIOSIDADE
O espectrômetro de massas foi projetado pelo químico Joseph John Thom-
son. Seu princípio básico é ionizar uma molécula e direcioná-la para dentro
de um analisador de massas que irá filtrar relações de massa/carga (m/z)
específicas, selecionadas de acordo com o objetivo da análise. No analisa-
dor de massa, é mantido um alto vácuo para que somente a força de carga
elétrica estabelecida atue na repulsão de m/z indesejáveis. Desse modo, a
m/z desejada permanece livre de interação de outras cargas e pode alcan-
çar o detector, que transforma o sinal recebido em um gráfico chamado
espectro de massas.

Carga elétrica conservada


Agora que já sabemos que toda matéria é constituída por átomos possui-
dores de cargas positivas e negativas que, naturalmente, se mantêm equilibra-
das, permanecendo em equilíbrio estático ou neutras, é importante saber que,
quando um objeto perde elétrons, ele tende a recebê-los de outro material
para retornar ao estado de equilíbrio.
Por outro lado, se um objeto recebe elétrons, ele tende a transferir es-
ses elétrons em excesso para outro material, a fim de retornar ao estado
de equilíbrio. Dessa forma, o atrito altera a temperatura do material, causan-
do uma alteração na distribuição de energia dos elétrons e possibilitando sua
transferência para outro.
A partir desse ponto, sabemos também que os elétrons podem ser trans-
feridos de um átomo para outro. Analogamente, pode-se considerar que os
elétrons são transferidos de uma substância para outra, ou de um objeto para
outro, quando colocados em contato. Isso ocorre porque alguns corpos pos-
suem maior afinidade por elétrons do que outros.
Mesmo que um corpo receba uma carga de elétrons extra, ele se torna mo-
mentaneamente carregado negativamente. Da mesma forma, os que perdem
elétrons tornam-se momentaneamente carregados positivamente e buscam
recuperar os elétrons perdidos, ou ceder os elétrons recebidos para voltar ao
seu estado neutro.

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Assim, pode ser apresentado o princípio da conservação da carga elé-
trica. De acordo com Young e Freedman, autores do livro Física III – Eletromag-
netismo, publicado em 2009, “a soma algébrica de todas as cargas elétricas
existentes em um sistema isolado permanece sempre constante” (p. 4).
Podemos entender esse princípio utilizando o experimento dos bastões,
mostrado na Figura 1. Na primeira parte do experimento, foram utilizados dois
bastões de vidro, um barbante e um pedaço de seda. Esses quatro materiais
compõem o sistema para a realização do experimento. Inicialmente, todos os
materiais estão neutros (a quantidade de carga positiva é igual à quantidade
de carga negativa em cada material) e considera-se a soma de todas as cargas
positivas e negativas como a carga total do sistema.
Ao atritar a seda nos dois bastões de vidro, nota-se que ela está retirando
os elétrons do bastão. Assim, os dois bastões ficam carregados positivamente
(+) e a seda fica carregada negativamente (-), como mostra a Figura 4. O total de
elétrons que foram removidos dos bastões é igual ao total de elétrons que per-
manecem na seda. Desse modo, a somatória das cargas no sistema dos quatro
materiais não muda. Nenhuma carga é perdida, criada ou destruída, o que ocor-
re é a transferência de carga entre os materiais que compõem o mesmo sistema.
É importante salientar que são os elétrons que são removidos ou adicionados
ao objeto, os prótons são cargas fixas que permanecem presas ao núcleo do átomo.

Antes de atritar Depois de atritar


Bastão de Bastão de vidro
vidro neutro --------- carregado (+)
--------- +++++++
---------
---------

Pano de seda neutro Pano de seda carregado (-)

Antes de atritar Depois de atritar

+++++ -
---
+++++ ---
Bastão de +++++ Bastão de
plástico (neutro) +++++ plástico (-)

Pano de lã (neutro) Pano de lã (+)


Figura 4. Experimento de transferência de carga dentro de um sistema. Fonte: Shutterstock. Acesso em: 01/11/2019.

ELETRICIDADE E MAGNETISMO 19

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Com o experimento dos bastões, podemos concluir que materiais iguais, ao
serem ionizados, são igualmente carregados por cargas negativas ou positivas,
o que faz com que ambos se afastem. Por outro lado, quando se ioniza materiais
diferentes, um dos materiais adquire carga positiva enquanto o outro adquire
carga negativa, fazendo com que se atraiam quando aproximados um do outro.
Por esta razão que, como visto na segunda parte da experiência, mostrada pela
Figura 4, o bastão de plástico, quando atritado pelo pano de lã, recebe os elétrons
do pano de lã, ficando carregado negativamente (-). Assim, ao aproximar o bastão de
plástico do bastão de vidro, que está carregado positivamente (+), ambos se atraem.
A partir deste experimento, Benjamin Franklin definiu cargas positivas e
cargas negativas. Além disso, estabeleceu uma série triboelétrica (do grego
fricção), apresentada no Quadro 1.

QUADRO 1. SÉRIE TRIBOELÉTRICA DE ALGUNS MATERIAIS

Menor afinidade com e- Amianto

Vidro

Náilon

Chumbo

Seda

Alumínio

Papel

Algodão

Aço

Plástico (ebonite)

Níquel e cobre

Latão e prata

Borracha sintética

Orlom (fibra têxtil sintética)

Saran (tipo de plástico)

Polietileno

Teflon

Maior afinidade com e- Borracha de silicone


Fonte: TIPLER, 2015, p. 3. (Adaptado).

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A afinidade desses materiais por elétron é representada de forma crescente
de cima para baixo, ou seja, a borracha de silicone possui mais afinidade por
elétrons do que o amianto.
Por exemplo, escolhemos dois materiais da série: a seda e o alumínio. Ao fric-
cionarmos esses dois materiais, transferimos elétrons da seda para o alumínio,
pois o alumínio está abaixo da seda nessa relação de materiais triboelétricos.
Portanto, o alumínio possui maior afinidade em receber elétrons do que a seda.
Considere outro sistema, composto por uma pessoa calçando um sapato de
borracha sobre um carpete de lã em um ambiente de baixa umidade do ar. Ao
caminhar sobre o carpete, o atrito entre a borracha e a lã faz com que os elétrons
do carpete sejam transferidos para o sapato, pois a borracha tem maior afinida-
de em receber elétrons do que a lã (como visto da série triboelétrica da Tabela 1).
Assim, o sapato e, consequentemente, a pessoa que o calça, ficam carre-
gados negativamente. Ao entrar em contato com a maçaneta da porta, esses
elétrons em excesso são descarregados na maçaneta, criando uma centelha
elétrica e causando um pequeno choque. Em ambientes com umidade do ar
mais alta, dificilmente irá acontecer essa sobrecarga negativa no sapato (e na
pessoa que o calça), pois as moléculas de água presentes no vapor d’água neu-
tralizam os elétrons, evitando que se acumulem excessivamente.
Agora que sabemos como ocorre a transferência de elétrons entre os mate-
riais, podemos entender o que exatamente acontece na Figura 4: o bastão de
vidro perde elétrons para seda, pois se encontra acima dela na série triboelé-
trica, ficando positivamente carregando. O contrário acontece entre o plástico
e a lã: por ter menor afinidade por elétrons do que o plástico, ela fica positiva-
mente carregada ao atritá-lo.

Carga elétrica quantizada


Além do princípio de conservação das cargas, é importante que você conheça
o princípio da carga elétrica quantizada. Esse princípio estabelece uma rela-
ção fundamental entre a carga elétrica total de diferentes objetos com uma car-
ga única, a carga do elétron. Ou seja, a carga elétrica de qualquer material repre-
senta um múltiplo inteiro da carga elétrica de um elétron ou próton (pois ambos
possuem mesmo módulo), que é definida como uma unidade de carga natural.

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Esse princípio propõe que nenhuma carga elétrica pode ser dividida a uma
quantidade menor do que a unidade da carga natural. A carga observável de
qualquer objeto é expressa a seguir:
Q=±N.e
Sendo:
N = quantidade de elétrons, representada por um número inteiro;
e = carga natural (carga elétrica de 1 elétron ou próton);
± = sinal indica se a carga está relacionada ao elétron (-) ou ao próton (+).
Para explicar melhor o princípio da quantização, vamos fazer uma analogia
com o dinheiro. Supondo que um objeto custe R$ 100,00 e você deseje parcelar
esse valor no máximo de parcelas possíveis. Assim, o menor valor que se pode
pagar em cada parcela é o de R$ 0,01 (1 centavo) e você terá 10.000 parcelas. Ou
100
seja, o valor total de R$ 100 é um múltiplo inteiro de R$ 0,01 0,01 = 10000 .
Desse modo, assim como R$ 0,01 é o menor múltiplo para quantizar o dinhei-
ro, a carga do elétron é empregada na quantização da carga elétrica de qualquer
matéria, pois não pode ser dividida a uma partícula menor do que ela mesma.
Para termos uma ideia da quantização com um exemplo prático, quando
transferimos os elétrons de um pedaço de lã para um tubo de plástico, o tubo
de plástico passa a ter 1010 elétrons a mais do que a lã.
A medição da carga elétrica é feita pela unidade de coulomb no Sistema Inter-
nacional (SI), estabelecendo uma relação com a carga natural mostrada a seguir:
e = 1,602177 . 10 -19C ≈ 1,60 . 10 -19C
Exemplo 1.
Quantização da carga
Em um laboratório, é possível produzir uma carga de 50 nC (lê-se nano-
coulombs, n = 10 -9) ao atritar-se um objeto com outro. Qual é a quantidade de
elétrons transferidos para produzir essa carga?
Resolução:
Se a carga elétrica de um corpo é dada por:
Q=±N.e
Em que:
N = quantidade de elétrons, representada por um número inteiro
e = carga natural = 1,60 . 10 -19C
Q = 50nC = 50 . 10 -9C

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Têm-se:
Q=±N.e
50 10 C = N . 1,60 . 10 -19C
. -9

50 . 10 -9C
N= = 312500000000 elétrons
1,60 . 10 -19C
N = 312500000000 elétrons
Exemplo 2.
Quantidade de carga
Qual é a carga elétrica de uma moeda de cobre (número atômico Z = 29) de
massa de 3,10 g?
Resolução:
Sabemos que a carga total de um objeto resulta da multiplicação da quanti-
dade de elétrons pela carga natural (carga do elétron). O número de elétrons de
um elemento (ou átomo) corresponde a seu número atômico (aquele que vemos
na tabela periódica), portanto, o átomo de cobre possui um total de 29 elétrons.
Entretanto, uma moeda de cobre é formada por mais de um átomo. Assim,
é necessário determinar quantos átomos de cobre compõem uma moeda de
massa igual a 3,10 gramas.
Para determinar a quantidade de átomos de determinado elemento em um
material, devemos utilizar o número de Avogadro, que corresponde a 6,02 . 1023
átomos (ou moléculas, ou partículas ou íons) presentes em 1 mol do elemento.
Outra informação do elemento que precisa ser conhecida é sua massa, que
também é encontrada na tabela periódica e representa a massa que constitui
1 mol daquele elemento. A massa do cobre é de 63,5 g/mol. Portanto, há 63,5 g
de cobre em 1 mol deste elemento.
Sendo assim, para determinar a quantidade de elétrons presentes em 3,1
gramas de uma moeda de cobre, precisamos saber quantos átomos de cobre
estão presentes nessa massa de moeda.
Sabendo que 1 mol de cobre possui 63,5 gramas e 6,02 . 1023 átomos, quan-
tos átomos de Cobre temos em 3,1 g?
Faremos uma simples regra de três:
63,5 g → 6,02 . 1023 átomos
3,1 g → x
3,1 . 6,02 . 1023
x= = 2,94 . 1022 átomos de cobre
63,5

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Determinou-se, então, que a moeda possui 2,94 . 1022 átomos de cobre.
Agora, podemos determinar a quantidade de elétrons existentes nesse total de
átomos que compõem a moeda por meio de outra regra de três:
1 átomo de cobre → 29 elétrons
2,94 . 1022 átomos de cobre → y
2,94 . 1022 . 29
y= = 85,26 . 1022 elétrons
1

Por fim, é possível determinar a carga total da moeda pela equação:


Q = N . e- = 85,26 . 1022 . 1,60 . 10 -19C=1,36 . 105C

Condutores e isolantes
A matéria é formada por um conjunto de átomos que, por sua vez, são cons-
tituídos de nêutrons, prótons e elétrons. Em seu estado natural, a matéria man-
tém-se em equilíbrio eletrostático, ou carga nula, pois a quantidade de prótons é
igual à quantidade de elétrons. No entanto, os elétrons podem ser transferidos
de uma matéria para outra quando há atrito entre dois corpos. Contudo, enquan-
to alguns materiais, ao serem eletrizados, permitem a troca de elétrons com ou-
tro material, outros mantêm a carga, seja positiva ou negativa, para si.
Devido a essa propriedade, os materiais podem ser classificados de acordo
com sua capacidade de transferir ou não elétrons, desse modo:
• materiais condutores são aqueles que permitem o livre fluxo de elétrons
por meio de seus corpos, ou seja, recebem elétrons de um material e transferem
para um terceiro. Por exemplo: o cobre, que constitui os fios elétricos, a água de
torneira e o corpo humano;
• materiais isolantes não permitem que haja transferência de elétrons para
outros materiais. Eles são capazes, somente, de perder ou receber elétrons para
o mesmo material, sem haver transferência para um terceiro. Exemplo: a borra-
cha, o plástico que envolve o fio de cobre, o vidro, entre outros;
• materiais semicondutores são aqueles que não conduzem elétrons tão bem
quanto os condutores, mas conduzem melhor que os isolantes. O germânio e o
silício são exemplos desse tipo de material;
• materiais supercondutores são os condutores perfeitos, em que as cargas
são facilmente transferidas de um material para outro.

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Por exemplo, uma pessoa andando sobre um carpete de lã está atritando
seu pé. Nessa interação, o carpete transfere seus elétrons para o pé da pes-
soa, que passa a ficar carregada negativamente. Se a pessoa encostar em uma
maçaneta de metal (material condutor), haverá uma descarga de elétrons da
pessoa para esse material, provocando um choque. Em contrapartida, se essa
pessoa colocar uma luva de borracha e segurar na maçaneta, não haverá cho-
que, pois a borracha da luva é um material isolante e impedirá a transferência
de elétrons entre a pessoa e a maçaneta metálica.
Grande parte dos materiais metálicos são considerados bons conduto-
res, pois grande parte dos elétrons fi cam livres para se mover pelo material.
Por outro lado, em materiais não metálicos não há elétrons livres, impe-
dindo que haja movimento de elétrons no material. Sendo assim, eles são
considerados isolantes.

Carga por indução


A carga ou eletrização dos materiais pode ser produzida de três maneiras:
por indução, por contato e por atrito. Tendo isso em mente, iremos discorrer,
principalmente, sobre carregar eletricamente um objeto por indução, pois é de
maior interesse para nosso estudo.

EXPLICANDO
A eletrização por contato ocorre pela transferência de elétrons de um
corpo carregado negativamente que, em contato com outro objeto, ime-
diatamente transfere essa carga negativa para o segundo, deixando-o
carregado com excesso de elétrons. Alexandre Volta foi quem associou a
transferência de elétrons entre dois metais diferentes com o surgimento
de um potencial elétrico, que podia ser determinando ao se conhecer o
potencial químico do metal envolvido na troca. Criado por Alexandre Volta
e aprimorado por Enrico Fermi, estabeleceu-se um ordenamento de dife-
rentes metais pelos seus níveis de energia.

A eletrização por indução de um material ocorre quando aproximamos,


sem que haja contato direto, um objeto eletricamente carregado (indutor) de
um objeto neutro (induzido). Em seguida, conecta-se o objeto induzido ao solo
por meio de um fio condutor. A Terra é utilizada como um condutor (recebe e

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cede elétrons), pois possui uma quantidade infinitamente grande de cargas. A
Figura 5 apresenta as etapas que ocorrem na eletrização por indução.

Deficiência Geração de
Esfera de elétrons elétrons
metálica Bastão
com carga ++ -- ++ Fio
++ Carga ++
Suporte negativa ++ -- ++ ++ negativa ++
isolante no solo
Solo

Figura 5. Etapas de eletrização por indução de um objeto neutro. Fonte: YOUNG; FREEDMAN, 2009, p. 6. (Adaptado).

Considere que o indutor é um bastão de plástico carregado negativamente


e se aproxima de uma esfera metálica neutra pelo seu lado esquerdo. A carga
negativa do bastão irá repelir as cargas negativas da esfera, fazendo com que
elas se movam para o lado direito.
Na extremidade esquerda restam, portanto, as cargas positivas (que não se
movem). Em seguida, coloca-se um fio condutor na extremidade direita da esfe-
ra, conectando-o ao solo (esfera aterrada). Por meio desse fio, as cargas nega-
tivas da esfera serão transferidas para o solo até que a esfera fique totalmente
positiva. Ainda com o bastão próximo à esfera, desconecta-se o fio do solo e, de-
pois disso, o bastão é afastado. Obtemos uma esfera carregada positivamente, e
o bastão de plástico mantém-se inalterado (carregado negativamente).
A esfera metálica poderia ser igualmente carregada negativamente ao uti-
lizarmos um bastão carregado positivamente, fazendo com que a esfera rece-
besse uma quantidade elevada de carga negativas ao ser aterrada, uma vez
que as cargas positivas não podem ser extraídas da matéria.
Outra forma de carga por indução pode ser feita ao aproximar
um bastão carregado positivamente de duas esferas metálicas
neutras dispostas uma ao lado da outra, conforme mostra a Figu-
ra 6. A aproximação do bastão carregado positiva-
mente atrai as cargas negativas de ambas esferas
para a esfera mais próxima do bastão, confor-
me mostrado na Figura 6 (a).
Mantendo o bastão próximo à esfera da es-
querda, afastamos a da direita, que está carrega-

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da positivamente, conforme mostrado na Figura 6 (b). Podemos, então, tirar o
bastão de perto da esfera, resultando em uma esfera de carga positiva e outra
esfera de carga negativa, também conforme a Figura 6 (c).

+ +
+ --- ++ + --- ++
+ -- -- - - ++ +
+
+ --- +
+ +
+ --- + + + +
+
+ -- ++ +
+ -- ++ --- +++
+ +

(a) (b) (c)


Figura 6. Eletrização por indução de duas esferas metálicas. Fonte: TIPLER; MOSCA, 2009, p. 5. (Adaptado).

Forças elétricas
Sabemos que toda matéria que conhecemos é constituída por cargas positi-
vas e negativas. Essas cargas de sinais opostos interagem entre si estando pre-
sentes em um mesmo material ou em outros materiais (iguais ou diferentes).
Tendo isso em mente, iremos utilizar o termo força para explicar a repulsão
entre cargas de mesmo sinal (positivas ou negativas) e a atração entre cargas
de sinais opostos (positivas e negativas).
Vimos que a força de atração e repulsão não age somente entre objetos eletrica-
mente carregados. Essas forças também atuam em objetos eletricamente neutros.
Ao aproximarmos, por exemplo, uma bexiga atritada contra um tapete de lã e,
em seguida, segurarmos essa bexiga contra o teto, a bexiga ficará fixa no teto
mesmo que ele esteja eletricamente neutro. O que ocorre é que, mesmo per-
manecendo neutras, as cargas elétricas de um objeto podem se deslocar por
diferentes partes desse objeto e manter forças de atração com o objeto eletri-
camente carregado sem que haja transferência de carga. A esse efeito dá-se o
nome de polarização.

Lei de Coulomb
A força de interação entre partículas positivas e negativas foi estudada em
1784 por Charles Augustin de Coulomb. Ele utilizou um aparato construído por
ele mesmo e denominado balança de torção, conforme apresentado na Figu-

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ra 7. A balança consiste em um fio suspendendo uma haste que possui uma
esfera em uma extremidade e uma agulha na outra. Uma segunda esfera é
presa por uma haste de posição fixa em relação à haste suspensa, se movendo
apenas na vertical.

Figura 7. Balança de torção criada por Coulomb. Fonte: Shutterstock. Acesso em: 01/11/2019. (Adaptado).

ASSISTA
Em 1777, Charles Augustin Coulomb construiu a balança de
torção, que foi fundamental para que, anos depois, enun-
ciasse a lei que leva seu nome e que possibilita determinar
a intensidade da força de atração ou repulsão existente
entre duas partículas. Para entender melhor como funcio-
na esse experimento, confira o vídeo Tema 01 - A Carga
Elétrica e o Spin | Experimentos - lei de Coulomb.

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O experimento se inicia pela eletrização das esferas. Ao aproximar a se-
gunda esfera (da haste fixa) à esfera na haste suspensa, ela começa a girar
no eixo do fio, provocando uma torção nele. A agulha na outra extremidade,
ao se mover junto com a esfera, gira sobre um disco que contém uma escala
medida em graus, de modo que a torção causada no fio pode ser medida. Isso
ocorre devido às forças de interação entre as esferas carregadas. Essa força
de repulsão ou atração entre as esferas é determinada pela medição do ângu-
lo de torção do fio.
Após repetir diversas vezes este experimento, Coulomb concluiu que a
força elétrica gerada é inversamente proporcional ao quadrado da distância
entre as duas esferas F = 12 . Coulomb concluiu também que a força elétrica
r
gerada é proporcional ao produto das cargas elétricas das duas esferas apro-
ximadas (F = |q . q |, em que q representa a carga).
1 2

Definiu-se, então, a lei de Coulomb da seguinte forma: o módulo da for-


ça elétrica entre duas cargas puntiformes é diretamente proporcional ao
produto das cargas e inversamente proporcional ao quadrado da distância
entre elas.
Assim, a seguinte equação foi estabelecida como a equação da força elé-
trica resultante da interação entre duas esferas carregadas:
|q . q |
F=k 1 2 2
r

Sendo:
F = força elétrica, em coulomb;
k = constante eletrostática que depende do sistema de unidade adotado;
q1 e q2 = cargas elétricas das esfera;
r = distância mantida entre as esferas.
Considera-se o módulo do produto das cargas, pois independentemente das
cargas serem positivas ou negativas, a força resultante sempre será positiva.
A constante de proporcionalidade (k) no sistema internacional (SI) é dada
pela equação:

k = 4π1ϵ
0

Sendo:
ϵ 0 = 8,854 . 10 -12C2/N . m2

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Portanto:

1 1
k= = 4π . 8,854 . 10 -12
4πϵ 0
k = 8,998 . 109N . m2/C2
Para você visualizar melhor essa relação de forças e cargas, vamos imaginar
duas cargas de 1C distantes entre si a uma distância de 1m. Qual será a intensi-
dade da força de interação entre essas duas cargas? Lembre-se que a carga de
um objeto corresponde ao produto entre quantidade de elétrons que formam
_ _
o objeto pela carga natural, ou seja, Q = Ne , sendo que e = 1,6 . 10 -19C.
Aplicando a equação de Coulomb:
.
1 . |q1 q2|
F=
4πϵ 0 r2
.
F=
1 . |1 1|
4π . 8,854 . 10 -12 12
F = 9 . 109N

Ou seja, uma força de quase 1 milhão de tonelada.

Força elétrica no hidrogênio


Vamos aproveitar a lei de Coulomb para mais uma aplicação, analisando a
força de atração entre o próton e o elétron no hidrogênio. Escolhemos este ele-
mento porque ele é o menor elemento da tabela periódica e, portanto, a força
de atração entre o próton e o elétron é a mais forte entre as forças de interação
de todos os elementos da tabela periódica.
Considere que, no átomo de hidrogênio, a distância que separa o pró-
ton e o elétron é de aproximadamente 5,3 . 10 -11m, a carga elétrica do pró-
ton é de 1,6 . 10 -19 C e a carga do elétron é igual à carga do próton, porém
de sinal oposto.
Calculando a força eletrostática desta interação, temos:

.
1 . |q1 q2|
F=
4πϵ 0 r2
. -19 2
F=
1 . |1,6 10 C|
4π . 8,854 . 10 -12 (5,3 . 10 -11)2
F = 8,2 . 10 -8N

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A força de atração entre o próton e o elétron do átomo de hidrogênio tem
intensidade de 8,2 . 10 -8 N.

Superposição das forças


O enunciado da lei de Coulomb descreve a interação entre duas cargas
puntiformes. Entretanto, em muitas ocasiões, percebe-se a interação de duas
cargas sobre uma terceira. Em casos como esse, foi demonstrado que a força
exercida sobre a terceira carga corresponde à soma vetorial das forças exerci-
das pelas duas cargas separadamente.
Essa propriedade foi denominada como princípio da superposição das
forças e pode ser aplicada em qualquer conjunto de cargas.
A interação entre duas cargas resulta em um par conjugado de forças.
Quando há mais de duas cargas na interação, um conjunto de forças passa a
atuar sobre a carga de interesse e, consequentemente, essa carga terá a dire-
ção e intensidade da força resultante desse conjunto.
Considerando o conjunto de cargas da Figura 8, têm-se quatro cargas (F1 é
negativa; F2, F3 e F4 são positivas), cada qual com uma intensidade diferente.

-F4
Q+
-F1 F2
Q- F3
F1 q+
F4

Q+
Q-
-F3
-F2

Figura 8. Representação do Princípio da superposição das cargas. Fonte: BARUM, 2019, p. 50. (Adaptado).

F2 F23 (F2+F3)
F3 F23 F234 F1234
q+ F2 F234 (F23+F4)
F1 (Resultante F234-F1)
F3 F1
F4 F4

Figura 9. Representação da soma vetorial para superposição das cargas. Fonte: BARUM, 2019, p. 50. (Adaptado).

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A partir do conjunto de cargas, deve ser identificado a carga que será analisada.
Pela representação da Figura 8, é possível ver que a carga de interesse é a q+. Em se-
guida, fazemos a soma vetorial, desenhando um diagrama de corpo livre seguindo a
orientação das cargas. As etapas de soma vetorial podem ser observadas na Figura 9.
Considerando o princípio da superposição para determinação da força
elétrica resultante no conjunto de cargas, que define a força resultante como
a somatória das forças que surgem entre cada carga do conjunto, podemos
escrever a seguinte equação:
4
F1234 = Σ
n=1
Fn → F1234 = (-F1) + F 2 + F 3 + F4

Sendo:
F1234 = forças resultantes da interação entre as quatro cargas;
F1 = F 2 = F 3 = F4 = força exercida individualmente.
Substituindo pela equação de força elétrica (equação de Coulomb), temos a
mesma equação escrita da seguinte forma:
q1q5 qq qq qq
F1234= k + k 22 5 + k 32 5 + k 42 5
r152 r25 r35 r45

Evidenciando a constante k e a carga de referência q5:

q1q5 qq qq qq
F1234= k . + 22 5 + 32 5 + 42 5
r152 r25 r35 r45

q1 q q q
F1234= kq5 . + 22 + 23 + 24
r152 r25 r35 r45

A fim de generalizar a equação, substituímos 1, 2, 3 e 4 por j e 5 por i. As-


sim, teremos:
n qj
FR = kqi . Σ
n ≠ j → j = i rji
2

Por fim, substituímos a constante k pela sua equação. Tem-se a equação


para determinação da força resultante que age sobre a carga qi:
q1 n qj
FR = .
4πϵ 0 i ≠ j → j = i rji2 Σ
Para você não se assustar, vamos demonstrar como aplicar a equação do
princípio da superposição.
Exemplo 3.

ELETRICIDADE E MAGNETISMO 32

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Forças elétricas colineares
No lado positivo do eixo Ox de um sistema de coordenadas, encontram-se
duas cargas puntiformes. A carga q1 = 1,0 nC está a 2,0 cm da origem e q2 = -3,0
nC está a 4,0 cm da origem. Deseja-se saber qual é a força exercida por essas
duas cargas sobre uma terceira carga, q3 , localizada na origem de carga 5,0 nC.
As forças gravitacionais são desprezíveis.
Resolução:
Primeiramente, devemos identificar, no plano de coordenadas, a localiza-
ção de cada carga de acordo com o que foi informado no enunciado, como
mostra na Figura 10.

y
y

q1 = 1 nC q2 = -3 nC
q3 = 5 nC + + - x

2 cm q3
4 cm

(a) (b)

Figura 10. a) Localização das cargas no plano cartesiano; b) Diagrama da força resultante em q3. Fonte: YOUNG; FREED-
MAN, 2009, p. 11. (Adaptado).

Em seguida, convertemos a distância para metros e calculamos a força de q1


e q2 sobre q3 , separadamente.
Força de q1:
1 . |q1 . q3|
F1em3=
4πϵ 0 r2
1 . -9 . . -9
F1em3= . |1 10 C 5 10 C|
. .
4π 8,854 10 C /N m
-12 2 . 2
(0,02m)2
F .
= 1,12 10 N = 112μN
-4
1em3

Essa força é direcionada para o lado negativo do eixo x, pois a carga q3 é


repelida pela carga q1.
Força de q2:
1 . |q2 . q3|
F 2em3=
4πϵ 0 r2
1 . -9 . . -9
F 2em3= . |3 10 C 5 10 C|
4π . 8,854 . 10 -12C2/N . m2 (0,04m)2
.
F 2em3 = 8,4 10 N = 84μN
-5

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Essa força é direcionada para o lado positivo do eixo x, pois a carga q3 é
atraída pela carga q2. A soma dessas duas forças é dada por:
FR = -112μN + 84μN = -28μN
Observação: lembre-se que, em soma vetorial, devemos considerar o sinal
para indicar o sentido.
Resposta: a força resultante que atua em q3 é direcionada para o lado nega-
tivo do eixo x e possui módulo igual a 28 . 10 -5 C.
O diagrama da soma vetorial (diagrama do corpo livre) encontra-se repre-
sentado na Figura 10 (b).
Exemplo 4: Forças elétricas em um plano
Considere duas cargas puntiformes de mesma carga q1 = q2 = 2,0µC que se
encontram em (0, 0, 3) e (0, -0, 3), respectivamente. Determine módulo, direção
e sentido da força elétrica resultante que essas cargas exercem sobre uma car-
ga q3 de carga q = 4µC e encontra-se em (0, 4, 0). A Figura 11 apresenta a locali-
zação dessas cargas em um plano cartesiano.

q1 +
0,3 m

0,4 m

+ x
q3
0,3 m

q2 +

Figura 11. Localização das cargas no plano cartesiano. Fonte: YOUNG; FREEDMAN, 2009, p. 11. (Adaptado).

Resolução:
Devemos, novamente, calcular a força que q1 e q2 exercem separadamente em q3.
Força de q1 em q3:
1 . |q1 . q3|
F1em3=
4πϵ 0 r2
. -6 . . -6
F1em3= 1 . |2 10 C 4 10 C|
10 C . 2
-12 2
(0,5m)2
4π . 8,854 . m
N
F1em3 = 0,29N

ELETRICIDADE E MAGNETISMO 34

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A força resultante de q1 sobre q3 corresponde a 0,29 N.
Força de q2 em q3:
1 . |q2 . q3|
F 2em3=
4πϵ 0 r2
. -6 . . -6
F 2em3= 1 . |2 10 C 4 10 C|
10 C
-12 2
(0,5m)2
4π . 8,854 . . m2
N
F 2em3 = 0,29N

A força resultante de q2 sobre q3 também corresponde a 0,29 N, pois ambas


possuem mesma carga e estão igualmente distanciadas de q3 . No entanto, o
sentido da força de q1 é oposto ao sentido da força de q2.
A força calculada de 0,29 N é a força resultante individual de q1 em q3 , que é
igual à força resultante individual de q2 em q3 . Para determinar a força resultan-
te das duas cargas, q1 e q2, sobre q3 , devemos aplicar conceito de trigonometria
e obter a força componente em x e em y da força resultante de q1 e, posterior-
mente, para q2, como mostra o Diagrama 1.

DIAGRAMA 1. DIAGRAMA DE CORPO LIVRE DO CONJUNTO DE CARGAS

cateto adjacente Fy cateto oposto F


cos α = = sen α = = x
y hipotenusa FR hipotenusa FR

Fy = cos α • FR Fy = sen α • FR
q1 +

α
q3 Fy
+ x
α

FR

Fx
q2 +
Fonte: YOUNG; FREEDMAN, 2009, p. 11. (Adaptado).

Para q1, o ângulo α está abaixo do eixo Ox, de modo que os componentes
dessa força são dados por:

ELETRICIDADE E MAGNETISMO 35

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0,4m
(F1em3)x = (F1em3)cosα = (0,29N) = 0,23N
0,5m
0,3m
(F1em3)y = (F1em3)cosα = (0,29N) = -0,17N
0,5m

A carga inferior q2 exerce uma força de mesmo módulo, formando um ân-


gulo α que está acima do eixo Ox. Usando um raciocínio de simetria, vemos
que a força componente em x da q2 é a mesma que a da q1, portanto, as duas
se somam. No entanto, a força componente em y possui sentido contrário ao
da q1 e se subtraem, como apresentado na Figura 12. Logo, os componentes da

força total Fy sobre q3 são dados por:
Fx = 0,23N + 0,23N = 0,46N
Fy = -0,17N + 0,17N = 0

q1 +

Fy1→3 Fx2→3 Fx1→3 q3


+ x
Fy2→3

q2 +
Figura 12. Força resultante que atua na carga q3. Fonte: YOUNG; FREEDMAN, 2009, p. 11. (Adaptado).

Resposta: a força resultante em q3 encontra-se na direção do eixo Ox, para


o sentido positivo de x e possui módulo igual a 0,46 N.

ELETRICIDADE E MAGNETISMO 36

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Comparativo entre força elétrica e força gravitacional
Ao introduzirmos a lei de Coulomb e a decorrente equação para determinar a
força de interação entre as cargas, você deve ter se lembrado de uma equação mui-
to parecida, que é a equação de Newton para força gravitacional entre dois corpos:
.
→= G m1 m2 r^
F r2
Sendo:
G = constante gravitacional;
m1 e m2 = massa de duas partículas distintas.
Apesar das equações serem muito parecidas, o conceito por trás delas é
bastante diferente. A equação de Coulomb, por exemplo, pode apresentar
força de atração ou de repulsão, dependendo do sentido da força resultante
dessa interação entre as duas partículas. A equação de Newton para força gra-
vitacional sempre resulta em força de atração. Isso ocorre porque as cargas
das partículas na equação de Coulomb podem ser positivas ou negativas, e a
massa da partícula da segunda equação sempre será positiva.
Outra diferença significativa entre as duas equações é que a força de in-
teração elétrica não é capaz de produzir uma concentração muito grande de
cargas, pois, como as cargas possuem sinal positivo e negativo, elas acabam
também se repelindo. Isso não ocorre com a força gravitacional. Como a massa
possui somente sinal positivo, é possível produzir um grande acúmulo de ma-
téria pela força de atração entre elas.
Além disso, a intensidade da força elétrica entre duas partículas é muito
maior do que a intensidade de força gravitacional, como pode ser entendido
pela demonstração dos exemplos a seguir.
Exemplo 5.
Razão entre força elétrica e força gravitacional entre o próton e o elé-
tron do hidrogênio
Vamos calcular a razão entre as forças elétricas e força gravitacional exerci-
das por um próton em um elétron de um átomo de hidrogênio (H).
Resolução:
Inicialmente, devemos coletar as informações sobre a carga e a massa do
elétron e do próton. Sabemos que a carga do próton (qp) e do elétron (qe) são

ELETRICIDADE E MAGNETISMO 37

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iguais em módulos, mudando apenas no sinal. Portanto, no caso do hidrogê-
nio, podemos considerar o produto de qp e qe igual a q2. A massa do próton (mp)
é igual a 1,67 . 10 -27 kg e a massa do elétron (me) é igual a 9,11 x 10 -31 kg.
F
Fazendo a relação proposta entre a força elétrica e a força gravitacional e
m m . Fg
e conhecendo bem cada uma das equações Fe = k q2 e Fg = G 1 2 2 , temos:
2

r r

q2
k
Fe r2 k . q2 . r2
= =
Fg m .m r 2 .
G m1 . m2
G 1 2
r2
Pode-se observar que a distância entre as partículas é cancelada na equa-
ção, resultando em:
Fe k . q2
= .
Fg G m1 . m2

Substituindo pelos valores conhecidos, têm-se:


Fe (9 . 109N . m2/C2) . (1,6 . 10 -19C)2
=
Fg 6,67 10 N . m2/kg2) . (1,67 . 10 -27kg) . (9,11 . 10 -31 kg)
. -11

Fe
= 2,27 . 1039 ou Fe = 2,27 . 1039 . Fg
Fg

Resposta: a razão entre força elétrica e força gravitacional é de 2,27 . 1039 ,


ou seja, a força elétrica de interação entre o próton e o elétron do hidrogênio é
2,27 . 1039 vezes maior do que a força gravitacional exercida sobre eles.
Exemplo 6.
Razão entre força elétrica e força gravitacional entre dois átomos de hélio
F
Vamos analisar a mesma razão e entre dois átomos de hélio de número
Fg
atômico Z = 2 e massa m = 6,64 . 10 -27kg cada.
O átomo de hélio possui 2 prótons e 2 elétrons. Portanto, a carga elétrica do
hélio será dada por:
Q=N . e = 2 . 1,6 . 10 -19C = 3,2 . 10 -19C
Fazendo a razão entre as duas forças, temos:

Fe k . q2
=
Fg G . m1 . m2

Como são dois átomos iguais, m1 = m2 , o produto das massas pode ser
substituído por m2 .

ELETRICIDADE E MAGNETISMO 38

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Substituindo os valores com a carga e massa do hélio, temos:
Fe (9 . 109N . m2/C2) . (3,2 . 10 -19C)2
=
Fg 6,67 . 10 -11N . m2/kg2) . (6,64 . 10 -27 kg)2
Fe
= 3,1 . 1031 ou Fe = 3,1 . 1031 . Fg
Fg

Resposta: assim como o hidrogênio, a razão entre força elétrica


e força gravitacional entre dois átomos de hélio é incrivelmente
grande. Portanto, podemos dizer que a força gravitacional é
desprezível quando se consideram interações atômicas e mo-
leculares, pois suas massas são extremamente pequenas.

ELETRICIDADE E MAGNETISMO 39

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Sintetizando
Nesta unidade, apresentamos a composição da matéria, mostrando os mo-
delos atômicos propostos por diferentes estudiosos.
A partir do modelo proposto por Bohr, no qual os elétrons se distribuíam
em camadas de energia ao redor do núcleo do átomo e que podiam migrar de
uma camada para outra, foi possível explicar como é possível carregar eletrica-
mente um objeto com cargas positivas ou negativas.
Considerando um sistema de dois objetos, um carregado negativamente
(-) e outro positivamente (+), a soma total de elétrons e prótons será mantida
mesmo após o objeto carregado negativamente transferir sua carga em ex-
cesso para o outro objeto (+). Ambos estarão equilibrados eletricamente, e a
quantidade total de elétrons e prótons não se alterará. Desse modo, nenhum
elétron foi perdido pelo sistema, ele apenas foi transferido para outro objeto
que também faz parte do sistema.
Vimos também que carga elétrica de um átomo, molécula ou objeto pode
ser quantizada a partir de uma carga natural de referência: a carga do elétron
e = -1,6 . 10 -19C, que corresponde também à carga do próton, e = 1,6 . 10 -19C.
Além disso, foi evidenciado que alguns materiais, em sua maioria metais,
têm facilidade em receber elétrons de um objeto e transferi-los para outro.
Diferentemente, objetos de materiais não metálicos não apresentam essa fa-
cilidade. Dessa forma, classificou-se como condutores a maioria dos metais e
como isolantes os materiais não metálicos.
Ainda, a capacidade que esses objetos possuem em transferir elétrons foi me-
dida e estabelecida como força elétrica. A lei de Coulomb estabelece essa relação
entre a quantidade de elétrons disponíveis para interação e a distância entre os
objetos para estabelecer essa troca, determinando a força elétrica existente.
Entretanto, na natureza, há interação simultânea entre diversas partículas,
e não somente entre duas, conforme avaliado no experimento de Coulomb.
Assim, para medir a força elétrica de interação entre várias cargas, devemos
utilizar a soma vetorial para determinar a força resultante de cada partícula.
Por fim, a força elétrica sobre essa partícula de interesse será a soma de todas
as forças individuais (considerando o sentido de cada uma delas).

ELETRICIDADE E MAGNETISMO 40

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Referências bibliográficas
A CARGA ELÉTRICA E O SPIN | EXPERIMENTOS – LEI DE COULOMB. Postado
por Física Universitária. (1 min. 54 s.). port. color. son. Disponível em: <https://
www.youtube.com/watch?v=T41VKdFa3eU>. Acesso em: 13 out. 2019.
BARUM, A. Eletricidade e magnetismo. Rio Grande do Sul: Ministério da Edu-
cação, 2019. Disponível em: <https://wp.ufpel.edu.br/engenhariageologica/
files/2019/03/LIVRO-DE-ELETRICIDADE-E-MAGNETISMO-LIVRO-1.pdf>. Acesso
em: 11 nov. 2019.
HALLIDAY, D.; RESNICK, R.; WALKER, J. Fundamentos de física - Eletromagne-
tismo. 10. ed. Rio de Janeiro: Livros Técnicos e Científicos, 2016. v. 3.
TIPLER, P. A.; MOSCA, G. Física para cientistas e engenheiros. 6. ed. Rio de
Janeiro: Livros Técnicos e Científicos, 2009. v. 3.
YOUNG, H. D.; FREEDMAN, R. A. Física III – Eletromagnetismo. 12. ed. São Pau-
lo: Pearson Education do Brasil, 2009.

ELETRICIDADE E MAGNETISMO 41

SER_ENGEL_ELEMAGNE_UNID1.indd 41 05/12/2019 12:54:14


UNIDADE

2 CAMPOS ELÉTRICOS E
CAPACITÂNCIA

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Objetivos da unidade
Definir e calcular o campo elétrico;
Discutir o efeito do campo elétrico sobre partículas carregadas;
Definir fluxo elétrico;
Estabelecer a relação entre força elétrica e campo elétrico – Lei de Gauss;
Definir e calcular o potencial elétrico;
Definir e calcular capacitância;
Entender os capacitores e suas associações.

Tópicos de estudo
Campos elétricos
Campo elétrico produzido por
uma partícula
Campo elétrico produzido por
um dipolo elétrico
Fluxo elétrico
Lei de Gauss

Potencial elétrico

Capacitância
Capacitores de placas paralelas
Capacitores em série e em
paralelo
Energia armazenada em um
campo elétrico
Capacitor com um dielétrico

ELETRICIDADE E MAGNETISMO 43

SER_ENGEL_ELEMAGNE_UNID2.indd 43 05/12/2019 13:11:32


Campos elétricos
Forças de campo são forças que atuam sobre objetos sem que haja con-
tato entre eles. São exemplos de forças de campo a força gravitacional, força
magnética e força elétrica. O conceito de campo elétrico é fundamental para
estudarmos as ondas eletromagnéticas. O desenvolvimento das tecnologias
sem fio, tais como wi-fi, bluetooth, infravermelho e ondas de rádio foi possível
devido à correta compreensão do campo elétrico.
Um corpo eletricamente carregado gera, em todos os pontos do espaço
que o circunda, um campo elétrico que é expresso por um vetor que possui
módulo, direção e sentido. A fim de comprovar a existência desse campo
elétrico, é colocada uma partícula carregada eletricamente (de carga positi-
va ou negativa) dentro dele. O corpo que gera o campo elétrico será chama-
do de carga pontual, enquanto a carga introduzida no campo será chamada
de carga de prova.
Quando a carga de prova é colocada dentro do campo elétrico de uma car-
ga pontual, é gerada uma força elétrica sobre a carga de prova, possibilitando
→ →
medir o vetor campo elétrico E . Essa força elétrica F , como já visto, é uma
grandeza vetorial, pois possui intensidade que depende do valor da carga e da
distância entre as partículas, possui uma direção que depende da localização
de uma partícula em relação a outra e possui um sentido que depende do sinal
da carga dessas partículas.
A carga de prova pode ser colocada em qualquer ponto dentro do campo
elétrico, tornando possível definir a distribuição de forças elétricas por ele. De-
vemos enfatizar que o campo elétrico existe para qualquer partícula ou corpo
eletricamente carregado, independentemente de haver uma carga de prova
em algum ponto deste campo. A carga de prova é necessária para medir o vetor
campo elétrico, devido à força gerada sobre ela.
O módulo da força elétrica é calculado pela equação de Coulomb
1 . q . q0 . O vetor campo E→ é obtido pela seguinte equação:
F=
4πϵ 0 r2 →
→ F → Newton = N
E = Coulomb C
q0

Substituindo a força elétrica pela equação de Coulomb, teremos a equação


do campo elétrico como:

ELETRICIDADE E MAGNETISMO 44

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1 . q . q0
→ F = 4πϵ 0 q.q
→ r2
E = = 1 . 2 0. 1
q0 q0 4πϵ 0 r q0
→ 1 . q
E = 4πϵ r2
[N/C]
0

O campo elétrico é representado por linhas de força, ou linhas de campo


elétrico, ao redor do objeto ou partícula carregada eletricamente. Michael
Faraday foi o introdutor do conceito de campo elétrico e da forma de repre-
sentação por meio de linhas.
Em um corpo eletricamente carregado, onde as cargas se distribuem unifor-
memente por sua superfície, as linhas de força podem ser desenhadas como
mostra a Figura 1. Nessa situação, o vetor campo elétrico estará tangenciando

a linha de força e ambos estarão na mesma direção, com o vetor campo E no

sentido da carga pontual se esta for negativa ou com o vetor campo E se afas-
tando da carga pontual se esta for positiva.

Figura 1. Representação das linhas de forças (ou linhas de campo elétrico) com o vetor campo elétrico E→representado
pelas setas. Fonte: Adobe Stock. Acesso em: 25/10/2019.

A quantidade de linhas de força também representa a intensidade do campo.


Quanto maior a quantidade de linhas, maior o módulo do campo elétrico e quan-
to mais espaçadas as linhas estiverem, menor será o módulo do campo elétrico.

ELETRICIDADE E MAGNETISMO 45

SER_ENGEL_ELEMAGNE_UNID2.indd 45 05/12/2019 13:11:33


EXPLICANDO
Devemos saber a definição de campo elétrico e força elétrica. A princi-
pal diferença entre elas é que o campo elétrico sempre existirá, enquan-
to possuir uma carga positiva ou negativa, enquanto a força elétrica se
manifestará quando tivermos duas cargas próximas umas das outras.
Não podemos confundir também o campo elétrico com o vetor campo
elétrico. O campo elétrico é a modificação do espaço ao redor da carga
carregada, sendo representado pelas linhas de força que se distribuem
radialmente quando a carga está em distribuição uniforme; o vetor cam-

po elétrico, ou vetor campo, é expresso como E e deve ser representa-
do com módulo, direção e sentido.

Quando temos um corpo isolado, é fácil compreender essas linhas. En-


tretanto, quando temos dois corpos eletricamente carregados próximos o
suficiente, de modo que o campo elétrico de um corpo interfira no campo
elétrico do outro, as linhas de força são curvas, porém nunca se cruzam. A
regra se mantém, o vetor campo elétrico será tangente à linha e terá o mes-
mo sentido que ela.
A seguir, veremos como avaliar o vetor campo em um campo elétrico pro-
duzido por uma partícula eletricamente carregada, por um dipolo elétrico e por
uma linha de carga.

Campo elétrico produzido por uma partícula


Como foi apresentado, o campo elétrico é gerado por qualquer corpo, ob-
jeto ou partícula que esteja eletricamente carregado. Além disso, as cargas po-
dem estar distribuídas de forma uniforme ou não, fatores que determinam o
formato das linhas de força.
Para determinar o vetor campo a uma determinada distância da carga pon-
tual (q), é necessário inserir no campo elétrico uma carga de prova (q0) na dis-
tância que se deseja obter este vetor campo. O sentido do vetor será o mesmo
da força elétrica que age sobre a carga de prova: para perto da carga pontual,
se a mesma for negativa, ou para longe, se for positiva.
Exemplo 1: campo elétrico de uma carga puntiforme isolada.

Deseja-se saber o módulo do vetor campo E de uma carga puntiforme q =
4,0 nC, em um ponto P que se encontra a 2 m de distância da carga.

ELETRICIDADE E MAGNETISMO 46

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Resolução
Para determinar o modulo do vetor, utilizamos a equação E→ = 1 q subs-
4πϵ 0 r2
tituindo a distância r = 2 m e a carga q = 4 nC, temos:
→ 1 . -9
. 4 10 C = 9N/C
E = 4πϵ . 10 -12C2/N . m2 22
0

O módulo do vetor é 9 N/C, a direção é tangente à linha de força e o sentido


é para fora da partícula.
Em situações reais, encontramos, em um determinado ponto, vários cam-
pos elétricos criados por diversas partículas eletricamente carregadas. Para
determinar o campo elétrico total, coloca-se a carga de prova no ponto deter-
minado, calcula-se separadamente o vetor campo produzido por cada partí-
cula e, por fim, soma-se vetorialmente todos os campos. Assim como a força
elétrica, o vetor campo também obedece ao princípio da superposição.
Exemplo 2: campo elétrico de duas cargas puntiformes.
A distância entre duas cargas puntiformes q1 = +12 nC e q2 = -12 nC é igual a
0,10 m. Determine o campo elétrico E1, o campo elétrico E2 e o campo elétrico
resultante no ponto a, b e c, como mostra o sistema de coordenadas da Figura 2.

y →
E1

α
c →
Ec
α

E2

13,0 cm 13,0 cm

→ q1 α → q2
Eb b α Eα
+ -
x
4,0 6,0 4,0
cm cm cm

Figura 2. Representação das cargas q1 e q2 em um plano cartesiano. Fonte: YOUNG; FREEDMAN, 2009, p. 19

ELETRICIDADE E MAGNETISMO 47

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Resolução
Inicialmente, vamos calcular o campo elétrico total em a utilizando o princí-
pio da superposição, assim calcula-se o campo gerado em cada partícula:
1 q1 1 . 12 . 10 C = 30000 N/C
-9

E1 = 4πϵ r2 = 4π(8,85 . 10 -12C2/N . m2) 0,06 2
0

→ 1 q1 1 . 12 . 10 -9C
E2 = 4πϵ r2 = 4π(8,85 . 10 -12C2/N . m2) 0,042
= 67500 N/C
0

→ →
Pode ser observado que E1 e E2 estão na mesma direção (no eixo x). O vetor
→ →
E1 aponta no sentido positivo de Ox (q1 → a), pois a carga q1 é positiva. O vetor E2
também aponta para o sentido positivo de Ox (a → q2), pois a carga q2 é negativa
e o ponto a está a sua esquerda. O campo elétrico em a não possui compo-
nente em y, pois as cargas e o ponto a estão localizados no eixo x, portanto a
→ →
resultante do campo elétrico em a será a soma vetorial de E1 e E2 .
→ → →
ERa = E1 + E2 = 30000 N/C + 67500 N/C

ERa = 97500 N/C ἲ (direção do eixo x sentido positivo)
Agora calcularemos o campo elétrico total em b, seguindo o mesmo raciocí-
nio da resolução anterior.
→ 1 q1 1 . 12 x 10 -9C
E1 = 4πϵ r2 = 4π(8,85 . 10 -12C2/N . m2) 0,042
= 67500 N/C
0

→ 1 q1 1 . 12 x 10 -9C
E2 = 4πϵ r2 = 4π(8,85 . 10 -12C2/N . m2) 0,142
= 5510 N/C
0

→ →
Nesta segunda situação, E1 e E2 continuam na mesma direção (no eixo x),

porém o vetor E1 aponta no sentido negativo de Ox (q1 → b), pois a carga q1

é positiva e o ponto b está a sua esquerda, enquanto o vetor E2 continua
apontando para o sentido positivo de Ox (b → q2), pois a carga q2 , é negativa
e o ponto b também está à sua esquerda. Em b também não haverá vetores
componentes no eixo y pela mesma razão que a, assim o campo elétrico re-
sultante em b será dado por:
→ → →
ERb = E1 + E2 = -67500 N/C + 5510 N/C

ERb = -61990 N/C ἲ (direção do eixo x sentido positivo)
Por fim, o campo elétrico total em c segue o mesmo passo a passo das re-
soluções anteriores, porém, devemos nos atentar que o ponto c não está sobre
o eixo x e nem y, portanto, devemos avaliar as componentes em x e em y dos
→ →
vetores E1 e E2 .

ELETRICIDADE E MAGNETISMO 48

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Individualmente, temos pela Figura 2 que o ponto c está a uma distância
→ →
de 13 cm tanto de q1 quanto de q2, portanto os módulos E1 e E E2 serão iguais:
→ → 1 q1 1 . -9
. 12 10 C
E1 = E2 = 4πϵ r2 = 4π(8,85 . 10 -12C2/N . m2) 0,132
0

→ →
E1 = E2 = 6390 N/C (na direção diagonal)
Para determinar as componentes desses vetores, utilizaremos trigonometria.
Os componentes em x:
→ . 0,05 .
E1x = cos a E1 = 0,13 6390 = 2458 N ⁄C ἲ (direção do eixo x sentido positivo)
→ . 0,05 .
E2x = cos a E2 = 0,13 6390 = 2458 N ⁄C ἲ (direção do eixo x sentido positivo)

Os componentes em y:
→ . 0,12 .
E1y = cos a E1 = 0,13 6390 = 5898 N ⁄C ἲ (direção do eixo y sentido positivo)
→ . 0,12 .
E2y = cos a E2 = 0,13 6390 = 5898 N ⁄C ἲ (direção do eixo x sentido negativo)

Fazendo a soma vetorial para obter o campo elétrico total, temos que os com-
ponentes em y possuem mesmo módulo, porém sentidos opostos, portanto se
anulam. A resultante então será dada pela soma dos vetores componentes em x.
→ → →
ERc = E1x + E2x = 2458 N/C + 2458 N/C

ERb = 4916 N/C ἲ (direção do eixo x sentido positivo)
Exemplo 3: campo elétrico de três cargas puntiformes.
Vamos analisar uma situação onde deseja-se determinar o campo elétrico
total sobre uma carga de prova localizada na origem de um plano cartesiano.
O campo elétrico é produzido por 3 partículas eletricamente carregadas da se-
guinte maneira: q1 = + 2Q,q2 = -2Q e q3 = - 4Q, distanciadas igualmente da origem
de um plano cartesiano, como mostra a Figura 3 (a).

q1 y q3 q1 y q3
+ - + -
E1 E3 Ey3 E
3

Ex3
30° 30° X 30° 30° X
30° 30°
ExR12
E2
EyR12 ER12
- -
q2 q2
a) b)

Figura 3. a) Campo elétrico na origem produzido por três cargas puntiformes; b) Diagrama de corpo livre dos vetores resultantes.

ELETRICIDADE E MAGNETISMO 49

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Resolução
Devemos inicialmente determinar o campo elétrico de cada partícula sobre
a carga de prova, utilizando a equação do campo elétrico:
2Q
Para q1: E→ = na direção da linha e se aproximando da carga de prova
1 4πϵ 0r2
2Q
Para q2: E→ = na direção da linha e se afastando da carga de prova
2 4πϵ 0r2
4Q
Para q3: E→ = na direção da linha e se afastando da carga de prova
3 4πϵ 0r2
→ →
Os vetores campo E1 e E2 possuem mesma direção e sentido, portanto po-
2Q 2Q 4.Q
demos somá-los, resultando em E→R12 = E→1 + E→2 = 4πϵ r2 + = 4πϵ r2 . Para so-
4πϵ 0r2
→ 0 0
mar este vetor resultante com o vetor campo E3 , usamos trigonometria. Na Fi-
gura 3 (b), podemos observar que os componentes em y dos vetores de campo
elétrico se anulam pois são opostos, portanto, o vetor de campo resultante na
origem será a soma das componentes em x de ambos os vetores.
1 . 1 .
→ = → + → = cos 30º . 4 4πϵ Q + cos 30º . 4 4πϵ Q = 6,93 . Q N/C
ER0 ER12 E3 0 0
4πϵ r2 0
r2 r2
O campo elétrico resultante tem módulo do campo elétrico depende da car-
ga Q e da distância r, a direção é no eixo x no sentido positivo.

Campo elétrico produzido por um dipolo elétrico


Um dipolo elétrico é um par de cargas puntiformes separadas por uma dis-
tância d. As duas cargas são de mesmo módulo, porém possuem sinais opostos.
Uma reta que passa pelo centro das duas cargas é denominada eixo do dipolo e
representa o eixo de simetria do campo elétrico gerado pelas duas cargas.

EXPLICANDO
O dipolo elétrico pode ser melhor entendido quando analisamos uma molécula
de água (H2O), considerada uma molécula neutra pois a quantidade de elétrons
e prótons no hidrogênio e oxigênio juntos é igual. A distribuição dessas cargas
forma uma extremidade com maior concentração de partículas negativas e ou-
tra com partículas positivas. Essa diferença na distribuição das cargas faz com
que a água seja um excelente solvente de substâncias iônicas como o cloreto
de sódio (sal de cozinha) que, ao entrar em contato com a água, rapidamente
se dissocia em íons Na+ e Cl-, os quais são atraídos pela extremidade negativa
e positiva, respectivamente, da água, mantendo-os separados.

ELETRICIDADE E MAGNETISMO 50

SER_ENGEL_ELEMAGNE_UNID2.indd 50 05/12/2019 13:11:37


O módulo do campo elétrico formado por um dipolo em um ponto distante do
seu eixo é dado por E = 1 . p3 , onde p é o momento dipolar elétrico do dipolo (tem
2πϵ 0 z
módulo q . d, onde q é a carga e d a distância entre as duas cargas que formam o di-
polo) e z é a distância entre o ponto onde o campo foi calculado e o centro do dipolo.

Fluxo elétrico
O fluxo elétrico é, na realidade, uma descrição sobre a orientação do campo elé-
trico, pois não há um fluxo real, o campo elétrico não escoa. Considerando, como
exemplo, um objeto de carga positiva, o fluxo elétrico orienta-se do objeto para fora.
Se fosse um objeto de carga negativa, esse fluxo estaria orientado de fora para den-
tro do objeto. A intensidade desse fluxo será diretamente proporcional à carga dele.
Para facilitar o entendimento, vamos utilizar a Figura 4, que apresenta uma

superfície plana de área A, situada dentro de um campo elétrico uniforme E ,
com o vetor campo atravessando perpendicularmente a placa. O fluxo elétrico
é calculado pela equação: ∆φ(Fi) = (E . cos . θ) . A.
Sendo:
φ = fluxo eletrico [N . m2 ⁄C]
E = campo eletrico [N⁄C]
θ = ângulo formado entre o vetor campo e a orientação da superfície
A = área da superfície plana [m2]


A

Ø=0 →
Ø = 90º
A

→ Ø E

A E Ø
A
A A1
A

Figura 4. Superfície plana em um campo elétrico de distribuição uniforme. Fonte: YOUNG; FREEDMAN, 2009, p. 45.

Com relação ao fluxo do vetor campo, temos 3 situações possíveis, como


mostra a Figura 4. O campo elétrico pode estar apontando para fora, para den-
tro ou estar paralelo à superfície, sendo:

ELETRICIDADE E MAGNETISMO 51

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→ → →
a) O vetor campo E aponta de dentro para fora da superfície, E e A terão
mesma direção e sentido, formando um ângulo de 0º entre eles, sendo cos 0° = 1.
→ →
O produto escalar entre E e A será positivo;
→ → →
b) O vetor campo E aponta de fora para dentro da superfície, E e A terão
mesma direção e sentido oposto, formando um ângulo de 180º entre eles, sen-
→ →
do cos180° = -1, portanto o produto escalar entre E e A será negativo;
→ → →
c) O vetor campo E na mesma direção da superfície (são paralelos), E e A terão
perpendiculares, formando um ângulo de 90º entre eles, sendo cos 90° = 0. Neste
→ →
caso, o produto escalar entre E e A será nulo, consequentemente o fluxo será zero.
Essa relação pode ser aplicada somente em campos elétricos uniformes e
superfícies planas. Em determinadas situações, não teremos uma área plana
ou um campo elétrico com distribuição uniforme. Para esses casos, dividimos
a área em pequenas frações que possam ser consideradas planas, que serão
denominadas área elementar (dA), como ilustra a Figura 5. Em cada uma dessas
pequenas áreas atravessará um vetor campo possibilitando a medição do fluxo.

Figura 5. Superfície de forma arbitraria em um campo elétrico. Fonte: HALLIDAY; RESNIK, 2014, p. 142.

O fluxo total será calculado pela integração dos fluxos individuais que pas-
sam através de cada área elementar (dA) que compõe a superfície total, como
mostra a equação a seguir:

ELETRICIDADE E MAGNETISMO 52

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→ →
φ = ∮ E . dA [N . m2 ⁄C]
O círculo no sinal da integral indica que o cálculo se aplica a toda superfície
fechada. Devemos observar que o fluxo pode ter sentido diferente em cada
parte da superfície: em algumas partes pode estar no sentido de dentro para
fora e em outras o contrário.
Exemplo 4: determinar o fluxo elétrico em um campo não uniforme.
Queremos determinar a carga elétrica que está situada dentro de um cubo

gaussiano, submetido a um campo elétrico não uniforme, dado por E = 3,0xἲ
+ 4,0´j`, com E em N/C e x em metros. Qual o fluxo elétrico nas quatro faces do
cubo da Figura 6?

dA dA

dA
dA

dA

Z dA

Figura 6. Cubo por onde passa um fluxo elétrico.

Resolução
Podemos calcular o fluxo elétrico através de uma superfície integrando o
→ → →
produto escalar E . dA ao longo da superfície. O vetor A é sempre perpendicu-
lar à superfície e aponta para fora.

Começaremos pela face direita: O vetor dA aponta no sentido positivo de x.
→ → →
φ= ∮E . dA = ∮(3,0x ἲ + 4,0´j`) . dA ἲ
φ= ∮[(3,0x)(dA) ἲ . ἲ + (4,0)(dA)´j` . ἲ ]
φ= ∮(3,0xdA + 0) = 3,0∮ xdA

ELETRICIDADE E MAGNETISMO 53

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Deveríamos calcular essa integral para a face direita, mas observamos que
x tem o mesmo valor (3,0 m) em todos os pontos da face, portanto, podemos
substituir x por esse valor. Assim, temos:
φ = 3,0∮(3,0)dA = 9,0N ⁄C ∮ dA
A integral ∮dA nos dá simplesmente a área A = 4,0 m2 da face direita, assim:
φ = 9N ⁄C . 4,0m2 = 36N . m2 ⁄C
Na face esquerda: podemos usar o mesmo método descrito para a face di-

reita, porém o que muda é o sentido do vetor dA , que agora está apontando
para o lado negativo do eixo x. Além disso, o valor da constante x agora é igual
a 1,0 m. Assim, o fluxo da face esquerda é dado por:
→ → →
φ = ∮E . dA = ∮(1,0x ἲ + 4,0´j`) . dA´j`
φ = -3,0∮dA = (-3N ⁄C) . 4m2 = -12N . m2 ⁄C

Na face superior: agora o vetor dA aponta para o sentido positivo de y, o
fluxo é dado por:
→ → →
φ = ∮E . dA = ∮(3,0x ἲ + 4,0´j`) . dAἲ
φ = ∮[(3,0x)(dA) ἲ . ´j` +(4,0)(dA)´j` . ´j`]
φ = ∮(0 + 4dA) = 4,0∮xdA
φ = (4N ⁄C) . 4m2 = 16N m2 ⁄C
Na face inferior: obedece ao mesmo procedimento da face superior, entre-

tanto o sentido do vetor dA é para o lado negativo de y. Assim:
φ = -16N . m2 ⁄C
Na face dianteira e traseira: quando calculamos o produto escalar do campo

elétrico E = 3,0x ἲ + 4,0´j`, por esses vetores área, o resultado é zero, portanto, o
fluxo elétrico através das duas faces é nulo:
φ = φd + φe +φs + φi + φf + φt
φ = 36 - 12 + 16 - 16 + 0 + 0 = 24N . m2 ⁄C
O fluxo total através das seis faces é igual a 24 N.m2/C.

Lei de Gauss
Carl Friedrich Gauss foi quem descobriu a existência da relação entre carga
elétrica e campo elétrico, possibilitando calcular o campo elétrico produzido por
objetos maiores, pois até então estávamos tratando apenas de partículas punti-
formes. A lei de Gauss nos ajuda a compreender como ocorre a distribuição das

ELETRICIDADE E MAGNETISMO 54

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cargas elétricas em qualquer corpo que possua carga. Para isso, desenhamos
uma superfície imaginária que engloba essas cargas. A esse desenho se dá o
nome de superfície gaussiana. A lei de Gauss é mais útil nas situações em que a
distribuição de carga possui simetria esférica ou cilíndrica e se as cargas estão
uniformemente distribuídas.
A lei de Gauss estabelece a relação entre os campos elétricos nos pontos de uma
superfície gaussiana (fechada) e a carga total envolvida (qenv) pela superfície, em for-
ma de equação ϵ . φ = q . Substituindo o fluxo total pela sua equação, temos:
0 env

→ → → q
ϵ 0 . ∮ E . dA = qenv → ∮ E→ . dA = env
ϵ0

Os vetores da área elementar dA sempre apontam para fora do objeto, as-
sim o fluxo elétrico será positivo nas áreas onde o campo elétrico apontar para
fora (carga positiva) e negativo nas áreas onde o campo elétrico apontar para
dentro (carga negativa) da superfície gaussiana.
A carga total envolvida (qenv) pode representar tanto uma carga puntiforme
quanto a soma algébrica de todas as cargas (positivas e negativas) envolvidas
pela superfície gaussiana. Analogamente, o campo elétrico também represen-
ta o vetor campo de uma carga puntiforme ou o vetor campo resultante da

ação de cada carga individual em um ponto de uma área elementar dA .
Assim, a lei de Gauss pode ser utilizada para determinar o fluxo elétrico
para qualquer distribuição de carga em qualquer superfície fechada. Entretan-
to, devemos conhecer a distribuição das cargas na superfície fechada e a inte-
gral deve possuir simetria suficiente para determinar o campo elétrico. Ou se
conhecermos o campo elétrico, conseguimos definir a distribuição de cargas
pela superfície fechada.
Veremos dois exemplos de situações típicas onde utilizamos a lei de Gauss:
no primeiro exemplo, vamos determinar o campo elétrico produzido por uma
distribuição de cargas em um condutor e o outro exemplo será para determi-
nar a distribuição de cargas a partir de um campo elétrico conhecido.
Exemplo 5: determinação do campo de uma esfera carregada.
Temos uma esfera de plástico oca de raio R = 10 cm e espessura desprezível,
com carga q1 = -16e distribuída de forma uniforme. No centro da esfera, há uma

partícula de carga q2 = +5e. Qual é o vetor campo E em um ponto P1 a 6 cm de dis-
tância do centro da esfera e em um ponto P2 localizado a 12 cm do centro da esfera?

ELETRICIDADE E MAGNETISMO 55

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A Figura 7 (a) ilustra o que foi descrito no enunciado:

(a) (b) (c)

q1 P1 P2
r2
q2 r1
E E dA
P1
P2
r1 dA

r2

Figura 7. a) casca de plástico carregada com uma partícula carregada no centro. b) superfície gaussiana para deter-
minar o campo elétrico em P1. c) superfície gaussiana para determinar o campo elétrico em P2.

Resolução
Vamos iniciar determinando o campo no ponto P1. Para isso, vamos conside-
rar uma esfera gaussiana com P1 na superfície, assim a esfera gaussiana tem r =
6 cm (Figura 7 (b)). Nessa primeira situação, temos apenas a carga q2 na esfera
gaussiana e, por ela ser positiva, o campo elétrico através da superfície é posi-
tivo, portanto, aponta para fora da esfera. Consequentemente, o fluxo elétrico
será de dentro para fora. Além disso, devido à simetria esférica, o vetor campo
é perpendicular à superfície. Utilizaremos a lei de Gauss:
→ → q
∮E . d A = env
ϵ0
Porém, como a distribuição do campo é uniforme, podemos dispensar a
integral e fazer por:
q q2
E . (4πr2) = ϵ 2 → E =
0 (4πr2) ϵ 0
5 . 1,6 x 10 -19C
E=
(4π(0,06m 2) . (8,85 . 10 -12C2/N . m2
E = 2,0 . 10 -6N/C
Para determinar o vetor campo em P2, fazemos o mesmo processo, dese-
nhamos uma esfera gaussiana de r = 12 cm (Figura 7 (c)). Agora a carga envolvi-
da será q1 + q2, portanto:
qenv = q1 + q2 = (-16 . 1,6 . 10 -19 + (5 . 1,6 . 10 -19) = -1,76 . 10 -18C

ELETRICIDADE E MAGNETISMO 56

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Como a carga total é negativa, o vetor campo atravessa a superfície gaus-
siana de fora para dentro, formando um ângulo de 180º com o vetor dA. Subs-
tituindo esses valores na lei de Gauss, temos:

1,7 . 10 -18C
E=
(4π(0,12m)2 . (8,85 . 10 -12C2/N . m2
E = 1,1 . 10 -6N/C
Exemplo 6: determinar a carga elétrica do cubo gaussiano do exemplo 4.
Resolução
Conforme foi obtido no Exemplo 4, o fluxo total do cubo gaussiano é igual a
φ = 24N . m2 ⁄C, portanto a carga no interior do cubo, qenv será:

qenv = ϵ 0 φ = (8,85 . 10 -12C2 ⁄N . m2) . (24N . m2/C2)

qenv = 2,1 . 10 -10N/C

Potencial elétrico
No tópico anterior, vimos que toda partícula ou objeto que esteja eletrica-
mente carregado gera um campo elétrico ao seu redor. Ao colocarmos uma car-
ga puntiforme neste campo elétrico, este irá gerar uma força sobre a carga, que
irá deslocá-la através do campo elétrico. Ao se mover, a carga converte a energia
potencial elétrica (U) do sistema em energia cinética (devido à velocidade gerada
ao movimentar-se). Assim, podemos dizer que a força elétrica é conservativa,
pois transforma energia potencial elétrica em energia cinética. A energia poten-
q .q
cial elétrica de um campo elétrico é dada pela equação: U = 1 . 1 0 .
4πϵ 0 r

A energia cinética é gerada pela energia potencial elétrica, que por sua vez é
gerada pelo potencial elétrico produzido por uma carga elétrica introduzida em
um campo elétrico. Potencial elétrico (V ) é constituído pela energia potencial
elétrica, dividido pela carga de prova e escrito pela equação:
U Joule
V = q Coulomb = Volt
0

Substituindo a equação da energia potencial elétrica, teremos:


1 . q1 . q0
q1
V = qU = 4πϵ 0 r = 1
0 4πϵ 0 r
q0

ELETRICIDADE E MAGNETISMO 57

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O potencial elétrico é uma grandeza escalar, por isso as cargas não estão
em módulo, assim o potencial elétrico pode ter sinal positivo ou negativo, de-
pendendo do sinal da carga que gera o campo elétrico.
Chamamos também de potencial elétrico ou simplesmente potencial; em
um circuito a diferença de potencial recebe o nome de voltagem. Esse conceito
possui muitas aplicações, como em feixes de elétrons utilizados em radiotera-
pia, em aceleradores de partículas e muitos outros dispositivos.
Vamos analisar o que acontece com uma carga de prova ao ser colocada
entre duas placas eletricamente carregadas, gerando um campo elétrico uni-
forme, como mostra a Figura 8. O campo elétrico irá gerar uma força sobre a
carga de prova com a mesma orientação do campo elétrico, de cima para baixo,
fazendo com que ela se desloque de a para b. O trabalho realizado pelo campo
elétrico sobre a carga para movê-la de um ponto a outro é dado pelo produto
do módulo da força pelo deslocamento, como mostra a equação:
W =F.d=q .E.d a→b 0

Sendo:
Wa→b: trabalho realizado de a para b
q0 = cara de prova [C]
E: campo elétrico [N ⁄C]
d: deslocamento [m]

+ + + + +

E
α +

F = q0 E

b +

yb
0
- - - - -

Figura 8. Carga positiva se deslocando por um campo elétrico. Fonte: YOUNG; FREEDMAN, 2009, p. 72

ELETRICIDADE E MAGNETISMO 58

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Como a força elétrica é uma força conservativa, o trabalho realizado pela força
elétrica pode ser expresso em função da energia potencial elétrica. Ou seja, quan-
do a partícula se move do ponto a onde possui uma quantidade de energia poten-
cial Ua para o ponto b onde possui uma quantidade de energia Ub. O trabalho pode
ser dado por: Wa→b = Ua - Ub. A partir dessa relação, observamos que o trabalho W
é positivo quando a energia potencial da partícula diminui no deslocamento, por
outro lado, o W será negativo quando U aumentar no deslocamento.
Voltando para o exemplo da Figura 8, podemos então escrever a equação
para o trabalho realizado pela força elétrica no deslocamento de a para b da
seguinte forma:
Wa→ b Ub Ua
= - ∆U
q0 = - q0 - q0 = - (Vb - Va)
q0
Vab = Va - Vb

Assim, o trabalho realizado por unidade de carga pela força elétrica quando
a carga se desloca de a até b é igual ao potencial no ponto a menos o potencial
no ponto b. Denomina-se diferença de potencial de a em relação a b.
A seguir, vamos ver alguns exemplos de como determinar o potencial elétri-
co em cargas puntiformes e em uma superfície equipotencial:
• Potencial elétrico gerado por uma única carga puntiforme
Para medir o potencial elétrico de uma única carga puntiforme, utilizamos
a equação:
1 . q
V = qU =
0 4πϵ 0 r

Sendo r a distância entre a carga e o ponto onde o potencial está sendo calcu-
lado. Se q for positiva, o potencial será positivo em todos os pontos do espaço, se
q for negativa, o potencial será negativo em qualquer ponto do espaço. Nas duas
situações, V será nulo quando a distância entre a carga e o ponto é infinita (r = ∞). As-
sim como para o capo elétrico, o potencial não depende do valor da carga de prova.
• Potencial elétrico gerado por várias cargas puntiformes
Para determinar o potencial elétrico de várias cargas puntiformes, é dado
pela soma escalar dos potenciais produzidos pelas cargas individuais, como
apresentado na equação a seguir:
1 q
V = qU = ∑ i
0 4πϵ 0
ri

ELETRICIDADE E MAGNETISMO 59

SER_ENGEL_ELEMAGNE_UNID2.indd 59 05/12/2019 13:11:42


Sendo ri a distância entra a i-ésima carga, qi , e o ponto em que o potencial
está sendo calculado.
• Potencial elétrico ao longo de uma linha, sobre uma superfície ou
através de um volume
Neste caso, dividimos as cargas em elemento de carga d . q e a soma de
todos os elementos se transforma em uma integral:
1 ∫ dq
V=
4πϵ 0 r

Sendo r a distância entre o elemento de carga d . q e o ponto em que o po-


tencial está sendo calculado.
A seguir veremos alguns exemplos das situações mais comuns de se encontrar.
Exemplo 7: força elétrica e potencial elétrico.
Um próton se move ao longo de uma linha reta de um ponto a até um ponto
b no interior de um acelerador linear, sendo d = 0,50 m a distância percorrida.
O campo elétrico é uniforme ao longo dessa linha e possui módulo E = 1,5 . 107
V/m (ou N/C) no sentido de a para b. Determine a força do próton, o trabalho
realizado sobre ele pelo campo elétrico e a diferença de potencial entre a e b.
Resolução
A força elétrica pode ser obtida pelo produto entre a carga do próton e o
campo elétrico:
F = q . E = (1,6 . 10 -19C) . (1,5 . 107N ⁄C) = 2,4 . 10 -12N
Como foi dito que o acelerador é linear, temos que o campo elétrico é uni-
forme, portanto, a força elétrica é constante. Assim, para calcular o trabalho
realizado sobre o próton, utilizamos a equação:
W = F . d = (2,4 . 10 -12C) . 0,50 m = 1,2 . 10 -12J
a →b

Por fim, a diferença de potencial é dada pelo trabalho dividido pela carga
do próton:
Wa → b (1,2 . 10 -12j)
Va - Vb = = = 7,5 . 106j/C ou 7,5 MV (Mega Volts)
q 1,6 . 10 -19C

Exemplificando: potencial produzido por duas cargas puntiformes


Um dipolo elétrico é constituído por duas cargas puntiformes q1 = +12 nC e
q2 = -12 nC, sendo a distância entre elas igual a 10 cm. Pede-se para calcular os
potenciais nos pontos a, b e c somando os potenciais produzidos pelas cargas
individuais calculados por:

ELETRICIDADE E MAGNETISMO 60

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q
V = qU = k ∑ i
0 ri
No ponto a, o potencial produzido pela carga q1 é:
q 12 . 10-9 C
Vq1 = qU = k 1 = (9 . 109 N · m2/C2) ·
0 r1
0,06 m
Vq1 = 1800 N · m/C = 1800 J/C = 1800 V

O potencial por q2 em a:
q 12 . 10-9 C
Vq2 = qU = k 1 = (9 . 109 N · m2/C2)
0 r1 0,04 m
Vq2 = 2700 N · m/C = -2700 J/C = -2700 V

O potencial total será a soma do potencial das duas cargas:


Va = Vq1 + Vq2 = 1800 + (-2700) = -900V
Repetindo o procedimento no ponto b, temos:
12 . 10-9 C
Vq1 = (9 . 109 N · m2/C2) · = 2700 V
0,04 m
.
-12 10 C-9
Vq2 = (9 . 109 N · m2/C2) · = -771 V
0,14 m
Vb = Vq1 + Vq2 = 2700 + (-771) = 1929 V
No ponto c temos:
12 . 10-9 C
Vq1 = (9 . 109 N · m2/C2) · = 830 V
0,13 m
-12 . 10 C
-9
Vq2 = (9 . 109 N · m2/C2) · = -830 V
0,13 m
Vc = Vq1 + V Vq2 = 830 + (- 830) = 0 V

O potencial será igual a zero em todos os pontos situados r = ∞.


Exemplificando: potencial de um condutor carregado
Considere uma esfera maciça sem buracos, possui um raio R e uma carga
total q. Determine o potencial em todos os pontos do exterior e do interior da
esfera. Para determinar o potencial elétrico, precisamos primeiro saber o cam-
po elétrico dentro e fora da esfera.
Primeiramente, a esfera deve ser simétrica para que possamos calcular o
campo elétrico com a lei de Gauss. Vamos iniciar com o cálculo do campo fora
do condutor, definindo a superfície gaussiana com um raio r maior que o raio R
da esfera condutora, assim todas as cargas estão dentro da superfície fechada.

A área da superfície da esfera é calculada por 4πr2 e E é uniforme e perpen-
dicular à superfície em todos os seus pontos, dispensando a necessidade de

ELETRICIDADE E MAGNETISMO 61

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se fazer integral. Assim, o campo elétrico fora da esfera, calculado pela lei de
Gauss, é dado por:

q q
E(4πr2) = ∈ E=
0 4πr2 ∈0
O campo elétrico sobre a superfície da esfera, é dado por:
q q
E(4πR2) = ∈ E=
0 4πR2 ∈0

Onde R é o raio da esfera.


O campo elétrico no interior da esfera será nulo, pois se a esfera é um con-
dutor, suas cargas estarão distribuídas em sua superfície. Assim, ao delimitar-
mos uma superfície gaussiana com raio menor que o raio da própria esfera,
não haverá carga no interior dela e, portanto, não haverá campo elétrico.
Uma vez que determinamos o campo elétrico, conseguimos calcular o po-
tencial elétrico no exterior da esfera em função de r, utilizando a equação:
1 q1 · q0
U 4π∈0 r q
V= q = q0 = π∈1 r
0 0

No interior da esfera, vimos que não há campo elétrico, portanto, o poten-


cial elétrico será constante, ou seja, se uma carga de prova fosse deslocada de
um ponto para outra no interior da esfera, não haveria trabalho. O valor do
q
potencial dentro da esfera será V = π∈1 r
0
Assim, o potencial no exterior da esfera será considerado constante.
Exemplificando: potencial produzido por um dipolo elétrico
Vamos determinar o potencial em um ponto arbitrário P a uma distância r de
um dipolo elétrico. A partícula positiva do dipolo produz um potencial V+ e a partí-
cula negativa produz um potencial V-. O potencial no ponto P é dado pela equação:
1 · q + q = q · r- - r+
V++V- = 4π∈
0 r+ r- 4π∈0 r+ · r-

Os dipolos que ocorrem naturalmente têm dimensões muito pequenas.


Isso significa que os pontos de interesse estão muito distantes do dipolo, que
podem ser representados por r>>d, em que r é a distância entre o ponto P e o
centro do dipolo, e d é a distância entre as cargas. Em outras palavras, pode-se
considerar que os segmentos de reta entre as cargas e o ponto P são pratica-
mente paralelos e que a diferença de comprimento entre esses segmentos de

ELETRICIDADE E MAGNETISMO 62

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reta é um dos catetos de um triângulo retângulo e d é a hipotenusa. Além disso,
a diferença é tão pequena que o produto dos comprimentos é aproximada-
mente r2. Dessa forma, a equação pode ser reescrita como:
q d · cos θ 1 p · cos θ
V= · = ·
4π∈0 r2 4π∈0 r2
Sendo θ o ângulo medido em relação ao eixo do dipolo e p é o módulo do
momento dipolar elétrico que corresponde a q · d, além de ser uma grandeza
vetorial que indica a orientação do dipolo elétrico.

Capacitância
Vimos até o momento como as cargas elétricas interagem entre si, gerando
energia elétrica. Neste tópico, veremos como armazenar essa energia gerada.
Capacitância representa a quantidade de energia elétrica que um dispositivo
consegue armazenar. Por essa razão, são chamados de capacitores.
Um capacitor pode ter diferentes formatos geométricos e possui dois con-
dutores (denominados placas) separados por uma distância d. O símbolo utili-
zado para representar um capacitor é (||). Quando um capacitor está carrega-
do, as placas estão carregadas com cargas de mesmo módulo, porém de sinais
opostos (+q e -q).
Os capacitores são fabricados com um material condutor, assim as placas
são superfícies equipotenciais, ou seja, todas os pontos da placa desse con-
dutor possuem o mesmo potencial elétrico. Entre as duas placas, existe uma
diferença de potencial representada pela letra V, que é proporcional a carga q
do condutor, como apresentado na equação abaixo:
q = C · V,
Onde C é uma constante de proporcionalidade chamada capacitância.
A capacitância depende da geometria das placas e mede a quantidade de
carga que deve ser acumulada nas placas para obter a diferença de poten-
cial desejada. Essa constante não depende da carga q e nem da diferença
de potencial V. Por ser uma constante de proporcionalidade, a relação apre-
sentada pela equação estabelece que quanto maior a capacitância, maior o
a carga q necessária.
C = 1 farad = 1F = 1C ⁄V

ELETRICIDADE E MAGNETISMO 63

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Para carregar um capacitor, é necessário conectá-lo a um dispositivo que
mantém uma diferença de potencial entre dois terminais, um positivo e um
negativo. A conexão entre o capacitor e o dispositivo forma um circuito fechado
por onde passará uma corrente elétrica. A Figura 9 (a) apresenta esse sistema,
onde o dispositivo que mantém a diferença de potencial é representado por
uma bateria (B) e duas placas que representam o capacitor (C). A bateria está
conectada às placas do capacitor por um fio de material condutor, que possui
uma chave (S) responsável por manter o circuito aberto ou fechado.

Terminal
b C
a a b
C
+ V
B
-
+ -
B
Terminal S
S
(a) (b)
Figura 9. a) circuito formado por uma bateria e capacitor; b) diagrama esquemático do circuito. Fonte: HALLIDAY;
RESNIK, 2014, p. 266.

Quando a chave está aberta, o circuito está interrompido, as placas do ca-


pacitor estão descarregadas, não existe diferença de potencial entre elas e não
há corrente elétrica no fio. Por enquanto, somente a bateria mantém uma dife-
rença de potencial V entre os terminais positivo + (maior potencial) e negativo
- (menor potencial), porém não há ligação entre os terminais.
Quando a chave S está fechada, o circuito se completa, estabelecendo uma
ligação entre os terminais + e –. Os elétrons irão se mover devido ao campo elé-
trico produzido pela bateria, fazendo com que os elétrons do capacitor da pla-
ca a se movam para o terminal + da bateria, tornando a placa a positivamente
carregada. Por outro lado, o mesmo campo elétrico faz com que os elétrons do
terminal negativo da bateria se movam para a placa b do capacitor, tornando
essa placa negativamente carregada. Entre as placas a e b começa a ser criado
uma diferença de potencial que ao se igualar a diferença de potencial da bateria,
cessa o movimento de elétrons entre as placas e a bateria. Ao adquirir o mesmo

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potencial que a bateria, tanto a placa a com o terminal + e a placa b com o termi-
nal -, não se tem mais o campo elétrico e, portanto, não haverá mais movimento
de elétrons. Nessa situação diz-se que o capacitor está totalmente carregado.

Capacitores de placas paralelas


Os capacitores de placas paralelas são os mais comuns de se encontrar e
são simplesmente formados por duas placas condutoras dispostas em parale-
lo. Na prática, são finas folhas metálicas separadas por um isolante de material
plástico. Esse conjunto é enrolado, permitindo maior área de contato. As placas
são carregadas com cargas opostas que se distribuem uniformemente nas su-
perfícies internas do material.

ASSISTA
Os capacitores são dispositivos de ampla utilização em equi-
pamentos eletrônicos e tem a função principal de armazenar
energia. Existem disponíveis no mercado uma grande varieda-
de de capacitores, em diferentes formatos e tamanhos. O vídeo
O que é um capacitor? Para que serve? Do canal Brincando
com Ideias apresenta o funcionamento do capacitor em um
sistema elétrico e as principais propriedades deste dispositivo.

Por estarem muito próximas, o campo elétrico entre as placas é uniforme



e tem módulo E = σ/∈0. Como E é uniforme entre as placas, a diferença de
potencial entre elas é igual à magnitude do campo elétrico e multiplicada pela
separação entre as placas d:
q·d
V = E · d = ∈σ d =
0 ∈0 · A

Substituindo V na equação da capacitância, temos a equação para capaci-


tância de capacitor de placas paralelas:

q q ∈0 · A
C= v =
q·d = d
∈0 · A
Por essa equação, observamos que, para capacitores de placas paralelas, a
capacitância não depende da carga q e nem do potencial V. Nesses capacitores,

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a capacitância é proporcional à área das placas e é inversamente proporcional
ao espaçamento entre elas.
A capacitância depende do tamanho, da forma e do arranjo geométrico dos
condutores, além de depender do meio isolante entre os condutores.
O cálculo da capacitância de um capacitor depende da sua forma geométrica.
Porém, em linhas gerais, podemos estabelecer um passo a passo para este cálculo:
(1) Supomos que as placas do capacitor estão carregadas com uma carga q;
(2) Calculamos o campo elétrico entre as placas em função dessa carga, uti-
lizando a lei de Gauss;
(3) Calculamos a diferença de potencial a partir do campo elétrico, com a
f→
equação Vf - Vi = -∫i E · ds→;
(4) Calculamos a capacitância C pela equação q = C· V
Exemplo 8: Capacitância de um capacitor de placas paralelas
Temos um capacitor de placas metálicas quadradas dispostas uma paralela a ou-
tra. Os lados dessas placas medem 10 cm de comprimento e estão separadas por um
espaço de 1 mm. Deseja-se calcular a capacitância deste dispositivo e quanta carga é
transferida de uma placa para outra quando carregarmos esse dispositivo com 12 V.
Resolução
A capacitância é determinada pela área e pela distância entre as placas da
seguinte forma:
Q = C · V = (88,5pF) · (12V) = 1,06 · 10-9C = 1,06nC
A carga transferida é determinada pela equação:
Q = C · V = (88,5 pF) · (12 V) = 1,06 ·10-9C = 1,06nC

Capacitores em série e em paralelo


Em algumas situações, faz-se necessária a utilização de mais de um capa-
citor. Nesses casos, os capacitores podem ser substituídos por um capacitor
equivalente nos cálculos. Existem duas maneiras de se combinar os capacito-
res: em série ou em paralelo.
Na combinação de capacitores em paralelo, um capacitor está diretamente
ligado a outro capacitor por uma de suas placas, como mostra a Figura 10. A
diferença de potencial será a mesma em todos os capacitores em paralelo e
a carga q total armazenada é igual a soma das cargas q em cada capacitor. A

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bateria está ligada diretamente a cada um dos capacitores. Desta forma, capa-
citores ligados em paralelo podem ser substituídos por um equivalente com a
mesma carga total e a mesma diferença de potencial que os capacitores indivi-
duais, como demonstrado na sequência de equações a seguir:
q1 = C1 · V, q2 = C2 · V e q3 = C3· V, sendo q = q1 + q2 + q3 e V igual para todos.
q = (C1 + C2 + C3) · V → q = (C1 + C2 + C3), portanto:
v
Ceq = C1 + C2 + C3
Essa equação é válida para todos os capacitores em paralelo que tivermos.
Assim, a capacitância equivalente corresponde à somatória das capacitâncias
individuais de quantos capacitores em paralelo tivermos no sistema.
Em combinações de capacitores em série (Figura 10), os dispositivos estão
arranjados em sequência, onde uma diferença de potencial é aplicada às extre-
midades do conjunto, fazendo com que todos os capacitores armazenem a mes-
ma quantidade de carga q. Diferentemente dos capacitores em paralelo, cada
capacitor gera uma diferença de potencial, sendo a diferença de potencial total
do sistema igual a somatória das diferenças de potencial de cada capacitor.
q = C1 · V1, q = C2 · V2 e q = C3 · V3, sendo V = V1 + V2 + V3 e q igual para todos.
q
Sendo q = C · V, isolando o V, temos V =
c

q q q q q 1 1 1
V = V1 + V2 + · V3 → = + + =q·
C1 + C2 + C3 , portanto

C C1 C2 C3 C
1 1 1 1
Ceq = C1 + C2 + C3

a a

6,0 μF
+ +
12,0V 6,0 μF 12,0 μF 12,0V
- -
12,0 μF

b b
Capacitores em paralelo Capacitores em série

Figura 10. Esquema de apresentação de capacitores em paralelo e em série.

A carga transferida entre capacitores em série terá um único percurso para


a carga: da bateria, para um capacitor e para outro. Dessa forma, podemos di-

ELETRICIDADE E MAGNETISMO 67

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zer também que a bateria irá transmitir carga somente para os capacitores aos
quais ela está diretamente ligada.
A seguir, serão resolvidos exemplos de capacitores associados em paralelo
e associados em série, como mostra a Figura 11.

1) a 2) 3)
a a

C1=12μF C1=5,3μF C12=17,3μF


C123=3,7μF
V123=12,5μV
v v V=12,5V q123=44,6μC
b b

C1=4,5μF C1=4,5μF

4) a 5) a

C12=17,3μF
q12=44,6μC C1=12μF C1=5,3μF
V12=2,58V V3=2,58V V2=2,58V
q1=31μC q2=13,7μC
V=12,5V V=12,5V
b b

C1=4,5μF C1=4,5μF
q3=44,6μC q3=44,6μC
V3=9,92V V3=9,92V

Figura 11. Combinação de capacitores em paralelo e em série.

Exemplo 9: capacitores em paralelo.


Um circuito consiste em dois capacitores de 6,0 µF e 12,0 µF, uma bateria
de 12,0 V e um interruptor. Inicialmente, o interruptor está aberto e os capa-
citores descarregados. Ao fechar o interruptor, os capacitores são carrega-
dos. Quando eles estiverem completamente carregados, até que a tensão de
circuito aberto da bateria seja estabelecida, determine: o potencial de cada
condutor no circuito, a carga de cada capacitor e o valor da carga total que
passa pela bateria.
Resolução
Quando dizemos que uma bateria tem potencial elétrico de 12,0 V, estamos
dizendo que essa é a diferença de potencial entre o polo positivo e o polo nega-

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tivo, portanto, em outras palavras, a bateria possui um potencial Va = 12,0 V no
condutor positivo e Vb = 0 V no condutor negativo.
Lembrando que capacitores em paralelo estão sujeitos ao mesmo poten-
cial, podemos calcular a carga de cada capacitor, pois conhecemos a capacitân-
cia de cada capacitor:
Capacitor 1: q1 = CV = (6,0 · 10 -6F) · (12,0V) = 72 · 10 -6C
Capacitor 2: q2 = CV = (12,0 · 10 -6F) · (12,0V) = 144 · 10 -6C
A carga total que passa pela bateria é a soma das cargas que cada capa-
citor recebe:
qtotal = q1 + q2 = 72 · 10-6C + 144 · 10-6C = 216 · 10-6C ou 216 μC
Exemplo 10: capacitores em série.
Os dois capacitores do circuito anterior são dispostos em série, com a mes-
ma bateria de 12,0 V. Empregando as mesmas considerações do sistema ante-
rior, vamos determinar o potencial de cada condutor, a carga em cada placa do
capacitor e o valor de carga total que passa pela bateria.
Resolução
Para o circuito de capacitores ligados em série, o conceito de potencial elétrico
nos condutores é o mesmo, portanto o potencial no condutor positivo é Va = 12,0V
e no conduto negativo é Vb = 0V. Entretanto, temos um trecho condutor entre os
capacitores 1 e 2 que terá um potencial elétrico diferente V1-2 desconhecido.
A diferença de potencial e a carga em cada capacitor pode ser represen-
tada assim:
V1 = Va - V1-2 e q1 = C1· V1 = C1· (Va - V1-2)
V2 = V1-2 - Vb e q2 = C2 · V2 = C1 · (V1-2 - Vb)
Isolando a equação de carga de cada capacitor no termo em comum das
duas, temos:
q1 q q q
Va - = V1-2 e Vb + 2 = V1-2 → Va - 1 = Vb + 2
C1 C2 C1 C2
q2 q
Va - Vb = - 1 , sabendo que Va - Vb = 12 e q1 = q2
C2 C1

12 = q 1 - q1 = q 1 - 1
C2 C1 6,0 · 10 -6F 12,0 · 10 -6F
12
q= 1 - 1 = 48 μC
6,0 · 10-6F 12,0 · 10-6F

ELETRICIDADE E MAGNETISMO 69

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Podemos determinar a diferença de potencial entre os dois capacitores, determi-
nando o potencial elétrico em cada um: V1 = q1 = 48 μC = 8 V e V2 = q2 = 48 μC = 4 V.
C1 6,0 μC C2 12,0 μF
Assim, V1 – V2 = 8 – 4 = 4V.
Exemplo 11: combinação de capacitores em paralelo e em série.
Na Figura 11, foi mostrada uma combinação de capacitores em paralelo e
em série. Sabendo a capacitância de cada capacitor e a diferença de potencial
aplicada aos terminais dos condutores, como mostrado na situação 1 da Figura
11, vamos determinar a capacitância equivalente do sistema e em seguida de-
terminar o potencial elétrico e a carga de cada capacitor.
Resolução
Inicialmente, faremos a capacitância equivalente entre os capacitores em
paralelo, obtendo dois capacitores em série. Depois, faremos a capacitância
equivalente dos dois capacitores em série (situação 2 da Figura 11), resultando
em um capacitor que equivale aos três anteriores (situação 3 da figura 11).
Na equivalência de capacitores em paralelo, fazemos a soma algébrica
da capacitância:
C12 = 12 + 5,3 = 17,3μF (situação 2 da figura)
Na equivalência de capacitores em série, fazemos a soma algébrica do in-
verso da capacitância:
1 q1 1 1 1
= = = + = 3,57 μF (situação 3 da figura 12)
C123 C12 C3 17,3 4,5

Com o potencial elétrico V = 12,5V, vamos definir a carga equivalente aos


três capacitores:
qeq = C123 · Vtotal = 3,57μF · 12,5V = 44,6μC (situação 3 da figura 12)
Capacitores em série possuem a mesma carga que o capacitor equiva-
lente, assim q3 = q12 = 44,6µC, porém o potencial elétrico será corresponden-
te à capacitância:
q12 44,6μC q 44,6μC
V12 = = 2,58 V e V12 = 3 = = 9,92V (situação 4 da figura 12)
C12 17,3μF C3 4,5μF

Capacitores em paralelo, por sua vez, possuem o mesmo potencial elétrico.


Assim, determinamos a carga de cada um:
q1 = C1· V1 = 12μF · 2,58V = 31μC e q2 = C2 · V2 = 5,3μF · 2,58V = 13,7μC
Dessa forma, conseguimos determinar a carga e o potencial elétrico de
cada capacitor, como mostra o resultado final na situação 5 da figura.

ELETRICIDADE E MAGNETISMO 70

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Energia armazenada em um campo elétrico
Ao carregar um capacitor, haverá transferência dos elétrons do condutor
positivo para o condutor negativo, deixando o primeiro com uma deficiência de
elétrons e o segundo com um excesso de elétrons. Para que essa transferência
ocorra, é realizado trabalho W, sendo parte dele armazenado como energia
potencial eletrostática.
Inicialmente, temos dois condutores mantidos afastados e descarrega-
dos. A carga positiva q é a carga transferida no início do processo de carga.
A diferença de potencial será V = q/C. Se uma pequena quantidade de carga
positiva adicional d · q é transferida do condutor negativo para o positivo
através de um aumento de potencial V, a energia potencial elétrica da carga
e do capacitor aumenta:
q
dU = V · dq = dq
C

O aumento total na energia potencial U é a integral dU quando q aumenta


de zero até seu valor final Q, como mostra a equação abaixo:
q 1 Q q dq = 1 · Q
2
Q
U = ∫ dU = ∫0 dq = C ∫ 2 C
C 0

Essa energia potencial é a energia armazenada no capacitor. Usando a de-


finição de capacitância (C = Q/V ), podemos expressar esta energia em termos
de Q e V, C e V, ou Q e C:
Q2
U= 1 1 1
2 · C = 2 Q·V= 2 C·V
2

Capacitor com um dielétrico


Dielétrico é um material isolante como o plástico ou óleo mineral, que é
utilizado entre as placas de um capacitor. Em casos onde o espaço vazio entre
as placas de um capacitor é preenchido com um material dielétrico, a sua capa-
citância é aumentada. Dessa forma, capacitores que possuem material isolante
entre as placas carregadas devem multiplicar a capacitância por um fator k
chamada constante dielétrica. O Quadro 1 apresenta a constante dielétrica de
alguns materiais isolantes.

ELETRICIDADE E MAGNETISMO 71

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QUADRO 1. CONSTANTE DIELÉTRICA (K) DE ALGUNS MATERIAIS ELÉTRICOS

MATERIAL K MATERIAL K

Ar (1 atm) 1,00054 Porcelana 6,5

Poliestireno 2,6 Silício 12

Papel 3,5 Germânio 16

Óleo de transformador 4,5 Etanol 25

Pirex 4,7 Água (20ºC) 80,4

Mica rubi 5,4 Água (25ºC) 78,5

Fonte: HALLIDAY; RESNIK, 2014, p. 287

O material dielétrico possui uma rigidez elétrica que representa o máximo


de campo elétrico que o dielétrico tolera. Se esse valor é ultrapassado, ele sofre
uma ruptura e passa a transferir carga de uma placa para outra. Podemos dizer
então que o dielétrico limita a diferença de potencial que pode ser aplicada
entre as placas do capacitor.
Assim, a equação para capacitância de um capacitor que, entre as placas con-
dutoras, possui um material dielétrico passa a ser escrita da seguinte maneira:
C = k · Car
Sendo Car a capacitância do capacitor se ele estivesse preenchido somente
com ar e k a constate dielétrica do material isolante utilizado entre as placas.

ELETRICIDADE E MAGNETISMO 72

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Sintetizando
Nesta unidade, apresentamos que um corpo eletricamente carregado for-
ma um campo elétrico ao seu redor e que é possível medi-lo quando coloca-
mos uma carga de prova na região do campo. A forma como medimos esse
campo elétrico depende do formato do objeto e se as cargas estão distribuídas
de forma uniforme ou não. Além disso, avaliamos como a direção e o sentido

do vetor campo E dependem do sinal da carga em questão.
Vimos também como medir o fluxo elétrico do vetor campo que atravessa
uma superfície plana. Quando a superfície não for plana, podemos dividir a
área dessa superfície irregular em pequenas áreas elementares, calculando o
fluxo sobre cada área elementar e somando através de uma integral para obter
o fluxo total do campo elétrico que a travessa a superfície irregular.
Aprendemos que a lei de Gauss faz uma relação do fluxo elétrico com
a carga elétrica envolvida por uma superfície fechada que é denominada
superfície gaussiana. Se a carga envolvida pela superfície possui sinal po-
sitivo, as linhas de força apontam para fora e o sinal do fluxo elétrico é
positivo. Se a carga for negativa, as linhas de força apontam para dentro
e o fluxo é negativo. Por lógica, se não houver carga envolvida ou se as
cargas na superfície forem positivas e negativas com mesmo módulo, não
haverá fluxo elétrico.
Outro tópico desta unidade apresentou que a força elétrica gerada em
uma carga de prova é conservada em forma de energia potencial elétrica
(U), que por consequência atribui a essa carga um potencial elétrico que
é proporcional ao valor da carga. Quando uma carga se encontra em um
campo elétrico que possui dois potenciais elétricos diferentes, a carga será
deslocada de um ponto para outro, diz-se que o campo elétrico realizou
trabalho sobre essa carga.
O deslocamento da carga devido a potenciais elétricos diferentes em
um mesmo campo elétrico é fundamental para o entendimento do funcio-
namento dos capacitores. O capacitor é um dispositivo formado por duas
placas paralelas que funciona pela diferença de potencial elétrico entre
dois condutores, possibilitando a transferência e armazenamento de car-
ga nessas placas.

ELETRICIDADE E MAGNETISMO 73

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A capacitância é uma importante propriedade do capacitor, pois represen-
ta o quanto de carga elétrica o capacitor consegue armazenar. Aprendemos a
calcular a capacitância dos capacitores quando estão isolados, associados em
série, em paralelo ou em série e paralelo em um mesmo sistema.

ELETRICIDADE E MAGNETISMO 74

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Referências bibliográficas
HALLIDAY, D.; RESNICK, R.; WALKER, J. Fundamentos de física - Eletromagne-
tismo. 10. ed. Rio de Janeiro: Livros Técnicos e Científicos, 2016.
O QUE É CAPACITOR? Para o que serve? Postado por Brincando com ideias
(11min. 06s.). Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=ypmOV0tK-
qos>. Acesso em: 26 out. 2019.
TIPLER, P. A.; MOSCA, G. Física para cientistas e engenheiros. 6 ed. Rio de
Janeiro: Livros Técnicos e Científicos, 2016.
YOUNG, H. D.; FREEDMAN, R. A. Física III Eletromagnetismo. 12. ed. São Paulo:
Pearson Education do Brasil, 2009.

ELETRICIDADE E MAGNETISMO 75

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UNIDADE

3 CORRENTES E
RESISTÊNCIAS
ELÉTRICAS

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Objetivos da unidade
Introduzir o conceito de circuito elétrico;
Aprender como uma corrente elétrica é gerada;
Conhecer os parâmetros que definem a corrente elétrica;
Calcular a corrente elétrica em um circuito fechado;
Apresentar a lei de Ohm;
Apresentar a capacidade dos materiais em se opor à passagem da corrente;
Apresentar a influência que a temperatura tem na passagem da corrente em
um condutor;
Apresentar o que é força eletromotriz;
Mostrar que as fontes de energia também possuem uma resistência à
passagem da corrente.

Tópicos de estudo
Correntes elétricas
Geração da corrente elétrica
Densidade de corrente
Velocidade de deriva

Resistências elétricas
Lei de Ohm
Força eletromotriz
Semicondutores e supercon-
dutores

ELETRICIDADE E MAGNETISMO 77

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Correntes elétricas
Os conceitos de carga elétrica, força elétrica, campo elétrico e potencial
consideram que a carga é estática, ou seja, não se move. Em outras palavras,
esses conceitos consideram a carga como um ponto fixo.
Tendo isso em mente, iniciaremos, a partir dessa Unidade, o estudo do mo-
vimento da carga elétrica, denominado corrente elétrica, que é utilizado para
as mais diferentes aplicações além da elétrica, como a área de Biologia, Meteo-
rologia, Fisiologia, entre outros.
O caminho da corrente elétrica ao longo de uma trajetória forma um circui-
to fechado denominado circuito elétrico, cuja função básica é transferir energia
de um local para outro. A energia potencial elétrica das cargas carregadas é
transferida de uma fonte (uma bateria) até um dispositivo, sendo armazena-
da ou convertida em outra forma de energia (energia sonora, energia térmica,
energia luminosa, entre outras).

Geração da corrente elétrica


A corrente elétrica é definida como o movimento de cargas elétricas. Entre-
tanto, nem todas as cargas que se encontram em movimento podem gerar uma
corrente elétrica. Para que ela exista, deve haver um fluxo líquido de cargas que
atravessam uma superfície.
Para entender melhor, lembre-se do conceito de materiais condutores, em
que os elétrons permanecem livres na superfície do material. Em um fio condutor,
esses elétrons se movimentam de um sentido para outro. No entanto, o campo
elétrico é nulo (os vetores campo se anulam) e o potencial elétrico é o mesmo em
qualquer ponto do fio, ou seja, não gera diferença de potencial e, consequente-
mente, não há corrente elétrica.
Se as duas extremidades desse fio condutor forem conectadas a uma bateria,
uma diferença de potencial é gerada, o campo elétrico não é mais nulo e, conse-
quentemente, gera uma força sobre os elétrons livres no fio, fazendo com que eles
se movimentem. Todavia, com a diferença de potencial, esse movimento dos elé-
trons se dá preferencialmente em um sentido, produzindo uma corrente elétrica.
O movimento orientado dos elétrons recebe o nome de fluxo líquido de cargas.

ELETRICIDADE E MAGNETISMO 78

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A Figura 1 mostra a corrente elétrica atravessando um conduto retilíneo. Em
diferentes partes desse conduto estão representados três cortes transversais: aa’,
bb’ e cc’. A corrente elétrica é uma relação entre a carga dq que passa em cada
seção em um intervalo de tempo dt.

a b
C

i i

C’

a’ b’
Figura 1. Corrente elétrica atravessando um conduto. Fonte: HALLIDAY, 2016, p. 322. (Adaptado).

i=
dq
dt [ C
s
= ampere ]
Sendo:
i: corrente elétrica [A];
dq: carga [C];
dt: tempo [s]
Em um sistema fechado, após iniciada a corrente elétrica, o movimento de elé-
trons atinge um valor constante, deixando de variar com o tempo. O nome disso é
corrente estacionária. Assim, em qualquer seção do conduto (como apresentado
na Figura 1), a corrente será a mesma, demonstrando que a carga é conservada.
A Figura 2 mostra dois condutores por onde passa uma corrente i0. Ao chegar
na bifurcação, a corrente se divide em i1 e i2, de modo que a relação entre essas
correntes é: i0 = i1 + i2. A bifurcação é chamada de nó e as setas representam ape-
nas o sentido do fluxo líquido das cargas. A corrente elétrica, por sua vez, é uma
grandeza escalar e não vetorial.
Devido a diferentes materiais condutores, as partículas que se movem podem
ser positivas ou negativas. Nos metais (material sólido), as cargas que se movem
são os elétrons. Nos gases ou em soluções iônicas, as cargas podem ser positivas
ou negativas.

ELETRICIDADE E MAGNETISMO 79

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Por convenção, o movimento da corrente elétrica indicado por cargas que par-
tem do terminal positivo se deslocam para o terminal negativo. Por mais que já
saibamos que são as cargas negativas (elétrons) que se movem e que os prótons
permanecem fixos, fazendo mais sentido ter o movimento da corrente elétrica do
terminal negativo para o positivo, a corrente elétrica será representada partindo
do terminal positivo para o negativo.

i1
i1

i0
i0

i2

i2

Figura 2. Corrente elétrica percorrendo um condutor, mantendo a carga conservada. Fonte: HALLIDAY, 2016, p.
322. (Adaptado).

Densidade de corrente
A corrente elétrica pode ser explorada de duas formas: a primeira é pela
determinação da corrente total i, que passa por um condutor. A segunda, mais
específica, é a determinação do fluxo de carga por meio de uma seção reta
específica de um material. Esse fluxo de carga é denominado densidade de
corrente e pode ser representado por J⃗, que é uma grandeza vetorial com dire-
ção e sentido igual à velocidade das cargas que constituem a corrente se essas
cargas forem positivas. Se as cargas foram negativas, todavia, o vetor densida-
de de corrente terá direção e sentido contrário ao da velocidade.
A parte específica de um material cuja densidade de corrente se deseja de-
terminar será chamada de elemento da seção reta. O módulo J da densidade
de corrente é definido como a corrente elétrica dividida pela área do elemento
da seção reta, que é o vetor da área perpendicular ao elemento. Essa relação é
apresentada pela seguinte equação:

ELETRICIDADE E MAGNETISMO 80

SER_ENGEL_ELEMAGNE_UNID3.indd 80 05/12/2019 13:38:31


J⃗ =
i
dA⃗
ou i = ∫ J⃗ · A⃗

Se a corrente for uniforme em toda a seção reta e paralela a dA⃗, J⃗ também


será uniforme e paralela a dA⃗. Assim, a integral pode ser dispensada e o módu-
lo da densidade será dado por:

J=
i
A [ ] A
m2

A densidade de corrente pode ser representada graficamente por um con-


junto de linhas de corrente (como as linhas de força que representam o campo
elétrico).

Figura 3. Linhas de corrente. Fonte: HALLIDAY, 2016, p. 326. (Adaptado).

A Figura 3 mostra as linhas de corrente atravessando um conduto com se-


ções de tamanhos diferentes. Como a corrente em si é conservada, a mesma
quantidade de corrente que passa na seção de maior área passará na seção
de menor área, resultando na variação da densidade. O espaço entre as linhas
de corrente é inversamente proporcional à densidade, ou seja, quanto maior o
espaço entre as linhas, menor será a densidade e vice-versa.

Velocidade de deriva
Os elétrons livres de uma superfície com potencial elétrico constante se mo-
vem aleatoriamente sem produzir corrente elétrica. Quando é estabelecida uma
diferença de potencial, esses elétrons irão se mover com uma velocidade deno-
minada velocidade de deriva ou velocidade de arraste (vd), que terá sentido

ELETRICIDADE E MAGNETISMO 81

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contrário ao campo elétrico e valor muito pequeno em relação à velocidade dos
elétrons no movimento aleatório. Para se ter uma noção da magnitude dessas
velocidades, em um fio de cobre, a velocidade de deriva dos elétrons é da ordem
de 10 -7 m/s e a velocidade aleatória é de ordem de 106 m/s.
A velocidade de deriva é uma grandeza vetorial (v⃗ ) de mesma direção e senti-
d

do que o campo elétrico (E⃗) e a densidade de corrente ( J⃗) se a carga for positiva.
Por outro lado, se a carga for negativa, v⃗ possui sentido oposto a E⃗ e J⃗.
d

Supondo que a velocidade de deriva, a densidade de corrente e a área da


seção sejam todas constantes, a quantidade de cargas q em um pedaço de fio
de tamanho L será igual ao produto desses três elementos, em que n representa
o número de portadores por unidade de volume (A · L). Considerando que cada
portador possui carga e, a carga total é dada pela equação:
q = (n · A · L) · e

Essa carga atravessa o fio em um intervalo de tempo dado por:


L
t=
vd

Dessa forma, temos:

q n·A·L·e i J
i= = = n · A · vd · e → vd = =
t L n·A·e n·e
vd

Em forma vetorial:
J⃗ = (n · e) · vd
Exemplo 1.
Um fio de cobre possui diâmetro de 1,024 mm (geralmente nos fios que ligam
lâmpadas calibre 18) e uma lâmpada de 200 W está conectada a esse fio, que
conduz uma corrente de 1,67 A. A densidade de elétrons livres é igual a 8,5 · 1028
elétrons por m3. Deseja-se determinar a densidade de corrente e a velocidade de
deriva. O que acontece com a densidade de corrente e a velocidade de deriva se
o fio tiver calibre 12 (D = 2,053 mm)?
Resolução:
Conhecendo a corrente e o diâmetro do fio, podemos calcular a velocidade
de deriva com a equação:
i
vd =
n·A·e

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Em que:
π · D2
A=
4

Portanto:
i 1,67 C/s
vd = =
n· ( π · D2
4
)
n· e 8,5 · 1028 e- ⁄m3 · [ π · (0,001024 m)2
4
] n· 1,6 · 10-19C

vd = 1,5 · 10-4 m⁄s → 0,15 mm⁄s

Logo, a densidade de corrente pode ser obtida pela equação:


i 1,67 A
J= = = 2,06 · 106 A ⁄m2
A
[ π · (0,001024 m)2
4
]
Agora, se o diâmetro do fio dobra de tamanho, sendo 2,04 mm ou 0,00204
m, a vd é:
1,67 C/s
vd = = 3,71 · 10-5 m⁄s
8,5 · 1028 e- ⁄m3 · [ π · (0,001024 m)2
4
] n· 1,6 · 10-19C

E a densidade de corrente passa a ser:


1,67 A
J= = 5,05 · 105 A ⁄m2

[ π · (0,001024 m)2
4
]
Para um fio de calibre 18 com uma corrente elétrica de 1,67 A, a velocidade
de deriva é de 0,15 mm/s e a densidade de corrente é de 2,06 · 106 A ⁄m2. Quando
o diâmetro do fio aumenta para um calibre 12, a velocidade
de deriva e a densidade de corrente ficam, respectivamen-
te, no valor de 0,037 mm/s e 5,05 · 105 A ⁄m2. Ou seja, a velo-
cidade e a densidade de corrente diminuem, pois é a mes-
ma quantidade de carga atravessando uma seção maior.

Resistências elétricas
Os materiais condutores são aqueles capazes de conduzir elétrons por sua
superfície. Quando estabelecida uma diferença de potencial, é possível ob-
ter uma corrente elétrica. No entanto, dependendo do tipo de material que

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compõe esse condutor, ele terá uma maior ou menor capacidade de se opor
à passagem da corrente elétrica. Devido a isso, todos os materiais possuem
resistividade elétrica.
Por exemplo, tem-se duas barras: uma de cobre e outra de vidro. É aplicada,
em ambas as barras, a mesma diferença de potencial. O resultado observado será
completamente diferente, pois a resistividade do cobre é de 1,69 · 10 -8 Ω · ҉ m e o
vidro possui resistividade de 1010 Ω · ҉ m.
Georg Simon Ohm foi um físico e matemático alemão que estabeleceu uma
relação entre corrente elétrica, tensão elétrica e resistência dos ma-
teriais, passando a ser conhecida como a lei de Ohm. Todos os
materiais que apresentam essa proporcionalidade
são denominados materiais ôhmicos.
A lei de Ohm fornece um modelo idealizado
que descreve muito bem o comportamento para
alguns materiais. No entanto, essa lei não pode
ser generalizada e aplicada, sendo análoga às leis
de Hooke e dos gases ideais.
A resistência elétrica (R) de um sistema condutor é calculada pela
medição da corrente elétrica (i) resultante da aplicação de uma diferença de
potencial (V ), fazendo a relação entre as duas grandezas, conforme mostra a
equação:

R=
V
i [ V
A
= Ω (ohm) ]
V
Ao explicitarmos a corrente na equação anterior, temos i = R
, ficando mais
evidente a relação entre diferença de potencial e resistência. Sendo assim,
quanto maior a resistência, menor a corrente elétrica. De maneira inversa,
quanto menor a resistência elétrica, maior a corrente.
Ao delimitar a diferença de potencial em um ponto específico do campo
elétrico, analisamos a densidade de corrente, e não mais na corrente elétrica
do condutor. Assim, a relação que se estabelece é do campo elétrico pela den-
sidade de corrente, que representa a resistividade do material (ρ) pela seguinte
equação:

ρ=
E
J [ V/m
A/m2
=
V
A
· m ou Ω · m ]
ELETRICIDADE E MAGNETISMO 84

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EXPLICANDO
A densidade da corrente é uma grandeza vetorial representada por J⃗ e a
corrente elétrica é uma grandeza escalar representada pela letra i (ou I). A
diferença entre as duas definições é que a densidade da corrente descreve o
fluxo das cargas em determinado ponto, informando o sentido e a direção além
do seu módulo, e a corrente elétrica descreve como as cargas fluem por um
objeto estendido e sua intensidade representa o valor da corrente elétrica, que
será o mesmo em qualquer ponto deste objeto. Em contrapartida, o módulo da
densidade de corrente será diferente em cada ponto.

Em forma vetorial, a equação anterior pode ser escrita como:


E⃗ = ρ · J⃗
As duas equações são aplicáveis somente em materiais isotrópicos, ou seja,
materiais que possuem a mesma propriedade em todas as direções.
Outro termo muito utilizado na definição de materiais condutores de cor-
rente elétrica é a condutividade (σ), que se trata de uma relação da resistivida-
de interpretada pela seguinte fórmula:
1
σ= [Ω · m]-1
ρ

Na forma vetorial, podemos escrever:


J⃗ = σ · E⃗
Dessa forma, é possível dizer que um condutor perfeito tem resistência
igual a zero e um isolante perfeito tem resistência infinita. A Tabela 1 apresenta
a resistividade de alguns materiais.

TABELA 1. RESISTIVIDADE DE MATERIAIS CONDUTORES,


SEMICONDUTORES E ISOLANTES

Material Resistividade – ρ (Ω . m)

Prata 1,62 · 10-8

Cobre 1,68 · 10-8

Ouro 2,35 · 10-8


Condutores
Alumínio 2,75 · 10-8

Manganina 4,82 · 10-8

Tungstênio 5,25 · 10-8

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Ferro 9,68 · 10-8

Platina 10,6 · 10-8

Chumbo 22 · 10-8

Mercúrio 96 · 10-8

Carbono puro 3,5 · 10-5

Germânio puro 0,6

Semicondutores Silício puro 2,3 · 103

Silício tipo n 8,7 ·10-4

Silício tipo p 2,8 · 10-3

Vidro 1010 - 1014

Quartzo fundido 75 · 1016

Âmbar 5 · 1014

Lucita > 1013


Isolantes
Mica 1011 - 1015

Enxofre 1015

Tetrafluoretileno > 1013

Madeira 108 - 1011

Fonte: HALLIDAY, 2016, p. 336; YOUNG; FREEDMAN, 2009, p. 140; TIPLER, 2009, p. 152. (Adaptado).

A resistência de um sistema condutor pode ser obtida a partir dos valores


conhecidos da resistividade dos materiais. Considerando que o sistema condu-
tor é formado por uma seção reta, a densidade da corrente será uniforme e,
consequentemente, o campo elétrico será o mesmo em qualquer ponto dessa
seção, podendo estabelecer as relações das equações a seguir:
V
E=
L
i
J=
A
E
São substituídos na equação da resistividade ρ = J
, resultando em:
V
L V i
ρ= = ·
i L A
A

ELETRICIDADE E MAGNETISMO 86

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i
Sabendo da resistência R = v
, a equação fica:
L
R= ρ·
A

Essa equação pode ser aplicada somente em condutores isotrópicos ho-


mogêneos de seção reta uniforme, cuja diferença de potencial aplicada tem
distribuição uniforme nas extremidades.

CURIOSIDADE
A lâmpada de uma residência acende devido à corrente elétrica transmitida
pelos fios elétricos. O fio de cobre é comumente utilizado para essa função.
Considere um fio de cobre com comprimento de 100 m e resistência de 0,5
Ω. Uma lâmpada de 100 W para 120 V possui uma resistência de 140 Ω.
Sabendo que a resistência faz uma relação entre diferença de potencial e
v
corrente elétrica (R = i ) e que a corrente elétrica que passa pelo fio é a
mesma que chega à lâmpada, se a resistência da lâmpada é muito maior do
que a resistência do fio, a diferença de potencial será muito maior (V = i ∙ R).
O excesso de energia potencial elétrica que chega na lâmpada é convertido
em energia luminosa. Devido à resistência do fio ser bem pequena, a dife-
rença de potencial no fio será muito baixa e, portanto, o fio não se iluminará.

Exemplo 2.
Qual é o comprimento necessário de um fio elétrico, cujo material é níquel e
cromo, para se obter uma resistência de 2 Ω? Sabe-se que esse material possui
resistividade de ρ = 110 · 10 -8 Ω.m e diâmetro de 1,3 mm.
Resolução:
Para determinar o comprimento L do fio, usaremos a equação:
L
R= ρ·
A

Com o L explicitado:

L=
R·A
=
R· ( π · D2
4
) =
2Ω· [ π · (0,0013 m)2
4
]
= 2,4 m
ρ ρ 110 · 10-8 Ω. m

Para obter uma resistência de 2 Ω em um fio de cobre de diâmetro 1,3 mm


(calibre 16), ele deve ter comprimento de 2,4 m.
Podemos observar que os metais são os materiais com menor resistivida-
de, sendo, portanto, bons condutores de corrente elétrica. Por outro lado, os

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isolantes apresentam resistividade extremamente elevada e, assim, são consi-
derados mau condutores de corrente elétrica.
Além disso, pode ser feita uma analogia entre condutividade elétrica com a
condutividade térmica, ou seja, geralmente um bom condutor elétrico também
é um bom condutor térmico e um mau condutor elétrico se apresenta como um
mau condutor de calor.
A resistividade dos materiais é uma grandeza física que varia com a temperatu-
ra, e a relação dessa variação é quase linear para todos os metais. A equação a se-
guir é uma equação empírica que pode ser utilizada para a maioria das aplicações:
ρ - ρ0 = ρ0 · α · (T - T0)
Sendo:
T0: temperatura de referência (293 Kelvin ou 20 °C);
ρ0: resistividade do material na temperatura de referência T0;
α: coeficiente de temperatura da resistividade tabelada para determinados
materiais;
T: temperatura que pode ser maior ou menor do que T0;
ρ: resistividade do material na temperatura T.
A Tabela 2 apresenta os valores de coeficiente de temperatura da resistividade
para alguns materiais condutores.

TABELA 2. COEFICIENTE DE TEMPERATURA DA RESISTIVIDADE PARA ALGUNS


MATERIAIS CONDUTORES

Material Coeficiente de temperatura da resistividade – α (K-1)

Prata 4,1 · 10-3

Cobre 4,3 · 10-3

Ouro t4,0 · 10-3

Alumínio 4,4 · 10-3

Manganina 0,002 · 10-3


Condutores
Tungstênio 4,5 · 10-3

Ferro 6,5 · 10-3

Platina 3,9 · 10-3

Chumbo 4,3 · 10-3

Mercúrio 0,88 · 10-3

Fonte: YOUNG; FREEDMAN, 2009, p. 141. (Adaptado).

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Se a resistividade varia com a temperatura, a resistência também irá variar de
modo que a temperatura não fique muito elevada. A relação gera uma equação
análoga à anterior:
R - R0 = R0 · α · (T - T0)
Sendo:
T0: temperatura de referência (293 Kelvin ou 20 °C);
R0: resistividade do material na temperatura de referência T0;
α: coeficiente de temperatura da resistividade tabelada para determinados
materiais;
T: temperatura que pode ser maior ou menor do que T0;
R: resistividade do material na temperatura T.
Em algumas situações, um condutor é inserido em um circuito com a finalidade
de introduzir uma resistência à corrente elétrica, situação em que é chamado de re-
sistor. Define-se como resistor um componente que possui uma determinada capa-
cidade de resistência em suas extremidades que não depende da diferença de po-
tencial a ele aplicado. Podem ser encontrados comercialmente em lojas de material
elétrico, possuem formato cilíndrico de tamanho pequeno (dimensão de diâmetro e
comprimento de alguns milímetros), com fios que saem de suas extremidades. Sua
resistência é marcada por um código de cores, conforme apresentado na Tabela 3.

TABELA 3. RELAÇÃO DE CORES E VALOR DE RESISTÊNCIA DE UM RESISTOR

Cor Valor do dígito Valor multiplicador Tolerância

Preta 0 1 Marrom 1%

Marrom 1 10 Vermelho 2%

Vermelha 2 102 Dourado 5%

Laranja 3 103 Prateado 10%

Amarela 4 104 Nenhum 20%

Verde 5 10 5

Azul 6 106

Violeta 7 107

Cinza 8 108

Branca 9 109

Fonte: YOUNG; FREEDMAN, 2009, p. 143. (Adaptado).

ELETRICIDADE E MAGNETISMO 89

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Um resistor pode apresentar três ou quatro faixas de cores. As faixas represen-
tam a capacidade em ohms desse resistor e a faixa mais espaçada representa sua
tolerância. A leitura deve ser feita da seguinte maneira: as duas (ou três) primeiras
faixas representam os dígitos e variam de 1 a 99 (ou 1 a 999), a terceira (ou quarta)
faixa representa o fator de multiplicação em potência de 10 a 109. Por fim, a última
faixa, mais afastada das outras, representa a tolerância que o resistor suporta. A
Figura 4 apresenta dois exemplos de como é feita essa leitura.

Figura 4. Resistor com faixas de cores indicando sua capacidade. Fonte: Shutterstock. Acesso em: 25/112019.

As cores verde e azul mostram os dígitos da capacidade (56), a faixa vermelha


mostra o fator multiplicador (102) e a faixa dourada (mais afastada) mostra a tole-
rância de 5%.
Sendo assim, a capacidade é 56 · 102 Ω e a tolerância é de 5%.
Exemplo 3.
O fio de cobre de calibre 12 (D = 2,053 mm) conduz uma corrente i = 2 A. Para essa
situação, qual será o campo elétrico (E) no fio, a diferença de potencial (V) entre dois
pontos do fio a uma distância de 50 m um do outro e a resistência (R) de um segmen-
to do fio de comprimento L = 50 m?
Resolução:
Devemos, primeiro, calcular a densidade de corrente, pois ela possui relação
com o campo elétrico:

i i 2A
J= = = = 6,04 · 105 A ⁄m2
A π · D2 π · (0,002053 m)2
4 4
Pela Tabela 1, sabemos que a resistividade do cobre é ρ = 1,68 · 10 - 8 Ω.m. Logo,
o campo elétrico é calculado por:
E = ρ · J = 1,68 · 10 -8 Ω · m · 6,04 · 105 A ⁄m2 = 0,01 V⁄m
A diferença de potencial é obtida pela equação:
V = E · L = 0,01 · 50 = 0,5 V

ELETRICIDADE E MAGNETISMO 90

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Por fim, a resistência no fio será dada por:
V 0,5
R= = = 0,255 Ω
i 2
Ou
L 50
R= ρ = 1,68 · 10 - 8 Ω.m · = 0,25 Ω
A 3,31 · 10-6 m2

O campo elétrico no fio será de 0,01 V/m, a diferença de potencial para 50 m


de fio será de 0,5 V e a resistência de 50 m de fio de cobre será de 0,25 Ω.

Lei de ohm
O resistor foi apresentado como um componente que tem capacidade de
oferecer resistência à passagem da corrente elétrica, não dependendo da dife-
rença de potencial aplicada. Existem outros componentes que podem também
oferecer uma resistência à passagem da corrente elétrica. No entanto, o valor
dessa resistência pode variar com a diferença de potencial aplicada.
Um componente de teste, mostrado na Figura 5 (a), é submetido a uma
diferença de potencial aplicada em seus dois terminais, sendo que a corrente
elétrica gerada é medida de acordo com as diferentes variações. A Figura 5 (b)
mostra o gráfico com os resultados obtidos para um determinado componen-
te, podendo ser observada uma linha reta que passa pela origem e mostrando
que a razão de i/V é a mesma para qualquer valor de V. Isso significa que a
V
resistência desse componente (R = i
) não varia com o valor da diferença de
potencial.
O gráfico da Figura 5 (c) apresenta os resultados do mesmo teste realizado
em outro componente. Nesse gráfico, observa-se uma curva na qual a corrente
se mantém igual a zero até um determinado valor de diferença de potencial. A
partir desse valor de aproximadamente 1,5 V, uma corrente elétrica é gerada.
Entretanto, observa-se também que, na faixa em que a diferença de potencial
gera uma corrente elétrica, a razão entre ambos não é uniforme, ocorrendo
uma dependência da corrente pela diferença de potencial.
A partir desse teste, pode-se concluir que existe uma dife-
rença importante entre componentes no que diz respeito à
geração de corrente elétrica.

ELETRICIDADE E MAGNETISMO 91

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V

+ -
?
i i

(a)

+2
Corrente (mA)

-2

-4 -2 0 +2 +4

(b) Diferença de potencial (V)

+4
Corrente (mA)

+2

-2
-4 -2 0 +2 +4
(c)
Diferença de potencial (V)

Figura 5. (a) teste de aplicação de diferença de potencial a um componente. (b) razão linear em diferença de potencial
e corrente elétrica. (c) razão não constante entre variação da diferença de potencial e corrente elétrica gerada. Fonte:
HALLIDAY, 2016, p. 340. (Adaptado).

ELETRICIDADE E MAGNETISMO 92

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Segundo a definição da lei de Ohm, a corrente elétrica que atravessa um
condutor varia linearmente com a diferença de potencial aplicada ao compo-
nente para qualquer valor da diferença. Assim, o componente que gerou os re-
sultados em (b) obedece à lei de Ohm, enquanto que o componente que gerou
os resultados em (c) não a obedece.
Para componentes que obedecem à lei de Ohm, pode ser utilizada a relação
R = V/i. Entretanto, a resistência de um componente que não obedece à lei de
Ohm também pode ser calculada por essa relação quando a diferença de po-
tencial e a corrente elétrica são medidas. Portanto, a definição da lei de Ohm
pode ser considerada correta para todos os componentes de forma geral quan-
do se considera que, em determinada faixa de variação do potencial, pode ser
gerada uma corrente elétrica com uma razão linear entre ambos.
Por esta razão, a lei de Ohm é mais correta quando consideramos os ma-
teriais em vez de componentes. Desse modo, exploramos a relação do campo
elétrico com a densidade elétrica ( E⃗ = ρ · J⃗ ) para resistividade do material e R
= V/i para resistência de um componente.

Força eletromotriz
Em um sistema fechado, conseguimos produzir uma corrente estacionária
devido ao fornecimento constante de carga. Em um sistema isolado ou aber-
to, por sua vez, não é possível obter corrente elétrica constante, pois ao ser
aplicado um campo elétrico em um ponto do sistema, a força gerada nas car-
gas faz com que haja uma corrente elétrica que acumulará cargas positivas em
uma extremidade e cargas negativas na outra. A concentração dessas cargas
nas extremidades do sistema forma um campo elétrico no sentido oposto ao
campo elétrico inicial. Após determinado tempo esses campos se anulam e,
consequentemente, fazem cessar a corrente elétrica.
Entretanto, em um circuito fechado, quando o campo elétrico é formado, a
força elétrica gera um fluxo de cargas de um terminal para outro. Para haver
corrente elétrica, esse potencial elétrico nas extremidades deve ser diferente.
Isso é conseguido quando um dispositivo é colocado no sistema para manter
a diferença de potencial e, consequentemente, uma corrente elétrica contínua
é mantida.

ELETRICIDADE E MAGNETISMO 93

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Esse dispositivo é chamado de fonte de força eletromotriz (FEM), embora
não seja uma força e sim uma grandeza com dimensão de energia por unidade
de carga. Para FEM, a unidade no SI é o volt, como o potencial, e é representa-
do pela letra ε. Por exemplo, uma lanterna acende devido a uma pilha de FEM
igual a 1,5 V. Isso quer dizer que a pilha realiza um trabalho de 1,5 J sobre cada
coulomb de carga que passa por ela.
Dessa forma, para possuir uma corrente elétrica estacionária, o circuito
necessita de um dispositivo que forneça uma FEM, tais como pilhas, baterias,
geradores elétricos, células solares, termopares, células de combustível etc.
Esses dispositivos convertem energia mecânica, química, térmica e outras em
energia potencial elétrica, que é transferida para o circuito no qual o dispositi-
vo está contido.
Um dispositivo que fornece uma FEM mantém uma diferença de potencial
constante entre os condutores a ela conectados, chamados de terminais da
fonte. Cada terminal deve possuir um
potencial elétrico diferente, sendo um
maior do que o outro para que um
campo elétrico seja formado em torno
desses terminais e no interior do dis-
positivo. Dentro do dispositivo, esse
campo elétrico faz com que as cargas
sejam submetidas à força elétrica.
Além dessa força, o dispositivo forne-
ce outra força adicional, que arrasta
as cargas no sentido contrário à força
elétrica e que será responsável por manter a diferença de potencial entre os
terminais, denominada força não eletrostática – Fn.
Sem essa força extra Fn do dispositivo, o potencial de energia elétrica entre
os terminais se iguala, diminuindo a diferença de potencial a ponto de se tornar
zero. A geração dessa força adicional no dispositivo depende do tipo de fonte,
podendo ser gerada por forças magnéticas, pela variação de concentrações
eletrolíticas, por reações químicas, por correias que se movem, entre outros. A
Figura 6 mostra, de forma esquemática, o funcionamento de um circuito conec-
tado a uma fonte de FEM ideal.

ELETRICIDADE E MAGNETISMO 94

SER_ENGEL_ELEMAGNE_UNID3.indd 94 05/12/2019 13:38:44


i

Fonte de FEM ideal E


Terminal a em
Va + potencial mais elevado
Força não eletrostática
tendendo a mover a
carga para um
Fn potencial mais elevado
Vab = ε E + E i

Fe = q . E

Força em função
do campo elétrico
Vb - Terminal b em
potencial mais elevado E

Figura 6. Esquema de uma fonte de FEM. Fonte: YOUNG; FREEDMAN, 2009, p. 147. (Adaptado).

A Figura 6 mostra uma carga positiva na qual uma força elétrica Fe atua para
que ela se mova do terminal positivo para o terminal negativo. A força não ele-
trostática Fn , gerada pelo dispositivo, faz com que a carga se mova no sentido
contrário, do terminal negativo para o positivo e do terminal positivo para a ne-
gativo, pelo conduto que liga os dois terminais. A diferença de potencial entre
as extremidades do fio é dada por Vab= i · R e a diferença de potencial da fonte
de FEM é dada por ε = Vab.
Em uma fonte de FEM real, a diferença de potencial nos fios (Vab) não é exa-
tamente igual à diferença de potencial dentro da FEM (ε) devido à resistência
interna da fonte r, a qual a carga fica submetida. Se essa resistência seguir a lei
de Ohm, ela deverá ser constante e independente da corrente i. Ao passo que a
corrente passa por essa resistência interna da fonte, a FEM terá uma queda de
potencial da ordem de i · r, como mostra a equação:
Vab = ε - (i · r)
Dessa forma, a voltagem nos terminais (diferença de potencial nos termi-
nais) será menor do que a diferença de potencial dentro da fonte FEM devido
à perda de energia potencial elétrica na resistência interna. Assim, a corrente
elétrica é dada pela equação:

ELETRICIDADE E MAGNETISMO 95

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ε
ε - (i · r) = i · R → i =
R-r
Para entendermos o conceito de corrente elétrica, resistência e força eletro-
motriz, vamos ver muitos exemplos de circuitos. Portanto, é importante que sai-
bamos o significado dos símbolos que aparecem nessa representação. A Figura
7 mostra o significado dos símbolos comumente utilizados em circuitos elétricos.

Condutor com resistência desprezível

Resistor

+ ε Fonte de FEM (potencial positivo representa


o potencial mais elevado)

ε +
Fonte de FEM com resistência interna r
ou (pode ser colocada de qualquer lado)
+ ε

Voltímetro (mede uma diferença de


V
potencial entre seus terminais)

Amperímetro (mede uma corrente


A
elétrica que passa por ele)

Figura 7. Símbolos utilizados na representação de circuitos elétricos. Fonte: YOUNG; FREEDMAN, 2009, p. 149. (Adaptado).

Exemplo 4.
A uma bateria cuja FEM é de 15 V, é adicionado um resistor de 4 Ω para formar
o circuito completo, representado na Figura. Qual deverá ser a leitura indicada
pelo voltímetro e pelo amperímetro?

ELETRICIDADE E MAGNETISMO 96

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Vab = Va’b’
V

+
a b

i r = 2Ω ε = 15V
A i

a’ b’
R = 4Ω
Figura 8. Fonte de FEM em circuito fechado. Fonte: YOUNG; FREEDMAN, 2009, p. 149. (Adaptado).

Resolução:
A bateria possui uma força eletromotriz de ε = 15 V e resistência interna de r = 2
Ω, enquanto o resistor no circuito possui resistência de 4 Ω. Com essas informações
conseguimos definir a corrente elétrica medida pelo amperímetro com a equação.
Obs. Considera-se que o amperímetro não causa nenhuma resistência à
passagem da corrente.
ε 15 V
i= = = 2,5 A
R+r 4Ω + 2Ω

Nesse circuito, é considerado que o condutor não oferece resistência à passa-


gem da corrente. Assim, não há diferença de potencial entre as seções a e a’ e nem
entre b e b’, ou seja, Vab = Va’b’. Assim, a diferença de potencial é dada por:
Vab = i · R = 2,5 A · 4Ω = 10 V
O amperímetro indica uma corrente de 2,5 A e o voltímetro mede uma voltagem
de 10 V.
Exemplo 5.
Utilizando uma bateria de 15 V e resistência interna de 2 Ω ligada a um condutor
de resistência igual a zero em um circuito fechado, qual será a leitura de voltagem e
corrente deste circuito?
Resolução:
Como não há resistência no condutor, a diferença de potencial será zero. Pela
equação da diferença de potencial de uma FEM, temos:

ELETRICIDADE E MAGNETISMO 97

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Vab = ε - (i · r) = 0
ε
ε = i · r → i=
r
A corrente será igual a FEM dividida por sua resistência interna:
15
i= = 7,5 A
2
O amperímetro mede uma corrente de 7,5 A e o voltímetro mede uma diferença
de potencial igual a zero.
O que pode ser observado com esses dois exemplos é que uma bateria não gera
a mesma corrente em todas as situações. Sendo assim, o valor da corrente depende
da resistência do circuito externo ao qual a bateria está ligada. Um curto-circuito em
um sistema ocorre quando a FEM dividida pela resistência interna é igual à corren-
te elétrica do sistema, como no Exemplo 6. Uma bateria de carro ou a tomada de
nossas casas possui resistência interna muito menor do que a da bateria apresen-
tada no exemplo. Dessa forma, em um curto-circuito, a corrente gerada pode ser
suficiente para causar a explosão da bateria ou do fio, podendo ser muito perigoso.
Vimos que a geração da corrente elétrica é possível quando uma diferença
de potencial é mantida por uma bateria (ou outra fonte) em um circuito fe-
chado. Essa corrente corresponde à quantidade de carga dq, que
atravessa o circuito em um intervalo de tempo dt. A carga sai
por um terminal e, ao chegar no outro terminal, tem seu po-
tencial elétrico reduzido. Consequentemente, ocorre a redu-
ção da quantidade de energia potencial elétrica, que pode ser
calculada pela equação:
dU = dq · V = i · dt · V
Pela lei de conservação de energia, a redução da energia potencial da carga é
convertida em outra forma de energia durante o percurso de um terminal para ou-
tro. A potência associada a essa conversão é a taxa de transferência de energia dU/
dt, que pode ser escrita como:
P = i · V [A · V = W - watts
Nesse caso da bateria, essa taxa P representa a taxa na qual a energia da bateria
é transferida para o componente, que pode ser um motor, uma bateria recarregável
ou um resistor que transforma a energia em trabalho, energia química armazenada
ou energia térmica.

ELETRICIDADE E MAGNETISMO 98

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Em casos específicos, como a conversão da energia de uma bateria em energia
térmica de um resistor, ela é dissipada e não pode ser revertida como ocorre com os
outros tipos de conversão de energia. Assim, para esses casos, tem-se as seguintes
equações:
V2
P = i2 · R e P = , em que R é a resistência do componente.
R

CURIOSIDADE
Quando uma corrente elétrica passa por um resistor, a energia recebida
é convertida em energia térmica, resultando no seu aquecimento. Essa
observação é conhecida como efeito Joule, pois foi ele quem determinou,
de forma quantitativa, o calor produzido por um resistor. Esse efeito ocor-
re devido à colisão dos elétrons com átomos que compõem a estrutura
cristalina do condutor, gerando energia em forma de calor.

Desse modo, a bateria é uma fonte com FEM igual a ε e a resistência interna r está
ligada por condutores ideais (sem resistência) a um circuito externo qualquer (a ba-
teria de um carro ligada ao farol do mesmo, por exemplo), como mostra a Figura 9.

Fonte FEM com


resistência interna
Fonte FEM
+ pequena
-
Fn
a b
+ v + -
a b
Fe

i i

i i

Fn
a b
+ v + -
a Circuito b
Fe
+ externo -
Fonte FEM
grande
a b
Figura 9. Representação esquemática de a) transferência de energia de uma fonte FEM para um circuito externo e b)
absorção de energia por uma fonte FEM pequena de uma fonte FEM maior. Fonte: YOUNG; FREEDMAN, 2009, p. 153.
(Adaptado).

ELETRICIDADE E MAGNETISMO 99

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A Figura 9a mostra uma corrente elétrica saindo de uma fonte FEM pela extre-
midade positiva a, de potencial mais elevado do que b. A energia está sendo trans-
ferida para um circuito externo, cuja taxa de transferência dada por P = Vab · i. No
entanto, como já uma fonte FEM com resistência interna tem seu potencial igual a
Vab = ε - i · r. Dessa forma, a taxa ficará como mostra a equação a seguir:
P = (ε - i · r) · i = ε · i - i2 · r
Outra situação possível ocorre quando se tem duas fontes FEM ligadas uma
à outra, Conforme mostra a Figura 9b, em que ε será maior na fonte FEM gran-
de, resultando em um sentido de corrente contrário ao da Figura 9a, cuja carga
sai do potencial negativo para o positivo. Essa segunda aplicação pode repre-
sentar uma bateria de um carro sendo carregada por seu alternador. Assim, a
equação da diferença de potencial da fonte FEM será:
Vab = ε + i · r
Consequentemente a taxa de transferência será:
P = ε · i - i2 · r
Na primeira situação apresentada, a energia não elétrica (da FEM) é converti-
da em energia elétrica. Na segunda situação, a energia elétrica é convertida em
energia não elétrica. Pode-se dizer, então, que no primeiro caso a energia é for-
necida pela FEM e no segundo a caso a energia é absorvida pela FEM pequena.

Semicondutores e supercondutores
A evolução da microeletrônica foi possível devido ao desenvolvimento dos
semicondutores. Um semicondutor típico é o silício e, quando comparado ao
cobre, condutor metálico típico, possui um número muito menor de portado-
res de carga, ou seja, possui resistividade maior. Além disso, o coeficiente de
temperatura da resistividade do silício mostra que ela diminui com o aumento
da temperatura. Para o cobre, no entanto, a resistividade aumenta com o au-
mento da temperatura.
O silício puro apresenta resistividade a ponto de poder ser classificado
como isolante, não tendo, portanto, muita utilidade em sistemas eletrônicos.
Essa resistividade do silício pode ser reduzida por meio de um processo chama-
do dopagem, no qual algumas impurezas são adicionadas de forma controlada
ao silício puro.

ELETRICIDADE E MAGNETISMO 100

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A diferença de resistividade entre os materiais condutores metálicos, semi-
condutores e isolantes pode ser explicada em termos de energia dos elétrons.
Em um fio de cobre (condutor metálico), praticamente todos os elétrons estão
presos ao átomo da rede cristalina que forma o material. Para que esses elé-
trons se soltem e façam parte do fluxo de carga líquida que forma a corrente
elétrica, é necessária uma energia muito grande. A pequena parcela de elé-
trons que está ligada ao átomo pode ser libertada da rede cristalina por ener-
gia térmica ou energia de um campo elétrico aplicado ao condutor.
O campo elétrico, como vimos, não apenas liberta esses elétrons da rede
cristalina, como também gera uma força sobre eles, fazendo com que se movi-
mentem ao longo do fio. Desse modo, podemos concluir que o campo elétrico
produz uma corrente em materiais condutores.
Nos materiais isolantes, os elétrons estão presos ao átomo e formam uma
rede cristalina. Entretanto, para libertar esses elétrons, a energia necessária é
muito maior, sendo a energia térmica e a energia de um campo elétrico insufi-
cientes. Portanto, não há elétrons livres e o material não pode conduzir corren-
te elétrica mesmo na presença de um campo elétrico.
Os semicondutores têm as mesmas características que o isolantes, mas a
energia necessária para remoção dos elétrons é menor. Com a dopagem, uma
maior quantidade de elétrons se torna disponível para ser carregada, fazendo
com que o material conduza corrente elétrica facilmente. A dopagem ocorre de
forma controlada pela concentração da quantidade de portadores de carga.
Quase todos os transistores e diodos são produzidos pela dopagem de diferen-
tes regiões de um substrato de silício, com diferentes tipos de impureza.
Os supercondutores são materiais nos quais a resistividade pode chegar a
zero devido à variação da temperatura. O físico holandês Kamerlingh
Onnes foi quem descobriu, em 1911, que o mercúrio tem sua resisti-
vidade reduzida a zero quando é resfriado a uma temperatura me-
nor do que 4 K (-269 ºC). Isso significa que as cargas
podem circular em uma corrente elétrica sem per-
der energia. Dessa forma, corrente criada por uma
energia inicial em anéis supercondutores pode
ser mantida por anos, mesmo após a fonte inicial
ser removida.

ELETRICIDADE E MAGNETISMO 101

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Até 1986, a aplicação dos supercondutores estava limitada à geração de
temperaturas tão baixas. Entretanto, no ano mencionado, foram descobertos
materiais cerâmicos que se comportam como supercondutores em temperatu-
ras maiores do que -269 ºC e abaixo da temperatura ambiente.
Seguindo o raciocínio do comportamento dos elétrons
para explicar a condutividade, nos supercondutores os elé-
trons responsáveis pela corrente se movem em pares.
Um dos elétrons distorce a rede cristalina, formando
uma concentração temporária de cargas positivas nessa
região, que atrai outro par de elétrons e forma uma reação
em cadeia de distorção da rede cristalina.

ELETRICIDADE E MAGNETISMO 102

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Sintetizando
Nessa Unidade, definimos a corrente elétrica como o fluxo líquido de cargas
que atravessa uma superfície devido à manutenção de uma diferença de po-
tencial que gera um campo elétrico, fazendo com que a força elétrica oriente o
movimento em um circuito fechado.
A corrente elétrica foi analisada pela corrente total gerada em um circuito
e pela densidade da corrente em uma determinada seção de um conduto. A
densidade da corrente pode ser representada de forma semelhante às linhas
de força do campo elétrico.
A corrente elétrica é conservada e, dessa forma, a densidade da corrente
varia com a seção por onde passa, juntamente com outro parâmetro, deno-
minado velocidade de deriva, que representa a velocidade com que as cargas
fluem pelo condutor.
Em contrapartida ao movimento da corrente elétrica, vimos que os mate-
riais oferecem uma resistência à passagem da corrente elétrica. Um circuito
composto por uma bateria e fios condutores apresenta resistência à corrente
elétrica. Um material específico, por sua vez, possui uma resistividade tabelada.
Essa resistividade pode ser variável com a temperatura para alguns materiais.
A lei de Ohm estabelece a relação entre a variação da diferença de potencial
com a corrente elétrica, de modo que a resistência é constante para materiais
considerados ôhmicos. Vimos também que essa relação pode ser relativa, pois
qualquer material pode apresentar constância, mesmo que seja em um inter-
valo limitado de diferença de potencial. Dessa forma, é mais prático considerar
a resistividade dos materiais em vez de considerar a resistência de um circuito.
Para que haja uma corrente elétrica estacionária, é necessário que os dis-
positivos forneçam uma quantidade de energia às cargas transferidas ao longo
do condutor, de modo que o potencial elétrico entre os terminais seja sempre
mantido em valores diferentes. Esses dispositivos são conhecidos como fontes
de força eletromotriz.
Por fim, foi apresentada a interação dos elétrons nos materiais isolantes,
semicondutores e supercondutores a fim de esclarecer como a corrente elétri-
ca é produzida nesses diferentes materiais.

ELETRICIDADE E MAGNETISMO 103

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Referências bibliográficas
HALLIDAY, D.; RESNICK, R.; WALKER, J. Fundamentos de Física – Eletromagne-
tismo. 10. ed. Rio de Janeiro: LTC, 2016. v. 3.
TIPLER, P. A.; MOSCA, G. Física para cientistas e engenheiros. 6. ed. Rio de
Janeiro: LTC, 2009. v. 3.
YOUNG, H. D.; FREEDMAN, R. A. Física III – Eletromagnetismo. 12. ed. São Pau-
lo: Pearson Education do Brasil, 2009.

ELETRICIDADE E MAGNETISMO 104

SER_ENGEL_ELEMAGNE_UNID3.indd 104 05/12/2019 13:38:44


UNIDADE

4 CIRCUITOS ELÉTRICOS,
MAGNETISMO
E CAMPOS
MAGNÉTICOS

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Objetivos da unidade
Identificar os componentes de circuitos elétricos;
Identificar resistores conectados em série e paralelo;
Conseguir determinar a corrente elétrica, diferença de potencial e resistores
equivalentes de associações em série e paralelo;
Conseguir aplicar as leis de Kirchhoff;
Conhecer os equipamentos para medir grandezas elétricas;
Avaliar correntes elétricas que variam com o tempo em um circuito;
Apresentar o conceito de magnetismo;
Definir campo magnético;
Definir força magnética;
Calcular força e campo magnético.

Tópicos de estudo
Circuitos elétricos
Circuito de resistores em série
e paralelo
Circuitos com mais de uma
malha
Amperímetro e voltímetro
Circuitos RC

Magnetismo e campos magné-


ticos
Definição de campo magnético
Definição de força magnética
Lei de Biot-Savart

ELETRICIDADE E MAGNETISMO 106

SER_ENGEL_ELEMAGNE_UNID4.indd 106 05/12/2019 13:45:05


Circuitos elétricos
Atualmente, vemo-nos dependentes de aparelhos elétricos
que fazem uso dos conceitos vistos nesta disciplina para seu
funcionamento. Entretanto, esses conceitos não se restringem
a aparelhos, mas também a transmissão de dados e mensa-
gens pela internet, como, por exemplo, arquivos digitais que lemos pelos
nossos computadores e celulares, além de muitas outras funcionalidades.
Já introduzimos o conceito de circuito elétrico simples para estudar a cor-
rente elétrica e, nesta unidade, veremos mais profundamente como esses cir-
cuitos funcionam, além de avaliar exemplos mais complexos que incluem di-
versas fontes, resistores, capacitores, transformadores, entre outros.

Circuito de resistores em série e paralelo


Os resistores existem em diversos tipos de circuitos que, por sua vez, pos-
suem muitos resistores associados das mais diferentes formas. A Figura 1 apre-
senta alguns tipos de associações de resistores.

A B
R1

R1 R2 R3 R2
α b α b

i i
i i R3

C D
R2 R1 R2

R1
α b α b

R3 i i
i i R3

Figura 1. A) representação de uma ligação de resistores em série; B) uma ligação de resistores em paralelo; C) resistor
em série com uma combinação em paralelo; D) resistor em paralelo com uma combinação em série. Fonte: YOUG;
FREEDMAN, 2009, p. 169.

ELETRICIDADE E MAGNETISMO 107

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Os resistores são ditos em série quando estão ligados um em sequência
ao outro, com a corrente elétrica possuindo apenas um caminho a percor-
rer, sendo a mesma em cada resistor. A diferença de potencial entre os ter-
minais de cada resistor não será a mesma (a não ser que a resistência seja
a mesma). Já a ligação em paralelo oferece um caminho alternativo para a
corrente, e a diferença de potencial será a mesma nos terminais que divi-
dem e unem esses resistores. Em qualquer uma das associações, podemos
substituir o conjunto de resistores por um único resistor equivalente, com
uma corrente i e uma tensão V.
As resistências em série presentes em um circuito podem ser substituídas
por uma equivalente que possui a mesma corrente das resistências individuais,
e diferença de potencial igual à somatória das diferenças de potencial de cada
resistência. Para obter a resistência equivalente, aplica-se a lei das malhas,
como mostra a equação a seguir:
ε - iR1 - iR 2 - iR3 = 0 → ε - iRequivalente = 0

i= ε →i= ε
R1 + R 2 + R3 Requivalente

Igualando as duas equações acima, tem-se: Requivalente = R1 + R2 + R3.


A diferença de potencial (ou tensão) entre dois pontos em um circuito é ob-
tida de duas formas: se atravessarmos o circuito pela fonte de energia ou pelo
resistor. Veja:
Atravessando pela fonte:
V- + ε - ir = V+
V+ - V- = ε - ir
Atravessando pelo resistor:
V- + iR = V+
V- + V- = iR
ε
Nas duas situações, se substituirmos a corrente elétrica por i = ,
R + r’
ε
V
teremos + - V = R , portanto, o sentido escolhido para determinar a di-
- R+r
ferença de potencial em uma malha é indiferente.
Resistores dispostos em paralelo: cada resistor é ligado a outro pelas
suas extremidades e, consequentemente, está sujeito à mesma diferen-
ça de potencial aplicada pela fonte. Nessa associação, em cada resistor
passa uma corrente elétrica, podendo ser substituída por uma resistência

ELETRICIDADE E MAGNETISMO 108

SER_ENGEL_ELEMAGNE_UNID4.indd 108 05/12/2019 13:45:05


equivalente com uma diferença de potencial e uma corrente definida pela
equação:
i = i1 + i2 + i3 = V ∙ 1 1 1 =V∙ 1
+ +
R1 R2 R3 Requivalente

A relação 1 + 1 + 1 = 1 também é válida.


R1 R2 R3 Requivalente

A combinação dessas ligações de resistores em circuitos fechados é de-


finida como circuito de uma malha, que é composto por vários componen-
tes elétricos, como uma fonte de energia, condutos, resistores, medidores
de corrente e tensão. Um circuito elétrico simples é composto por apenas
uma malha ,como mostrado na Figura 2, que consiste em uma fonte de força
eletromotriz (FEM) que fornece a energia necessária para que os portadores
de carga (cargas positivas ou negativas) se movam de um terminal ao outro
dentro da fonte, gerando uma diferença de potencial capaz de manter uma
corrente elétrica estacionária dentro de um circuito elétrico, onde também há
um resistor que irá dissipar (consumir) uma parte dessa energia.

i
i R1 i R3
Nó1

+ +
R2 i R4 i

Nó2
i R6 i R5
i
(a) (b)
Figura 2. a) circuito elétrico simples com uma malha composto por uma fonte e um resistor; b) circuito elétrico com-
posto por três malhas, uma fonte e seis resistores. Fonte: YOUNG; FREEDMAN, 2009, p. 170.

Para solucionar questões de circuitos mais complexos em que não é pos-


sível simplesmente substituir os resistores por um equivalente, são usadas as
leis de Kirchhoff dos nós e a lei das malhas. Gustav Robert Kirchhoff foi o físico
alemão que se baseou no princípio de conservação de carga e de energia para
definir as leis que receberam seu nome.

ELETRICIDADE E MAGNETISMO 109

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A 1ª lei de Kirchhoff ou lei das malhas define que a somatória das dife-
renças de potencial no circuito fechado deve ser nula. Ou seja, ao percorrer
um circuito fechado partindo do terminal negativo da fonte FEM, a diferença
de potencial será positiva (∆ε = ε+ - ε- = + ε). Seguindo esse sentido, chega-
remos ao terminal do resistor em que o potencial elétrico será maior que a
outra extremidade do resistor; dessa forma, a diferença de potencial será
negativa (∆V = V- -V+ = -V ). A resistência do fio é desprezível, por isso se consi-
dera somente a variação de potencial elétrico na fonte e no resistor.
A 2ª lei de Kirchhoff ou lei dos nós leva em consideração que a corrente
elétrica é conservada, ou seja, a somatória de toda corrente que entra no nó
deve ser igual àquela sai. Em outras palavras, por essa lei, podemos entender
que nenhuma carga é acumulada no nó elétrico, sendo o nó definido como um
ponto do circuito elétrico em que três ou mais componentes elétricos se juntam.
Na Figura 2, por exemplo, temos três possíveis malhas: uma formada pelas
fontes V, R1, R 2 e R6 , a segunda formada somente pelos resistores R 2, R3 , R4 e R5 e
a terceira, que é formada pela fonte e pelos seis resistores (R1, R 2, R3 , R4 , R5 e R6),
associados em série e em paralelo. O nó um é o ponto de encontro dos resisto-
res R1, R 2 e R3 e dele sai a mesma quantidade de corrente que entrou.
Exemplo 1: calcule a resistência equivalente do circuito indicado na Figura
3 e encontre a corrente que passa em cada resistor. A fonte de FEM possui re-
sistência interna desprezível.

E = 18 V, r = 0


a c b

Figura 3. Circuito fechado alimentado por uma fonte FEM. Fonte: YOUG; FREEDMAN, 2009, p. 171.

ELETRICIDADE E MAGNETISMO 110

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Resolução: inicialmente, calcula-se a resistência equivalente dos resis-
tores que se encontram em paralelo, o de 3 Ω e 6 Ω, da seguinte forma:
1 1 1 1
= + = , sendo que o resistor equivalente possui resistência
Req 6Ω 3Ω 2Ω
de 2 Ω – e agora se encontra em série com o resistor de 4 Ω. Assim, faz-
-se novamente a resistência equivalente, porém em série, com a seguinte
equação:
R eq = 4 Ω + 2 Ω = 6 Ω, assim, os três resistores existentes no circuito equi-
valem a um resistor de resistência igual a 6 Ω.
Para determinar a corrente elétrica em cada resistor, primeiramente,
deve ser obtida a corrente total do circuito, pois temos a tensão gerada pela
FEM e a resistência equivalente. Desta forma, a corrente é obtida por:
Vfem 18 V
i= = = 3A
Req 6Ω

Por definição, a corrente elétrica que passa por resistores


em série é a mesma, enquanto que a corrente que pas-
sa em resistores em paralelo é diferente em cada um
e definida pela lei dos nós. Assim, a corrente que
passa pelo resistor de 2 Ω e de 4 Ω também é de
3 A. A diferença de potencial que passa pelo resistor
equivalente de 2 Ω é calculada por:
Vac = i ∙ R = 3 A ∙ 4 Ω = 12 V
Vcb = i ∙ Req = 3 A ∙ 2 Ω = 6 V
A diferença de potencial Vcb corresponde aos resistores que se encontram
em paralelo. Por definição, eles possuem a mesma diferença de potencial e
correntes elétricas diferentes; portanto, a corrente elétrica em cada resistência
pode ser calculada da seguinte forma:
Vcb 6V
i= = = 1A
R 6Ω
Vcb 6V = 2A
i= =
R 3Ω

Pode ser observado que a lei dos nós é verdadeira, pois no nó C entra uma
corrente de 3 A, que se divide em duas correntes: uma de 1 A e outra de 2 A.
Outra observação a ser feita é que a corrente maior atravessa o resistor de
resistência menor e vice-versa.

ELETRICIDADE E MAGNETISMO 111

SER_ENGEL_ELEMAGNE_UNID4.indd 111 05/12/2019 13:45:06


Circuitos com mais de uma malha
O circuito composto por mais de uma malha foi mostrado na Figura 1, sendo
que cada malha é ligada a outra por nós. A corrente do circuito ou a corrente
em cada resistor será definida pela lei dos nós e pela lei das malhas. A corrente
que sai do resistor seis será igual à soma da corrente nos resistores dois e cin-
co – assim como a corrente que chega no resistor 1 será a soma das correntes
dos resistores dois e três. Determinado o sentido da corrente, consideramos a
malha formada pela fonte R1, R2 e R6 e a outra malha, que é formada somente
pelos resistores R2, R3, R4 e R5. Na primeira malha, a diferença de potencial
será dada por ε - i1R1 - i2R 2 - i6R6 = 0; na segunda, V - i2R 2 - i3R3 - i4R4 - i5R5 = 0.
Ao aplicarmos a lei em um circuito com n malhas, são escolhidos n-1 nós
e malhas de forma arbitrária. Da mesma forma, escolhe-se arbitrariamente o
sentido da corrente e o sentido em que a malha é percorrida. O ponto de par-
tida no circuito também pode ser escolhido aleatoriamente, devendo sempre
levar em consideração todos os elementos no circuito ou malha. Com isso, con-
vencionou-se a adoção de sinais para a aplicação das equações.
Ao iniciar a análise de uma malha, escolhemos um sentido para percorrer
o circuito que pode ser horário ou anti-horário. Quando o resistor é atravessa-
do no mesmo sentido que aquele escolhido para a corrente, o sinal de iR será
negativo; se o resistor é atravessado no sentido oposto ao escolhido para a
corrente, o sinal de iR será positivo. A convenção de sinal também foi adotada
para a diferença de potencial da FEM: quando a fonte é atravessada do termi-
nal negativo para o positivo, a tensão será considerada positiva, e se a tensão
atravessar do terminal positivo para o negativo, a tensão será considerada ne-
gativa.
Ao final da análise, se for obtida uma corrente com sinal negati-
vo, significa que o sentido correto é o contrário ao escolhido ini-
cialmente.
Exemplo 2: a Figura 4 mostra um circuito cujos
elementos possuem os seguintes valores: ε1 = 3,0
V, ε2 = 6,0 V, R1 = 2,0 Ω, R2 = 4,0 Ω. As três fontes
são ideais. Determine o valor absoluto e o sentido da
corrente nos três ramos.

ELETRICIDADE E MAGNETISMO 112

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i1 i2
a

R1 R1 Ԑ2

R2 i3 R1
Ԑ1
R1
Ԑ2

b i2
i1
Figura 4. Circuito fechado composto por três malhas. Fonte: HALLIDAY, 2015, p. 398.

Resolução: neste circuito não existem resistores em paralelo, portanto, não


é possível simplificar o sistema fazendo a equivalência. Nessa situação, iremos
aplicar de imediato as leis dos nós e das malhas.
O sentido da corrente mostrado na Figura 3 foi escolhido de forma arbitrá-
ria. Aplicando a lei dos nós nos nós a e b, temos a mesma equação:
i3 = i1 + i2
A regra das malhas é aplicada em duas das três malhas existentes no circui-
to. Escolhendo incialmente a malha da esquerda e considerando o percurso no
sentido horário (do R1 para a, seguindo para R 2, b, ε1, chegando novamente em
R1), considerando que o percurso da malha está no mesmo sentido que a cor-
rente, tem-se iR negativo em todos os resistores. Na fonte de FEM 1, o percurso
da malha passa do terminal negativo para o positivo, portanto a tensão nessa
fonte será positiva; já na fonte de FEM 2, o percurso da malha é do terminal po-
sitivo para o negativo, portanto a tensão será negativa. Assim, podemos fazer
a seguinte relação:
- i1R1 + ε1 - i1R1 - (i1 + i2)R 2 - ε2 = 0
Substituindo os valores dados no enunciado, temos:
-2(i12) + 3 -(i1 + i2) 4 - 6 = 0
-4i1 - 3 - 4i1 - 4i2 = 0
8i1 + 4i2 = -3,0 V
Aplicando a lei das malhas para a malha da direita e agora escolhendo o percur-
so no sentido anti-horário (e respeitando a convenção de sinais), temos:

ELETRICIDADE E MAGNETISMO 113

SER_ENGEL_ELEMAGNE_UNID4.indd 113 05/12/2019 13:45:06


-i2R1 - (i1 + i2) R2 - ε2 - i1R1 + ε2 = 0
Novamente substituindo os valores dados:
-2(i22) - (i1 + i2) 4 - 3 + 3 = 0
-4i2 - 4i1 - 4i2 = 0
-8i2 - 4i1 = 0
Como temos duas equações e duas incógnitas, isolamos uma incógnita em uma
das equações e substituímos na outra. Escolhendo a equação final da malha da di-
reita e isolando o termo i1, teremos:
-8i2 = 4i1
i1 = -2i2
Substituindo na equação da malha esquerda 8i1 + 4i2 = -3,0 V, temos:
8(-2i2) + 4i2 = -3,0 V
-16i2 + 4i2 = -3,0 V
-12i2 = -3,0 V
i2 = 0,25 A
Voltando para determinar i1:
i1 = -2 ∙ 0,25 = - 0,50 A
O sinal negativo de i1 indica que o sentido escolhido inicialmente para a corrente
está errado, porém a correção deve ser feita somente no final. A corrente i3 ainda
precisa ser determinada:
i3 = i1 + i2 = -0,50 + 0,25 = -0,25 A
Assim, o sentido da corrente i3 também foi definida de forma equivocada. Por
isso, invertemos o sentido da corrente no circuito, como mostra a Figura 5.

i1 i2
a

+
R1 R1 - ε2

R2 i3 R1
+
ε1
-
R1 +
- ε2

b
i2
i1
Figura 5. Circuito de três malhas com sentido da corrente ajustado após verificação. Fonte: HALLIDAY, 2015, p. 398.

ELETRICIDADE E MAGNETISMO 114

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Exemplo 3: a Figura 6 apresenta um circuito “ponte” e calcula a corrente
que circunda em cada resistor, além da resistência equivalente do circuito com
os cinco resistores.

i2
i 1
1Ω 1Ω

+ a b
13 V -
1Ω i3 2Ω

i1 + i2

i 3
i+
i 1-

2
i3

Figura 6. Circuito com vários resistores em série e paralelo. Fonte: YOUNG; FREEDMAN, 2009, p. 177.

Resolução: novamente, esse tipo de circuito não pode ser simplificado a


uma resistência equivalente. Dessa forma, serão aplicadas as leis de Kirchhoff
para obter as correntes em cada resistor. Utilizando a lei dos nós entre a e b,
reduzimos a quantidade de incógnitas de cinco para três correntes (i1, i2 e i3),
sendo que a relação entre elas é mostrada na Figura 6.
Definimos três malhas: a primeira percorre no sentido horário da fonte,
passando pelo nó c, a e d, retornando para a fonte. A malha dois percorre todo
o circuito externo no sentido horário saindo da fonte, passando pelo nó c, b e d,
retornando para a fonte. A malha três percorre na parte interna entre os nós c,
b e a. Dessa forma, teremos três equações para as três incógnitas de corrente.
Equação da malha 1:
+ ε - i1R - (i1 - i3) R = 0
+ 13 - i11 - (i1 - i3) 1 = 0
-2i1 + i3 = -13
Equação da malha 2:
+ ε - i2R - (i2 + i3) R = 0
+ 13 - i21 - (i2 + i3) 2 = 0

ELETRICIDADE E MAGNETISMO 115

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- 3i2 - 2i3 = -13
Equação da malha 3:
- i1R - i3R + i2R = 0
- i1 - i3 + i2 = 0
Explicitando i2 da equação 3, temos:
i2 = i1 + i3
Substituindo i2 na equação 2, temos:
- 3i2 - 2i3 = -13
- 3(i1 + i3) - 2i3 = -13
- 3i1 - 5i3 = -13 → 3i1 + 5i3 = 13
Explicitamos i3 na equação 1:
- 2i1 + 13 = -i3 → 2i1 - 13 = i3
Substituímos a equação 1 na equação 2:
3i1 + 5 (2i1 + 13) = 13
3i1 + 10i1 - 65 = 13
13i1 = 13 + 65
i1 = 78 = 6 A
13
Substituindo i1 na equação 2:
3 ( 6 A)+ 5i3 = 13
5i3 = 13 - 18
i3 = - 5 = -1A
5
Por fim, substituindo i1 e i3 na equação 3, temos:
i2 = i1 + i3 = 6A - 1 A = 5 A
Observa-se que somente a corrente de i3 resultou em um valor negativo, assim,
o sentido escolhido está errado, devendo ser invertido de b para a. A corrente total
no circuito corresponde à soma de i1 e i2, sendo igual a 11 A. A resistência equivalente
é obtida da seguinte equação:
Req = V = 13 = 1,2 Ω
itotal 11

Amperímetro e voltímetro
Utilizamos muito os termos corrente elétrica, diferença de potencial e
resistência, mas como chegamos a esses valores? Para a medida dessas
grandezas, são utilizados dispositivos chamados multímetros. Em especí-

ELETRICIDADE E MAGNETISMO 116

SER_ENGEL_ELEMAGNE_UNID4.indd 116 05/12/2019 13:45:06


fico, chama-se amperímetro o dispositivo usado para medir a corrente e
voltímetro o que é usado para medir a tensão (ou diferença de potencial).

EXPLICANDO
Os multímetros são aparelhos muito utilizados por profissionais de elétrica.
Eles medem corrente elétrica, diferença de potencial e resistência elé-
trica fazendo uma simples troca da chave seletora, podendo ser digitais
ou analógicos. O aparelho usado para medir a resistência é chamado de
ohmímetro e consiste na aplicação de uma tensão na resistência que se
deseja medir; dessa forma, uma corrente elétrica é forçada a passar e a
resistência é medida. Esses equipamentos consistem em dois terminais
que são ligados ao circuito que se quer medir. Para que não haja interfe-
rência desses aparelhos na leitura realizada no circuito, o voltímetro deve
ser ligado em paralelo com o resistor, enquanto o amperímetro deve ser
ligado em série.

O amperímetro mede a corrente elétrica que passa através dele, devendo,


portanto, ser instalado no mesmo fio condutor. Podemos considerar um ampe-
rímetro ideal aquele que oferece a menor resistência possível à passagem da
corrente. O voltímetro mede a diferença de potencial entre dois pontos, por-
tanto deve ter seus terminais instalados entre eles. O voltímetro ideal é aquele
que possui resistência maior que qualquer componente no circuito para não
ser uma alternativa de caminho para a corrente elétrica. Ambos, amperímetro
e voltímetro, são mostrados na Figura 7.

+
ε
- R2
r

A R1
V

i b

d
Figura 7. Conexão de amperímetro e voltímetro em um circuito elétrico. Fonte: HALLIDAY, 2015, p. 400.

ELETRICIDADE E MAGNETISMO 117

SER_ENGEL_ELEMAGNE_UNID4.indd 117 05/12/2019 13:45:06


Exemplo 4: no circuito ilustrado na Figura 8, deseja-se medir a resistên-
cia desconhecida R e a potência dissipada pelo resistor situado no circuito. O
voltímetro marca uma tensão de 12 V e possui resistência de Rv = 10000 Ω. O
amperímetro mede uma corrente de 0,1 A e possui resistência de RA = 2,0 Ω.

R R Ra
a b c a b c
A A

i i

V V
Rv Rv
A B

Figura 8. Circuito com dispositivos de medida de grandezas elétricas, amperímetro e voltímetro. Fonte: YOUNG; FREED-
MAN, 2009, p. 180.

Resolução: no circuito A da Figura 8, os terminais do voltímetro estão


ligados aos pontos a e c (este situado logo após o amperímetro). Dessa
forma, a diferença de potencial obtida no voltímetro é referente às tensões
entre os pontos ab mais a tensão entre bc. Uma vez que temos a corrente
e a resistência do amperímetro, conseguimos determinar a voltagem pela
lei de Ohm:
V bc = R ∙ i = 2 ∙ 0,1 = 0,2 V
V v = Vab + V bc → Vab = 12 V - 0,2 V = 11,8 V
Sabendo que a corrente medida pelo amperímetro se refere à corrente
que passa pelo resistor e que a tensão no mesmo é de 11,8 V, calcula-se a
resistência:
Vab 11,8 V
R= = = 118 Ω
i 0,1 A

A potência dissipada é dada pela equação apresentada anteriormente:


P = Vab ∙ i = 11,8 V ∙ 0,1 A = 1,18 W
No circuito B da Figura 8, os terminais do voltímetro estão ligados ao
ponto a e b (este situado antes da passagem da corrente pelo amperíme-
tro). Dessa forma, a diferença de potencial obtida no voltímetro é referente
somente à tensão entre os pontos ab. Entretanto, a corrente medida pelo

ELETRICIDADE E MAGNETISMO 118

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amperímetro se refere à corrente medida após ter passado pela resistência
do voltímetro e pelo resistor. Assim, calcula-se a corrente que passa pelo
voltímetro para depois calcular a resistência do resistor com a corrente que
passa por ele.
V V = 12V
Rv = → iV = = 0,0012 A
iV RV 10000 Ω

i total = iR + i V → iR = i total - i V = 0,1 - 0,0012 = 0,0988 A

Vab 12 V
R= = = 121,5 Ω
i 0,0988 A
A potência dissipada é dada pela equação:
P = Vab ∙ iR = 12V ∙ 0,0988 A = 1,19 W

Circuitos RC
Até o momento, foi considerado que a fonte de energia, a corrente e a diferen-
ça de potencial eram mantidas constantes, por isso são chamadas de corrente
contínua (cc). Entretanto, em muitos dispositivos não é o que ocorre: semáforos,
pisca-piscas de carro e outros dispositivos fazem uso de circuitos que possuem
capacitores que se carregam e descarregam alternadamente.
Dá-se o nome de circuito RC àqueles que possuem um capacitor em série
com o resistor, como mostra a Figura 9.

Chave
Chave
ε aberta ε
+ - + - fechada

i=0 i
q=0
a b c a b +q -q
c

c R c
R
(a) (b)

Figura 9. Circuito RC simples composto por uma fonte de FEM ideal, uma chave liga e desliga, um resistor e um capaci-
tor. Fonte: YOUNG; FREEDMAN, 2009, p. 182.

ELETRICIDADE E MAGNETISMO 119

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O capacitor A da Figura 9 está descarregado, o circuito não está fechado
e, portanto, não há corrente elétrica. No instante t = 0 a chave é fechada (ca-
pacitor B), iniciando a passagem da corrente, o que permite que o capacitor
seja carregado. Em qualquer ponto do circuito, a corrente elétrica se inicia
no mesmo instante em que a chave é fechada e seu valor será o mesmo em
todos os pontos.
A diferença de potencial quando o capacitor está descarregado é zero; mes-
mo no instante t = 0 a tensão no capacitor é nula. Assim, quando a chave é fe-
chada, a tensão que passa pelo resistor é igual à tensão da FEM ideal presente
no circuito. Pode-se dizer então que a corrente elétrica i0 que passa pelo resis-
tor em t = 0 é dada pela lei de Ohm:
i0 = ε
R

A diferença de potencial de cada elemento do circuito é dada pelas


equações:
Diferença de potencial no resistor: Vab - 0 = i0R
q0
Diferença de potencial no capacitor: Vbc - 0 =
C

A relação entre as tensões seguindo a lei de Kirchhoff, percorrendo a malha


no sentido anti-horário, é: ε - iR - q0 = 0
C

Conforme o capacitor começa a ser carregado, sua carga q0 aumenta e, con-


sequentemente, a tensão nele aumenta (V = q0 ) e no resistor diminui.
bc - 0
C

Quando a carga do capacitor atinge seu valor máximo qf, a corrente di-
minui até cessar. Nesse momento, com a corrente elétrica nula, temos:
ε qf
= → qf = ε ∙ C
R RC

As equações são deduzidas quando o capacitor está descarregado e quan-


do ele está totalmente carregado. Nessas duas situações, temos o capacitor
sendo carregado, com a corrente elétrica, carga e a diferença de potencial va-
riando em função do tempo, como mostra a equação:

dq
i=
dt

ELETRICIDADE E MAGNETISMO 120

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Substituindo essa equação naquela obtida pela lei de Kirchhoff, temos:
q0 q0
-iR - → ε = iR +
C C
dq q0
ε= R+
dt C

Explicitando dq = - 1 ∙ (q - Cε) ou dq = - dt , integrando as duas


dt RC (q - Cε) RC’

funções da seguinte forma:

∫ ∫
q t

dq’ dt’
=-
(q’ - Cε) RC’
0 0
q - Cε t
Teremos In =- simplificando a função exponencial na base
- Cε RC

do número neperiano. Temos:


q - Cε
= - e-t/RC
- Cε

Explicitando a carga q: q = Cε(1 - e-t/RC) = qf(1 - e-t/RC)


A corrente instantânea é dada pela derivada da equação anterior:
ε -t/RC
i= e = i0 ∙ e-t/RC
R

O produto de RC se denomina constante de tempo ou tempo de relaxação


(τ), que representa o tempo em segundos de carga ou descarga de um capaci-
tor. Se τ é pequeno, o capacitor consegue se carregar rapidamente; se τ é maior,
o capacitor levará um pouco mais de tempo.
O processo de descarregar um capacitor se inicia quando a fonte de energia
é removida do circuito RC e, no lugar, é colocada uma chave aberta. Ao ligar a
chave em t = 0, a carga do capacitor é q0 e começa a se descarregar até que a
carga do capacitor seja nula. A corrente que atravessa o circuito, quando não
temos mais a fonte de FEM, é dada por:
q0
i= -
RC

A corrente é negativa, pois a carga positiva está diminuindo.


A carga em função do tempo também terá sua equação deduzida a partir da
integral em função do tempo, resultando em:

ELETRICIDADE E MAGNETISMO 121

SER_ENGEL_ELEMAGNE_UNID4.indd 121 05/12/2019 13:45:07


q = q0 ∙ e-t ⁄RC
E a corrente instantânea é a derivada desta equação, resultando em:
q0 -t/RC
i= e = i0 ∙ e-t/RC
RC

Magnetismo e campos magnéticos


Os efeitos do magnetismo foram descobertos na antiguidade pelos gregos
na cidade de Magnésia. Foram observados fragmentos de minério que pos-
suíam a propriedade de atrair e repelir certos tipos de materiais. Esses minérios
são os ímãs permanentes, que possuem forças utilizadas em uma infinidade de
aparelhos elétricos, como motores elétricos, forno micro-ondas, televisão, im-
pressoras entre outros.
Um ímã permanente exerce uma força sobre outro ímã ou sobre um pedaço
de ferro não imantado, mas, se permanecer em contato com um ímã natural,
pode se tornar imantado. Inicialmente, essas forças eram justificadas pelos
chamados polos magnéticos que se distinguiam em polo norte (N) e polo sul
(S). Um ímã em forma de barra possui em uma de suas extremidades um polo
norte e na outra o polo sul, sendo que extremidades de mesmo polo se repe-
lem e polos opostos se atraem.
Quando um ímã se aproxima de um objeto constituído por ferro não imantan-
do, exerce uma força de atração por qualquer um dos polos: isso é o que ocorre,
por exemplo, entre um ímã e a porta de uma geladeira. Essa interação pode ser
comparada com as forças elétricas geradas pelo campo ao redor de uma carga
carregada. A agulha de uma bússola é orientada pelo campo magnético da Terra.

CURIOSIDADE
A bússola foi criada pelos chineses em 850 d.C. para ser utilizada na
orientação geográfica dos navegadores. A agulha dela se alinha ao campo
magnético do local onde se encontra. Isso acontece porque a Terra pode
ser considerada um grande ímã, pois produz um campo magnético no seu
interior. O polo norte da Terra está próximo ao polo sul magnético; isso
acontece porque o eixo de simetria do campo magnético da Terra não é
paralelo ao seu eixo de rotação. Por esta razão, a ponta da agulha de uma
bússola aponta para o norte da Terra, pois polos opostos se atraem. Linhas
de alta tensão interferem no funcionamento preciso da bússola.

ELETRICIDADE E MAGNETISMO 122

SER_ENGEL_ELEMAGNE_UNID4.indd 122 05/12/2019 13:45:07


Os polos magnéticos estão sempre associados em pares: uma barra de
ímã, por exemplo, ao ser dividida ao meio, resultará em duas barras com um
polo norte e um polo sul cada uma, não uma barra formada somente por polo
norte e outra metade somente por polo sul.
Hans Christian Oersted foi um dinamarquês que, pela primeira vez, em
1819, observou a interação entre campo magnético e a corrente elétrica ao
analisar que a agulha de uma bússola se desviava ao se aproximar de um
fio por onde estava passando corrente elétrica. A partir dessa descoberta,
outros cientistas passaram a investigar essa relação: André Ampère (França),
Michael Faraday (Inglaterra) e Joseph Henry (Estados Unidos); eles descobri-
ram outra relação na qual é possível gerar corrente elétrica ao se estabelecer
um campo magnético nas vizinhanças de uma espira (ou bobina).

Definição de campo magnético


Sabemos que uma carga carregada produz um campo elétrico ao seu re-
dor, gerando uma força elétrica que movimenta as cargas elétricas, o que
resulta na corrente elétrica. Nas vizinhanças das cargas em movimento, a
corrente elétrica cria um campo magnético. Esse campo magnético gera uma

força magnética FB sobre qualquer outra corrente ou carga que se mova den-
tro deste campo.
O campo magnético é uma grandeza vetorial que será representada pela

letra B, ou melhor, B, por se tratar de um vetor. A direção do vetor campo mag-
nético coincide com a direção da agulha de uma bússola, e o sentido será o que
aponta para o norte da agulha. Seu módulo é dado pela equação:
Fb
B= [T]
|q|∙v
A unidade do campo magnético no Sistema Internacional (SI) é o Tesla (T),
uma homenagem a Nikola Tesla, que teve grandes contribuições na área do
eletromagnetismo, e representa a força aplicada a uma carga em movimento. A
magnitude de 1 T é muito elevada em relação à magnitude dos campos magné-
ticos encontrados usualmente. O campo magnético da Terra, por exemplo, é de
5×10 -5 T; já o de um pequeno ímã é de 0,001 T. Por esta razão, convencionou-se
adotar uma medida relativa que é o Gauss (G), sendo que 10 4 G representa 1 T.

ELETRICIDADE E MAGNETISMO 123

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O campo magnético pode ser representado por linhas similares àquelas de
força do campo elétrico. A direção do campo será indicada pelas linhas e o mó-
dulo é indicado pela densidade delas; naturalmente, as linhas se agrupam em
regiões onde o campo magnético é mais forte. As linhas de campo magnético
formam um ciclo fechado, saindo do material e continuando no seu interior. A
direção vai do polo norte para o polo sul do ímã. Porém, diferentemente das
linhas de força do campo elétrico, as linhas do campo magnético são perpendi-
culares à força magnética sobre uma carga em movimento. A Figura 10 mostra
a representação das linhas de campo magnético em ímãs.

Campo magnético
Atração improvável
Barra magnética
dos polos

Ímã de ferradura
Polos que se
repelem

Figura 10. Representação das linhas magnéticas. Fonte: Shutterstock. Acesso em: 25/11/2019.

Uma carga puntiforme que se move gera em torno de si um campo magné-


tico que segue a relação apresentada na equação:

→ μ qv ∙ r^
B= 0 ∙
4π r2

ELETRICIDADE E MAGNETISMO 124

SER_ENGEL_ELEMAGNE_UNID4.indd 124 05/12/2019 13:45:08


Sendo r^ o vetor unitário que indica para o ponto de campo P formado pela
carga e µ 0 é uma constante de proporcionalidade denominada constante mag-
nética ou permeabilidade do espaço livre. Essa constante tem valor exato: μ0
= 4π × 10 -7T ∙ m ⁄A.
Exemplo 5: uma partícula puntiforme com carga q = 4,5 µC está se movendo
→ ^
com velocidade v = 3,0 m/s i ao longo da linha y = 3,0 m no plano z = 0. Determine
o campo magnético na origem produzido por esta carga quando ela está no
ponto x = -4,0 m, y = 3,0 m.
Resolução: para calcular o campo magnético, é necessário calcular o vetor
individual ^r.
→ ^ ^
r = 4,0 m i - 3,0 m j
r = 4,02 + 3,02 = 0,5 m

r^ = r = 4,0 m i - 3,0 m j = 0,80 i^- 0,60 ^j
r 5
Assim, o campo magnético pode ser calculado pela equação:
→ →^ ^
→ μ0 qv ∙ r^ μ qvi ∙ r
B= ∙ = 0 ∙
4π r2 4π r2
^
→ 4π × 10 -7 T ∙ m ⁄A (4,5 × 10 -6 C) ∙ (3,0 m ⁄s) ∙ (-0,60 vk)
B= ∙
4π (5,0 m)2
→ (4,5 × 10 -6 C) ∙ (3,0 m ⁄s) ∙ (-0,60)
B = 10 -7 T ∙ m ⁄A ∙ = -3,2 × 10 -14 Tk^
(5,0 m)2

O campo magnético tem intensidade de 3,2×10 -14 T no eixo z sentido ne-


gativo.

Definição de força magnética



A força F B poderia ser explicada de forma análoga à força elétrica se não
fosse pelo fato de que os polos magnéticos não existem isolada-
mente como as cargas positivas e negativas. Dessa forma,
a força magnética é gerada somente sobre uma partícula

eletricamente carregada e em movimento. A força F B é
medida sobre cargas carregadas que passam com dife-

rentes velocidades v e direções em determinado ponto do

ELETRICIDADE E MAGNETISMO 125

SER_ENGEL_ELEMAGNE_UNID4.indd 125 05/12/2019 13:45:08


campo magnético, sendo proporcional a v ∙ sen θ, em que θ é o ângulo entre

a direção do campo magnético e a direção de v. A equação a seguir repre-
senta a força magnética:
→ → →
FB= q ∙ v ∙ B Forma vetorial
O módulo da força é obtido por: FB =|q|v ∙ sen θ ∙ B.
Pela equação apresentada para determinação da força magnética, pode-
mos concluir que o módulo da força é proporcional ao módulo da carga em
questão, ao módulo do campo magnético e ao módulo da velocidade. Além
disso, a força magnética será zero se a carga da partícula for nula, se estiver em
→ →
repouso ou se v e B se encontrarem em paralelo ou antiparalelo, pois formarão
um ângulo de 0º e 180º, respectivamente. Por outro lado, a força magnética
→ →
será máxima se v e B forem mutuamente perpendiculares.
A orientação da força magnética é obtida pela chamada regra da mão
direita, que consiste em colocar o polegar representando a direção da força
magnética, o indicador como a direção do campo magnético e o dedo médio
como a direção da velocidade.

→ → →
F = qv B →
v B

→ →
v B

B

B

q


v
v

Figura 11. Orientação da força magnética utilizando a regra da mão direita. Fonte: TIPLER, 2009, p. 192.

Exemplo 6: a intensidade do campo magnético da Terra é medida em um


ponto na superfície, tem o valor de aproximadamente 0,6 Gauss e está inclina-
da para baixo no hemisfério norte, fazendo um ângulo de aproximadamente
70º com a horizontal, como mostra a Figura 12. Um próton está se movendo
horizontalmente em direção ao norte com velocidade v = 1,0 × 107 m/s. Calcule
a força magnética no próton.

ELETRICIDADE E MAGNETISMO 126

SER_ENGEL_ELEMAGNE_UNID4.indd 126 05/12/2019 13:45:08


Em cima

z
y N

v = 107 m/s j
F
W + E
x
B = B cos 70O j - B sen 70O k
+q

Embaixo

Figura 12. Orientação dos vetores de força magnética, velocidade e campo elétrico. Fonte: TIPLER, 2009, p. 193.

Resolução: calcula-se a força magnética pela equação:

FB = |q|v ∙ sen θ ∙ B =
FB = (1,6 × 10 C)(1 × 107 m ⁄s)sen 70°(0,6 × 10 -4 T)
-19

FB = 9,0 × 10 -17N

→ → → ^
A orientação vetorial de FB, tem-se v = v yj e B = B yj + Bzk
→ →→ ^
FB = q ∙ v ∙B = q(v yj) ∙ (B yj + Bzk)
→ ^
FB = qv yB y ∙ (j^∙ ^j) + qv yBz ∙ (j^∙ k) = qv yBz^i

FB = qv(-Bsenθ) ^i

FB = (1,6 × 10 -19C)(107 m ⁄s)(0,6 × 10 -4T)sen 70°i^

FB = -9,0 × 10 -17Ni^
A força magnética se encontra na direção do eixo x, no sentido negativo a
partir da origem de módulo 9,0 × 10 -17N.
Quando um fio que conduz corrente elétrica se encontra numa região em
que existe um campo magnético, é gerada sobre o fio uma força corresponden-

ELETRICIDADE E MAGNETISMO 127

SER_ENGEL_ELEMAGNE_UNID4.indd 127 05/12/2019 13:45:08


te à soma das forças magnéticas sobre cada um dos portadores de carga no
fio. A força magnética nessa situação será a soma da força magnética em cada
carga em que →
v a velocidade deriva dos portadores de carga. Assim, a equação
resulta na seguinte:
→ → →
FB = (q ∙ vd ∙ B) ∙ (nAL)
Dessa forma, a corrente no fio é dada por:

i = n ∙ q ∙ vd ∙ A
→ → →
Portanto, a força magnética em um fio condutor é obtida por: FB = i ∙ L ∙ B,

sendo que L é o vetor que possui mesma a direção e sentido da corrente, e o
módulo é o comprimento do segmento retilíneo de um fio.
Essa equação pode ser generalizada para um fio não retilíneo, mas de for-
mato arbitrário. Para isso, é necessário considerar no lugar de L um segmento
→ → → →
de fio curto cujo comprimento seja dl, assim a força obtida será dF = i ∙ dl ∙ B

(sendo B o campo magnético no segmento definido).
Exemplo 7: um segmento de fio de 3,0 mm de comprimento conduz uma
corrente de 3,0 A na direção +x. Este segmento está em um campo magnético
de magnitude 0,020 T que está no plano xy e faz um ângulo de 30º com a dire-
ção +x. Qual é a força magnética exercida no segmento de fio?
Resolução: a força magnética, por definição, encontra-se simultaneamente
perpendicular ao campo e à corrente. Dessa forma, podemos deduzir pela re-
gra da mão direita que a força está na direção do eixo z e o sentido deverá ser
determinado pela equação:
→ → →
FB = i ∙ L ∙ B

FB = 3,0 A ∙ 0,003 m ∙ 0,020T ∙ sen 30°k^

FB = 9,0 × 10 -5 Nk^
A força magnética está no sentido positivo
do eixo z.
Vimos que a força magnética sobre uma
partícula carregada que se move por um cam-
po magnético será perpendicular à velocida-
de dessa partícula. A força magnética pode
variar a direção da velocidade, entretanto, não
irá mudar o módulo, ou seja, a força magné-
tica não realiza trabalho sobre as partículas.

ELETRICIDADE E MAGNETISMO 128

SER_ENGEL_ELEMAGNE_UNID4.indd 128 05/12/2019 13:45:15


Em situações em que a direção da velocidade de uma partícula se en-
contra perpendicular a um campo magnético uniforme, a força magnética
gera uma força centrípeta sobre a carga, fazendo com que a mesma rea-
lize movimentos circulares. Utilizando a segunda lei de Newton, podemos
relacionar o raio do círculo formado ao campo magnético e à velocidade
da partícula. Como a velocidade e o campo magnético são perpendiculares
(sen 90°=1), a força magnética é obtida por:
F=q∙v∙B
Com a segunda lei de Newton (F = m ∙ a), igualando as duas equações,
tem-se que:
q∙v∙B=m∙a
q ∙ v ∙ B = m ∙ v → r = mv
2

r qB

Sendo m a massa da partícula.


O período do movimento circular corresponde ao tempo necessário
para a partícula completar uma volta pela circunferência. O período está
relacionado à velocidade por:
2π ∙ r
T=
v

Substituindo r pela equação desenvolvida anteriormente, temos:


2π ∙ mv ∙ 2π ∙ mv
T=
v ∙ qB qB

Essa equação representa o período da órbita circular da partícula, que


é chamado período de cíclotron. A partir do inverso dessa equação, é
obtida a frequência do cíclotron, como é mostrado a seguir:
1 qB
f= =
T 2πm

Pode ser observado que, em ambas as


equações, o período e a frequência do cí-
clotron dependem da relação q/m, não da
velocidade e do raio da circunferência.
Esse movimento circular das partículas
tem importante aplicação para o espectrô-
metro de massas e o cíclotron.

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ASSISTA
O cíclotron é um acelerador de partículas criado em 1934 pelos físicos ame-
ricanos Lawrence e Livingston, que consegue alcançar valores altíssimos de
energia cinética. Essas partículas aceleradas têm a função de bombardear
núcleos atômicos a fim de compreender intimamente a composição da maté-
ria, além de serem usados para a produção de material radioativo de aplica-
ções médicas. Com o desenvolvimento e tecnologia, o cíclotron foi aprimorado
para o síncrotron, no qual um feixe de partículas é acelerado por um caminho
fechado. O Brasil possui um dos mais modernos laboratórios de síncrotron
do mundo, o Sirius, que se encontra na cidade de Campinas. Assista ao vídeo
Sirius, maior e mais complexo laboratório brasileiro e conheça.

Lei de Biot-Savart
A lei de Biot-Savart faz uma relação entre a intensidade do campo
magnético com a distância de determinado ponto do campo com a fonte
geradora que, no caso, é a carga que se movimenta. Análoga à lei de Cou-
lomb para campo elétrico de uma carga puntiforme, a lei de Biot-Savart

estabelece a seguinte relação entre um elemento de corrente dl e o campo
que ele gera:

→ μ0 i ∙ dl ∙ ^i
dB = ∙
4π R2

Sendo que r^ é a direção do elemento de corrente – que é perpendicular



ao campo magnético e à velocidade v. O campo magnético, devido à corrente
total no circuito, pode ser calculado pela integração dos campos gerados por
cada elemento de corrente obtido pela lei de Bio-Savart. Esse cálculo pode
se tornar complexo dependendo da geometria do circuito. Veremos algumas
mais usuais.
Em um anel de corrente de raio R, um elemento gera um campo magnético
no centro do anel na direção do eixo e de módulo:
μ0 i ∙ dl ∙ sen θ
dB = ∙
4π R2
Considere θ o ângulo formado entre r^ e o elemento de corrente, que é de
90º. O campo magnético total de um anel de corrente será obtido pela integra-
ção da equação anterior:

B=
μ0 i

4π R2

∮ dl

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Considerando que a integral de dl ao longo do anel equivale ao comprimen-
to total da circunferência do anel, ou seja, 2πR, a equação fica mais simples:
μ i μ i
B = 0 ∙ 2 ∙ 2πR = 0 ∙
4π R 2 R

Muitas vezes o interesse maior é determinar o campo elétrico em um ponto


mais distante que o centro do anel de corrente. Dessa forma, a equação mais
adequada seria:

^
→ μ0 i ∙|dl ∙ r| μ i ∙dl
|dB| = ∙ = 0 ∙ 2
4π R 2 4π (z + R2)


Sendo z a distância a partir do centro do anel em que o campo está sen-
do medido. As somas das componentes de dB em x e y se anulam, portanto,
o campo magnético de um elemento de corrente é calculado sobre a com-
ponente em z:
μ0 i ∙dl R μ i ∙ dl ∙ R
dBz = dB ∙ sen θ = ∙ 2 ∙ = 0 ∙ 2 2 3⁄2
4π (z + R )2 √(z + R )
2 2
4π (z +R )

Bz =
μ0

i∙R
4π (z2+R 2)3 ⁄ 2 ∮ dl

μ0 i∙R μ i ∙ R 2 ∙ 2π
Bz = ∙ 2 ∙2πR = 0 ∙
4π (z + R )
2 3 ⁄ 2 4π (z2+R 2)3 ⁄ 2

Em situações que em z é muito maior que o raio do anel de corrente, pode-


mos simplificar a equação para:
μ0 i ∙ R 2 ∙ 2π
Bz = ∙
4π z3
Exemplo 8: uma bobina circular de 12 voltas e raio igual a 5,0 cm está
no plano z e centrada na origem. Ela conduz uma corrente de 4,0 A e o
momento magnético da bobina está na direção +z. Deseja determinar o
campo magnético nas distâncias z = 0, z = 15 cm e z = 3,0 m.
Resolução: o campo magnético em uma bobina de N voltas equivale ao
campo magnético de uma volta multiplicado pela quantidade de voltas.
Para z = 0:
μ0 (4π×10 -7T ∙ m ⁄A) ∙ 4,0 A = 6,03 × 10 -4T
Bz = N ∙ = 12 ∙
4π 2 0,05 m

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Para z = 15,0 cm, o ponto a ser medido está localizado no eixo z:

{
Bz = N ∙
μ0 i ∙ R 2 ∙ 2π
∙ = 12 ∙
(4π × 10 -7T ∙ m ⁄A)

(4,0 A) ∙ (0,05 m)2 ∙ 2π
{
4π (z2+R 2)3 ⁄ 2 2 [(0,15)2 + (0,05)2]3 ⁄ 2
Bz = 1,91 × 10 -5T

Para z = 3,0 m, o ponto a ser medido está localizado no eixo z:

{
Bz = N ∙
μ0 i ∙ R 2 ∙ 2π
∙ = 12 ∙
(4π × 10 -7T ∙ m ⁄A)

(4,0 A) ∙ (0,05 m)2 ∙ 2π
{
4π (z2+R 2)3 ⁄ 2 4π [(3)2 + (0,05)2]3 ⁄ 2
Bz = 2,79 × 10 -9T
μ0 i ∙ R 2 ∙ 2π
Comparando com o resultado obtido pela equação Bz = ∙
4π z3

(4π × 10 -7T ∙ m ⁄A) (4,0 A) ∙ (0,05 m)2 ∙ 2π


Bz = 12 ∙ ∙
4π (3,0m)3
Bz = 2,79 × 10 -9T

Chegamos ao mesmo resultado pelas duas equações, pois a distância z é


muito maior que o raio da bobina.
Exemplo 9: foi informado no exemplo anterior que a corrente na bobina é
de 4,0 A. Considerando uma velocidade de deriva de 1,4×10 -4 m/s, determine a
quantidade de carga que se move pelo fio.
Resolução: a quantidade de carga em movimento resulta da multiplicação
da corrente pelo tempo que o portador de carga leva para percorrer um fio de
comprimento L e velocidade ‘vd ’. Sendo L a circunferência da bobina vezes o
número de voltas:
L = N ∙ 2πR = 12 ∙ 2π ∙ 0,05 = 3,77 m
L 3,77 m
∆t = ∙ = 26928 s
vd 1,4 × 10 -4 m ⁄s

Assim: Q = i ∙ ∆t = 4,0 A ∙ 26928 s = 107712 C = 1,08 × 105C.

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Sintetizando
Nesta unidade, foram vinculados os conceitos apresentados para a
disciplina como um todo. Tendo o conhecimento base da composição da
matéria e interação entre cargas carregadas, chegamos ao conceito de cor-
rente elétrica e os dispositivos presentes no funcionamento de inúmeros
equipamentos eletrônicos.
Um simples equipamento eletrônico pode possuir dos mais complexos
circuitos com dezenas de resistores, fontes e medidores de corrente e ten-
são dispostos das mais variadas formas. As leis de Kirchhoff são muito uti-
lizadas para definir de forma prática os elementos que compõe o circuito,
como a corrente, as resistências dos resistores e as fontes de energia.
Para definir os elementos de uma malha, devemos escolher o senti-
do de passagem da corrente elétrica e o sentido pelo qual a malha será
percorrida para considerar tais elementos em uma equação. Ambos são
escolhidos de forma aleatória. Para montar a equação, devemos adotar
uma convenção de sinais para obter resultados corretos. Ao percorrer a
malha no sentido escolhido, a tensão da fonte de energia será positiva se
o terminal negativo estiver antes do terminal positivo; a tensão será nega-
tiva se o terminal positivo estiver antes do terminal negativo. Com relação
ao produto iR, este será negativo se a corrente e o sentido da malha forem
iguais e positivo se forem contrários.
Equipamentos de medidas também fazem parte de um circuito elétrico,
sendo de extrema importância considerar sua localização em relação ao
que se está sendo medido, para se obter a medida real que se deseja. Fo-
ram introduzidos nos circuitos, em diferentes posições, o amperímetro e o
voltímetro, demonstrando os cálculos para cada situação.
Apresentamos um circuito especial em que se encontra um capacitor
além dos resistores: são os chamados circuitos RC (resistor – capacitor).
Nesses circuitos, a corrente elétrica não é contínua, pois os capacitores
descarregam e carregam na ausência e presença de uma fonte de energia.
Dessa forma, enquanto o capacitor se carrega ou descarrega, a corrente
irá variar por todo o circuito e, consequentemente, a tensão no capacitor
e na fonte também varia.

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Esta unidade finaliza com uma ideia geral sobre magnetismo e algu-
mas de suas propriedades. Muitas relações podem ser feitas entre campo
magnético e campo elétrico, assim como entre força magnética e força
elétrica. Entretanto, algumas diferenças devem ser destacadas. O campo
magnético é formado por cargas elétricas em movimento, gerando forças
magnéticas que se encontram perpendiculares ao campo e à velocidade da
corrente. Vimos como determinar o campo magnético e a força magnética
em diferentes situações: sobre cargas puntiformes, linhas de corrente e
anel de corrente.

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Referências bibliográficas
HALLIDAY, D.; RESNICK, R.; WALKER, J. Fundamentos de física - eletromagne-
tismo. 10. ed. Rio de Janeiro: Livros Técnicos e Científicos, 2016. v. 3.
SIRIUS, o maior e mais complexo laboratório brasileiro. Postado por Pesqui-
sa Fapesp. (13 min. 34 s.). Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?-
v=lbxOSSUkgv0&>. Acesso em: 25 nov. 2019.
TIPLER, P. A.; MOSCA, G. Física para cientistas e engenheiros. 6. ed. Rio de
Janeiro: Livros Técnicos e Científicos, 2009. v. 3.
YOUNG, H. D.; FREEDMAN, R. A. Física III eletromagnetismo. 12. ed. São Paulo:
Pearson Education do Brasil, 2009.

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