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LEGISLAÇÃO URBANA E LEGISLAÇÃO URBANA E

Legislação Urbana e Prática Profissional


PRÁTICA PROFISSIONAL PRÁTICA PROFISSIONAL
Wesley da Silva Medeiros Wesley da Silva Medeiros
Marina Silva Paravidino de Abreu Marina Silva Paravidino de Abreu

Esta disciplina é uma das âncoras à atividade profissional do arquiteto, do urbanis-


ta e planejador urbano, principalmente atividades com projetos, e da construção
civil. Em qualquer atividade prática, o profissional deverá ter o conhecimento desta
disciplina para dialogar com seus clientes, principalmente atuando com projetos de
arquitetura. No dia a dia, boa parte dos arquitetos não entende de legislação: o con-
texto histórico, seus princípios e diretrizes, seus objetivos normativos, o processo
de aprovação de um projeto e sua fiscalização e, por fim, os trâmites gerais entre o
projeto e a liberação da prefeitura para usar a edificação projetada, mas esta questão
é mais séria aos arquitetos, considerando que muitos negam dar ao cliente o Registro
de Responsabilidade Técnica (RRT). No geral, as prefeituras pedem este documento
emitido e autenticado pelo Conselho de Arquitetura e Urbanismo (CAU) para começar
os trâmites legais de um projeto dentro das leis da prefeitura. Sendo assim, os profis-
sionais esquecem que qualquer ação com projetos está submetida à Lei 12.378/2010,
que criou o CAU no Brasil e, portanto, ao Código de Ética e Disciplina publicado em
2017. Aproveitem a disciplina para conhecerem o que são legislações e seus efeitos

GRUPO SER EDUCACIONAL


sob a atividade profissional no mercado de arquitetura.

gente criando o futuro


Presidente do Conselho de Administração Janguiê Diniz

Diretor-presidente Jânyo Diniz

Diretoria Executiva de Ensino Adriano Azevedo

Diretoria Executiva de Serviços Corporativos Joaldo Diniz

Diretoria de Ensino a Distância Enzo Moreira

Autoria Wesley da Silva Medeiros

Marina Silva Paravidino de Abreu

Projeto Gráfico e Capa DP Content

DADOS DO FORNECEDOR

Análise de Qualidade, Edição de Texto, Design Instrucional,

Edição de Arte, Diagramação, Design Gráfico e Revisão.

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Rua Treze de Maio, nº 254, Santo Amaro

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artigo 184 do Código Penal.

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Boxes

ASSISTA
Indicação de filmes, vídeos ou similares que trazem informações comple-
mentares ou aprofundadas sobre o conteúdo estudado.

CITANDO
Dados essenciais e pertinentes sobre a vida de uma determinada pessoa
relevante para o estudo do conteúdo abordado.

CONTEXTUALIZANDO
Dados que retratam onde e quando aconteceu determinado fato;
demonstra-se a situação histórica do assunto.

CURIOSIDADE
Informação que revela algo desconhecido e interessante sobre o assunto
tratado.

DICA
Um detalhe específico da informação, um breve conselho, um alerta, uma
informação privilegiada sobre o conteúdo trabalhado.

EXEMPLIFICANDO
Informação que retrata de forma objetiva determinado assunto.

EXPLICANDO
Explicação, elucidação sobre uma palavra ou expressão específica da
área de conhecimento trabalhada.

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Sumário

Unidade 1 - Constituição Federal e suas determinações para a cidade e o homem social


Objetivos da unidade............................................................................................................ 13

Urbanização brasileira......................................................................................................... 14
O Movimento Nacional da Reforma Urbana................................................................ 15

Conceito da Constituição Federal de 1988....................................................................... 17


Contexto da Constituição de 1988.................................................................................. 18

Política e legislação urbana............................................................................................... 19

Os instrumentos do Estatuto da Cidade............................................................................ 21

Instrumentos de regularização fundiária......................................................................... 30

Instrumentos de democratização da gestão urbana...................................................... 31

Sintetizando............................................................................................................................ 34
Referências bibliográficas.................................................................................................. 36

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Sumário

Unidade 2 - Plano Diretor e Lei de Uso e Ocupação do Solo


Objetivos da unidade............................................................................................................ 39

Plano Diretor.......................................................................................................................... 40
O Plano Diretor deverá atender quais municípios?.................................................... 42
Plano Diretor participativo.............................................................................................. 44
Plano Diretor versus demais leis municipais............................................................... 47

Lei de Uso e Ocupação do Solo.......................................................................................... 51


Entendendo a Lei de Uso e Ocupação do Solo........................................................... 52
Instrumentos urbanísticos no uso e ocupação do solo............................................. 55
Como a Lei de Uso e Ocupação do Solo pode beneficiar a cidade?....................... 60

Sintetizando............................................................................................................................ 62
Referências bibliográficas.................................................................................................. 63

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Sumário

Unidade 3 - Legislações ambientais específicas e noções de sustentabilidade urbana


Objetivos da unidade............................................................................................................ 66

Legislações ambientais específicas................................................................................. 67


Lei nº 6.938/1981: dispõe sobre a Política Nacional do Meio Ambiente ����������������� 69
Lei nº 9.605/1998: Lei dos Crimes Ambientais ............................................................. 70
Lei nº 12.305/2010: institui a Política Nacional de Resíduos Sólidos........................ 74

Noções de sustentabilidade urbana.................................................................................. 77


Entendendo a sustentabilidade e a cidade . ............................................................... 79
Objetivos de Desenvolvimento Sustentável e da sustentabilidade urbana ����������������� 81
Cidades sustentáveis....................................................................................................... 85

Sintetizando............................................................................................................................ 88
Referências bibliográficas.................................................................................................. 89

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Sumário

Unidade 4 -Código de Obras e normas da ABNT referentes ao edifício


Objetivos da unidade............................................................................................................ 92

Código de Obras.................................................................................................................... 93
Conceituação de Código de Obras................................................................................ 94
Disposições gerais do Código de Obras....................................................................... 96
Dados levantados em pesquisas científicas utilizando o Código de Obras......... 101

Normas da ABNT referentes ao edifício......................................................................... 105


Principais normas para construção civil.................................................................... 106
NBR 15575 e suas características............................................................................... 108
NBR 9050 e suas características................................................................................. 111

Sintetizando.......................................................................................................................... 113
Referências bibliográficas................................................................................................ 114

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Apresentação

Esta disciplina é uma das âncoras à atividade profissional do arquiteto, do


urbanista e planejador urbano, principalmente atividades com projetos, e da
construção civil. Em qualquer atividade prática, o profissional deverá ter o co-
nhecimento desta disciplina para dialogar com seus clientes, principalmente
atuando com projetos de arquitetura. No dia a dia, boa parte dos arquitetos
não entende de legislação: o contexto histórico, seus princípios e diretrizes,
seus objetivos normativos, o processo de aprovação de um projeto e sua fisca-
lização e, por fim, os trâmites gerais entre o projeto e a liberação da prefeitura
para usar a edificação projetada, mas esta questão é mais séria aos arquitetos,
considerando que muitos negam dar ao cliente o Registro de Responsabilida-
de Técnica (RRT). No geral, as prefeituras pedem este documento emitido e
autenticado pelo Conselho de Arquitetura e Urbanismo (CAU) para começar
os trâmites legais de um projeto dentro das leis da prefeitura. Sendo assim,
os profissionais esquecem que qualquer ação com projetos está submetida à
Lei n. 12.378/2010, que criou o CAU no Brasil e, portanto, ao Código de Ética e
Disciplina publicado em 2017. Aproveitem a disciplina para conhecerem o que
são legislações e seus efeitos sob a atividade profissional no mercado de ar-
quitetura.

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O autor

O professor Wesley da Silva Medeiros


é Mestre pelo PPGAU-IAU-USP (2017) e
bacharel em Arquitetura e Urbanismo
pela PUCPR (2014). Atua com pesquisas
relacionadas ao Urbanismo e Planeja-
mento Urbano, Projetos de Arquitetura
Social e Ensino de Arquitetura e Urbanis-
mo no Brasil. Possui escritório atuando
com projetos residenciais, comerciais,
serviços institucionais e consultorias
urbanas. Na vida acadêmica, dedica-se
ao ensino de projeto, urbanismo, plane-
jamento urbano, desenho urbano, siste-
mas estruturais e conforto ambiental.

Currículo Lattes:
http://lattes.cnpq.br/1313694320739542

Dedico este livro aos estudantes de arquitetura e urbanismo em formação,


que têm em suas mãos temas indispensáveis ao desenvolvimento social e
econômico de nossas cidades.

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A autora

A professora Marina Silva Paravidi-


no de Abreu é especialista em Gestão
de Projetos (2020) pela Universidade
Estácio de Sá (UNESA) e graduada em
Arquitetura, Urbanismo e Paisagismo
(2014) pelo Centro Educacional Nossa
Senhora Auxiliadora (CENSA). É pes-
quisadora e tem duas linhas de pes-
quisa envolvendo a pernamência na
educação e as cidades inteligentes.

Currículo Lattes:
http://lattes.cnpq.br/7043935599375670

Dedico este trabalho a Deus, pelo dom da vida e da aprendizagem, aos


meus pais, ao meu marido, à minha irmã e ao meu irmão, que sempre
me incentivaram e deram total apoio, assim como aos meus alunos, que
sempre foram motivadores diante dos novos desafios.

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UNIDADE

1 CONSTITUIÇÃO
FEDERAL E SUAS
DETERMINAÇÕES
PARA A CIDADE E O
HOMEM SOCIAL

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Objetivos da unidade
Compreender o contexto histórico anterior à promulgação da Constituição
Federal de 1988 (CF 88);

Conhecer o papel dos arquitetos e urbanistas no Movimento Nacional de


Luta pela Reforma Urbana na elaboração da CF 88;

Compreender os princípios conceituais da CF 88 a partir dos artigos 6, 21,


182 e 183 e suas relações com a cidadania, as cidades e a prática profissional
do arquiteto urbanista;

Conhecer o Estatuto da Cidade e seus instrumentos de desenvolvimento


urbano.

Tópicos de estudo
Urbanização brasileira Instrumentos de regularização
O Movimento Nacional da fundiária
Reforma Urbana
Instrumentos de democratização
Conceito da Constituição Federal da gestão urbana
de 1988
Contexto da Constituição de
1988

Política e legislação urbana

Os instrumentos do Estatuto
da Cidade

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Urbanização brasileira
Todo percurso desta unidade passa pelos problemas urbanos e seus des-
dobramentos na desfiguração dos cidadãos, dos direitos e da cidadania – por-
tanto, da cidade. Os problemas são diversos e ampliados à medida que a in-
dustrialização atraiu e atrai pessoas aos centros urbanos, como as metrópoles.
Isso ocorre sem que haja um planejamento municipal, metropolitano e es-
tadual para implementar políticas urbanas. Por isso, o crescimento da popula-
ção urbana não representa desenvolvimento e progresso; ao contrário, implica
em mais problemas sociais, urbanos e econômicos, levando o Estado e gover-
nos a se distanciarem das políticas urbanas e sociais.
O Gráfico 1 mostra a taxa de urbanização no decorrer da história, ou seja,
o crescimento de pessoas em centros urbanos. Foi assim que os problemas ur-
banos foram se configurando entre décadas de urbanização sem planejamento
urbano e políticas sociais, antes e após a CF 88. Os dados revelam a dinâmica
do crescimento populacional, sobretudo em centros urbanos em processo de
industrialização a partir do início nos anos 40.

GRÁFICO 1. TAXA DE POPULAÇÃO URBANA E RURAL BRASILEIRA ENTRE 1940 E 2010

TAXA DE URBANIZAÇÃO BRASILEIRA


População urbana População rural

19% 17% 16%


24%
32%
44%
55%
69% 64%

81% 83% 84%


76%
68%
56%
45%
31% 36%

1940 1950 1960 1970 1980 1991 2000 2007 2010


Fonte: DINIZ, 2017.

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A questão, portanto, é entender o seguinte: quanto maior a população ur-
bana, mais problemas se constituem, principalmente pela ausência de terra e
moradia. Mesmo assim, entre 1988 e 2010, não estava claro aos governantes o
lugar da CF 88 no desenvolvimento urbano, social e econômico, muito menos
no que diz respeito aos direitos sociais, à seguridade, à proteção, igualdade,
liberdade e justiça social. Neste quadro, o urbanismo e o planejamento urbano
vão se tornando fundamentais na administração pública. E os arquitetos, ur-
banistas e planejadores urbanos, após a aprovação do Estatuto da Cidade em
2001, foram os profissionais encarregados de elaborar as políticas e legislações
municipais, ou seja, regulamentar a nível local artigos da CF e do Estatuto da
Cidade enquanto compromisso com os interesses do povo.

EXPLICANDO
A partir de 2010, municípios brasileiros passam a precisar de Planos
Diretores, Planos de Mobilidade Urbana, Planos de Regularização
Fundiária, Plano de Arborização, Plano Ambiental, Plano de Recursos
Hídricos, Plano do Sistema Viário, Plano de Saneamento Básico, Plano
de Habitação e Plano de Resíduos Sólidos. Cada plano representa uma
política urbana do município ao desenvolvimento urbano e todas devem
possuir uma legislação urbanística.

O Movimento Nacional da Reforma Urbana


A industrialização brasileira tem início na década de 30, sendo a cidade de
São Paulo o centro dos investimentos industriais. As indústrias precisavam de
mão de obra (não especializada) para mover as máquinas e produzir mercado-
rias. A única mão de obra no Brasil eram os negros libertados da escravidão,
trabalhadores da indústria do café, trabalhadores do interior do
Nordeste e aqueles livres da servidão colonial.
Todos se direcionaram, na década de 30, para
os centros, onde havia promessa de trabalho e
renda, portanto, de melhoria da vida. Asso-
ciada a essa promessa, estavam itens como
casa própria, educação, saúde, emprego,
renda, alimentação, lazer etc.

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Sabemos, portanto, que ao chegar nos centros urbanos, os moradores do
campo foram ocupar os lugares sem interesse imobiliário. Por isso, houve um
processo de expropriação do homem da cidade, o que promoveu um caos em
cidades brasileiras por problemas de habitação, mobilidade, transporte, aces-
sibilidade, saneamento e infraestruturas urbanas. Por isso, surgiu o lema “re-
forma urbana” nas periferias do Brasil, tal como as ideias da Revolução France-
sa: igualdade, liberdade e fraternidade.
No Brasil, os problemas urbanos motivaram moradores da periferia a luta-
rem pelo direito à cidadania. Portanto, quando nos referimos à reforma urba-
na, significa um pensamento relacionado às políticas de planejamento urbano
e à qualificação da vida pela moradia e acesso à cidade, isto é, pensar na di-
minuição das desigualdades, na distribuição de renda, no acesso aos bens e
serviços públicos e na qualidade de vida cotidiana.
O movimento da reforma urbana não ficou somente na década de 30: em
1980 reapareceu com a participação de arquitetos, urbanistas, geógrafos, so-
ciólogos, antropólogos, assistentes sociais, psicólogos e advogados. A voz da-
queles que viviam na precariedade agora recebia uma nova força que vinha das
universidades.

Figura 1. Paraisópolis, São Paulo – Brasil, representação da desigualdade urbana no país. Fonte: VIEIRA, 2004.

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Sendo assim, cria-se, em 1985, o Movimento Nacional pela Reforma Ur-
bana, com raízes em centros urbanos. Este movimento foi um dos mais impor-
tantes para a Constituição Federal de 1988, fundamentando os capítulos 182
e 183 sobre o desenvolvimento urbano. Regulamentado em 2001, o Estatuto
da Cidade (Lei n. 10.257, de 10 de julho de 2001) tem por objetivo estabelecer
normas para o planejamento adequado das cidades, incluindo fatores sociais
e ambientais.

Conceito da Constituição Federal de 1988


No Brasil, em 1988, é promulgada a Constituição Federal (CF 88), elaborada
pela pressão dos movimentos populares, principalmente o Movimento Nacio-
nal da Reforma Urbana, sendo que arquitetos, urbanistas e planejadores urba-
nos eram participantes ativos.
A CF 88 foi uma resposta política e social a qualquer forma de tirania, pois
as mobilizações da década de 80 eram contra o regime militar, que começou
em 1964 e só terminou em 1985. Os fundamentos na elaboração nasceram
dos problemas sociais, econômicos, políticos e urbanos que o país atravessava
de norte a sul, trazendo como experiência constituições avançadas de outros
países, principalmente a Declaração Universal dos Direitos Humanos, de 1948.
Isto é, os direitos humanos, a cidadania, a liberdade, a igualdade, a proteção e
seguridade do Estado e governantes para com o povo.
Para concretizar estes direitos e princípios de uma sociedade próspera e
pacífica, era necessário um regime de governo em que o poder não estivesse
nas mãos de um grupo ou família. Por isso, a carta magna adota a democracia
como forma de organização do povo, do sistema de governo e de prosperidade
da nação brasileira. Assim, a CF 88 estabelece que o povo é soberano e o poder
deve ser trocado de quatro em quatro anos pelo voto. Neste sentido, a organiza-
ção (modelo) do Estado foi definida em estados e municípios. Esta organização
é chamada de federação, sendo que o povo elege ou reelege
seus representantes: presidente, governador, prefeito, depu-
tados federais, deputados estaduais, senadores e vereado-
res, formando, portanto, os poderes executivos e legislativos
em Brasília, nas capitais dos estados e nas sedes municipais.

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Mas a democracia pressupõe um sistema de governo baseado na construção
de pactos federativos por um interesse comum à nação brasileira, havendo um
acordo entre os governantes e legisladores. Por exemplo, o Sistema Único de
Saúde, o Plano Nacional de Educação, as escolas e universidades públicas etc.
Por isso, o sistema de governo brasileiro é chamado de presidencialista, isto é,
na federação, quem governa o Estado é o Poder Executivo, também chamado
de União.

Regime de governo - Democrático

Forma de governo – Republicana

Forma de Estado – Federação

Sistema de governo - Presidencialismo

Figura 2. Organização do Estado brasileiro após a Constituição de 1988. (Adaptado).

Contexto da Constituição de 1988


Toda ação relacionada à cidade é uma decisão fundamentada em nossa
carta magna, a CF 88. Seus parágrafos e artigos em forma de lei preveem que
o Estado, governos e instituições apliquem outro conjunto de leis, garantindo
liberdade e autonomia dos cidadãos vivendo em uma república. Ou seja, não
somos escravos ou submissos a outra pessoa, pois os direitos sociais do Art. 6
garantem a proteção social pelas instituições do Estado.
É neste sentido que as pessoas no Brasil são conside-
radas “sujeito de direitos” nas políticas do Estado e
dos governos. A mesma questão pode acontecer em
qualquer situação em que os direitos das pessoas este-
jam sendo invadidos e anulados por formas de opressão,

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na qual não existe sujeito, direito e cidadania, mas, sim, o desejo pela obediên-
cia, pela servidão e pelo trabalho forçado. Por isso, existe a ideia de que uma
pessoa não é um ser humano, mas um indivíduo: sem liberdade de escolha ou
proteção do Estado. Mais ainda, o indivíduo não possui valor humano, pois o
que importa é sua força de trabalho e, por isso, sua liberdade de ser alguém na
vida é retirada.

ASSISTA
A CF 88 surge por conta da violência do regime militar,
sem abandonar o legado que vem desde 1500. Por isso,
inviabilizar a violência é seu maior objetivo. Assista a um
trecho do filme 2001: Uma Odisseia no Espaço, do diretor
Stanley Kubrick, e pense nas seguintes questões: como
a violência surge por meio do poder? E por meio de qual
instrumento o poder é estabelecido? Entre o grupo de
hominídeos, quem assume o poder?

Política e legislação urbana


Compreender e conceituar política e legislação é uma tarefa um tanto quan-
to complexa. Este fato atrapalha a atividade profissional, o diálogo com a so-
ciedade pelo Poder Público e, principalmente, em concursos públicos. Vamos
realizar agora uma breve síntese de fundamentos essenciais à compreensão do
Estatuto da Cidade (EC).
O Estatuto da Cidade é um conceito de sociedade, pois pressupõe que a ter-
ra urbana não seja usada como mercadoria por uma pequena minoria (incor-
poradores imobiliários, por exemplo). E, por isso, seu fundamento conceitual é
o de garantir a função social da propriedade – terra ou edifício.
Sendo assim, vamos compreender os fundamentos de:
• Legislações e políticas federais, estaduais e municipais;
• Plano e política setorial;
• Políticas urbanas;
• Legislações urbanas.
Em Brasília, os ministérios pensam as políticas nacionais orientando o desen-
volvimento de sua área de atuação. Por exemplo, o Ministério das Cidades elabo-
rou as primeiras políticas urbanas nacionais, como o Plano Nacional de Habitação.

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Um plano é um documento político contendo um diagnóstico da situação, um
prognóstico do que pode ser feito para resolver problemas identificados na
etapa anterior e, por fim, um plano de metas, ações e estratégias em que os
investimentos são propostos. Um plano nacional orienta a atuação do governo
dentro daquele período de quatro anos, e pode ser reelaborado ou esquecido
no governo seguinte. Quando elaborado, o plano considera a realidade dos
estados, municípios e regiões brasileiras e, assim, orienta o legislativo a trans-
formá-lo legislação. No caso, a Política Nacional de Habitação desdobrou-se
nas seguintes leis: Sistema Nacional de Habitação de Interesse Social (SNHIS)
e o Fundo Nacional de Habitação de Interesse Social (FNHIS) - Lei n. 11.124, de
2005. As duas leis são importantes para que o Governo Federal direcione esfor-
ços para diminuir o problema da habitação no Brasil.
O centro do poder definiu uma legislação federal - Lei n. 11.124, de 2005,
impondo a qualquer governo implementar os princípios e diretrizes que foram
desenhados (pensados, discutidos e escritos) com base no problema urbano
da moradia. Sendo assim, estados devem seguir orientações do Plano Nacional
de Habitação e elaborar seus Plano Estaduais de Habitação, criando suas pró-
prias leis estaduais de acordo com a realidade. Estas leis devem apenas ampliar
princípios e diretrizes do que foi aprovado como Lei Federal (SNHIS e FNHIS) e,
assim, construir os pactos federativos (Governo Federal e Estadual; Ministério
das Cidades e Secretaria Estadual de Desenvolvimento Urbano) por meio dos
convênios e promover a liberação de recursos para a construção de casas, por
exemplo. No mesmo sentido, o município deve elaborar o chamado Plano Local
de Habitação de Interesse Social (PLHIS) e transformá-lo em legislação muni-
cipal, respeitando princípios e diretrizes da Legislação Estadual e Municipal.
No Brasil o arquiteto, urbanista e planejador urbano atua junto ao Poder
Público de um município. No campo do urbanismo e do planejamento urbano,
sua atuação, em geral, é:
• Como concursado, assumindo cargo em secretarias de urbanismo;
• Consultor em escritório particular.
O concursado irá coordenar processos administrativos relacionados aos fi-
nanciamentos urbanos e, para isso, é necessário conhecer o Estatuto da Cida-
de, já que sua ação como planejador urbano será relacionada ao ordenamento
territorial, isto é, orientar, coordenar e fiscalizar o crescimento urbano.

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A primeira política é o Plano Diretor Municipal (PDM), que todo município com
mais de vinte mil habitantes deve ter. O Plano Diretor impõe ao município elaborar
as demais políticas urbanas:
• Plano Municipal de Saneamento Básico (PSMB);
• Plano Municipal de Gestão Integrada de Resíduos Sólidos (PMGIRS);
• Plano Municipal de Mobilidade e Acessibilidade Urbanas;
• Plano Diretor de Drenagem Urbana (PDDrU);
• Plano Municipal de Regularização Fundiária (PMRF);
• Plano Municipal de Conservação e Desenvolvimento Sustentável;
• Planos Habitacionais de Interesse Social (PLHIS).

Os instrumentos do Estatuto da Cidade


O Plano Diretor possui as seguintes fases:
• Fase 1: leitura técnica em que um arquiteto e urbanista coordena uma
equipe de profissionais. Cada profissional analisa o espaço urbano e elabora
um laudo técnico abordando problemas, condicionantes e tendências urba-
nas. Esta leitura é chamada de diagnóstico, momento em que problemas e
tendências de crescimento ficam claros. Nesta fase, os arquitetos já pensam
quais instrumentos serão necessários para inibir problemas urbanos.
• Fase 2: elaboração de um prog-
nóstico que define os eixos de de-
senvolvimento urbano e social. Nes-
ta fase, os arquitetos definem quais
instrumentos do estatuto devem ser
abordados na fase seguinte.
• Fase 3: nesta fase, as diretrizes,
ações, metas, projetos e prioridades
são propostas em um documento.
Este documento fundamenta a elabo-
ração da Lei do Plano Diretor Muni-
cipal. Nesta lei, existirão normas de
controle e uso do solo urbano, ficando definidos os instrumentos do Estatuto
da Cidade em artigos, parágrafos, incisos e alíneas.

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• Fase 4: aprovação do projeto de lei na Câmara dos Vereadores com a
presença da sociedade e posterior sanção do prefeito. É importante que os
arquitetos estejam presentes nesta fase para contestar possíveis interesses
individuais.
De modo geral, este é o procedimento padrão em qualquer município no
Brasil, sendo que cada etapa possui um conjunto de oficinas participativas
com os bairros e comunidades da área rural. Em cada fase, existem audiên-
cias públicas (podendo ser mais de uma, conforme o tamanho da população
e perímetro urbano), obedecendo ao capítulo IV da Lei n. 10.257/2001, que
trata sobre a gestão democrática da cidade.
Sendo assim, o Plano Diretor é o principal instrumento da política ur-
bana brasileira – o Estatuto da Cidade (capítulo III da Lei n. 10.257/2001. As
seguintes escalas urbanas são obrigadas a ter um Plano Diretor (Art. 41 do
capítulo III da Lei n. 10.257/2001):
• Todo município cuja a área urbana tenha mais de 20 mil habitantes;
• Municípios de regiões metropolitanas;
• Municípios, independentemente da população, que estejam em áreas
de turismo;
• Municípios que possam vir a ser afetados por algum grande equipa-
mento regional.
Assim, para melhor entendermos esta Lei, vamos organizar os instru-
mentos de acordo com os grandes problemas urbanos, sociais, ambientais
e democráticos em realidades brasileiras. A saber:
• Instrumentos de indução do desenvolvimento urbano;
• Instrumentos de regularização fundiária;
• Instrumentos de democratização da gestão urbana;
• Instrumentos de financiamento da política
urbana.
Os instrumentos organizados desta for-
ma possuem seu fundamento de indução
ao desenvolvimento urbano. Isto é, por
meio dele, o objetivo do Estatuto deve ser al-
cançado: cumprir a função social da proprieda-
de, conforme a Figura 3.

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Figura 3. Exemplos de como o Estatuto promove a função social da propriedade. Fonte: Prefeitura de São Paulo, 2014, p. 17.

Instrumento de Indução do Desenvolvimento Urbano: macrozoneamento


Este instrumento é um mapa municipal que define diretrizes ao desenvolvi-
mento urbano e rural. Neste sentido, o município é dividido em zonas: macro-
zonas de interesse econômico onde as indústrias vão se instalar; macrozonas
já ocupadas pelo processo de evolução urbana; áreas vazias entre bairros de-
vendo ser ocupadas; área com infraestrutura urbana e poucas construções, ou
melhor, áreas com loteamentos e poucas casas; áreas que foram importantes
na constituição da cidade com edificações antigas; macrozona de expansão ur-
bana; e áreas de fragilidade ambiental pelo solo, recursos hídricos ou encostas.

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Instrumento de Indução do Desenvolvimento Urbano: zoneamento
O zoneamento é uma subdivisão do perímetro urbano que considera zonas
residenciais de baixa densidade, portanto, casas de um a dois pavimentos; zo-
nas residenciais de baixa densidade II, com casas e edifícios que podem chegar
a quatro pavimentos; zonas residenciais de média densidade, com edifícios de
até dez pavimentos; e zonas de uso misto de alta densidade.
Existem ainda zonas de proteção e conservação ambiental, proteção e con-
servação urbana e, conforme a realidade da cidade, são criadas outras zonas
de acordo com a especificidade do solo, dos moradores existentes, do tipo de
construção e de potencialidades de crescimento. O zoneamento em medidas
diferentes segue o traçado do sistema viário, possibilitando que a política de
mobilidade seja coerente com os espaços urbanos.
O zoneamento é de indução ao desenvolvimento urbano, pois orienta em-
preendedores a comprarem lotes e construírem nas zonas aptas a terem edifí-
cios. Conforme o zoneamento, o Poder Público planeja, investe, fiscaliza e con-
trola a construção dentro do perímetro urbano, investe no número de escolas,
postos de saúde, creches, centros de cultura, centros socioeducativos, praças,
parques, sistema de mobilidade urbana e arborização.
Os demais instrumentos que vamos estudar geram recursos à Prefeitura,
que é obrigada a investir nas áreas precárias (periferias). Estes espaços no zo-
neamento são definidos como Zonas Especiais de Interesse Social (ZEIS).
Quando o perímetro urbano cresce, o Plano Diretor define o tamanho dos
lotes de acordo com a zona. Então, o profissional precisa saber ler o zoneamen-
to e os quadros normativos de qualquer construção.
De modo geral, toda zona possui seus índices urbanísticos de controle da
ocupação:
• Todos os pavimentos representam a área construída. A Prefeitura vai fis-
calizar se o arquiteto não ultrapassou a área prevista no projeto e na
construção finalizada. Caso contrário, a obra pode ser
embargada, o arquiteto pode sofrer sanções, o clien-
te pode ser obrigado a quebrar partes da edifica-
ção ou pagar taxas, além de um alto imposto so-
bre a propriedade predial e territorial urbana, que
é calculado de acordo com a área construída;

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• Ao pegar o quadro do zoneamento, o profissional procura o coeficiente
de aproveitamento (CA) proposto no plano diretor. Vamos usar o seguinte
exemplo: imagine que o cliente comprou um lote de 300 m² em uma zona re-
sidencial II. Ele vai poder ocupar os 300 m²? Não. O profissional, elaborando o
projeto, vai procurar o CA da zona e deve encontrar um valor de 1,8 (hipotético),
por exemplo. Então, vai descobrir quanto de área o cliente pode construir pelo
seguinte cálculo: área do terreno . CA, ou seja, 300 m² . 1,8 = 540 m². Isto é, o ar-
quiteto pode projetar uma casa com 540 m². O CA varia de acordo com a zona;
• Usando o exemplo anterior, o cliente vai construir uma casa de 540 m²
em todo terreno de 300 m²? Não. Ele vai obedecer a taxa de ocupação (TO)
que vem na tabela do zoneamento. Neste sentido, imagine que na tabela você
encontrou uma taxa de ocupação de 30% (0,3). Isto significa o seguinte cálculo:
TO . área do lote, ou seja, 0,3 . 300 m² = 90 m², ou seja, o arquiteto vai projetar
considerando que dos 300 m² do lote, 90 m² não podem ter construção. Esta
área livre é para infiltração da água no solo, evitando enchentes ou sobrecarga
do sistema de drenagem urbana (quando existe);
• Haverá na tabela recuos laterais para a entrada de ar e iluminação na edi-
ficação.
Instrumento de Indução do Desenvolvimento Urbano: direito de superfície
É comum, dentro do espaço urbano, herdeiros de terras não fazerem pla-
nos de construção nestes locais, principalmente fora da cidade, nas laterais da
rodovia. Então, um empreiteiro que queira abrir um posto de gasolina e um
restaurante entraria em contato com o proprietário para realizar o arrenda-
mento da terra.
De forma mais simples, ele a aluga por um período provisório para não
pagar multas. No caso, o dono arrendará a terra a uma construção (desmon-
tável) na superfície do solo e no subsolo. Ou seja, um zoneamento
pode considerar uma área com poucas construções mais dota-
das de infraestruturas urbanas. E, por isso, defi-
ne no Plano Diretor este instrumento para os
donos da terra não deixarem suas proprie-
dades sem uso. Neste sentido, o proprietá-
rio vai ao cartório e estabelece o arrenda-
mento da terra.

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Instrumento de Indução do Desenvolvimento Urbano – outorga onerosa
do direito de construir (solo criado)
Este instrumento é chamado em algumas cidades de solo criado. Talvez,
seja o mais simples de entender e o mais difícil de ser aplicado pela Prefeitura.
Para entendermos este instrumento, vamos imaginar que um cliente comprou
um terreno dentro de uma zona em que o coeficiente de aproveitamento é dois.
Neste sentido, o arquiteto, ao fazer os cálculos de ocupação do terreno, infor-
ma ao proprietário que ele só pode construir três andares e 12 apartamentos,
já que aquela zona prevê na legislação do Plano Diretor o chamado direito de
construir. Ele pode sugerir que se compre mais potencial construtivo (mais CA)
para aumentar o número de pavimentos e apartamentos. Os recursos desta
venda devem ser aplicados em questões sociais da cidade, garantindo menos
desigualdade e mais acesso aos bens e serviços públicos.
Instrumento de Indução do Desenvolvimento Urbano: direito de
preempção
No zoneamento, serão mapeados alguns lotes para que a Prefeitura tenha o
direito de comprar a terra. Isto significa que a preferência de compra é, obriga-
toriamente, da Prefeitura; mesmo que o proprietário tenha outro comprador,
não poderá vendê-la.

Direito de preempção
A Prefeitura terá preferência de aquisição dos imóveis marcados
como sujeitos ao direito de preempção, para possuir área
necessária para cumprir os objetivos e implantar as ações
prioritárias do Plano Diretor.

Preferência
para adquirir

Prefeitura Imóveis sujeitos ao


direito de preempção

Figura 4. Objetivo do direito de preempção. Fonte: Prefeitura de São Paulo, 2014, p. 78. (Adaptado).

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Neste caso, na elaboração do Plano Diretor, pressupõe-se que terrenos nesta
condição serão usados na construção de habitação, equipamentos públicos, praças
ou parques. Por isso, os terrenos são delimitados no zoneamento como prioridade
ao Poder Público. Porém, este instrumento não impõe quando o proprietário deve
colocar o terreno à venda. O instrumento responsável por esta imposição legal é o
parcelamento, edificação ou utilização compulsórios.
Instrumento de Indução do Desenvolvimento Urbano: consórcio imobiliário
Significa que, no perímetro urbano, existem terras sem ocupação entre bairros
que foram crescendo, e a Prefeitura precisa de locais para construir habitações para
classes menos abastadas. Quando finalizada a obra, o antigo proprietário da terra
recebe um número de apartamentos que corresponde ao valor do espaço cedido,
podendo ele alugar, vender ou morar.
Instrumento de Indução do Desenvolvimento Urbano: parcelamento, edifi-
cação ou utilização compulsórios
É comum nos bairros dentro do perímetro urbano existirem edifícios sem uso
comercial, de serviço ou residencial. Isso gera um prejuízo muito grande, pois são
edifícios ociosos que não pagam IPTU. Por estarem sem uso, tornam as infraestru-
turas de água, energia, telecomunicação, drenagem, sistema viário, calçadas e ilu-
minação pública sem sentido – infraestruturas que possuem custos não apenas de
manutenção, mas de funcionamento. Se uma edificação construída dentro de um
bairro está sem uso, significa que ela não está cumprindo sua função social.

Necessário Necessário
e/ou
parcelar edificar

Necessário Necessário
e/ou
parcelar edificar

Parcelado Edificado

Figura 5. Principais objetivos do parcelamento, edificação ou utilização compulsórios. Fonte: Prefeitura de São Paulo, 2014, p. 74.

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A mesma realidade serve para explicar lotes vazios e grandes áreas verdes
entre bairros. Neste sentido, entra a função social da cidade, sendo que as
terras não podem servir de especulação, ou seja, ficarem paradas à espera de
valorização para venda, loteamento ou construção. Isso é contra o Estatuto da
Cidade, pois representa a exclusão de um grupo e o privilégio de outro.
Neste sentido, o zoneamento pela lei do Plano Diretor vai propor este ins-
trumento em zonas onde estas tipologias de solo e edificações sem uso exis-
tem. Assim, estas tipologias estão sob jurisdição federal por uma lei municipal
que obriga o proprietário a criar condições de uso ou construção.
O zoneamento vai mapear os edifícios e áreas ociosas, e os vereadores de-
vem criar uma lei regulamentando este instrumento. Neste sentido, a lei obriga
o proprietário a edificar, parcelar ou vender suas terras livres. E, no caso de edi-
fícios (construção parada), devem ser finalizados e colocados para funcionar.
No geral, será definido que estas condições de uso e edificação devem
acontecer entre dois a cinco anos, variando conforme a lei municipal. Se neste
prazo o proprietário não cumprir a legislação, a Prefeitura vai aplicar o IPTU
progressivo do tempo que aquela área esteve ociosa. Caso o proprietário não
pague o imposto, a Prefeitura tem o direito legal para desapropriar, comprar
ou tomar a propriedade.
Instrumento de Indução do Desenvolvimento Urbano: imposto predial
e territorial urbano progressivo
Este instrumento vem definido no zoneamento e na lei do PD em zonas
em que existem áreas subutilizadas, ou seja, áreas que têm um potencial para
construir mais edifícios, sejam eles de serviços ou de uso misto (moradia e
comércio), sistema viário, espaços públicos, parques, vias comerciais e equipa-
mentos públicos sociais.
A lei do Plano Diretor prevê que, com este instrumento e com o coeficien-
te de aproveitamento, o valor do solo seja aumentado, fazendo com
que as pessoas comecem a vender suas casas para o
mercado imobiliário, ou ainda transformem suas
residências em espaços comerciais. Em resumo,
o instrumento propõe adensar áreas com po-
tencial de construção e moradia, possibilitando o
crescimento da cidade.

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Instrumento de Indução do Desenvolvimento Urbano: operações urba-
nas consorciadas
No Plano Diretor, serão definidas áreas da cidade muito precárias ou aban-
donadas em lugares estratégicos no perímetro urbano, que serão denomi-
nadas como Operação Urbana. Estes espaços são importantes para o aden-
samento populacional, abertura de parques, praças, espaços de comércio e
serviços, áreas em que incorporações imobiliárias poderão atuar construindo,
valorizando e vendendo. Este espaço, no Plano Diretor, vai aparecer dentro da
área do zoneamento como área prioritária à intervenção urbana.
Instrumento de Indução do Desenvolvimento Urbano: transferência do
direito de construir
Este instrumento foi concebido considerando que existem edifícios toma-
dos de valor histórico que não podem ser derrubados. Sendo assim, o zonea-
mento faz um mapeamento destes edifícios tomados, separando aqueles que
serão tombados e os de interesse histórico que serão protegidos pelas políticas
do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN). Neste senti-
do, o zoneamento permite que o proprietário venda o coeficiente de aprovei-
tamento (solo aéreo) para outros proprietários que queiram construir além do
potencial de sua zona, ou, ainda, pegar este coeficiente e construir em outra
zona usando o CA do local somado ao CA do edifício tombado.
Na Figura 6, há dois pavimentos vazios, isto é, o potencial construtivo com-
prado dos pavimentos que não podem ser construídos no lote à esquerda.

Figura 6. Exemplo da transferência do direito de construir.

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Instrumentos de regularização fundiária
Entendemos, ao longo da unidade, que a cidade informal é ocupada de for-
ma irregular, já que, entre as décadas
de 30 e 90, o Brasil não teve claramen-
te uma política habitacional orientada
ao planejamento urbano, direcionan-
do grande parte dos recursos públicos
aos bairros de classe média e alta.
Neste sentido, o Estatuto da Cida-
de criou um conjunto de instrumentos
induzindo o direito à propriedade, à
desapropriação das áreas de risco e à
moradia em zonas de baixa renda. O Poder Público foi arrecadando recursos
pela venda do potencial construtivo, sendo obrigado a investir em urbanização,
regularização e construção habitacional.
Sendo assim, vamos conhecer alguns instrumentos que aparecem no zo-
neamento que orientam a Prefeitura a legalizar o uso da terra urbana.
Instrumento de Regularização Fundiária: usucapião especial de imóvel
urbano
O zoneamento vai definir as áreas prioritárias de regularização fundiária,
mas ele define apenas a escala do espaço urbano ocupada de forma ilegal. A
lei do Plano Diretor prevê a regularização e o uso dos recursos públicos para
este fim e, neste sentido, prevê que o município elabore o Plano Municipal de
Regularização Fundiária Sustentável. Deste plano, os vereadores criam uma lei
municipal de regularização seguindo orientações do Estatuto da Cidade previs-
tas no Plano Diretor e da Lei Federal de Regularização Fundiária (Lei Federal n.
13.465, de 11/07/2017).
Este plano tem as mesmas etapas do Plano Diretor, porém dentro das áreas
a serem regularizadas. Seus resultados são quantitativos: famílias sem posse
da terra, casas irregulares, casas em situação de risco, idosos, famílias sem
renda, falta de infraestrutura sanitária, crianças sem escola, mulheres chefes
de família, portadores de necessidades especiais (PNE), ou seja, toda uma ca-
racterização social, habitacional e urbana.

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Instrumento de Regularização Fundiária: concessão de uso especial
para fins de moradia
Este instrumento foi criado para regularizar famílias morando de forma ile-
gal em terras públicas. Neste caso, apenas a Prefeitura deve aplicar o Artigo 6
da CF 88, que diz que todo sujeito tem direito à moradia. Sendo assim, como no
instrumento de usucapião, a Prefeitura pode conceder a regularização coletiva
a todos moradores como se a ocupação fosse um condomínio pertencente a
todos, ela também pode fazê-lo de forma individual. Importante entender que
esta ação dependerá de como os arquitetos pensaram sobre a melhor estraté-
gia de regularização no plano e na lei.
Instrumentos de Indução do Desenvolvimento Urbano: ZEIS
As áreas ocupadas por famílias de baixa renda por mais de cinco anos, lo-
teamentos vazios que foram ocupados e o dono não exigiu o direito de posse,
invasão em áreas ambientais protegidas pelo zoneamento e a invasão de áreas
da Prefeitura sem ocupação são transformadas em Zonas Especiais de Interes-
se Social (ZEIS). As ZEIS também podem ser antigos condomínios que foram
sendo abandonados e ocupados.
O objetivo desta zona é orientar o Poder Público a construir casas, colocar
infraestruturas, construir equipamentos sociais de educação, saúde, lazer e es-
portes. Deve-se investir na urbanização com as infraestruturas de drenagem
urbana, pavimentação, arborização, calçamento, energia elétrica, iluminação
pública, telecomunicação, rede de água potável, rede de esgoto e sistema de
coleta de lixo. Também são aplicados índices urbanísticos, evitando que um
lote seja ocupado por mais de uma família e, assim, a insalubridade seja uma
realidade associada às enchentes pela ausência de áreas permeáveis.

Instrumentos de democratização da gestão urbana


Ao longo desta unidade, ficou clara a necessidade de as pessoas participa-
rem dos processos decisórios relacionados aos investimentos. Esta participa-
ção significa mudar o modelo de gestão da administração pública em relação
aos investimentos, às políticas e à implementação de leis. O Estatuto prevê
mecanismos de gestão, participação e controle social do que o Poder Público
está fazendo.

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Instrumento de democratização da gestão urbana: conselho de habita-
ção e desenvolvimento urbano
Todo município que tem um Plano Diretor deve ter o conselho da cidade
para discutir investimentos, pensar em decisões de interesse comum e fisca-
lizar o Poder Público. O conselho é formado por representantes diversos da
sociedade que tenham participado da elaboração do plano e entendam as le-
gislações urbanas.
No geral, é um conselho consultivo sem o poder de imposição a possíveis
decisões do prefeito, mas o conselho pode denunciar ao Ministério Público im-
probidades administrativas por descumprimento à lei do Plano Diretor.
Instrumento de democratização da gestão urbana: audiências públicas
As audiências são obrigatórias em todas as fases do Plano Diretor, por
exemplo, e em qualquer decisão da Prefeitura e vereadores as consultas públi-
cas devem acontecer. Caso contrário, as decisões tomadas não possuem vali-
dade constitucional.
Instrumento de democratização da gestão urbana: estudo de impacto
de vizinhança (EIV)
Este instrumento foi criado considerando o problema urbano gerado pelos
grandes investimentos em bairros onde o zoneamento não permite tal em-
preendimento, e até mesmo em cidades sem Plano Diretor e zoneamento, em
que existe apenas uma Lei de Uso e Ocupação do Solo.
Neste sentido, qualquer empreendimento dentro do perímetro urbano que
provoque efeitos no dia a dia da moradia deve elaborar o EIV conforme legis-
lação própria da Prefeitura, apresentando o estudo à população afetada. Este
estudo deve mostrar, claramente, os efeitos urbanos, sociais, ambientais e eco-
nômicos de curto e longo prazo, principalmente em relação às infraestruturas
urbanas, como os sistemas de circulação, saneamento e transporte.
Instrumento de democratização da gestão urbana: orçamento participativo
Geralmente, todo prefeito convoca a população, representantes e todos
técnicos da Prefeitura para discutir o orçamento de investimentos no ano se-
guinte. A Prefeitura apresenta uma prévia e as pessoas discutem o que deve
ser prioridade, o que deve ser incorporado e o que deve ser retirado. O objeti-
vo, de maneira geral, é destinar recursos para habitação, saúde básica, regula-
rização, pavimentação, escolas, segurança etc.

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Instrumento de democratização da gestão urbana: iniciativa popular
Se representantes dos conselhos perceberem que vereadores e o prefeito
estão conduzindo a administração pública baseados em interesses próprios,
desconsiderando as legislações e políticas urbanas, podem, junto à população
e outras entidades municipais, propor projetos de leis de iniciativa popular.
Por exemplo, há muitas ocupações ilegais sem regularização fundiária e ur-
banização. Pode-se propor a elaboração do Plano Municipal de Regularização
Fundiária Sustentável e a criação de uma lei que obriga o prefeito a regularizar
as ocupações.
Sendo assim, o Plano Diretor deve ser elaborado em consonância com o
orçamento participativo que todo município deve ter. Em resumo, é uma lei
que define as prioridades de investimentos do Poder Público e, também, é uma
ampliação do artigo 29 da CF 88.

ASSISTA
O Plano Diretor de São Paulo, aprovado em 2014, é
considerado a maior legislação urbana dos países em
desenvolvimento. O reconhecimento foi dado à gestão
de Fernando Haddad, que recebeu sete prêmios inter-
nacionais. Assista ao breve documentário que resume o
que foi este Plano Diretor.

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Sintetizando
Vimos, nesta unidade, como os problemas urbanos brasileiros se encon-
tram na questão da moradia, e como este ponto está associado à falta de
políticas urbanas e sociais durante o processo de ocupação urbana entre as
décadas de 30 e 90.
Nas décadas de 60 e 70, o Brasil não teve políticas de desenvolvimento
urbano, muito menos políticas habitacionais para diminuir as desigualdades
de acesso aos bens e serviços urbanos. Por este motivo, a pobreza foi se
tornando a realidade da vida de muitas pessoas, o que deu origem ao Movi-
mento pela Reforma Urbana, mobilizando um conjunto de ideias em torno da
cidade como direito.
Vimos que foi neste contexto que a nossa Constituição foi instituída, em
1988, criando um regime democrático em que o povo é soberano, uma Fede-
ração como Estado, uma república e o presidencialismo.
Neste sentido, os movimentos sociais pela reforma urbana foram impor-
tantes na elaboração da Constituição de 88, e, por isso, os artigos 182 e 183
fundamentaram-se nos problemas urbanos e na possibilidade de cidades
menos desiguais, com capacidade de oferecer melhor qualidade de vida para
seus habitantes. Estes dois artigos são regulamentados pela Lei n. 10.257, de
10 de julho de 2001, que instituiu o Estatuto da Cidade, cujo objetivo é promo-
ver o progresso urbano e social pelos instrumentos de indução ao desenvol-
vimento das cidades, regularização fundiária e participação social.
Sendo assim, pudemos notar que, neste processo, o cidadão começou a ser
mais participativo nas decisões do Poder Público, entendendo e aprendendo o
que é cidade como direito, vida coletiva e qualidade urbana e a cidadania.
Após a contextualização da Constituição de 1988 e o Estatuto da Cidade,
estudamos vários instrumentos utilizados no de-
senvolvimento urbano. Conceituamos suas qua-
tro fases: diagnóstico, prognóstico, elaboração
da Lei do Plano Diretor Municipal e aprovação
do projeto de lei na Câmara dos Vereadores com
a presença da sociedade e posterior sanção do
prefeito.

LEGISLAÇÃO URBANA E PRÁTICA PROFISSIONAL 34

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Por fim, detalhamos os instrumentos do Estatuto da Cidade, de regulari-
zação fundiária e de democratização da gestão urbana a fim de mostrar suas
principais semelhanças e diferenças, evidenciando sua importância dentro
do contexto do desenvolvimento das cidades e do bem-estar da população.

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LEGISLAÇÃO URBANA E PRÁTICA PROFISSIONAL 36

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LEGISLAÇÃO URBANA E PRÁTICA PROFISSIONAL 37

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UNIDADE

2 PLANO DIRETOR E LEI


DE USO E OCUPAÇÃO
DO SOLO

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Objetivos da unidade
Abordar sobre o Plano Diretor enquanto uma importante ferramenta para
um planejamento ideal;

Apresentar sobre a importância da população na participação do Plano Diretor;

Contextualizar o Plano Diretor e a Lei de Uso e Ocupação do Solo.

Tópicos de estudo
Plano Diretor
O Plano Diretor deverá atender
quais municípios?
Plano Diretor participativo
Plano Diretor versus demais
leis municipais

Lei de Uso e Ocupação do Solo


Entendendo a Lei de Uso e
Ocupação do Solo
Instrumentos urbanísticos no
uso e ocupação do solo
Como a Lei de Uso e Ocupação
do Solo pode beneficiar a cidade?

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Plano Diretor
Ao abordarmos o Plano Diretor, devemos ter em mente que existem pla-
nos e normas que são a base para a sua realização, sendo alguns deles, Plano
Plurianual, Lei de Diretrizes Orçamentárias, Lei Orçamentária Anual, plano de
metas, Lei de Parcelamento e o Uso e Ocupação do Solo.
Convém ressaltar quais são os princípios e diretrizes que tratam da política
urbana e do Plano Diretor. Dentre os princípios, pode-se citar: a função social
da cidade; função social da propriedade urbana; função social da propriedade
rural; direito à cidade; direito ao meio ambiente e gestão democrática.
Realizando um recorte e trazendo como exemplo o Plano Diretor da cidade de
São Paulo, no que se refere à função social da cidade, seu artigo 5º estabelece que
“compreende o atendimento das necessidades dos cidadãos quanto à qualidade de
vida, à justiça social, ao acesso universal aos direitos sociais e ao desenvolvimento
socioeconômico e ambiental” (PREFEITURA DA CIDADE DE SÃO PAULO, 2014).
Desde já indicamos que cada princípio não será trabalhado de forma pon-
tual, por isso, é recomendada a leitura do Plano Diretor específico do seu muni-
cípio para conhecimento de cada um deles e suas aplicações.
As diretrizes que orientam o Plano Diretor foram apontadas:
I – justa distribuição dos benefícios e ônus do processo de
urbanização;
II – retorno para a coletividade da valorização de imóveis decor-
rente dos investimentos públicos e das alterações da legislação
de uso e ocupação do solo;
III – distribuição de usos e intensidades de ocupação do solo de
forma equilibrada, para evitar ociosidade ou sobrecarga em re-
lação à infraestrutura disponível, aos transportes e ao meio am-
biente, e para melhor alocar os investimentos públicos e privados;
IV – compatibilização da intensificação da ocupação do solo com
a ampliação da capacidade de infraestrutura para atender às de-
mandas atuais e futuras;
V – adequação das condições de uso e ocupação do solo às ca-
racterísticas do meio físico, para impedir a deterioração e dege-
neração de áreas do Município;

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VI – proteção da paisagem dos bens e áreas de valor histórico, cul-
tural e religioso, dos recursos naturais e dos mananciais hídricos su-
perficiais e subterrâneos de abastecimento de água do Município;
VII – utilização racional dos recursos naturais, em especial da
água e do solo, de modo a garantir uma cidade sustentável para
as presentes e futuras gerações;
VIII – adoção de padrões de produção e consumo de bens e ser-
viços compatíveis com os limites da sustentabilidade ambiental,
social e econômica do Município;
IX – planejamento da distribuição espacial da população e das
atividades econômicas de modo a evitar e corrigir as distorções
do crescimento urbano e seus efeitos negativos sobre o meio
ambiente, a mobilidade e a quantidade de vida urbana;
X – incentivo à produção de Habitação de Interesse Social, de
equipamentos sociais e culturais e à proteção e ampliação de
áreas livres e verdes;
XI – prioridade no sistema viário para o transporte coletivo e mo-
dos não motorizados;
XII – revisão e simplificação da legislação de Parcelamento, Uso e
Ocupação do Solo e das normas edilícias, com vistas a aproximar
a legislação da realidade urbana, assim como facilitar sua com-
preensão pela população;
XIII – ordenação e controle do uso do solo;
XIV – cooperação entre os governos, a iniciativa privada e os
demais setores da sociedade no processo de urbanização, em
atendimento ao interesse social (PREFEITURA DA CIDADE DE
SÃO PAULO, 2014).
Assim, essas diretrizes são pertinentes porque orientam os rumos que se-
rão definidos pela gestão pública municipal para uma melhor ordenação da
cidade conforme os critérios da real necessidade que serão definidos por prio-
ridades para a realização que cada ponto preestabelecido no Plano Diretor.
Todas as questões físicas, territoriais, financeiras, assim como de gestão,
são as grandes desafiadoras dos municípios, o que envolve melhorias nas téc-
nicas de planejamento realizadas pelo governo.

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É importante envolver a população por meio da participação comunitária
nas decisões públicas, como, por exemplo, na atualização do plano diretor da
cidade, participando das audiências públicas, participação no orçamento parti-
cipativo, entre outros meios (Diagrama 1). Hoje, o Plano Diretor municipal é de
suma importância, sendo um dos instrumentos de planejamento e gestão de
municípios e prefeituras.
Segundo Rezende e Ultramari (2007), a respeito das mudanças trazidas pelo
Estatuto da Cidade, que apresenta o Plano Diretor municipal como um instru-
mento de ordenamento das relações sociais de um determinado lugar, ele é
elaborado com seu rumo voltado para o planejamento físico territorial.
É válido que sejam reconhecidos os potenciais de cada cidade, tendo como
base as realizações advindas do Plano Diretor municipal.

O Plano Diretor deverá atender a quais municípios?


Por meio da participação de todos, o Plano Diretor, que é uma lei municipal,
é criado e aprovado na Câmara Municipal. Ele organiza todo o cresimento e o
funcionamento da cidade e envolve áreas urbanas e rurais, devendo ser atua-
lizado a cada dez anos.
Outro enfoque importante é que o principal objetivo do Plano Diretor é de-
finir como determinado local irá cumprir sua função social, para que possa ga-
rantir o acesso à terra urbana e que os cidadãos tenham o direito aos serviços
que a cidade oferece, assim como o direito à moradia.
O Plano Diretor não é somente um instrumento de regulação do uso do
solo. Trata-se de um instrumento que induz e assegura, de forma sustentável,
que os espaços ofereçam condições seguras de moradia, possibilitando que
novas empresas e industrias consigam se instalar na cidade (Diagrama 1).
O Plano Diretor estabelece as diretrizes e regras que cada município irá usar
sempre de forma justa e social. Ele também define a cidade que queremos
ter no futuro, pois, por meio das açõs públicas, a cidade se forma e com boas
atuações e tomadas de decisões corretas há uma maior chance de alcançarmos
a cidade que almejamos. Porém, é um trabalho árduo que precisa de atenção
de todas as gestões que assumem o poder de zelar pela cidade e prover uma
melhor qualidade de vida para todos.

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DIAGRAMA 1. OBJETIVOS DO PLANO DIRETOR

Priorizar o transporte
coletivo e individual
não motorizado

Compatibilizar o
desenvolvimento
municial e
o metropolitano

Garantir acesso a uma


cidade sustentável,
desenvolvendo e inte-
grando a ocupação e o
uso do solo com a rees-
Desenvolver a economia truturação do sistema
a partir da diversidade viário, de forma a:

Conformar
policentralidades

Fonte: Prefeitura da cidade de São José. Acesso em: 28/09/2020.

Vale ressaltar que o Plano Diretor não deve considerar apenas a zona urba-
na, uma vez que o desenvolvimento da cidade também depende da zona rural.
Visto isso, é preciso considerar a totalidade do território para garantir um pleno
desenvolvimento. No entanto, o município não pode disponibilizar uma política
agrária e um zoneamento rural.
Para ter validade, o Plano Diretor precisa ser colocado em prática e contar
com a participação da população.
No Estatuto da Cidade, podemos ver que existe um grupo de municípios
que são obrigados a ter um Plano Diretor que seja participativo. E esses muni-
cípios deverão apresentar os seguintes aspectos:
• Devem possuir mais de 20 mil habitantes;
• Deverão fazer parte das regiões metropolitanas ou de aglomerações urbanas;
• Ser integrantes das áreas que possuam interesse turístico, seguindo o que
diz os estados e a União;

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• Estarem localizados em pontos de crescimento para novos empreendi-
mentos ou até mesmo para atividades que trarão relevância significativa na
região, como usinas portos, obras rodoviárias, dentre outros.
Assim, se faz necessário que todos os municípios que se enquadrem no que
foi dito acima e mesmo os que não se encaixam, elaborem um Plano Diretor
para que o futuro da cidade possa ser planejado de maneira correta e eficiente,
conforme as especificidades de cada local. Todos os municípios devem elabo-
rar seus Planos Diretores, porque, apenas por meio deles que será possível a
aplicação de todos os instrumentos inseridos no Estatuto da Cidade.
Neste tópico, vimos que Plano Diretor é um importante instrumento para
direcionar ao bom desenvolvimento da cidade sustentável, de forma a asse-
gurar qualidade de moradia para todas as pessoas e prover que haja um me-
lhor desenvolvimento econômico do município de forma a não comprometer o
bem-estar da população.

Plano Diretor participativo


É muito importante que seja feita a avaliação da cidade para a qual será ela-
borado o Plano Diretor, atendendo às necessidades específicas de cada lugar.
Não existe algo pronto ou uma fórmula exata para a elaboração do mesmo. É
válido ressaltar que o Plano Diretor sempre deverá ser elaborado pela munici-
palidade. Não se faz necessário a contratação de profissionais externos para
elaboração do mesmo, mas é fundamental a capacidade técnica da equipe téc-
nica que for executá-lo. O Plano Diretor deverá ser do tamanho do município
conforme as questões que a localidade apresenta, abrangendo as questões
mais complexas e menos complexas.
O órgão responsável por assumir a elaboração do Plano Diretor é a Secreta-
ria de Planejamento, Urbanismo e de Obras. Contudo, toda a prefeitura deverá
estar envolvida nesse processo, contando com profissionais técnicos de dife-
rentes setores para formar a equipe técnica responsável pela elaboração do
Plano Diretor. Juntamente com o prefeito, toda a equipe deverá estar presente
nessa etapa. É válido ressaltar que, ao compor a equipe técnica, é importante
que seja formada por profissionais das áreas de habitação, saneamento, meio
ambiente etc., e ainda pela sociedade (Diagrama 2).

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DIAGRAMA 2. CONDICIONANTES PARA O PLANO DIRETOR PARTICIPATIVO

Plano Diretor
participativo

Uso e
Habitação ocupação
do solo

Saneamento Mobilidade

Fonte: Prefeitura da cidade de São José. Acesso em: 28/09/2020.

Percebe-se que a participação da sociedade é essencial para que se obte-


nha um projeto concreto e realístico da cidade, com resoluções para os mais
diversos problemas enfrentados nos diversos bairros. Nesse sentido, há cinco
componentes essenciais para um Plano Diretor participativo:
• Deve existir uma leitura técnica e comunitária de toda a cidade;
• Todos os eixos devem ser definidos, assim como os temas e objetivos do
Plano Diretor;
• Deve ser feita uma proposta do projeto de lei, tendo a definição dos
seus respectivos instrumentos;
• Deverão ser encaminhados para a Câmara Municipal o projeto de lei, a
discussão e a aprovação;
• Após a implementação, deverá ser feita a cada dez anos a revisão periódi-
ca para possíveis readequações.
Essa primeira etapa é o momento em que o governo local forma a equipe
que será responsável por realizar as leituras técnicas da cidade, a partir dos da-
dos socioeconômicos, culturais, ambientais e de infraestrutura que mostram a
real condição de vida dos moradores daquela região. Todos esses indicadores
podem ser obtidos no portal do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
(IBGE), que, a cada dez anos, realiza o Censo Demográfico Brasileiro.

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É válido que seja feita uma compração da situação atual que o município
encontra-se levando em consideração os últimos dez anos para que, se possa
obter uma leitura mais realista e atual. Para compreender em qual nível de
desenvolvimento regional está a situação do município, vale fazer uma compa-
ração com as outras cidades da mesma região.
A leitura técnica e a leitura comunitária devem andar juntas, pois uma com-
plementa a outra, porém, uma não substitui a outra. A leitura participativa jun-
tamente com a leitura técnica permite que todos os pontos sejam confronta-
dos e analisados para obter uma melhor versão do Plano Diretor.
A concretização da leitura comunitária segue algumas etapas:
• Seleção e identificação de quem fará parte, assim como a definição da
estratégia de mobilização;
• Promoção de encontros com os participantes;
• Arrumação e alinhamento das informações
• Definição dos principais temas pertinentes para a elaboração do Plano Diretor;
• Retorno das últimas considerações para a sociedade.
Para a participação da sociedade não é necessário pertencer a alguma as-
sociação ou entidade. A prepararação da leitura comunitária pode ser feita de
diferentes formas, como por meio de mapas, fotos, entrevistas, depoimentos
ou apenas o registro da impressão dos moradores em relação à cidade. Essa
leitura tem como objetivo verificar em qual o perfil a cidade se enquadra, de
maneira a evidenciar os problemas existentes e sua potencialidade pela contri-
buição da sociedade participante.
Devido à utilização de mapas temáticos – como, por exemplo, de clima, so-
los, hidrografia etc. –, poderá ser traçado o perfil da cidade. A partir da interpre-
tação dos mapas, alguns aspectos são diagnosticados:
• Os perigos para habitação urbana como deslizamentos, erosão, enchentes etc.;
• Locais reservados para a preservação cultural;
• Questões históricas de determinado lugar;
• A inserção regional do município;
• Dados de mobilidade e circulação de pedestres, ciclistas e do trânsito no geral.
Já os mapas específicos de caracterização da população permitirão identifi-
car os seguintes pontos:
• A população absoluta e também relativa de cada bairro;

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• A população dividida por faixa etária e escolaridade;
• A população separada conforme o nível de renda;
• A população por setor de crescimento e migração.
Os mapas de uso do solo contribuirão para identificar as diversas formas
de ocupação: se regular ou não; vazios urbanos; área rural, etc., para que dessa
forma possa ser identificado os diferentes níveis e padrões existentes na cidade.
Já os mapas da infraestrutura urbana servirão para validar as seguintes
informações:
• Nível do atendimento dos serviços;
• Existência de esgotamento sanitário, água, luz, telefone, drenagem etc.;
• Educação, esportes, saúde etc.;
A partir da leitura técnica em conjunto com as informações trazidas pela
população participante, os eixos do plano poderão ser definidos, assim como
todos os assuntos que serão trabalhados, quais instrumentos serão utilizados
e os objetivos a serem alcançados.

Plano Diretor versus demais leis municipais


É muito importante que o profissional de arquitetura que for atuar na ela-
boração dos projetos se atente para o que rege as normas e leis do município.
Serão apresentados, neste tópico, o Plano Diretor, a Lei Orgânica, o Código de
Obras, o zoneamento, o uso e ocupação do solo e a Lei de Parcelamento do
Solo Urbano para um melhor entendimento.
Plano Diretor
O Plano Diretor foi estabelecido pela Constituição Federal (BRASIL, 1988) e ga-
nhou cada vez mais maior representatividade e importância com o Estatuto da Ci-
dade, podendo ser considerado como a base para as leis de planejamento urbano
municipal. Como já apresentado, o Plano Diretor é um dos principais instrumen-
tos de planejamento urbano, tendo como finalidade trabalhar todos os espaços
físicos, sociais e políticos, proporcionando uma melhor qualidade de vida para a
população e infraestrutura de qualidade, minimizando os problemas existentes.
Lei Orgânica
A Lei Orgânica é considerada a maior lei do município e dita o funciona-
mento de uma ordem específica. Vale ressaltar que cada município pode apon-

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tar as suas leis orgânicas, porém, estas não devem ir contra as leis estaduais,
federais e a Constituição Federal.
A aprovação da lei deverá ser feita pela Câmara Municipal em um período de
dois turnos, estando presentes dois terços dos membros. Durante a execução, é
preciso bastante cuidado, pois, caso surja a necessidade de alteração por algum mo-
tivo em específico após a aprovação, pode não ser tão simples uma nova validação.

EXEMPLIFICANDO
Para saber mais como é estruturada uma Lei Orgânica,
acesse o link da lei do município de Campos dos Goyta-
cazes, no estado do Rio de Janeiro, que dispõe sobre a
revisão e consolidação da sua Lei Orgânica.

Código de Obras
O Código de Obras aborda os conceitos que irão garantir a segurança, dis-
ponibilizar um conforto ambiental, conservação de energia, condições básicas
de limpeza e acessibilidade. Antes de iniciar qualquer projeto, deve ser consul-
tado o conjunto de instruções relativas a obras do município, a fim de saber
o que poderá ser construído em determinada localidade. O Código de Obras,
portanto, é um aglomerado de leis que possibilita à administração municipal
controlar todo o espaço já existente e o seu entorno.
As construções que não seguirem o estipulado por esse Código não obterão
a Carta de Habite-se, ou seja, não estarão regulares. Caso sejam construções
novas e não estejam totalmente dentro estabelecido pelo Código de Obras, es-
tas receberão uma notificação indicando um prazo determinado pelo fiscal da
prefeitura para sanar as pendências levantadas. Porém, se forem construções
antigas, alvos de notificação, elas deverão se adequar o melhor possível para que
seja possível obter todas as aprovações dos órgãos municipais compententes.
Lei de Zoneamento, Uso e Ocupação do Solo e Lei de Parcelamento do
solo urbano
Zoneamento consiste em um instrumento do planejamento urbano que se ca-
racteriza pela busca da regularização do uso e ocupação do solo do espaço urba-
no. Geralmente é identificado por meio de um mapa que indica as zonas e a qual
eixo elas pertencem. Tal mapa deve ser específico de cada município (Figura 1).

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Cursos d’água
Zona Centro Histórica – ZCH
Zona de Comércio Principal – ZPC
Zona Residencial 1 – ZR1
Zona Residencial 2 – ZR2
Zona Residencial 3 – ZR3
Zona Residencial 4 – ZR4
Zona de Expansão Urbana – ZEU
Setor Especial Institucional – SEI
Setor Especial de Preservação – SEP
Setor Especial Recreativo – SER
Macro Eixo de atividades
produtivas – MEAP
Eixo de Comércio e Serviços 1 – ECS1
Eixo de Comércio e Serviços 2 – ECS2
Eixo de Comércio e Serviços 3 – ECS3
Linha do perímetro urbano
Linha do perímetro urbano
Rodovia federal
Rodovia federal projetada
Rodovia estadual
Ferrovia
Ferrovia desativada

Figura 1. Mapa de zoneamento urbano da cidade de Campos dos Goytacazes, RJ. Fonte: MORAES, 2010.

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As leis de zoneamento costumam limitar-se ao tipo de estrutura a ser
construída no local. Deverá ser observada, primeiramente, a zona do terreno
e averiguar se ela permite a construção do que se pretende fazer, sendo co-
mércio, indústria, residência, prédios, entre outros. A Lei de Zoneamento, Uso
e Ocupação do Solo é, portanto, a lei que define o uso do solo de cada região.
Dessa maneira, é possível controlar questões relativas à especulação dos imó-
veis, sendo um importante instrumento para a preservação do meio ambiente.

ASSISTA
Para saber mais acerca da importância das leis de zone-
amento e sua imprescindibilidade para o crescimento da
cidade, assista ao vídeo Reportagem Especial: entenda a
Lei de Zoneamento, que aborda o conceito e os objetivos
da lei no município de São Paulo.

Ela também auxilia a proporcionar melhor qualidade de vida para todos da


cidade, possibilitando a estipulação de que uma usina não poderá ser implan-
tada em determinada área, por exemplo. Assim sendo, a Lei de Uso e Ocupação
do Solo deverá estar devidamente alinhada com o Plano Diretor, de forma a
acompanhar as suas alterações.
Já a Lei de Parcelamento do Solo Urbano é uma lei federal importante para
o ordenamento do espaço urbano. Ela se resume às questões de urbanização e
divisões de glebas dentro de algum território municipal, podendo definir como
loteamento ou como desmembramento. Apenas será permitido o parcela-
mento urbano do solo para fins urbanos que sejam em zonas urbanas, ou que
se adequem como expansão urbana.

EXPLICANDO
Desmembramento consiste na subdivisão de gleba, que é uma porção
de terra na qual ainda não há nenhuma construção e não é habitada. A
partir desta subdivisão, ela é repartida em lotes que serão destinados
para alguma edificação, de modo a aproveitar o sistema viário existen-
te para que não seja imposta a exigência de ter que criar novas vias
públicas ou, ainda, ter que modificar ou ampliar o que já existe. Dessa
forma, com essas divisões, o lote passará a possuir seu número de
matrícula e escritura.

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Lei de Uso e Ocupação do Solo
As cidades brasileiras têm passado por grandes desafi os, e o maior de-
les são as questões de expansão urbana de forma desordenada. Devido ao
crescimento de toda a população, surgiram inúmeras construções em locais
inapropriados, criando espaços com muitas aglomerações e trazendo danos
para o meio ambiente e para a qualidade de vida desses moradores, tendo
em vista que, muitas vezes, não existe rede de água e esgoto e demais ser-
viços públicos.

A Lei de Uso e Ocupação do Solo caracteriza-se por ser uma lei que organi-
za todo o espaço urbano. Ela surgiu devido às transformações das cidades ao
longo dos anos e também da necessidade de se expandirem, disponibilizando
mais empregos, uma melhor infraestrutura e ampliação dos meios de loco-
moção. O objetivo é que todos esses pontos pudessem ser feitos da melhor
maneira. Assim, tornou-se possível indicar os tamanhos mínimos para os terre-
nos, a área máxima que uma edificação pode ocupar, percentual de área verde
necessária conforme a dimensão do terreno, os recuos obrigatórios para uma
boa ventilação, entre outros.
Por isso, o Estatuto da Cidade, no intuito de diminuir a especulação imobi-
liária, oferece um conjunto de instrumentos que são utilizados pelo poder pú-
blico para propriciar um melhor desenvolvimento urbano, cumprindo, dessa
forma, com a função social da cidade e também da propriedade.

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Função social da propriedade
Se o proprietário não cumprir os prazos e obrigações, a Prefeitura pode cobrar o IPTU
Progressivo e, após cinco anos de cobrança, desapropriar a área pagando com
títulos da Dívida Pública

Imóveis sucescetíveis

Não edificados Subutilizado Não utilizado


Área superior a 500 m² Área superior a 500 m² cujo Edifcíos e outros imóveis que
cujo coeficiente coeficiente de aproveitamento tenha no mínimo 60% de
de aproveitamento é inferior ao mínimo da área sua área construída desocu-
utilizado é igual a zero Instrumentos legais e prazos pada há mais de um ano

IPTU progressivo: Consórcio imobiliário:


Parcelamento, edificações
e utilização compulsórios: Prefeitura aplica o IPTU se o Acordo entre a Prefeitura e o dono
imóvel não cumpre função social. do imóvel notificado transfere
Donos dos imóveis notificados têm
Alíquota do imposto aumenta ano para a administração pública o
um ano para apresentar projeto de
a ano, até limite de 15%. Se em terreno, onde é executada uma
edificação ou loteamento. Obras
cinco anos dono do imóvel não construção. Em troca, o proprietá-
devem começar em até dois anos e
ocupá-lo, a Prefeitura pode fazer a rio recebe parte das benfeitorias,
terminar em até cinco anos.
desapropriação. como apartamentos.

Figura 2. Função social da propriedade. Fonte: PEREIRA, 2016.

Entendendo a Lei de Uso e Ocupação do Solo


A Lei de Uso e Ocupação do Solo surgiu após a revolução industrial por mo-
tivos da migração da população do meio rural para o urbano, buscando uma
melhor oferta de trabalho.
Seu principal objetivo foi reordenar a cidade de forma planejada e orga-
nizada. Para isso, foi necessário desenvolver um planejamento que pudesse
atender a essas demandas relacionadas à habitação, mobilidade, distinção das
zonas tanto comercial como residencial, trazendo, assim, uma maior qualidade
de vida para todos daquele local.

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O responsável por essa lei é a equipe técnica que a elabora e faz a cole-
ta dos dados para que estes possam ser revistos e analisados, viabilizando a
preparação das propostas de melhorias e intervenção. É importante que os
habitantes locais opinem como deverá ocorrer o crescimento, pois são eles
que contribuem para o progresso e crescimento da cidade.
Essa lei tem um grande potencial de contribuição para a preservação do
meio ambiente, como as matas e os rios, contribuindo para o desenvolvimento
econômico, melhorando a estrutura comercial e viabilizando que todos que
queiram possam ter seu próprio comércio e obter a sua renda. Além disso,
contribui para uma cidade sustentável que respeite não somente as questões
financeiras, mas que envolva todos os apectos sociais de moradia e mobilidade
urbana. O solo deverá ser classificado em: residencial, que trabalha com as
questões de moradia de apenas uma pessoa ou de um grupo; e não residencial,
que está relacionado à atividade comercias, de serviços, ligadas à indústria e
também institucionais (Quadro 1).

QUADRO 1. CLASSIFICAÇÃO DO USO DO SOLO.

CLASSIFICAÇÃO DO USO DO SOLO

Os tipos de uso do solo devem ser


classificados, na Lei de Parcelamento, Uso
e Ocupação do solo (Zoneamento), em:

RESIDENCIAL e NÃO RESIDENCIAL,


que por sua vez, se divide em:

COMECIAL

SERVIÇOS

INDUSTRIAL

INSTITUCIONAL

Fonte: Prefeitura da cidade de São Paulo. Acesso em: 29/09/2020.

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A Lei de Uso do Solo e Ocupação do Solo visa orientar, de forma ordenada, o
crescimento da cidade englobando as áreas dentro do perímetro urbano atual
como áreas de expansão urbana (Figura 3). Elas se localizam dentro do períme-
tro urbano, independentemente se vazias ou loteadas.

Figura 3. Exemplo de área urbana e área em expansão. Fonte: Shutterstock. Acesso em: 06/10/2020.

A Lei de Uso e Ocupação do Solo visa coibir práticas especulativas, porém,


devendo ser bem elaborada para que não prejudique o desenvolvimento ur-
bano do município e deixe de atender a vocação econômica que o município
elegeu para si. Toda a relação de interesses que a cidade tiver deve ser muito
bem avaliada, e o poder público deve arcar com a obrigação de coordenar os
usos permitidos, os proibidos, os permissíveis e os tolerados.
Tudo isso precisa ser definido por meio do estudo de cada área. Ademais,
a população terá o direito de participar da elaboração da lei por meio do voto.
Porém, a equipe técnica deve fornecer possibilidades diante das potencialida-
des de cada área, sendo a escolha da própria sociedade.

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Instrumentos urbanísticos no uso e ocupação do solo
Os instrumentos urbanísticos do uso e ocupação do solo são:
• Parcelamento, edificação ou utilização compulsórios; IPTU progressivo
no tempo; desapropriação com pagamento em títulos; consórcio imobiliário;
• Outorga onerosa do direito de construir; direito de superfície;
• Transferência do direito de construir;
• Operações urbanas consorciadas;
• Direito de preempção.
Ao aplicar esses instrumentos, a cidade estará contribuindo para uma me-
lhor ordenação e utilização adequada dos imóveis. As áreas prioritárias de
ocupação poderão ser ocupadas apenas se as construções estiverem inseridas
de maneira apropriada, e caso não esteja ocorrendo, o poder público poderá
diagnosticar como edificação de parcelamento compulsório.
O município é quem define os parâmetros para avaliar as propriedades e
seus usos. Na edificação compulsória deve ser estipulado um prazo para que o
dono da propriedade possa apresentar um projeto que se insira no âmbito do
aproveitamento do terreno (Figura 4).

Parcelamento, edificação e utilização compulsórios (PEUC)


Para induzir o uso
Tipologias de O que o proprietário deve fazer para dos imóveis ociosos
imóveis ociosos: cumprir a função social da propriedade: A Prefeitura notificará os
Imóvel não edificado proprietários de imóveis
Imóvel com área ociosos, que terão os seguintes
superior a 500 m² e/ou prazos para cumprir a função
com coeficiencia de social da propriedade:
aproveitamento Necessário Necessário Necessário
Parcelar edificar utilizar Em até:
utilizado igual a zero
Imóvel subutilizado 1
ano Apresentar
Imóvel com área
superior a 500 m² e/ou projeto
cujo coeficiente de
Em até:
aproveitamento Necessário Necessário Necessário
utilizado é inferior ao Parcelar edificar utilizar 2
mínimo definido anos Iniciar
Imóvel não utilizado obras
Edifícios e outros
Em até:
imóveis que tenham no
mínimo 60% de sua área 5
Parcelado Edificado Necessário
construída desocupada anos Concluir
utilizar
há mais de um ano obras

Figura 4. Parcelamento, edificação e utilização compulsórios Fonte: Prefeitura da cidade de São Paulo. Acesso
em: 29/09/2020.

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A média é de um ano para dar entrada com o projeto e são concedidos
dois anos depois da aprovação para concluir toda a obra. Se os prazos ainda
assim não forem atendidos, o município poderá aplicar o IPTU progressivo no
tempo, podendo ser aplicado por um período de cinco anos. O imposto pode
dobrar a cada ano até o limite de 15% do valor venal do imóvel. Caso o imóvel
fique subutilizado, o município terá o direito de desapropriar por um preço-
-base a partir do cálculo do IPTU que se utilizará de títulos da dívida pública
para fins de pagamento.

As áreas que possuem carência nas questões de infraestrutura, ou imóveis


não utilizados, poderão atuar por uma iniciativa privada e juntamente com o
poder público, o chamado consórcio imobiliário. Se o proprietário do imóvel
não tiver condições financeiras para construir, é possível recorrer ao poder pú-
blico da sua cidade, requerendo o auxílio desse mecanismo. Assim, o imóvel
será construído pelo poder público, que repassará as unidades edificadas, que
são equivalentes ao valor da propriedade, ao dono do terreno.
Todos esses instrumentos objetivam o cumprimento da função social da
propriedade, de forma a evitar que existam terrenos vazios ou ociosos, e até
mesmo que sejam construídos em locais inapropriados.
A outorga onerosa do direito de construir, assim como o direito de superfí-
cie, pretende a separação da propriedade dos terrenos da área urbana. Após a
realização, haverá maior viabilidade de o poder público trabalhar com os mer-
cados imobiliários.
É importante ressaltar que, considerando esses instrumentos, o dono do
terreno não poderá ocupar da maneira como achar conveniente (Quadro 2).

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QUADRO 2. FÓRMULA PARA CÁLCULO DE OUTORGA ONEROSA

FÓRMULA PARA CÁLCULO DE OUTORGA ONEROSA


A contrapartida financeira (C) à outorga onerosa de potencial adicional é
definida a partir de uma fórmula. Entenda cada um dos fatores da nova fórmula:

C = (At / Ac) x V x Fs x Fp C = (At / Ac) x V x Fs x Fp

A divisão da Área de terreno (At) em O Valor do m² do terreno (V) refere-se


m², pela Área construída computável ao valor dado pelo Cadastro de Valor de
total pretendida no empreendimento Terrenos para fins de Outorga Onerosa,
(Ac), em m², permite que o cálculo divulgado pela Secretaria Municipal de
da contrapartida financeira possua Desenvolvimento Urbano.
um fator de proporcionalidade à área
construída.

Área do terreno Área construída


computável total do
empreendimento

Estimula o aproveitamento máximo O valor do m² do terreno para


do terreno: quanto mais se constrói, fins de outorga onerosa é,
mais barato se torna o custo do m² em média, aproximadamente
de outorga onerosa. 80% do valor de mercado.

C = (At / Ac) x V x Fs x Fp
C = (At / Ac) x V x Fs x Fp
O Fator de Interesse Social (Fs) é
O Fator de Planejamento (Fp) é uma variável
uma variável utilizada para dar
utilizada para dar pesos diferenciados de
pesos diferenciados de acordo com
acordo com os objetivos estratégicos das
as tipologias construtivas e os usos
Macroáreas. Tem como objetivo incentivar
das edificações.
o equilíbrio na distribuição de moradia e
Uso residencial emprego na cidade.
Habitação de Interesse
Social – HIS Fs = 0,0
Habitação de Mercado Usos residenciais Usos não residenciais
Popular – HIMP até 50 m²
Fs = 0,4
Habitação de Mercado Popular
Fs = 0,6
– HIMP de 51 m² até 70 m²
Habitação – com Fs = 0,8
área até 50 m²
Habitação – com área Fs = 0,9
de 51 m² a 70 m²
Habitação – com área Fs = 1,0
maior que 70 m²

Uso não residencial


Fs = 0,0 1.2
Uso institucional
1.0
Entidades mantenedoras Fs = 0,3 0.7 1.3
sem fins lucrativos
0.6 0.5
Outras entidades Fs = 0,7 0.3 0
mantenedoras
Fs = 1,0 Não aplicável (N/A) N/A
Outras atividades

Fonte: Prefeitura da cidade de São Paulo. Acesso em: 29/09/2020

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A definição daquilo que pode ou não ser construído é garantido pelo direito
de superifície, que define também os limites de construções tanto nos espaços
aéreos quanto subterrâneos. Nos casos em que o poder público quer preservar
os imóveis, se aplica o instrumento de transferência do direito de construir. É

Transferência do direito de construir

Área 1 Área 2

Figura 5. Tranferência do direito de construir. Fonte: SABOYA, 2008.

a existência, por exemplo, de um imóvel tombado pelo patrimônio histórico e o


dono da propriedade não tem o direito de fazer nenhuma modificação, devendo
preservar as características originais em sua totalidade. A transferência do direi-
to de construir estabele uma permissão que é ofertada ao dono do imóvel para
que ele possa vender todo o potencial construtivo para outrem (Figura 5).
As operações urbanas consorciadas consistem em apontamentos interven-
cionais, que são realizados sob o direcionamento dos responsáveis do poder
público, estando presentes empresas particulares e prestadoras dos serviços,
com o intuito de melhorar o ambiente urbano e valorizar o meio ambiente. Seu
principal objetivo é a realização das intervenções em maiores dimensões, em
que estejam presentes o poder público e o privado.
Por meio desse instrumento, o poder público seleciona uma área e, então,
pode elaborar um plano de ocupação, devendo constar diretrizes de imple-
mentação de infraestrutura, distribuição de usos, as densidades possíveis para
determinada área, assim como itens relacionados à acessibilidade. Pode-se en-
tender que é um plano com tratamento local podendo ser trabalhados elemen-
tos que são difícieis de tratar nos demais planos.

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As operações urbanas apresentam grandes características para a qualifi-
cação espacial das cidades, de forma a garantir o trabalho arquitetônico dos
espaços. Apenas o Plano Diretor e o zoneamento não são suficientes para esse
trabalho, que exige um certo nível de detalhamento.
O direito de preempção é a preferência na compra dos imóveis, que é pas-
sada para o poder público no momento da venda, e todas as áreas onde inci-
dem esse direito deverão ser predefinidas por parte da legislação municipal
para fins de regularização fundiária, realização de alguns programas sociais
projetos que possuam interesse social, desenvolvimento de espaços públicos
para lazer com área verde, entre outros.
Esse instrumento busca propiciar uma maior facilitação na aquisição de imó-
veis ao poder público, nas áreas que tenham interesse, de forma que seja pos-
sível concretizar os projetos. No caso de existir terceiros que se interessem em
comprar o imovel, o dono deverá comunicar a intenção de alienar onerosamente
o imóvel ao órgão responsável da prefeitura no período de 30 dias, contando a
partir do momento de firmado o contrato preliminar. Terminado o prazo para a
manisfetação junto à prefeitura, será facultado ao dono do imóvel alienar onero-
samente o imóvel ao interessado conforme o contrato preestabeleceu, lembran-
do que a prefeitura pode exercer seu direito de preferência (Quadro 3).

QUADRO 3. DIREITO DE PREEMPÇÃO

Direito de preempção
A Prefeitura terá preferência de aquisição dos imóveis
marcados como sujeitos ao direito de preempção, para
possuir área necessária para cumprir os objetivos e im-
plantar as ações prioritárias do Plano Diretor.

Preferência
para adquirir

Prefeitura Imóveis sujeitos ao


direito de preempção

Fonte: Prefeitura da cidade de São Paulo. Acesso em: 29/09/2020.

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Como a Lei de Uso e Ocupação do Solo pode
beneficiar a cidade?
A Lei de Uso e Ocupação do Solo pode garantir muitos benefícios e um deles
é a melhoria do transporte municipal. Essa lei orienta as demais legislações
para desenvolverem condições que disponibilizam um melhor deslocamento
na cidade (Diagrama 3). O sistema viário tem se tornado um grande aglomera-
do composto por vias e outros equipamentos que possibilitam o trânsito dos
veículos e dos pedestres.
Os sistemas de transportes buscam estruturar a cidade, assim como todo o
seu funcionamento, podendo proporcionar uma melhor circulação de veículos,
pedestres, ciclistas, portanto, indispensável para a economia do município.

DIAGRAMA 3. CAMINHOS DA LEI DE USO E OCUPAÇÃO DO SOLO


PARA UM TRANSPORTE DE QUALIDADE

Esquemas representando os caminhos da Otimizar


LUOS para um transporte de qualidade o uso e
ocupação
das zonas
E de
rel stabe os
açõ lec s eix viços
o ser
ent es fun er as ar
re ent o e os
as ciona Ori érci bairr
via is m
co nos
s

Qualidade do
transporte
A
tra rticul
xos nsp a o
flu o a o ort sist
r os gund fe e e
r a
ilib os s da v
e ia de rta d às ár ma d
Equ eícul ade Int e H eas e
ere ab c
v
de apaci
d sse itaç om
Estimular Soc ão
ac ial
o uso do
transporte
público

Fonte: Prefeitura da cidade do Rio de Janeiro. Acesso em: 29/09/2020.

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Vejamos os pontos mais importantes da Lei de Uso e Ocupação do Solo:
• Atualização e padronização de termos e conceitos, de forma a facilitar a
aplicação da lei;
• Escolha das melhores estratégias para manter a paisagem natural;
• Definição dos princípios e criação de novos para o uso nas macrozonas;
• Manter uma padronização de todo o zoneamento e dos conceitos das di-
retrizes dos terrenos;
• Definição de centros de comércio e serviços, que são vistos como impor-
tantes, partindo de critérios de facilidade de acesso de transportes que ve-
nham a gerar mais empregos e também arrecadação de impostos;
• Poderá definir novos grupamentos e estabeler medidas para uso das cal-
çadas públicas.

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Sintetizando
O desenvolvimento do Plano Diretor deve ter a participação de toda a so-
ciedade. A Secretaria de Planejamento e de Obras do município detém a res-
ponsabilidade de coordenar a elaboração do Plano Diretor, mas não exime a
participação dos demais órgãos do município.
A realização da leitura técnica é imprescindível, pois através dela é possível
realizar os apontamentos mais importantes acerca das necessidades da cida-
de, tais como questões de crescimento, problemas e soluções. Já a leitura co-
munitária contribui para que o perfil da cidade não seja contemplado apenas
pelos problemas, mas também dispondo de suas potencialidades.
Por fim, aprendemos que os instrumentos da política urbana são essenciais
para que a comunidade alcance uma ocupação ordenada e promova o melhor
uso do solo. Todos os instrumentos indicam a ocupação de áreas ideais para
determinada edificação, evitando as áreas que não apresentam a infraestrutu-
ra adequada.

LEGISLAÇÃO URBANA E PRÁTICA PROFISSIONAL 62

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Referências bibliográficas
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põe sobre a revisão e consolidação da lei orgânica do município de campos dos
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LEGISLAÇÃO URBANA E PRÁTICA PROFISSIONAL 63

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-do-direito-de-construir/>. Acesso em: 29 set. 2020.

LEGISLAÇÃO URBANA E PRÁTICA PROFISSIONAL 64

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UNIDADE

3 LEGISLAÇÕES
AMBIENTAIS
ESPECÍFICAS
E NOÇÕES DE
SUSTENTABILIDADE
URBANA

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Objetivos da unidade
Entender sobre a legislação ambiental e sua função;

Verificar a importância da legislação ambiental;

Apresentar de que forma a legislação ambiental contribui para a prevenção


dos problemas ambientais;

Compreender questões sobre sustentabilidade urbana.

Tópicos de estudo
Legislações ambientais espe- Objetivos de Desenvolvimento
cíficas Sustentável e da sustentabilidade
Lei nº 6.938/1981: dispõe sobre a urbana
Política Nacional do Meio Ambiente Cidades sustentáveis
Lei nº 9.605/1998: Lei dos Crimes
Ambientais
Lei nº 12.305/2010: institui a Polí-
tica Nacional de Resíduos Sólidos

Noções de sustentabilidade
urbana
Entendendo a sustentabilidade
e a cidade

LEGISLAÇÃO URBANA E PRÁTICA PROFISSIONAL 66

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Legislações ambientais específicas
Os diversos problemas que acometem o meio ambiente – em sua maioria
– são ocasionados por fatores naturais ou pela ação do homem. Os proble-
mas causados a partir de fatores naturais, muitas das vezes, não podem ser
medidos para saber quando acontecerão, bem como são mais difíceis de con-
trolá-los; contudo, quando são ocasionados pela ação humana, graças a toda
tecnologia existente, é possível que estes sejam evitados. Nesta unidade de
aprendizagem, você aprenderá sobre a importância da legislação ambiental e
de que forma poderá utilizar essas leis para o combate desses problemas, além
de ter uma noção das questões da sustentabilidade urbana.

Figura 1. Queimadas nas florestas. Fonte: Shutterstock. Acesso em: 12/11/2020.

A legislação ambiental brasileira – sendo uma das mais avançadas e com-


pletas do mundo – foi criada para fins de proteção ao meio ambiente e para
minimizar as consequências das ações feitas, e devem cumprir essas leis tanto
pessoas físicas como jurídicas.
Todas as leis ambientais abordam como precisa ser feita cada ação, estabe-
lecendo normas; por isso, esses itens devem ser estudados e bem entendidos.
Para vencer os problemas ambientais, é preciso que os indivíduos criem mais
responsabilidades sobre seus atos para não degradar o meio ambiente e com-
prometer a população.

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A Constituição Federal – art. 225 – (BRASIL, 2008) diz que todos possuem direi-
to a viver em um ambiente que seja ecologicamente equilibrado e onde possam
ter qualidade de vida, cabendo ao Poder Público e à coletividade o dever de pre-
servar para as gerações atuais e futuras; além disso, descreve que, para assegurar
a efetividade desse direito, compete ao Poder Público:
[...] I – preservar e restaurar os processos ecológicos essenciais e
prover o manejo ecológico das espécies e ecossistemas; II – pre-
servar a diversidade e a integridade do patrimônio genético do País
e fiscalizar as entidades dedicadas à pesquisa e manipulação de
material genético; III – definir, em todas as unidades da Federação,
espaços territoriais e seus componentes a serem especialmente
protegidos, sendo a alteração e a supressão permitidas somente
através de lei, vedada qualquer utilização que comprometa a inte-
gridade dos atributos que justifiquem sua proteção; IV – exigir, na
forma da lei, para instalação de obra ou atividade potencialmente
causadora de significativa degradação do meio ambiente, estudo
prévio de impacto ambiental, a que se dará publicidade; V – con-
trolar a produção, a comercialização e o emprego de técnicas, mé-
todos e substâncias que comportem risco para a vida, a qualidade
de vida e o meio ambiente; VI – promover a educação ambiental em
todos os níveis de ensino e a conscientização pública para a preser-
vação do meio ambiente; VII – proteger a fauna e a flora, vedadas,
na forma da lei, as práticas que coloquem em risco sua função eco-
lógica, provoquem a extinção de espécies ou submetam os animais
a crueldade (BRASIL, 2008, p. 13).
Ainda de acordo com a Constituição Federal, a pessoa que usar dos recursos
minerais terá que recuperar o meio ambiente degradado, conforme a imposição
técnica que for solicitada pelo órgão público responsável. As atitudes que forem
consideradas invasivas ao meio ambiente estarão sujeitas a punições adminis-
trativas.
A floresta amazônica e as demais áreas verdes de grande importância – como a
Mata Atlântica, Serra do Mar, Pantanal Mato-Grossense e Zona Costeira – são con-
sideradas grandes patrimônios nacionais e, para fazer a utilização destas, deve-se
seguir os parâmetros da lei que assegura sobre a preservação do meio ambiente.

LEGISLAÇÃO URBANA E PRÁTICA PROFISSIONAL 68

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Lei nº 6.938/1981: dispõe sobre a Política Nacional do
Meio Ambiente
Essa lei vem constituir o Sistema Nacional do Meio Ambiente e também
institui o cadastro de defesa ambiental. A Política Nacional do Meio Ambiente
objetiva a preservação e a recuperação da qualidade do ambiente, de modo
a proporcionar melhores condições para a vida social e econômica do País,
além de garantir segurança e proteção à vida humana, seguindo os seguintes
princípios:
I – Ações do governo para manter o equilíbrio ecológico;
II – Racionalizar o uso do solo, subsolo, água e ar;
III – Planejar e fiscalizar a forma como está sendo feito o uso dos recursos
ambientais;
IV – Proteger todos os ecossistemas;
V – Controle de atividades poluidoras;
VI – Incentivo a pesquisas que levem ao uso consciente dos recusos am-
bientais;
VII – Monitorar de toda qualidade ambiental;
VIII – Recuperar ambientes que sofreram danos ambientais;
IX – Proteção das áreas que mais estão sofrendo por degradações ambien-
tais;
X – Incluir a educação ambiental em todos os níveis do ensino para que a
comunidade acadêmica possa agir de forma participativa na defesa do meio
ambiente.
É importante que você entenda o que significa meio ambiente para conse-
guir compreender os demais parâmetros que regem essa lei. Meio ambiente
vem a ser um conjunto de diretrizes, leis e interações, sendo de ordens física,
química e biológica, que direcionam a vida em todas as suas formas.
A Política Nacional do Meio Ambiente tem em vista compatibilizar o de-
senvovlimento econômico e social em questões que envolvem a preservação
do meio ambiente e também o equilíbrio ecológico; estabelecer medidas da
qualidade ambiental para o uso dos recursos ambientais; propagação de tec-
nologias de uso ambiental; e a formação de indivíduos conscientes da neces-
sidade de preservação etc.

LEGISLAÇÃO URBANA E PRÁTICA PROFISSIONAL 69

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Dentre os instrumentos da Política Nacional do Meio Ambiente, estão:
I – Criação de padrões para ter qualidade ambiental; o zoneamento ambiental;
II – Questões que envolvem a avaliação de impactos ambientais; licenciamento
e revisão de atividades que possam poluir;
III – Incentivos à tecnologia voltados para a melhoria da qualidade ambiental;
IV – Criação de espaços que sejam protegidos pelo Poder Público Federal, Es-
tadual ou Municipal, como a Área de Proteção Ambiental (APA), Área de Relevante
Interesse Ecológico (ARIE) e Reservas Extrativistas (RESEX);
V – Sistema Nacional de Informação sobre Meio Ambiente (Sinima);
VI – Realização do cadastro técnico federal para atividades e instrumentos de
defesa ambiental;
VII – Penalidades pelo não cumprimento das diretrizes necessárias para que
seja feita a preservação ou acerto do que foi degradado;
VIII – Utilização do Relatório de Qualidade do Meio Ambiente
(RQMA);
IX – Manter a garantia de prestação de dados a res-
OBJETOS DE
peito do meio ambiente; APRENDIZAGEM
Clique aqui
X – Realização do cadastro técnico federal de ativi-
dades com grande potencial poluidor.

Lei nº 9.605/1998: Lei dos Crimes Ambientais


A Lei nº 9.605/1998 dispõe sobre questões penais a partir de ações que possam
agredir o meio ambiente. Consideram-se crimes contra a fauna as seguintes ações:
[...] Art. 29. Matar, perseguir, caçar, apanhar, utilizar espécimes da
fauna silvestre, nativos ou em rota migratória, sem a devida per-
missão, licença ou autorização da autoridade competente, ou em
desacordo com a obtida: pena – detenção de seis meses a um ano,
e multa (BRASIL, 2008, p. 240).
Consideram-se crimes contra a flora as seguintes ações:
[...] Destruir ou danificar floresta considerada de preservação per-
manente, mesmo que em formação, ou utilizá-la com infringência
das normas de proteção: pena – detenção, de um a três anos, ou
multa, ou ambas as penas cumulativamente (BRASIL, 2008, p. 242).

LEGISLAÇÃO URBANA E PRÁTICA PROFISSIONAL 70

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Muitas empresas que geram emissões atmosféricas não deveriam funcio-
nar da forma como estão, porque encontram-se degradando (aos poucos) o meio
ambiente. Dados da legislação federal, por exemplo, informam que existe uma
quantidade específica de componentes que pode ser liberada para a atmosfera.
Sendo assim, se as empresas emitirem dentro do estabelecido, não será conside-
rado crime ambiental.

Figura 2. Indústrias com grande potencial poluidor lançando toneladas de poluentes. Fonte: Shutterstock.
Acesso em: 12/10/2020.

São denominados crimes ambientais todas as formas de agressão ao meio


ambiente, como: fauna, flora, recursos naturais, assim como o patrimônio cultural;
e até ações que vão contra as normas ambientais estabelecidas, mesmo que não
venham a degradar o meio ambiente.

EXPLICANDO
A emissão atmosférica ocorre a partir do aumento do gás carbônico que oca-
siona o efeito estufa, contribuindo negativamente para que haja o aquecimen-
to global, por meio das partículas em suspensão pelo ar que são provenientes
de fontes diversas, como restos orgânicos de queimadas, fuligem de combus-
tíveis fósseis, grãos de pólen etc. Também contribuem para a poluição atmos-
férica gases como os de monóxido de carbono, dióxido de enxofre, ozônio e
metano. É comprovado que se houver grande quantidade de poluentes, estes
podem provocar fortes alterações na composição química, sendo a causa de
muitos problemas respiratórios nos ambientes urbanos.

LEGISLAÇÃO URBANA E PRÁTICA PROFISSIONAL 71

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Fontes de poluição atmosférica
Os motores a explosão dos veículos automotores são uma das fontes mais co-
muns de poluição atmosférica que liberam para o ambiente os gases CO2, CO e a
fuligem.

Figura 3. Motores a explosão. Fonte: Shutterstock. Acesso em: 12/10/2020.

Muitas pessoas que sofreram asfixia, por exemplo, pode ter sido por conta
da inalação de monóxido de carbono, que passou pelo sistema respiratório
e, depois, pela corrente sanguínea, impedindo o transporte de oxigênio pelas
células do corpo.
Outro poluente proibido – na maioria dos países – liberado pela queima de
combustíveis fósseis é o chumbo, que é produzido com a queima da gasolina
aditivada.
As indústrias siderúrgicas e as queimadas das florestas são grandes fon-
tes de poluição. Quando as indústrias utilizam o carvão mineral como fonte
geradora de energia elas acabam liberando sérios produtos tóxicos para toda
a atmosfera, como o dióxido de enxofre e o dióxido de nitrogênio, o que pode
afetar e agravar problemas no sistema respiratório, levando a casos de bron-
quite e asma. Ressalte-se que todos esses gases afetam o meio ambiente de
alguma forma.

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Formas de reduzir a poluição do ambiente
Nos dias de hoje, a maior parte das indústrias já dispõe de instalações de
filtragem e de tratamento dos gases e também de vapores expelidos. Além
disso, é realizado o controle a partir das tecnologias, de forma a garantir a
qualidade do ar.
Um programa para prevenir a poluição industrial é direcionado a vários
tipos de resíduos e caracteriza uma revisão bem ampla das ações em uma
empresa, com o intuito de reduzir os resíduos que são produzidos (KIPERS-
TOK e colaboradores, 2002).
Quando a empresa se propõe a implementar um programa de prevenção
da poluição, esta deverá se preocupar com a eficácia do programa, necessi-
tando satisfazer alguns itens (Quadro 1).

QUADRO 1. PONTOS QUE DEVERÃO CONSTAR NO PROGRAMA DE


PREVENÇÃO DA POLUIÇÃO

Comprometimento com a proteção do funcionário;

Contribuir para a redução dos custos operacionais;

Ajudar a empresa a melhorar sua imagem;

Contribuir para a redução de riscos de responsabilidade criminosa;

Comprometimento e zelo pela saúde pública;

Comprometimento com o meio ambiente.

A prevenção da poluição tem como principal objetivo a não geração de


poluentes e está ligada ao uso de matérias-primas durante todo o processo
produtivo. Essa definição está relacionada ao termo produção limpa, que va-
loriza a utilização de técnicas que pretendam o menor consumo dos recursos
naturais, assim como a diminuição dos resíduos e dos impactos ambientais.
Essa produção limpa também está conectada àquilo que envolve os va-
lores e os comportamentos de agentes econômicos e sociais. As empresas
que aderirem a produção limpa se mostrarão mais transparentes e possuirão
maior abertura das informações, realizando a publicação de relatórios que
buscam favorecer e contribuir para a melhoria dos níveis ambientais.

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OBJETOS DE
APRENDIZAGEM
Clique aqui

Energia poluente Energia limpa


Fontes finitas Fontes renováveis

Figura 4. Produção de eletricidade limpa e poluente. Fonte: Shutterstock. Acesso em: 14/10/2020.

ASSISTA
Conceitos e definições de uma produção limpa dentro de
uma indústria; para saber mais acerca do assunto, o vídeo
Aula 1 - Produção Limpa - Conceitos e Definições traz infor-
mes para que a população possa conhecer a importância de
se trabalhar com essa visão, buscando a redução do uso de
recursos naturais, redução da geração de resíduos, além de
ajudar a diminuir a poluição do ar, da água e do solo.

Lei nº 12.305/2010: institui a Política Nacional de


Resíduos Sólidos
A lei nº 12.305, de 2010, institui a Política Nacional de Resíduos Sólidos e
aborda sobre os princípios, objetivos e instrumentos, bem como as questões
que tratam da gestão integrada e do gerenciamento dos resíduos sólidos. A lei
explana, também, sobre o que é de responsabilidade de quem está gerando os
resíduos e dita acerca dos instrumentos econômicos aplicáveis.
Fazem parte da Política Nacional de Resíduos Sólidos os seguintes prin-
cípios:
I – a prevenção e a precaução;
II – o poluidor pagador e o protetor-recebedor;
III – a visão sistêmica, na gestão dos resíduos sólidos, que conside-
re as variáveis ambiental, social, cultural, econômica, tecnológica

LEGISLAÇÃO URBANA E PRÁTICA PROFISSIONAL 74

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e de saúde pública;
IV – o desenvolvimento sustentável;
V – a ecoeficiência, mediante a compatibilização entre o forne-
cimento, a preços competitivos, de bens e serviços qualificados
que satisfaçam as necessidades humanas e tragam qualidade de
vida e a redução do impacto ambiental e do consumo de recur-
sos naturais a um nível, no mínimo, equivalente à capacidade de
sustentação estimada do planeta;
VI – a cooperação entre as diferentes esferas do poder público, o
setor empresarial e demais segmentos da sociedade;
VII – a responsabilidade compartilhada pelo ciclo de vida dos
produtos;
VIII – o reconhecimento do resíduo sólido reutilizável e reciclável
como um bem econômico e de valor social, gerador de trabalho
e renda e promotor de cidadania;
IX – o respeito às diversidades locais e regionais;
X – o direito da sociedade à informação e ao controle social;
XI – a razoabilidade e a proporcionalidade(BRASIL, 2010, n.p.).
A Política Nacional de Resíduos Sólidos possui tais objetivos: proteger a saú-
de pública e a qualidade do ambiente; não gerar, reduzir, reutilizar, reciclar e
fazer o tratamento dos resíduos sólidos; estimular ideias sus-
tentáveis para produção e consumo; adesão de tecnologias
limpas, a fim de minimizar os impactos do ambiente; direcio-
nar para que a indústria realize a reciclagem etc.
Os instrumentos dessa política podem ser classificados em:
I – planos de resíduos sólidos;
II – os inventários e o sistema declaratório anual de resíduos só-
lidos;
III – a coleta seletiva, os sistemas de logística reversa e outras
ferramentas relacionadas à implementação da responsabilidade
compartilhada pelo ciclo de vida dos produtos;
IV – o incentivo à criação e ao desenvolvimento de cooperativas
ou de outras formas de associação de catadores de materiais
reutilizáveis e recicláveis;

LEGISLAÇÃO URBANA E PRÁTICA PROFISSIONAL 75

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V – o monitoramento e a fiscalização ambiental, sanitária e agro-
pecuária;
VI – a cooperação técnica e financeira entre os setores público
e privado para o desenvolvimento de pesquisas de novos pro-
dutos, métodos, processos e tecnologias de gestão, reciclagem,
reutilização, tratamento de resíduos e deposição final ambien-
talmente adequada de rejeitos(BRASIL, 2010, n.p.).
Existem muitos outros instrumentos, mas foram relacionados alguns para
fins de estudo.
Importância da criação da Política Nacional de Resíduos Sólidos
A partir da Constituição Federal de 1988, o município passou a ter mais
autonomia para lidar com assuntos de interesse local. O Ministério do Meio
Ambiente, em 2004, elaborou uma proposta para o desenvolvimento de dire-
trizes que fossem direcionadas aos resíduos sólidos em todo o País, de forma a
instituir uma Política Nacional de Resíduos Sólidos.
Mesmo sabendo que há normas que trabalham sobre a questão dos resí-
duos sólidos, por meio das resoluções do Conselho Nacional do Meio Ambiente
(CONAMA), por exemplo, ainda está decadente no País um instrumento que
fosse legal e contivesse as diretrizes aplicáveis aos resíduos sólidos, de forma a
guiar os municípios para a gestão correta desses resíduos.

Figura 5. Resíduos sólidos gerados pela população. Fonte: Shutterstock. Acesso em: 12/11/2020.

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CURIOSIDADE
O Ministério do Meio Ambiente lançou em setembro de 2020 o sistema
digital para parques urbanos; a inserção do aplicativo foi um grande marco
para a criação do programa Cidades+Verdes. Esse programa é direcionado
à gestão, ampliação, manutenção e também para recuperar as áreas verdes
nas cidades. No dia em que foi lançado, esse programa já efetuou algo bem
concreto: o Cadastro Ambiental Urbano (CAU). Tal cadastro é totalmente
digital e o CAU vem a ser um aplicativo que possui uma ficha bem detalhada
de cada área verde que está cadastrada, e são os usuários que avaliarão.

Em suma, essa nova Lei nº 12.305/2010 colabora com a organização e a for-


ma pela qual nosso País trata o lixo. Tal lei solicita que as empresas, sendo pú-
blicas ou privadas, busquem manter transparência em relação à manipulação
dos resíduos, a fim de garantir um controle preciso do que está indo para o
ambiente. É importante que o percentual que for para o ambiente esteja den-
tro do que é permitido de modo a não agredir os indivíduos e o meio ambiente.

Noções de sustentabilidade urbana


A noção de sustentabilidade urbana remete ao espaço urbano. O desen-
volvimento sustentável desencadeou vários aspectos da governança urbana,
desde a gestão de riscos e incertezas, até o aumento da “resiliência” e adapta-
bilidade das estruturas urbanas. O desenvolvimento urbano sustentável sig-
nificaria a sua distribuição em duas áreas: de um lado, aquela que privilegia
a representação técnica das cidades ao articular o conceito de desenvolvi-
mento sustentável como forma de gestão dos fluxos de energia e materiais
relacionados ao desenvolvimento urbano; por outro lado, aquela que define
o caráter insustentável das cidades causado pelo declínio da produtividade
dos investimentos urbanos.

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28
Ecologia Ecossistema Proteção
ambiental
Desenvolvimento
sustentável
Pense
verde
Conservação
da natureza
Natureza
pura
ícones

Ecologia
Tecnologia Cidade Casa de baixo Ecologia Transporte Veículo Zero Proteção
ambiental verde impacto ambiental industrial ecológico elétrico emissões ambiental

Energia Energia Energia Biocombústivel Reuse, Coleta Sacolas


renovável solar eólica reduza e recicle seletiva reutilizáveis

Terra Mudanças Aquecimento Poluição Efeito Água Estilo de vida


climáticas global estufa doce saudável

Figura 6. 28 formas de ser sustentável. Fonte: Shutterstock. Acesso em: 12/11/2020.

A sustentabilidade urbana atua com a ideia de que as cidades precisam


ser trabalhadas por meio de um sistema integrado. Por exemplo: o trans-
porte deve ser compreendido junto à política de uso da terra, levando em
consideração os dados ambientais. Em algumas partes do mundo, esse con-
ceito foi aplicado com grande efeito; não se aplica para o Brasil. Pensando no
elemento econômico, muitas cidades brasileiras estão acabando com parte
do meio ambiente; a cada dia, o ambiente é poluído e árvores são cortadas,
bem como o déficit de infraestrutura municipal no País aumenta progressi-
vamente. A população inerte é a que sofre, porque as políticas de integração
não alcançaram sua eficácia necessária.
Uma grande dificuldade encontrada nos dias
de hoje, em relação à sustentabilidade urba-
na, é fazer com que as pessoas entendam
que esse é um ponto extremamente impor-
tante, ou seja, é preciso que as instituições
de ensino criem estratégias para inserir esse
tema durante as aulas a fim de desenvolver indi-
víduos críticos e que percebam o significado e a importância
de preservar o meio ambiente.

LEGISLAÇÃO URBANA E PRÁTICA PROFISSIONAL 78

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Entendendo a sustentabilidade e a cidade
Hoje já existe uma literatura bastante ampla que busca transmitir a defini-
ção de sustentabilidade, contudo, ressalte-se que sustentabilidade e desen-
volvimento sustentável são coisas diferentes e não devem ser tratadas como
uma única coisa, nem que estão relacionadas apenas a questões de ambiente.
Os problemas do planeta afetam todas as classes sociais, abrangendo desde a
poluição do ar, aquecimento global, ecossistemas desestruturados etc.
O desenvolvimento urbano sustentável vem de reformulações políticas e
com a ajuda de várias pessoas envolvidas na produção do espaço urbano que
procuram legitimar suas perspectivas demonstrando o cumprimento dos ob-
jetivos de sustentabilidade de acordo com os princípios da Agenda 21, decor-
rentes da Conferência das Nações Unidas sobre o desenvolvimento e o meio
ambiente. Ao mesmo tempo, quando vemos que o processo está caminhando
sobre as políticas urbanas, também estamos assistindo à crescente participa-
ção do discurso da comunidade no tratamento de questões urbanas, seja por
iniciativa de indivíduos sociais da cidade que inserem a temática referente ao
meio ambiente, enfatizando a alta concentração populacional nas metrópoles,
seja pela trajetória crescente de urbanização do portfólio ambiental.

Figura 7. Cidade verde e sustentável por meio da Agenda 21. Fonte: Shutterstock. Acesso em: 27/10/2020.

A elaboração da Agenda 21 para o País surgiu da necessidade da constru-


ção de instrumentos de planejamento a fim de conseguir chegar ao desenvol-
vimento sustentável. A Agenda 21 possui vários desafios que se inserem nas
questões do planejamento, sendo direcionado à ação de forma compartilhada
e buscando propostas que objetivam a elaboração de um entendimento de
futuro entre os diferentes indivíduos envolvidos.

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De início, precisa ser criado um grupo de trabalho, em que deverão ter re-
presentantes tanto da sociedade como do governo; no caso de município, po-
derão fazer parte instituição de ensino, ONG etc. Após o grupo formado, este
terá certas atribuições como a mobilização e a disseminação do que rege a
Agenda 21, além da elaboração de uma estrutura para consulta à população
dos problemas existentes e suas soluções cabíveis, podendo também, a inser-
ção de ações sustentáveis que seriam urgentes.
Os objetivos da Agenda 21 só serão alcançados se houver uma intensa par-
ticipação da comunidade durante o processo de discussão dos temas. Precisa
haver sensibilização, capacitação e institucionalização dos processos inclusos
na Agenda 21. Cada um terá o seu papel, e o comprometimento individual é
fundamental para o sucesso.
A cidade sustentável se refere àquela que busca minimizar o consumo de
energia fóssil, pois o seu uso está relacionado a problemas ambientais e tam-
bém de outros tipos de recursos, buscando explorar bastante o que existe no
local de forma a satisfazer os itens de conservação e de contribuir para a redu-
ção dos rejeitos.
Analisando a cidade como um “sistema termodinâmico”, sendo este aber-
to, é possível identificar no urbano o locus exclusivo da produção. Partindo da
interpretação da cidade como o lugar por excelência da perda da capacidade
de converter energia em trabalho, ficaria a cargo do planejamento urbano
reduzir a perda energética e também de retardar o caminho que é irreversível
(ACSELRAD, 1999).

Figura 8. Exemplo de combustível fóssil: carvão mineral. Fonte: Shutterstock. Acesso em: 26/10/2020.

LEGISLAÇÃO URBANA E PRÁTICA PROFISSIONAL 80

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Essa representação das cidades indica para o surgimento de alguns mode-
los técnicos da cidade, fundada na racionalidade econômica.
Para reduzir o impacto das práticas urbanas, portanto, é ne-
OBJETOS DE
cessário adotar tecnologias que economizem espaço, ma- APRENDIZAGEM
Clique aqui
téria e energia e que objetivem a reciclagem de materiais.
Tal ideia é para atingir o alcance do uso racional da economia.

EXPLICANDO
A Agenda 21 pode ser explicada como sendo um instrumento do plane-
jamento a fim de propagar a construção de cidades sustentáveis, nos
diferentes espaços geográficos, de forma a conciliar as questões que
envolvem a proteção ao meio ambiente, justiça social e também eficiência
econômica. O eixo central da Agenda é a sustentabilidade e envolver a
sociedade civil e o governo de maneira participativa para tratar dos pro-
blemas ambientais, sociais e econômicos de determinado lugar.

Objetivos de Desenvolvimento Sustentável e da


sustentabilidade urbana
Existem 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) surgidos em
uma Conferência das Nações Unidas, tendo como tema o desenvolvimento sus-
tentável, ocorrida no ano de 2012 no Rio de Janeiro. O desígnio da conferência
foi criar vários objetivos que atendessem aos grandes problemas ambientais,
políticos e econômicos. Na Figura 9, é possível observar tais objetivos elencados.

Erradicação da Fome zero e Saúde e Educação de Igualdade de


pobreza agricultura bem-estar qualidade gênero
Objetivos de sustentável
Desenvolvimento
Sustentável

Água limpa e Energia limpa e Trabalho decente e Inovação Redução das Cidades e
saneamento acessível crescimento infraestrutura desigualdades comunidades
econômico sustentáveis

Consumo e Ação contra a Vida na água Vida terrestre Paz, justiça e Parcerias e meios
produção mudança global do instituições eficazes de implementação
responsáveis clima

Figura 9. 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS). Fonte: Shutterstock. Acesso em: 27/10/2020.

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Os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável buscam proporcionar quali-
dade de vida melhor para todos os habitantes, agindo de forma sustentável em
suas ações – e todos esses atos serão refletidos nas gerações presentes e futu-
ras. Ressalte-se que, para o cumprimento desses objetivos, faz-se necessária a
parceria dos governos, empresas privadas, sociedade, a ponto de garantir que
– juntos – transformaremos o planeta.
A noção de sustentabilidade urbana remete a valores que estão associados
aos discursos e aos argumentos que precisam ser compreendidos na íntegra.
Toda discussão acerca da sustentabilidade urbana vem sendo trabalhada ao re-
dor do mundo. A criação das cidades aconteceu por volta de 6000 a.C.; ao longo
dos anos, com o crescimento da produção agrícola e com o desenvolvimento
de novas ferramentas, o comércio das cidades começou a crescer, aumentando
cada vez mais o número de pessoas na área urbana.
Assim, a sustentabilidade passa a ser inserida no equilíbrio do que rege a
Triple Bottom Line. A junção desses itens proporciona ao campo científico a de-
finição do que realmente precisa ser averiguado para atingir o equilíbrio do tripé
(SOUZA, 2016).

Pessoas Planeta Lucro

Figura 10. Triple Bottom Line. Fonte: Shutterstock. Acesso em: 27/10/2020.

LEGISLAÇÃO URBANA E PRÁTICA PROFISSIONAL 82

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Para exemplificar o conceito de Triple Bottom Line, seguem as definições:
• People (pessoas): os colaboradores de uma empresa são as pessoas mais
importantes da empresa. É fundamental que os donos de corporações zelem
por seus funcionários, cuidando e oferencendo infraestruturas adequadas para
o melhor desempenho. Uma empresa sustentável tem como pilar principal “o
tratamento que sua equipe recebe” e isso envolve respeito ao funcionário e
atendimento das normas trabalhistas;
• Planet (planeta): está relacionada aos danos que os serviços de determina-
das empresas transferem ao meio ambiente e direciona para as medidas que
deverão ser providenciadas para evitar tais danos ao meio ambiente;
• Profit (lucro): quando a empresa atua pensando nas melhores medidas a
serem tomadas para seus colaboradores e para o planeta, no fim do mês, ela
terá resultados positivos. No início, os gestores tinham dificuldades para enten-
der como que um gasto poderia aumentar o lucro da empresa. A questão é:
quando a empresa investe de forma sustentável, abarcando todos esses valores,
em consequência, ela aumentará a sua produtividade e resultados.
Sabe-se que trabalhar com índices e indicadores facilitará a ope-
racionalização dos projetos relacionados à sustentabilidade. No
entanto, para que exista um aperfeiçoamento das
técnicas e tecnologias para aplicação da sustenta-
bilidade, é preciso haver pesquisas tanto teóri-
cas como práticas, por meio de investigações
dos dados, de forma a corroborar para novos
caminhos para a ciência no que tange à susten-
tabilidade urbana.

ASSISTA
Sustentabilidade e princípios do desenvolvimento sustentá-
vel. Para saber mais sobre o assunto, assista ao vídeo Aula
de geografia: desenvolvimento sustentável, princípios do
desenvolvimento sustentável, do canal “Quadro Livre”: o
conteúdo aborda o conceito de desenvolvimento sustentável
e de onde veio essa palavra, mostrando que é extremamente
importante melhorarmos as nossas atitudes e ações em prol
das gerações futuras, que – talvez – não terão as mesmas
condições que as nossas.

LEGISLAÇÃO URBANA E PRÁTICA PROFISSIONAL 83

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Agenda 2030
A Agenda 2030 foi aprovada em 2015 na Cúpula das Nações Unidas em busca
do desenvolvimento sustentável. Essa Agenda foi assinada por 193 países – e o
Brasil está incluso, no qual estabeleceu 17 objetivos e mais 169 metas que facili-
tarão o enfrentamento da fome e da pobreza.
Antes mesmo da aprovação dessa Agenda pela ONU, várias organizações na-
cionais estavam agindo proativamente para que o desenvolvimento sustentável
fosse uma premissa de modo que o Poder Público pudesse atuar, bem como a
sociedade.
Após a oficialização dos 17 objetivos, as organizações começaram a traba-
lhar com o intuito de estimular o Poder
Público para o cumprimento da Agenda
2030. A grande demanda das organiza-
ções era a de criar uma Comissão Na-
cional para os objetivos de desenvolvi-
mento sustentável. O Governo Federal,
no ano de 2016, atendeu ao pedido e,
assim, a Comissão foi criada.
Hoje, essa Comissão conta com a
participação dos representantes do go-
verno e da sociedade. Suas atribuições estão elencadas da seguinte forma: com
o objetivo de internalizar, de difundir os objetivos propostos e de trabalhar com
total transparência durante todos os atos.
Algumas das organizações que fazem parte da Comissão são: o Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e o Instituto de Pesquisa Econômica
Aplicada (Ipea). O IBGE já identificou alguns indicadores de acompanhamento da
Agenda, a partir da coleta de dados nacionais. O Ipea também já contribuiu com
a produção do relatório “Agenda 2030 - ODS – Metas Nacionais dos objetivos de
desenvolvimento sustentável”, que objetiva fazer a adequação das metas globais
à expectativa da realidade do nosso País.
Um dos conteúdos produzidos pelo Ipea são os Cadernos ODS, que trazem
análises das linhas de base por meio dos indicadores de monitoramento das me-
tas e apresentam uma avaliação dos desafios do País para implementação da
Agenda 2030.

LEGISLAÇÃO URBANA E PRÁTICA PROFISSIONAL 84

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Tanto no nosso País como no mundo, o grande desafio da Agenda 2030 é
desmistificar seus objetivos para a realidade dos municípios. Assim sendo, o
Programa Cidades Sustentáveis buscou auxiliar nessa etapa de forma que fez a
correlação dos eixos e indicadores aos 17 Objetivos de Desenvolvimento Susten-
tável e as 169 metas da Agenda da ONU.
Esse trabalho facilitou para que os indicadores ajudassem a territorializar to-
das as formulações da Agenda 2030, sobretudo, nas metas mais específicas. O
Programa Cidades Sustentáveis tem participado de forma ativa nesse processo
de difusão e de avaliação da Agenda 2030 em todo o País. Criam-se meios para
tentar municipalizar os ODS com as suas metas, contribuindo – mediante papel
importante – para a implementação da Agenda 2030 nas localidades.

Cidades sustentáveis
As cidades são grandes centros urbanos para produção e consumo, em que
formam espaços que abrangem uma grande diversidade de fatores interdepen-
dentes que se comunicam para cumprir e atender às necessidades da popula-
ção, contudo, não é frequente conseguir absorver a desordem do crescimento
urbano, visto que são vários os problemas de uma cidade que interferirão, de
alguma forma, na qualidade de vida dos indivíduos (MARTINS; CÂNDIDO, 2013).
Para que uma cidade se torne sustentável, é preciso que haja uma modifi-
cação na estrutura das políticas públicas para intervenção nas áreas urbanas,
tendo como princípio elaborar medidas a fim de corroborar com o planejamento
do desenvolvimento regional em direção à sustentabilidade. A Agenda 21 pos-
sui grande contribuição com a promoção das cidades sustentáveis, colaborando
para que exista o ordenamento do território; promova o desenvolvimento da
cidade; trabalhe no sentido de fortalecer o planejamento territorial; contribua
para a gestão e democracia da cidade e desenvolva instrumentos econômicos
para fins de ordenamento dos recursos naturais.
Conforme visto no tópico anterior, é importante a escolha dos indicadores
para balancear a execução das estratégias e projetos, de maneira que todos
possam contribuir com a realidade do local da melhor maneira, atendendo aos
critérios preestabelecidos, a fim de agregar ao desenvolvimento das cidades sus-
tentáveis e tendo todo o controle das demandas que foram colocadas em ação.

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Figura 11. Ecologia e vida verde na cidade, conceito de ambiente urbano. Um edifício em Sydney, Austrália. Fonte:
Shutterstock. Acesso em: 12/11/2020.

Os indicadores urbanos caracterizam-se por ser instrumentos para facilitar o


processo de leitura dos dados das cidades. É possível ser feita a análise dessas
leituras e verificar possíveis condições futuras que a cidade poderia ter. “Este en-
tendimento dos processos inerentes à dinâmica urbana são balizadores para o
desenvolvimento de políticas embasadas na realidade e nos objetivos próprios de
cada local e para a alocação justificada de recursos públicos” (GHENO, 2009, p. 62).
Na pesquisa de Gheno, foi verificado que existem lacunas em muitos dos
indicadores que têm o objetivo de avaliar o espaço urbano. Constatou-se que
a maioria dos sistemas de indicadores informa detalhadamente elementos dos
aspectos sociais e econômicos, mas não faz referência à forma urbana que está
vinculada. Na maioria das vezes, quando se mencionava o espaço, este era apre-
sentado apenas abordando a sua descrição para georreferenciar os indicadores
levantados.
Apesar dessa lacuna, os indicadores hoje representam importantes sistemas
que podem ser utilizados para monitorar as condições do meio urbano, visto que
indicam tendências e focam nos pontos que precisam ser melhorados, sendo
também um instrumento que agrega ao processo de planejamento, criando me-
tas e a seleção de qual ação é prioridade para uma cidade sustentável.

LEGISLAÇÃO URBANA E PRÁTICA PROFISSIONAL 86

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Objetivos de uma cidade sustentável
O grande objetivo da cidade sustentável é acabar de vez com a degradação
do meio ambiente, garantindo a existência dos recursos naturais para gerações
futuras. Verifica-se, a partir daí, a importância da existência de políticas públicas
que agem pensando no futuro.
Como temos a maior parte da população nas áreas urbanas, é exatamente na
cidade que temos os maiores problemas de poluição e também do mau uso dos
recursos naturais. Assim, os centros urbanos precisam se modificar e pensar nas
próximas gerações, de forma que seja garantido um mundo melhor para todos.
Características para que seja considerada uma cidade sustentável
Para que uma cidade seja estimada sustentável, esta deverá:
1. Direcionar de forma correta os resíduos sólidos, assim como realizar o rea-
proveitamento destes;
2. Disponibilizar de água com qualidade e com racionalidade sem esgotar os
mananciais;
3. Realizar o reaproveitamento das águas das chuvas;
4. Buscar sempre a utilização de fontes de energia renováveis;
5. Disponibilizar para a população transporte público de qualidade para que
seja a primeira opção em vez de veículos particulares que aumentam o índice de
poluição atmosférica;
6. Proporcionar meios para que haja a cultura e o lazer para a população.
A grande preocupação dos pesquisadores e gestores hoje é que ainda não
temos nenhuma cidade no mundo que seja totalmente sustentável. Isso, de fato,
é crítico, mas sabemos que algumas buscam inserir mecanismos para mudar sua
estrutura e torna-se aos poucos sustentáveis, trazendo ideias e metas de susten-
tabilidade para a realidade atual.

LEGISLAÇÃO URBANA E PRÁTICA PROFISSIONAL 87

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Sintetizando
Compreender as principais leis ambientais e suas finalidades, assim como
a importância que cada uma tem para o desenvolvimento sustentável da ci-
dade, é papel de todo cidadão. Tais leis contribuem para um melhor ordena-
mento e planejamento urbano.
Entender sobre a Agenda 21 faz com que você traga parte da responsa-
bilidade para você e comece a atuar de forma participativa e consciente, sa-
bendo que aquilo que fazemos hoje terá consequência no futuro; por isso,
devemos cuidar bem do ambiente onde vivemos.
As cidades estão crescendo cada vez mais; e se medidas não forem toma-
das, os habitantes poderão sofrer em um futuro próximo. Quantas doenças
respiratórias novas estão aparecendo e não sabemos o porquê do seu surgi-
mento. Tudo isso é graças ao grande caos que as cidades estão vivendo, em
que muito se sabe, mas pouco se faz para cuidar do meio ambiente.
É nossa tarefa, portanto, contribuir para uma cidade sustentável. Cada um
deve cumprir o seu dever, agindo de forma participativa nas ações do gover-
no local do seu município.

LEGISLAÇÃO URBANA E PRÁTICA PROFISSIONAL 88

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Referências bibliográficas
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tudos Urbanos e Regionais, [s,I.]. v. [s.I.], n° 1, maio de 1999. Disponível em:
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UNIDADE

4 CÓDIGO DE OBRAS
E NORMAS DA
ABNT REFERENTES
AO EDIFÍCIO

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Objetivos da unidade
Apresentar a definição do Código de Obras, evidenciando conceito, usos e
composição;

Abordar normas da ABNT referentes ao edifício, como a NBR 15575,


sobre desempenho das edificações, e a NBR 9050, sobre acessibilidade nas
edificações.

Tópicos de estudo
Código de Obras
Conceituação de Código de
Obras
Disposições gerais do Código
de Obras
Dados levantados em
pesquisas científicas utilizando o
Código de Obras

Normas da ABNT referentes ao


edifício
Principais normas para
construção civil
NBR 15575 e suas características
NBR 9050 e suas características

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Código de Obras
Ao iniciar um projeto, se tem a necessidade de consultar o Código de Obras
do município, para saber o que pode ou não ser construído em determinada
área. O Código de Obras é considerado um instrumento facilitador para que
a gestão municipal atue no controle e fiscalização do espaço já edificado ou
que entre para construção, avaliando, também, todo ambiente ao seu redor,
podendo garantir toda segurança necessária e boas condições de higiene das
edificações. Esse instrumento é muito importante para as prefeituras, pois
busca garantir uma melhor qualidade de vida para toda a população. Nele, são
apresentadas diretrizes integradas a outros instrumentos urbanísticos.
É importante entender a diferença de Plano Diretor e Código de Obras,
uma vez que os dois são leis. O Plano Diretor é mais geral, abarca a Lei de
Zoneamento e trata das questões do desenvolvimento urbano e sustentável
da cidade. Já no Código de Obras, são definidos parâmetros e conceitos bási-
cos de conforto ambiental, segurança, conservação de energia, salubridade e
acessibilidade, com o intuito de proporcionar uma vida melhor para todos os
indivíduos das áreas urbanas e rural. Ele é muito importante para que todos os
edifícios escolares, hospitalares e outras instituições garantam acessibilidade
universal, boa iluminação, ventilação e insolação nos cômodos.

Figura 1. Prédio comercial com rampa para acessibilidade. Fonte: Shutterstock. Acesso em: 16/11/2020.

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Cada município possui o seu Código de Obras, baseado nas demandas lo-
cais. O Código de Obras varia de lugar para lugar e possui as normas da ABNT
para todos os tipos de construção. Nele, consta como funciona todo o proce-
dimento para aprovação dos projetos, as licenças necessárias, o método para
fiscalizar a execução das obras e possíveis penalidades em caso de descumpri-
mento da lei.
Imaginando na prática, o Código de Obras envolve os cuidados com a legis-
lação urbana do município e com as normas vigentes no que tange à constru-
ção civil, devendo ser estudado e compreendido junto com o Plano Diretor, que
apresenta importantes dados como a taxa de ocupação permitida e coeficiente
de aproveitamento máximo, itens essenciais para a melhor execução do projeto.

Conceituação de Código de Obras


Para fins de entendimento do Código de Obras, no artigo primeiro do Có-
digo de Obras da cidade de Campos dos Goytacazes (RJ), por exemplo, foram
apresentadas algumas definições trabalhadas no decorrer do documento. Al-
gumas delas são apresentadas a seguir, para situar o novo vocabulário:

DICA
No Código de Obras em sua grande maioria, são apresentados quais os
profissionais estão legalmente habilitados para projetar e executar obras
dentro do Município e que estes deverão ter seus registros nos órgãos es-
pecíficos, tanto no Conselho Regional de Engenharia e Agronomia, como
no Conselho de Arquitetura e Urbanismo dos seus respectivos estados,
assim como deverão estar matriculados no Município onde assinarão
como responsáveis pelo projeto e/ou da obra.

• Acréscimo: é entendido como aumento da área da edi-


ficação tanto no alinhamento horizontal, como vertical,
sem que haja demolição;
• Afastamento: é medido pela distância existente entre duas
construções de um mesmo lote, ou entre uma construção e
suas divisas frontal, lateral e de fundos. O afastamento se en-
quadra como privativo do proprietário do terreno, podendo ser
frontal, lateral e de fundo;

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• Alicerce: É a base maciça da construção. O alicerce é capaz de suportar
toda a edificação e deve ser feito de material que suporte todas as partes
da edificação;
• Alinhamento: é uma linha paralela entre o alinhamento do lote com o
logradouro público;
• Altura da edificação: deve ser medida a partir do nível do passeio público
até a parte mais alta da edificação;
• Alvará de licença para construção: é um documento que é emitido pelo
município, informando que determinada construção pode ser iniciada;
• Alvenaria: no Brasil, a maior parte das construções são feitas de alvena-
ria, que utiliza blocos de concreto, tijolos ou pedras, rejuntados ou não com
argamassa;
• Área edificável: é o espaço do lote onde é permitido construir conforme
a legislação vigente;
• Área total da construção: essa área deve ser apresentada no quadro de
áreas que está na prancha para aprovação na prefeitura. A área total da
construção vem a ser o somatório das áreas de todos os pavimentos;
• Área útil da construção: é o somatório de todas as áreas utilizáveis de
uma construção, onde devem ser excluídas as paredes.

QUADRO 1. CONDIÇÕES PARA MATRÍCULA NO MUNICÍPIO

Requerimento do interessado;

Apresentar a carteira profissional, que foi expedida pelo órgão credenciado,


sendo o CREA ou o CAU BR;

Apresentar o comprovante de pagamento para inscrição no Município;

Obs.: Caso o profissional deixe de atuar no município e mantenha seu cadastro na


prefeitura em aberto, posteriormente ele deverá arcar com todos os custos que
foram acumulados, podendo responder em processo caso se negue a quitar as dívidas.

No Quadro 1, estão as condições específicas para a matrícula no muni-


cípio. Fica a cargo do departamento de tributação do município cancelar a
matrícula dos indivíduos que não pagarem os tributos referentes à atividade
profissional em seu respectivo exercício, podendo aplicar multas a estes cida-
dãos inadimplentes.

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Ao analisar a evolução do licenciamento edilício e fazendo uma retrospec-
tiva no tempo, não há como não citar os incêndios ocorridos no Edifício An-
draus, na tarde do dia 24 de fevereiro de 1972, e no Edifício Joelma, na manhã
de 1º de fevereiro de 1974, ambos na cidade de São Paulo e num período com
poucas normas técnicas, sem a Lei de Segurança nº 8.050/74 e nem o Código
de Obras e Edificações, Lei 8.266/75.

Figura 2. À esquerda, o Edifício Andraus e, à direita, o Edifício Joelma, depois dos incêndios. Fonte: NASCIMENTO, 2008;
NASCIMENTO, 2012.

Contudo, convém lembrar que só depois que aconteceram duas tragédias


semelhantes num curto espaço de tempo é que houve alguma ação das autori-
dades. Com o aumento da Normatização Técnica Brasileira – ABNT e da implan-
tação do Código de Obras, os problemas diminuíram de forma considerável.
Como cada município deve elaborar o seu Código de Obras, cada documento
tem um número de Lei específico, mudando de lugar para lugar.

Disposições gerais do Código de Obras


Uma construção é iniciada somente após a aprovação do projeto na prefei-
tura do município e após a liberação da licença para construir, tendo a respon-

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sabilidade do profissional cadastrado e legalmente habilitado para a função,
como informado no Código de Obras de Campos dos Goytacazes.
Ao construir em propriedade rural para fim residencial, tendo área inferior
a 200 m², desconsidera-se a exigência acima referenciada. Caso seja necessária
a realização de as built, eles devem ser feitos e entregues na prefeitura como
novos projetos, salientando que todos os projetos devem condizer com as leis
de zoneamento, uso do solo e parcelamento do solo.
Após a aprovação do projeto e a obra iniciada, havendo necessidade de rea-
lizar alguma modificação no projeto, ela deve ser comunicada junto à prefeitu-
ra, para fins de registro e verificação da conformidade com as normas. Apenas
profissionais habilitados elaboram e executam projetos para o município. A
responsabilidade dos projetos, cálculos e demais itens a serem apresentados,
cabe aos seus respectivos autores. No Quadro 2, constam algumas das infor-
mações contidas no Código de Obras e que são relevantes durante todo o pro-
cesso para início da obra.

QUADRO 2. INFORMAÇÕES SOBRE RESPONSABILIDADES NO CÓDIGO DE OBRAS

Elementos Descrição

O profissional que assina os desenhos ou é responsável por outra


Assinatura
atividade indica sua função no ato de carimbar e assinar o projeto.

No local onde for iniciada a construção, são fixadas placas dos


Placas profissionais responsáveis, devendo eles estarem quites com o
município.

Quando houver a necessidade de trocar o responsável de de-


Substituição de terminada atividade, o acontecimento é relatado na prefeitura,
Profissional informando o término da responsabilidade de um e começo das
funções do outro responsável técnico.

Construções para fins de moradia de madeira ou alvenaria, que


possuírem somente um pavimento, ficam dispensadas tanto da
Responsabilidade Técnica
assistência como da responsabilidade técnica, não necessitando de
cálculo estrutural e tendo área construída menor que 70 m².

As reformas menores, também estão dispensadas de toda exigência, sen-


do que devem se enquadrar nas categorias descritas no Quadro 3.

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QUADRO 3. CATEGORIAS PARA DISPENSA DE EXIGÊNCIAS

Categoria Descrição

I As reformas são executadas no mesmo andar da construção existente.

II A reforma não pode exigir estrutura especial.

III Em caso de reconstrução ou acréscimo, a área não deve ultrapassar 15 m².

IV A reforma é feita em construções com mais de 5 anos de conclusão.

CONTEXTUALIZANDO
As exigências são de suma importância por tornarem viáveis as constru-
ções caso elas não tenham sido planejadas conforme as normas vigentes.
Os profissionais devem ter a consciência que, a partir do momento que se
entendem as leis e passam a se seguir todas elas, os problemas diminuem
e os profissionais contribuem para que se tenha uma melhor construção
dentro dos parâmetros criados para o município.

Figura 3. Exemplo de reformas pequenas. Fonte: Shutterstock. Acesso em: 16/11/2020.

Projetos e Licenças
Para qualquer edificação, reforma ou ampliação do prédio, é necessária a apre-
sentação do projeto, indicando os elementos a serem retirados ou inseridos. Ele
deve ser assinado pelo proprietário e pelos responsáveis pela obra, devendo cons-
tar no novo processo para reaprovação do projeto os elementos vistos no Quadro 4.

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QUADRO 4. ELEMENTOS NO PROCESSO DE REAPROVAÇÃO DO PROJETO

Categoria Descrição

I Planta de situação e localização.

II Planta baixa específica de cada pavimento que não seja repetido.

III Planta de elevação das fachadas principais. Mínimo de 2 fachadas.

IV Cortes longitudinais e transversais.

V Detalhes.

VI Planta de cobertura.

Fonte: PREFEITURA MUNICIPAL DE CAMPOS DOS GOYTACAZES, 1998.

Em circunstâncias nas quais o projeto é mais complexo, é exigida a apre-


sentação dos cálculos de resistência e estabilidade, caso seja necessário para
o entendimento do projeto. Ao fazer um projeto de reforma ou até mesmo de
acréscimo, é preciso se atentar para indicar no projeto as partes a serem demo-
lidas, construídas ou preservadas de acordo com as convenções, que podem
se entender como usuais nas mais diversas cidades. Porém, é preciso atenção
para as especificações corretas de cada município. As listadas no Quadro 5 são
um exemplo de como deve ser feita a representação na cidade de Campos dos
Goytacazes (RJ).

QUADRO 5. MODELO PARA REPRESENTAÇÃO EM PROJETOS DE REFORMA OU AMPLIAÇÃO

Categoria Descrição das convenções para projeto

I Cor natural de cópia (preta) para os elementos que permanecem

II Amarelo para as partes demolidas

III Vermelho para as partes acrescidas ou novas

Fonte: PREFEITURA MUNICIPAL DE CAMPOS DOS GOYTACAZES, 1998.

Procedimentos para aprovação dos projetos


Para aprovar um projeto, o requerente apresenta, na Secretaria de Obras,
o requerimento e 4 cópias do projeto de arquitetura, compreendendo planta
baixa dos pavimentos, planta de cobertura, cortes longitudinal e transversal,
fachadas, planta de situação e localização, sabendo que o projeto está dentro

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da norma de acessibilidade a NBR 9050, conforme explicita-
do no Código de Obras e Edificações de São João da Barra
(RJ). O requerimento e as plantas entregues têm a assinatura
do proprietário e dos responsáveis pela obra. É importante se
atentar para os itens que devem compor a planta de situação:
1. A dimensão e as áreas do lote ou a projeção;
2. Os acessos ao lote;
3. Os lotes vizinhos, identificados;
4. A orientação do lote até a esquina mais próxima;
5. A projeção da edificação dentro do lote e suas cotas para entendimento
de como está a edificação dentro do lote.
A escolha das escalas para cada planta fica a critério do autor, porém, para
fins de uma melhor apresentação e facilitação da leitura, conforme o tipo de
planta, se recomenda utilizar as escalas listadas a seguir:
1. Plantas de localização – escala de 1:1.000;
2. Plantas de situação – escala de 1:500 ou 1:250 ou 1:200;
3. Plantas baixas – escala de 1:50 ou 1:75;
4. Fachadas – escala de 1:75 ou 1:50;
5. Detalhes – escala 1:25.
Dependendo da cidade, pode ser pedido que todas as folhas do projeto se-
jam autenticadas, contendo a assinatura do proprietário, do autor do projeto e
do responsável técnico, para que se submeta à aprovação. Com o projeto apro-
vado, dois jogos das cópias entregues à Secretaria de Obras são devolvidos ao
proprietário e as outras duas ficaram retidas na Prefeitura.
Embargo
O embargo é a paralisação da obra após o proprietário receber uma notifi-
cação. Os casos em que o embargo pode ser feito são:
• Obras funcionando sem alvará de licença, caso necessário;
• Descumprir o que rege o alvará ou o que foi aprovado no projeto legal;
• Não cumprir com os afastamentos listados no Código de Obras;
• Quando a obra for realizada sem a responsabilidade de um profissional
habilitado;
• Quando a obra oferecer perigo para a segurança dos profissionais;
• Quando a obra oferecer perigo para a segurança pública;

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• Quando oferecer insegurança quanto à estabilidade para a obra executa-
da e obras vizinhas;
• Quando o profissional responsável pela obra sair sem comunicar à Prefei-
tura, tiver seu registro suspenso ou agir de forma fictícia.
Se houver petição, pode ser que o embargo seja suspenso, mas somente
em casos em que os itens solicitados sejam atendidos em sua totalidade.

Dados levantados em pesquisas científicas utilizando o


Código de Obras
No trabalho de Carlo, Pereira e Lamberts, “Iluminação natural para redução
do consumo de energia de edificações de escritório aplicando propostas de
eficiência energética para o Código de Obras do Recife”, de 2004, eles levanta-
ram o tema da iluminação natural, uma grante fonte de energia renovável, que
deve ser usada para diminuir os gastos com energia elétrica vinda de sistemas
artificiais. O estudo buscou analisar o equilíbrio entre a iluminação natural e
cargas térmicas através de propostas feitas para o Código de Obras do Recife.
Segundo os autores:
[...] foram simulados protótipos de edificações comerciais no pro-
grama DOE2.1-E e de ambientes internos destas edificações no
programa Apolux. O primeiro estima o consumo de energia e o se-
gundo, os níveis internos de iluminação natural.
Nessa pesquisa foram utilizadas algumas variáveis. Para Carlo, Pereira e
Lamberts:
[...] Foram utilizadas como variáveis as propriedades térmicas e óti-
cas de janelas da envoltória propostas e de algumas exigências de
controle de liga/desliga para o sistema de iluminação artificial. O re-
sultado final indicou o desempenho luminoso do ambiente interno
face a alguns limites da proposta para o Código de Obras do Recife
e um potencial de redução no consumo de energia em edificações
de escritórios, que variou de 9% a 21%. Indicou também que as es-
pecificações da proposta não isentam arquitetos e engenheiros de
projetar, visando uma edificação com qualidade ambiental, tanto
sobre o enfoque do conforto, como da economia de energia.

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Na categoria municipal, os mesmos
pesquisadores propuseram para a ci-
dade do Recife, capital de Pernambuco,
no ano de 2003, que fossem incluídos
quesitos para proporcionar mais efi-
ciência energética no Código de Obras.
A proposta consistia em apontar vários
parâmetros que estivessem ligados
com à eficiência energética da cons-
trução, como os limites das condições
térmicas e os requisitos envolvendo os sistemas que consomem energia, como
a iluminação artificial e aquecimento da água. Para Carlo, Pereira e Lamberts:
[...] Uma edificação energeticamente eficiente deve proporcionar
um nível adequado de iluminação que permita reduzir ou que
substitua o uso da iluminação artificial. No entanto, esta estratégia
visando a eficiência gera um conflito, com o objetivo de reduzir os
ganhos térmicos provenientes da radiação solar, principalmente
em regiões de clima tropical. Para ser energeticamente eficiente,
então, a edificação deve proporcionar um balanço entre a ilumina-
ção natural e os ganhos térmicos nos ambientes internos. Dados os
parâmetros limite para o Código de Obras Municipal, observou-se
uma tendência em reduzir a carga térmica ocasionando um baixo
potencial de uso da iluminação natural nos ambientes internos da
edificação devido às propriedades óticas dos vidros especificados.
A pesquisa de Carlo, Pereira e Lamberts buscou avaliar as condicionantes da
iluminação natural assim como o potencial para redução do consumo de ener-
gia elétrica das construções, de forma que fossem aplicadas as diretrizes defi-
nidas para a proposta no Código de Obras. Já na monografia de Silva, “Idosos
e ambientes reduzidos: o design de interiores em uma cozinha de dimensões
mínimas permitidas pelo Código de Obras e Edificações da cidade de Carua-
ru – PE”, defendida em 2014, o objetivo foi o desenvolvimento de mobiliários
e ambientação para cozinha a partir das dimensões mínimas permitidas pelo
Código de Obras e Edificações da cidade, com foco para a utilização dos ido-
sos. A escolha do ambiente “cozinha” se deu pelo fato de ser o ambiente mais

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utilizado por todos durante essa faixa etária. O grande desafio foi trabalhar a
ergonomia com dimensões mínimas exigidas, a ponto de haver boa circulação
e acesso aos equipamentos.

Figura 4. Exemplo de uma cozinha pequena. Fonte: Shutterstock. Acesso em: 16/11/2020.

Para fins de cumprimento com o objetivo proposto na monografia, Silva ela-


borou um projeto adequado ao uso por pessoas idosas, dado que esse perfil
que apresenta dificuldades de locomoção, carecendo de um espaço com mais
autonomia e liberdade para as atividades diárias. No início da década de 1920,
surgiram novos modelos para moradias no Brasil e que foi rejeitado por mui-
tos: os edifícios de apartamentos, constituídos por vários pavimentos e unida-
des por andar, lembrando o cortiço, um modelo verticalizado já conhecido. A
evolução das cozinhas residenciais começa a se destacar pela função do espa-
ço na casa, visto que é nesse ambiente que as pessoas passam boa parte do
tempo, sendo um ambiente para alimentação e socialização.

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Figura 5. Exemplo de cortiço. Fonte: Shutterstock. Acesso em: 16/11/2020.

O Código de Obras também conta com o objetivo de criar normas técnicas


para execução de diversos tipos de construções. Todavia, para a sua elabora-
ção o município leva em conta as características do local, os problemas já apre-
sentados e a realidade de moradia para atender as classes sociais mais baixas,
visto que essas pessoas não possuem condição para comprar um apartamento
maior ou de construir casas mais amplas, se aglomerando em cortiços ou ha-
bitações coletivas. Independentemente de ter dinheiro ou não, é preciso que
exista uma base sólida para o construtor especificar as medidas mínimas para
que cada cômodo seja acessível para todos os públicos, da criança ao idoso.
Silva, antes de propor o projeto da cozinha em sua monografia, verificou o
Código de Obras da cidade de Caruaru e averiguou as medidas mínimas. Neste
caso, a cozinha deve ter uma área mínima de 4,00 m² e deve dar para traçar
um círculo de raio mínimo de 0,80 m, além de ter o pé-direito mínimo de 2,60
m. Com a ideia de propor um design de interiores para a cozinha de forma que
ela fique mais acessível para os idosos, se utilizaram três metodologias para o
embasamento dessas definições: Associação Brasileira de Design de Interiores
e Arquitetura, a de Miriam Gurgel, Ching e Binggeli.
O papel do Arquiteto é ir além do que está estabelecido como mínimo no
Código de Obras e colocar desafios para si mesmo a ponto de trazer a melhor
solução para seu futuro cliente. O mínimo já é sabido, então, como fazer desse

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mínimo algo que fique bom e que atenda a clientela? Primeiro, é preciso identi-
ficar o problema e saber quais são as reais necessidades do cliente, cujas res-
postas podem ser obtidas a partir de um questionário enviado de forma virtual
ou presencial. É importante saber quais os primeiros objetivos atendidos e as
exigências de funcionabilidade, verificando tudo que existe no espaço, o que se
almeja com o projeto e o que é possível de se concretizar.
Para projetar, é vital ter uma visão crítica para alternativas possíveis, relacio-
nando-as com os objetivos a serem atingidos até chegar numa solução final. Silva
realizou o projeto de uma cozinha pequena e com boa circulação. O objetivo da
apresentação desses dois artigos foi para explicar que a pessoa profissional de
arquitetura, ao analisar o Código de Obras da cidade em que se realiza o projeto,
deve ir além do que está prescrito, não distorcendo o que já está estabelecido,
mas buscando alternativas que complementem com o que já existe e quem sabe
de propor soluções de ajustes e melhorias no Código de Obras.

Normas da ABNT referentes ao edifício


As normas da ABNT buscam implantar determinantes de qualidade, melho-
rar desempenho e a segurança de todos os trabalhadores nas diversas áreas. As
normas específicas para construção civil proporcionam informações importan-
tes sobre a medição de determinados elementos, além de trazer métodos para
atividades específicas. Quando seguidas as normas da ABNT, acidentes são evi-
tados, há mais segurança e qualidade nos serviços, sem contar que a empresa
passa a ser vista com outros olhos, devido ao zelo e aos cuidados tomados.

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A ABNT é a Associação Brasileira de Normas Técnicas.
Para saber mais, o vídeo Importância das Normas ABNT e
NBR para Construção Civil traz dicas para que você possa
entender como deverão ser utilizadas na construção civil
e também quais os principais tipos de normas técnicas.

É válida a compreensão entre o conceito de Norma Regulamentadora (NR) e


de Norma Brasileira (NBR) para posterior entendimento da ABNT. Existem pon-
tos característicos que diferenciam uma NR de uma NBR. As Normas Regulamen-

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tadoras, criadas pelo Ministério do Trabalho, são obrigatórias e podem gerar em-
bargos, multas e penalidades, sendo direcionadas para questões que envolvam
a segurança e a medicina do trabalho. Até o momento, há 36 NRs com diretrizes
para os quesitos relacionados a segurança e saúde dos trabalhadores.
As Normas Brasileiras foram criadas pelas Associação Brasileira de Normas
Técnicas (ABNT). Mesmo sendo uma entidade privada, ela não visa lucro e, por
esse motivo, todos os critérios listados por ela não são exigidos. Caso a empre-
sa opte por seguir a ABNT e receba as devidas certificações, a empresa melho-
ra a sua reputação e possibilita maior segurança para a execução dos métodos
e procedimentos. Num entendimento macro, as NBRs buscam direcionar os
profissionais da área da construção civil sobre o uso correto dos produtos e a
forma correta de executar os processos, além de contribuir para a melhoria da
qualidade das obras minimizando os erros e demais problemas em suas diver-
sas etapas de construção.

Principais normas para construção civil


Para quem é da área da construção civil, utilizar as normas da ABNT,
bem como respeitar e conhecer todas elas, é de suma importância por
garantir a qualidade e proporcionar maior segurança dentro de uma obra,
além de evitar que a obra receba multa atrás de multa. Seguir as normas,
portanto, traz benefícios como diminuição do tempo de trabalho e atendi-
mento aos prazos descritos no cronograma de obra. A seguir, estão lista-
das as principais normas na construção civil:
• NR 4: fala dos serviços que envolvem o âmbito da Engenharia de Segu-
rança e Medicina do Trabalho, buscando promover a saúde e a integridade
dos colaboradores no ambiente em que executam suas atividades. Essa
norma possui algumas exigências e uma delas faz relação com a questão
da habilitação e registro dos profissionais em determinado serviço, como o
médico e o enfermeiro do trabalho, os arquitetos, técnicos e engenheiros;
• NR 6: trata da forma como são utilizados os equipamentos de proteção
individual no ambiente de trabalho. Cada equipamento deve ser utilizado
conforme os riscos apresentados para determinada tarefa, de maneira que
proporcione ao trabalhador a segurança necessária para exercer a ativi-

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dade. O grande objetivo da NR6 é contribuir para que não haja acidentes
no ambiente de trabalho. Assim, a norma estabelece algumas regras para
que seja garantida a saúde do trabalhador, protegendo-os das doenças
ocupacionais;
• NR 7: impõe uma regra em que todas as empresas devem criar e in-
serir o Programa de Controle Médico de Saúde Ocupacional (PCMSO), que
visa contribuir para a preservação da saúde dos colaboradores da cons-
trução civil ao diagnosticar possíveis doenças relacionadas ao trabalho,
devendo tomar algumas atitudes para que tais doenças sejam evitadas;
• NR 8: desenvolve diretrizes no âmbito administrativo, organizacional e
de planejamento. Seu objetivo é implementar sistemas para controlar e pre-
venir acidentes no ambiente de trabalho da construção civil. A norma estabe-
lece um ponto importante sobre a qualificação dos colaboradores envolvidos
nas etapas da obra, como na operação dos equipamentos, na manutenção,
entre outros. Estando preparados, os trabalhadores agem de forma conscien-
te e com todas as medidas de proteção necessárias para a segurança;
• NR 35: trata dos quesitos de segurança para proteger os colaboradores
que exercem trabalhos em altura e envolve todo o planejamento e execu-
ção. Ela contribui para a proteção da saúde dos colaboradores ao disponibi-
lizar de segurança e equipamentos para as diversas atividades realizadas a
partir de dois metros de altura do nível do chão;
• NBR 6136: é uma norma regula-
mentadora da construção civil. Ela dá
parâmetros para a produção e aceita-
ção dos blocos de concreto vazados
para a realização da alvenaria estru-
tural. A norma também estabelece
os melhores blocos em cada caso es-
pecífico. Os blocos possuem uma de-
terminada classe e a norma identifica
exatamente o melhor uso para cada
classe. A classe AE de blocos pode ser
usada nas paredes externas, expos-
Figura 6. Exemplo de bloco de concreto vazado. Fon-
tas as intempéries; te: Shutterstock. Acesso em: 16/11/2020.

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• NBR 8949: explica como deve ser feito o preparo e o ensaio das paredes
estruturais levadas à compressão, podendo ser feitas de blocos de concreto,
material cerâmico ou até mesmo de tijolos;
• NBR 12118: estabelece alguns métodos para ensaio para facilitar a aná-
lise dos blocos vazados de concreto. Existem vários aspectos que são anali-
sados, como a análise do tamanho do bloco, aderência de água, o quanto o
bloco resiste à compressão, entre outros fatores;
• NBR 13531: lista as atividades exigidas para a execução de um projeto
de um edifício. Ela possui uma norma complementar, a NBR 13532, que apre-
senta as condições essenciais para que possam ser elaborados projetos de
arquitetura;
• NBR 15575: foi a primeira norma a apresentar em específico a qualidade
dos produtos para a construção civil, e também da forma como utilizar pelos
seus consumidores. É considerada como uma norma que indica o desempe-
nho da edificação, que leva a uma certificação de excelência.

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Todo produto deve se calcar numa norma para que possa
seguir os seus desempenhos mínimos. Para saber mais,
o vídeo É obrigatório! Entenda a Norma de Desempenho
de Edificações Habitacionais (NBR 15575) traz dicas para
entender a importância de seguir as NBRs para qualquer
produto, além de informações, para os profissionais arqui-
tetos, engenheiros e para as construtoras, dos critérios
mínimos para edificações habitacionais.

NBR 15575 e suas características


No ano de 2000, se iniciaram os primeiros estudos sobre a Norma de De-
sempenho, através do incentivo da Caixa Econômica Federal e de uma financia-
dora de Estudos, a Finep. Em 2007, saiu a primeira edição da NBR 15575 para
consulta. Sua publicação definitiva aconteceu em 2013, representando um
grande avanço para a sociedade e para o mercado imobiliário e habitacional.
Dentro da NBR 15575, há um amplo material com conteúdo de normas já
existentes no âmbito da construção civil. A norma de desempenho demonstra
grande preocupação com a vida útil, o desempenho, a eficiência, a sustentabi-

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lidade e a manutenção das edificações. Em suma, ela garante
que há um fator de qualidade entregue aos futuros compra-
dores das edificações. A norma de desempenho foi elabora-
da com base nos elementos do edifício, tomando como base os
parâmetros de implantação e as exigências dos compradores. Tais
exigências são atendidas de forma que possibilite a segurança, habitabilidade
e sustentabilidade, envolvendo alguns quesitos. A segurança envolve os se-
guintes itens:
• Segurança estrutural;
• Segurança contra o fogo;
• Segurança no uso e na operação.
A habitabilidade envolve os seguintes itens:
• Estanqueidade;
• Desempenho térmico;
• Desempenho acústico;
• Desempenho lumínico;
• Saúde, higiene e qualidade do ar;
• Funcionalidade e acessibilidade;
• Conforto tátil e antropodinâmico.
A sustentabilidade envolve os seguintes itens:
• Durabilidade;
• Manutenibilidade;
• Impacto ambiental.
Vida útil do projeto
De acordo com a NBR 15575, cabe ao projetista estabelecer a vida útil do
projeto de cada etapa que compõe a construção, devendo especificar os ma-
teriais utilizados, os produtos indicados e a forma de execução que atenda ao
desempenho mínimo da norma. Caso o fabricante não deixe claro a norma es-
pecífica para utilização de determinado produto ou quando não existir normas
específicas, é viável que o projetista entre em contato com o fabricante e solici-
te maiores informações para embasar as tomadas de decisões para utilização
de um determinado item.
O construtor deve se precaver para que não haja nenhuma interferência
na obra e elaborar um manual de uso, operação e manutenção, caso identi-

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fique que pode ter algum tipo de risco durante a obra, como a presença de
aterro sanitário na área da construção, algum tipo de contaminação do lençol
freático, entre outros riscos. O usuário deve realizar a manutenção correta,
de acordo com o manual de uso, operação e manutenção, não podendo reali-
zar alterações que venham a prejudicar o desempenho conforme especificado
pela construtora.
Avaliação de desempenho
O grande desafio da avaliação em busca do melhor desempenho é da ade-
quação ao uso de um sistema destinado a atender a uma determinada função
em específico, seja qual for a solução técnica trabalhada. Para que o objetivo
seja alcançado, durante a avaliação de desempenho, é feita uma investigação
sistemática, com fundamentos em métodos precisos, capazes de produzir um
entendimento sobre o comportamento almejado do sistema conforme as con-
dições e usos predefinidas. Por isso, a avaliação requer o domínio do conheci-
mento científico em relação a cada aspecto funcional de uma edificação. O do-
cumento que contém toda a avaliação de desempenho deve apresentar dados
que caracterizam a edificação habitacional de alguma forma. Já com todos os
resultados em mãos, é elaborado um documento para avaliação do desempe-
nho que esteja pautado na NBR 15575.
Durabilidade da Edificação
Toda edificação possui um tempo em que permanece com suas caracterís-
ticas impecáveis. Porém, sem as devidas manutenções de tempos em tempos,
a estrutura da edificação se compromete. Os projetistas e os construtores têm
responsabilidades na parte teórica em relação à vida útil de projeto, validada
através do atendimento às normas e, caso estas não existam, podem ser se-
guidas as Normas Internacionais e até mesmo as regionais. A durabilidade de
um edifício e dos seus sistemas é um requisito que se refere a parte econômica
dos respectivos usuários, pois está interligada ao custo global do bem imóvel.
Conforme a página 31 da NBR 15575:
[...] a durabilidade de um produto se extingue quando ele deixa
de atender às funções que lhe forem atribuídas, quer seja pela
degradação que o conduz a um estado insatisfatório de desempe-
nho, quer seja por obsolescência funcional. O período de tempo
compreendido entre o início de operação ou uso de um produto

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e o momento em que o seu desempenho deixa de atender aos
requisitos do usuário preestabelecidos, é denominado vida útil.
No Anexo C, é feita uma análise mais abrangente dos conceitos re-
lacionados com a durabilidade e a vida útil, face à importância que
representam para o desempenho do edifício e seus sistemas [...].

NBR 9050 e suas características


A NBR 9050 trata de questões que envolvam acessibilidade, mobiliário, es-
paços e equipamentos urbanos nas edificações, estabelecendo critérios quan-
to a construção, instalação e adaptação das edificações e de todos os espaço
e equipamentos urbanos de forma a torná-los acessíveis para todos. A norma
apresenta algumas definições importantes para o seu melhor entendimento:
• Acessibilidade: possibilidade para ter acesso e alcançar com segurança e
autonomia todos os espaços da edificação, assim como os mobiliários, equipa-
mentos urbanos e demais itens;
• Acessível: todos os elementos que possam ser alcançados, utilizados e
vivenciados por qualquer indivíduo, considerando as pessoas com mobilidade
reduzida. Quando se fala em “acessível”, isso quer dizer que o espaço físico e de
comunicação devem ter acessos livres, sem interrupções;
• Adaptável: espaço da edificação que pode se tornar acessível;
• Adaptado: espaço da edificação planejado para ser acessível;
• Área de aproximação: área sem obstáculos, de forma que uma pessoa
que utiliza a cadeira de rodas consiga realizar as manobras necessárias para
utilizar determinado mobiliário com total autonomia e segurança;
• Área de resgate: nessa área, deve haver um acesso conduzindo para al-
guma saída, mantendo em segurança os indivíduos com alguma deficiência ou
com mobilidade reduzida. Nesse espaço, eles ficam até o socorro chegar.
O tema da acessibilidade na construção civil é bastante discutido,
a tal ponto que a grande preocupação das construtoras é ter
como meta a construção de empreendimentos adaptados
aos portadores de alguma deficiência. Vale lembrar que
a acessibilidade na construção em geral não se fixa ape-
nas em criar rampas e vai muito além disso, envolvendo o

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uso dos equipamentos comum para todos, os demais acessos de lazer, leitura
visual, etc. A cada ano, as barreiras arquitetônicas estão sendo compreendidas
e atendidas como parâmetro para a aprovação de qualquer projeto na Prefei-
tura. Dessa forma, se respeitam as diferenças e se torna acessível o que é de
direito do usuário é o grande papel do arquiteto.
Além disso, há diretrizes do Desenho Universal, criadas nos EUA, que são
direcionadas para a eliminação de todas as barreiras nas edificações em seus
mais variados usos, com o objetivo de respeitar a todos, independentemente
de suas diferenças físicas e garantindo total acessibilidade em todos os lugares
e espaços.

Figura 7. Acessibilidade na edificação. Fonte: Shutterstock. Acesso em: 16/11/2020.

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Sintetizando
Utilizar as Normas Brasileiras e as Normas Regulamentadoras traz gran-
des benefícios para um determinado empreendimento, contribuindo para o
uso de materiais normatizados e garantindo que a obra tenha a qualidade es-
perada conforme as diretrizes das normas da construção civil. Ao cumprir as
NBRs, se contribui para o aumento da produtividade na obra e para a redução
dos custos dos projetos e de todos materiais, além de possibilitar que haja
maior competitividade, melhor aproveitamento dos materiais e uma entrega
de qualidade.
As normas ABNT direcionadas para a construção civil estão sempre sendo
atualizadas. Por isso, é importante se atentar às atualizações. A questão do
desenho universal para os empreendimentos faz com que todas as pessoas,
em suas diversas dificuldades, consigam usar o espaço com autonomia. Todo
o espaço tem que estar adaptado para utilização desde uma criança até de
um idoso, garantindo total mobilidade.
Apesar das regras de acessibilidade se repetirem em sua maior parte, é
preciso prestar atenção para construções como escolas, hospitais e outros
tipos, pois podem requerer outros critérios de acessibilidade. Conforme vis-
to, o Código de Obras é um instrumento que facilita com que a Gestão do
Município exerça o controle e a fiscalização do espaço a ser construído, de
forma a garantir segurança, salubridade e que as edificações cumpram com
as normas de acessibilidade, conforme delimitadas em seus projetos.

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PREFEITURA MUNICIPAL DE CAMPOS DOS GOYTACAZES. Lei nº 6.692, de 27
de novembro de 1998. Dispondo sobre o Novo Código de Obras do município,
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Gabinete do Prefeito, 27 nov. 1998. Disponível em: <https://leismunicipais.com.
br/a1/codigo-de-obras-campos-dos-goytacazes-rj>. Acesso em: 16 nov. 2020.
PREFEITURA MUNICIPAL DE SÃO JOÃO DA BARRA. Lei nº 466, de 15 de agosto
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da Barra: Gabinete do Prefeito Disponível em: <http://www.sjb.rj.gov.br/do-
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C3%87%C3%95ES%20DO%20MUNIC%C3%8DPIO%20DE%20S%C3%83O%20
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