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IMAGINOLOGIA IMAGINOLOGIA

Imaginologia
Tallyson Sarmento Alvarenga Tallyson Sarmento Alvarenga

A área da Imaginologia tem sofrido grandes avanços tecnológicos e, assim, vem am-
pliando suas aplicações no decorrer da história.
O processo contínuo de desenvolvimento da radiografia convencional e o desenvol-
vimento de modalidades de aquisição de imagens com maior qualidade, como a to-
mografia computadorizada, mamografia e hemodinâmica, têm possibilitado que a
Imaginologia se torne um dos campos mais importantes e promissores da Medicina.
O vasto conhecimento dos princípios de formação das imagens radiográficas, a inte-
ração da radiação com a matéria e a produção da radiação são de suma importância,
pois permitem a tradução da informação de uma imagem adquirida de maneira que o
diagnóstico seja assertivo, o qual pode ser usado no tratamento do paciente.
O uso da Imaginologia na Medicina possibilita sua aplicação em todas as especialida-
des e subespecialidades. Assim, a utilização das imagens é necessária a todos. Tendo
isso em mente, essa disciplina mostrará ao aluno informações relevantes para com-
preender os tipos de radiação e a interação das radiações com a matéria, possibilitan-
do a familiarização com as normas de segurança do profissional e do paciente.

GRUPO SER EDUCACIONAL

gente criando o futuro

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Presidente do Conselho de Administração Janguiê Diniz

Diretor-presidente Jânyo Diniz

Diretoria Executiva de Ensino Adriano Azevedo

Diretoria Executiva de Serviços Corporativos Joaldo Diniz

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Boxes

ASSISTA
Indicação de filmes, vídeos ou similares que trazem informações comple-
mentares ou aprofundadas sobre o conteúdo estudado.

CITANDO
Dados essenciais e pertinentes sobre a vida de uma determinada pessoa
relevante para o estudo do conteúdo abordado.

CONTEXTUALIZANDO
Dados que retratam onde e quando aconteceu determinado fato;
demonstra-se a situação histórica do assunto.

CURIOSIDADE
Informação que revela algo desconhecido e interessante sobre o assunto
tratado.

DICA
Um detalhe específico da informação, um breve conselho, um alerta, uma
informação privilegiada sobre o conteúdo trabalhado.

EXEMPLIFICANDO
Informação que retrata de forma objetiva determinado assunto.

EXPLICANDO
Explicação, elucidação sobre uma palavra ou expressão específica da
área de conhecimento trabalhada.

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Sumário

Unidade 1 - Conceitos sobre as radiações ionizantes


Objetivos da unidade............................................................................................................ 12

Histórico das radiações ionizantes................................................................................... 13


Origem das radiações...................................................................................................... 14

Tipos de radiações ionizantes............................................................................................ 16


Radiação gama................................................................................................................. 18
Raios X................................................................................................................................ 19

Interação das radiações eletromagnéticas com a matéria.......................................... 20


Efeito Compton.................................................................................................................. 21
Efeito fotoelétrico............................................................................................................. 22
Produção de pares e aniquilação.................................................................................. 23

Fatores de qualidade da imagem radiográfica................................................................ 24

Introdução à radiobiologia.................................................................................................. 25
Conceito e história da radiobiologia............................................................................. 25
Ciclo celular e os efeitos da radiação a nível celular................................................ 26
Os efeitos da radiação a nível celular.......................................................................... 29

Sintetizando............................................................................................................................ 35
Referências bibliográficas.................................................................................................. 36

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Sumário

Unidade 2 - Os efeitos das radiações no DNA e nos cromossomos


Objetivos da unidade............................................................................................................ 38

Transferência Linear de Energia (LET).............................................................................. 39

Os efeitos das radiações no DNA e nos cromossomos................................................. 41

Os tipos de exposição à radiação ionizante.................................................................... 46

Classificação dos efeitos biológicos................................................................................ 52


Acidente nuclear de Goiânia . ....................................................................................... 53

Sintetizando............................................................................................................................ 58
Referências bibliográficas.................................................................................................. 59

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Sumário

Unidade 3 - Fundamentos básicos de radioatividade

Objetivos da unidade............................................................................................................ 61

Fundamentos básicos da radioatividade.......................................................................... 62


A natureza das emissões radioativas........................................................................... 64

Decaimento radioativo......................................................................................................... 66
Decaimento alfa................................................................................................................ 67
Decaimento beta.............................................................................................................. 68

Grandezas e unidades.......................................................................................................... 70
Grandezas físicas............................................................................................................. 71
Grandezas operacionais................................................................................................. 72
Grandezas de proteção................................................................................................... 73

Os princípios básicos em proteção radiológica............................................................. 75


O princípio de justificação.............................................................................................. 76
O princípio da otimização................................................................................................ 76
O princípio da aplicação do limite de dose individual................................................ 77

Cuidados em proteção radiológica.................................................................................... 78


Tempo................................................................................................................................. 78
Distância............................................................................................................................ 79
Blindagem . ....................................................................................................................... 79

Sintetizando............................................................................................................................ 80
Referências bibliográficas.................................................................................................. 81

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Sumário

Unidade 4 - Medicina Nuclear

Objetivos da unidade............................................................................................................ 84

Medicina nuclear ................................................................................................................. 85


Radiofármacos.................................................................................................................. 86
Gerador de tecnécio ....................................................................................................... 91

Equipamentos de medicina nuclear ................................................................................. 93


Técnica PET....................................................................................................................... 94
Equipamento SPECT......................................................................................................... 97
Equipamento PET.............................................................................................................. 98

Indicações e protocolos para procedimentos em medicina nuclear......................... 98


Cintilografia óssea............................................................................................................ 99
Perfusão miocárdica .................................................................................................... 100
Cintilografia pulmonar de ventilação e de perfusão................................................ 101

Sintetizando.......................................................................................................................... 103
Referências bibliográficas................................................................................................ 104

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Apresentação

A área da Imaginologia tem sofrido grandes avanços tecnológicos e, assim,


vem ampliando suas aplicações no decorrer da história.
O processo contínuo de desenvolvimento da radiografia convencional e o
desenvolvimento de modalidades de aquisição de imagens com maior quali-
dade, como a tomografia computadorizada, mamografia e hemodinâmica, têm
possibilitado que a Imaginologia se torne um dos campos mais importantes e
promissores da Medicina. O vasto conhecimento dos princípios de formação
das imagens radiográficas, a interação da radiação com a matéria e a produção
da radiação são de suma importância, pois permitem a tradução da informa-
ção de uma imagem adquirida de maneira que o diagnóstico seja assertivo, o
qual pode ser usado no tratamento do paciente.
O uso da Imaginologia na Medicina possibilita sua aplicação em todas as es-
pecialidades e subespecialidades. Assim, a utilização das imagens é necessária
a todos. Tendo isso em mente, essa disciplina mostrará ao aluno informações
relevantes para compreender os tipos de radiação e a interação das radiações
com a matéria, possibilitando a familiarização com as normas de segurança do
profissional e do paciente.

IMAGINOLOGIA 9

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O autor

O professor Tallyson Sarmento Alva-


renga é doutor e mestre em Ciências na
área de Tecnologia Nuclear-Aplicações
pelo IPEN/USP (2018) e possui mestrado
em Ciências pelo IPEN/USP (2014). Par-
ticipa, desde 2019, como colaborador e
bolsista de Pós-Doutorado no Instituto
de Pesquisas Energéticas e Nucleares,
IPEN/CNEN, é especialista em Gestão
Educacional pela Faculdade de Tecnolo-
gia da Amazônia (2011) e graduado em
Tecnologia em Radiologia pela Faculda-
de Nova Unesc (2010). Possui experiên-
cia na área acadêmica com as disciplinas
de Física das radiações, Equipamentos,
Posicionamentos Radiológicos e na pes-
quisa na área de Metrologia e Dosime-
tria da radiação de nêutrons.

Currículo Lattes:
http://lattes.cnpq.br/3685979634548713

A Deus, aos meus pais, Ruyterbran e Custódia, ao meu irmão, Francisco, à


minha esposa, Jeniffer, e à minha filha, Helena, com carinho e amor. E ao
Dr. Fábio Fernando por todo auxílio prestado.

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UNIDADE

1 CONCEITOS SOBRE
AS RADIAÇÕES
IONIZANTES

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Objetivos da unidade

Entender os principais conceitos a respeito das radiações ionizantes, e os


seus diversos tipos;

Conhecer os principais mecanismos de interação das radiações ionizantes


com a matéria;

Compreender o conceito e a história da radiobiologia, e suas principais


características.

Tópicos de estudo
Histórico das radiações ionizantes Introdução à radiobiologia
Origem das radiações Conceito e história da radio-
biologia
Tipos de radiações ionizantes Ciclo celular e os efeitos da
Radiação gama radiação a nível celular
Raios X Os efeitos da radiação a nível
celular
Interação das radiações eletro-
magnéticas com a matéria
Efeito Compton
Efeito fotoelétrico
Produção de pares e aniquilação

Fatores de qualidade da imagem


radiográfica

IMAGINOLOGIA 12

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Histórico das radiações ionizantes
A descoberta totalmente inesperada dos raios X ocorreu em 8 de novembro
de 1985, pelo físico alemão Wilhelm Conrad Röntgen, que decidiu reproduzir o
experimento realizado pelo pesquisador Philipp Lenard, embrulhando totalmente
o tubo de Crookes com papel fotográfico (preto) para visualizar melhor os efeitos
dos raios catódicos no laboratório totalmente escuro.
Por acaso, a alguns metros de distância do tubo, havia uma placa revestida
com platinocianeto de bário, material fluorescente sobre a mesa, que fluorescia
fracamente quando o tubo era ligado, mesmo estando distante. Percebeu-se que
a intensidade desse brilho (fluorescência) aumentava quando a placa se aproxima-
va do tubo. Logo, Röntgen percebeu que havia descoberto um tipo de radiação.

CURIOSIDADE
Por seus trabalhos, Röentgen foi laureado com o Prêmio Nobel de Física
no ano de 1901.

Poucos dias após a descoberta dos raios X, foram realizadas investigações


extremamente rigorosas, observando o poder de penetração e absorção deles
em diferentes tipos de materiais. As-
sim, no final de 1985, Röntgen relatou
seus resultados experimentais para
a comunidade científica. No ano de
1986, produziu e publicou a primeira
imagem de raio-X, que era da mão da
sua esposa Anna Bertha (Figura 1).
Após um ano da descoberta de
Röntgen, o fenômeno da radioativida-
de foi descrito pelo pesquisador Antoi-
ne Henri Becquerel, que colocou filmes
radiográficos em uma gaveta junto aos
sais de urânio. Depois de revelados os
filmes fotográficos, ele percebeu que
Figura 1. Radiografia da mão da Anna Bertha Ludwig.
foram sensibilizados pela radiação. Fonte: OKUNO; YOSHIMURA, 2010, p. 37.

IMAGINOLOGIA 13

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Assim, ele compreendeu que essa radiação foi emitida pelos sais de urânio de
forma espontânea.
Após a descoberta desse fenômeno, chamado de radioatividade, que ocor-
re devido à liberação da energia de um átomo espontaneamente,
foram realizadas experiências semelhantes, utilizando diferentes
materiais. Em julho de 1983, Marie Curie e Pierre
Curie, seu marido, anunciaram a descoberta de
um novo elemento radioativo retirado da ura-
tina, ao qual chamaram de polônio e, em de-
zembro de 1898, o casal Curie anunciou a des-
coberta de outro elemento radioativo, o rádio.

Origem das radiações


A radiação pode ser definida como a propagação de energia no espaço por
meio de partículas em movimento, que são caracterizadas por sua frequência
ou comprimento de onda.
As radiações são provenientes de diferentes fontes, sendo divididas em io-
nizantes e não ionizantes. As ionizan-
tes também são divididas em naturais
e artificiais, sendo que as naturais são
provenientes do espaço (radiação cós-
mica) e de elementos instáveis encon-
trados na crosta terrestre e no núcleo,
tais como o potássio-40, urânio-238
e tório-232, e as radiações artificiais,
produzidas pelo homem, geralmente
são utilizadas nas aplicações médi-
cas para diagnóstico por imagem, tais
como a radiologia convencional, tomo-
grafia computadorizada e medicina nuclear.
As radiações eletromagnéticas são classificadas em ionizantes e não ioni-
zantes, dentro de uma ampla faixa de frequência, denominada espectro eletro-
magnético, conforme mostra a Figura 2.

IMAGINOLOGIA 14

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Ondas de
Tipo de radiação rádio
Microondas Infravermelho Luz visível Ultravioleta Raio-X Raios gama

Comprimento
103 10-2 10-5 0.5 x 10-4 10-8 10-50 10-12
da onda (m)

Escala de aproximação
do comprimento
da onda
Núcleo
Construções Humanos Abelha Agulha Protozoários Moléculas Átomos
atômico

Frequência (Hz)

Figura 2. Espectro eletromagnético. Fonte: Adobe Stock. Acesso em: 09/09/2020.

Do ponto de vista físico, as radiações ionizantes e não ionizantes, ao inte-


ragirem com um determinado material, podem provocar a excitação e a ioni-
zação. O processo de ionização é a interação na qual os elétrons são ejetados
dos orbitais pelas radiações, tendo como resultado elétrons livres. A excitação
é a interação na qual os elétrons são apenas deslocados de seus orbitais, mas
quando retornam aos orbitais de origem, emitem a energia em forma de luz.

Íon
Fóton
Ionização Elétron livre

Fóton
Fóton
Excitação

Figura 3. Ionização (acima) e excitação (abaixo). Fonte: TAUHATA et al., 2003, p. 78. (Adaptado).

IMAGINOLOGIA 15

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Radiação não ionizante
A radiação é dita não ionizante quando possui energia suficiente apenas
para excitar os elétrons do átomo, sem provocar a alteração da estrutura da
matéria. Nessa situação, o elétron não será ejetado, mas poderá ganhar ener-
gia e se deslocar para uma camada mais energética. Os principais exemplos
desse tipo de radiação são: microondas, luz visível, sinais de rádio e televisão.
Radiação ionizante
A radiação é denominada como ionizante quando, ao interagir com deter-
minado meio, transfere energia suficiente aos elétrons para ejetá-los do átomo
e mudar a estrutura da matéria. Os principais exemplos desse tipo de radiação
são: radiação-X, radiação gama e radiação beta.

Tipos de radiações ionizantes


As radiações são produzidas por processos de ajustes que ocorrerem nas
camadas eletrônicas, núcleo ou por meio da interação de partículas com o
átomo. Elas são divididas em: corpuscular e eletromagnética.
Nas radiações corpusculares, a energia se propaga por meio de partículas
subatômicas, como prótons, elétrons e nêutrons, os quais possuem alta velo-
cidade. Algumas partículas são provenientes dos processos de fissão e outras
do processo de desintegração nuclear. Os principais exemplos desse tipo de
radiação são a beta e a alfa.
As partículas alfa (radiação alfa) são núcleos de hélio (He) formados por
dois prótons e dois nêutrons com bastante energia cinética, que podem variar
de 3,0 MeV a 7 MeV. Esse tipo de radiação é emitida por núcleos instáveis, que
possuem uma elevada massa atômica, tal como tório e urânio.
As radiações alfa (α) possuem baixo poder de penetração, mas
uma alta dose de ionização. Assim, as exposições
externas são inofensivas, pois não são capazes
de atravessar a camada mais externa da pele.
Contudo, quando são inaladas ou ingeridas
por mecanismos de contaminação acidental
ou natural, provocam sérios danos aos siste-
mas respiratório e digestivo.

IMAGINOLOGIA 16

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α

Figura 4. Emissão de uma partícula (α) por um núcleo. Fonte: TAUHATA et al., 2003, p. 24.

As partículas beta são elétrons (β-) ou pósitrons (β+) emitidos pelo núcleo
com o objetivo de adquirir estabilidade, possuindo pequeno poder de pene-
tração e depende diretamente da sua energia. Assim, ao interagir com o te-
cido humano, consegue atravessar alguns milímetros, podendo ser utilizada
principalmente no tratamento de câncer de pele.

EI

Figura 5. Emissão de uma partícula beta por um núcleo. Fonte: TAUHATA et al., 2003, p. 19.

IMAGINOLOGIA 17

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Em relação às radiações eletromagnéticas, a energia é propagada em forma
de ondas, que viajam em uma mesma velocidade e diferem somente em relação
ao comprimento. Essas radiações possuem como características principais a pro-
pagação, que ocorre independentemente da existência do meio, e ausência de
massa. Os principais exemplos desse tipo de radiação são os raios gama e raios X.

Radiação gama
Os raios gama são ondas eletromagnéticas muito penetrantes, pois pos-
suem alta frequência e são emitidos pelos núcleos atômicos com excesso de
energia, ou seja, quando estão excitados. Esse tipo de radiação é bastante pe-
rigosa, uma vez que são ondas com altas energias, capazes de danificar ou até
destruir as moléculas que compõem as células, podendo resultar em mutações
genéticas ou até em morte. A radiação gama é bastante utilizada em radiotera-
pia e aplicações industriais.

γ

Figura 6. Emissão da radiação gama pelo núcleo. Fonte: TAUHATA et al., 2003, p. 24.

ASSISTA
O acidente radiológico de Goiânia foi o mais grave epi-
sódio de contaminação por isótopo Césio-137 (emissor de
radiação gama) ocorrido no Brasil e o maior acidente do
mundo, não levando em consideração os que ocorreram
nas usinas nucleares. No vídeo Césio 137: maior acidente
radioativo do Brasil completa 32 anos, é possível saber
mais sobre o assunto.

IMAGINOLOGIA 18

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Raios X
Os raios X são também considerados ondas eletromagnéticas, ou seja, pos-
suem as mesmas características da radiação gama, diferindo apenas em relação
a sua origem, uma vez que a radiação gama é oriunda de dentro do núcleo e os
raios X são oriundos da interação com elétrons orbitais dos átomos do alvo.
Os raios X utilizados nas aplicações médicas são, em sua maioria, produzi-
dos por tubos de vidro em vácuo que possuem um filamento (cátodo) e um alvo
metálico (ânodo). Ao aplicar uma tensão no filamento de tungstênio (cátodo),
é produzida uma corrente elétrica que gera elétrons por emissão termiônica.
Esses elétrons são acelerados fortemente por meio da diferença de potencial
elétrico (DDP) até atingirem o alvo metálico (ânodo), também composto por
tungstênio. O resultado disso é a emissão de dois tipos de raios X: o caracterís-
tico e de freamento (bremsstrahlung).
Raios X de freamento (bremsstrahlung)
A radiação de freamento, também conhecida como bremsstrahlung, é pro-
duzida quando um elétron dotado de alta energia cinética consegue transitar
próximo ao núcleo ou na eletrosfera do átomo-alvo. No entanto, esses elétrons
atraídos sofrem um desvio da sua trajetória original, resultando na perda de
parte de sua energia na forma de raios X, que possuem um espectro contínuo
de energia, conforme mostra a Figura 7.

Elétrons
projetados
e-

Raios X de
freamento de
energia baixa
Raios X de
freamento de
energia alta

e-

Figura 7. Raios X de freamento. Fonte: BUSHONG, 2010, p. 314.

IMAGINOLOGIA 19

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Raios X característicos
O processo de produção de raios X característicos ocorre quando um elé-
tron acelerado (emitido) interage com elétrons presentes nas camadas orbitais
mais internas do átomo-alvo. Essa interação resulta na retirada de
um elétron da camada K, processo chamado de ionização,
criando uma vacância temporária e deixando esse áto-
mo altamente instável. A estabilidade desse átomo é
OBJETOS DE
adquirida por meio da transição de um elétron de APRENDIZAGEM
Clique aqui
uma camada mais externa para essa vacância, con-
forme mostra a Figura 8.

Elétron
Elétron projetado
ionizado da
camada K Raios X
característicos

Figura 8. Raios X característicos. Fonte: BUSHONG, 2010, p. 311.

Interação das radiações eletromagnéticas com a matéria


A interação das radiações eletromagnéticas (fótons) com a matéria, no in-
tervalo de energia que inclui as radiações gama e os raios X (freamento e
característico), vai depender de uma série de fatores, tais como energia da
radiação incidente, número atômico, densidade e espessura. No entanto, em
algumas situações, a radiação pode atravessar distâncias consideráveis na
matéria sem modificá-la e sem se modificar.

IMAGINOLOGIA 20

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Os principais processos de interação são o efeito compton, efeito fotoelé-
trico, espalhamento coerente, produção de pares e aniquilação. Veremos
cada um desses processos com mais detalhes a seguir.

Efeito Compton
O efeito Compton é caracterizado quando um fóton interage com um elé-
tron fracamente ligado ao átomo (livre) com o objetivo de promover o deslo-
camento desse elétron, situado nas camadas mais externas da eletrosfera. A
energia não transferida deixa o átomo na forma de um fóton, que possui uma
energia menor do que o fóton incidente. Dessa forma, o fóton continua a se
propagar após a interação com a matéria, seguindo uma direção totalmente
diferente da inicial.
Dois fatores são responsáveis por determinar a quantidade de energia que
permanece no fóton emergente: energia inicial do fóton incidente, e o ângulo
de desvio.

E’γ

Eγ Efeito Compton

Ee

Figura 9. Efeito Compton. Fonte: TAUHATA et al., 2003, p. 82.

Em relação às mudanças, é possível dizer que o efeito Compton promove


a ionização do átomo no meio, faz com que o fóton perca energia e mude de
direção na radiação incidente. Por fim, a radiação ionizante produzida possui
elétron rápido, fóton com menor energia e mais espalhado.

IMAGINOLOGIA 21

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Efeito fotoelétrico
Esse efeito é caracterizado pela transferência total da energia da radiação a
um único elétron orbital. Para isso, o fóton deve fornecer energia suficiente ao
elétron para romper a atração eletrostática exercida pelo núcleo, ejetando-o do
átomo na forma de um fotoelétron. Nesta interação, após a transferência dessa
energia, o fóton desaparece e o átomo é ionizado.
O efeito fotoelétrico proporciona a formação de imagens radiográficas com
elevado contraste, ou seja, com ótima qualidade. Entretanto, por ionizar o meio-
-alvo, resulta no aumento da quantidade de radiação absorvida pelo corpo.

Eγ Ec
Efeito fotoelétrico

Figura 10. Efeito Fotoelétrico. Fonte: TAUHATA et al., 2003, p. 79.

Em relação às consequências do efeito fotoelétrico, é possível dizer que, para


o meio, ocorre a ionização e excitação do átomo; o que muda na radiação inci-
dente é que o fóton é absorvido e, por fim, a radiação ionizante produzida fica
com elétrons rápidos e raios X característicos.

IMAGINOLOGIA 22

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Produção de pares e aniquilação
O processo de produção de pares se caracteriza quando um fóton de alta
energia, maior do que 1,022 MeV, colide com o núcleo atômico, cedendo toda
sua energia para o núcleo e dando origem a duas partículas: o elétron (e -), de
carga negativa, e o pósitron (e+), de carga positiva, cada um com energia de 511
keV. Nesta interação, essas partículas se afastam em sentidos opostos com
grande velocidade, impossibilitando sua recombinação e, consequentemente,
fazendo com que elas possam sofrer aniquilação.
No processo de aniquilação de pósitrons, a massa é convertida em energia.
Nesse sentido, é possível observar que não é necessária a presença de um
material para que ocorra a interação, enquanto a produção de pares requer
essa condição.

Ec

e-
Ey
Formação de pares

e+

Ec
Figura 11. Produção de pares. Fonte: TAUHATA et al., 2003, p. 84.

Em relação à produção de pares, as consequências


para o meio e para a radiação são recuo do núcleo,
aniquilação do pósitron e absorção do fóton. As OBJETOS DE
APRENDIZAGEM
radiações liberadas em consequência da intera- Clique aqui
ção são: elétron e pósitron rápidos e raios X de
aniquilação.

IMAGINOLOGIA 23

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Fatores de qualidade da imagem radiográfica
A qualidade da imagem radiográfica se refere à fidelidade com que a es-
trutura estudada apresenta na imagem. Uma imagem radiográfica de alta
qualidade deve apresentar alto contraste e nitidez, garantindo o bem-estar do
paciente. Os principais fatores que estão diretamente ligados à qualidade da
imagem, podendo afetá-la de maneira direta ou indireta, são densidade, con-
traste, distorção e resolução espacial.
A densidade radiográfica, que também pode ser chamada de densidade óp-
tica, é definida como o grau de enegre-
cimento de uma imagem radiográfica.
Assim, quando uma radiografia apre-
senta uma densidade alta (maior grau
de enegrecimento), menos luz é trans-
mitida pela imagem. O principal fator
responsável por controlar a densidade
é o mAs (quantidade de elétrons pro-
duzidos no cátodo), que controla a
densidade da imagem radiográfica por
meio da duração da exposição e a quantidade de raios X emitidos.
O contraste em uma imagem radiográfica é a diferença de densidades entre
as áreas adjacentes de uma imagem, ou seja, variação na densidade. Assim,
quando essa diferença se apresentar grande, o contraste será alto, e quando
essa diferença for pequena, o contraste será baixo. O fator responsável pelo
contraste é a alta tensão (kV), que controla a energia e, desse modo, a penetra-
ção do feixe primário de raios X.
A distorção é definida como a representação equivocada do formato ou
tamanho do objeto registrado em uma imagem radiográfica, produzindo, as-
sim, uma representação errônea do objeto. Por isso, é impossível obter uma
imagem radiográfica com as dimensões exatas da estrutura que está sendo
radiografada. Isso ocorre devido a três condições:
• espessura do objeto;
• posição do objeto;
• forma do objeto.

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O quarto e o último fator é a resolução espacial, que também é conhecida
como a nitidez da imagem. Ela é definida como delimitação mensurável dos de-
talhes das estruturas anatômicas em uma radiografia. Essa nitidez dos detalhes
pode ser demonstrada observando as linhas estruturais e as bordas das estru-
turas e tecido. A ausência de detalhes é descrita como ausência de ni-
tidez ou borramento da imagem. Os principais fatores
responsáveis por provocar falta de nitidez em uma
OBJETOS DE
imagem radiográfica são o posicionamento, algum APRENDIZAGEM
Clique aqui
movimento do paciente e o ponto focal – a utiliza-
ção de um menor ponto focal resultará em um menor
borramento, ou seja, em uma imagem mais nítida.

Introdução à radiobiologia
Ao falarmos em radiação, pensamos imediatamente em acidentes nuclea-
res, bombas atômicas e efeitos deletérios provocados no organismo. Nesse
sentido, é importante responder às seguintes perguntas: o que a radiação pro-
voca no organismo humano? Por que ela pode ser deletéria?
Para responder a tais questionamentos, estudaremos os princípios da ra-
diobiologia e as principais teorias de interação, efeito e consequências para os
organismos.

Conceito e história da radiobiologia


A radiobiologia surgiu como ciência que se dedica a estudar os efeitos da
radiação no organismo humano com o objetivo de contribuir com a utilização
da radiação de forma mais segura e eficiente nas diversas aplicações.
Suas pesquisas relacionam os fatores “dose absorvida” e “resposta biológi-
ca” para prever os efeitos de determinada dose , quantificando e qualificando
respostas controladas ou acidentais da exposição à radiação.
Desde a produção da primeira radiografia, realizada pelo físico inglês Wi-
lhelm Conrad Röntgen com o auxílio do professor de anatomia Rudolf Albert
von Kölliker, em 1895, muito se tem estudado sobre os efeitos da radiação com
a matéria, sobretudo a matéria constituinte dos seres vivos.

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O primeiro cientista a constatar o efeito deletério da radiação foi Antoine
Henri Becquerel, quando, inadvertidamente, levou consigo em seu bolso uma
amostra de rádio e percebeu a formação de eritemas na pele duas semanas
depois do ocorrido. Depois disso, houve a formação de úlceras que demora-
ram muitos meses para serem curadas. Pierre Curie repetiu tal feito em 1901,
no próprio antebraço. Desta forma, a partir do início do século XX, os estudos
dentro da radiobiologia começaram.

Ciclo celular e os efeitos da radiação a nível celular


Os efeitos das radiações estão relacionados diretamente à interação destas
com a menor unidade viva formadora dos organismos, a célula. Estima-se a exis-
tência de aproximadamente 10 milhões de espécies diferentes de seres vivos
no nosso planeta, cada qual com suas particularidades, características e meca-
nismos de adaptações, passados geração após geração por hereditariedade, fa-
zendo com que todos compartilhem estruturas celulares semelhantes. Tudo que
tem vida é constituído de célula. Sendo assim, a morte inicia da mesma forma:
com uma célula, ou um grupo de células, que começa a apresentar defeitos.
Todas as células são formadas de moléculas, como aminoácidos, nucleotí-
deos, ácidos graxos e carboidratos, que são constituídos de átomos. Os princi-
pais átomos existentes nos organismos estão apresentados no Quadro 1.

QUADRO 1. COMPOSIÇÃO ATÔMICA DAS MOLÉCULAS NOS ORGANISMOS

Composição atômica dos organismos vivos

60,0% Hidrogênio

25,7% Oxigênio

10,7% Carbono

2,4% Nitrogênio

0,2% Cálcio

0,1% Fósforo

0,1% Enxofre

0,8% Outros

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O conjunto de moléculas dá origem às biomoléculas, constituídas de vá-
rias unidades de monômeros, como proteínas, ácidos nucleicos (DNA e RNA),
lipídeos e polissacarídeos. O conjunto de biomoléculas dá origem às células,
a primeira unidade viva. O conjunto de células dá origem aos tecidos, como o
tecido muscular, conjuntivo e nervoso. O conjunto de tecidos, por sua vez, dá
origem aos órgãos, como coração, peritônio e cérebro. O conjunto de órgãos
dá origem aos sistemas, como o sistema nervoso, sistema locomotor e sistema
respiratório. E o conjunto de sistemas dá origem ao organismo.

DNA Nucleotídeos

Cromatina
Aminoácidos

Proteína

Membrana
plasmática Celulose

Açúcares
Parede celular
Célula Organelas Macromoléculas Unidades
monoméricas
Nível 4 Nível 3 Nível 2 Nível 1

Figura 12. Hierarquia de estruturas celulares de monómeros até a célula. Fonte: NELSON; COX, 2014, p. 11.

De acordo com o dogma central da biologia, “estrutura indica função”. Em


outras palavras, cada biomolécula está relacionada a uma específica e particu-
lar função, que se relaciona com sua estrutura e é determinada pela informa-
ção contida no DNA.
O DNA se apresenta como uma dupla hélice e é constituído de nucleotídeos
pareados em ordem específica. As proteínas são arranjos de aminoácidos do-
brados e apresentam funções estruturais e funcionais nas células. Polímeros
de açúcares são formados por monômeros individuais específicos com funções
energéticas e estruturais. E todas essas propriedades são determinadas pela
informação contida no DNA, que podemos definir como o centro de comando

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da célula. Caso tenha problemas com o centro de comando, toda a célula está
comprometida, ela pode perder sua função, perder a propriedade de se dividir
ou ser estimulada a se dividir em excesso e até mesmo morrer. Qualquer um
desses efeitos é prejudicial para o organismo.

DNA DNA

PROTEÍNA
Transcrição

Replicação Tradução

Transcrição
reversa

Figura 13. DNA é transcrito em RNA e traduzido em proteína. As proteínas expressas em uma célula determinam a sua
função e regulação. Fonte: Shutterstock. Acesso em: 11/09/2020.

Uma das características mais importantes das células é a capacidade de


replicação em cópias idênticas. Esse processo é chamado de divisão celular.
A divisão celular (citocinese) faz parte do chamado ciclo celular, composto por
três fases principais: crescimento, desenvolvimento e divisão da célula.
Na mitose, processo no qual uma célula se divide em duas células idênticas
com o mesmo número de cromossomos, há cinco subfases: prófase, prome-
táfase, metáfase, anáfase e telófase. No processo da meiose, são produzidos
os gametas haploides e o princípio da divisão obedece ao mesmo padrão. A
parte do ciclo celular entre os eventos mitóticos é conhecida como intérfase,
que corresponde ao período de crescimento, desenvolvimento ou dormência
da célula.
No que diz respeito ao ciclo celular, há quatro fases, conhecidas como M, G1,
S e G2. A fase G1 corresponde ao momento no qual a célula cresce e se desen-
volve. A fase S é a fase de preparação para a mitose ou meiose, caracterizada
pela síntese e duplicação do material genético, necessária tanto para a mitose
como para a meiose. Na fase G2, que ocorre imediatamente após a fase S, a
célula cresce e se prepara para entrar na fase de divisão celular, que é a fase M.

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No final do processo, a mitose produz duas células idênticas diploides, enquan-
to na meiose ocorre a produção de quatro células haploides. Além disso, den-
tro da fase G1, a célula pode entrar na fase G0, em que a célula entra em um
período de “dormência” e não é estimulada a ativar funções replicativas.
O ciclo celular tem uma particularidade interessante: ele apresenta pontos
de controle que verificam a estabilidade do DNA e o microambiente, pois, para
a correta divisão celular, o DNA precisa estar íntegro e o microambiente precisa
ser favorável para produzir células saudáveis. Caso contrário, as recém-cria-
das células podem ser inviáveis ou se apresentar como uma ameaça para o
organismo, tornando-se malignas e dando origem a neoplasmas. Esses pontos
de checagem estão na transição da fase G2/M, transição metáfase/anáfase e
transição G2/S.

Os efeitos da radiação a nível celular


O DNA, por ser uma molécula com uma das funções mais importantes para
a célula, é particularmente sensível à radiação e sua quebra é a principal causa
dos efeitos biológicos da radiação. Esse mesmo princípio se repete nas demais
classes de biomoléculas, como lipídeos, proteínas e polímeros de açúcares, que
também podem ter estruturas modificadas pela radiação.
Todas as formas de radiação, sejam elas raios X e gama ou partículas car-
regadas, se estiverem em contato com material biológico, podem interagir de
maneira direta ou indireta com a matéria.
Na interação direta da radiação,
os átomos que constituem as biomo-
léculas são ionizados e/ou excitados,
ligações químicas são rompidas ou
modificadas e ocorrem alterações na
estrutura da molécula, o que leva a
mudanças em suas estruturas polimé-
ricas e funções dentro da célula ou no
microambiente celular. Esse efeito é
comum em incidência de nêutrons e
partículas alfa.

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A interação indireta da radiação se dá quando
a radiação interage com outros átomos ou molécu-
las na célula que não fazem parte de sua estru-
tura, como as moléculas de água. Essa interação
produz espécies reativas de oxigênio que se es-
palham rapidamente e interagem com biomolécu-
las, promovendo mudanças em ligações químicas e,
consequentemente, mudanças estruturais e funcionais. Espécies
reativas do oxigênio são átomos ou moléculas com os elétrons de-
semparelhados, essas moléculas são associadas com alta instabilidade e rea-
ções químicas deletérias. Considerando que quase 80% da célula é água, o efei-
to indireto da radiação é considerável, principalmente com os raios X e gama.
Veja o exemplo a seguir:
H2O → H2O+ + e -
A molécula de água perde um elétron e se torna um íon radical (H2O+). Essa
molécula tem um elétron desemparelhado e é instável, com uma meia-vida de
10 -10 s, que reage com outra molécula de água e se transforma no altamente
reativo radical hidróxido (HO*):
H2O+ + H2O → H3O+ + OH*
O radical hidróxido é extremamente reativo e reage com biomoléculas pró-
ximas, como o DNA, provocando alte-
ração em sua estrutura de dupla héli-
ce, quebra de ligações e rompimentos
de nucleotídeos, modificando toda a
cadeia de informação e funcionamen-
to normal do DNA e da célula. Estima-
-se, de acordo com Hall e Giaccia, no
livro Radiobiology for the radiologist,
publicado em 2012, que cerca de dois
terços das modificações que os raios
X provocam em células de mamíferos
ocorrem devido ao radical hidróxido.
As sequências de eventos provocados por um fóton incidente e os efeitos
biológicos podem ser resumidas no esquema demonstrado pelo Diagrama 1.

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DIAGRAMA 1. SEQUÊNCIAS DE EVENTOS PROVOCADOS POR UM FÓTON

Fótons de raios X incidentes

Elétrons rápidos (e-)

Íon radical

Espécies reativas do oxigênio

Mudanças químicas provocadas por quebras de ligações em biomoléculas

Efeitos biológicos

Os efeitos biológicos provocados pela radiação direta ou indireta, desde


o rompimento das ligações químicas de moléculas até os primeiros sintomas
clínicos, podem ser verificados em horas, dias, semanas, anos ou gerações,
dependendo da dose absorvida. Se o efeito for morte celular, os sin-
tomas podem parecer em horas ou dias. Se os efeitos forem
oncogênicos, os sintomas podem demorar até 40 anos
para aparecer. Por fim, se os efeitos forem em células
germinativas, podem aparecer na próxima geração como
problemas hereditários.

DICA
Quando os efeitos da radiação se manifestam no próprio indivíduo, são
chamados de efeitos somáticos. Quando se manifestam em sua descen-
dência, são chamados de efeitos genéticos.

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Os principais sintomas imediatos da radiação são:
• náuseas e vômitos, que ocorrem poucas horas após a exposição;
• sensação de fadiga em pacientes que recebem dose em regiões com grandes
volumes;
• sonolência, efeito verificado em horas após a irradiação do crânio;
• edema e eritema agudo, inflamação e rompimentos de vasos, verificado em
exposições locais.
As células desenvolveram uma série de mecanismos protetores contra agen-
tes genotóxicos como a radiação, dentre eles existem os mecanismos de reparo
do DNA, morte celular programada e a expressão de enzimas antioxidantes que
regulam os efeitos deletérios.
Além disso, os efeitos biológicos da radiação dependem da dose e do tempo
de exposição. Em doses elevadas que ultrapassam a dose limiar ou dose sub-
letal da capacidade de recuperação tecidual, os efeitos são agudos e rápidos,
independentes do tecido. Por outro lado, doses abaixo do limiar de recuperação
tecidual provocam efeitos diferentes, dependendo das propriedades das células
e dos tecidos. Dessa forma, a sensibilidade do tecido à radiação depende de al-
guns fatores:
1. A sensibilidade celular inerente de determinado grupo de células;
2. A cinética do tecido (sua capacidade de regeneração);
3. O tipo de organização celular no tecido.
Em tecidos com uma regeneração rápida, as alterações biológicas se tornam
evidentes de forma mais rápida, podendo ocorrer nos tecidos como epitélio in-
testinal e medula óssea, cujos efeitos são vistos em horas. Os efeitos na pele e
mucosas, por sua vez, são observados dentro de alguns dias. Por outro lado, nos
tecidos que se dividem pouco, os efeitos biológicos podem demorar a aparecer.
Outro fator importante é o nível de diferenciação do tecido. Em células-tronco
(células precursoras de tecidos), os efeitos provocados pelas radiações são maio-
res devido à alta capacidade de divisão. As células diferenciadas, que se dividem
raramente, não apresentam sérios efeitos biológicos da radiação.
Essa descoberta foi primeiramente demonstrada por Bergonie e Tribondeau
em 1906, momento no qual eles verificaram que a maior “radiossensibilidade” está
relacionada à menor diferenciação, alta capacidade proliferativa e alta velocidade
de proliferação. Essa relação é conhecida como Lei de Bergonie e Tribondeau.

IMAGINOLOGIA 32

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QUADRO 2. RELAÇÃO ENTRE RADIOSSENSIBILIDADE, CÉLULAS E TECIDOS

Radiossensibilidade Tipo de células

Linfócitos

Espermatogônia
Alta
Eritroblastos

Células da cripta intestinal

Células endoteliais

Osteoblastos
Intermediária
Espermatídeos

Fibroblastos

Células musculares
Baixa
Células neurais

Radiossensibilidade Tecidos ou órgãos Efeitos

Tecido linfático Atrofia

Alta (200 – 1000 rad) Medula óssea Hipoplasia

Gônadas Atrofia

Pele Eritema

Trato gastrointestinal Úlcera

Córnea Catarata
Intermediária (1000 –
Osso em crescimento Interrupção do crescimento
5000 rad)
Rins Nefrosclerose

Fígado Ascite

Tireoide Atrofia

Músculos Fibrose

Baixa (> 5000 rad) Cérebro Necrose

Coluna vertebral Transecção

Fonte: BUSHONG, 2010, pp. 1305-1306. (Adaptado).

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No Quadro 3, é possível verificar algumas profissões em que esses efeitos são
mais comuns. Os profissionais dessas profissões têm um limite de dose contro-
lada e exposição. No entanto, nem sempre foi assim e hoje podemos verificar os
efeitos biológicos nesses exemplos. Partes desses dados podem ser verificados
também em pessoas expostas a acidentes nucleares.

QUADRO 3. PRINCIPAIS PROFISSÕES E ACIDENTES RELACIONADOS A EFEITOS


BIOLÓGICOS DAS RADIAÇÕES

População Efeito

Radiologistas americanos Leucemia, redução do tempo de vida

Sobreviventes da bomba atômica Doenças malignas

Vítimas de acidente nuclear (p. ex., Chernobyl) Letalidade aguda

Moradores das Ilhas Marshall Câncer da tireoide

Trabalhadores em minas de urânio Câncer de pulmão

Pintores de relógio (com tinta de rádio) Câncer ósseo

Pacientes tratados com I131 Câncer da tireoide

Crianças submetidas a tratamento de


Câncer da tireoide
hipertrofia do timo

Crianças da Bielorrússia (pela circulação de


Câncer da tireoide
ventos vindos de Chernobyl)

Pacientes com espondilite anquilosante Leucemia

Pacientes submetidos a estudos de contraste


Câncer de fígado
de tório

Irradiação do útero Doença maligna na infância

Condenados voluntários Infertilidade

Trabalhadores de cíclotron Catarata

Fonte: BUSHONG, 2010, p. 1018.

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Sintetizando
Nesta unidade, foram apresentados os conceitos básicos sobre as radiações,
que podem ser classificadas como ionizantes, quando interagem com átomo
transferindo energia suficiente para ejetá-lo, e não ionizantes, quando possuem
energia suficiente para apenas excitar os elétrons. O processo de produção das
radiações ionizantes ocorre por meio do ajuste nas camadas eletrônicas, que
podem ser divididas quanto à sua natureza corpuscular, energia que se propaga
por meio de partícula, e as eletromagnéticas, energia propagada em forma de
ondas eletromagnéticas.
A radiação ionizante mais utilizada na área da imaginologia são os raios X,
que são considerados ondas eletromagnéticas oriundos da interação com os
elétrons orbitais dos átomos do alvo. Nessa interação, podem ser gerados dois
tipos de raios X: os característicos e os de freamento (bremsstrahlung).
A interação das radiações eletromagnéticas com a matéria vai depender da
energia da radiação incidente, densidade e espessura no material que está sen-
do irradiado. Os principais processos de interação são os efeitos Compton, fo-
toelétrico, espalhamento coerente, produção de pares e aniquilação.
A radiobiologia tem o objetivo de estudar os principais efeitos da interação
das radiações no organismo humano, sendo possível desenvolver métodos para
utilização das radiações ionizantes de uma forma mais segura e eficaz. Os efei-
tos das radiações estão relacionados com a interação delas com as células, que
é a unidade viva formadora dos organismos. Nesse sentido, o DNA possui as
funções mais importantes para a célula, mas é muito sensível à radiação e sua
quebra é a principal causa dos efeitos biológicos da radiação.

IMAGINOLOGIA 35

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Referências bibliográficas
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ponível em: <https://www.rbfm.org.br/rbfm/article/view/35>. Acesso em: 11 set.
2020.

IMAGINOLOGIA 36

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UNIDADE

2 OS EFEITOS DAS
RADIAÇÕES
NO DNA E NOS
CROMOSSOMOS

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Objetivos da unidade

Entender o conceito de transferência linear de energia;

Conhecer os principais efeitos das radiações no DNA e nos cromossomos;

Compreender a classificação dos efeitos biológicos em relação à dose, tempo


de manifestação e nível orgânico atingido;

Entender de que forma ocorreu o acidente nuclear de Goiânia.

Tópicos de estudo
Transferência Linear de Energia
(LET)

Os efeitos das radiações no DNA


e nos cromossomos

Os tipos de exposição à radiação


ionizante

Classificação dos efeitos


biológicos
Acidente nuclear de Goiânia

IMAGINOLOGIA 38

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Transferência Linear de Energia (LET)
Quando a radiação interage com
um material biológico, as ionizações e
excitações de átomos não ocorrem de
maneira aleatória e descoordenada,
mas tendem a ser localizadas ao longo
de trajetórias de partículas carregadas
individualmente em um padrão que
depende do tipo de radiação envolvida.
Por exemplo, fótons de raio-X dão
origem a elétrons rápidos, partículas
carregadas com massa muito baixa;
neutros, por sua vez, originam prótons
lentos, partículas carregadas com uma massa 2.000 vezes maior do que elé-
trons. Partículas alfa possuem a carga de dois elétrons, sendo quatro vezes
mais pesadas do que um próton. A taxa carga/massa da partícula alfa difere
do elétron por um fator na ordem de 8.000. É por este motivo que a ordem de
ionização da matéria produzida por essas radiações varia enormemente.
O experimento da Figura 1 é uma eletromicrografia de células de fígado
humano. Os pontos brancos foram gerados por uma simulação computacional
de eventos de ionização. A trajetória track inferior representa elétrons de baixa
energia (5 KeV) e baixa ionização, comuns em exames diagnósticos de raios-X.
A segunda trajetória representa elétrons produzidos com 1 MeV por raios-X de
fonte de Cobalto-60, com uma capacidade de ionização um pouco maior do
que os raios-X.
Para determinada partícula, a densidade de ionização diminui à
medida que a energia aumenta. A terceira trajetória representa
um próton (500 KeV) produzido pela fissão de um nêu-
tron em um reator nuclear. Uma trajetória de ioniza-
ção mais densa é produzida. A última trajetória de
ionização é de um próton com 10 MeV, que pode
ser produzido por nêutrons de alta energia, utiliza-
dos em radioterapia.

IMAGINOLOGIA 39

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Figura 1. Variação de densidade de ionização com diferentes tipos de radiação. Fonte: HALL; GIACCIA, 2012, p. 105.

O conceito de transferência linear de energia (Linear Energy Transfer - LET)


é a energia transferida por unidade de distância em uma trajetória. A unidade
especial do LET é o KeV/µm em uma determinada densidade de material. Os
LETs das formas de radiação são calculados por dois métodos principais, a mé-
dia de trajetória (track average) e média de energia (energy average). O Quadro 1
analisa os LETs dos diferentes tipos de radiação.

QUADRO 1. TIPOS DE RADIAÇÃO E SEUS DIFERENTES LETS

Valores típicos de Transferência Linear de Energia (LET)


Radiação Transferência Linear de Energia (LET) em (KeV/µm)
Raios γ de Cobalto-60 0,2
Raios X 250 Kev 2,0
Prótons 10 MeV 4,7
Prótons 150 MeV 0,5
Partículas α 2,5 MeV 166
Íons de Fe 2 GeV 1000
Fonte: HALL; GIACCIA, 2012, p. 106. (Adaptado).

Em termos gerais, o valor do LET é inversamente proporcional à distância percor-


rida e diretamente proporcional à energia, o que indica que quanto maior a trans-
ferência linear de energia, maior a energia em KeV e menor a distância percorrida.

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Os efeitos das radiações no DNA e nos cromossomos
As diversas evidências na área da radiobiologia sugerem que o DNA é o
principal alvo dos efeitos biológicos das radiações ionizantes, que incluem
morte celular, carcinogêneses e mutações. Todos esses efeitos começam com
a quebra da molécula do DNA.
O DNA é uma molécula conhecida como ácido desoxirribonucleico, que é
longa, com estrutura de dupla hélice. Cada hélice é unida a outra por pontes de
hidrogênio. A “espinha dorsal” das hélices é constituída por variações de quatro
nucleotídeos (também chamadas de bases), que são moléculas constituídas de um
açúcar, uma base nitrogenada e um fosfato. Esses nucleotídeos pertencem a dois
grupos, os nucleotídeos de pirimidina com anéis simples; timina e citosina, e os
nucleotídeos de purina, com anéis duplos, adenina e guanina (Figura 2).
Cada fita simples de nucleotídeo é constituída dessas estruturas conectadas
por ligações fosfodiéster com o carbono 3 da próxima base. Cada base de piri-
midina se liga complementarmente com uma base de purina, especificamente;
adenina pareia com timina, com duas pontes de hidrogênio, e guanina pareia
com citosina, com três pontes de hidrogênio (Figuras 3 e 4).

NH2 O

C C
N N
N C N C
C H C H
C C C C
N N H2N N N
H
H H

ADENINA GUANINA

H CH3 H

H C H C O H C O
C C NH2 C C C C

N N N N N N
H C H H C H H C H

O O O

CITOSINA TIMINA URACIL

Figura 2. Bases nitrogenadas de nucleotídeos. Fonte: BORDONI, 2011.

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Timina
Adenina
5º terminal
3º terminal

Esqueleto
de fosfato-
desoxirribose

3º terminal Citosina
Guanina 5º terminal
Figura 3. Pareamento de bases do DNA. Fonte: Wikimedia Commons. Acesso em: 05/10/2020.

Hidrogênio
Oxigênio
Sulco menor

Nitrogênio
Carbono
Fósforo

T A
Sulco maior

C G

Pirimidina Purina

Figura 4. Dupla hélice helicoidal de DNA com representação de átomos. Fonte: Wikimedia Commons. Acesso em: 01/10/2020.

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As fitas duplas de DNA estão distribuídas no núcleo por proteínas chama-
das histonas, que organizam a condensação da molécula. À medida que o
DNA se torna cada vez mais condensado, são formadas estruturas chamadas
nucleossomos e cromátides, e, por fim, originam os cromossomos em seu úl-
timo estágio de condensação. Eles são formados por uma estrutura central
chamada centrômero e uma região terminal chamada telômero, que confere
estabilidade à estrutura. Em células em divisão, o DNA aparece na forma de
cromossomos pareados, esse é o melhor momento para visualizar o perfil em
estudos de citogenética.
Podem ocorrer diversos tipos de lesões no DNA provocadas por radiação,
a grande maioria podendo ser reparada pelos mecanismos das células. A dose
de radiação que caracteriza a média de um evento letal por célula em que 37%
desta ainda se mantém viável é chamada de D0. Para células de mamíferos, o D0
de um raio-X está entre 1 e 2 Gy. O número de lesões no DNA imediatamente
detectado após uma determinada dose é:
• Danos na base > 1000.
• Quebra de fita simples (Single-strand breaks SSBs), reação de baixo LET, 1000.
• Quebra de fita dupla (Double-strand breaks DSBs), reação de alto LET, 40.
Os danos em nucleotídeos do DNA podem ocorrer de três diferentes maneiras:
• Formação de sítios apúricos ou apirimídicos: ocorre quando a radiação
interage com a ribose ou qualquer outra parte do nucleotídeo.
• Efeitos sobre purinas: ataque de espécies reativas do oxigênio à adenina e
guaninas com rompimento das ligações C-8 e C-9 do anel imidazólico.
• Efeito sobre pirimidinas: espécie reativa de oxigênio que pode atuar em
timina e citosina, provocando a produção de peróxidos, devido às duplas liga-
ções nos átomos C-5 e C-6. A degradação desses peróxidos leva à formação de
pirimidina-glicol e fragmentos de ureia que interagem com o DNA.
Se a célula for irradiada com uma modesta dose de raios-X,
muitas quebras na fita simples podem acontecer. Na
estrutura natural do DNA, os SSBs não produzem
efeitos biológicos importantes, como a morte celu-
lar, porque esse efeito é facilmente corrigido pelo
mecanismo de reparo, que utiliza a fita comple-
mentar como molde. Se o reparo é incorreto, ocorre

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a formação de mutações, repetidas em todas as células-filhas a partir de então.
Se ambas as fitas da dupla hélice são rompidas individualmente, o DNA é que-
brado e as partes são separadas, mas, novamente, o reparo ocorre rapidamen-
te, pois as duas partes são corrigidas separadamente pela fita complementar.
Em contraste, quando a quebra do DNA acontece nas duas fitas da dupla hé-
lice em posições opostas e complementares, pode levar a DSBs, resultando na
clivagem da cromatina em duas ou mais partes. DSBs são as lesões mais impor-
tantes provocadas pela radiação na estrutura dos cromossomos. A produção de
dois DSBs em uma mesma célula pode provocar morte celular, carcinogênese e
mutações. As DSBs podem ocorrer em regiões diretamente opostas ou diferentes.

C T T C T
G A A A G
G A A G A
C T T T C

C T T C T
G A A A G
G A G A
C T T T C

C T T C T
G A A G
G A G A
C T T T C

T
T A
C A A T
A G G
G A
G T T A
C
C

Figura 5. A. Representação bidimensional da hélice de DNA. B. Quebra de DNA em fita única (SSBs). C. Quebra de dupla fita em
diferentes posições. D. Quebra em dupla fita em posições diretamente opostas (DSBs). Fonte: HALL; GIACCIA, 2012, p. 13.

Além de promover rupturas no DNA, a radiação ionizante pode provocar


os chamados cross linking, reações anormais. Essas reações de ligações podem
acontecer entre partes de uma mesma molécula (DNA-DNA), entre duas fitas
complementares de DNA ou moléculas diferentes (DNA-proteína). Esse tipo de
reação altera a disposição dos nucleotídeos no DNA, provocando modificações
genéticas e efeitos biológicos.

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Tanto os efeitos diretos como os indiretos da radiação podem produzir al-
terações na estrutura do DNA. No caso dos efeitos indiretos, o pesquisador
Jorhn Ward descreveu a teoria de “sítios de danos locais múltiplos” ou lesões
aglomeradas para explicar os efeitos das radiações raio-X e fótons γ no DNA.
Ele descreve a dimensão da distância das espécies reativas de oxigênio (radi-
cais hidróxidos) e sua influência sobre o DNA.
Os chamados Apur (cerca de três pares de íons com 100 eV), por exemplo, têm um
diâmetro de 4 nm e influência em cerca de um conjunto de 20 pb (pares de bases),
com diâmetro de 2 nm. Enquanto isso, os chamados Blob (cerca de 12 pares de íons
com 100-500 eV) têm 7 nm e influência sobre mais pares de bases, o que provoca
alterações maiores na estrutura de DNA, geralmente DSBs (HALL, GIACCIA, 2012).

2 nm

OH’ eaq
OH’ eaq OH’ e
OH’ aq
e
aq OH’ eaq OH’ eaq
SPUR BLOB
4 nm de diâmetro e
aq OH’ OH’ eaq OH’ e 7 nm de diâmetro
aq
3 pares de íons OH’ eaq OH’ e 12 pares de íons
OH’
e
aq aq
OH’ eaq OH’ eaq
OH’ eaq

Figura 6. Ilustração de teoria de “sítios de danos locais múltiplos” provocado por efeitos indiretos da radiação. Fonte: HALL;
GIACCIA, 2012, p. 14. (Adaptado).

A morte celular provocada por radiação não se relaciona frequentemente


com danos SSBs, mas apresenta melhor relação com DSBs. Células expostas
a peróxido de hidrogênio, por exemplo, sofre muito com SSBs, mas apresenta
uma alta resistência a concentrações desses radicais. Por outro lado, as células
com defeito de reparo contra DSBs são extremamente sensíveis à radiação.
Os DSBs provocam a formação de cromossomos aberrantes, que não con-
seguem formar homólogos e parear na divisão celular. A Figura 7 é uma fluores-
cência in situ de uma célula em metáfase, que recebeu uma radiação de 4 Gy, na
qual os cromossomos aberrantes são evidenciados por setas. Por estes motivos,
os DSBs são os piores efeitos biológicos provocados por radiações ionizantes.

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Figura 7. Fluorescência de célula que recebeu 4 Gy de radiação. Os cromossomos aberrantes estão indicados com setas.
Fonte: HALL; GIACCIA, 2012, p. 31.

Os tipos de exposição à radiação ionizante


As radiações ionizantes que ocorrem por efeito direto e indireto também
são capazes de alterar proteínas, modificando estruturas de aminoácidos. As
proteínas podem ser desativadas por modificações estruturais por meio do
rompimento de ligações químicas importantes. Entre os aminoácidos mais sen-
síveis à radiação ionizante temos o triptofano, cistina, cisteína, fenilalamina e
tirosina. A radiação também é capaz de converter um aminoácido em outro.
Etapas de produção dos efeitos biológicos da radiação
Os efeitos somáticos provocados pelas radiações ionizantes podem ser
classificados em:
• Efeitos imediatos: ocorrem em um período de dois meses após a irradiação.
• Efeitos tardios: ocorrem após dois meses depois da irradiação.
Além dos efeitos imediatos e tardios, existe a síndrome aguda da radiação.
Essa síndrome ocorre quando a dose absorvida pelo organismo é muito alta,
na ordem de centenas e milhares de rads. As principais informações sobre esta
síndrome vêm de estudos experimentais com animais de laboratório, protocolos
de radioterapia, acidentes nucleares como Chernobyl, estudos com os sobrevi-
ventes de Hiroshima e Nagasaki, a exposição de Marshallese em 1954 etc.

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Nesta síndrome, os pacientes apresentam os seguintes sintomas:
• Manifestações gastrointestinais: náuseas, vômito, hemorragia digestiva,
anorexia, diarreia etc.;
• Febre, apatia, astênicos, sudorese e cefaleia.
Nos casos em que a dose absorvi-
da está na ordem de dezenas de mi-
lhares de rads, centenas de Gy, a ra-
diação pode levar à morte em poucas
horas, devido às estruturas das molé-
culas afetadas, que são vitais para a
homeostasia do organismo. A síndro-
me aguda da radiação é um quadro de
sintomatologia grave, e sua gravidade
depende da dose absorvida, tecidos e
órgãos afetados, presença de radios-
sensibilizadores no organismo e a bio-
logia do organismo.
Pacientes que sofreram algum acidente nuclear e foram expostos a uma
dose na ordem de 10.000 rads (100 Gy) apresentam desorientação temporal e
espacial, convulsões e falta de coordenação motora. A morte pode ocorrer em
horas ou até dois dias após a radiação.
A causa da morte em doses altas de radiação pode acontecer pelos seguin-
tes motivos:
• Síndrome cerebrovascular: caracterizada por parada cardiovascular e
neurológica (doses de 100 Gy, morte em horas até dois dias);
• Síndrome gastrointestinal: atividade de 5 – 12Gy, morte entre nove e dez
dias, sintomas como diarreia e destruição de mucosas gastrointestinais;
• Síndrome hematopoiética: baixa dose, 2,5 - 5Gy, a morte
ocorre em algumas semanas ou meses e seus efeitos
biológicos ocorrem principalmente em tecidos hema-
topoiéticos, como medula óssea.
A diferença das formas de morte provocadas
pela radiação acontece em função do tempo de ex-
posição e da dose absorvida.

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Síndrome aguda da radiação
Exposição da radiação

Síndrome Período Manifestação Recuperação


prodromal de latência de doenças ou morte

Tempo

Figura 8. Etapas da síndrome água da radiação em função do tempo versus exposição à radiação. Fonte: HALL; GIACCIA,
2012, p. 115. (Adaptado).

A letalidade precoce da radiação,


também conhecida como síndro-
me da radiação prodromal, ocorre
quando o paciente morre semanas
depois da exposição a uma certa
dose de radiação. Logo após a expo-
sição, os primeiros sintomas apare-
cem e permanecem por um tempo
determinado. Esses sintomas po-
dem se repetir por alguns dias.
Os sintomas da síndrome pro-
dromal da radiação são divididos em dois principais grupos, gas-
trointestinal e neuromuscular:
• Os sintomas gastrointestinais são: anorexia,
diarreia, náusea, vômito, cólicas intestinais, sali-
vação, desidratação e perda de peso.
• Os sintomas neuromusculares incluem: fa-
diga, apatia, sudorese, febre, dor de cabeça e
hipotensão.

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A fase prodromal é seguida pelo estágio latente após o final dos efeitos
gastrointestinais e neuromusculares. Nesse estágio, estes sintomas desapa-
recem e o paciente se sente bem por um período, que pode se estender de
horas até semanas. A duração do estágio de latência é inversamente propor-
cional à dose de exposição. A ausência da fase de latência, passando direta-
mente para a doença, indica uma fase alta de exposição.
O diagnóstico da síndrome aguda da radiação se dá por meio de altera-
ções hematopoiéticas na fase prodromal, com a redução de leucócitos, que já
ficam alterados com uma exposição de 0,5 Gy. Essas células são extremamen-
te sensíveis, sendo os melhores parâmetros para verificar exposição a doses
baixas de radiação. Os ensaios de dosimetria e verificação de cromossomos
aberrantes de linfócitos (citogenética) também são frequentemente realiza-
dos. A menor dose de exposição que pode ser medida por ensaios citogenéti-
cos é de 0,2 Gy de raios-X ou γ.

QUADRO 2. SINTOMAS RECORRENTES NA FASE DE SÍNDROME PRODROMAL

Sintomas da síndrome prodromal


Neuromuscular Gastrointestinal
Fadiga Anorexia
______ Náusea
______ Vômito
Sintomas adicionais verificados após uma dose supraletal
Febre Diarreia imediata
Hipotensão ______

Fonte: HALL; GIACCIA, 2012, p. 115. (Adaptado).

O estudo de irradiação total do


corpo tem sido realizado em dife-
rentes espécies. A dose letal (LD 50 )
tem sido verificada desde camun-
dongos até humanos. Em humanos,
os dados vêm de experimentos mi-
litares de 1950 e 1960, com pacien-
tes vítimas da detonação da bomba
nuclear em Hiroshima e Nagasaki e

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do acidente de Chernobyl. A Tabela 1 analisa os valores de LD 50 de várias
espécies, desde o camundongo até humanos, e sua relação entre massa
corporal e números de células necessárias para transplantes de medula
óssea para tratar os efeitos hematopoiéticos da radiação.

ASSISTA
O acidente nuclear de Chernobyl, ocorrido entre 25 e
26 de abril de 1986 ao norte da atual Ucrânia, é con-
siderado o pior desastre nuclear da história, tendo
atingido o patamar mais elevado na Escala Internacio-
nal de Acidentes Nucleares. Para entender mais sobre
os efeitos da radiação no corpo humano e como esse
acidente mudou os rumos do estudo da energia nucle-
ar no mundo, assista à série Chernobyl (2019).

TABELA 1. RELAÇÃO ENTRE LD50 DE DIFERENTES ESPÉCIES, MASSA CORPORAL E


CONCENTRAÇÃO RELATIVA DE CÉLULAS TRONCO HEMATOPOIÉTICAS

Concentração relativa
Massa corporal LD50 Dose de resgate
Espécies de células tronco
(Kg) (Gy) por Kg x 10-8
hematopoiéticas
Camundongo 0,025 7 2 10
Rato 0,2 6,75 3 6,7
Macaco Rhesus 2,8 5,25 7,5 7,3
Cachorro 12 3,7 17,5 1,1
Humano 70 4 20 1
Fonte: HALL; GIACCIA, 2012, p. 121. (Adaptado).

A Agência Nacional de Energia Atômica (International Atomic Energy


Agency – IAEA) e a Organização Mundial de Saúde (World Health Organi-
zation – WHO) produziram um documento intitulado Diagnóstico e Tra-
tamento de Leões da Radiação (Diagnosis and Treatment of Ra-
diation Injuries). Nos Quadros 3 e 4, resumimos as principais
características desse documento.
O Quadro 3 se refere à síndrome prodromal, en-
quanto o Quadro 5 se refere à fase crítica poste-
rior. Em geral, os sintomas aparecem desde uma
exposição de 1 Gy, com pouco efeito biológico, e,
a partir de 8 Gy, com 100% de letalidade.

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QUADRO 3. FASE LATENTE NA SÍNDROME AGUDA DA RADIAÇÃO

FASE LATENTE (SÍNDROME PRODROMAL) DA SÍNDROME AGUDA DA RADIAÇÃO

Grau de síndrome aguda da radiação e dose aproximada de exposição aguda te todo o corpo (Gy)

Altamente
Leve Moderado Severo Letal
severo
(1 – 2 Gy) (2 – 4 Gy) (4 – 6 Gy) (> 8 Gy)
(6 – Gy)

Linfócitos (G/L)
0,8 – 1,5 0,5 – 0,8 0,3 – 0,5 0,1 – 0,3 0,0 – 0,1
3 – 6 dias

Granulócitos
> 2,0 1,5 – 2,0 1,0 – 1,5 ≤ 0,5 ≤ 0,1
(G/L)

Aparece nos
Aparece nos
Diarreia Não Não Raramente dias
dias 6– 9
4–5

Moderado, Moderado ou
Completo e Completo e
começando no completo a
Depilação Não antecipado a antecipado a
dia 15 ou mais partir dos dias
partir do dia 11 partir do dia 10
tardiamente 11 – 21

Período de
21 – 35 18 – 28 8 – 18 7 ou menos Não
latência (dias)

Sem Hospitalização Tratamento


Resposta Hospitalização Hospitalização
necessidade de urgentemente apenas
médica recomentada necessária
hospitalização necessária sintomático
Fonte: HALL; GIACCIA, 2012, p. 122. (Adaptado).

QUADRO 4. FASE CRÍTICA DA SÍNDROME AGUDA DA RADIAÇÃO

FASE CRÍTICA DA SINDROME AGUDA DA RADIAÇÃO

Grau de síndrome aguda da radiação e dose aproximada de exposição em todo o corpo (Gy)

Altamente
Moderado Letal
Leve (1 – 2 Gy) Severo (4 – 6 Gy) severo
(2 – 4 Gy) (> 8Gy)
(6 – 8 Gy)

Início dos
> 30 dias 18 – 28 dias 8 – 18 dias < 7 dias < 3 dias
sintomas

Linfócitos (G/L) 0,8 – 1,5 0,5 – 0,8 0,3 – 0,5 0,1 – 0,3 0,0 – 0,1

60 – 100 30 – 60 25 – 35 15 – 25 < 20
Plaquetas (G/L)
10% – 25% 25% – 40% 40% – 80% 60% – 80% 80% – 100%a

Febre alta,
Febre, infecção, Febre alta,
diarreia, vômito, Febre alta,
Manifestações sangramento, infecção,
Fadiga, fraqueza tontura e diarreia,
clínicas fraqueza, sangramento,
desorientação, inconsciência
depilação depilação
hipertensão

0 – 50 iniciando 20 – 70 50 – 100
100 em 1 – 2
Letalidade (%) 0 em 6 – 8 iniciando em iniciando em
semanas
semanas 4 – 8 semanas 1 – 2 semanas

Tratamento Tratamento
profiláctico profiláctico Tratamento
Resposta especial nos especial nos especial no Apenas
Profiláctica
médica dias 14 – 20; dias 7 – 10; dia 1; isolação sintomático
isolação nos isolação desde desde o início
dias 10 – 20 o início
(a) Em casos muito severos, com uma dose de 50 Gy, a morte ocorre por citopenia. Fonte: HALL; GIACCIA, 2012, p. 123. (Adaptado).

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CURIOSIDADE
O caso mais recente de pessoa que morreu devido à síndrome aguda da
radiação foi o de Alexander Litvinenco, um antigo oficial do serviço de
segurança da Rússia que recebeu asilo político na Inglaterra. Ele foi as-
sassinado por envenenamento com polônio-210. Este radionuclídeo emite
radiação α que, apesar de não conseguir penetrar a pele humana, quando
ingerida, produz efeitos fatais. Alexander foi hospitalizado no dia primeiro
e veio a óbito em 23 de novembro, apenas três semanas depois.
A dose ingerida por ele foi estimada em 2 GBq, que corresponde a 10 mcg
de polônio, uma quantidade muito acima da dose letal. O polônio encon-
trado no organismo de Alexander só poderia ser produzido em um reator
nuclear, e o homicídio foi atribuído ao governo russo. Os sintomas apre-
sentados por ele foram os típicos de síndrome hematopoiética: queda de
cabelo, eritema e morte após três semanas causada pela falta de circula-
ção de células sanguíneas.

Classificação dos efeitos biológicos


As radiações podem ser classificadas quanto à natureza, em efeitos esto-
cásticos e não estocásticos (também conhecido como determinístico). Os
efeitos estocásticos ocorrem ao longo do tempo (efeito tardio), sendo que os
sintomas levam certo tempo para aparecer, enquanto os efeitos não estocás-
ticos são evidentes e seus sintomas aparecem rapidamente (efeito imediato),
uma característica da síndrome aguda da radiação. Nos efeitos estocásticos,
nem todo indivíduo irradiado apresenta os sintomas de efeito biológico, que
aparecem na forma de mutações e tumores; a probabilidade aumenta à me-
dida que a dose absorvida é maior. Por outro lado, nos efeitos não estocás-
ticos, a probabilidade de aparecer efeitos biológicos no indivíduo irradiado é
sempre 100%.
Os efeitos tardios da radiação também podem aparecer na forma de carci-
nogênese, envelhecimento precoce, catarata, depressão do sistema imunoló-
gico e malformações congênitas e hereditárias.
Pessoas que foram expostas a significativas doses de radiação ao longo da
vida apresentam um índice maior de aparecimento de tumores, principalmen-
te no pulmão, glândulas mamárias e tireoide. Além dessas, a leucemia também
é muito frequente, como verificado na população de pessoas que sobrevive-
ram aos ataques atômicos em Hiroshima e Nagasaki.

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Da mesma maneira, mineradores de urânio desenvolveram câncer de pul-
mão e pintores que usavam tintas feitas de rádio, especializadas em marcar
mostradores de relógio, desenvolveram osteossarcomas por ingerirem a subs-
tância, já que molhavam a ponta do pincel na língua. O câncer de pulmão nos
mineradores de urânio ocorreu devido à inalação de radônio, um gás originado
do decaimento do rádio-226, que emite radiação α. O radônio-222 é um gás
nobre que, quando inalado, libera metais pesados que ficam nas paredes dos
alvéolos. A radiação α no epitélio pulmonar é altamente prejudicial, causando
metaplasias, atipias celulares e, em casos de maiores doses de exposição, o
aparecimento de carcinoma brônquico.
De certa maneira, todos os seres vivos estão expostos à radiação que provém
de fontes naturais. Ela é conhecida como “radiação de fundo” (background).
Dentre elas, estão os raios cósmicos, que vêm do espaço sideral e conseguem
atravessar a atmosfera terrestre. Diversos radionuclídeos naturais encontrados
fora e dentro do organismo humano contribuem para a radiação de fundo, além
dos equipamentos eletrônicos que podem emitir radiação, como computadores,
celulares e televisões. Fontes de radiação utilizadas em procedimentos médicos
e industriais também são consideradas radiações de fundo, como os procedi-
mentos da medicina nuclear, que abrangem radioterapia e radiodiagnósticos,
procedimentos odontológicos, raio-X usado em construções etc.

CURIOSIDADE
Algumas populações vivem em regiões de alta radiação de fundo, e muitos
desses lugares se encontram no Brasil. O Morro do Ferro (MG) e Guara-
pari (ES) são exemplos que podem ser citados. No caso de Minas Gerais,
existe uma jazida de tório; já no Espírito Santo, há areias monazíticas que
apresentam significativa atividade radioativa.

Acidente nuclear de Goiânia


O acidente nuclear que aconteceu em Goiânia (GO), em 1987, foi o pior de-
sastre nuclear da história brasileira e um dos piores em todo o mundo. Uma
blindagem com 17 g de césio com atividade de 1,375 Ci, massa do CsCl de
137

19,26 g e massa total (CsCl mais aglutinante) foi deixada no interior de uma má-
quina de radiotarerapia de um hospital abandonado (antigo Instituto Goiano

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de Radioterapia). Essa blindagem foi encontrada por sucateiros, aberta e vendi-
da para um ferro-velho. O proprietário do local, quando notou a fluorescência
do material, achou que fosse algo valioso e levou consigo para sua casa, mos-
trou a amigos e a familiares.
O 137
Césio é um emissor β - com uma energia de 0,51 MeV – 1,17 MeV e γ
com energia de 0,662 Me, tendo meia vida de 30 anos. Seu decaimento produz
o 137
Ba. Quatro pessoas morreram, uma teve o braço amputado e outra teve
queimaduras severas nas pernas. No incidente, mais de 200 foram contamina-
das, além de casas e do meio ambiente ao redor do ferro-velho e da residência
do comerciante.
Neste acidente, os primeiros sinais manifestados foram náuseas, tonturas,
vômitos e diarreia. Esses sintomas são comuns em doenças infec-
ciosas, por esse motivo, o diagnóstico de contaminação radioa-
tiva não foi dado preliminarmente. Um dos médicos,
contudo, suspeitou de se tratar de efeitos biológicos
da radiação pelo relato de que os sintomas teriam
ocorrido pouco tempo após o contato com o pó
luminescente. Uma cintilometria, por fim, mos-
trou que se tratava de um material radioativo.

Figura 9. O material radiativo do ferro-velho foi transportado para o posto de saúde em uma simples sacola. Fonte: PAPPON, 2018.

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Prontamente, a Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN) foi informa-
da e enviou técnicos especializados para lidar com a situação e proteger/infor-
mar a população sobre o que tinha acontecido. Muitos médicos e especialis-
tas estrangeiros também foram mobilizados para ajudar a tratar os doentes
e descontaminar a região. Representantes da Rússia, Alemanha, Inglaterra e
especialistas da Organização Mundial de Saúde se deslocaram até Goiânia para
poder ajudar no caso.
O relado do Dr. Alexandre R. Oliveira, da Divisão de Higiene das Radiações
Ionizantes, expressa com propriedade o que aconteceu:
Na área médica, a prioridade era o atendimento às
vítimas. Definimos as áreas de risco e o ritual que,
a partir daquele momento, deveríamos seguir. To-
mamos todas as precauções; usamos calças, bota,
avental, máscara, gorro, luvas duplas e sobre sapa-
tos. Acompanhados de dois físicos de radioprote-
ção, entramos finalmente na enfermaria.... Foi uma
situação que nos chocou muito. Os onze pacientes
estavam no fundo, todos sentados juntos. Alguns
apresentando lesões graves e sentindo dor (GAR-
CIA, 2015, p. 335).
Antes de prosseguirmos, precisamos conceituar dois termos: contamina-
ção e irradiação. Esses dois parâmetros são analisados em pacientes vítimas
de acidentes nucleares. Um corpo pode ser irradiado com os efeitos da radia-
ção, mas não se torna radioativo, apenas em casos de irradiação extremamen-
te alta. Por outro lado, quando o material radioativo entra em contato com o
corpo, seja por inalação, ingestão, feridas ou lesões, o paciente se torna conta-
minado, podendo irradiar outras pessoas.
Os pacientes contaminados no acidente de Goiânia foram submetidos a
uma rigorosa lavagem com água morna e sabão neutro/detergente suave. Eles
também foram tratados com vinagre (um ácido fraco), resina trocadora de íons
e com pomada de lanolina misturada ao dióxido de titânio – todos atuam como
agentes abrasivos. O permanganato de potássio foi utilizado para provocar su-
dorese; atividades físicas ergométricas e sauna também foram utilizadas para
provocar eliminação de CsCl pelo suor.

IMAGINOLOGIA 55

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O aparelho digestivo foi desconta-
minado com quelantes como azul da
Prússia (ferro + ferrocianeto férrico)
e resina trocadora de íons. As duas
substâncias atuam como quelante de
CsCl e facilitam sua eliminação pelas
fezes. Porém, quatro contaminados
desenvolveram a síndrome aguda da
radiação com depressão leucocitária e
morreram de septicemia.
Em relação ao meio ambiente, ele
foi descontaminado utilizando objetos
de limpeza e reagentes, como azul da Prússia, ácidos, lixas e escovas
para superfícies contaminadas.
Como a cápsula foi aberta no quintal de uma casa
próxima a uma mangueira, o solo e as plantas apre-
sentavam uma contaminação elevada. Além disso,
o CsCl tinha penetrado no solo e sido absorvido
pelas plantas locais. As raízes, folhas, caules, frutos
e flores estavam contaminados. As folhas já espalha-
vam contaminação quando eram levadas pelo vento.
Os principais vetores de espalhamento foram:
• Pessoas e animais;
• Partículas de poeira do solo;
• Penetração do material radioativo no solo;
• Absorção pelas raízes das plantas;
• Transporte de folhas para outros terrenos;
• Movimento horizontal do solo.
O solo das áreas contaminadas foi removido e tudo o que estava contami-
nado e não poderia ser descontaminado foi entulhado em 1.219 caixas, 2.822
tambores de aço de cimento e quatro contêineres, gerando um lixo de 3.000
m2. Todos esses resíduos foram colocados em um ambiente isolado e deverão
ser vigiados initerruptamente por 180 anos. Todas as pessoas próximas à resi-
dência foram monitoradas e receberam orientação médica.

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Figura 10. Galões de armazenamento de material radioativo usado no acidente de Goiânia. Fonte: PAPPON, 2018.

Em 1996, três pessoas relacionadas à antiga clínica onde havia sido abando-
nada a cápsula de radioterapia foram condenadas a cumprir três anos e meio
por homicídio culposo. Contudo, a pena foi reduzida a serviços comunitários.
O governo federal passou a pagar pensões vitalícias a 250 vítimas diretas do
acidente e a 2000 pessoas consideradas vítimas indiretas, como bombeiros,
policiais, profissionais da saúde e técnicos que trabalharam no caso.

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Sintetizando
Nesta unidade, abordamos os efeitos biológicos da radiação a nível celular,
mais especificamente a nível do DNA, sendo que os efeitos diretos e indiretos
provocam as alterações de maior relevância. Estudamos os três principais tipos
de interação da radiação com o DNA: a excisão de bases, a quebra de fita sim-
ples (SSB) e a quebra de fita dupla (DSB).
Vimos os efeitos somáticos das radiações: o efeito prodromal, o período
latente e manifestações de doenças, até o coma e a morte. Relacionamos o
tempo de exposição, a dose de exposição e os sintomas verificados. Falamos
sobre efeitos estocásticos e determinísticos, efeito imediato e tardio, além dos
somáticos e hereditários. Dedicamos parte do nosso estudo aos efeitos agu-
dos da radiação, relacionando dose e tempo de exposição com progresso e
tempo dos sintomas até a recuperação ou morte do paciente.
Elencamos exemplos de sintomas apresentados por pacientes reais que so-
frem exposição por radiação e as principais formas de medidas profilácticas e
sintomáticas que são recomendadas pelos órgãos reguladores. Diferenciamos
irradiação de contaminação. Demos exemplos de acidentes nucleares históri-
cos que vitimaram milhares de pessoas, como a detonação da bomba atômica
de Hiroshima e Nagasaki, trabalhadores de minas de urânio, pintores de reló-
gio etc., mostrando quais foram os efeitos dessa exposição.
Por fim, demos um enfoque ao pior desastre nuclear brasileiro, o acidente
nuclear de Goiânia, mostrando quais foram as consequências dessa tragédia e
como o problema foi amenizado.

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Referências bibliográficas
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so em: 06 out. 2020.
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BUSHONG, S. C. Ciência radiológica para tecnólogos. 9. ed. Rio de Janeiro: El-
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bbc.com/portuguese/geral-45783343>. Acesso em: 06 out. 2020.
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YOSHIMURA, M. E. Física das Radiações: interação da radiação com a matéria. Re-
vista Brasileira de Física Médica, São Paulo, 2009, v. 3, n. 1, pp. 57-67. Disponível
em: <https://www.rbfm.org.br/rbfm/article/view/35>. Acesso em: 11 set. 2020.

IMAGINOLOGIA 59

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UNIDADE

3 FUNDAMENTOS
BÁSICOS DE
RADIOATIVIDADE

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Objetivos da unidade
Entender o conceito e os fundamentos básicos da radioatividade;

Conhecer os princípios básicos de proteção radiológica;

Compreender os cuidados em radioproteção.

Tópicos de estudo
Fundamentos básicos da Os princípios básicos em
radioatividade proteção radiológica
A natureza das emissões O princípio de justificação
radioativas O princípio da otimização
O princípio da aplicação do
Decaimento radioativo limite de dose individual
Decaimento alfa
Decaimento beta Cuidados em proteção radiológica
Tempo
Grandezas e unidades Distância
Grandezas físicas Blindagem
Grandezas operacionais
Grandezas de proteção

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Fundamentos básicos da radioatividade
A radioatividade é descrita como um fenômeno que ocorre em núcleos atômi-
cos energeticamente instáveis, os quais geralmente possuem elevado número de
nêutrons em comparação com seu número de prótons. Para alcançar a estabilida-
de, os núcleos emitem energia e partículas, transformando um átomo em outro.
Assim como ocorre com os raios X, a radioatividade foi descoberta de forma
acidental. Entretanto, essa não seria bem uma expressão apropriada, pois as
primeiras evidências desse fenômeno foram observadas em 1967, por Niepce
de Saint-Victor, ainda que ele não fosse capaz de interpretá-las. Antoine-Henti
Becquerel, em 1896, descobriu o fenômeno da radioatividade por meio de um
experimento utilizando sais de uranio, os quais foram guardados junto a uma
chapa fotográfica, revestida de papel preto.
Após alguns dias, revelou-se a chapa fotográfica, na qual foi possível observar
manchas escuras em vários pontos. Assim, pôde-se concluir que o sal de urânio
possuía a capacidade de emitir raios invisíveis, ou seja, era radioativo (Figura 1).

Figura 1. Radiografia com os contornos dos dois cristais de urânio. Fonte: OKUNO; YOSHIMURA, 2010.

Marie Curie e Pierre Curie, dois anos mais tarde, descobriram que a ra-
dioatividade não era propriedade exclusiva do urânio, visto que o tório tam-
bém emitia raios. Seus estudos também descobriram outro elemento, ainda
mais radioativo, chamado de polônio. Em 1902, o casal Curie conseguiu re-
mover do minério de urânio um sal, chamado de rádio, que é dois milhões de
vezes mais radioativo que o tório.

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CURIOSIDADE
Após a descoberta do rádio, por Marie Curie, foram recebidas várias cartas
de muitos artistas de teatro que queriam utilizar o elemento radioativo para
iluminar (brilhar) as roupas utilizadas nos espetáculos. O rádio tem a capaci-
dade de ionizar o ar, produzindo, assim, um brilho azulado ao seu redor.

Hoje, a radioatividade está sendo utilizada para diversas finalidades, po-


dendo ser aplicada:
• Na medicina: em que é utilizado um isótopo radioativo para diagnosticar
certos tipos de tumores, especialmente por meio do procedimento de cinti-
lografia, que permite o mapeamento funcional do órgão a ser examinado, e
da realização da radioterapia, que utiliza a radiação emitida pelo isótopo para
destruir as células doentes (Figura 2);
• Na agricultura: a técnica é utilizada para realizar a irradiação de alimentos,
com o objetivo de esterilizá-los. Mantando os microrganismos que contribuem
para o processo de deterioração do alimento, permite-se que ele seja conserva-
do por mais tempo sem refrigeração. Por exemplo, as batatas que foram irradia-
das podem ser armazenadas por mais de um ano sem que brotem ou murchem;
• Na indústria: a radioatividade é utilizada principalmente para esterili-
zar luvas cirúrgicas, gazes, seringas e materiais farmacêuticos descartáveis.
Portanto, seria impossível realizar toda a esterilização utilizando apenas os
métodos convencionais, com altas temperaturas, o que comprometeria a
integridade dos materiais ou limitaria o emprego da técnica somente aos
materiais mais resistentes (Figura 3).

Figura 2. Paciente submetido ao tratamento de radioterapia. Fonte: LIMA; LOPRETO; LIMA JUNIOR, 2014.

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Figura 3. Produtos que são esterilizados por radiação. Fonte: Shutterstock. Acesso em: 07/10/2020.

A natureza das emissões radioativas


Em 1899, Ruterford realizou um experimento para observar a natureza das
emissões radiativas. Ele percebeu que essas emissões possuem uma trajetória
retilínea, ou seja, que elas se propagam em linha reta, passando por meio de
um campo elétrico, no qual se pode notar a existência de três tipos de emis-
sões distintas, provenientes do isótopo radiativo.
Observou-se que uma delas era atraída pelo polo negativo do campo elé-
trico, radiação beta (β); outra pelo polo positivo, a radiação alfa (α); e havia
uma que não sofria nenhum tipo de desvio em sua trajetória, pois não sofria
nenhum tipo de influência do campo elétrico, a radiação gama (γ).
A radiação alfa, ou partículas alfa (α), são carregadas positivamente, sen-
do formadas por dois nêutrons e dois prótons (similarmente ao núcleo do
átomo de hélio), que possuem uma velocidade muito elevada e são capazes
de percorrer algumas dezenas de milímetros nos sólios ou alguns centíme-
tros no ar, ou seja, eles têm baixo poder de penetração quando comparados
aos demais tipos de radiação.
Embora possua essas características em relação à penetração, quando o
material emissor da radiação alfa estiver localizado dentro do corpo humano,
causará vários danos, na medida em que essa partícula possui bastante ener-
gia. O Quadro 1 apresenta, de forma resumida, as principais características da
radiação alfa.

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QUADRO 1. PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS DA RADIAÇÃO ALFA

Tipo de radiação Características Velocidade Poder de penetração

Possui dois prótons e Possui uma Pode ser atenuada


dois nêutrons (similar velocidade média de por uma camada de
Radiação alfa
ao núcleo do átomo aproximadamente 7 cm de ar ou por
de hélio). 20.000 km/s. uma folha de papel.
Fonte: TAUHATA et al., 2013. (Adaptado).

A radiação beta, ou partículas beta (β), são elétrons emitidos pelo núcleo de
um átomo que está instável, que possui a mesma massa do elétron e que pode ter
cargas negativas (β−) ou cargas positivas (β+) (prótons). O Quadro 2 apresenta, de
forma resumida, as principais característica da radiação beta.

QUADRO 2. PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS DA RADIAÇÃO BETA

Tipo de radiação Características Velocidade Poder de penetração

Possui uma Pode ser mais


É semelhante a um
velocidade que varia penetrante de 50 a
Radiação beta elétron e possui uma
de 100.000 km/s a 100 vezes mais do
massa desprezível.
290.000 km/s. que a radiação alfa.
Fonte: TAUHATA et al., 2013. (Adaptado).

A radiação gama é formada por meio da emissão de ondas magnéticas através


de núcleos instáveis ou por aniquilação dos pósitrons. As principais características
físicas apresentadas pela radiação gama são o comprimento de onda extrema-
mente pequeno e a alta frequência, a qual apresenta uma energia muito superior
às demais radiações eletromagnéticas. O Quadro 3 apresenta, de forma resumida,
as principais características da radiação gama.

QUADRO 3. PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS DA RADIAÇÃO GAMA

Tipo de Poder de
Características Velocidade
radiação penetração

É muito pene-
Radiações ele-
trante, pois
tromagnéticas Possui uma
possui compri-
Radiação gama que não pos- velocidade
mento de onda
suem massa e igual à da luz.
pequeno e alta
carga elétrica.
frequência.
Fonte: TAUHATA et al., 2013. (Adaptado).

IMAGINOLOGIA 65

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Decaimento radioativo
Inicialmente, acreditava-se que os elementos radioativos, tais como urânio
e rádio, eram fontes inesgotáveis de energia, mas Rutherford, Owens e Soddy
perceberam, por meio de seus estudos, um fenômeno em que alguns elementos
radioativos com o passar do tempo perdiam a capacidade de emitir radiação.
Assim, Rutherford denominou esse fenômeno de decaimento nuclear ou
desintegração radioativa, que é definido como aumento da estabilidade nu-
clear em virtude da emissão da radiação.
Vários fatores podem afetar de maneira direta a estabilidade do núcleo, mas
a principal causa está relacionada ao número de nêutrons, pois quando o núcleo
possui nêutrons em excesso ou em pouca quantidade, isso provocará no átomo a
instabilidade, transformando-o em um radioisótopo (isótopo radioativo) que, em
seguida, terá a diminuição gradual da massa e atividade (desintegração nuclear).
Os radioisótopos podem ser encontrados na natureza, por exemplo, no urâ-
nio e 14C que se originou na época da formação da Terra, ou ainda nos artificiais
produzidos, principalmente, em cíclotrons e reatores nucleares. Eles podem atin-
gir a estabilidade por meio do decaimento, emitindo radiação alfa ou beta.
Cada radioisótopo, seja artificial ou natural, decai em uma velocidade que
lhe é característica, possuindo um tempo de meia-vida (t1/2) específico, definido
como tempo necessário para que a atividade de um radioisótopo seja reduzida
pela metade da inicial. A Tabela 1 apresenta o tempo de meia-vida de alguns
radionuclídeos utilizados em diversas áreas:

TABELA 1. CARACTERÍSTICAS DE ALGUNS RADIONUCLÍDEOS

Elemento Meia-vida (t1/2)

Arsênico 17,5 d

Bismuto 5d

Carbono–14 5730 a

Césio 2,3 a

Cobalto 5,2 a

Gálio 14,3 h

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Hidrogênio 12,2 a

Iodo-125 59,9 d

Iodo-131 8,04 d

Ouro 2,69 d

Potássio 12,5 h

Rádio 1620 a

Tecnécio-99 6h
Fonte: GARCIA, 2015. (Adaptado).

CURIOSIDADE
Rutherford constatou que o tempo de meia-vida que os radionuclídeos
apresentam é inversamente proporcional à energia da radiação alfa emitida.

Decaimento alfa
O decaimento radioativo por emissão das partículas alfa ocorre, principalmente,
com os elementos que possuem um número atômico (z) maior que 83, ou seja, que
são pesados. Existem aproximadamente 400 radionuclídeos emissores espontâ-
neos de partículas alfa, podendo ser artificiais e naturais. Devido a sua grande capa-
cidade de ionização da matéria, há um grande interesse médico no estudo de suas
propriedades. A equação que demostra o decaimento alfa pode ser escrita como:
A A-2 4
ZX → Z - 2Y + 2 He (1)

Em que X é considerado o elemento pai e Y o elemento filho, conservando a


energia total e o número atômico. A Figura 4 apresenta um exemplo típico do
decaimento radioativo alfa do rádio-226:

Ra Rn

226 222 4
Ra Rn + α
88 86 2
Figura 4. O decaimento do elemento 226Ra para 222Rn. Fonte: BUSHONG, 2010. (Adaptado).

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Quando ocorre a emissão das partículas alfa do núcleo do elemento
226
Ra, ocorre também a diminuição do número atômico de 2. Em seguida,
dois elétrons da camada mais externa são liberados, transferindo-os a algu-
mas moléculas ou átomos do meio.
A radiação alfa emitida possui uma energia cinética que, durante sua traje-
tória, ionizará os átomos que estiverem no caminho, até parar.
A transferência da energia cinética pode ocorrer por meio da interação com
o campo elétrico ou pela colisão mecânica. Assim, as partículas alfa podem
provocar a ionização ou excitação do meio por onde passam.

Decaimento beta
O decaimento radioativo das partículas beta pode ocorrer por meio da
emissão de um elétron (β−) ou pósitron (β+). Esse decaimento ocorre com uma
maior frequência quando comparado aos demais decaimentos, porque prati-
camente todos os radionuclídeos decaem emitindo radiação beta.
A principal característica do decaimento β− é a emissão de uma radiação
que é constituída por partículas similares aos elétrons (elétron positivo). Embo-
ra o processo resulte na emissão de elétrons com uma variedade de energia,
esse é um processo nuclear e não está relacionado aos elétrons orbitais. A
emissão β− é representada por:

n → p + e ̅ + ve (2)

Em que, no núcleo, ocorre o desaparecimento do nêutron que dá lugar a um


próton, sendo que e ̅ e o ve são ejetados.
Devido à maioria dos traçadores serem emissores β−, com cerca de 660
núcleos emissores desse tipo de radiação, o campo da Medicina tem grande
interesse na realização de pesquisas relacionadas a esse tipo de emissão. A
equação que demostra o decaimento β− pode ser escrita como:

A A
ZX → Z + 1Y + β− + ve (3)

A Figura 5 apresenta um exemplo típico do decaimento radioativo β− do


131
I para 131Xe:

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β-

I Xe

131 131 0
I Xe + β-
53 54 -1
(n ρ + β)
-

Figura 5. O decaimento do elemento 131I para 131Xe. Fonte: BUSHONG, 2010. (Adaptado).

Os radioisótopos que decaem por meio da emissão β+ não são encontrados


na natureza, sendo produzidos de forma artificial por meio de reatores nu-
cleares ou cíclotrons. Há cerca 800 núcleos emissores desse tipo de radiação.
O decaimento β+ ocorre quando há conversão do núcleo de prótons em um
nêutron, ou seja, a conversão dessas partículas vai ampliar a relação próton-
-nêutron. A equação que demostra o decaimento β+ pode ser escrita como:

A A
ZX → Z-1Y + β+ + ve (4)

Para ser considerado um decaimento β+, a massa do átomo pai necessita ser supe-
rior à soma do átomo filho em ao menos duas vezes a massa de repouso do elétron.

EXPLICANDO
O traçador mais comumente utilizado na medicina nuclear é o
Flúor-18, que é um dos principais emissores de pósitrons utiliza-
dos para marcar uma molécula similar à da glicose, utilizada
para se obter imagens internas do corpo como a tomografia
por emissão de pósitrons (PET). A imagem é
obtida por meio da detecção dos dois fótons
produzidos simultaneamente.

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Grandezas e unidades
Após 30 anos da descoberta dos raios X, criou-se uma comissão que trata
das questões relativas às radiações ionizantes, tais como protocolos de seguran-
ça para trabalhadores e protocolos para realizar a medição das radiações. Isso
ocorreu devido a alguns pesquisadores perceberem que a radiação ionizante
poderia causar danos à saúde. Com desenvolvimento científico e tecnológico re-
lacionado à radiação ionizante, surgiu a necessidade de realizar a conceituação
de um conjunto de grandezas físicas e de unidades, especificas para esse fim.
Uma das principais preocupações, no tocante às radiações ionizantes, é quan-
tificar os efeitos e a quantidade de radiação recebida, mas devido à dificuldade
para realizar as medições (já que as radiações são inodoras, insipidas, invisíveis e
indolores) foram desenvolvidas grandezas para a caracterização dos campos de
radiação, da radioatividade e para interação da radiação com a matéria.
As grandezas para as radiações ionizantes descritas nas publicações da
ICRP, International Commission on Radiological Protection, e da ICRU, International
Commission on Radiation Units and Measurements, estão divididas em três categorias:
as grandezas físicas, operacionais e de proteção. Sendo que as duas últimas grande-
zas possuem aplicação restrita à proteção radiológica, pois são destinadas a quanti-
ficar e descrever um risco. O Diagrama 1 apresenta os três tipos de grandezas:

DIAGRAMA 1. CORRELAÇÃO ENTRE AS GRANDEZAS

Grandezas físicas

Calculado usando Q(L) e Fluência, Φ;


Kerma, K; Calculado usando
fantoma simples (esfera ou
Dose absorvida, D. WR, WT e fantomas
paralelepípedo) validado
antropomórficos
por medidas e cálculos

Grandezas de proteção
Grandezas operacionais
Dose absorvida no órgão, DT;
Equivalente de dose ambiental, H*(10); Comparados por
Dose equivalente no órgão, HT;
Equivalente de dose direcional, H’(10,α); medidas e cálculos
Dose efetiva, E.
Equivalente de dose pessoal, Hp(10). (utilizando WR,
WT e fantomas
antropomórficos)

Grandezas monitoradas;
Respostas do instrumento
Fonte: OKUNO; YOSHIMURA, 2010. (Adaptado).

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Grandezas físicas
As grandezas físicas são utilizadas principalmente na dosimetria e metrolo-
gia das radiações, com o objetivo de caracterizar o campo de radiação em qual-
quer ponto. As principais grandezas são exposição, kerma e dose absorvida.
A exposição, simbolizada pela letra X, é utilizada para medir somente os raios
X e gama, em que a quantidade de carga elétrica de mesmo sinal é produzida no
ar, por unidade de ar. A definição da exposição (X) é dada pela expressão:

dQ
X= dm
(5)

Em que dQ é o valor absoluto das cargas elétricas de todos os íons de um de-


terminado sinal por unidade de massa (dm). A unidade que expressa a exposição
(X) no Sistema Internacional (S.I.) é o C/kg, e 1R equivale a 2,58 ∙ 10 -4 C/kg5.
A dose absorvida (D) é uma das grandezas mais importantes para o estu-
do da interação das radiações ionizantes com os tecidos vivos, radiobiologia,
pois é utilizada para expressar a quantidade de energia cedida pela radiação
ionizante à matéria, por unidade de massa de matéria irradiada em um ponto
específico. A definição de dose absorvida (D) é dada pela expressão:
dE
D= dm
(6)

Em que dE é a energia total absorvida pela matéria em uma unidade de


massa (dm). A unidade que expressa a dose absorvida (D) no Sistema Interna-
cional (S.I.) é o gray (Gy), que equivale a 1J · kg-1.
A grandeza kerma (kinectic energy released per unit of mass) é a medição da
transferência inicial de energia à massa pelas partículas carregadas, geralmen-
te elétrons de ionização, que é dada pela expressão:
dEtr
k= dm
(7)

Em que dEtr é a soma de todas a energias cinéticas iniciais de todas as par-


tículas carregadas por partículas, incidentes em uma massa (dm). A principal
diferença entre as grandezas kerma e dose absorvida está relacionada à trans-
ferência de energia, pois o kerma mede a transferência inicial de energia à mas-
sa, enquanto a dose absorvida se relaciona à energia absorvida. A unidade que
expressa o kerma (k) no Sistema Internacional (S.I) é o gray (Gy).

IMAGINOLOGIA 71

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EXPLICANDO
Os tecidos e órgãos dos indivíduos mais jovens são mais radiossensíveis
quando comparados com os mais velhos. Assim, um feto é mais radiossensível
que uma criança, e uma criança é mais radiossensível que um indivíduo adulto.

Grandezas operacionais
Esse tipo de grandeza, criada pela ICRU e ICRP, tem por objetivo principal
fornecer uma estimativa das grandezas utilizadas na radioproteção nas situa-
ções de trabalho, medindo a exposição à radiação externa diretamente no
indivíduo. As duas principais grandezas introduzidas são equivalentes à dose
ambiente [H*(d)] e equivalentes à dose pessoal [Hp(d)].
A grandeza equivalente de dose pessoal [Hp(d)] é utilizada para realização da mo-
nitoração individual externa, ou seja, a radiação que incide diretamente em um indiví-
duo de fora para dentro, que é obtida por meio do produto da dose absorvida em um
ponto do corpo humano a determinada profundidade, e levando em consideração o
fator de qualidade (Q) da radiação nesse ponto. A unidade que expressa a grandeza
equivalente de dose pessoal [Hp(d)] no Sistema Internacional (S.I.) é o sievert (Sv).
A grandeza equivalente de dose ambiente [H*(d)] é definida como a dose que é
produzida em um determinado ponto situado a uma profundidade (d) no interior
da esfera de referência ICRU (esfera que reproduz as características do corpo ou
parte do corpo humano). Para as radiações fortemente penetrantes, utiliza-se uma
profundidade de 10 cm; e para radiações fracamente penetrantes, adota-se a pro-
fundidade de 0,07 mm. A Figura 6 apresenta o procedimento de obtenção de H*(d):

P Raio

Figura 6. Geometria de irradiação da esfera ICRU, em uma determinada distância (d) em um ponto (P).
Fonte: TAUHATA et al., 2013. (Adaptado).

IMAGINOLOGIA 72

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Grandezas de proteção
As grandezas de proteção, que são dose equivalente no tecido ou no órgão
(HT) e dose efetiva (E), são utilizadas para avaliar os riscos biológicos e limitar a
dose após a exposição de parte do corpo ou do corpo todo à radiação. Por não se-
rem mensuráveis, essas grandezas não são práticas, pois sua utilização ocorre por
meio de cálculos, exigindo que todas as condições de irradiação sejam conhecidas.
A grandeza de dose equivalente no tecido ou órgão (HT) foi criada com o objetivo
de mensurar os efeitos das radiações, que podem variar de acordo com seu tipo,
energia e o meio em que a radiação é absorvida. Ela é definida como o valor médio
da dose absorvida (DT) em um tecido ou órgão, ponderadas pelo fator de peso da
radiação (WR), exposto a um determinado tipo de radiação (R), dada pela expressão:

HT = WR DT · R (8)

A unidade que expressa a grandeza dose equivalente no tecido ou órgão


(HT ) no Sistema Internacional (S.I.) é o sievert (Sv). A Tabela 2 apresenta os fato-
res de peso das radiações (WR):

TABELA 2. FATORES DE PESO DAS RADIAÇÕES (WR)

Tipo e faixa de energia Fator de peso da radiação WR

Fótons, todas as energias 1

Elétrons e múons, todas as energias 1

Nêutrons, energia < 10 keV 5

10 keV a 100 keV 10

> 100 keV a 2 MeV 20

> 2 MeV a 20 MeV 10

> 20 MeV 5

Prótons, exceto os de recuo, energia > 2 MeV 5

Partículas α, fragmentos de fissão, núcleos pesados 20

Fonte: OKUNO; YOSHIMURA, 2010. (Adaptado).

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A grandeza dose efetiva (E) tem como principal objetivo estabelecer os limi-
tes de exposição de todo corpo humano à radiação ionizante, a fim de reduzir
a probabilidade de ocorrências dos efeitos hereditários e cancerígenos. Ela é
definida como a soma das doses equivalentes dos órgãos ou tecidos (HT ) multi-
plicada pelo fator de ponderação (W T ), que é dado pela expressão:

E = ΣT WT HT (9)

A unidade que expressa a grandeza dose efetiva (E) no Sistema Internacio-


nal (S.I.) é o sievert (Sv). Segundo Okuno e Yoshimura (2010, p. 194), os fatores
de ponderação (W T ) são relacionados à sensibilidade de um determinado tecido
ou órgão, referindo-se à indução do câncer e a efeitos hereditários. A Tabela 3
apresenta os fatores de peso dos tecidos (W T ) estabelecidos pela CNEN NN 3.01:

TABELA 3. FATORES DE PESO DAS RADIAÇÕES (WR)

Tecido ou órgão WT

Gônadas 0,20

Medula óssea (vermelha) 0,12

Cólon 0,12

Estômago 0,12

Pulmão 0,12

Mama 0,05

Fígado 0,05

Esôfago 0,05

Tireoide 0,05

Pele 0,01

Superfície óssea 0,01

Fonte: OKUNO; YOSHIMURA, 2010. (Adaptado).

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Os princípios básicos em proteção radiológica
Com o passar do tempo, acumularam-se diversas informações sobre os di-
versos tipos de efeitos maléficos ocasionados pela interação da radiação ioni-
zante com a matéria. Consequentemente, surgiu a necessidade de estabelecer li-
mites de exposição a pessoas potencialmente expostas à radiação ionizante e de
aprimorar as técnicas utilizadas, empregando blindagem, filtros e colimadores.
A proteção radiológica tem como função principal avaliar, de forma quali-
tativa e quantitativa, os efeitos ocasionados da interação das radiações com a
matéria. Para tal, faz-se necessário definir as grandezas radiológicas, os instru-
mentos de medição, suas unidades e apresentar de forma detalhada os diver-
sos procedimentos que utilizam radiações ionizantes.
Criou-se, então, a Comissão Internacional de Proteção Radiológica (ICRP),
em 1982, que trabalha em parceria com o Comitê Científico sobre os Efeitos da
Radiação Atômica da Organização das Nações Unidas (UNSCEAR), a Comissão
Internacional de Unidades e Medidas das Radiações (ICRU) e a Agência Interna-
cional de Energia Atômica (IAEA).
Em 2007, realizou-se a publicação da recomendação 103, a mais recente da
ICRP, que publicou um conjunto de novas informações cientificas responsáveis
por proteger o ambiente e a saúde humana contra os efeitos deletérios causa-
dos pela exposição à radiação ionizante.
Cada país tem um órgão responsável por realizar adequações, de forma parcial ou
total, às recomendações internacionais contidas nas publicações da ICRU e ICRP, que
vão depender da capacidade de execução e do estágio de desenvolvimento do país.
No Brasil, a Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN) é responsável
por estabelecer princípios básicos de proteção contra os danos causados pela
radiação ionizante e os limites de dose. A norma mais recente elaborada pela
CNEN é a NN-3.01, de janeiro de 2005, que é a tradução, com algumas adap-
tações, da norma internacional ICRP 60. A Diretoria Colegiada da Agência Na-
cional de Vigilância Sanitária também elaborou a Resolução n. 330, responsá-
vel por regulamentar a utilização das radiações ionizantes em radioagnóstico
odontológico e médico (CNEN, 2011; BRASIL, 2019).
A proteção radiológica adota três princípios básicos, sendo eles de justifica-
ção, otimização e limite de dose individual.

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O princípio de justificação
Esse princípio estabelece que nenhuma prática utilizando radiação ionizan-
te deve proporcionar mais benefícios que malefícios ao indivíduo exposto. Tan-
to a norma da CNEN NN-3.01, quanto a Resolução n. 330, preconizam que as
exposições médicas devem apresentar benefícios reais ao indivíduo exposto
a esse tipo de radiação, levando em conta a eficácia e os riscos das técnicas
disponíveis (CNEN, 2011; BRASIL, 2019).

O princípio da otimização
O princípio da otimização determina que as práticas e as instalações devem
ser previamente planejadas, executadas e implantadas de modo que a magnitu-
de das doses individuais siga o princípio ALARA (as low as reasonably achievable),
ou seja, elas devem ser mantidas tão baixas quanto razoavelmente exequíveis.
O princípio ALARA determina que é necessário aumentar o nível de pro-
teção de tal modo que aperfeiçoamentos posteriores irão produzir reduções
menos significantes do que os esforços necessários. Segundo TAUHATA et al.
(2013, p. 238), os esforços que serão aplicados na proteção radiológica podem
ser considerados em termos de custos. Assim, a realização de uma otimização
em termos quantitativos pode ser realizada com base na análise custo-bene-
fício. A Figura 7 apresenta a descrição esquemática do método de análise de
custo-benefício aplicado para otimização da proteção radiológica:

Ativo
Aplicação
Custo (unidade arbitrária)

justificada
Benefício líquido total
V = (P + X + Y)

Dose coletiva
Custo de produção básica (P)

Custo de detrimento (Y)

Passivo
Custo total (P + X + Y)

Figura 7. Esquema do método de análise de custo-benefício aplicado na otimização. Fonte: TAUHATA et al., 2013. (Adaptado).

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O princípio da aplicação do limite de dose individual
O princípio da aplicação do limite de dose individual estabelece que a exposição
dos indivíduos originada por práticas autorizadas deva ser restringida, de modo
que a dose equivalente nos órgãos e a dose efetiva não excedam os limites estabe-
lecidos pela norma da CNEN NN-3.01 e pela ICRP 103, descritos no Quadro 4:

QUADRO 4. LIMITES DE DOSE EFETIVA DESCRITOS NA NORMA DA CNEN NN-3.01

Indivíduo Aprendiz
Visitante
ocupacio- Indivíduo ou estu-
ou acom-
Grandeza nalmente do público dante (16
panhante
exposto (mSv) a 18 anos)
(mSv)
(mSv) (mSv)

Dose efetiva ou de corpo inteiro 20a, b 1c 6 5d

Cristalino 150 15 50
Dose
equivalente
Extremidades (mãos
500e 50e 150e
e pés); pele

a
Em circunstâncias especiais, a CNEN poderá autorizar temporariamente uma mudança na limitação de
dose, desde que não exceda 50 mSv em qualquer ano, o período temporário de mudança não ultrapasse
5 anos consecutivos, e que a dose efetiva média nesse período temporário não exceda 20 mSv por ano.
b
Mulheres grávidas (IOE) não podem exceder a 1 mSv por ano.
c
Em circunstâncias especiais, a CNEN poderá autorizar um valor de dose efetiva de até 5 mSv em um
ano, desde que a dose efetiva média em um período de 5 anos consecutivos não exceda a 1 mSv por ano.
d
Por período (diagnóstico + tratamento).
e
Valor médio em uma área de 1 cm2 da parte mais irradiada.

Fonte: TAUHATA et al., 2013. (Adaptado).

No caso de mulheres grávidas ocupacionalmente expostas, a norma da


CNEN NN-3.01 recomenda que suas tarefas sejam controladas de forma que
o feto não receba uma dose superior a 1 mSv durante toda a gravidez, mas é
muito difícil constatar que essa recomendação esteja sendo seguida, devido
à impossibilidade de realizar a medição da dose efetiva no feto. Portanto a
Resolução n. 330 recomenda que as condições de trabalho de mulheres grá-
vidas devem ser revistas de forma que a mulher não seja exposta a nenhum
tipo de radiação ionizante (CNEN, 2011; BRASIL, 2019).

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CURIOSIDADE
Os limites de doses para a população e os indivíduos ocupacionalmente
expostos (IOEs) não podem incluir as doses recebidas em exposições mé-
dicas, ou seja, radiografias, tomografias e mamografias. As regiões mais
próximas do tubo de raios X, ou seja, do local de emissão da radiação, são
as que recebem as maiores intensidades de radiação espalhada. Portanto,
os trabalhadores devem ficar do lado oposto do tubo de raios X, a fim de
minimizar a dose recebida.

Cuidados em proteção radiológica


Segundo Bushong (2010, p. 1138), o termo proteção radiológica foi estabelecido
no início do Projeto Manhattan, projeto de pesquisa que desenvolveu as primeiras
bombas atômicas durante a Segunda Guerra Mundial, na qual os físicos e os médicos
residentes eram responsáveis por estabelecer procedimentos de segurança contra
as radiações ionizantes dos trabalhadores envolvidos na confecção das bombas.
Foi desenvolvido o princípio ALARA (tão baixo quanto razoavelmente exe-
quível), utilizado para promover a segurança contra os efeitos ocasionados pe-
las radiações ionizantes, ou seja, para minimizar as doses em trabalhadores e
pacientes, utilizando métodos razoáveis existentes.
O princípio ALARA é utilizado para nortear todas as etapas do uso das radia-
ções ionizantes na medicina, que vão do projeto da instalação dos equipamen-
tos até a implantação dos procedimentos de proteção. Quanto aos procedi-
mentos adotados para redução de exposição, eles baseiam-se no controle dos
três princípios fundamentais, a saber, tempo, distância e blindagem.

Tempo
A dose acumulada por um indivíduo ocupacionalmente exposto à radiação
ionizante está diretamente relacionada ao tempo de exposição. Assim, a restri-
ção do tempo de permanência nas áreas que contenham fontes de radiação ou
materiais radiativos deve ser reduzida, por meio do treinamento do operador,
fazendo com que o trabalho seja realizado seguindo os critérios de segurança
estabelecidos pela radioproteção.

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Distância
A distância é utilizada na radioproteção como um fator de redução da expo-
sição do trabalhador às radiações ionizantes. Quando comparado aos demais,
ele é o mais prático, pois possui baixo custo.
A dose de radiação ionizante emitida por uma fonte decresce à medida que
a distância entre o indivíduo aumenta, ou seja, ela segue a lei do inverso do
quadrado da distância entre o alvo e a fonte.

Blindagem
Outro método utilizado para se proteger dos efeitos das radiações ioni-
zantes é a blindagem, que requer um investimento financeiro maior, pois exi-
ge que se leve em consideração a localização dos geradores de radiação, a
direção dos feixes, o material utilizado para construção da blindagem, o tipo
de radiação e a taxa de dose.
A blindagem será posicionada entre a fonte de radiação ioni-
zante e o indivíduo ocupacionalmente exposto, com
o intuito de reduzir o nível de exposição à radiação.
O principal material empregado na fabricação
das blindagens utilizadas na medicina é o chumbo,
por possui alta densidade e alto número atômico.

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Sintetizando
Nessa unidade, foram apresentados os fundamentos básicos da radioativi-
dade, descrita como um fenômeno que ocorre em núcleos atômicos energeti-
camente instáveis que geralmente possuem elevado número de nêutrons em
proporção ao número de prótons.
Esse fenômeno foi descoberto de forma acidental por Antoine Henti
­Becquerel, que realizou um experimento utilizando sais de urânio que foram
guardados junto a uma chapa fotográfica, revestida de papel preto. Hoje, a ra-
dioatividade está sendo utilizada para diversas finalidades, podendo ser aplica-
da na medicina, agricultura e na indústria.
O decaimento radioativo, também chamado de desintegração radioativa,
pode ser definido como o aumento da estabilidade nuclear em decorrência da
emissão da radiação. Os radioisótopos podem decair emitindo radiação alfa, o
que ocorre principalmente com elementos de alto número atômico, e radiação
beta, que pode emitir um elétron (β-) ou pósitron (β+).
Também foram estudadas as grandezas e unidades, as quais foram criadas
com o objetivo de proteger o homem dos efeitos causados pela exposição à ra-
diação ionizante, possibilitando quantificar os efeitos e a quantidade de radiação
recebida. As grandezas descritas pela ICRP e ICRU estão divididas em três cate-
gorias: físicas, operacionais e de proteção.
A função principal da proteção radiológica é avaliar, de forma qualitativa e
quantitativa, os efeitos ocasionados da interação das radiações com a matéria,
utilizando três princípios básicos que são: a justificação, que estabelece que ne-
nhuma prática utilizando radiação ionizante deve proporcionar mais benefícios
que malefícios ao indivíduo exposto; a otimização, que determina que as práticas
e as instalações devem possuir dose tão baixas quanto razoavelmente exequí-
veis; e o limite de dose individual, que estabelece que a exposição dos indivíduos
originada por práticas autorizadas deve ser restringida, de modo que a dose
equivalente nos órgãos e a dose efetiva não excedam os limites estabelecidos.

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Referências bibliográficas
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IMAGINOLOGIA 81

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IMAGINOLOGIA 82

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UNIDADE

4 MEDICINA
NUCLEAR

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Objetivos da unidade
Entender os conceitos básicos da medicina nuclear e os radiofármacos;
Compreender como funciona gerador de tecnécio-99m;
Compreender como ocorre o processo de formação da imagem;
Conhecer as diferenças entre os equipamentos SPECT e PET;
Conhecer as indicações e protocolos utilizados em medicina nuclear.

Tópicos de estudo
Medicina nuclear Indicações e protocolos para
Radiofármacos procedimentos em medicina
Gerador de tecnécio nuclear
Cintilografia óssea
Equipamentos de medicina Perfusão miocárdica
nuclear Cintilografia pulmonar de
Técnica PET ventilação e de perfusão
Equipamento SPECT
Equipamento PET

IMAGINOLOGIA 84

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Medicina nuclear
A medicina nuclear é uma especialidade de tratamento e diagnóstico de
patologias funcionais que se utiliza de radiação ionizante na forma de radioi-
sótopos, denominados radiofármacos. Eles são administrados no paciente por
diferentes meios.
Essa modalidade de medicina, utilizada para fins diagnósticos, é muito im-
portante, pois possibilita a obtenção de informações precisas, de forma segura
e eficiente, por meio de procedimentos indolores e não invasivos. São procedi-
mentos de alta sensibilidade, que permitem descobrir anormalidades na fun-
ção do órgão estudado e alterações orgânicas e funcionais.
A medicina nuclear também é indispensável no acompanhamento da evo-
lução e progressão de certas patologias (oncológicas, cardíacas, renais e trau-
matológicas).
A aplicação dessa modalidade de medicina na terapia é bastante eficiente,
pois permite tratar, de maneira segura e eficiente, enfermidades benignas e
malignas que são curáveis com o uso de radiação ionizante.
A história da medicina nuclear se iniciou em 1913, com o físico-químico
húngaro George de Hevesy, que confirmou o princípio do traçador por meio de
experiências com nitrato de chumbo marcado com nucleotídeo Pb, mostrando
sua absorção e seu movimento em plantas.
Em 1927, Herrmann L. Blumgart e Soma Weiss realizaram pela primeira vez
a medição da velocidade sanguínea. Isso foi feito por meio da aplicação de uma
solução de radônio-C no braço de uma pessoa e a subsequente verificação da
chegada da solução no outro braço, por meio da câmara de Wilson.
Em 1932, foi desenvolvido e construído o primeiro cíclotron, por Ernest La-
wrence e Stanley Livingstone, que lhes permitiu produzirem radionuclídeos
artificiais, por meio do bombardeamento dos núcleos-alvos por uma
partícula acelerada com a velocidade próxima à da luz.
Contudo, a produção de quantidades suficiente de
radionuclídeos para atender a demanda proveniente
de serviços médicos só foi atendida quando se desen-
volveu o reator nuclear, que permitiu produzir uma
gama maior de radionuclídeos artificiais.

IMAGINOLOGIA 85

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CURIOSIDADE
Em 1952, o termo "medicina nuclear" substituiu a denominação "medicina
atômica", que fora o primeiro nome dado a essa especialidade.

Radiofármacos
Os radiofármacos são preparações farmacêuticas (medicamentos) sem
ação farmacológica. São utilizados em medicina nuclear para fins terapêuticos
ou de diagnóstico. O radiofármaco é composto por um elemento que não emi-
te radiação (hemácias, leucócitos ou anticorpos) ligados a um elemento radioa-
tivo (radionuclídeo):
• Fármaco (traçador ou carregador): elemento não radioativo capaz de
direcionar um determinado composto ao órgão estudado;
• Radionuclídeo: elemento que emite radiação ionizante e que, ao ser carre-
gado pelo fármaco, possui a capacidade de evidenciar o órgão de interesse.
A característica físico-química dos radiofármacos define a sua farmacociné-
tica, ou seja, a ligação do composto com o órgão-alvo e a sua metabolização. As
características físicas determinam a forma como o composto será aplicado no
paciente, tanto para terapia quanto para diagnóstico.
O radiofármaco possui um prazo de validade curto, pois há a possibili-
dade de ocorrer a sua decomposição por radiólise e por conta da presença
do componente radioativo em sua composição, que o torna menos estável
e com uma maior probabilidade de sofrer, com o passar do tempo, alte-
rações que comprometam a sua qualidade. Portanto, é muito importante
se atentar às exigências rigorosas do seu processo de produção devido ao
decaimento radioativo.
No Brasil, os radiofármacos são divididos em duas categorias: os que apre-
sentam meia-vida igual ou inferior a duas horas, e que podem ser produzidos
por empresas privadas que fiquem próximas ao local da realização do exame; e
os que possuem meia-vida superior a duas horas, cuja produção é feita, exclu-
sivamente, pela União. Esses últimos são fornecidos pelos institutos vinculados
à Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN), sendo que seu principal pro-
dutor é o Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (IPEN), que, atualmen-
te, produz cerca de 38 diferentes radiofármacos.

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Os radionuclídeos utilizados em medicina nuclear com a finalidade de tera-
pia e diagnóstico são produzidos de forma artificial em cíclotrons (acelerado-
res de partículas) e em reatores nucleares, no caso da produção de radionuclí-
deos com a meia-vida longa, e em geradores de radioisótopos, que permitem
a utilização de um radionuclídeo de meia-vida curta, a partir do decaimento de
um radionuclídeo com meia-vida longa.

CURIOSIDADE
Os procedimentos realizados em medicina nuclear não possuem restrições
relacionadas à idade, mas, quando realizados em crianças, deve-se ter
atenção especial à dose de radiação aplicada, que deve ser menor em
todos os casos.

O Quadro 1 apresenta os principais radionuclídeos utilizados em medicina


nuclear que são produzidos por reatores nucleares, cíclotrons (acelerador de
partículas) e geradores de radioisótopos.

QUADRO 1. OS PRINCIPAIS RADIONUCLÍDEOS UTILIZADOS EM MEDICINA


NUCLEAR, PRODUZIDOS EM REATORES NUCLEARES, CÍCLOTRONS
(ACELERADOR DE PARTÍCULAS) E GERADORES

Fonte Radionuclídeo Reação nuclear


235
U(n,f)131I
131
I 130
Te(n, )131Teb- → 131I
32
P 31
P(n, )32P/32S(n,p)32P
67
Cu 67
Zn(n,p)67Cu
177
Lu 176
Lu(n, )177Lu
Reator 89
Sr 88
Sr(n, )89Sr
186
Re 185
Re(n, )186Re
153
Sm 152
Sm(n, )153Sm
99
Mo 235
U(n,f)99Mo /
98
Mo(n, )99Mo

123
I 121Sb(α,2n)
121Sb( ,2n)123I
67
Ga 68
Zn(p,2n)67Ga
111
In 111
Cd(p,n)111ln
201
Tl 203
Tl(p,3n)201Pb → 201Tl
11
C 14
N(p, 11C
N(p,α)
Acelerador/cíclotron 13
N 16
O(p, 13N / 13C(p,n)13N
O(p,α)
15
O 14
N(d,n)15O / 15N(p,n)15O
18
F 18
O(p,n)18F
124
I 124
Te(d,2n)124l
211
At 207
Bi(α,2n)
Bi( ,2n)211At
64
Cu 64
Ni(p,n)64Cu

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99
Mo�-→ 99mTc
68
GeCE → 68Ga
99m
Tc 235
U(n,f)90Sr�-→ 90Y
68
Ga 187
W(n, )188W�-→ 188Re
90
Y 228
Th → ... → 224Ra →
Gerador 188
Re 212
Pb�-→ 212Bi
212
Bi 229
Th → ... →225
213
Bi Acα → 221Frα →
217
Atα →213Bi

Fonte: OLIVEIRA et al., 2006, p. 153. (Adaptado).

No instante em que um radiofármaco é aplicado em um paciente, ocorrem


os processos de distribuição, metabolização e a excreção (que pode ser realiza-
da por meios distintos, como renal ou biliar).
O desaparecimento total de um radiofármaco no corpo de um paciente
ocorre devido ao decaimento físico e à eliminação biológica da substância uti-
lizada no estudo.
É possível observar que existe uma extensa variedade de radiofármacos,
disponíveis no mercado, destinados à realização do diagnóstico de uma dada
patologia. Os radiofármacos utilizados nessa área devem ser emissores de ra-
diação gama e pósitrons, com as seguintes características:
• Emitir radiação ionizante em um intervalo de energia entre
100 a 300 keV;
• Devem ser capazes de permitir a realização de imagens;
• Devem decair por transição isomérica ou captura eletrônica;
• Não devem emitir radiações corpusculares (elétrons, prótons, nêutrons e
alfa) a fim de diminuir a dose de radiação no paciente;
• A meia-vida física deve ser conveniente para realizar o estudo fisiológico
do órgão de interesse, para que seja possível preparar o radiofármaco, ad-
ministrá-lo no paciente e realizar a imagem.
No Quadro 2 estão resumidas as características físicas dos radionuclídeos emis-
sores de radiação gama e pósitrons utilizados em procedimentos diagnósticos.

QUADRO 2. AS PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS FÍSICAS DOS RADIONUCLÍDEOS


EMISSORES DE RADIAÇÃO GAMA E PÓSITRON, UTILIZADOS EM DIAGNÓSTICO

Radionuclídeo (emissor de radiação gama) Tempo de meia-vida T½

I
123
13 h

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111
In 67 h
201
TI 73 h
99m
Tc 6h

Ga
67
78 h

Radionuclídeo (emissor de pósitron) Tempo de meia-vida T½


15
O 2,07 min
13
N 10 min
11
C 20,4 min

Ga
68
67,7 min
18
F 110 min
Fonte: OLIVEIRA et al., 2006, p. 155. (Adaptado).

• Radiofármaco de perfusão (1° geração): são transportados pelo sangue


de forma que atinjam o órgão a ser estudado;
• Radiofármaco específico (2° geração): são direcionados por meio de mo-
léculas biologicamente ativas, tais como anticorpos e peptídeos. Esse tipo
de radiofármaco pode ser classificado de acordo com o alvo específico.
Os radiofármacos aplicados em procedimentos terapêuticos utilizam a
radiação ionizante para realizar o tratamento de forma direcionada, atin-
gindo somente alvos específicos. Esse tipo de tratamento tem como obje-
tivo mitigar, curar ou controlar o processo patológico provocando poucos
efeitos colaterais, pois não é invasivo.
Quando o radiofármaco interage e é absorvido pelas células tumorais,
pode ocorrer danos no DNA das células. Isso ocorre por meio da ação dire-
ta, que resulta na quebra das fitas duplas, ou indireta, que pode provocar
a formação de radicais livres devido à interação da radiação com as molé-
culas de água.
Os radiofármacos utilizados em procedimentos terapêuticos em Medici-
na Nuclear devem possuir as seguintes características:
• Devem emitir radiação beta (β-), alfa (α) e elétrons Auger;
• Ser emissor de radiação particulada com energia maior que 500 keV;
• Possuir a capacidade de se concentrar próximo do tecido alvo para
transferir uma alta taxa de dose de radiação, a fim de destruí-lo;
• É necessário que haja congruência entre o tempo necessário para o
radiofármaco chegar até o órgão-alvo e a meia-vida efetiva.

IMAGINOLOGIA 89

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Os radionuclídeos usados em procedimentos diagnósticos podem ser utiliza-
dos sozinhos ou associados a um fármaco traçador. O Quadro 3 apresenta os prin-
cipais radionuclídeos com potencial terapêutico emissores de partículas beta e alfa.

QUADRO 3. OS RADIONUCLÍDEOS EMISSORES DE PARTÍCULAS BETA E ALFA,


UTILIZADOS EM TERAPIA

Radionuclídeo (emissor de partículas beta) Tempo de meia-vida T½

131
I 8

32
P 14,3

67
Cu 2,6

177
Lu 6,7

89
Sr 50,5

186
Re 3,8

153
Sm 1,9

90
Y 2,7

188
Re 0,71

117m
Sn 13,6

Radionuclídeo (emissor de partículas alfa) Tempo de meia-vida T½


213
Bi 0,76 h

212
Bi 1h

211
At 0,30 dias

223
Ra 11,4 dias

Fonte: OLIVEIRA et al., 2006, p. 158. (Adaptado).

Os radionuclídeos que emitem partículas ionizantes são indicados principal-


mente em tratamentos de tumores, no qual podem variar de acordo com ta-
manho do tumor e da distribuição intratumoral. Em algumas situações, os raios
gama podem acompanhar a emissão de partículas, assim sendo capazes de com-
prometer a eficácia da terapia, pois aumentam a sua dose nos tecidos saudáveis.
O Quadro 4 apresenta os principais radiofármacos e as suas indicações
terapêuticas.

IMAGINOLOGIA 90

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QUADRO 4. OS RADIOFÁRMACOS UTILIZADOS PARA TERAPIA

Radiofármaco Aplicações

Tratamento de hipertireoidismo e carcinoma


I-iodeto de sódio
131
papila e folicular da tireoide

Tratamento de metástases intraperitoneais,


32
P-fosfato de cromo coloidal como tumor de ovários, renal e
gastrointestinal

P-ortofosfato de sódio
32

89
Sr-cloreto (Metastron®)
Tratamento paliativo da dor nas metástases
153
Sm-EDTMP (Quadramet®)
ósseas
186
Re-HEDP a)
117m
Sn-DTPA a)
131
I-MIBG
Tratamento de tumores neuroendócrinos
90
Y-DOTA-Tyr3-octreotideo a) como o neuroblastoma ou feocromocitoma
90
Y-DOTA-lanreotideo a)
131
I-anticorpo anti-B1 (BEXAR®) a)
Tratamento do linfoma não-Hodgkin
Y-MX-DTPA-anticorpo anti-B1 (IDEC-Y2B8®)
90

a)
ainda em ensaios clínicos
Fonte: OLIVEIRA et al., 2006, p. 159. (Adaptado).

Gerador de tecnécio
O elemento 99
Mo é obtido por meio do bombardeamento do molibdênio
com os núcleos de deutério de 8 MeV a uma distância aproximada de 93 cm do
alvo do acelerador de partículas. O 99Mo possui uma meia-vida de 66 horas, que
decai por emissão β-, produzindo um isótopo de meia-vida curta, cujas proprie-
dades químicas são diferentes do molibdênio, sendo identificado inicialmente
como elemento 43.
A descoberta do elemento 43 ocorreu no ano de 1937, por Emilio Segrè e
Carlos Pierre, no Berkeley Radiation Laboratory. Só após 10 anos da sua desco-
berta, o elemento 43 passou a ser denominado como tecnécio, que pertence
ao grupo VIIB da tabela periódica.
O gerador de tecnécio é o dispositivo responsável por produzir o radioisóto-
po tecnécio-99m, que provém do decaimento molibdênio-99. Esse dispositivo
gerou um grande impacto no campo da medicina nuclear, pois é o mais utiliza-
do em sua rotina clínica.
O dispositivo foi desenvolvido no Brookhaven National Laboratory (BNL),
no ano de 1957, por Margaret Greene e Walter Tucker, como parte do pro-

IMAGINOLOGIA 91

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grama voltado para o desenvolvimento de novos isótopos, que se baseia na
eluição do 99mTc em ácido nítrico e a absorção do 99Mo na alumina (Figura 1).

Figura 1. Gerador de 99Mo/99mTc sem blindagem. Fonte: SUZUKI, 2009, p. 7.

No ano de 1961, quando o Argonne Cancer Research Hospital começou a


utilizar o gerador de 99mTc, várias outras instituições também o fizeram. A partir
do final dos anos 1960, sua utilização se tornou rotineira.
Em 1966, os pesquisadores E. R. Squibb e Sons desenvolveram um gera-
dor de tecnécio esterilizado e encapsulado, facilitando seu armazenamen-
to e transporte. Desde então, a utilização do 99mTc tornou-se frequente. Foi
desenvolvida uma variedade de sete compostos marcadores utilizados em
medicina nuclear.
Inicialmente, o Brasil importava todos os geradores de 99mTc que utiliza-
va, porém, devido à grande demanda de serviços médicos que utilizam o
gerador, houve a necessidade de se desenvolver o produto no Brasil. Hoje,
o IPEN é responsável pela produção dos geradores de Tc e sua distribui-
99m

ção para todos os serviços de medicina nuclear do Brasil.


Um gerador de radionuclídeos é produzido por meio do princípio de equi-
líbrio transiente entre o radionuclídeo pai, com meia-vida longa, e o radionu-
clídeo filho, de meia-vida curta, que possuem propriedades químicas diferen-
tes, sendo possível separá-los facilmente.
Vários tipos de geradores foram desenvolvidos no decorrer dos anos,
mas o gerador mais importante e com uma vasta utilização em medicina

IMAGINOLOGIA 92

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nuclear é o gerador de 99Mo/99mTc. Esse gerador consiste em uma coluna cro-
matográfica, composta de alumínio, na qual o 99Mo é adsorvido. À medida que
ocorre o decaimento do 99Mo, aumenta-se a atividade do 99Tc.
Devido às diferenças nas propriedades químicas, o 99m
Tc é separado utili-
zando um solvente apropriado, permitindo que Mo seja deixado na coluna. A 99

Figura 2 apresenta um esquema do gerador 99Mo/99mTc:

Frasco de coleta (vácuo)


A B
Solução fisiológica Volume eluído

Coluna de vidro
Mo adsorvido
99

+
Coluna de Al2O3

Crescimento da atividade
do 99mTc

Blindagem de chumbo

Filtro

Figura 2. Esquema de um gerador de 99Mo/99mTc. Fonte: ANDRADE, 2012, p. 18. (Adaptado).

O gerador é devidamente blindado, utilizando chumbo, e acondicionado a


um recipiente de plástico, garantindo a proteção contra as radiações ionizantes
e permitindo que seja seguro manuseá-lo.

Equipamentos de medicina nuclear


Em razão do desenvolvimento dos computadores, foi possível armazenar,
adquirir e processar as imagens obtidas por meio das câmaras de cintilação,
inventada por Anger, para realizar a avaliação de parâmetros fisiológicos e evi-
denciar as estruturas de interesse.

IMAGINOLOGIA 93

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Com o passar do tempo, houve uma evolução na computação, especial-
mente relacionada aos métodos de reconstrução, que permitiram desenvolver
aparelhos de tomografia cintilográfica, conhecidos como SPECT (single photon
emission tomography, ou tomografia por emissão de fóton único) e PET (positron
emission tomography, ou tomografia por emissão de pósitrons).
Esses dois aparelhos permitem obter imagens que se distinguem, princi-
palmente, pelo tipo de radioisótopo incorporado ao traçador, o que implica em
diferentes métodos ou técnicas de detecção para cada aparelho. Após serem
utilizados de maneira específica em aplicações clínicas, o SPECT e PET passa-
ram a proporcionar, à comunidade médica, informações biológicas importan-
tes, tanto no tratamento quanto no diagnóstico.

Técnica PET
PET, além do nome do aparelho, é uma técnica de diagnóstico por ima-
gem que permite visualizar a atividade metabólica em nível molecular.
Quando combinada com a ressonância magnética ou tomografia compu-
tadorizada aplicada na modalidade diagnóstica, é possível realizar:
• Planejamento do tratamento, como cirurgias, radioterapia e quimioterapia;
• Localizar as melhores regiões para se realizar as biópsias;
• Investigação de tamanho, distribuição e posição de tumores;
• Diferenciar os tumores benignos dos malignos.
Essa técnica utiliza radionuclídeos emissores de pósitrons (partículas
β+), tais como o 68
Ga, 11
C, 13
N, 15
O, 18
F, 124
I, 64
Cu, que são administrados no
paciente na forma de um fármaco radiomarcado, que se liga, especifica-
mente, ao conjunto de células de um determinado órgão ou tecido que
está sendo estudado.
Os emissores de pósitrons possuem a capacidade de produzir dois fó-
tons gama por aniquilação, com energia de 511 keV e na mesma
direção, mas em sentidos opostos (180° + 0,3º), conforme
reagem, instantaneamente, com elétrons dos átomos
do meio. Assim, a detecção desses dois fótons gama
em direções opostas é o princípio da formação da
imagem no PET (Figura 3).

IMAGINOLOGIA 94

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Figura 3. Representação da aniquilação de um pósitron com um elétron, emitindo dois fótons de 511 keV. Fonte:
VASCONCELOS, 2011, p. 11. (Adaptado).

O radionuclídeo 18 F, que possui meia-vida de 110 minutos, hoje é o mais


utilizado na prática clínica devido às suas propriedades físicas e químicas,
pois permite a incorporação do flúor-18 à molécula de desoxiglicose, dan-
do origem ao radiofármaco fluordesoxiglicose (FDG).

EXPLICANDO
Quando o traçador flúor-18 é aplicado no paciente, ele se espalha no
corpo em questão de minutos, mas é excretado do corpo de forma total em
um período que varia de três a 24 horas, exceto no tecido cardíaco, onde
fica por mais de 96 horas.

A PET é considerada uma técnica híbrida, que permite atingir melhor efi-
ciência na obtenção de diagnósticos de várias patologias, tornando a sua utili-
zação muito atrativa para as clínicas de diagnóstico. Essa técnica permite rea-
lizar uma pesquisa do corpo inteiro em torno de 30 minutos, possibilitando a
reconstrução das imagens adquiridas em campos de visão axiais, chamadas
de macas (Figura 4).

IMAGINOLOGIA 95

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O processo de formação da ima-
gem no aparelho PET ocorre, inicial-
mente, com a identificação da radia-
ção feita pelo sistema detector de
coincidência, composto por um anel
com múltiplos detectores de cristais
cintiladores inorgânicos acoplados em
um arco de 360°, responsável por cir-
cundar o tecido ou o órgão estudado.
Esse circuito permite que o PET
seja capaz de detectar os dois fó-
tons provenientes de uma única
aniquilação, que são enviados a um
computador que faz a aquisição e o
Figura 4. Marcação das macas para a aquisição da ima-
tratamento de dados, permitindo a gem PET. Fonte: VASCONCELOS, 2011, p. 17.

visualização e manipulação da imagem (Figura 5).

Unidade de processamento
de coincidência

Sinograma modo
lista
Anéis de detectores

2 fótons de 511 keV


a ~180º

Aniquilação Reconstrução da imagem

Figura 5. Esquema de aquisição de imagem do equipamento PET. Fonte: VASCONCELOS, 2011, p. 22

IMAGINOLOGIA 96

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Equipamento SPECT
SPECT, além do nome do aparelho, é o exame ou técnica de tomografia compu-
tadorizada por emissão de fóton único. É considerada como uma forma de tomo-
grafia computadorizada que utiliza radiação gama como responsável pela fonte de
informação, em vez da utilização dos raios-X.
Essa técnica permite obter imagens da função do organismo e não somente da
anatomia, diferente das outras modalidades de aquisição de imagens, tais como
os equipamentos de radiografia e a ressonância magnética.
O SPECT utiliza câmaras-gama para detectar a radiação gama emitida por ele-
mentos radioativos específicos como, por exemplo, o Tecnécio-99m e o Tálio-201,
que possibilitam a aquisição da informação funcional de um tecido ou órgão a ser
estudado. O radiofármaco pode ser introduzido no paciente de variais formas, via
inalação, ingestão ou injeção. Em geral, isso depende da propriedade de absorção
do tecido ou órgão que está sendo estudado.
Uma vez que o isótopo se encontra dentro do organismo do paciente, ele decai
emitindo raios gama que interagem com os detectores, provocando o sinal que
será processado e formará uma imagem do tecido ou órgão. As imagens irão se
diferenciar em decorrência da quantidade de radiofármaco absorvido, pois um
órgão saudável, após absorver o radiofármaco, vai apresentar uma imagem bri-
lhante, e o órgão não saudável vai apresentar uma imagem mais escura ou clara
do que o brilho padrão de uma imagem saudável.
Segundo Reis (2012, p. 5), a SPECT realiza aquisições de vistas planares do pa-
ciente a partir de diferentes direções, utilizando um número elevado de projeções.
A partir do conjunto de imagens adquiridas, pode-se realizar a reconstrução e ob-
ter imagens em três planos ortogonais: axial, sagital e coronal.
Geralmente, o SPECT fornece imagens axiais, e os demais planos são obtidos por
meio de reconstrução. O equipamento SPECT possui três componentes principais:
• Gantry (portal), onde se localiza o sistema de detecção, responsável por trans-
formar a radiação gama em sinal;
• Maca para posicionar o paciente;
• Painel de controle e computadores de processamento.
Os modelos mais avençados de SPECT possuem mais uma cabeça de detecção,
que gira em volta do paciente para obter múltiplas imagens.

IMAGINOLOGIA 97

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Os equipamentos apresentam diversas configurações de cabeças de detec-
ção, que são:
• Fixa e paralela: os equipamentos que apresentam duas cabeças podem pos-
suir uma configuração paralela ou perpendicular fixa;
• Fixa e perpendicular: equipamentos que apresentam cabeças de detecção
fixas perpendiculares, no formato de L;
• Ajustável: equipamentos que possuem cabeças de detecção fixas e paralelas
ou com oposição das cabeças.

Indicações e protocolos para procedimentos em


medicina nuclear
O processo de aquisição de imagem se inicia com o posicionamento do pa-
ciente na mesa. Em seguida, é preciso posicionar os detectores na região que
será estudada. Após isso, o operador vai selecionar o protocolo de aquisição
recomendado para o exame específico. Exemplos de protocolos são:
• O tamanho da matriz, que pode ser de 64x64, 128x128 ou 256x256;
• A quantidade de projeções;
• O tempo de aquisição utilizado em cada projeção;
• O tipo de radioisótopo utilizado, que pode ser 18F, 123I, 201TI ou 99mTc.
Os protocolos vão sofrer alterações de acordo com o tipo de exame que
será utilizado, portanto, é muito importante selecionar o protocolo ade-
quado, pois a escolha errada vai resultar em imagens com baixa resolução,
difi cultando o diagnóstico. Os exames realizados em medicina nuclear pos-
suem grande relevância clínica, razão pela qual alguns deles são considera-
dos padrão-ouro.
Os protocolos clínicos estão diretamente ligados ao preparo
do paciente, administração da dose correta do radio-
fármaco e a aquisição das imagens. Serão apresen-
tados alguns dos protocolos mais utilizados na
rotina clínica. Contudo, é importante salientar
que podem ocorrer pequenas variações ou
adaptações de alguns parâmetros em cada ser-
viço de medicina nuclear.

IMAGINOLOGIA 98

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Cintilografia óssea
Esse tipo de exame permite realizar a avaliação das disfunções apresentadas
nos ossos. Utiliza-se o fluxo sanguíneo, que irriga o osso, como mecanismo de dis-
tribuição, permitindo localizar áreas que apresentam comportamento de hipo ou
hipercaptação em tumores ósseos ou infartos ósseos. O radiofármaco ideal para
ser utilizado na cintilografia óssea deve ser estável, barato e rapidamente captado
pelo osso, a fim de clarear as partes moles adjacentes (Figura 6).

Figura 6. Cintilografia óssea do corpo inteiro. Fonte: ZIESSMAN, 2015, [s. p.].

QUADRO 5. PROTOCOLO DE CINTILOGRAFIA ÓSSEA

• Retirar qualquer objeto de metal;


• Deve estar bem hidratado;
Preparo do paciente
• Deve esvaziar a bexiga antes de realizar o
exame.

Radiofármaco • 99mTc.

Via de administração • Administração intravenosa.

• Iniciar de duas a quatro horas após a


Tempo de aquisição
aplicação do radiofármaco.

IMAGINOLOGIA 99

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• Realizar incidência posterior e anterior de
todo esqueleto;
• Usar o colimador que proporcionar maior
resolução;
Aquisição de imagem • Obter os spots com alta densidade de
contagens;
• Na fase fluxo, matriz de 64x64;
• Na fase equilíbrio e fase tardia, matriz de
128x128.

Perfusão miocárdica
A cardiologia é uma das áreas que é mais beneficiada pelas informações ob-
tidas por meio da medicina nuclear, pois a maioria da população é acometida de
doenças cardíacas. Assim, torna-se muito importante realizar o diagnóstico preci-
so das doenças.
Esse tipo de estudo é um dos mais utilizados na rotina clínica em medicina nu-
clear. O teste de perfusão é realizado com o paciente em repouso e em esforço, pois
isso permite observar se há alguma alteração do funcionamento do coração.
Após o radiofármaco ser administrado, onde rapidamente clareia o sangue
e, em seguida, ocorre a captação pelo miocárdio, onde permanece fixo. Assim,
é possível adquirir imagens em cerca de 45 a 60 minutos após a administração
do traçador (Figura 7).

Figura 7. Imagens cardíacas obtidas pelo SPECT. Fonte: ZIESSMAN, 2015, [s. p.].

IMAGINOLOGIA 100

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QUADRO 6. PROTOCOLO DE PERFUSÃO MIOCÁRDICA

• Deve fazer jejum de, no mínimo, quatro horas;


Preparo do paciente
• Os eletrodos devem ser removidos do campo de visão.

Radiofármaco • 201TI.

Via de administração • Administração intravenosa, com o paciente em ortostático.

Tempo de aquisição • Iniciar dez minutos após a aplicação do fármaco.

• Utilizar colimador de baixa energia, com a janela de 20% a 25%;


• O SPECT deve começar em 45º e terminar na oblíqua posterior
esquerda;
• Steps a cada três ou seis graus;
Aquisição de imagem
• Matriz de 64x64 em Word;
• Amostragem com 64 projeções em 180°;
• Paciente deve estar com o braço elevado para cima;
• Órbita de rotação circular ou elíptica.

Cintilografia pulmonar de ventilação e de perfusão


Esse estudo permite avaliar a presença de alterações na passagem do sangue
ou ar nos pulmões. É indicado para auxiliar no diagnóstico de embolia pulmonar
e observar doenças específicas no pulmão, como deformidades nos vasos sanguí-
neos, enfisema pulmonar ou infarto.
Esse estudo obtém imagens planares e bidimensionais, desconsiderando a
sobreposição espacial de áreas com funções distintas (Figura 8).

Post Ope Lat e

A
Ant Lat d Opd

IMAGINOLOGIA 101

Post Ope Lat e

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A
Ant Lat d Opd

Post Ope Lat e

B
Ant Lat d Opd
Figura 8. O estudo de cintilografia pulmonar de ventilação (A) e da perfusão (B). Fonte: ZIESSMAN, 2015, [s. p.].

QUADRO 7. PROTOCOLO DE CINTILOGRAFIA: VENTILAÇÃO

Preparo do paciente • Não há nenhuma recomendação.

• Decúbito dorsal;
Posicionamento
• Detectores centrados posteriores ao tórax.

Radiofármaco • Xenônio – 133.

Via de administração • Inalação.

• Paciente é orientado a inspirar profundamente e segurar o


máximo de tempo possível para obter 100.000 contagens;
• Captura de imagens sequenciais de 90 segundos enquanto o
Aquisição de imagem
paciente respira normalmente;
• Adquirir imagem posterior com 250.000 contagens.

QUADRO 8. PROTOCOLO DE CINTILOGRAFIA: PERFUSÃO

Preparo do paciente • Não há nenhuma recomendação.

Posicionamento • Decúbito dorsal.

Radiofármaco • 99mTc.

Via de administração • Administração intravenosa, com o paciente em ortostático.

• Adquirir de 500 a 750 contagens por imagem;


• Obter imagens em diferentes posições: anterior, posterior,
Aquisição de imagem lateral esquerda e direita e oblíquas posteriores direita e
esquerda.

IMAGINOLOGIA 102

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Sintetizando
Nesta unidade, foram apresentados os conceitos básicos da medicina nu-
clear, que é uma especialidade de tratamento e diagnóstico de patologias fun-
cionais, mediante a utilização de radiação ionizante na forma de radioisótopos,
denominados radiofármacos. Essa modalidade de diagnóstico permite obter
informações precisas, de forma segura e eficiente, por meio de procedimentos
indolores e não invasivos.
Também foram estudados os conceitos de radiofármacos, que são prepara-
ções farmacêuticas (medicamentos) sem ação farmacológica, utilizados em me-
dicina nuclear para fins terapêuticos ou de diagnóstico.
As características físico-químicas dos radiofármacos definem de que for-
ma ocorre a ligação do composto com o órgão-alvo e a sua metabolização. As
características físicas determinam como será aplicado o composto, tanto para
terapia quanto para diagnóstico.
Conhecemos os radionuclídeos, que são utilizados em medicina nuclear com
a finalidade de terapia e diagnóstico, e são produzidos de forma artificial em
cíclotrons, reatores nucleares e geradores de radioisótopos.
Também estudamos o gerador de tecnécio, um dispositivo responsável por
produzir o radioisótopo tecnécio-99m, que provém do decaimento molibdê-
nio-99. Esse dispositivo gerou um grande impacto no campo da medicina nu-
clear, pois é o mais utilizado na rotina clínica. Ele é produzido por meio do princí-
pio de equilíbrio transiente entre o radionuclídeo pai, com a meia-vida longa, e o
radionuclídeo filho, de meia-vida curta.
Também estudamos o surgimento dos aparelhos de tomografia cintilográfi-
ca, conhecidos como SPECT e PET. O PET possibilita um diagnóstico por imagem,
que permite visualizar a atividade metabólica em nível molecular, e o SPECT uti-
liza radiação gama para obter informação.
Finalizamos os estudos conhecendo alguns protocolos e as indicações para a
realização de exames de aquisição de imagem.

IMAGINOLOGIA 103

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Referências bibliográficas
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