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ANATOMIA HUMANA ANATOMIA HUMANA

Anatomia Humana
Bruno da Silva Gonçalves Bruno da Silva Gonçalves

É com entusiasmo que apresentamos a disciplina de Anatomia Humana, na confiança de


estarmos auxiliando em sua formação acadêmica e, assim, criando possibilidades para
um melhor desempenho profissional.
Ao longo dessa disciplina, será iniciado o estudo do corpo humano e a compreensão dos
princípios imprescindíveis de anatomia, introduzindo você aos vários sistemas que com-
põem o nosso organismo e como eles cooperam entre si para manter a saúde do corpo.
Além disso, será evidenciado como cada estrutura do corpo desempenha uma função
específica e como sua interação com outras estruturas determina sua função.
É válido lembrar que o estudo de anatomia não se configura apenas como apresentação
de fatos. Embora a anatomia humana seja uma ciência relativamente estática, o co-
nhecimento vem avançando nos campos relacionados a esse estudo com o surgimento
de novas tecnologias e formas de compreender as funções orgânicas. Compartilhamos
com você esses avanços, os quais visam melhorar as condições de saúde humana.
No empenho de oferecer um conteúdo de qualidade, preparamos esse material didático
para impulsionar seu entendimento, pensamento crítico e preocupação com as ques-
tões relacionadas à saúde. Sendo uma ciência visual, combinamos a apresentação de
diversos recursos visuais e textos didáticos com linguagem clara e acessível. Espera-
mos que permita uma maior compreensão da temática, garantindo uma aprendizagem

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significativa.

gente criando o futuro

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Presidente do Conselho de Administração Janguiê Diniz

Diretor-presidente Jânyo Diniz

Diretoria Executiva de Ensino Adriano Azevedo

Diretoria Executiva de Serviços Corporativos Joaldo Diniz

Diretoria de Ensino a Distância Enzo Moreira

Autoria Bruno da Silva Gonçalves

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ASSISTA
Indicação de filmes, vídeos ou similares que trazem informações comple-
mentares ou aprofundadas sobre o conteúdo estudado.

CITANDO
Dados essenciais e pertinentes sobre a vida de uma determinada pessoa
relevante para o estudo do conteúdo abordado.

CONTEXTUALIZANDO
Dados que retratam onde e quando aconteceu determinado fato;
demonstra-se a situação histórica do assunto.

CURIOSIDADE
Informação que revela algo desconhecido e interessante sobre o assunto
tratado.

DICA
Um detalhe específico da informação, um breve conselho, um alerta, uma
informação privilegiada sobre o conteúdo trabalhado.

EXEMPLIFICANDO
Informação que retrata de forma objetiva determinado assunto.

EXPLICANDO
Explicação, elucidação sobre uma palavra ou expressão específica da
área de conhecimento trabalhada.

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Sumário

Unidade 1 - Introdução ao corpo humano e ao sistema esquelético


Objetivos da unidade............................................................................................................ 13

Conceito de anatomia e considerações gerais .............................................................. 14


História da anatomia........................................................................................................ 14
Terminologia anatômica básica..................................................................................... 16

Anomalia e monstruosidade............................................................................................... 16
Anomalia e monstruosidade........................................................................................... 17
Fatores gerais de variação anatômica......................................................................... 17

Posição, planos e eixos anatômicos: termos anatômicos............................................ 19


Termos de posição e direção......................................................................................... 22

Abordagens anatômicas e divisão do corpo humano ................................................... 23

Conceito e funções do esqueleto....................................................................................... 26


Funções do esqueleto...................................................................................................... 26

Tipo e divisão do esqueleto................................................................................................. 27


Esqueleto axial.................................................................................................................. 28
Esqueleto apendicular..................................................................................................... 30

Número e classificação dos ossos ................................................................................... 31


Anatomia dos ossos......................................................................................................... 32

Principais acidentes ósseos do esqueleto axial e do esqueleto apendicular..................33

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Sumário

Sistema articular: conceito e classificação das articulações.................................... 36


Articulação fibrosa........................................................................................................... 36
Articulação cartilaginosa................................................................................................ 37

Articulações sinoviais, planos e eixos de movimentos, principais ligamentos ������ 38

Sintetizando............................................................................................................................ 44
Referências bibliográficas.................................................................................................. 46

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Sumário

Unidade 2 - Sistema muscular e sistema nervoso


Objetivos da unidade............................................................................................................ 48

Sistema muscular: conceitos, funções e grupos musculares...................................... 49


Funções do sistema muscular........................................................................................ 50
Grupos musculares.......................................................................................................... 51
Classificação dos músculos........................................................................................... 52
Anexos do sistema muscular......................................................................................... 54

Tipos de músculo................................................................................................................... 54

Tipos de contração muscular.............................................................................................. 56

Fibra muscular....................................................................................................................... 57

Tecido conjuntivo.................................................................................................................. 61

Sistema nervoso: conceito e divisão do sistema nervoso............................................ 62


Funções do sistema nervoso.......................................................................................... 62
Divisão do sistema nervoso............................................................................................ 63

Sistema nervoso central...................................................................................................... 64


Medula espinhal............................................................................................................... 65
Encéfalo............................................................................................................................. 66

Tecido nervoso....................................................................................................................... 70
Neuróglias......................................................................................................................... 70
Neurônios.......................................................................................................................... 71
Meninges/ líquor e vascularização............................................................................... 73

Sistema nervoso periférico................................................................................................. 75

Sintetizando............................................................................................................................ 79
Referências bibliográficas.................................................................................................. 81

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Sumário

Unidade 3 - Sistema cardiovascular, sistema respiratório e sistema digestório


Objetivos da unidade............................................................................................................ 83

Sistema cardiovascular: conceito e divisão.................................................................... 84


Coração, circulação e tipo de circulação sanguínea................................................ 86
Artérias e veias, capilares sanguíneos, sistema linfático, baço e timo.................. 89

Sistema respiratório: conceito e divisão.......................................................................... 93


Nariz, cavidade nasal e seios paranasais, faringe, laringe, traqueia, brônquios,
pleura e pulmões.............................................................................................................. 95

Sistema digestório: conceito e divisão........................................................................... 101


Funções do sistema digestório.................................................................................... 103
Órgãos anexos ao sistema digestório......................................................................... 110

Sintetizando.......................................................................................................................... 115
Referências bibliográficas................................................................................................ 117

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Sumário

Unidade 4 - Sistemas urinário, reprodutor, endócrino e tegumentar


Objetivos da unidade.......................................................................................................... 119

Sistema urinário e sistema reprodutor........................................................................... 120


Órgãos do sistema urinário........................................................................................... 122
Vias urinárias.................................................................................................................. 124
Órgãos genitais masculinos......................................................................................... 126
Órgãos genitais femininos............................................................................................ 131

Sistema endócrino.............................................................................................................. 136


Classificação topográfica das glândulas endócrinas.............................................. 137
Outras estruturas endócrinas...................................................................................... 143

Sistema tegumentar............................................................................................................ 144


Funções do sistema tegumentar.................................................................................. 144
Pele................................................................................................................................... 145
Anexos do sistema tegumentar................................................................................... 147

Sintetizando.......................................................................................................................... 150
Referências bibliográficas................................................................................................ 152

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Apresentação

Caro(a)s estudantes,
É com entusiasmo que apresentamos a disciplina de Anatomia Humana, na
confiança de estarmos auxiliando em sua formação acadêmica e, assim, crian-
do possibilidades para um melhor desempenho profissional.
Ao longo dessa disciplina, será iniciado o estudo do corpo humano e a com-
preensão dos princípios imprescindíveis de anatomia, introduzindo você aos
vários sistemas que compõem o nosso organismo e como eles cooperam en-
tre si para manter a saúde do corpo. Além disso, será evidenciado como cada
estrutura do corpo desempenha uma função específica e como sua interação
com outras estruturas determina sua função.
É válido lembrar que o estudo de anatomia não se configura apenas como
apresentação de fatos. Embora a anatomia humana seja uma ciência relativa-
mente estática, o conhecimento vem avançando nos campos relacionados a
esse estudo com o surgimento de novas tecnologias e formas de compreender
as funções orgânicas. Compartilhamos com você esses avanços, os quais visam
melhorar as condições de saúde humana.
No empenho de oferecer um conteúdo de qualidade, preparamos esse ma-
terial didático para impulsionar seu entendimento, pensamento crítico e preo-
cupação com as questões relacionadas à saúde. Sendo uma ciência visual, com-
binamos a apresentação de diversos recursos visuais e textos didáticos com
linguagem clara e acessível. Esperamos que permita uma maior compreensão
da temática, garantindo uma aprendizagem significativa.
Bons estudos!

ANATOMIA HUMANA 10

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O autor

O professor Bruno da Silva Gonçal-


ves é doutor em Biociências pela Uni-
versidade do Estado do Rio de Janeiro
- UERJ (2020) e possui mestrado em
Fisiopatologia Clínica e Experimental
pela Universidade do Estado do Rio de
Janeiro - UERJ (2015). É graduado em
Ciências Biológicas – Bacharel Biomé-
dico (2013) e possui Licenciatura (2012)
pela Universidade do Estado do Rio de
Janeiro - UERJ.
Tem experiência em Fisiologia, atuando
principalmente nos seguintes temas:
neurofisiologia, toxicologia, drogas de
abuso, alterações comportamentais e
desenvolvimento do sistema nervoso.

Currículo Lattes:
http://lattes.cnpq.br/1519937479877027

Este material é dedicado àquele que, embora anônimo, é fundamental para


a anatomia e contribui na formação de todos os profissionais da área da
saúde: o cadáver desconhecido, sem o qual todo o ensino da anatomia
humana e suas disciplinas correlacionadas não seriam possíveis.

ANATOMIA HUMANA 11

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UNIDADE

1 INTRODUÇÃO AO
CORPO HUMANO
E AO SISTEMA
ESQUELÉTICO

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Objetivos da unidade
Definir anatomia, bem como conhecer os primórdios do estudo e os principais nomes
envolvidos com a pesquisa de anatomia humana;
Definir os conceitos de normalidade, variação anatômica, anomalia e monstruosidade;
Identificar e exemplificar os fatores gerais de variação anatômica e definir a posição
anatômica;
Descrever os planos, eixos e as direções do corpo utilizando a terminologia anatômica;
Identificar os níveis de organização estrutural no corpo humano e explicar os inter-
relacionamentos entre cada um deles;
Listar os sistemas orgânicos e fazer uma breve menção de suas funções;
Definir esqueleto, descrever suas funções e identificar os tipos existentes;
Apresentar o número de ossos do corpo humano e classifica-los de acordo com sua
forma, exemplificando cada tipo;
Classificar as articulações sinoviais de acordo com o formato de suas superfícies
articulares e os tipos de movimento que elas permitem;
Definir ligamento e identificar os principais do corpo humano.

Tópicos de estudo
Conceito de anatomia e Tipo e divisão do esqueleto
considerações gerais Esqueleto axial
História da anatomia Esqueleto apendicular
Terminologia anatômica básica
Número e classificação dos ossos
Anomalia e monstruosidade Anatomia dos ossos
Anomalia e monstruosidade
Fatores gerais de variação Principais acidentes ósseos do
anatômica esqueleto axial e do esqueleto
apendicular
Posição, planos e eixos anatômi-
cos: termos anatômicos Sistema articular: conceito e clas-
Termos de posição e direção sificação das articulações
Articulação fibrosa
Abordagens anatômicas e divisão Articulação cartilaginosa
do corpo humano
Articulações sinoviais, planos e
Conceito e funções do esqueleto eixos de movimentos, principais
Funções do esqueleto ligamentos

ANATOMIA HUMANA 13

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Conceito de anatomia e considerações gerais
Muito extenso foi o percurso dos diversos estudiosos que se dedicaram à
difícil tarefa de entender o funcionamento do organismo humano. Como se
sabe, nenhuma área de conhecimento desabrocha por completo ou surge a
partir de uma única mente extraordinária. Pelo contrário: é sempre necessário
o somatório de muitas experiências e de vários anos de pesquisa. Com a dis-
ciplina que começaremos a estudar nesta primeira unidade, não foi exceção.
Então, sejam bem-vindos ao envolvente estudo da anatomia humana.
Segundo um tradicional conceito proposto em 1981, “anatomia é a análise
da estrutura biológica, sua correlação com a função e com as modulações de
estrutura em resposta a fatores temporais, genéticos e ambientais” (DANGELO;
FATTINI, 2003, n.p.). Em princípio, a anatomia é o campo da ciência que investi-
ga a composição e o desenvolvimento dos organismos vivos em seus diversos
níveis de organização. Entre seus principais objetivos, há a compreensão dos
princípios da constituição dos organismos, a evidenciação da base estrutural
das funções em suas várias divisões e o entendimento dos processos relacio-
nados ao seu desenvolvimento.
O termo “Anatomia” é uma derivação do grego anatome (ana: “em partes”;
tome: “corte”). Do ponto de vista etimológico, temos o seu equivalente latino na
palavra “dissecação” (dis: “separadamente”; secare: “cortar”). A associação de
palavras significa o ato ou técnica de cortar de maneira ordenada um objeto
para conhecer a arquitetura do todo e de suas partes. Assim, consideramos
como anatomia a dissecação, descrição, interpretação e avaliação de um ser e
de suas partes, com base em peças fixadas anteriormente através de soluções
apropriadas. É digno de nota que, atualmente, consideramos anatomia como a
ciência, enquanto que dissecação é uma das técnicas utilizadas nessa ciência.

História da anatomia
Estudos anatômicos são observados desde as primeiras civilizações huma-
nas e, inicialmente, a anatomia era restrita à observação a olho nu e ao manuseio
de corpos. Algumas figuras ilustres que merecem destaque: Hipócrates, médico
grego considerado como o “pai da medicina”, foi pioneiro ao elaborar escritos e

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coleções sobre a anatomia humana; Herófilo da Calcedônia, médico grego conhe-
cido como o “pai da anatomia”, realizou a primeira dissecação humana pública
registrada; e Galeno, um médico romano, trouxe contribuições impressionantes
para o campo da anatomia, compilando estudos anteriores e inferindo a função
de órgãos através da vivissecção (dissecação de animais vivos).
Por não ter acesso a cadáveres humanos em seus estudos, Galeno fez afirma-
ções comparando a anatomia animal e à anatomia humana que se provaram equi-
vocadas posteriormente. Há também Leonardo da Vinci, famoso artista e anatomis-
ta italiano, que fez descobertas anatômicas importantes, além de ser o primeiro a
desenvolver técnicas de desenho em anatomia para transmitir informações utilizan-
do seções transversais e múltiplos ângulos. Por fim, temos Andreas Vesalius, ana-
tomista belga e autor de De Humani Corporis Fabrica, o primeiro atlas de anatomia
humana e um dos mais influentes livros de todos os tempos (SINGER, 1996).

Figura 1. Lição de anatomia do Dr. Willem van der Meer, de Pieter van Mierevelt.

Com o advento da imprensa, a divulgação de ideias e descobertas científi-


cas foi extremamente facilitada, permitindo a expansão global da anatomia hu-
mana. Com isso, o próximo grande salto foi a expansão através da aquisição de
novas tecnologias, que auxiliaram no estudo da anatomia de cadáveres e indi-
víduos vivos. Assim foi estabelecida a anatomia como conhecemos atualmente.

ANATOMIA HUMANA 15

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Terminologia anatômica básica
Como toda atividade, a anatomia tem uma linguagem própria. Pesquisadores e
profissionais de saúde utilizam termos específicos ao se referirem às estruturas do
corpo e suas funções. Assim, a linguagem na anatomia precisa de significados defini-
dos com precisão, permitindo uma comunicação que seja clara e concisa. Para evitar
confusões, os anatomistas definiram a terminologia anatômica, que é o vocabulário
oficial de palavras empregadas para nomear e identificar o organismo ou suas par-
tes. O grego antigo e o latim constituem a base da maioria dos termos e expressões
anatômicas, mas cada país pode traduzi-los para sua própria língua.
Ao nomear uma estrutura, a terminologia anatômica busca utilizar termos
que não apenas colaborem na memorização, como também apresentem infor-
mações sobre a estrutura em questão. Por isso, foram abolidos os epônimos,
os nomes de pessoas designando estruturas anatômicas e condições clínicas.
Nos últimos 100 anos, a maioria dessas designações concedidas em homena-
gem a outrem foi substituída por termos mais pertinentes.

Anomalia e monstruosidade
Normalidade e variação anatômica
Nós, seres humanos, somos diferentes uns dos outros. Esse conceito, aparen-
temente óbvio, de que temos diferenças físicas (como forma do corpo e rosto) em
relação às pessoas à nossa volta é muito importante para anatomia humana, uma
vez que também podemos observar essas diferenças no interior do corpo humano.
Assim sendo, algumas observações estruturais em um livro podem não ser vá-
lidas para todos os indivíduos ou cadáveres que você encontrar em um laboratório
de anatomia.
As descrições anatômicas seguem um padrão que não abrange a possibilidade
de variações. Esse padrão considera as estruturas que ocorrem com maior frequên-
cia na população. Assim, os anatomistas usam uma abordagem estatística para al-
cançar a seguinte definição: uma estrutura que se encontra mais frequentemente
em uma amostragem de indivíduos é denominada normal ou dentro da normali-
dade. Quando ocorre uma estrutura diferente do que é observado na maioria das
pessoas e sem prejuízo das funções, chamamos de variação anatômica.

ANATOMIA HUMANA 16

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Anomalia e monstruosidade
Ocasionalmente, podem acontecer variações morfológicas que afetam as fun-
ções, como vemos nas más formações, em que uma pessoa pode nascer com um
dedo a mais no pé, por exemplo. Caso o desvio do padrão anatômico produza alte-
ração funcional, estamos diante de uma anomalia. As anomalias podem ser congê-
nitas (má formação na gravidez) ou adquiridas (sequela de uma lesão ou doença).
Temos como exemplos de anomalias: lábio leporino, fenda palatina, dedos su-
pranumerários. Quando a anomalia é tão acentuada que deforma a construção
do corpo do indivíduo, sendo comumente incompatível com a vida, tal condição é
designada monstruosidade. Temos como exemplo de monstruosidade: a agene-
sia (não formação) do encéfalo.
O campo que estuda essas variações disfuncionais é a teratologia. A partir
de seus estudos, a medicina cirúrgica tem feito avanços no sentido de cor-
rigir imperfeições físicas, permitindo aos portadores de anomalias e mons-
truosidades uma vida normal. Por outro lado, monstruosidades podem ser
produzidas pela própria ciência, como as crianças nascidas de gestantes que
ingeriram talidomida.

EXPLICANDO
A talidomida é um medicamento que, na década de 60, era usado no
tratamento de resfriados, insônia e náuseas, principalmente em grávi-
das nos primeiros meses de gestação. Com o tempo, foi observado que
o medicamento causava monstruosidades nos fetos, como a focomelia
(ausência parcial de um ou mais membros). Por isso, o uso de talidomida
é proibido para mulheres grávidas. O caso da talidomida foi fundamental
para a elaboração dos conceitos de vigilância dos medicamentos, assim
como debates éticos sobre as condições de vida e os direitos das pessoas
nascidas com deficiências.

Fatores gerais de variação anatômica


Observamos que as variações anatômicas acontecem de maneira costumeira
nos indivíduos. Algumas são identificadas em determinado grupo ou fase da vida
da população e são denominadas fatores de variação anatômica. Assim, podemos
citar: idade, sexo, etnia, biótipo e evolução.

ANATOMIA HUMANA 17

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1. Idade: é o tempo de duração da vida. Ao longo
das fases da vida intrauterina e extrauterina, podemos
notar algumas modificações anatômicas.
a. Fase intrauterina: dividida em ovo (durante os sete pri-
meiros dias), embrião (até o fim do segundo mês) e feto
(até o nono mês);
b. Fase extrauterina: dividida em recém-nascido (até um mês
após o nascimento), infante (até o fim do segundo ano), menino
(até o fim do décimo ano), pré-púbere (até a puberdade), púbere (dos 12 aos 14
anos, período da maturidade sexual), jovem (até 21 anos no sexo feminino e 25
anos no sexo masculino), adulto (a partir dos 50 anos, período da menopausa
feminina e processo equivalente no homem) e velho (após os 60 anos);
2. Sexo: é o conjunto de estruturas funcionais que define a masculinidade ou
feminilidade. Mesmo quando não observamos os genitais, é possível reconhecer
características especiais referentes ao sexo masculino ou feminino;
3. Raça: é o conjunto de características físicas, externas e internas, comuns
entre grupamentos humanos específicos. Também é comumente dividida em três
grupos étnicos: os negroides, os caucasianos e os mongoloides e seus entrecruza-
mentos. Vale destacar que o conceito de raças humanas é discutível, uma vez que
pesquisas recentes em genética humana comprovam que o DNA é o mesmo entre
os diferentes grupos, compondo uma só raça: a humana;
4. Biótipo: é a manifestação da combinação de características herdadas e adqui-
ridas com a interação com o meio. Geralmente é classificado com base na construção
corpórea, sendo divididos em longilíneos, brevilíneos e mediolíneos (Figura 2).
a. Os longilíneos são caraterizados como magros, alta estatura, pescoço longo,
tronco achatado e membros longos em relação ao tronco;
b. Os brevilíneos são atarracados, baixa estatura, pescoço curto, tronco alon-
gado e membros curtos em relação ao tronco;
c. Os mediolíneos apresentam características intermediárias aos ou-
tros biótipos;
5. Evolução: é o processo que influencia o surgimento de diferenças estru-
turais ao longo do tempo, algo que propicia o aparecimento de novas espécies.
Vale lembrar que a evolução é contínua e ocorre em todas as espécies viventes,
inclusive a espécie humana.

ANATOMIA HUMANA 18

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ASSISTA
Entenda mais sobre a evolução e como ela ainda está
ocorrendo na espécie humana através da explicação do
Professor Dr. Atila Iamarino do canal Nerdologia.

Além desses citados, podemos incluir também o meio ambiente, o esporte, o


trabalho e os processos mórbidos (que ocorrem após a morte) como fatores que
influenciam as variações anatômicas. No entanto, levando em consideração esse
último, as condições observadas nos cadáveres não correspondem com exatidão
ao que é encontrado in vivo, em especial no que se refere à coloração, consistência
e elasticidade. Com isso, devemos sempre comparar o estudo das estruturas de
um cadáver ao de um indivíduo vivo.

Figura 2. Representação dos biótipos corpóreos, com longilíneos (esquerda), brevilíneos (centro) e mediolíneos (direita).
Fonte: Adobe Stock. Acesso em: 22/06/2020.

Posição, planos e eixos anatômicos: termos anatômicos


Posição anatômica
Com o intuito de evitar confusão na utilização de termos diferentes em seu
ofício, os anatomistas definiram uma posição padronizada para suas descrições

ANATOMIA HUMANA 19

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anatômicas, conhecida como posição de descrição anatômica ou somente po-
sição anatômica.
A posição anatômica (Figura 3) apresenta um indivíduo eretos (em pé), com
a face dirigida para a frente, olhar direcionado para o horizonte, membros su-
periores estendidos juntos ao tronco com as palmas para frente e membros in-
feriores unidos, direcionando as pontas dos pés para frente. Assim, não impor-
ta se o cadáver esteja em decúbito dorsal (o dorso aderido à mesa) ou decúbito
ventral (ventre aderido à mesa), deve ser considerada a posição de descrição
anatômica em seus estudos.

Detalhes da face:
Cabelo Olho
Cabeça Orelha Nariz
Bochecha
Boca
Pescoço Queixo
Ombro
Peito
Seios
Mamilos
Tronco

Braço Abdômen

Pulso
Polegar

Mão Palma
Dedo
mínimo Dedo
Orgãos genitais Dedo indicador
Pênis anelar
Vulva Dedo
Escroto médio
Joelho
Pernas

Tornozelo

Figura 3. Posição anatômica. Fonte: WIKICOMMONS, 2018.

ANATOMIA HUMANA 20

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Planos e eixos anatômicos
Planos são superfícies planas imaginárias que utilizamos como referência
quando relacionamos partes do corpo. Sendo assim, com base na posição ana-
tômica, podemos delimitar o corpo humano através de planos, tangenciando
sua superfície como se o indivíduo estivesse dentro de uma caixa retangular e
cada parede dessa caixa imaginária representasse um plano de delimitação,
sendo os principais:
a. Dois planos verticais, um passando à frente do corpo: plano ventral ou
anterior – e outro por trás corpo: plano dorsal ou posterior. São também
conhecidos como planos frontais;
b. Dois planos verticais, passando pelos lados do corpo: planos laterais
direito e esquerdo;
c. Dois planos horizontais, um por cima da cabeça: plano cranial ou supe-
rior – e outro por baixo dos pés: plano podálico ou inferior. Caso o tronco
seja isolado dos membros, designamos o plano horizontal, que limita esse
tronco por baixo, como caudal.
Além de conhecer os planos de delimitação, é comum também estudar as
estruturas internas do corpo através de cortes (secções) em diversas formas e
examinar suas divisões. Esses planos de referência são conhecidos como pla-
nos de secção, sendo os principais:
a. O plano vertical, que divide o corpo humano ou órgão em lados direito
e esquerdo, denominado plano sagital. Porém, se esse plano atravessa a
linha mediana do corpo, é denominado plano mediano;
b. O plano vertical, que divide o corpo humano ou órgão em partes anterior
e posterior, chamado de plano frontal ou coronal;
c. Os planos horizontais, que dividem o corpo humano ou órgão em partes
superior e inferior, denominados planos transversais.
Por fim, existem os eixos anatômicos, que são linha imaginárias formadas
pelo encontro de dois planos. Os eixos principais são:
a. Eixo sagital ou ântero-posterior, que une o cen-
tro do plano sagital ao centro do plano transversal;
b. Eixo longitudinal ou craniocaudal, que re-
laciona o centro do plano coronal ao centro do
plano sagital;

ANATOMIA HUMANA 21

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c. Eixo transversal ou laterolateral, que conecta o centro do plano trans-
versal ao centro do plano coronal.

Termos de posição e direção


Com base no conhecimento sobre os planos de delimitação e secção do
corpo, é possível indicar a situação e a posição dos órgãos, ou partes do corpo
em função deles, utilizando os conhecidos termos descritivos da posição e di-
reção dos órgãos. Para indicar direção, os termos são considerados aos pares,
cada um indicando uma direção oposta (Quadro 1).

QUADRO 1. TERMOS DE POSIÇÃO E DIREÇÃO PARA O CORPO HUMANO

Termo Definição Exemplo

O tórax está na superfície


Anterior (ventral) Situado na frente de; a frente do corpo.
anterior do corpo.

Situado atrás de; a parte posterior do As nádegas estão na superfície


Posterior (dorsal)
corpo. posterior do corpo.

Voltado para a cabeça; em posição Os supercílios são superiores


Superior (cranial)
relativamente alta. aos olhos.

Afastados da cabeça; em posição


Inferior (caudal) A boca é inferior ao nariz.
relativamente baixa.

Medial Voltado para o plano mediano do corpo. A mama é medial à axila.

O quadril está na face lateral


Lateral Afastado do plano mediano do corpo.
do corpo.

Mais próximo de qualquer ponto de


referência, como a origem de um O braço é proximal ao
Proximal
membro, a origem de uma estrutura, antebraço.
ou o centro do corpo.

Afastado de qualquer ponto de


referência, como a origem de um
Distal A mão é distal ao pulso.
membro, a origem de uma estrutura ou
o centro do corpo.

Superficial Localizado próximo ou na superfície do A pele é superficial aos


(externo) corpo. músculos.

Localizado mais afastado ou mais


Os músculos são profundos
Profundo (interno) profundamente da superfície do corpo
em relação à pele.
do que as estruturas superficiais.

Fonte: VAN DE GRAAFF, 2003, pg. 36. (Adaptado).

ANATOMIA HUMANA 22

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Vale comentar que o termo médio aponta estruturas que estão entre duas
outras partes, podendo estar entre ventral (anterior) e dorsal (posterior); entre
cranial (superior) e caudal (inferior); entre interna e externa; ou ainda entre
proximal e distal.

Abordagens anatômicas e divisão do corpo humano


Abordagens anatômicas
A extensão das abordagens possíveis na anatomia é ampla (Quadro 2), abran-
gendo estudos das variações estruturais a longo prazo, considerando desde os
eventos de duração intermediária no desenvolvimento e envelhecimento, até as va-
riações de curto prazo, relacionadas com as diferentes fases de atividade funcional.
Em termos de complexidade, pode-se compreender todo um sistema biológico con-
siderando organismos inteiros, órgãos, organelas celulares e até macromoléculas.

QUADRO 2. PRINCIPAIS SUBDIVISÕES DA ANATOMIA

Divisão Abrangência

Com base no método de observação

Anatomia Estuda as estruturas anatômicas de grande porte, possíveis de serem


macroscópica observadas a olho nu, como os órgãos corporais internos e externos.

Estuda as estruturas anatômicas de pequeno porte, que requerem aparatos


Anatomia tecnológicos para melhor visualização. É dividida em Citologia (estudo da
microscópica estrutura e função das células) e Histologia (estudo da organização dos
tecidos biológicos).

Com base no método de observação

Anatomia do Estuda o corpo humano e suas variações ao longo do seu tempo de vida. Agrega
desenvolvimento a Embriologia (estudo do desenvolvimento do indivíduo até o nascimento).

Anatomia Estuda o corpo humano a partir da comparação com a estrutura de


comparada diferentes seres, além de verificar as relações existentes entre eles.

Anatomia Estuda o corpo humano a partir de uma divisão relacionada à função das
sistêmica estruturas.

Anatomia Estuda o corpo humano a partir de uma divisão relacionada à localização das
regional estruturas.

Anatomia clínica Estuda o corpo humano por meio de imagens, utilizando técnicas como
ou radiográfica radiografia, tomografia e ressonância.

Anatomia de Estuda o corpo humano a partir de pontos de referência encontrados na


superfície superfície, utilizando como técnicas a visualização e a palpação.
Fonte: TORTORA; NIELSEN, 2013, pg. 2. (Adaptado).

ANATOMIA HUMANA 23

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Níveis de organização do corpo humano
Entendendo as várias perspectivas de abordagens anatômicas, convencio-
nou-se analisar as estruturas humanas a partir de seus diferentes níveis de
organização.
As menores unidades biológicas, as células, organizam-se em tecidos,
estabelecidos como um complexo de células similares que realizam a mesma
função. Também capazes de se agrupar funcionalmente, os tecidos compõem
os órgãos. Esses, por sua vez, com mesma estrutura e origem, que possuem
funções similares e interagem para realizar funções complexas, são nomeados
de sistema. Em conjunto, os sistemas constituem o corpo humano.
Divisão do corpo humano
Com base na anatomia macroscópica, podemos dividir o corpo humano
principalmente utilizando duas perspectivas: a localização e a proximidade das
estruturas do corpo humano (anatomia regional ou topográfica) ou com base
em estruturas com funções em comum (anatomia sistemática ou descritiva).
A abordagem sistêmica, que é a mais utilizada no ensino de anatomia,
utiliza uma perspectiva mais fisiológica, estudando os seguintes sistemas
orgânicos:

QUADRO 3. SISTEMAS DO CORPO HUMANO

Sistema Componentes principais Funções representativas

Proteger as estruturas internas do corpo


Pele e estruturas
contra lesões e substâncias estranhas; prevenir
Tegumentar associadas, como pelos e
perda de fluidos (desidratação); importante na
unhas
regulação da temperatura.

Esquelético Ossos Suportar e proteger tecidos moles e órgãos.

Muscular Músculos esqueléticos Movimentar o corpo e suas partes.

Encéfalo, medula espinhal, Controlar e integrar as atividades do corpo;


Nervoso nervos, órgãos dos sentidos responsável pelas “funções superiores”, tais
especiais como o pensamento e o raciocínio abstrato.

Glândulas secretoras de
hormônios, como hipófise, Controlar e integrar as atividades do corpo;
Endócrino tireoide, paratireoide, atuam intimamente ligadas com as funções do
suprarrenais, pâncreas e sistema nervoso.
gônadas

ANATOMIA HUMANA 24

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Interligar os meios interno e externo do corpo;
Coração, vasos sanguíneos e
Circulatório transportam materiais entre diferentes células
linfáticos, sangue, linfa
e tecidos.

Nariz, cavidade nasal, Transferir oxigênio da atmosfera para o


Respiratório faringe, laringe, traqueia, sangue e dióxido de carbono do sangue para a
brônquios, pulmões atmosfera.

Boca, esôfago, estomago,


intestino delgado, intestino
Suprir o corpo com substâncias (materiais
grosso; estruturas
alimentares) das quais deriva a energia para as
Digestivo acessórias incluem
atividades e de onde se obtém componentes
glândulas salivares,
para a síntese das substâncias necessárias.
pâncreas, fígado e vesícula
biliar

Eliminar uma variedade de produtos


Rins, ureteres, bexiga metabólicos finais, como ureia; conserva e
Urinário
urinária, uretra excreta água e outras substâncias, conforme a
necessidade.

Masculino: vesículas
seminais, testículos, Produzir gametas masculinos
Reprodutor próstata, glândulas (espermatozoides); providenciar métodos para
bulbouretrais, pênis, ductos introduzir o esperma na mulher.
associados

Feminino: ovários, tubas Produzir gametas femininos (óvulos);


uterinas, útero, vagina, providenciar meio próprio para o
glândulas mamárias desenvolvimento do ovo fertilizado.

Fonte: TORTORA; NIESLSEN, 2013, pg. 6. (Adaptado).

Quando ocorre a reunião de dois ou mais sistemas que tenham relações


íntimas no que diz respeito a desenvolvimento, localização ou função, é consti-
tuído um aparelho. Os principais aparelhos do corpo humano são:
a. Locomotor: constituído pelos sistemas esquelético, articular e muscular;
b. Urogenital: constituído pelos sistemas urinário e genital (masculino ou
feminino).
Considerando a abordagem regional, a organização do corpo humano se divi-
de nas seguintes regiões: cabeça, pescoço, tronco e membros. A cabeça consiste
na extremidade superior do corpo, que se une ao tronco por uma região estreita, o
pescoço. Os membros compreendem dois na região superior do tronco (membros
superiores) e dois na região inferior (membros inferiores). Por fim, o tronco, tam-
bém chamado de torso, é uma região central que interliga todas as extremidades.
As regiões do corpo humano apresentam as seguintes subdivisões:
• Cabeça: fronte (a testa); occipital (nuca); têmpora (porção lateral, anterior
à orelha); orelha; mandíbula e face;

ANATOMIA HUMANA 25

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• Pescoço;
• Tronco: tórax; abdome; pelve e dorso;
• Membro superior: cintura do membro superior; axila; braço; cotovelo;
antebraço e mão (carpo, metacarpo, palma, dorso da mão, dedos da mão);
• Membro inferior: cintura do membro inferior; nádegas; quadril; coxa; joe-
lho; perna e pé (tarso, calcanhar, metatarso, planta, dorso do pé).

Conceito e funções do esqueleto


Quando pensamos em esqueleto, é comum pensarmos em uma estrutura rígi-
da, seca e sem vida, que reúne várias peças menores – os ossos. De fato, a palavra
esqueleto deriva de um termo grego que significa “corpo seco”. No entanto, o termo
acabou indo além do campo das ciências, sendo utilizado rotineiramente como sinô-
nimo para a palavra “arcabouço” (Ex.: O chassi é o esqueleto do automóvel).
No âmbito da anatomia, podemos estabelecer esqueleto como uma coleção
de ossos e estruturas relacionadas que se integram para compor o arcabouço do
corpo. Já os ossos, por sua vez, são definidos como estruturas rígidas com origem,
composição e função similares e que, quando unidos, constituem o esqueleto. O
estudo dos ossos, sua estrutura e particularidades é conhecido como osteologia
(osteo: “osso”; logia: “estudo”).
Retornando ao pensamento do início do texto, os nossos ossos não são estrutu-
ras sem vida e inertes, como aqueles que examinamos em um laboratório ou expos-
tos em museu. Ao contrário, eles são órgãos vivos e complexos, que representam
os registros da nossa história, sendo influenciados por diversos aspectos de nossa
vida, como idade, gênero, altura ou mesmo nutrição.

Funções do esqueleto
O esqueleto desempenha diversas funções básicas, das quais destacamos
como as mais importantes:
a. Sustentação. O esqueleto estrutura o alicerce rígido do corpo, dando sus-
tentação aos órgãos e tecidos moles que podem ter um peso até cinco vezes
maior. Dessa forma, a resistência dos ossos vem da sua composição inorgânica,
cuja durabilidade persiste à decomposição mesmo após a morte do indivíduo;

ANATOMIA HUMANA 26

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b. Proteção. O esqueleto defende órgãos internos vitais contra impactos e
lesões. Assim, o crânio e a coluna vertebral protegem o encéfalo e a medula
espinal; a caixa torácica, por sua vez, guarda o coração, os pulmões, os gran-
des vasos; e, finalmente, o cíngulo do membro inferior envolve as vísceras
da região pélvica;
c. Movimentos do corpo. Os ossos atuam como áreas de fixação para os
músculos esqueléticos. Assim, os ossos agem como alavancas, sendo tra-
cionados quando os músculos contraem para produzir movimento;
d. Armazenamento e liberação de minerais. O osso deposita diversos
minerais em sua estrutura, que contribuem para sua própria resistência.
Destacam-se o cálcio e o fósforo, embora também sejam armazenados só-
dio, magnésio, flúor e estrôncio em menor quantidade. No entanto, se a
quantidade de sais minerais na dieta não for suficiente, eles são liberados
na corrente sanguínea para cumprir a demanda desses elementos no corpo
até que a alimentação possa compensar essa extração;
e. Hematopoiese. O processo de formação de eritrócitos (as “células ver-
melhas” do sangue) é designado de hematopoiese (hemo: “sangue”; poesis:
“criação”) e ocorre na medula óssea vermelha, localizada nos ossos do feto
e no interior de alguns ossos adultos, como as extremidades do
fêmur e úmero, os ossos do quadril, esterno e costelas;
f. Armazenamento de gorduras. Os triglicerídeos são
armazenados no tecido adiposo presente no interior
de ossos específi cos, compondo a medula óssea
amarela. Os triglicerídeos armazenados são reser-
vas de energia.

Tipo e divisão do esqueleto


Através da anatomia comparada e da zoologia, verificamos que há diferenças
quanto à posição do alicerce de sustentação. Assim, podemos definir o exoesque-
leto, onde a base de sustentação é externa; e o endoesqueleto, onde a base de
sustentação fica no interior do corpo do indivíduo, como vemos nos humanos.
Entretanto, pelo fato de o exoesqueleto não ser uma estrutura viva, os animais
que têm essa estrutura devem se desprender e formar uma nova e maior estrutura

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esquelética para continuar seu crescimento. Exemplificando, podemos citar a pre-
sença de exoesqueleto nos artrópodes.
Baseado na localização de suas estruturas, o esqueleto pode ser dividido em
esqueleto axial e esqueleto apendicular. A combinação entre as duas porções é
realizada através de cíngulos (ou cinturas), havendo o cíngulo do membro superior
(formado pela clavícula e a escápula) e o cíngulo do membro inferior (composto pelo
osso do quadril e o sacro).

Esqueleto axial
O esqueleto axial consiste nos ossos que formam o eixo do corpo, sus-
tentam e protegem os órgãos da cabeça, pescoço e tronco. Possui 80 ossos
dispostos em três regiões principais: o crânio, a coluna vertebral e a caixa to-
rácica. Essa divisão axial do esqueleto sustenta a cabeça, o pescoço, o tronco e
protege o encéfalo, a medula espinal e os órgãos do tórax.
1. Crânio. Consiste em dois conjuntos de ossos:
a. O neurocrânio, também chamado de ossos do crânio, composto por
oito ossos que formam a calota craniana (ou caixa encefálica) e protegem
o encéfalo, quatro ossos ímpares (frontal, occipital, esfenóide e etmoide) e
dois ossos pares (parietais e temporais);
b. O viscerocrânio, também chamado ossos da face, composto por 14 os-
sos que fornecem suporte para os olhos, a cavidade nasal e a cavidade oral.
Possui majoritariamente ossos pares (maxila, palatino, zigomático, lacrimal,
nasal, concha inferior nasal), com exceção do vômer e da mandíbula;
c. No crânio, também encontramos os ossículos da audição. Três peque-
nos pares de ossos localizados na parte petrosa do osso temporal, inseri-
dos dentro da cavidade da orelha média. Os ossos são martelo, bigorna e
estribo, seguindo a ordem de aparecimento de fora para dentro. É
a partir dos movimentos desses ossos que os impulsos sonoros
são transmitidos para a cavidade da orelha interna;
2. Osso hióide. É o único osso do esqueleto que não se rela-
ciona diretamente com outros ossos. Localizado no pescoço,
debaixo da mandíbula, se conecta com o osso temporal pe-
los músculos estilo-hióideos. Funcionalmente, esse osso atua

ANATOMIA HUMANA 28

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como uma base móvel para a língua, au-
xiliando na deglutição. Ele é examinado
cuidadosamente em uma autópsia se há
suspeita de estrangulamento, uma vez
que ele, em geral, apresenta fratura nes-
se tipo de assassinato;
3. Coluna vertebral. Como princi-
pal suporte da linha mediana do cor-
po, a coluna vertebral apresenta 26
ossos e abarca do crânio até o quadril,
distribuindo o peso das estruturas
acima da pelve para os membros in-
feriores, além de proteger a medula
espinal. Ela é dividida em cinco regiões
segmentadas em 33 ossos separados, as vértebras. As sete vértebras do pes-
coço são as vértebras cervicais, as 12 seguintes são as vértebras torácicas
e as cinco que apoiam a parte inferior do dorso são as vértebras lombares.
Dessa forma, para suportar o peso que aumenta progressivamente, elas tor-
nam-se proporcionalmente maiores da região cervical para a região lombar. No
segmento inferior às vértebras lombares, nove eventualmente se fundem para
formar dois ossos: o sacro, resultado da fusão de cinco ossos que se articulam
com os ossos da pelve, e no segmento mais inferior da coluna vertebral, as
quatro vértebras finais estão fundidas para formar o cóccix;
4. Caixa torácica. É composta por 12 pares de costelas, o esterno (“osso
do peito”) e as cartilagens costais, articulando-se posteriormente com as vér-
tebras torácicas. Entre suas funções, sustenta o cíngulo do membro superior e
os membros superiores; suporta e protege os órgãos torácicos e abdominais
superiores; e colabora nos movimentos relacionados à respiração;
a. O esterno é um osso plano e alongado, formado por três ossos se-
parados: no trecho superior se localiza o manúbrio; no centro se en-
contra o corpo do esterno; e, no trecho inferior, reconhecemos o pro-
cesso xifóide, estrutura frequentemente cartilagínea. Ainda, na lateral
do esterno estão as incisuras costais, onde as cartilagens costais se
conectam;

ANATOMIA HUMANA 29

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b. Os doze pares de costelas são encontrados entre os músculos da parede
torácica, com cada par se articulando posteriormente com uma vértebra
torácica. Na região anterior, os primeiros sete pares estão conectados ao
esterno a partir das cartilagens costais individuais e são chamados coste-
las verdadeiras. Os cinco pares seguintes (costelas oito a 12) não se ligam
diretamente ao esterno, são designados costelas falsas. Por fim, os últimos
dois pares de costelas falsas não se relacionam com o esterno, sendo no-
meados de costelas flutuantes.

Esqueleto apendicular
O esqueleto apendicular é composto pelos ossos dos cíngulos, que firmam os
membros ao esqueleto axial, e pelos ossos do membro superior e inferior. Assim:
1. Cíngulo do membro superior. Os ossos pares escápula e clavícula
constituem a porção apendicular da cintura do membro superior, enquan-
to o esterno é a porção axial. Como não suporta tanto peso, tem uma es-
trutura mais delicada que o cíngulo do membro inferior. Tem como função
principal servir de ponto de inserção para vários músculos relacionados às
articulações do ombro e do cotovelo;
2. Membros superiores. Cada membro superior possui os seguintes os-
sos: o úmero no braço; o rádio e a ulna no antebraço; e os ossos do carpo,
ossos do metacarpo e as falanges (ossos dos dedos) na mão;
3. Cíngulo do membro inferior. Os dois ossos do quadril constituem
a porção apendicular da cintura do membro inferior, enquanto o sacro é
a porção axial. Os ossos do quadril estão ligados pela sínfise púbica, an-
teriormente, e pelo sacro, posteriormente. O cíngulo do membro inferior
sustenta o peso corpóreo a partir da coluna vertebral e guarda os órgãos
abdominais inferiores no interior da cavidade pélvica;
4. Membro inferior. Cada membro inferior possui os seguintes
ossos: o fêmur na coxa; a tíbia e a fíbula na perna; os os-
sos do tarso, os ossos do metatarso e as falanges no pé.
Podemos citar também a patela, que está localizada
entre a coxa e a perna, na face anterior da articulação
do joelho.

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Número e classificação dos ossos
Número de ossos
Um indivíduo apresenta 206 ossos quando alcança a fase adulta, a qual com-
preende o período que consideramos o desenvolvimento orgânico completo. Entre-
tanto, esse número pode variar devido aos seguintes fatores:
a. Fatores etários: Ao longo da vida humana, ocorre uma diminuição do núme-
ro de ossos. O esqueleto apresenta aproximadamente 270 ossos no nascimento
e, após esse período, alguns deles são formados por fusão de partes ósseas,
como podemos observar no osso frontal, originalmente formado por duas por-
ções, e o osso do quadril, que é formado de três partes (ísquio, púbis e ílio) que
posteriormente se fundem em um único osso na fase adulta;
b. Fatores individuais: É possível observar em alguns indivíduos a manu-
tenção do osso frontal dividido na fase adulta, assim como a ocorrência de
ossos extranumerários.

EXPLICANDO
Um osso acessório ou extranumerário pode ser definido como um osso
que excede o número normal de ossos. Descritos primeiramente por
André Vesalius em 1543, esses ossículos não se originam de fraturas e
derivam de centros de ossificação não fusionados. Atualmente, já foi ob-
servada a presença de outras estruturas supranumerárias, como dentes.

Classificação dos ossos


Podemos classificar os ossos de diferentes maneiras, como por sua posição
topográfica, diferenciando ossos axiais (presentes no esqueleto axial) e apen-
diculares (presentes no esqueleto apendicular). No entanto, a classificação
mais conhecida é com base na forma dos ossos, sendo organizados conforme a
relação de suas dimensões (comprimento, largura e espessura). Assim, temos:
a. Osso longo: apresenta o comprimento maior que a largura e a espessura.
Os ossos do esqueleto apendicular, como o úmero, o rádio, a ulna, o fêmur,
a tíbia, a fíbula e as falanges, são exemplos clássicos. Vale destacar que os
ossos longos são nomeados por sua forma alongada e não por seu tama-
nho de fato; as falanges, os ossos dos dedos, são ossos longos, embora
sejam pequenos;

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b. Osso plano: também chamado de osso laminar ou chato, apresenta
comprimento e largura equivalentes, com predomínio da sua espessura.
Exemplos característicos desse tipo de osso são os ossos do crânio, como o
parietal, frontal e occipital; e outros, como o esterno, a escápula, as costelas
e osso do quadril;
c. Osso curto: Apresenta correspondência em suas três dimensões. Os os-
sos carpais e tarsais são exemplos típicos.
Existem ossos que não entram em nenhuma das categorias supracitadas e,
por essa razão e suas características peculiares, são organizados em uma das
categorias a seguir:
a. Osso irregular: apresenta uma estrutura complexa, sem corresponden-
tes nas formas geométricas conhecidas. Podemos exemplificar com as vér-
tebras e o osso temporal;
b. Osso pneumático: apresenta um ou mais seios, cavidades com volume
variável e revestidas de mucosa. Os ossos pneumáticos são encontrados
no crânio, recebendo essa classificação o osso frontal, temporal, maxilar,
esfenoide e etmoide;
c. Osso sesamoide: Os ossos sesamoides (“em formato de semente de gerge-
lim”) são um tipo especial de osso curto que ocorre no interior de certos ten-
dões (intratendíneos) ou na cápsula fibrosa de algumas articulações (periar-
ticulares). A patela é um exemplo clássico de osso sesamoide intratendíneo.
Alguns ossos podem ter mais de uma classifi cação: o frontal é um osso
plano e também pneumático; o maxilar é pneumático e também irregular,
por exemplo.

Anatomia dos ossos


Em uma análise mais atenta, os ossos apresentam uma camada exterior
densa que parece lisa e sólida a olho nu e que é encontrada em quase todos os
ossos do esqueleto, denominada como substância compacta ou osso com-
pacto. Na parte interna, há uma substância esponjosa ou osso esponjoso,
que possui o aspecto de favo de mel devido à presença de pequenas estruturas
planas denominadas trabéculas. Os espaços entre as trabéculas são preenchi-
dos com medula óssea amarela ou vermelha.

ANATOMIA HUMANA 32

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O osso longo apresenta duas epífi ses (extremidades) e uma diáfi se (cor-
po). No interior dessa última, encontramos uma cavidade denominada canal
medular, que assenta a medula óssea. Em ossos com ossificação incompleta,
podemos visualizar um disco cartilaginoso entre a epífise e a diáfise chamado
de lâmina epifi sial, onde ocorre o crescimento longitudinal do osso. Des-
se modo, o periósteo de tecido conjuntivo denso regular cobre a superfície
do osso, exceto a cartilagem articular, uma estrutura composta por uma
camada delgada de cartilagem hialina que envolve as epífises e auxilia no
movimento articular.
O osso compacto, por sua vez, tem predominância na diáfise dos ossos lon-
gos, envolve uma cavidade medular central e contém medula óssea; enquanto
que o osso esponjoso tem maior presença nas epífises dos ossos longos e cur-
tos, sendo revestido por uma camada delgada de osso compacto.
Assim, ossos curtos, irregulares e planos têm a mesma composição que os
ossos longos: externamente são ossos compactos, revestidos por periósteo, e
internamente são ossos esponjosos revestidos pelo endósteo. Entretanto, não
têm diáfise e epífise, apesar de conter a medula óssea entre as trabéculas de
substância esponjosa, ainda que não possua cavidade medular. Já em ossos
planos, são formados por osso esponjoso entre duas camadas finas de osso
compacto, uma estrutura denominada díploe nos ossos do crânio.

Principais acidentes ósseos do esqueleto axial e do


esqueleto apendicular
A anatomia de cada osso reflete as forças de tensão e compressão apli-
cadas sobre eles com maior frequência, em especial nas superfí-
cies externas. Nelas são encontradas características estruturais
distintas, designadas de acidentes ósseos e aparecem tanto no
esqueleto axial quanto esqueleto apendicular. Os aci-
dentes ósseos são classificados em três categorias:
projeções, que são os locais de fi xação para os mús-
culos e ligamentos (Quadro 4); as superfícies, que
participam das articulações (Quadro 5); e depres-
sões e aberturas (Quadro 6).

ANATOMIA HUMANA 33

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QUADRO 4. PROCESSOS QUE FIXAM TENDÕES, LIGAMENTOS E OUTROS TECIDOS

Estrutura e descrição Principais representantes

Pelve: crista ilíaca, crista púbica.


Crista
Margem proeminente. Membro inferior: crista intertrocantérica do fêmur, crista da
tíbia.

Cíngulo do membro superior: espinha da escápula.

Vértebras: espinha da vértebra.


Espinha
Processo ósseo pontiagudo. Pelve: espinha ilíaca ântero-superior, espinha ilíaca ântero-
inferior, espinha ilíaca póstero-superior, espinha ilíaca
póstero-inferior, espinha isquiática.

Ossos do crânio: processo mastoide do osso temporal,


processo zigomático do osso temporal, processo temporal do
osso zigomático, processo condilar da mandíbula, processo
coronoide da mandíbula.

Vértebras: processo espinhoso, processo transverso.


Processo
Qualquer saliência óssea Esterno: processo xifoide.
acentuada.
Rádio: processo estiloide.

Ulna: processo estiloide, processo olecrano, processo


coronoide.

Tíbia: processo maléolo medial.

Fíbula: processo maléolo lateral.

Ramo Ossos da face: ramo da mandíbula.


Uma parte aplainada angular
de um osso. Pelve: ramo púbico superior, ramo púbico inferior.

Trocanter
Processo (do tipo tuberosidade)
grande e rombo encontrada Fêmur: trocanter maior, TROCANTER menor.
na extremidade proximal do
fêmur.

Costela: tubérculo da costela.

Tubérculo
Um processo pequeno, Fêmur: tubérculo maior, tubérculo menor, tubérculo adutor.
arredondado.
Pelve: tubérculo púbico.

Úmero: tuberosidade deltoide.


Tuberosidade
Processo arredondado, Rádio: tuberosidade radial.
geralmente áspero, grosseiro.
Tíbia: tuberosidade tibial.

Fonte: MARIEB, 2014, pg. 138. (Adaptado).

ANATOMIA HUMANA 34

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QUADRO 5. PROCESSOS QUE FORMAM ARTICULAÇÕES

Estrutura e descrição Principais representantes

Caixa torácica: cabeça da costela.


Cabeça
Membro superior: cabeça do úmero, cabeça do rádio, cabeça
Extremidade óssea
da ulna, cabeça do osso metacarpal.
proeminente e arredondada
que forma juntura. Membro inferior: cabeça de fêmur, cabeça da fíbula, cabeça
do osso metatarsal.

Côndilo Osso de crânio: côndilo occipital.


Saliência óssea grande e
arredondada que forma Membro superior: côndilo medial do fêmur, côndilo lateral do
juntura. fêmur, côndilo medial da tíbia, côndilo lateral da tíbia.

Faceta
Superfície óssea achatada e lisa Vértebras: faceta articular superior, faceta articular inferior.
que forma juntura.

Fóvea
Uma superfície articular plana Vértebras: fóvea costal de uma vértebra torácica.
e rasa.

Fonte: MARIEB, 2014, pg. 138. (Adaptado).

QUADRO 6. DEPRESSÕES E ABERTURAS

Estrutura e descrição Principais representantes

Alvéolo
Uma escavação profunda ou Ossos da face: alvéolos dentais da maxila e da mandíbula.
encaixe.

Ossos do crânio: forame estilomastoideo, forame jugular,


forame supraorbital, forame oval, forame redondo, forame
Forame espinhoso, forame magno, forame infraorbital, forame
Abertura arredonda no osso mental, forame mandibular.
por onde passam vasos
Vértebras: forame vertebral, forame transverso, forame
sanguíneos.
sacral.

Pelve: forame obturador.

Osso do crânio: fossa mandibular do osso temporal, fossa


jugular do osso temporal.
Fossa
Depressão óssea onde, Cíngulo do membro superior: fossa escapular.
geralmente, será abrigado
algum processo ósseo. Úmero: fossa radial, fossa coronoide, fossa olécrana.

Fêmur: fossa intercondilar.

Meato
Passagem em forma de Osso temporal: meato acústico externo, meato acústico
tubo correndo para dentro interno.
de um osso.

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Seios
Osso do crânio e da face: seio frontal, seio etmoidal, seio
Cavidade óssea cheia de ar que
esfenoidal, seio maxilar.
se conecta à cavidade nasal.

Sulco
Uma canaleta que acomoda um Membro superior: sulco radial, sulco intertubercular.
vaso, um verbo ou um tendão.
Fonte: MARIEB, 2014, pg. 138. (Adaptado).

Sistema articular: conceito e classificação das


articulações
As junturas ou articulações (arthro: “juntas”) podem ser definidas pela
comunicação entre duas ou mais estruturas rígidas, como ossos, cartilagens
ou dentes. Essas estruturas são fortemente relacionadas à movimentação,
uma vez que o movimento só é possível pela articulação dos ossos nas juntu-
ras e pela contração dos músculos inseridos nos ossos.
Assim, para movimentar uma parte do corpo, algumas articulações pre-
cisam permanecer rígidas, dando estabilidade e mantendo o equilíbrio. Sua
estrutura permite resistir a esmagamentos, dilacerações e a várias forças que
as impulsionariam para fora do alinhamento. Dessa forma, passamos a co-
nhecer o estudo das articulações, denominado artrologia.
Como visto em apresentações de balé e de ginástica olímpica, as articula-
ções permitem uma ampla diversidade de movimentos. Desta maneira, pode-
mos classifica-las com base em sua função ou estrutura.
A classificação estrutural é baseada no tecido que interliga os ossos,
identificando-se como fibrosas, cartilagíneas e sinoviais. Por outro lado, a
classificação funcional se concentra na quantidade de movimento permitido.
Assim, sinartroses são articulações imóveis, anfiartroses são articulações li-
geiramente moveis e diartroses são articulações livremente moveis. As diar-
troses predominam nos membros, ao passo que as sinartroses e anfiartroses
são mais restritas ao esqueleto axial.

Articulação fibrosa
Nas articulações fibrosas, os ossos são conectados através do tecido con-
juntivo fibroso e não há qualquer cavidade articular presente. Essas articula-

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ções fibrosas são comumente imóveis ou com mobilidade limitada e seus tipos
são denominados suturas, sindesmoses e gonfoses.
Nas suturas, os ossos estão firmemente ligados por uma quantidade mí-
nima de tecido fibroso. Elas somente ocorrem entre os ossos do crânio, tendo
seu tecido fibroso contínuo com o periósteo em torno desses ossos planos.
Dessa forma, além de unir os ossos, as suturas permitem seu crescimento, de
forma que o crânio possa expandir-se com o encéfalo durante a infância.
Nas sindesmoses, os ossos são unidos por ligamentos, formados por cor-
dões de tecido fibroso mais extensos do que aqueles que ocorrem nas suturas.
Assim, a mobilidade permitida é relacionada ao comprimento das fibras que
a compõem. Portanto, se as fibras são curtas, como na articulação tibiofibu-
lar distal, pouco ou nenhum movimento é permitido. Mas, se elas são longas,
como na membrana interóssea entre os ossos do antebraço, é possível realizar
uma maior quantidade de movimento.
Por fim, gonfoses são articulações fibrosas entre os dentes e os ossos onde
se inserem as maxilas e a mandíbula. Também chamada de articulação den-
toalveolar, uma gonfose é o local que fixa a raiz do dente ao ligamento perio-
dontal do alvéolo dental.

Articulação cartilaginosa
Nas articulações cartilaginosas
ou cartilagíneas, os ossos são conec-
tados por cartilagem. Elas possuem
pouca mobilidade, geralmente em
resposta a torções ou compressões.
Vale destacar que, assim como as arti-
culações fibrosas, estas não possuem
uma cavidade articular e podem ser
divididas em duas classes: sincon-
droses e sínfi ses.
Na sincondrose, os ossos são uni-
dos por uma cartilagem hialina, a
qual também pode estar presente na

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superfície óssea como cartilagens articulares, atuando na redução da fricção
entre os ossos durante a realização dos movimentos. Ainda considerando as
sincondroses, podemos citar as cartilagens dentoalveolar e as articulações
costocondrais como exemplos.
Na sínfise, os ossos são conectados por uma cartilagem fibrosa e, como
exemplos, podemos incluir os discos intervertebrais e a sínfise púbica na pelve.
Vale ressaltar que a fibrocartilagem resiste tanto à tensão quan-
to à compressão, atuando como um amortecedor resistente.
Com isso, as sínfises são articulações ligeiramente moveis (an-
fiartroses) que fornecem resistência com flexibilidade.

Articulações sinoviais, planos e eixos de movi-


mentos, principais ligamentos
Articulações sinoviais
A classe mais evidente de articulação no corpo são as articulações sino-
viais. Capazes de se moverem livremente (diartroses), essas articulações pro-
porcionam uma larga amplitude de movimentos precisos, uniformes e, ao
mesmo tempo, são capazes de manter a estabilidade, a potência e, em certos
aspectos, a firmeza do corpo. Assim, as partes dos ossos que se articulam
estão cobertas com cartilagem e geralmente são auxiliadas por ligamentos
que lhes dão suporte.
Como características de articulação sinovial, temos a cápsula articular, a ca-
vidade articular e a sinóvia. Sendo assim, a cápsula articular é uma membrana
de tecido conjuntivo denso que envolve a articulação sinovial. Cada cápsula ar-
ticular contém uma sinóvia ou líquido sinovial, que se trata de um líquido lu-
brificante presente no interior da cavidade articular, produzido por uma mem-
brana sinovial que reveste internamente a cápsula articular. Dessa maneira, os
ossos presentes em uma articulação sinovial são envolvidos por uma camada de
cartilagem hialina chamada cartilagem articular, a qual não possui vasos san-
guíneos, obtendo sua nutrição através do movimento do líquido sinovial.
Movimentos realizados nas articulações sinoviais
À medida em que os músculos se contraem, eles fazem com que os ossos
se movam nas articulações sinoviais. Os movimentos resultantes são de três

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tipos básicos: deslizamento de uma superfície óssea em outra; movimentos
angulares, que alteram o ângulo entre os dois ossos; e rotação em torno do
eixo longo de um osso. Além desses, temos movimentos especiais, que ocor-
rem em certas articulações (Quadro 7).

QUADRO 7. MOVIMENTOS REALIZADOS PELAS ARTICULAÇÕES SINOVIAIS

Movimento Descrição Movimento Descrição

Movimento das faces ósseas relativamente planas para a frente e para trás, de
Deslizamento um lado para o outro, umas sobre as outras; pouca alteração no ângulo entre
os ossos.

Angular

Diminuição no
ângulo entre os Aumento no ângulo entre os ossos da
Flexão ossos da articulação, Extensão articulação, normalmente no plano
normalmente no plano sagital.
sagital.

Movimento do tronco Extensão além da posição


Flexão lateral Hiperextensão
no plano frontal. anatômica.

Movimento de um
osso para longe Movimento de um osso em direção
Abdução da linha mediana, Adução à linha mediana, normalmente no
normalmente no plano frontal.
plano frontal.

Flexão, abdução, extensão, adução e rotação em sequência (ou na ordem


Circundução oposta) em que a extremidade distal de uma parte do corpo se move em um
círculo.

Movimento de um osso em torno de seu eixo longitudinal; nos membros,


Rotação pode ser medial (em direção à linha mediana) ou lateral (para longe da linha
mediana).

Especial

Movimento para
Movimento para baixo de uma
Elevação cima de uma parte do Abaixamento
parte do corpo.
corpo.

Movimento anterior
de uma parte do Movimento para trás de uma parte
Protração Retração
corpo no plano do corpo no plano transverso.
transverso.

Movimento medial da
Inversão Eversão Movimento lateral da planta.
planta.

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Flexão do pé na
Flexão do pé na direção da face
Dorsiflexão direção do dorso (face Flexão plantar
plantar (sola).
superior).

Movimento do
Movimento do antebraço que vira a
Supinação antebraço que vira a Pronação
palma para trás.
palma para frente.

Movimento do polegar, de um lado a outro da palma, para tocar as pontas dos


Oposição
outros dedos na mesma mão.
Fonte: TORTORRA; NIELSEN, 2012, pg. 301. (Adaptado).

Tipos de articulações sinoviais


As articulações sinoviais podem ser classificadas com base no formato das
superfícies articulares e nos movimentos permitidos por essa morfologia. As-
sim, as articulações sinoviais são classificadas funcionalmente nas seguintes
categorias:
• Uniaxial: o movimento permitido pela articulação é realizado em torno
de um único eixo;
• Biaxial: o movimento permitido pela articulação é realizado, podendo
ocorrer em torno de dois eixos.
• Triaxial: o movimento permitido pela articulação é realizado, podendo
ocorrer em torno de todos os três eixos.
Por outro lado, a classificação morfológica das junturas sinoviais ocorre
nas seguintes categorias: plana, gínglimo, trocóidea, condilar (ou elipsóidea),
selar e esferóidea (Quadro 8).

QUADRO 8. CLASSIFICAÇÃO FUNCIONAL E ESTRUTURAIS DAS ARTICULAÇÕES SINOVIAIS

Classificação Descrição Movimentos Exemplo

Muitas biaxiais: realiza


movimentos para a Articulações
frente e para trás e de intercarpais,
As faces articuladas são um lado para outro; intertarsais,
Plana planas ou ligeiramente Algumas triaxiais: esternocostais (entre o
encurvadas. realiza movimento para esterno e o segundo ao
a frente e para trás, de sétimo par de costelas),
um lado para o outro e costovertebrais
rotação.

Articulações do joelho,
A face convexa se encaixa Uniaxial: realiza flexão-
Gínglimo cotovelo, talocrural e
em uma face côncava. extensão.
interfalângicas

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A face pontiaguda ou
arredondada se encaixa
em um anel formado Articulações atlantoaxial
Trocóidea Uniaxial: realiza rotação.
parcialmente por osso e radioulnares
e parcialmente por um
ligamento.

A projeção oval se Articulações


Condilar Biaxial: realiza flexão-
encaixa em uma radiocarpais e
(elipsóidea) extensão.
depressão oval. metacarpofalângicas

A face articular de um
Biaxial: realiza flexão- Articulação
osso é em forma de uma
Selar extensão, abdução- carpometacarpal entre o
sela, e a face articular do
adução. trapézio e o polegar
outro se apoia na sela.

A face esferóidea Triaxial: realiza flexão-


Articulações do ombro e
Esferóidea se encaixa em uma extensão, abdução-
do quadril
depressão calciforme. adução e rotação.

Fonte: TORTORRA; NIELSEN, 2012, pg. 301. (Adaptado).

Ligamentos
Os ligamentos são cordões resistentes e flexíveis de tecido conjuntivo
que estão anexos às articulações. Eles conectam os ossos entre si, além
de dar suporte às articulações e limitar seus movimentos. Encontramos
ligamentos ao redor dos joelhos, tornozelos, cotovelos, ombros e outras
articulações. Logo, qualquer lesão nos ligamentos pode tornar suas arti-
culações instáveis.
Os principais ligamentos do corpo são encontrados nas seguintes articulações:
• Articulação temporomandibular: esse gínglimo compreende a fossa
mandibular do osso temporal e o processo condilar da mandíbula. As estru-
turas que auxiliam essa articulação são o ligamento temporomandibular, o
ligamento estilomandibular e o ligamento esfenomandibular;
• Articulações da coluna vertebral: são articulações planas, formadas pela
união entre os processos articulares superior e inferior das vértebras com
os das vértebras próximas. Diversos ligamentos atuam nessa região, dentre
eles o ligamento longitudinal anterior, o ligamento longitudinal posterior,
o ligamento amarelo, o ligamento interespinal e o ligamento supraespinal;
• Articulação esternoclavicular: é plana e se localiza entre a extremidade
esternal da clavícula e o manúbrio do esterno. A cápsula é reforçada pelos
ligamentos esternoclaviculares anterior e posterior, bem como pelos liga-
mentos interclavicular e costoclavicular;

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• Articulação do ombro (glenoumeral): é esferóidea e composta pela ca-
vidade glenoidal e pela cabeça do úmero. O ligamento coracoumeral, os
ligamentos glenoumerais e o ligamento transverso do úmero recobrem e
mantêm a articulação do ombro, atuando com os músculos e tendões cir-
cundantes para proporcionar força e estabilidade.;
• Articulação do cotovelo: é um gínglimo formado por duas articulações,
sendo a articulação umeroulnar (entre o úmero e a ulna) e a articulação
umerorradial (entre o úmero e o rádio). Os ligamentos colaterais radial e
ulnar e os anulares colaboram na estabilização dessa articulação;
• Articulações radiulnares: as articulações radiulnar proximal e radiulnar
distal permitem a supinação e a pronação do antebraço. A cabeça do rádio
é estabilizada pelo ligamento anular do rádio, enquanto que as faces articu-
lares radiulnares distais se mantêm articuladas por ligamentos radiulnares
e pela membrana interóssea do antebraço;
• Articulações do punho: é composta pela articulação radiocarpal e
pelas articulações intercarpais. Os principais ligamentos da articulação
radiocarpal são o ligamento radiocarpal palmar, o ligamento radiocar-
pal dorsal, o ligamento colateral ulnar e o ligamento colateral radial do
carpo. Além deles, diversos ligamentos intercarpais unem os ossos car-
pais, e os ligamentos carpometacarpais conectam os ossos carpais dis-
tais aos ossos metacarpais;
• Articulação do quadril: é uma sinovial esferóidea constituída pela união
do acetábulo do quadril com a cabeça do fêmur. Sua cápsula articular é
reforçada e estabilizada por quatro amplos ligamentos, sendo estes o ilio-
femoral, pubofemoral, isquiofemoral e transverso do acetábulo. Vale consi-
derar que o ligamento da cabeça do fêmur também ajuda a esta-
bilizar a articulação do quadril;
• Articulação do joelho: atua como um gínglimo modifica-
do, sendo mais complexo que os gínglimos comuns.
Sete importantes ligamentos interligam e mantêm
a estabilidade da articulação do joelho, sendo os
ligamentos da patela, colateral tibial, colateral
fibular, poplíteos oblíquo e arqueado e ligamen-
tos cruzados anterior e posterior;

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• Articulações do tornozelo (talocrural): é um gínglimo constituído por
diversas articulações, em que a principal é a tibiotalar. A tíbia e a fíbula são
ligadas pelos ligamentos tibiofibulares anterior e posterior, que mantêm
estáveis os ossos unidos e evitam o deslizamento da tíbia. Além disso, o
ligamento colateral medial (deltóideo) e o ligamento colateral lateral estabi-
lizam ainda mais a articulação do tornozelo.

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Sintetizando
Nesse material, vimos uma definição de anatomia e como a anatomia hu-
mana, sendo ciência, descreve o corpo humano e sua arquitetura. Fomos apre-
sentados a conceitos como a normalidade e as variações que podem ocorrer do
nosso corpo; os fatores que ocasionam variações anatômicas individuais, como
idade, sexo, raça, tipo constitucional e evolução; e a terminologia anatômica, que
estabelece padrões utilizados, como a posição anatômica, planos e eixos anatô-
micos e termos de direção. Além disso, vimos posteriormente algumas aborda-
gens para estudar o corpo humano e, a partir da anatomia sistêmica, a organiza-
ção do corpo por meio de sistemas e aparelhos.
Assim, estudamos o esqueleto, que é o conjunto de ossos que se interliga
para formar o alicerce do corpo humano e desempenhar várias funções. Esses
ossos são classificados, de acordo com sua forma geométrica, em: longos, curtos
e planos. Suas superfícies possuem características estruturais chamadas de aci-
dentes ósseos, que aparecem onde outros elementos acessórios ao osso estão
inseridos ou, ainda, penetram através dele.
O esqueleto humano adulto possui cerca de 206 ossos organizados em duas
porções: o esqueleto axial (80 ossos) e o esqueleto apendicular (126 ossos). O es-
queleto axial é composto pelos ossos da cabeça, pescoço e tórax, ao passo que o
esqueleto apendicular compreende os ossos dos membros superiores, inferiores
e os cíngulos peitoral e pélvico. O esqueleto da cabeça repousa no topo da coluna
vertebral e é constituído de duas partes: o neurocrânio e o viscerocrânio. A caixa
torácica é composta pelo esterno, as costelas e as vértebras da coluna torácica.
A coluna vertebral é considerada um pilar ósseo e está localizada no eixo
mediano do corpo, articulando-se com o crânio, as costelas e as raí-
zes dos membros superiores e inferiores, dividindo-se em cinco re-
giões: região cervical, região torácica, região lombar, região sacra e
região coccígea. O cíngulo peitoral é formado por dois os-
sos: escápula e clavícula; enquanto que o cíngulo pélvico
é composto pelos ossos do quadril, que são unidos
pela sínfise púbica e pelo sacro. O membro superior
é dividido em braço, antebraço e mão, ao passo que o
membro inferior se divide em coxa, perna e pé.

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Por fim, vimos as articulações, que são o conjunto de partes moles ou duras
que servem como meio de união entre dois ou mais ossos próximos. Em relação
à mobilidade, as articulações são classificadas em móveis (diartroses), semimó-
veis (anfiartroses) e imóveis (sinartroses). Dentre essas, somente as diartroses
apresentam cavidade articular.

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Referências bibliográficas
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ANATOMIA HUMANA 46

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UNIDADE

2 SISTEMA MUSCULAR
E SISTEMA NERVOSO

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Objetivos da unidade
Descrever as funções dos músculos;
Conhecer, comparar e diferenciar os tipos de músculos;
Identificar os componentes anatômicos dos músculos esqueléticos e das
camadas de tecido conjuntivo relacionados ao músculo;
Conhecer a classificação dos músculos;
Identificar as principais funções do sistema nervoso;
Classificar o sistema nervoso em termos anatômicos e funcionais;
Identificar os tipos de células do tecido nervoso e suas funções básicas;
Identificar a disposição das células do tecido nervoso dentro do sistema
nervoso central e periférico, somático e visceral;
Identificar as principais estruturas anatômicas do sistema nervoso central e
periférico, e suas funções básicas;
Definir o sistema nervoso autônomo e explicar sua relação com a parte
periférica do sistema nervoso;
Descrever as diferenças entre as partes parassimpática e simpática do
sistema nervoso autônomo.

Tópicos de estudo
Sistema muscular: conceitos, Sistema nervoso: conceito e divi-
funções e grupos musculares são do sistema nervoso
Funções do sistema muscular Funções do sistema nervoso
Grupos musculares Divisão do sistema nervoso
Classificação dos músculos Sistema nervoso central
Anexos do sistema muscular Medula espinhal
Encéfalo
Tipos de músculo
Tecido nervoso
Tipos de contração muscular Neuróglias
Neurônios
Fibra muscular Meninges/ líquor e vascularização

Tecido conjuntivo Sistema nervoso periférico

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Sistema muscular: conceitos, funções e grupos musculares
“O corpo humano é uma máquina perfeita”. Para entendermos essa máxi-
ma, vamos imaginar o corpo e suas estruturas, em especial órgãos e sistemas,
como partes funcionais de uma máquina. Assim, um dos componentes essen-
ciais desse sistema é o tecido muscular, cujo peso varia entre 40 e 50% da mas-
sa total do nosso corpo (dependendo de fatores como percentual de gordura,
gênero ou programa de exercícios).
O estudo dos músculos, nesse sentido, é conhecido como miologia (mio:
músculo; logia: estudo). Aproximadamente, 600 músculos esqueléticos com-
põem o sistema muscular. Eles são órgãos formados por tecido conjuntivo,
tecido nervoso e tecido muscular e desempenham atividades vitais, como o
bombeamento do sangue pelos vasos sanguíneos, a alimentação, a respiração,
a fala, o aquecimento e o movimento do nosso esqueleto.
Sendo assim, todo tecido muscular e, consequentemente, os músculos for-
mados por ele, possuem quatro propriedades especiais que os diferenciam
dos outros tecidos e lhes permitem realizar as suas funções, além de contribuir
para a homeostasia do corpo:
1. Excitabilidade: capacidade de responder aos impulsos nervosos e ou-
tros estímulos corporais;
2. Contratilidade: capacidade de encurtar sua estrutura de maneira ativa
e exercer força de tensão;
3. Extensibilidade: capacidade de esticar quando um músculo oposto
se contrai;
4. Elasticidade: capacidade de retornar ao seu tamanho de repouso após
se esticar.
Vale comentar que o músculo esquelético difere entre homens e mu-
lheres. Mulheres adultas têm menor força corpórea quan-
do comparadas a homens adultos, em especial, por conta
dos efeitos dos hormônios sexuais masculinos (testos-
terona, principalmente) sobre os músculos esqueléti-
cos do corpo masculino. Esses hormônios também
influenciam o aumento da musculatura no sexo mas-
culino quando sob efeito de exercício muscular intenso.

ANATOMIA HUMANA 49

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Funções do sistema muscular
Por meio das contrações, o sistema muscular desempenha quatro funções
principais: produzir movimento, estabilizar a postura, movimentar substâncias
no interior do corpo e gerar calor.
1. Produção de movimentos: a função mais evidente realizada pelos mús-
culos está relacionada aos movimentos corporais. Tanto movimentos globais do
corpo (como andar), quanto movimentos localizados (como pegar uma caneta),
são dependentes da integração dos músculos esqueléticos e das estruturas rela-
cionadas a eles, como os ossos e as articulações. As fibras musculares esqueléti-
cas mantêm um estado de contração muscular por meio de estímulos nervosos,
um processo chamado de tônus muscular, importante para exercitar continua-
mente as fibras musculares esqueléticas e mobilizar o sangue e a linfa;
2. Estabilização de postura corpórea: o esqueleto fornece um alicerce
para o corpo. Nesse sentido, os músculos esqueléticos também mantêm a pos-
tura, estabilizam as articulações e oferecem suporte às vísceras. Alguns mús-
culos são músculos posturais, que atuam contra a ação da gravidade e perma-
necem em contração continuamente quando estamos alertas. Os músculos do
pescoço, por exemplo, sustentam a cabeça ereta durante uma aula;
3. Condução e armazenamento de substâncias no interior do corpo: a
contração das camadas de músculos lisos em formato circular, denominadas
esfíncteres, controlam a abertura e o fechamento dos órgãos ocos. As contra-
ções do músculo liso também mobilizam substâncias, como as enzimas pelo
trato gastrointestinal, os gametas (espermatozoides e óvulos) pelos sistemas
reprodutores e a urina pelo sistema urinário. A contração do músculo cardíaco
impulsiona o sangue pelos vasos sanguíneos do corpo. Já a contração do mús-
culo esquelético, por sua vez, provoca indiretamente o fluxo de sangue das
veias para coração, assim como o fluxo de linfa por todo o corpo;
4. Produção de calor: o tecido muscular também produz calor ao se con-
trair, um processo chamado termogênese. A maior parte do calor produzido é
utilizado para a manutenção da temperatura corporal. Essa produção de calor
é amplificada durante exercícios forçados. Além disso, calafrios e contrações
involuntárias dos músculos esqueléticos também conseguem aumentar a in-
tensidade da produção de calor.

NUTRIÇÃO CLÍNICA 50

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Grupos musculares
Os músculos podem ser agrupa-
dos em conjuntos, de acordo com a
sua função e origem embrionária, co-
laborando para a formação e disposi-
ção dos músculos esqueléticos. Assim,
podemos organizar quatro grupos
musculares: músculos das vísceras,
músculos do arco faríngeo, músculos
axiais e músculos dos membros.
1. Músculos das vísceras: esse
tecido muscular é encontrado nas
vísceras. Uma vez que os músculos
das vísceras não se relacionam di-
retamente com o esqueleto, comen-
taremos adiante sobre esse grupo
muscular ao estudarmos, respectiva-
mente, o sistema digestório e o siste-
ma circulatório;
2. Músculos do arco faríngeo: nesse grupo estão inclusos os músculos
esqueléticos da faringe, bem como alguns músculos da cabeça e do pesco-
ço. A característica em comum entre esses músculos é que eles se desen-
volvem em volta da faringe na fase embrionária. Alguns deles, inclusive, são
músculos da expressão facial, da mastigação, os músculos supra-hioideos,
os constritores da faringe, os músculos esternocleidomastoideos e o mús-
culo trapézio;
3. Músculos axiais: são os músculos esqueléticos relacionados ao esquele-
to axial, localizados no tórax, abdome e pelve, bem como em alguns músculos
do pescoço e da cabeça. Suas principais funções envolvem manter a postura
e movimentar o tronco. Pertencem a esse grupo os músculos extrínsecos do
olho, os músculos que movimentam a língua, os músculos infra-hioideos, os
músculos respiratórios do tórax, os músculos profundos do dorso, os músculos
do abdômen e os músculos da pelve;

NUTRIÇÃO CLÍNICA 51

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4. Músculos dos membros: esse agrupamento de músculos, que atua na
locomoção e na manipulação de objetos, inclui os músculos dos membros su-
periores e inferiores, bem como os músculos que conectam os membros aos
seus cíngulos e os músculos que conectam os cíngulos ao tronco. Nos mem-
bros superiores, os músculos extensores são posteriores, enquanto os múscu-
los flexores são anteriores. Durante o desenvolvimento embrionário, o mem-
bro inferior é invertido, ou seja, os músculos extensores ficam anteriores e os
músculos flexores se tornam posteriores.

Classificação dos músculos


Os músculos podem ser classificados com base em diversos critérios, sendo
os principais: a forma do músculo e o arranjo de suas fibras, o número de ori-
gens, o número de inserções, o número de ventres musculares, o tipo de ação
executada, e, por fim, a função.
I. Forma do músculo e arranjo de suas fibras: o funcionamento do múscu-
lo condiciona sua forma e o arranjo de suas fibras: além disso, sua arquitetura e
organização é diversa. Em suma, os músculos podem ter suas fibras dispostas
de modo paralelo, oblíquo ou circular em relação à direção de tração exercida:
a. Disposição paralela das fibras: pode ser encontrada nos músculos lon-
gos (com predomínio do comprimento, como o músculo esternocleidomas-
toideo) e nos músculos largos (com equivalência do comprimento e largura,
como o músculo glúteo máximo). Os músculos longos comumente têm as
fibras musculares organizadas em direção aos tendões de origem e inserção.
Eles possuem aspecto fusiforme, embora também possam ser cônicos ou ci-
líndricos (redondos). Os músculos largos têm comumente as fibras convergin-
do para um tendão em uma das extremidades, dando-o o aspecto de leque.
Os músculos longos podem também ser cônicos ou cilíndricos (redondos);
b. Disposição oblíqua das fibras: músculos com essa disposição em re-
lação aos tendões são denominados peniformes (em forma de pena).
Caso os feixes musculares se prendam em apenas uma borda do tendão,
ele é dito unipenado (como o músculo extensor longo dos dedos do pé),
caso os feixes se prendam nas duas bordas é nomeado bipenado (como
o músculo reto da coxa);

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c. Disposição circular das fibras: são músculos que circulam canais e orifí-
cios, como podemos observar nos músculos orbiculares.
II. Número de origens: origem ou cabeça é como chamamos a conexão de
um músculo a um osso menos móvel, sendo que os músculos podem possuir
mais de uma origem. Assim, eles são classificados como músculos bíceps (duas
cabeças), tríceps (três cabeças) ou quadríceps (quatro cabeças). Exemplos mais
comuns são encontrados nos membros superiores e inferiores: músculo bí-
ceps braquial e quadríceps femoral, por exemplo;
III. Número de inserções: do mesmo modo, denominamos de inserção (ou
cauda) a conexão de um músculo ao osso mais móvel, sendo que os múscu-
los podem possuir mais de uma inserção. Assim, eles são classificados como
bicaudados (duas inserções) ou policaudados (três ou mais inserções). Como
exemplo, temos o músculo extensor longo dos dedos do pé;
IV. Número de ventres musculares: a região média do músculo, conhecida
popularmente como “carne”, é denominada ventre muscular. Alguns músculos
apresentam mais de um ventre muscular, sendo classificados como digástricos
(dois ventres, como o músculo digástrico) e poligástricos (três ou mais ventres,
como o músculo reto do abdômen);
V. Ação executada: de acordo com a ação principal decorrente da contração
muscular, podemos classificar um músculo de diversas maneiras, como: exten-
sor, flexor, abdutor, adutor, rotador medial, rotador lateral, supinador, pronador,
levantador, depressor, esfíncter, orbicular, tensor, dilatador e retrator;
VI. Função: do ponto de vista funcional, os músculos podem ser classifica-
dos como agonistas, antagonistas, sinergistas e fixadores. O músculo agonista
é o agente executor do movimento principal. O músculo antagonista se opõe
ao movimento do agonista, no intuito de regular a potência da ação ou a velo-
cidade do movimento. Por exemplo, podemos citar a flexão do antebra-
ço, em que o músculo bíceps braquial atua como agonista e o
músculo tríceps braquial age como antagonista. O músculo
sinergista atua impedindo movimentos indesejáveis do
agonista. Além disso, os músculos sinergistas são os que
mantêm a postura e estabilizam as articulações, agindo
como fixadores. Como exemplo, temos os músculos que
fixam a escápula quando o braço se move.

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Anexos do sistema muscular
Em um músculo esquelético típico, podemos observar uma porção média
(ventre muscular) e suas extremidades. Se as extremidades têm forma cilin-
droide ou de fita, denominamos tendões; caso manifestem formato laminar,
denominamos aponeuroses. Tanto tendões quanto aponeuroses são consti-
tuídos por tecido conjuntivo denso e possuem aspecto esbranquiçado, sendo
muito resistentes e inextensíveis. Ambos elementos atuam fixando o músculo
ao esqueleto, embora possam realizar essa fixação do músculo em outras es-
truturas, como cartilagem, tendão de outro músculo, cápsulas articulares, etc.
Aponeuroses, fáscias, bainhas tendíneas e as bolsas sinoviais são conside-
radas órgãos acessórios do sistema muscular. As fáscias envolvem cada mús-
culo ou grupos de músculos, além de mantê-los em posição durante a con-
tração. Outras funções delas incluem atuar como origem ou inserção para os
músculos, compor retináculos (espessamentos transversais da fáscia que re-
têm os tendões), servir como vias de passagem para vasos e nervos e viabilizar
o deslizamento dos órgãos adjacentes.
Bainhas tendíneas e bolsas sinoviais são estruturas associadas às articula-
ções sinoviais e atuam como “rolamentos”, reduzindo o atrito entre os elemen-
tos do corpo durante a movimentação. A bolsa sinovial é uma estrutura fibrosa
achatada em forma de saco, revestida por uma membrana sinovial, em que
músculos, tendões, ligamentos ou ossos se sobrepõem e geram fricção. Uma
bainha tendínea é uma bolsa fechada revestida por uma membrana sinovial
que envolve um tendão, sendo encontrada em tendões sujeitos ao atrito (por
exemplo, superfícies articulares de grande movimentação) ou em estruturas
(como pontes ou túneis) entre os ossos, local onde os tendões deslizam (por
exemplo, túnel do carpo). Pode tanto ser fibrosa como sinovial.

Tipos de músculos
O tecido muscular pode ser classificado em três tipos: estriado esqueléti-
co, estriado cardíaco e liso. Duas características principais definem cada um
desses tipos: a presença de estrias nas células musculares e a consciência no
controle da contração.

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1. Tecido muscular estriado esquelético: correspondendo a 40% do peso
corporal, esse tecido se situa nos músculos esqueléticos, órgãos individuais
que se conectam ao esqueleto e garantem o seu movimento. Possui estrias
escuras e claras que atravessam transversalmente suas alongadas e cilíndricas
células musculares esqueléticas (também conhecidas como fibras musculares).
O músculo esquelético está sujeito ao controle consciente, ou seja, é possível
controlá-lo de acordo com a vontade;
2. Tecido muscular estriado cardíaco: o tecido muscular cardíaco é en-
contrado apenas no coração. Assim como as células musculares do músculo
esquelético, a musculatura cardíaca também é composta por músculos es-
triados, entretanto, sua contração é involuntária, ou seja, não temos controle
consciente sobre a velocidade das batidas do nosso coração;
3. Tecido muscular liso: o tecido muscular liso no corpo é encontrado
nas paredes dos órgãos internos ocos (com exceção do coração), como o
trato gastrointestinal, as vias respiratórias, os vasos sanguíneos e a bexiga
urinária. Esse tecido é conhecido como não estriado, devido à ausência
de estrias em suas células musculares. Suas células são alongadas, assim
como as do músculo esquelético, e sua contração é involuntária, como no
músculo cardíaco.

CURIOSIDADE
Há músculos estriados esqueléticos que só estão parcialmente sob o
controle da vontade, como podemos observar no caso do diafragma e
os músculos da respiração: é possível suspender a respiração volunta-
riamente por algum tempo, ao fixar o diafragma, mas com o fim da nossa
tolerância, o diafragma se contrai e a respiração volta ao normal. Outra
musculatura parcialmente controlável é a do canal anal, também sob o
controle parcial do indivíduo.

Ainda vale destacar que o tecido muscular liso e o tecido muscular car-
díaco são conhecidos como músculos viscerais, uma vez que ambos ocor-
rerem em órgãos e possuem contração involuntária. Além disso, embora
todos os tipos musculares tenham estrias longitudinais, apenas os cha-
mados músculos estriados possuem estrias transversais. Sendo assim, os
músculos lisos são classificados como lisos justamente por não possuírem
estriações transversais.

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Tecido muscular

Tecido estriado cardíaco Tecido liso Tecido estriado esquelético

Figura 1. Representação esquemática dos tipos de tecido muscular. Fonte: Shutterstock. Acesso em: 28/08/2020.

Tipos de contração muscular


A célula muscular é controlada pelo sistema nervoso. Cada músculo possui
um nervo motor com suas ramificações, visando inervar todas as células do
músculo. Quando o impulso nervoso é transmitido por meio de um nervo, esse
impulso é repassado para as células musculares que realizam contrações, ge-
ralmente classificadas como isotônicas ou isométricas.
• Na contração isotônica, o músculo gera tensão (força de contração) para
a movimentação corporal e a movimentação de objetos, e sofre alteração em
seu comprimento. A contração isotônica pode ser concêntrica (quando o mús-
culo encurta o comprimento durante a contração e traciona seu tendão para
aproximar as estruturas ósseas) ou excêntrica (quando o músculo aumenta o
comprimento durante a contração ao afastar as estruturas ósseas);
• Na contração isométrica, o músculo gera tensão, mas não ocorre altera-
ção no seu comprimento (não há movimento). As contrações isométricas são
importantes porque estabilizam as articulações, bem como são responsáveis
pela manutenção da postura e pela sustentação de objetos em posição fixa.

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Para que a contração muscular ocorra, o neurônio motor se estende para
atingir a junção neuromuscular – a sinapse (local de comunicação entre dois
neurônios ou entre um neurônio e uma célula-alvo) entre um neurônio somá-
tico motor e uma fibra muscular esquelética. A terminação da célula nervosa,
na sinapse neuromuscular, é chamada de terminação sináptica e possui, em
seu citoplasma, numerosas mitocôndrias e vesículas sinápticas (pequenas ve-
sículas secretoras preenchidas por substâncias químicas). Essas moléculas quí-
micas são chamadas de neurotransmissores. A acetilcolina (ACh), por sua vez,
é o neurotransmissor liberado na junção neuromuscular. Quando o impulso
nervoso alcança a terminação sináptica, a ACh é liberada na fenda sináptica, li-
gando-se aos receptores da fibra muscular, dando início a uma alteração no po-
tencial transmembrana dessa célula. Essa alteração inicia um impulso elétrico,
que se propaga por toda célula muscular, e os impulsos elétricos permanecem,
sendo gerados continuamente até que a enzima acetilcolinesterase (AChE) re-
mova a ACh dos receptores.

Fibra muscular
Cada músculo esquelético é um
órgão próprio, constituído por várias
células musculares esqueléticas, tam-
bém denominadas fibras musculares,
em consideração ao seu formato alon-
gado (algumas podem alcançar 30 cm
e diâmetros de 10 a 100 μm). As fibras
musculares esqueléticas possuem
como características próprias; estrias,
vários núcleos, além de nunca sofre-
rem mitose após terem se formado, fi-
cando apenas mais longas e espessas
durante a infância e a adolescência,
por conta do crescimento do corpo.
Vale destacar, também, que as fibras musculares esqueléticas são circunda-
das por células satélites, células musculares imaturas. Durante a juventude,

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algumas células satélites se fundem com as fibras musculares, colaborando
para o crescimento do corpo. Ademais, havendo uma lesão muscular, as célu-
las satélite se proliferam no tecido muscular danificado e produzem proteínas
para reparar a lesão. Contudo, a capacidade de regeneração do tecido muscu-
lar esquelético ainda é bem limitada, e pode ser substituída, principalmente,
pelo tecido cicatricial.
Para compreender como a fibra muscular funciona, precisamos aprender
sobre os termos específicos do sistema muscular. Os prefixos mio: músculo e
sarco: carne, referem-se ao músculo, termos esses presentes nas estruturas
das células musculares. Por exemplo, a membrana plasmática das células mus-
culares é chamada de sarcolema; o citoplasma é denominado sarcoplasma; o
retículo endoplasmático, especializado em armazenamento de cálcio, é desig-
nado retículo sarcoplasmático; os microfilamentos, compreendendo proteí-
nas contráteis, são nomeados miofilamentos.
Apesar da nomenclatura incomum, as células musculares possuem organe-
las iguais a outras células. Cada fibra muscular é envolvida pelo sarcolema. Po-
demos observar milhares de pequenas invaginações no sarcolema, chamadas
de túbulos transversos ou túbulos T, que se abrem para o exterior e seguem
perpendiculares ao retículo sarcoplasmático. O retículo sarcoplasmático, por
sua vez, apresenta-se como uma rede de canais membranosos e se estende
ao longo do sarcoplasma. Quando a fibra muscular está relaxada, o retículo
sarcoplasmático armazena íons cálcio (Ca2+). Quando a fibra é estimulada, Ca2+
é liberado para o sarcoplasma, o que permite a contração do músculo.
No interior das fibras musculares, encontramos também muitas miofibrilas,
organelas lineares e cilíndricas com aproximadamente um micrômetro (1 μm)
de diâmetro, que se estendem paralelamente de uma extremidade a outra na
célula muscular. Os filamentos na miofibrila estão dispostos em com-
partimentos chamados sarcômeros. Além disso, cada miofi-
brila é constituída por miofilamentos, que são filamentos
menores de proteínas contráteis, que podem ser classi-
ficados como filamentos finos, compostos de proteína
actina, ou filamentos espessos, compostos da proteí-
na miosina. Ambos miofilamentos estão relacionados
ao processo de contração.

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QUADRO 1. ESTRUTURA E NÍVEIS ORGANIZACIONAIS DO
MÚSCULO ESTRIADO ESQUELÉTICO

Estrutura e nível
Descrição
organizacional

Músculo consiste em centenas e até milhares de células


Músculo
musculares, além de envoltórios de tecido conjuntivo, vasos
(órgão)
sanguíneos e fibras nervosas.

Fascículo
Fascículo é um feixe individual de células musculares, separadas do
(uma parte do
restante do músculo por uma bainha de tecido conjuntivo.
músculo)

Fibra muscular Fibra muscular é uma célula multinucleada alongada – ela possui
(célula) uma aparência estriada.

As miofibrilas são organelas contráteis em forma de bastão que


Miofibrila
ocupam a maior parte do volume da célula muscular. Compostas
(organela complexa
de sarcômeros (arranjados de forma que a extremidade de um
contendo
sarcômero encoste na extremidade do outro), elas parecem
miofilamentos)
listradas, sendo que suas listras adjacentes são alinhadas.

Sarcômero
Sarcômero é uma unidade contrátil composta por miofilamentos
(um segmento de
feitos de proteínas contráteis.
uma miofibrila)

Os miofilamentos contráteis são de dois tipos: espesso e fino.


Os filamentos espessos contêm feixes de moléculas de miosina;
Miofilamento ou
os filamentos finos contêm moléculas de actina (além de outras
filamento
proteínas). O deslizamento dos filamentos finos ultrapassando os
filamentos espessos produz encurtamento muscular.

Fonte: MARIEB; WILHELM; MALLATT, 2014, p. 254. (Adaptado).

As miofibrilas exibem padrões de estrias escuras e claras, e os miofilamen-


tos determinam o padrão das estrias, que consiste em várias bandas e zonas,
que podem ser vistas tanto em uma única miofibrila quanto na fibra muscular
inteira. Nessa organização do padrão temos a banda A, em que ocorre os fila-
mentos espessos; banda I, que contém somente filamentos finos; e a banda Z,
onde os filamentos finos de sarcômeros vizinhos se unem. Também existem as
linhas M e a banda H, onde se situam apenas filamentos espessos (Figura 2).

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Retículo sarcoplasmático
Miofribila
Núcleo
Bíceps
Miosina protuberantes

Músculo

Filamento fino Epimísio


de actina
Mitocôndria

Fibras musculares
Perimísio

Fascículo

Figura 2. Representação esquemática dos níveis de organização do músculo estriado esquelético. Fonte: Adobe Stock.
Acesso em: 19/08/2020

Durante a contração muscular, o músculo esquelético se encurta devido


ao deslizamento que ocorre na sobreposição dos filamentos finos e espes-
sos, um processo conhecido como teoria dos filamentos deslizantes. Isso
ocorre porque as cabeças de miosina se prendem aos filamentos finos e “ca-
minham” em ambas as extremidades do sarcômero, tracionando os filamen-
tos rumo a linha M. Assim, os filamentos finos deslizam e se encontram no
centro do sarcômero, encurtando o sarcômero e aproximando as linhas Z.
O encurtamento dos sarcômeros resulta no encurtamento da fibra muscu-
lar inteira e, consequentemente, no encurtamento (contração) do músculo.
Vale destacar, ainda, que o comprimento dos miofilamentos individuais não
se alteram durante a contração.

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Sarcômero
Filamento grosso Filamento Filamento
de miosina fino de actina elástico de titina
Músculo

Disco z Linha m Disco z

Sarcômero
Filamento grosso Filamento
de miosina fino de actina
Banda i Banda a Banda i
Miofibrila

Disco z Zona h Disco z Linha m

Figura 3. Representação esquemática de um sarcômero. Fonte: Adobe Stock. Acesso em: 19/08/2020.

Tecido conjuntivo
A eficiência das fibras musculares se deve ao fato de que elas não atuam
como unidades isoladas. Assim, cada fibra se liga a outras fibras adjacentes,
constituindo um feixe denominado fascículo. Cada fascículo é ligado a outro
fascículo, compondo o músculo. Dessa forma, a contração muscular ocorre em
sintonia ao longo de todo o músculo.

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A ligação no interior do músculo é realizada por meio do tecido conjuntivo,
cuja função é fortalecer, proteger e conectar as fibras musculares em fascícu-
los, além de ligá-los aos músculos. Cada fibra individual dos músculos esque-
léticos está coberta pelo endomísio, uma bainha delgada de tecido conjuntivo
que liga fibras em conjunto, além de conter estruturas que servem ao músculo,
como os vasos capilares e as terminações nervosas. O perimísio liga os fascí-
culos e contém vasos sanguíneos e fibras nervosas que atuam em vários deles.
O músculo inteiro é envolvido pelo epimísio. Todas essas bainhas de tecido
conjuntivo contribuem para a formação dos tendões.

Sistema nervoso: conceito e divisão do sistema nervoso


Imagine as seguintes situações. (1) Você está andando pela rua, escuta
uma buzina e desvia para a calçada mais próxima. (2) Um rádio toca o trecho
de uma música que você reconhece. (3) Enquanto cochila, seu despertador
toca e, instantaneamente, você desperta. Todos eles são exemplos diários
do funcionamento do sistema nervoso, cujas células permanecem quase o
tempo inteiro em atividade no nosso corpo. A importância do sistema ner-
voso é tamanha que seu estudo compõe uma disciplina própria no currículo
de formação de profissionais da área da saúde, a Neuroanatomia. Na práti-
ca médica, a Neurologia, a Neurocirurgia e a Psiquiatria focam seus esforços
na compreensão do sistema nervoso.

Funções do sistema nervoso


O sistema nervoso coordena uma complexa diversidade de tarefas, permi-
tindo monitorar e interpretar os estímulos do interior e do exterior do corpo.
Tal fato, por sua vez, envolve, desde o controle dos movimentos corporais, até
a regulação da atividade dos órgãos internos. Essas atividades diversas são
agrupadas com base em três funções: sensitiva, integrativa e motora.
1. Função sensitiva: os receptores sensitivos captam estímulos internos,
como a diminuição na pressão arterial, tanto quanto estímulos externos, como
raios solares sob a pele. Os neurônios sensitivos ou aferentes transmitem essa
informação para o encéfalo e a medula espinhal;

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2. Função integrativa: o sistema nervoso processa as informações, arma-
zenando algumas e elaborando respostas apropriadas – uma atividade conhe-
cida como integração. Muitos dos neurônios que realizam a integração são
interneurônios (neurônios que se interconectam com outros neurônios). Os
interneurônios compreendem a maior parte do sistema nervoso central, bem
como a vasta maioria dos neurônios do corpo;
3. Função motora: após a integração do estímulo, o sistema nervoso
determina uma resposta motora, como uma contração muscular ou uma
secreção glandular, através dos chamados neurônios eferentes ou moto-
res. Os neurônios motores conduzem a informação do encéfalo para a
medula espinhal ou para além dessas estruturas, rumo aos efetores (mús-
culos e glândulas).

Divisão do sistema nervoso


O sistema nervoso se distingue de outros sistemas por possuir células ex-
tremamente longas. Portanto, é difícil dividi-lo em órgãos distintos com suas
populações celulares exclusivas, como fazemos com outros sistemas do cor-
po. Dessa forma, o sistema nervoso apresenta duas subdivisões anatômicas:
o sistema nervoso central e o sistema nervoso periférico.
O sistema nervoso central (SNC) é constituído pelo encéfalo e pela medula
espinhal. O encéfalo é protegido pelo crânio, enquanto a medula espinhal é
protegida pela coluna vertebral. O SNC é o centro de comando e integração
do sistema nervoso, recebendo sinais sensitivos, interpretando-os e coorde-
nando respostas motoras baseadas em condições atuais, experiências ante-
riores e reflexos.
O sistema nervoso periférico (SNP) é constituído, principalmente, por ner-
vos que se estendem do cérebro à medula espinhal, aos gânglios e aos re-
ceptores sensoriais. O SNP interliga o sistema nervoso central ao restante do
corpo, dessa forma, os nervos periféricos atuam como vias de comunicação,
ligando todas as partes do corpo ao SNC. Os gânglios, por sua vez, são áreas
que agrupam os corpos celulares dos neurônios periféricos; já os receptores
sensoriais são estruturas que atuam monitorando alterações externas e in-
ternas, como os receptores na pele que detectam sensações táteis.

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Sistema nervoso humano
Inervações do parassimpático Inervações do simpático
Constrição das
Dilata as pupilas
Sistema Sistema pupilas
nervoso nervoso Inibe a
central periférico Estimula a salivação Cérebro salivação

Broncoconstrição Broncodilatação
Medula
espinhal
Cadeia
Bradicardia simpática Taquicardia

Inibe a
Estimula a digestão
digestão no no estômago
estômago
Estimula a
Inibe a liberação de liberação de
glicose estimula o glicose inibe o
funcionamento funcionamento
da vesícula biliar da vesícula biliar
Inibe o
Estimula o funcionamento
funcionamento do intestino
do intestino
Secreta
epinefrina e
noradrenalina
Contração da bexiga
Relaxa a bexiga

Promove a ejaculação no órgão genital


Promove ereção dos orgãos genitais
masculino e contração da vagina no órgão
genital feminino

Figura 4. Representação esquemática do sistema nervoso. Fonte: Adobe Stock. Acesso em: 28/08/2020.

Sistema nervoso central


Consideramos como pertencentes ao sistema nervoso central o encéfalo e
a medula espinhal. Marieb e colaboradores (2014), dissertam sobre a natureza
desse sistema:
Historicamente, o SNC tem sido comparado ao quadro de dis-
tribuição central de um sistema de telefonia que interconecta e
roteia um número gigantesco de chamadas. Hoje em dia, muitos
pesquisadores o assemelham a um supercomputador. Essas ana-
logias podem ser suficientes para alguns trabalhos sobre a medula
espinhal, mas nenhuma delas faz justiça à fantástica complexidade
do encéfalo humano. Como base do comportamento, personali-
dade e intelecto exclusivos de cada pessoa, o funcionamento do

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encéfalo humano é um milagre, e compreender sua complexidade
é um desafio (MARIEB; WILHELM; MALLATT, 2014, p. 389).
Nesse sentido, para compreendermos as maravilhas do encéfalo e do sis-
tema nervoso central, precisamos de alguns termos direcionais exclusivos do
SNC: as regiões mais altas do sistema se situam na direção rostral (direção da
face) e suas partes inferiores se situam na direção caudal (direção da cauda).
Assim, o SNC é constituído por regiões distintas de substâncias cinzentas e
brancas, que refletem a organização dos seus neurônios. A substância cinzen-
ta consiste em um aglomerado de dendritos, corpos celulares de neurônios,
neurônios curtos amielínicos e neuróglias, e é nessa região que ocorrem as
sinapses. A substância branca, por sua vez, consiste em agrupamentos de axô-
nios mielínicos com neuróglias associadas. Sua cor branca é proveniente das
bainhas de mielina em volta de vários axônios.
O cérebro consiste em duas camadas. A camada superficial, que forma o
córtex do cérebro e do cerebelo, é composta por uma substância cinzenta.
Abaixo do córtex cerebral está a espessa camada de substância branca do cé-
rebro. Na medula espinhal, entretanto, a substância cinzenta está localizada
no centro e é envolvida pela substância branca. A relação entre os tamanhos
e a forma das substâncias cinzentas e substâncias brancas varia ao longo da
medula espinhal. A quantidade de substância branca aumenta em direção ao
encéfalo, enquanto a substância cinzenta é encontrada em maior quantidade
nas intumescências cervical e lombossacral, onde as inervações dos membros
superiores e inferiores, respectivamente, fazem conexões.

Medula espinhal
A medula espinhal de um indivíduo adulto possui aproximadamente 100 mi-
lhões de neurônios e mede cerca de 45 cm de comprimento, estendendo-se do
forame magno do crânio até a margem inferior da segunda vértebra lombar (L2).
Trinta e um pares de raízes nervosas espinhais saem da medula espinhal. O feixe
de raízes mais inferior se assemelha a uma cauda de cavalo (cauda equina). A
medula espinhal apresenta intumescências localizadas (intumescência cervical
e intumescência lombar) e trechos expandidos e alargados na coluna vertebral,
refletindo na inervação dos membros superiores e inferiores, respectivamente.

NUTRIÇÃO CLÍNICA 65

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Apesar de serem anatomicamente conectados, a medula espinhal e o encé-
falo apresentam uma significativa independência funcional. A medula espinhal
é mais do que apenas uma via para transmissão de informações ao encéfalo ou
a partir dele. Embora a maioria dos estímulos seja transmitido para o encéfalo,
a medula espinhal também é capaz de integrar e processar informações, como
acontece nos arcos reflexos.
Um arco refl exo implica em uma resposta automática, inconsciente e
protetora diante de uma situação que visa preservar a homeostasia do cor-
po. Os impulsos são conduzidos por uma via pequena do neurônio sensitivo
para o neurônio motor, e apenas dois ou três neurônios estão envolvidos.
Os cinco componentes de um arco refl exo são o receptor, o neurônio sen-
sitivo, o neurônio central, o neurônio motor e o efetor. O receptor inclui o
dendrito de um neurônio sensitivo e o lugar em que o impulso nervoso é
iniciado, com o neurônio sensitivo retransmitindo o impulso para o SNC.
O neurônio central está localizado dentro do SNC e normalmente envolve
um ou mais neurônios de associação (interneurônios), processando a infor-
mação. O neurônio motor conduz o impulso nervoso para um órgão efetor
(geralmente um músculo esquelético).

Encéfalo
O encéfalo é, provavelmente, o mais fascinante órgão do corpo, sendo
muito mais complexo do que a medula espinhal. É capaz de responder a estí-
mulos com grande versatilidade, resultado de seus aproximados
20 bilhões de neurônios, cada um podendo receber informa-
ções simultaneamente por meio de milhares de sinapses. O
encéfalo surge como a parte superior do tubo neural a partir
da quarta semana de desenvolvimento embrionário.
Imediatamente, com a sua expansão, aparecem as
constrições que definem as três vesículas encefá-
licas primárias: o prosencéfalo, o mesencéfalo
e o rombencéfalo. Com base nessas transfor-
mações, as partes mais importantes do SNC são
originadas (Quadro 2).

NUTRIÇÃO CLÍNICA 66

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QUADRO 2. DERIVAÇÃO E FUNÇÃO DAS PRINCIPAIS ESTRUTURAS DO ENCÉFALO

Região durante o Região no


Estrutura Função
desenvolvimento adulto

Controle das atividades sensitivas,


sensoriais e motoras; raciocínio,
Telencéfalo Cérebro
memória, inteligência etc.; funções
instintivas e límbicas.

Centro retransmissor; todos os


impulsos (exceto o olfato) que se
dirigem ao cérebro fazem sinapse
Tálamo
aqui; alguma interpretação
sensorial; início de respostas
Prosencéfalo autônomas para dor.

Diencéfalo Regula fome e sede, temperatura


corporal, batimentos cardíacos,
Hipotálamo etc.; controla a atividade secretora
da glândula hipófise anterior;
funções instintivas e límbicas.

Regula outras glândulas


Hipófise
endócrinas.

Reflexos visuais (coordenação


Colículo superior
olho-mão).

Mesencéfalo Mesencéfalo Colículo inferior Reflexos auditivos.

Pedúnculos Coordenação dos reflexos; contêm


cerebrais muitas fibras motoras.

Coordenação motora e do
Cerebelo
equilíbrio.
Metencéfalo
Centro retransmissor; contém
Ponte
núcleos (núcleos pontinos).
Rombencéfalo
Centro retransmissor; contém
muitos núcleos; centros
Mielencéfalo Bulbo autônomos viscerais (por exemplo,
respiratório, frequência cardíaca,
vasoconstrição).

Fonte: VAN DE GRAAFF, 2003, p. 362. (Adaptado).

NUTRIÇÃO CLÍNICA 67

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O telencéfalo desenvolve duas intumescências laterais, que se transformam
nos grandes hemisférios cerebrais, popularmente conhecidos como cérebro.
O diencéfalo está recoberto pelos hemisférios cerebrais que derivam do telen-
céfalo, sendo somente possível visualizá-lo através de um corte sagital mediano
que separa os hemisférios cerebrais. O cerebelo, por sua vez, está situado em
posição dorsal à ponte e ao bulbo. O tronco encefálico é constituído pelo me-
sencéfalo, a ponte e o bulbo, que se ligam aos hemisférios cerebrais a partir do
mesencéfalo. O cérebro, o cerebelo e o tronco encefálico constituem o encéfalo.
I. Tronco encefálico: o tronco encefálico é o segmento do encéfalo locali-
zado entre a medula espinhal e o diencéfalo, sendo composto por três estru-
turas: o mesencéfalo, a ponte e o bulbo (medula oblonga).
• Núcleos no mesencéfalo processam a informação visual e auditiva e
coordenam e comandam respostas somáticas motoras relacionadas aos
estímulos. Além disso, também contêm centros relacionados à manuten-
ção da consciência;
• A ponte se encontra abaixo do mesencéfalo. Ela contém núcleos envol-
vidos no controle motor somático e visceral. A ponte recebe esse nome
devido a sua função de conectar o cerebelo ao tronco encefálico;
• A medula espinhal se conecta ao tronco encefálico pelo bulbo. A parte
superior do bulbo possui um teto fino, membranoso, enquanto a parte in-
ferior se assemelha à medula espinhal. O bulbo retransmite a informação
sensitiva para o tálamo e outros centros do tronco encefálico. Além disso,
o bulbo contém importantes centros relacionados à regulação da função
autonômica, como a frequência cardíaca, a pressão sanguínea e as ativi-
dades digestivas.
II. Cerebelo: o cerebelo é a segunda maior parte do encéfalo, corresponde
a até 11% da massa do encéfalo. O cerebelo está situado em posição dorsal
à ponte e ao bulbo e faz a regulação automática das atividades motoras, aju-
dando a manter a postura e o equilíbrio;
III. Telencéfalo (cérebro): o cérebro é a maior estrutura do encéfalo. Está
dividido em dois grandes hemisférios cerebrais, separados pela fissura lon-
gitudinal. A superfície do cérebro, o córtex cerebral, é constituída por uma
substância cinzenta. O córtex cerebral é convoluto por fendas chamadas
de sulcos. Esses sulcos separam cristas intermediárias, denominadas giros.

NUTRIÇÃO CLÍNICA 68

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Cada hemisfério cerebral é subdividido em cinco lobos (Quadro 3) por sul-
cos e fissuras profundas, sendo que o nome dos lobos deriva dos ossos do
crânio adjacentes a cada um. O processamento consciente do pensamento,
as funções intelectuais, o armazenamento e a recuperação da memória e os
padrões motores complexos originam-se no cérebro;

CURIOSIDADE
Cada um dos hemisférios cerebrais realiza diferentes funções. Na maioria
da população, o hemisfério esquerdo coordena habilidades analíticas e
verbais, enquanto o hemisfério direito é o centro da inteligência espacial e
artística. O corpo caloso unifica os dois hemisférios e possibilita um com-
partilhamento de memória e aprendizagem.

QUADRO 3. FUNÇÕES DOS LOBOS CEREBRAIS

Lobo Funções

Controle motor voluntário dos músculos esqueléticos; personalidade;


Frontal processos intelectuais mais elevados (por exemplo: concentração,
planejamento e tomar decisões); comunicação verbal.

Interpretação somatestésica (por exemplo: sensibilidade muscular e


Parietal cutânea); compreensão da fala e formulação de palavras para expressar
pensamentos e emoções; interpretação de texturas e formas.

Interpretação de sensações auditivas; armazenamento (memória) de


Temporal
experiências auditivas e visuais.

Integração dos movimentos de focalização dos olhos; correlação de


Occipital imagens visuais com experiências visuais prévias e outros incentivos
sensoriais; percepção consciente de visão.

Insular Memória; integração com outras atividades cerebrais.

Fonte: MARIEB; WILHELM; MALLATT, 2014, p. 366. (Adaptado).

I. Diencéfalo: a parte profunda do encéfalo, ligada ao cérebro, é chamada


de diencéfalo. O diencéfalo tem três subdivisões, e suas funções podem ser
resumidas de acordo com os tópicos:
• O epitálamo contém a hipófise, também conhecida como glândula pi-
neal, a principal estrutura endócrina do corpo;
• O tálamo é a sede do processamento e retransmissão de impulsos sensitivos;
• O hipotálamo se conecta à hipófise e contém centros envolvidos em
emoções, produção hormonal e função do sistema nervoso autônomo.

NUTRIÇÃO CLÍNICA 69

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Tecido nervoso
O sistema nervoso é altamente especializado e complexo, sendo formado
por duas categorias de células: neurônios e células da glia. Os neurônios são
células especializadas capazes de responder a estímulos físicos e químicos,
conduzir impulsos e liberar reguladores químicos específicos. Com isso, os
neurônios executam funções como pensar, armazenar memória e regular ou-
tros órgãos. Neurônios desenvolvidos não podem se dividir, embora sob certas
condições alguns deles possam regenerar pequenas porções cortadas ou de-
senvolver pequenos ramos novos.
As células da glia ou neuróglia são células nervosas que auxiliam os neurô-
nios em suas funções. As neuróglias possuem limitada capacidade de mitose e
são cerca de cinco vezes mais populosas do que os neurônios.

Neuróglias
Diferentemente de outros sistemas, as neuróglias, células de suporte do
sistema nervoso, possuem a mesma formação embrionária dos neurônios, isto
é, ambas derivam do ectoderma e podem ser classificadas em seis categorias,
como podemos observar no Quadro 4.

QUADRO 4. NEURÓGLIA

Tipo Estrutura Função/Local

Formam estrutura de suporte


Estrelada com numerosos entre capilares e neurônios do
Astrócitos
prolongamentos. SNC; contribuem para a barreira
hematoencefálica.

Assemelham-se aos astrócitos, Formam mielina no SNC; orientam


Oligodendrócitos mas com prolongamentos o desenvolvimento dos neurônios
menores e em menor número. no SNC.

Células minúsculas com poucos e Fagocitam agentes patogênicos e


Micróglias
pequenos prolongamentos. resíduos celulares no interior do SNC.

Revestem os ventrículos e o
Células Células colunares, algumas das canal central do SNC, onde o
ependimárias quais têm superfícies ciliares. líquido cerebrospinal circula por
movimentos ciliares.

NUTRIÇÃO CLÍNICA 70

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Gliócitos Dão sustentação nos gânglios do
Células planas e pequenas.
ganglionares SNP.

Células planas dispostas em


Células de
série em torno de axônios ou Formam mielina no SNP.
Schwann
dendritos.

Fonte: MARIEB; WILHELM; MALLATT, 2014, p. 366. (Adaptado).

Neurônios
Embora os neurônios possam variar em forma e tamanho, três componen-
tes principais estão sempre presentes: o corpo celular, os dendritos e o axônio.
O corpo celular é a porção onde encontramos o núcleo celular e as outras orga-
nelas típicas. Os corpos celulares no interior do SNC geralmente são agrupados
em regiões denominadas núcleos, enquanto os corpos celulares no SNP fre-
quentemente são encontrados em agrupamentos chamados gânglios.
O corpo celular possui dois tipos de ramificações citoplasmáticas. O pri-
meiro deles são os dendritos, que respondem aos estímulos e conduzem im-
pulsos para o corpo celular. A área preenchida por dendritos é denominada
zona dendrítica de um neurônio. O segundo tipo de ramificação citoplasmá-
tica é o axônio, um prolongamento extenso e cilíndrico que conduz impulsos
que saem do corpo celular. Os axônios podem variar desde alguns milímetros
no interior do encéfalo até mais de um metro entre a medula espinhal e as
partes mais distais dos membros. O termo fibra nervosa é comumente utiliza-
do para designar um axônio longo. Ao longo do axônio, o citoplasma contém
muitas mitocôndrias e microtúbulos.
Alguns neurônios têm partes de seus axônios cobertas por uma substância
lipoprotéica branca chamada mielina, produzida através de células gliais espe-
cíficas, um processo designado de mielinização. A mielina forma uma bainha
entorno do axônio, dando suporte e ajudando na condução dos impulsos ner-
vosos. Vale destacar que os neurônios podem ser mielínicos ou amielínicos.
Neurônios mielínicos são encontrados no SNC e no SNP, com a mielina sendo a
responsável pela cor esbranquiçada dos nervos e pela coloração da substância
branca do encéfalo e da medula espinhal.
No SNP, a mielinização ocorre com as células de Schwann envolvendo um
axônio. Cada célula de Schwann enovela aproximadamente 1 mm de axônio,

NUTRIÇÃO CLÍNICA 71

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deixando lacunas sem mielina entre as células de Schwann adjacentes. Estas
lacunas na bainha de mielina são denominadas nódulos de Ranvier, local onde
ocorre a propagação do impulso nervoso ao longo de um neurônio. No SNC, as
bainhas de mielina são formadas por oligodendrócitos. Cada oligodendrócito
possui extensões capazes de formar bainhas de mielina em vários axônios, di-
ferindo das células de Schwann, que atuam somente em um axônio.
Para a transmissão de um impulso nervoso, são imprescindíveis duas pro-
priedades funcionais dos neurônios: a irritabilidade e a condutividade. A irri-
tabilidade é a capacidade de responder a um estímulo e convertê-lo em um
impulso, enquanto a condutividade é capacidade de transmitir um impulso.
Assim, para conseguir realizar essa transmissão, é necessário que o potencial
de ação seja formado e uma troca de íons sódio (Na+) e potássio (K+) ao longo
da membrana de uma fibra nervosa resulte na criação de um estímulo capaz
de ativar outras células.
Para que uma fibra nervosa possa responder a um estímulo, ela deve estar
polarizada. A fibra nervosa polarizada tem uma abundância de íons sódio no
exterior da membrana do axônio, produzindo uma diferença de carga elétrica
chamada de potencial de repouso. Quando um estímulo com força suficiente
chega à porção receptora do neurônio, a fibra nervosa se despolariza, e um po-
tencial de ação é iniciado. Uma vez que a despolarização é iniciada, ocorre uma
sucessão de trocas iônicas ao longo do axônio e o potencial de ação é condu-
zido. Depois que a membrana do axônio alcança sua despolarização máxima,
as concentrações originais de íons sódio e potássio são restabelecidas por um
processo chamado de repolarização, que restabelece o potencial de repouso e
torna a fibra nervosa apta ao envio de outro impulso.
Um potencial de ação somente é deslocado em um único sentido e é ca-
racterizado como uma resposta do tipo tudo ou nada, ou seja, um impulso
iniciado se deslocará ao longo da fibra nervosa e prosseguirá sem perda na
voltagem. Vários fatores determinam a velocidade de um potencial de ação,
como o diâmetro da fibra nervosa, seu tipo (mielínica ou amielínica), e a con-
dição fisiológica geral do neurônio. Por exemplo, neurônios amielínicos com
diâmetros pequenos conduzem impulsos na relação de cerca de 0,5 m/s;
enquanto fibras nervosas mielínicas transmitem impulsos em velocidades
superiores a 130 m/s.

NUTRIÇÃO CLÍNICA 72

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A sinapse é como chamamos uma conexão entre
o axônio de um neurônio e um dendrito de outro
neurônio. O terminal axônico (botões sinápticos) é
a porção distal do neurônio pré-sináptico na extre-
midade do axônio e é caracterizado pela presença
de numerosas mitocôndrias e vesículas sinápticas. As
vesículas sinápticas contêm neurotransmissores, sen-
do a acetilcolina o mais comum. Quando um potencial de
ação chega ao terminal axônico, algumas vesículas respondem,
liberando seus neurotransmissores na fenda sináptica, um espa-
ço minúsculo que separa as membranas pré-sinápticas e pós-si-
nápticas. Se ocorrer um número suficiente de impulsos nervosos em
um curto intervalo de tempo, quantidades suficientes de neurotransmissores
devem se acumular no interior da fenda sináptica para estimular o neurônio
pós-sináptico a se despolarizar. Os neurotransmissores são decompostos por
enzimas presentes na fenda sináptica. A acetilcolinesterase é a enzima que de-
compõe a acetilcolina e prepara a sinapse para receber mais neurotransmisso-
res para um próximo impulso.

Meninges/ líquor e vascularização


As meninges são três membranas de tecido conjuntivo encontradas ao re-
dor do encéfalo e da medula espinhal. Suas funções são: envolver e guardar o
SNC; proteger os vasos sanguíneos que nutrem o SNC e conter o líquido cere-
brospinal. As meninges se dividem em três: são a dura-máter, a aracnoide-má-
ter e a pia-máter, sendo esta última a mais interna.
• A dura-máter é a membrana mais externa e de maior resistência, envol-
vendo a medula como um dedo de luva, o saco dural; cranialmente, a dura-má-
ter continua-se com a dura-máter craniana;
• A aracnoide-máter encontra-se entre a dura-máter e a pia-máter, possui
esse nome em virtude da distribuição de fibras colágenas e algumas fibras elás-
ticas, semelhante a uma teia de aranha;
• A pia-máter é a membrana mais delicada e mais interna. Está em contato
direto com o tecido nervoso da superfície do SNC.

NUTRIÇÃO CLÍNICA 73

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ASSISTA
Existem doenças que atingem essa região das meninges,
sendo a mais proeminente delas a meningite. Entenda
mais sobre essa doença pelo vídeo elaborado pelo
Ministério da Saúde.

Abaixo da aracnoide-máter, situa-se o espaço subaracnóideo, preenchido com


líquido cerebrospinal, contendo os principais vasos sanguíneos que abastecem o
encéfalo. O líquido cerebrospinal é um líquido claro, semelhante à linfa, que forma
um coxim protetor ao redor e dentro do SNC, conferindo ao cérebro a capacidade
de flutuar. Além disso, colabora com a nutrição do encéfalo, remove resíduos pro-
duzidos pelos neurônios e transporta os sinais químicos (hormônios, por exemplo)
entre as diferentes regiões do SNC. O líquido cerebrospinal surge do sangue e vol-
ta para ele aproximadamente em uma taxa de 500 ml por dia.
Ainda, Marieb e colaboradores (2014) apontam alguns fatores e dispositivos
para o abastecimento e proteção do encéfalo:
O encéfalo possui um rico suprimento de capilares que abas-
tecem seu tecido nervoso com nutrientes, oxigênio e todas as
outras moléculas vitais. No entanto, algumas moléculas trans-
portadas pelo sangue que conseguem atravessar outros capila-
res do corpo não conseguem atravessar os capilares cerebrais.
As toxinas transportadas pelo sangue, como a ureia, e as toxinas
bacterianas são algumas das substâncias impedidas de entrar
no cérebro pela barreira hematoencefálica, que visa proteger as
células nervosas do SNC.
A barreira hematoencefálica resulta basicamente de caracte-
rísticas especiais do epitélio que compõe (sic) as paredes dos
capilares cerebrais. As células epiteliais desses capilares são re-
unidas em torno de seus perímetros inteiros por junções imper-
meáveis, fazendo que esses capilares sejam os menos permeá-
veis no corpo. Mesmo assim, a barreira hematoencefálica não é
absoluta. Nutrientes e íons essenciais para os neurônios passam
por ela, alguns por meio de mecanismos de transporte especiais
nas membranas plasmáticas das células epiteliais dos capilares.
Entretanto, ela é ineficaz com as moléculas de natureza lipos-

NUTRIÇÃO CLÍNICA 74

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solúvel, que se difundem facilmente através das membranas
celulares, a barreira permite que a nicotina, o álcool e fármacos
anestésicos atravessem até os neurônios do cérebro (MARIEB;
WILHELM; MALLATT, 2014, p. 419-421).

Sistema nervoso periférico


Marieb e colaboradores (2014), dissertam sobre a importância dos estí-
mulos externos para o bem-estar dos seres humanos. O sistema nervoso
periférico (SNP), por sua vez, é responsável pelo transporte desses estímu-
los para o SNC:
O encéfalo humano, com toda a sua sofisticação, seria inútil sem
suas conexões sensitivas e motoras com o mundo exterior. A
sanidade do ser humano depende de um fluxo contínuo de in-
formações sensitivas provenientes do ambiente. Quando volun-
tários vendados foram suspensos em um tanque de água quen-
te (um tanque de privação dos sentidos), eles começaram a ter
alucinações: um deles viu elefantes roxos, outro ouviu um coral
cantando e outros tiveram alucinações gustativas. A sensação
de bem-estar também depende da capacidade para executar as
instruções motoras enviadas pelo SNC. Muitas vítimas de lesão
na medula espinhal se desesperam ao não serem capazes de
se locomover ou de cuidar das próprias necessidades (MARIEB;
WILHELM; MALLATT, 2014, p. 445- 446).
O SNP abrange as estruturas do sistema nervoso que são externas ao
encéfalo e a medula espinhal. É importante notar que as estruturas do SNP
são determinadas pela sua organização funcional – impulsos nervosos de
cada modalidade (sensitivo somático, sensitivo visceral, motor somático,
motor visceral) que são transportados em neurônios diferentes. As estrutu-
ras do SNP são:
• Receptores sensitivos: são terminações nervosas variadas que captam
os estímulos do interior e exterior do corpo e depois iniciam impulsos nervosos
nos axônios sensitivos, que levam os impulsos para o SNC. Os receptores dos
sentidos especiais são células receptoras especializadas;

NUTRIÇÃO CLÍNICA 75

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• Nervos e gânglios: os nervos são feixes de axônios periféricos e os gân-
glios são agrupamentos de corpos celulares periféricos, como aqueles perten-
centes aos neurônios sensitivos. A maioria dos nervos contém axônios sensiti-
vos e motores, sendo chamados de nervos mistos. Certos nervos cranianos (os
nervos conectados ao encéfalo) contêm apenas axônios sensitivos e, portanto,
têm função puramente sensitiva; outros contêm principalmente axônios moto-
res e, portanto, têm função puramente motora;
• Terminações motoras: as terminações motoras são as terminações dos
axônios dos neurônios motores que inervam os efetores: órgãos, músculos e
glândulas. As terminações motoras para os músculos e glândulas do corpo são
descritas junto ao sistema orgânico apropriado: inervação do músculo esquelé-
tico; inervação do músculo cardíaco e inervação do músculo liso e das glândulas.
Os nervos do SNP são classificados como nervos cranianos (oriundos do en-
céfalo) ou nervos espinhais (oriundos da medula espinhal). Os nervos cranianos
são 12 pares de nervos que se conectam ao encéfalo com a maioria (dez), origi-
nando-se no tronco encefálico. Os nervos cranianos são designados por nomes
e números romanos em sequência crânio-caudal. Os nervos espinhais são 31
pares de nervos que se conectam com a medula, nomeados com base em sua
localização vertebral. São divididos em grupos: cervical (oito nervos), torácico
(12 nervos), lombar (cinco nervos), sacral (cinco nervos) e coccígeo (um nervo). O
primeiro nervo espinhal cervical sai acima da primeira vértebra cervical e cada
nervo espinhal restante deriva da posição inferior à sua vértebra cervical.
O SNP apresenta duas subdivisões: a divisão aferente (ou sensitiva) do SNP,
que conduz informações sensitivas ao SNC, e a divisão eferente (ou motora),
que conduz estímulos motores para os músculos e as glândulas. A divisão afe-
rente tem início com os receptores que monitoram características específicas
do ambiente, enquanto a divisão eferente começa no interior do SNC e termina
em um efetuador: uma célula muscular, glandular ou outra célula especializa-
da. Ambas as divisões apresentam componentes somáticos e viscerais. A di-
visão aferente conduz informações dos receptores sensitivos somáticos, que
monitoram os músculos esqueléticos, as articulações e a pele; já dos recepto-
res sensitivos viscerais, há o monitoramento dos outros tecidos, como a mus-
culatura lisa, o músculo cardíaco e as glândulas. A divisão aferente também
fornece informações advindas dos órgãos sensitivos especiais, como o olho e a

NUTRIÇÃO CLÍNICA 76

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orelha. Já a divisão eferente inclui o sistema nervoso somático (SNS), que regula
a contração dos músculos esqueléticos, e o sistema nervoso autônomo (SNA),
também nomeado como sistema motor visceral, que controla a musculatura
lisa, o músculo cardíaco e a atividade glandular.

QUADRO 5. TIPOS DE FIBRAS SENSORIAIS E MOTORAS DO


SISTEMA NERVOSO PERIFÉRICO

Componentes sensitivos

Sensitivos somáticos Sensitivos viscerais

Gerais: alongamento, dor, temperatura,


Gerais: tato, dor, pressão, propriocepção da
alterações químicas e irritação nas vísceras;
pele, parede corporal e membros.
náusea e fome.
Especiais: audição, equilíbrio e visão.
Especiais: paladar e olfato.

Componentes motores

Motores somáticos Motores viscerais

Inervação motora do músculo liso, músculo


Inervação motora dos músculos esqueléticos.
cardíaco e glândulas.

Fonte: MARIEB; WILHELM; MALLATT, 2014, p. 365. (Adaptado).

As atividades do sistema nervoso somático podem ser voluntárias ou invo-


luntárias. Contrações voluntárias dos músculos esqueléticos estão sob contro-
le consciente, como quando um indivíduo controla os músculos do braço para
levar um copo d’água até a boca. As contrações involuntárias são gerenciadas
inconscientemente; como podemos observar quando retiramos a mão rapida-
mente de uma superfície quente antes que possamos nos dar conta da dor.
As atividades do sistema nervoso autônomo, por sua vez, costumam ocor-
rer sem que tenhamos consciência ou controle. Além disso, esse sistema pode
ser subdividido em simpático e parassimpático. A maioria dos órgãos apresen-
tam inervação dupla, isto é, recebe impulsos dos neurônios simpáticos e paras-
simpáticos, embora cada divisão atue de maneira distinta nos órgãos viscerais.
A ativação da divisão simpática prepara o corpo para a intensa atividade física
em emergências (luta ou fuga); entretanto, os efeitos da estimulação dos ner-
vos parassimpáticos são muitas vezes contrários aos efeitos da estimulação
simpática, cujas atividades visam restabelecer o corpo durante períodos de re-
pouso e de digestão alimentar (repouso e digestão).

NUTRIÇÃO CLÍNICA 77

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QUADRO 6. FUNÇÕES DOS SISTEMAS SIMPÁTICO E
PARASSIMPÁTICO EM ALGUNS ÓRGÃOS

Órgãos Simpático Parassimpático

Dilatação da pupila
Íris Constrição da pupila (miose).
(midríase).

Vasoconstrição; pouco efeito


Glândula lacrimal Secreção abundante.
sobre a secreção.

Vasoconstrição; secreção Vasodilatação; secreção fluida


Glândulas salivares
viscosa e pouco abundante. e abundante.

Secreção copiosa (fibras


Glândulas sudoríparas Inervação ausente.
colinérgicas).

Músculos eretores dos pelos Ereção dos pelos. Inervação ausente.

Aceleração do ritmo cardíaco Diminuição do ritmo cardíaco


Coração (taquicardia); dilatação das (bradicardia); dilatação das
coronárias. coronárias.

Brônquios Dilatação. Constrição.

Diminuição do peristaltismo
Aumento do peristaltismo e
Tubo digestório e fechamento dos
abertura dos esfíncteres.
esfíncteres.

Bexiga Pouca ou nenhuma ação. Contração da parede.

Genitais masculinos Vasoconstrição; ejaculação. Vasodilatação; ereção.

Secreção de adrenalina
Glândula supra-renal (através de fibras pré- Nenhuma ação.
ganglionares).

Veicula a ação inibidora da


Glândula pineal Ação desconhecida.
luz ambiente.

Vasos sanguíneos do tronco Nenhuma ação; inervação


Vasoconstrição.
e das extremidades possivelmente ausente.

Fonte: DÂNGELO; FATTINI, 2007, p. 114. (Adaptado).

NUTRIÇÃO CLÍNICA 78

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Sintetizando
Os músculos são estruturas anatômicas com a capacidade de se contrair,
que nos permitem desempenhar funções, como produzir movimento, abrir e
fechar passagens no corpo, manter a postura e estabilizar as articulações, bem
como gerar calor corporal. Os tipos de tecido muscular são: o músculo estriado
esquelético, que se liga ao esqueleto e pode ser contraído voluntariamente; o
músculo estriado cardíaco, encontrado somente na parede do coração, que se
contrai involuntariamente; e o músculo liso, encontrado nas paredes de órgãos
ocos, que se contrai involuntariamente e possui células não estriadas.
Cada músculo esquelético é um órgão individual, estendendo-se a partir
de uma ligação menos móvel (origem), até uma ligação mais móvel (inserção).
Os elementos de tecido conjuntivo que se encontram anexados ao músculo
esquelético são o epimísio (ao redor do músculo), o perimísio (ao redor de um
fascículo) e o endomísio (ao redor de uma fibra), com todas essas bainhas con-
tribuindo para a formação dos tendões. Por fim, os músculos se ligam com os
ossos através de tendões ou aponeuroses.
Uma célula do músculo esquelético ou liso é chamada de fibra e um feixe
de fibras musculares é chamado de fascículo. O retículo sarcoplasmático é uma
especialização do retículo endoplasmático liso para a fibra muscular. Quando
um estímulo de uma célula nervosa alcança a fibra muscular, é gerado um impul-
so que sinaliza ao retículo sarcoplasmático a liberação de íons cálcio, realizando
a contração muscular através do deslizamento dos miofilamentos. A contração
muscular pode ocorrer através da contração isométrica, que não altera o tama-
nho do músculo, ou da contração isotônica: concêntrica quando o músculo en-
curta, ou excêntrica, quando o músculo produz tração enquanto se alonga.
O conhecimento da anatomia dos músculos permite deduzir a ação resul-
tante da contração dos músculos. Além disso, o conhecimento dos músculos
axiais e apendiculares, bem como as ações por eles executadas, permitem uma
melhor compreensão dos mais variados movimentos realizados pelo corpo hu-
mano, em especial a locomoção.
Outro sistema muito importante do corpo humano é sistema nervoso. As
funções do sistema nervoso incluem a orientação, a coordenação, a assimila-
ção e a programação de comportamento instintivo. O sistema nervoso abrange

ANATOMIA HUMANA 79

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todo o tecido nervoso no corpo humano e é composto por dois tipos celulares:
os neurônios, células especializadas na transmissão de sinais elétricos, e as
neuróglias, células que proporcionam suporte para as atividades dos neurô-
nios. Chamamos de sinapse a junção funcional entre dois neurônios. As vesícu-
las sinápticas na célula pré-sináptica liberam neurotransmissores na fenda si-
náptica e, ao ser capturado pela membrana pós-sináptica, o neurotransmissor
influencia o neurônio pós-sináptico a gerar um impulso nervoso.
A grande maioria das células se concentra no sistema nervoso central, loca-
lizado dentro da cavidade craniana (encéfalo) e na coluna vertebral (medula es-
pinhal), sendo protegido pelo esqueleto. No encéfalo, encontramos o cérebro
(telencéfalo e diencéfalo), o cerebelo e o tronco encefálico (mesencéfalo, ponte
e bulbo). A divisão do sistema nervoso que parte do SNC para os órgãos de ou-
tros sistemas se chama sistema nervoso periférico, formado por nervos, seus
gânglios (dilatações com corpos de neurônios sensitivos ou motores viscerais) e
terminações nervosas das vias aferentes ou eferentes. Os nervos estão dividi-
dos em 31 pares espinhais (conectados à medula espinhal) e 12 pares cranianos
(conectados ao encéfalo). Tanto as vias eferentes e aferentes do sistema nervo-
so somático (da pele e subcutâneo, músculos, tendões e articulações) quanto
do sistema nervoso visceral (dos músculos lisos de vasos e vísceras, músculo
cardíaco e glândulas) percorrem o sistema nervoso periférico para encontrar
sua trajetória especifica no sistema nervoso central. Se a função é consciente,
essas vias chegam ou saem do cérebro, uma vez que o córtex cerebral é a área
mais importante para o desempenho das funções conscientes.

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Referências bibliográficas
DÂNGELO, J. G.; FATTINI, C. A. Anatomia humana sistêmica e segmentar. 3
ed. São Paulo: Atheneu, 2007.
MARIEB, E. N.; HOEHN, K. Anatomia e fisiologia. 7 ed. Porto Alegre: Artmed, 2013.
MARIEB, E. N.; WILHELM, P. B.; MALLATT, J. Anatomia humana. 7 ed. São Paulo:
Pearson, 2014.
O QUE você sabe sobre a meningite? Postado por Ministério da Saúde. (2min.
05s.). son. color. port. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=ug-
w7S9kPthY>. Acesso em: 14 set. 2020.
VAN DE GRAAFF, K. M. Anatomia humana. 6 ed. Barueri: Manole, 2003.

ANATOMIA HUMANA 81

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UNIDADE

3 SISTEMA
CARDIOVASCULAR,
SISTEMA
RESPIRATÓRIO
E SISTEMA
DIGESTÓRIO

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Objetivos da unidade

Descrever o esquema básico do sistema circulatório e sua função;


Apontar o trajeto do sangue nas câmaras do coração e das circulações
sistêmica e pulmonar;
Identificar os principais componentes e funções do sistema linfático;
Analisar as funções principais e organização estrutural do sistema
respiratório;
Explicar a função global e principais processos do sistema digestório.

Tópicos de estudo
Sistema cardiovascular: Sistema digestório: conceito e
conceito e divisão divisão
Coração, circulação e tipo de Funções do sistema digestório
circulação sanguínea Órgãos anexos ao sistema
Artérias e veias, capilares digestório
sanguíneos, sistema linfático,
baço e timo

Sistema respiratório: conceito


e divisão
Nariz, cavidade nasal e seios
paranasais, faringe, laringe,
traqueia, brônquios, pleura e
pulmões

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Sistema cardiovascular: conceito e divisão
O corpo humano é constituído por diversas células especializadas que de-
pendem de suas inter-relações para garantir a própria manutenção e conti-
nuidade. A maioria das células do corpo está fixa em tecidos e não são capa-
zes de obter alimento e oxigênio em seus próprios locais ou mesmo descartar
seus próprios resíduos. Com isso, é necessário um sistema altamente eficiente
para a condução de materiais no interior do corpo, o sistema cardiovascular
(ou circulatório). Em comparação, o sistema circulatório equivale ao sistema de
resfriamento de um carro, com seus componentes básicos incluindo o líquido
circulante (o sangue), uma bomba induzindo a circulação do líquido (o coração)
e diversos tubos condutores (os vasos sanguíneos).
O sistema cardiovascular é tão importante que possui diversas especia-
lidades médicas que se dedicam à compreensão de seus compo-
nentes. O ramo relacionado com o estudo do sangue, tecidos
formadores do sangue e os distúrbios associados é a
hematologia. O ramo relacionado ao estudo cientí-
fico do coração e das doenças associadas é a car-
diologia. Por fim, o ramo relacionado ao estudo
dos vasos sanguíneos e linfáticos e das doenças
associadas é a angiologia.
Funções do sistema cardiovascular
As funções do sistema cardiovascular estão relacionadas ao sangue, uma
massa líquida de tecido conjuntivo especializado, e podem ser agrupadas em
três grandes áreas: transporte, regulação e proteção.
• Transporte: o sangue realiza o transporte de oxigênio (O2), dos pulmões
para as células do corpo, e dióxido de carbono (CO2), das células do corpo para
os pulmões. O sangue também conduz: nutrientes absorvidos no trato gastrin-
testinal para as células do corpo; hormônios produzidos nas glândulas endócri-
nas para outros locais no corpo onde devem atuar; e produtos residuais para
eliminação do corpo em locais como pulmões, rins e pele. Por fim, o sangue
também transporta calor;
• Regulação: a circulação do sangue ajuda na manutenção da homeostasia
do corpo. O sangue atua na regulação do pH por meio de tampões, substâncias

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químicas que convertem ácidos ou bases fortes em ácidos ou bases fracos. O
sangue também colabora no ajuste da temperatura do corpo, por meio das
propriedades físicas do plasma sanguíneo (a porção líquida do sangue) e da
velocidade de fluxo sanguíneo na pele, que permitem a dissipação do excesso
de calor do sangue para o ambiente;
• Proteção: devido aos componentes sanguíneos, o sistema cardiovascu-
lar é capaz de gerar uma proteção contra a perda excessiva de sangue após
uma lesão, um processo conhecido como coagulação. Além disso, os leucócitos
protegem contra agentes infecciosos pela fagocitose. Vários tipos de proteínas
presentes no sangue, como anticorpos, colaboram na proteção contra doenças
de diversas formas.
As funções do sistema cardiovascular são essenciais, de forma que qual-
quer célula ou órgão que tiver privação completa da circulação pode morrer
em questão de minutos.
Divisão do sistema cardiovascular
O sistema circulatório é dividido em sistema cardiovascular, formado pelo
coração, vasos sanguíneos e sangue, e sistema linfático, composto pelos vasos
linfáticos e órgãos linfáticos. O coração atua como uma bomba hidráulica com
quatro câmaras, que proporciona a pressão necessária para conduzir o sangue
por meio dos vasos para os pulmões e para os demais tecidos do corpo. O co-
ração de um adulto em repouso bombeia cerca de cinco litros de sangue por
minuto. É necessário, aproximadamente, um minuto para que o sangue circule
da extremidade mais distante e retorne ao coração.
Os vasos sanguíneos estabelecem uma rede de canais que permite ao
sangue fluir do coração para todas os tecidos do corpo e, em seguida, de volta
ao coração. Artérias conduzem o sangue para fora do coração, enquanto as
veias conduzem o sangue de volta ao mesmo. Ambas se ramificam
para formar uma rede de vasos progressivamente menores. O
sangue é transportado dos vasos arteriais aos vasos
venosos pelos capilares, vasos sanguíneos finos e
muito numerosos. Todas as trocas de nutrientes,
líquidos e resíduos entre o sangue e as células
dos tecidos são viabilizadas pelas paredes per-
meáveis dos capilares.

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Coração, circulação e tipo de circulação sanguínea
Coração
O coração é uma estrutura muscular oca, com quatro câmaras e do tamanho,
aproximado, de um punho fechado. O coração está localizado dentro da cavidade
torácica no mediastino, um espaço existente entre os pulmões. Se encontra
majoritariamente à esquerda do plano mediano, com seu ápice (ponta em forma
de cone) para baixo, logo acima do diafragma, e com sua base na extremidade
superior, uma região larga que se conecta com os grandes vasos.
Externo ao coração, temos um saco seroso de tecido conjuntivo denso
fibroso denominado pericárdio parietal, que recobre o coração e delimita o
coração dos demais órgãos torácicos. O pericárdio parietal é composto por
uma membrana externa fibrosa e uma membrana interna serosa, também
conhecida como lâmina parietal do pericárdio seroso. A lâmina visceral do
pericárdio seroso (também chamada de epicárdio) se encontra na superfície do
coração, sua camada mais externa. A lacuna entre as lâminas parietal e visceral
do pericárdio seroso é denominada cavidade do pericárdio. O pericárdio seroso
produz o líquido pericárdico, um líquido aquoso e lubrificante que envolve o
coração e o protege contra o atrito durante seus batimentos.
As paredes do coração são constituídas por três camadas (ou túnicas)
distintas, como descrito no Quadro 1.

QUADRO 1. CAMADAS DA PAREDE DO CORAÇÃO

Camadas Características Funções

Epicárdio Membrana serosa incluindo capilares


Atua como camada externa
(lâmina visceral do sanguíneos, capilares linfáticos e
lubrificante.
pericárdio seroso) fibras nervosas.

Tecido muscular cardíaco separado por Proporciona contrações


tecido conjuntivo e incluindo capilares musculares que ejetam
Miocárdio
sanguíneos, capilares linfáticos e o sangue das câmaras
fibras nervosas. cardíacas.

Tecido endotelial e uma camada Atua como revestimento


Endocárdio subendotelial espessa de fibras interno protetor das
elásticas e colágenas. câmaras e das valvas.

Fonte: VAN DE GRAAF, 2003, p. 547. (Adaptado).

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Internamente, o coração é organizado em quatro câmaras: duas superiores,
átrios direito e esquerdo e duas inferiores, ventrículos direito e esquerdo. Os
átrios atuam simultaneamente, se contraindo e impulsionando o sangue para
o interior dos ventrículos, que também se contraem em conjunto. Os átrios
estão separados entre si pelo fino septo interatrial, enquanto os ventrículos
estão separados entre si pelo espesso septo interventricular. As valvas do co-
ração são estruturas presentes nas entradas e saídas dos ventrículos e atuam
mantendo o fluxo de sangue em somente uma direção.

QUADRO 2. VALVAS DO CORAÇÃO

Valvas Localização Comentários

Constituída por três cúspides que evitam


Valva
Entre o átrio direito e o o refluxo do sangue do ventrículo direito
atrioventricular
ventrículo direito. para o átrio direito durante a contração
direita
ventricular.
Constituída por três válvulas semilunares,
Valva do tronco Entre o ventrículo direito e o que evitam o refluxo do sangue do
pulmonar tronco pulmonar. tronco pulmonar para o ventrículo direito
durante o relaxamento ventricular.
Constituída por duas cúspides, que
Valva
Entre o átrio esquerdo e o evitam o refluxo do sangue do ventrículo
atrioventricular
ventrículo esquerdo. esquerdo para o átrio esquerdo durante a
esquerda (mitral)
contração ventricular.
Constituída por três válvulas semilunares,
que evitam o refluxo do sangue da parte
Entre o ventrículo esquerdo e
Valva da aorta ascendente da aorta para o ventrículo
a parte ascendente da aorta.
esquerdo durante o relaxamento
ventricular.

Fonte: VAN DE GRAAFF, 2003, p. 548. (Adaptado).

A contração dos ventrículos chama-se sístole. Ela, juntamente com a tensão


das fibras elásticas e a contração dos músculos lisos nas paredes das artérias
sistêmicas, colabora para a pressão sistólica nas artérias. O relaxamento ven-
tricular chama-se diástole, cuja pressão diastólica no interior das artérias pode
ser registrada durante o movimento. Vale destacar que o controle da atividade
cardíaca é feito pelo sistema autônomo, tanto parassimpático (atua inibindo)
e quanto simpático (atua estimulando). Estes nervos agem sobre uma forma-
ção de células musculares na parede do átrio direito chamada nó sinoatrial,
uma espécie de “marca-passo” do coração. Assim, ritmicamente, o impulso se

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distribui no miocárdio, resultando em contração. Este impulso alcança o nó
atrioventricular, encontrado na parte inferior do septo interatrial, e é propa-
gado para os ventrículos por meio do fascículo atrioventricular, permitindo ao
estímulo alcançar o miocárdio. O conjunto destas estruturas especializadas é
denominado complexo estimulante do coração.
Circulação sanguínea
A circulação é como denominamos
o trajeto do sangue por meio do cora-
ção e dos vasos, que ocorre na forma
de duas correntes sanguíneas, com
ambas partindo ao mesmo tempo do
coração. O átrio e ventrículo direito re-
cebem sangue com baixo teor de oxi-
gênio (O2) e o impulsionam para os pul-
mões. O átrio e o ventrículo esquerdo
recebem sangue rico em O2 (sangue
oxigenado) dos pulmões e o impulsio-
nam para o resto do corpo.
A circulação sanguínea pode ser diferenciada em circulação pulmonar e
circulação sistêmica. A circulação pulmonar abrange os vasos sanguíneos que
conduzem o sangue para os pulmões para ocorrer a hematose (processo de
eliminação do dióxido de carbono e aumento da concentração de oxigênio)
e, em seguida, retornam o sangue ao coração. Compõem essa circulação: o
ventrículo direito, que ejeta o sangue; o tronco pulmonar; as artérias pulmo-
nares, que levam o sangue desoxigenado para os pulmões; os capilares pul-
monares no interior dos pulmões; as veias pulmonares, que levam o sangue
oxigenado para o coração; e o átrio esquerdo, que acolhe o sangue
das veias pulmonares.
A circulação sistêmica agrupa todos os vasos san-
guíneos que não participam da circulação pulmonar.
Compõem essa circulação: o átrio esquerdo; o ven-
trículo esquerdo; a aorta e todos os seus ramos; to-
dos os capilares que não estejam envolvidos com a
hematose nos pulmões; e todas as veias, com exceção

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das veias pulmonares. Vale destacar que o átrio direito recebe o sangue desoxi-
genado vindo da circulação sistêmica. Além dessas duas principais circulações
sanguíneas, podemos ressaltar mais três circulações de menor importância:
• Circulação colateral: é possível observar anastomoses (comunicações)
entre ramos adjacentes de artérias ou de veias entre si. Na presença de uma
obstrução (parcial ou total), o sangue pode circular ativamente por essa rede,
estabelecendo uma efetiva circulação colateral;
• Circulação portal: ocorre quando uma veia conecta duas redes de capi-
lares, sem passar por um órgão intermediário. O principal exemplo desse tipo
é a circulação porta hepática, em que a rede capilar no intestino e a rede de
capilares sinusoides no fígado, com a veia porta interpondo essas duas redes;
• Circulação coronária: as paredes do coração possuem um suprimento
particular de vasos sanguíneos para suprir suas necessidades. O miocárdio é
alimentado pelas artérias coronárias direita e esquerda, originadas da parte
ascendente da aorta. Após alcançar os capilares no miocárdio, o sangue é re-
colhido para as veias cardíacas e, em seguida, entra no átrio direito através de
um óstio (abertura).

Artérias e veias, capilares sanguíneos, sistema linfático,


baço e timo
Vasos sanguíneos
Os vasos sanguíneos compreen-
dem uma rede fechada de canais por
onde transita o sangue devido à con-
tração rítmica do coração. Ao sair do
coração, o sangue é transportado por
vasos de diâmetros progressivamente
menores denominados artérias, ar-
teríolas e capilares. Os capilares são
microscópicos vasos que interpõem o fluxo arterial e o fluxo venoso. A partir
dos vasos capilares, o sangue é conduzido de volta ao coração por vasos de diâ-
metros progressivamente maiores chamados vênulas e veias. Essa disposição
dos vasos assegura um suprimento contínuo de sangue para essas estruturas.

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QUADRO 3. VASOS SANGUÍNEOS DO CORPO HUMANO E SUAS FUNÇÕES

Vasos sanguíneos Tamanhos Funções

Conduz sangue do coração para as


Artérias elásticas As maiores artérias no corpo.
artérias musculares.
Artérias musculares Artérias de tamanho médio. Distribui sangue para as arteríolas.

Leva sangue para os capilares e ajuda a


Microscópicas
Arteríolas regular o fluxo sanguíneo das artérias
(15 a 30 μm de diâmetro).
para os capilares.

Permite a troca de nutrientes e resíduos


Microscópicas; os menores
entre o sangue e o líquido intersticial;
Capilares vasos sanguíneos
distribui o sangue para as vênulas
(5 a 10 μm de diâmetro).
pós-capilares.
Passa o sangue para as vênulas
musculares; permite a troca de
Microscópicas
Vênulas pós-capilares nutrientes e resíduos entre o sangue e
(10 a 15 μm de diâmetro).
o líquido intersticial; atua na emigração
dos leucócitos.
Passa o sangue para as veias;
Microscópicas reservatórios para acumular grandes
Vênulas musculares
(50 a 200 μm de diâmetro). volumes de sangue (junto com as
vênulas pós-capilares).
Retorna o sangue para o coração,
Variam de 0,5 mm a 3 cm
Veias facilitado pelas válvulas nas veias
de diâmetro.
dos membros.
Fonte: TORTORA; NIELSEN, 2013, p. 531. (Adaptado).

É digno de nota que os vasos sanguíneos não são tubos rígidos que sim-
plesmente direcionam o fluxo do sangue, mas são estruturas dinâmicas que
pulsam, constringem e relaxam, e até mesmo proliferam, segundo as neces-
sidades variáveis do corpo. Essas características originam das paredes dos
vasos sanguíneos, que são constituídas de três túnicas (ou camadas):
• Túnica externa (ou adventícia): localizada mais externamente, é
composta de tecido conjuntivo frouxo;
• Túnica média: essa camada intermediária é composta de músculo
liso. As artérias possuem quantidades variáveis de fibras elásticas em sua
túnica média;
• Túnica interna: é a mais interna das três camadas, sendo composta de
epitélio simples pavimentoso (o endotélio) e fibras elásticas. Os capilares
são compostos apenas do endotélio, sobre uma lâmina basal.

ANATOMIA HUMANA 90

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Muitas veias possuem uma estrutura chamada válvula, que estão au-
sentes nas artérias, nas veias do cérebro e em algumas veias do pescoço e
do tronco. As válvulas são pregas membranosas da túnica interna da veia
que orientam a direção da corrente sanguínea, mantendo sua circulação
rumo ao coração e impedindo seu refluxo.

EXPLICANDO
A retenção de sangue nas veias das pernas por períodos longos pode
causar a deformação das veias nos trechos onde as válvulas se tornam
ineficientes. O resultado são as veias varicosas, conhecidas popularmente
como varizes. As varicosidades resultantes nas veias anais são conheci-
das como hemorroidas. As veias varicosas podem ser hereditárias, mas
também podem ocorrer com pessoas em ocupações que requerem longos
períodos de imobilidade. A obesidade e a gravidez podem provocar ou
agravar o problema.

Chamamos de pressão sanguínea a força gerada pelo sangue contra as pare-


des internas dos vasos que percorrem. É principalmente observada nas artérias
e arteríolas nas quais a pressão é mais alta. Nos capilares e vênulas, a pressão
sanguínea é consideravelmente baixa, com isso, o movimento do sangue é mais
lento. Nas veias, a pressão sanguínea atua secundariamente, porque a ação das
válvulas e a contração dos músculos esqueléticos exercem a maioria da força ne-
cessária para mover o sangue para o coração. A pressão sanguínea comumente
é considerada um sinal vital, bem como outros fatores como a frequência respi-
ratória, a medida da frequência de pulsação e a temperatura corpórea.
Sistema linfático
O sistema linfático se relaciona intimamente com o sistema cardiovascular,
uma vez que sua função principal é devolver o excesso de líquido para os vasos
sanguíneos por meio dos vasos linfáticos. Além disso, esse sistema
atua na defesa do corpo contra microrganismos e substâncias es-
tranhas, bem como na absorção de gordura.
Todos os capilares sanguíneos são envolvidos por
tecido conjuntivo frouxo que contém líquido tecidual
(ou intersticial), originado do sangue filtrado pelas
paredes dos capilares, e cuja composição consiste
em água, vários íons, moléculas de nutrientes e gases

ANATOMIA HUMANA 91

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respiratórios. Os vasos linfáticos atuam
na coleta desse excesso de líquido em
volta dos capilares e na sua devolução
para a corrente sanguínea. Uma vez
dentro dos vasos linfáticos, esse líqui-
do chama-se linfa. Quando ocorre um
bloqueio dos vasos linfáticos, a região
do corpo afetada incha devido ao ex-
cesso de líquido tecidual, uma condição
conhecida como edema.
Como a linfa é conduzida somente
na direção do coração, os vasos linfáti-
cos mantêm um sistema de mão única
e variam de acordo com seus tamanhos
(calibre). Os vasos menores, que recebem a linfa primeiro, são os capilares linfáti-
cos, que conduzem a linfa para os vasos (coletores) linfáticos. Os vasos linfáticos
drenam para os troncos linfáticos, que se unem para formar os ductos linfáticos
e desembocarem nas veias da raiz do pescoço.
Ao longo do seu trajeto pelos vasos linfáticos, a linfa é filtrada por cen-
tenas de linfonodos, pequenos órgãos em forma de feijão. Em seu interior,
os linfonodos contêm células fagocíticas que ajudam a remover patógenos
da linfa antes que ela atinja o sistema venoso. A linfa é transportada para
um linfonodo pelos vasos linfáticos aferentes e saem pelos vasos linfáticos
eferentes. Nódulos linfáticos no interior de linfonodos são locais de produ-
ção de linfócitos e, portanto, são importantes no desenvolvimento de uma
resposta imune. Frequentemente, os linfonodos são encontrados ao longo
do percurso dos vasos sanguíneos. Em inflamações, o linfonodo
pode inchar e tornar-se doloroso, uma ocorrência popularmen-
te conhecida como íngua.
Além dos linfonodos, constituem órgãos linfáticos
as tonsilas, o baço e o timo. Os órgãos linfáticos
desempenham funções importantes no sistema
imunológico (Quadro 4). Os grandes nódulos nas
paredes da faringe são denominados tonsilas.

ANATOMIA HUMANA 92

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QUADRO 4. ÓRGÃOS LINFÁTICOS

Órgãos Locais Funções

Locais de produção de linfócitos;


Em agrupamentos ou cadeias ao aloja linfócitos T e linfócitos B que são
Linfonodos longo do trajeto de grandes vasos responsáveis por imunidade; fagócitos
linfáticos. filtram partículas estranhas e resíduos
celulares da linfa.
Em um anel na junção da cavidade Protege contra a invasão de substâncias
Tonsilas
oral e faringe. estranhas que são ingeridas ou inaladas.
Atua como reservatório de sangue; fagocita e
Porção esquerda superior da
filtra partículas estranhas, restos celulares e
Baço cavidade abdominal, abaixo do
eritrócitos velhos do sangue; produção
diafragma e apoiada ao estômago.
de linfócitos.
Importante local imunológico em uma
Interior do mediastino, atrás do
Timo criança; produção de linfócitos; modifica
manúbrio do esterno.
linfócitos indiferenciados em linfócitos T.
Fonte: VAN DE GRAAFF, 2003, p. 587. (Adaptado).

Sistema respiratório: conceito e divisão


Os seres humanos são capazes de sobreviver sem água por dias e sem ali-
mento por semanas, mas não conseguem sobreviver sem oxigênio por nem mes-
mo alguns minutos. As inúmeras células no corpo exigem um suprimento contí-
nuo de oxigênio (O2) para produzir a energia da qual precisam para desempenhar
suas funções vitais. Além disso, as células produzem dióxido de carbono (CO2), um
subproduto gerado durante um processo químico de conversão da glicose em
energia celular (ATP) chamado respiração celular e que o corpo deve eliminar.
Para realizar a função primordial de abastecer o corpo com O2 e descartar CO2,
precisam ocorrer os seguintes processos, chamados coletivamente de respiração:
• Ventilação pulmonar: o ar precisa entrar e sair dos pulmões
para que os gases nos alvéolos pulmonares (sacos de ar) sejam
substituídos continuamente. Esse movimento se cha-
ma ventilação ou respiração;
• Respiração externa: a troca gasosa deve
ocorrer entre o sangue e o ar nos alvéolos. O O2
nos sacos de ar se difunde no sangue; o CO2 no
sangue se difunde nos alvéolos;

ANATOMIA HUMANA 93

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• Transporte dos gases respiratórios: o O2 e o CO2 precisam
ser conduzidos dos pulmões para as células do corpo,
um processo realizado pelo sistema cardiovascular,
com o sangue atuando de fluido de transporte;
• Respiração interna: nos capilares sistêmi-
cos, os gases necessitam ser trocados entre o
sangue e as células dos tecidos.
Os processos respiratórios asseguram que a respi-
ração celular possa ocorrer em todas as células do corpo. Podemos observar
que os sistemas respiratório e cardiovascular estão intimamente associados:
se algum deles falhar, as células do corpo começam a morrer devido à priva-
ção de oxigênio. Como o sistema respiratório movimenta o ar para dentro e
para fora do corpo, ele também está relacionado com a fala e com o olfato.
O ramo da medicina que atua com o diagnóstico e tratamento das doen-
ças das orelhas, nariz e garganta é chamado de otorrinolaringologia, en-
quanto pneumologia é a especialidade de diagnóstico e tratamento das
doenças dos pulmões.
No que se refere à divisão do sistema respiratório, ele inclui os seguintes ór-
gãos: o nariz, a cavidade nasal e os seios paranasais; a faringe; a laringe; a tra-
queia; os brônquios e suas ramificações; e os pulmões, que contêm os sacos de
ar terminais, ou alvéolos. Em termos funcionais, essas estruturas respiratórias
são divididas em estruturas de condução e de respiração. A parte de condução
inclui as vias de passagem respiratórias, que transportam o ar para os locais
de troca gasosa. Suas estruturas também filtram, umidificam e aquecem o ar
que passa por elas. Desse modo, o ar que chega aos pulmões contém muito
menos poeira do que continha quan-
do entrou pelo nariz, sendo aquecido
e eliminado. A parte de respiração, em
que realmente ocorre a troca gasosa
nos pulmões, é constituída pelas vias
de passagem respiratórias terminais
dos pulmões, isto é, bronquíolos res-
piratórios, ductos alveolares, sacos al-
veolares e alvéolos.

ANATOMIA HUMANA 94

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Sistema Respiratório

Cavidade nasal mais


seios paranasais Cavidade oral

Narinas Faringe
Laringe

Brônquio esquerdo
Traqueia principal
Brônquios
Carina

Pulmão esquerdo
Brônquio direito
principal
Pulmão direito Diafragma

Figura 1. Sistema respiratório. Fonte: Shutterstock. Acesso em: 01/10/2020.

Nariz, cavidade nasal e seios paranasais, faringe, laringe,


traqueia, brônquios, pleura e pulmões
Parte condutora do sistema respiratório
Nariz, cavidade nasal e seios paranasais
A primeira via do sistema respiratório por onde o ar adentra é o nariz, que
possui duas aberturas chamadas narinas. Elas permitem a entrada do ar para a
cavidade nasal, a parte interna do nariz. A região da cavidade nasal compreen-
dida pelas estruturas cartilaginosas do nariz é chamada de vestíbulo e possui
pelos em seu epitélio, que capturam grandes partículas no ar e os impedem de
prosseguir para o restante do sistema respiratório.
A cavidade nasal é separada pelo septo nasal, que possui uma porção car-
tilaginosa (formada pela cartilagem septal) e uma porção óssea (constituída

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pela lâmina perpendicular do osso etmoide e pelo vômer). As maxilas, os ossos
nasais e frontal, o etmoide e o esfenoide formam as paredes laterais e superior
da cavidade nasal. A partir da parede lateral, se projetam três estruturas ós-
seas chamadas conchas nasais superior, média e inferior, que geram espaços
conhecidos como meatos nasais superior, médio e inferior, caracterizados por
serem canais aéreos estreitos que promovem filtração, aquecimento e o ume-
decimento do ar inspirado.
O palato duro, formado pelos ossos maxila e palatino, forma o assoalho da
cavidade nasal e separa as cavidades oral e nasal. O palato mole muscular se
estende ao palato duro posteriormente, definindo o limite entre a parte nasal
da faringe e as partes restantes da faringe. A cavidade nasal se encerra em
duas aberturas para a região nasal da faringe, chamadas cóanos.
A cavidade nasal se comunica com espaços aéreos encontrados em alguns
ossos do crânio chamados seios paranasais. Existem quatro pares de seios pa-
ranasais, que são nomeados de acordo com os ossos que se encontram com
o seio maxilar, frontal, esfenoidal e células etmoidais. Os seios paranasais são
parcialmente responsáveis pela ressonância do som e atuam na diminuição
do peso do crânio. Além disso, produzem uma secreção mucosa que colabora
para a superfície da cavidade nasal se manter úmida e limpa. Quando a mu-
cosa que produz essa secreção inflama, estamos diante de um quadro clínico
chamado sinusite.
Faringe
Comumente conhecida como garganta ou goela, a faringe é um órgão mus-
cular em forma de funil que interliga as cavidades nasais e oral com a larin-
ge (sistema respiratório) e o esôfago (sistema digestório), possuindo funções
respiratória e digestória. Além disso, atua como câmara de ressonância para
alguns sons da fala. A faringe é dividida com base na localização e
função em três regiões.
• A parte nasal da faringe atua somente como pas-
sagem para o ar, pois se localiza acima da entrada de
alimentos do corpo (a boca). Sua posição é logo atrás
da cavidade nasal e acima do palato mole, sendo a
parte superior da faringe. Uma úvula palatina pen-
de da porção inferior mediana do palato mole;

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• A parte oral é a porção seguinte da faringe, localizada entre o palato mole
e o osso hioide. Passam por essa região o ar inalado da respiração, assim como
os alimentos e líquidos deglutidos. A base da língua compõe a parede anterior
da parte oral da faringe;
• A parte laríngea é a porção inferior da faringe, que se estende inferiormen-
te do osso hioide até a laringe. Na parte inferior da parte laríngea da faringe
ocorre a separação dos sistemas respiratório e digestório, com o ar inalado é
conduzido anteriormente na laringe, enquanto os alimentos e líquidos degluti-
dos são encaminhados ao esôfago.

CURIOSIDADE
Durante a deglutição, o palato mole e a úvula palatina são elevados, no
intuito de bloquear a cavidade nasal e impedir que alimentos entrem por
ela. Ocasionalmente, uma pessoa pode, subitamente, exalar ar (quando
ri, por exemplo) enquanto deglute líquido. Se isso efetivamente ocorrer
antes que a úvula bloqueie a parte nasal da faringe, o líquido deve entrar
na cavidade nasal.

Na parede lateral da parte nasal da faringe há uma abertura que se liga à tuba
auditiva, que permite a comunicação da parte nasal da faringe com a cavidade
timpânica da orelha média, atuando para igualar as pressões do ar na cavidade
timpânica com a pressão externa, permitindo a livre movimentação da membra-
na timpânica. Entretanto, esta comunicação permite que infecções da faringe se
propaguem para a orelha média.
Laringe
A laringe, ou “caixa” de voz, é um órgão que conecta a parte laríngea da farin-
ge com a traqueia e está localizada na linha mediana anterior do pescoço, entre a
quarta e sexta vértebra cervical. A laringe tem como principal função permitir a pas-
sagem do ar durante a respiração, além de bloquear a entrada de alimentos ou líqui-
dos na traqueia durante a deglutição. Uma função secundária é a produção de sons.
A laringe possui o formato de uma caixa triangular, sendo constituída por nove
cartilagens: três grandes ímpares e seis menores pares. A maior das cartilagens ím-
pares é cartilagem tireoidea, conhecida por sua proeminência anterior popularmen-
te chamada de “pomo de Adão”. Ela é comumente maior e mais proeminente nos
homens devido ao efeito dos hormônios sexuais masculinos durante a puberdade.

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Fixada ao osso hioide e à cartilagem tireoidea, se encontra a epiglote, que
tem forma de colher e possui um arcabouço chamado cartilagem epiglótica.
A epiglote está posicionada atrás da raiz da língua e controla a abertura da
laringe durante a deglutição. Inferiormente, a laringe é composta pela carti-
lagem cricoidea, uma cartilagem em forma de anel que se liga à cartilagem
tireoidea e à traqueia. O par de cartilagens aritenoideas, situadas acima da
cricoidea e abaixo da tireoidea, atuam como pontos de fixação posterior para
as pregas vocais. As outras cartilagens pares, as cartilagens cuneiforme e
corniculada, são pequenas e acessórias, estando próximas e associadas às
cartilagens aritenoideas.
Traqueia
A traqueia é um órgão tubular que se localiza anteriormente ao esôfago e
inferiormente a laringe. É formada por aproximadamente 16 a 20 cartilagens
hialinas em forma de C, garantindo que a via aérea permaneça sempre aber-
ta. A mucosa, superfície que reveste a traqueia, contém numerosas células
secretoras de muco, proporcionando uma proteção contra partículas similar
à encontrada no revestimento da cavidade nasal e da laringe. Sendo uma
estrutura presente na linha mediana, a traqueia se ramifica para dar origem
aos brônquios principais direito e esquerdo. Essa bifurcação é reforçada por
uma crista cartilaginosa em forma de quilha, a carina.
Árvore bronquial
A árvore bronquial é como denominamos uma série de tubos respirató-
rios que se bifurcam em tubos menores que se estendem profundamente
para os pulmões. A traqueia se ramifica nos brônquios direito e esquerdo,
que seguem para o seu respectivo pulmão. O brônquio principal direito é me-
nor, mais vertical e calibroso que o esquerdo. Vale destacar que os brônquios
principais possuem características em comum com a traqueia,
como a presença de anéis incompletos de cartilagem.
Após entrar nos pulmões, o brônquio principal di-
vide-se mais para formar os brônquios lobares (se-
cundário) e brônquios segmentares (terciários). A
árvore bronquial continua sucessivamente se di-
vidindo em túbulos menores denominados bron-
quíolos, que possuem sua parede composta de mús-

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culo liso espesso, diferindo dos brônquios com paredes cartilaginosas. Essa
estrutura dos bronquíolos confere mais resistência para o fluxo do ar. A ramifi-
cação seguinte são os bronquíolos terminais, que encerram a porção conduto-
ra do sistema respiratório.
Parte respiratória do sistema respiratório
Bronquíolos e alvéolos
As primeiras estruturas da porção
respiratória são os bronquíolos respi-
ratórios, que se bifurcam a partir dos
bronquíolos terminais. Eles podem ser
reconhecidos pelos alvéolos dispersos
que se projetam de suas paredes. Os
bronquíolos respiratórios originam
os ductos alveolares, cujas paredes
são formadas quase inteiramente por
alvéolos. Os ductos alveolares se encerram nos sacos alveolares. Alvéolos e
sacos alveolares são estruturas diferentes: o saco alveolar é semelhante a um
cacho de uvas, em que cada uva é um alvéolo.
Cada pulmão contém aproximadamente 400 milhões de alvéolos, o que
confere ao órgão um aspecto esponjoso. Uma vasta rede de vasos capilares
está associada a cada alvéolo, formando a membrana respiratória, na qual é
efetuada a hematose (troca gasosa entre os alvéolos e o sangue). O ar está pre-
sente no lado alveolar da membrana e o sangue flui no lado capilar. Os gases
passam facilmente através dessa fina membrana: o oxigênio se difunde para
o sangue, enquanto o dióxido de carbono parte para os alvéolos cheios de ar.
Importante ressaltar que os vasos capilares são circundados por várias fi-
bras elásticas. Esse tecido elástico ajuda na manutenção das posições relati-
vas dos bronquíolos respiratórios e dos alvéolos. O retorno à posição original
dessas fibras durante a expiração reduz o tamanho dos alvéolos e auxilia no
processo de expiração.
Pulmões
Os pulmões direito e esquerdo estão localizados na cavidade torácica, envol-
vidos pelas cavidades pleurais direita e esquerda, respectivamente. Cada pulmão
apresenta uma extremidade superior arredondada, chamada de ápice do pulmão,

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que se estende superiormente à primeira costela. A extremidade inferior côncava,
ou base do pulmão, apoia-se na face superior do diafragma. Entre os pulmões, há
um compartimento central chamado mediastino, onde permanecem o coração e
seus grandes vasos, o esôfago, parte da traqueia e os brônquios principais.
Os pulmões apresentam lobos distintos, separados por fissuras profundas.
O pulmão direito se divide em três lobos: superior, médio e inferior. A fissura
horizontal delimita os lobos superior e médio, enquanto a fissura oblíqua separa
os lobos superior e inferior. O pulmão esquerdo apresenta somente dois lobos,
superior e inferior, separados pela fissura oblíqua. O pulmão direito é maior que
o esquerdo, pois a maior parte do coração projeta-se em direção ao pulmão
esquerdo; contudo, o pulmão esquerdo é mais extenso que o direito porque o
diafragma eleva-se mais do lado direito.
Em volta de cada pulmão há um saco achatado, cujas paredes são formadas
por uma membrana serosa chamada pleura. A camada externa dessa membra-
na é a pleura parietal, que envolve a superfície interna da parede torácica, a su-
perfície superior do diafragma e as superfícies laterais do mediastino. A camada
interna, diretamente sobre o pulmão, é a pleura visceral. Na área onde esses
vasos entram no pulmão, a pleura pa-
rietal é contínua à pleura visceral, que
cobre a superfície externa do pulmão.
Entre as pleuras parietal e visceral,
encontramos um espaço virtual cha-
mado cavidade pleural, preenchida
com uma película fina de fluido pleural.
Produzido pelas pleuras, esse fluido
lubrificante permite que os pulmões
deslizem sem atrito durante os movi-
mentos respiratórios. As pleuras também dividem a cavidade torá-
cica em três compartimentos separados: o mediastino e
os dois compartimentos pleurais, direito e esquerdo.
Essa compartimentalização ajuda a evitar que os
pulmões em movimento ou o coração interfiram
um no outro, além de limitar a disseminação de in-
fecções localizadas e o grau de lesão traumática.

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QUADRO 5. SEQUÊNCIA DE EVENTOS DURANTE A INSPIRAÇÃO E A EXPIRAÇÃO

Inspiração Expiração

Músculos inspiratórios relaxam (diafrag-


Músculos inspiratórios contraem (diafrag-
1 ma sobe; caixa torácica desce devido ao
ma desce; caixa torácica sobe).
recuo das cartilagens costais).
Cavidade torácica e cavidade pleural Cavidade torácica e cavidade pleural
2
aumentam de volume. diminuem de volume.
Pulmões se alongam; volume pulmonar Pulmões retraem passivamente; volume
3
aumenta. pulmonar diminui.
4 Pressão do ar nos pulmões diminui. Pressão do ar nos pulmões sobe.
5 Ar flui para os pulmões. Ar escoa para fora dos pulmões.
Fonte: MARIEB; HOEHN, 2013, p. 692. (Adaptado).

Sistema digestório: conceito e divisão


A afirmação “você é o que você come” é bastante verdadeira. Para que
o organismo possa ser mantido vivo e funcional, é necessário que rece-
bamos um suprimento constante de alimentos. Os alimentos contêm, em
suas composições, vários nutrientes, moléculas necessárias para as rea-
ções químicas que se relacionam com processos como divisão e crescimen-
to celular, reparos, a síntese de enzimas e a produção de energia térmica. A
nutrição influencia o estado de saúde, o estado mental e emocional, bem
como nossa própria sensação de bem-estar. As proteínas, os carboidratos
complexos, as gorduras insaturadas, as vitaminas, os minerais e a água
são componentes essenciais de uma alimentação saudável. O processo de
conversão dos alimentos ingeridos em unidades que nosso corpo é capaz
de absorver é chamada de digestão e o sistema corporal responsável pela
digestão é o sistema digestório.
O sistema digestório forma uma extensa área de contato com o meio
externo e está intimamente associado ao sistema cardiovascular, sendo
essencial para o processamento do alimento que comemos. Podemos
destacar como especialidades médicas que atuam no sistema digestório
a gastroenterologia (estuda as características e distúrbios do estômago e
do intestino) e a proctologia (estuda as características e doenças do reto
e do ânus).

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De acordo com a anatomia e a função das estruturas, o sistema digestório é
dividido em um trato gastrointestinal, chamado também de trato digestório, e
órgãos digestórios anexos. O trato gastrointestinal é um tubo muscular contínuo
que se estende da boca ao ânus, atravessando a cavidade torácica e entrando
na cavidade abdominal por meio do músculo diafragma. Os órgãos presentes no
trato gastrointestinal são a cavidade oral, a faringe, o esôfago, o estômago e os in-
testino delgado e grosso. Os órgãos anexos do sistema digestório são a língua, os
dentes, as glândulas salivares, o pâncreas, o fígado e a vesícula biliar. É importante
esclarecer que o termo víscera é frequentemente usado para se referir aos órgãos
abdominais da digestão, mas, na verdade, vísceras podem ser quaisquer órgãos
das cavidades torácica e abdominal, como os pulmões, o estômago, o baço etc.

Sistema digestório

Cavidade oral
Língua

Esôfago

Baço

Fígado
Estômago
Vesícula biliar

Pâncreas Intestino grosso

Intestino delgado

Apêndice Reto
Ânus

Figura 2. Sistema digestório. Fonte: Shutterstock. Acesso em: 01/10/2020.

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Funções do sistema digestório
O trato digestório e os órgãos acessórios trabalham em conjunto para de-
sempenhar as seguintes funções:
• Ingestão: é a introdução de alimentos e líquidos no trato digestório pela boca;
Processamento mecânico: a maioria dos alimentos ingeridos precisa pas-
sar por decomposição mecânica para serem digeridos. A pressão com a língua
e a mastigação realizada pelos dentes são exemplos de processamentos mecâ-
nicos que ocorrem antes da deglutição;
• Mistura e propulsão: chamamos de propulsão o movimento do alimento
pelo tubo digestório, incluindo a deglutição (um processo voluntário) e a peris-
talse (processo involuntário). A peristalse, ou peristaltismo, se refere às ondas
alternadas de contração e relaxamento da musculatura das paredes dos órgãos.
Movimentos de mistura e de propulsão ocorrem ao longo do canal alimentar e
continuam o processamento mecânico após a deglutição, como a agitação do
alimento no estômago e a segmentação, constrições locais rítmicas do intestino;
• Digestão: é a quebra química e enzimática de moléculas complexas do
alimento (carboidratos, proteínas e lipídios) em moléculas orgânicas menores
que podem ser absorvidas pelo trato digestório. A digestão geralmente envol-
ve a ação de ácidos, enzimas e soluções-tampão produzidos por secreção ativa.
Algumas destas secreções são produzidas pelo revestimento do trato digestó-
rio, mas a maioria delas é oriunda de glândulas anexas ao tubo gastrointestinal;
• Absorção: consiste no transporte de moléculas orgânicas, eletrólitos, vita-
minas e água para os capilares presentes no epitélio digestório, com o intuito
de distribuí-los às células;
• Defecação: os resíduos da digestão são secretados pelo trato digestório
e desidratados, progressivamente, para serem eliminados pelo corpo. O mate-
rial eliminado é denominado fezes e chamamos de defecação a eliminação das
fezes pelo corpo.
Em resumo, os órgãos do sistema digestório atuam no processamento dos
alimentos introduzidos na boca e conduzidos ao longo do trato digestório. A fi-
nalidade destas atividades é a de reduzir estruturas químicas complexas e sóli-
das de alimento em moléculas menores que podem ser absorvidas pelo reves-
timento do trato gastrointestinal e transportadas para a circulação sanguínea.

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Ademais, o revestimento do trato digestório também desempenha uma
função específica, atuando na defesa dos tecidos circunvizinhos contra: (I) os
efeitos corrosivos dos ácidos e das enzimas digestivas; (II) agressões mecâni-
cas, como a abrasão; e (III) patógenos ingeridos com os alimentos ou presentes
no trato digestório.
Trato gastrointestinal
Geralmente, o alimento leva aproximadamente 24 a 48 horas para ser trans-
portado ao longo de todo trato gastrointestinal. O alimento ingerido pela boca
passa por regiões do trato digestório com funções específicas, onde moléculas
complexas são progressivamente quebradas e preparadas para utilização.
Boca
O tubo digestório é iniciado pela boca (ou cavidade oral), onde o alimento
começa a ser processados pelas es-
truturas anexas presentes (dentes,
língua e glândulas salivares). A cavi-
dade oral é dividida em um vestíbulo
e a cavidade própria da boca. Chama-
mos de vestíbulo da boca a fenda en-
tre os dentes e as estruturas muscu-
lares que o circundam (bochechas ou
lábios). Quando você escova a superfí-
cie externa dos seus dentes, a escova
está no vestíbulo da boca. A cavidade
própria da boca é a região situada pos-
teriormente em relação aos dentes. A
cavidade oral comunica-se com o exte-
rior por uma abertura chamada rima da boca e com a faringe com uma aber-
tura chamada fauces.
As bochechas formam os limites laterais da cavidade oral. Elas consistem,
externamente, nas camadas da pele, na tela subcutânea, nos músculos faciais
que colaboram para direcionar o alimento na cavidade oral e, internamente,
nos revestimentos de epitélio estratificado pavimentoso umedecido. A porção
anterior das bochechas termina nos lábios superior e inferior, que contornam
a rima da boca.

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O limite anterior da cavidade oral são os lábios, órgãos carnosos, altamente
móveis cuja função principal nos humanos está associada com a fala. Os lábios
também servem para amamentação, direcionar o alimento e conter o alimento
entre os dentes superiores e inferiores. Eles são formados pelo músculo orbi-
cular da boca e tecido conjuntivo associado, e são cobertos com pele mole e fle-
xível. Os lábios são vermelhos, tendendo ao marrom avermelhado devido aos
vasos sanguíneos próximos da superfície. Os numerosos receptores sensitivos
dos lábios permitem determinar a temperatura e composição do alimento.
O palato atua como o limite superior da cavidade oral e é composto pelo palato
duro ósseo, anteriormente, e pelo palato mole, posteriormente. O palato duro é
constituído estruturalmente pelas lâminas horizontais dos ossos palatinos e pelos
processos palatinos da maxila. As pregas palatinas transversas, também chama-
das rugas palatais, estão situadas ao longo da membrana mucosa presente no
palato duro e servem como cristas de fricção contra as quais a língua é colocada na
deglutição. Contínuo com o palato duro, o palato mole é um arco muscular cober-
to com membrana mucosa. Suspenso no palato mole, encontra-se medialmente
em sua margem inferior uma saliência cônica chamada úvula palatina. O palato
mole e a úvula palatina são levantados durante a deglutição, fechando a parte
nasal da faringe e impedindo que alimentos e líquidos entrem na cavidade nasal.
Faringe
No período onde está na cavidade oral, o alimento é misturado com saliva,
triturado pelos dentes e manipulado pela língua. Desse modo, é reduzido a
uma massa flexível e macia, denominada bolo alimentar, que pode ser desloca-
da com facilidade para o restante do canal alimentar, um mecanismo chamado
deglutição. Ao ser deglutido, o alimento passa da boca para a faringe, um tubo
muscular afunilado que se conecta com a terminação das cavidades oral e na-
sal e se estende até a laringe, anteriormente, e o esôfago, posterior-
mente. A parte nasal da faringe se relaciona somente com a res-
piração, enquanto as partes oral e laríngea da faringe
servem à digestão e à respiração. Antes de entrar no
esôfago, o alimento deglutido passa da boca para
as partes oral e laríngea da faringe, e as contra-
ções musculares dessas partes da faringe ajudam
a impulsionar o alimento para o esôfago.

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Esôfago
O esôfago é um canal muscular depressível (pode ser colabado) que
conduz alimentos sólidos e líquidos ao estômago. Situado posteriormente
à traqueia, o esôfago inicia na região terminal da parte laríngea da faringe
e percorre a face inferior do pescoço, onde adentra o mediastino. A partir
do mediastino, o esôfago desce anteriormente à coluna vertebral, atravessa
uma abertura do diafragma chamada hiato esofágico e se encerra na porção
superior do estômago.
Estômago
O estômago é uma expansão do trato gastrointestinal em forma de J e
se localiza no abdome, ocupando a posição diretamente inferior ao diafrag-
ma. O estômago interliga o esôfago à porção inicial do intestino delgado, o
duodeno. Como a ingestão de uma refeição pode ser muito mais rápida que
o tempo necessário para digestão e absorção, o estômago serve como área
de mistura e reservatório, sendo capaz de acomodar grande volume de ali-
mento (até 6,4 litros). A posição e o tamanho do estômago variam continua-
mente devido à movimentação do diafragma a cada inspiração e expiração.
Estruturalmente, o estômago possui quatro regiões características: cár-
dia, fundo, corpo e parte pilórica. A cárdia envolve a abertura superior do
estômago. O fundo é a extremidade superior arredondada que se encontra
à esquerda da cárdia. Inferiormente a cárdia e o fundo, se situa o corpo, a
grande porção central do estômago. A parte pilórica se subdivide em três
regiões: o antro pilórico, que se conecta ao corpo gástrico; o canal pilórico;
e o piloro, que se conecta ao duodeno por um esfíncter de músculo liso cha-
mado esfíncter do piloro. A curva medial côncava do estômago é chamada
curvatura menor, enquanto a curva lateral convexa é a curvatura maior.
A mucosa interna do estômago possui alto número de pregas
gástricas, elevações que ampliam o contato do bolo alimentar.
Esse contato viabiliza a eficiência do suco gástrico, um
fluído digestivo formado por três secreções produ-
zidas por essa mucosa: ácido clorídrico, muco e
enzimas, em especial a pepsina, que transforma
as proteínas em aminoácidos. Além disso, conti-
nua a digestão de amido e dos triglicerídeos inicia-

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da pela saliva na boca, e ocorre a conversão do bolo alimentar semissólido
em uma massa viscosa chamada quimo. Em intervalos apropriados, o estô-
mago transfere um pequeno volume de material para o duodeno.
Intestino delgado
O intestino delgado é a estrutura mais longa do tubo digestório, sendo o
principal local de atividade enzimática e de absorção de nutrientes. A maio-
ria das enzimas que atuam no intestino delgado é secretada pelo pâncreas.
Durante a digestão, o intestino delgado realiza movimentos de segmentação,
que misturam o quimo e ampliam seu contato com a mucosa para absorver
nutrientes. O peristaltismo impele o quimo através do intestino delgado em
aproximadamente três a seis horas.
O intestino delgado se subdivide em três regiões: o duodeno, o jejuno e o
íleo, que medem aproximadamente 5%, 40% e 60% do seu comprimento, res-
pectivamente. A maior parte do duodeno tem a forma da letra C, enquanto o
jejuno e o íleo formam espirais suspensas na parte posterior do abdome, que
são emolduradas pelo intestino grosso. O jejuno corresponde à parte superior
dessa massa intestinal espiralada, enquanto o íleo se refere à parte inferior.
Embora o duodeno seja a divisão mais curta do intestino delgado, ele tem
como característica receber enzimas digestórias do pâncreas via ducto pan-
creático, e bile do fígado e da vesícula biliar via ducto colédoco. Esses ductos
entram na parede do duodeno, onde formam um bulbo chamado ampola he-
patopancreática, que se abre em uma pequena saliência chamada papila maior
do duodeno. A entrada de bile e o suco pancreático no duodeno é controlada
por esfíncteres de músculo liso que circundam a ampola hepatopancreática e
pelas terminações dos ductos pancreático e colédoco.
Intestino grosso
Encerando o tubo gastrointestinal, o intestino grosso possui formato de fer-
radura e se estende da porção terminal do íleo até o ânus, circundando quase
completamente o intestino delgado. Chegam no intestino grosso resíduos alta-
mente digeridos que contém poucos nutrientes e, durante o período que per-
manece no intestino grosso, ocorre pouca decomposição adicional do alimen-
to, exceto quanto à pequena quantidade de digestão realizada pelas muitas
bactérias que nele vivem, a chamada flora intestinal. Podemos destacar como
principais funções do intestino grosso: a compactação do conteúdo intestinal

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em fezes, pela absorção de água e eletrólitos; a absorção de importantes vita-
minas produzidas por ação bacteriana; e o armazenamento e eliminação do
material fecal.
Sendo mais calibroso e curto, se comparado com o intestino delgado, po-
demos subdividir o intestino grosso em três regiões: o ceco, semelhante a uma
bolsa de fundo cego; o colo, porção de maior comprimento do intestino grosso;
e o reto, os últimos 15 cm do intestino grosso. O ceco é uma dilatação em fun-
do cego que se posiciona abaixo da papila ileal, uma prega de túnica mucosa
na junção dos intestinos que impede o refluxo do quimo. Destaca-se no ceco
o apêndice vermiforme, um prolongamento linfático que ajuda na defesa do
organismo. Processos infecciosos que atingem o apêndice vermiforme podem
causar apendicite, que exige tratamento cirúrgico.
O colo se subdivide em colo ascendente, colo transverso, colo descenden-
te e colo sigmoide. O colo ascendente se estende superiormente ao longo do
lado direito da parede abdominal até a superfície inferior do fígado, onde do-
bra para a esquerda e continua pela cavidade abdominal superior como colo
transverso. No lado esquerdo da pa-
rede abdominal, curva-se novamente
em ângulo reto dando início ao colo
descendente. O colo descendente se
estende inferiormente, ao longo do
lado esquerdo da parede abdominal,
em direção à região pélvica. A seguir,
o colo forma uma curva em forma de
S conhecida como colo sigmoide. Por
fim, o reto ocupa posição anterior ao
sacro e ao cóccix, onde seu trecho final
de dois a três centímetros é denominado canal anal. O ânus, abertura externa
do canal anal, é protegido por um esfíncter interno de músculo liso (involuntá-
rio) e um esfíncter externo de músculo esquelético (voluntário). Normalmente,
o ânus está fechado, exceto durante a eliminação de fezes.
Peritônio
A maioria dos órgãos do sistema digestório está localizada na cavidade ab-
dominopélvica, sendo sustentados e envolvidos por membranas serosas que

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revestem essa cavidade e recobrem seus órgãos. As membranas serosas se-
cretam um líquido lubrificante que umedece os órgãos associados a elas. A
porção parietal da membrana serosa reveste a parede do corpo, e a porção
visceral recobre os órgãos internos. As membranas serosas presentes na ca-
vidade abdominal são chamadas de peritônio e os órgãos abdominais podem
apresentar as seguintes relações com ele:
• Órgãos intraperitoneais localizam-se dentro da cavidade peritoneal na
qual são recobertos em todos os lados por peritônio visceral;
• Órgãos retroperitoneais são recobertos por peritônio visceral apenas na
sua superfície anterior, e o órgão localiza-se fora da cavidade peritoneal.

QUADRO 6. ÓRGÃOS DIGESTÓRIOS INTRAPERITONEAIS E RETROPERITONEAIS

Órgãos intraperitoneais Órgãos retroperitoneais


(e seus mesentérios) (sem mesentérios)
Fígado (ligamento falciforme e omento menor); Duodeno (quase todo ele);

Estômago (omento maior e menor); Colo ascendente;

Íleo e jejuno (mesentério próprio); Colo descendente;

Colo transverso (mesocolo transverso); Reto;

Colo sigmoide (mesocolo sigmoide). Pâncreas.


Fonte: MARIEB, 2013; HOEHN, p. 710. (Adaptado).

As vísceras retroperitoneais são fi xas, entretanto, muitos órgãos des-


tacam-se da parede da cavidade abdominal e o revestimento peritonial as
acompanha, formando uma dupla camada de peritônio, denominadas me-
sentérios, que se estende da parede do corpo até os órgãos digestórios.
Os mesentérios mantêm os órgãos em suas posições, armazenam gordura
e, mais importante, proporcionam uma rota para os vasos circulatórios e
nervos chegarem aos órgãos na cavidade peritoneal. Em outros
casos, estas pregas peritoniais formadas por duas camadas de
peritônio se estendem entre dois ou mais órgãos e
são nomeadas de omentos. Existem dois deles: o
omento menor, que conecta a pequena curvatura
do estômago e o duodeno ao fígado; e o omen-
to maior, que conecta o estômago ao diafragma,
baço e cólon transverso.

ANATOMIA HUMANA 109

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Órgãos anexos ao sistema digestório
Os órgãos digestórios anexos compreendem a língua e os dentes, além
da vesícula biliar e das glândulas que se conectam ao tubo digestório através
de ductos (as glândulas salivares, o fígado e o pâncreas). As glândulas anexas
do sistema digestório produzem e armazenam enzimas e soluções-tampão,
necessárias para a digestão. Além das suas funções digestivas, o fígado e o
pâncreas apresentam outras funções vitais além daquelas envolvidas no pro-
cesso da digestão.
Anexos da cavidade oral
Como órgão do sistema digestório, a língua funciona na movimentação do
alimento no interior da boca durante a mastigação e ajuda na deglutição do
alimento. Também se relaciona para a produção da fala, ajudando a formar
algumas consoantes (K, D, T e L, por exemplo). A língua é formada de músculo
esquelético e revestida com membrana mucosa. Na superfície da língua en-
contram-se numerosas e pequenas elevações chamadas papilas. Elas dão à
superfície da língua uma rugosidade nítida, que ajuda a controlar o alimento.
Algumas delas também contêm calículos gustatórios, que respondem aos estí-
mulos químicos, isto é, identificam doce, salgado, azedo e amargo.
Os movimentos da língua são importantes na condução do ali-
mento para a região da superfície dos dentes, que efetuam a
mastigação do alimento. Essa ação quebra tecidos co-
nectivos resistentes e fibras vegetais, contribuindo
para saturar o alimento com secreções salivares e
enzimas. Os dentes situam-se em encaixes (alvéo-
los) nas margens da mandíbula e maxilas cobertas
por gengiva. De acordo com a sua forma e função, os
dentes são classificados como:
• Incisivos: são dentes em forma de lâmina encontrados na região anterior
da boca. São úteis para agarrar e cortar;
• Caninos: são cônicos com superfícies laterais aguçadas e uma ponta agu-
da. São utilizados para rasgar e lacerar;
• Pré-molares: apresentam coroas (porções visíveis do dente, acima da gen-
giva) planas com cristas proeminentes. São utilizados para amassar e triturar;

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• Molares: apresentam coroas grandes e planas com cristas proeminentes
para amassar e triturar os alimentos.
Por fim, as glândulas salivares produzem uma secreção líquida chamada
saliva. Ela funciona como solvente, limpando os dentes e dissolvendo molécu-
las de alimento de forma que possam ser degustadas. A saliva também con-
tém enzimas que digerem o amido e muco lubrificante que ajuda a deglutição.
As glândulas salivares menores (intrínsecas) estão espalhadas na mucosa da
língua, palato, lábios e bochechas. A saliva das glândulas salivares menores
mantém a boca sempre úmida. Por outro lado, as glândulas salivares maiores
(extrínsecas), situadas fora da boca e conectadas a ela por seus ductos, secre-
tam saliva apenas durante as refeições, tornando a boca molhada. As glândulas
salivares maiores são as parótida, submandibular e sublingual.

QUADRO 7. GLÂNDULAS SALIVARES MAIORES E SUAS CARACTERÍSTICAS

Aberturas na
Glândulas Localizações Ductos Tipos de secreção
cavidade oral
Anterior e
inferior à orelha; Lateral ao Líquido seroso
Glândula Ducto parotídeo
subcutânea segundo molar aquoso, sais
parótida (de Stensen).
sobre o músculo superior. e enzima.
masseter.

Ducto Carúncula lateral Líquido seroso


Glândula Inferior à base
submandibular ao frênulo da aquoso com
submandibular da língua.
(de Wharton). língua. algum muco.

Anterior à Principalmente
Vários ductos
glândula Ductos ao longo muco espesso e
Glândula sublinguais
submandibular da base pegajoso, sais
sublingual pequenos
debaixo da língua. e enzima
(de Rivinus).
da língua. (amilase salivar).
Fonte: VAN DE GRAAFF, 2013, p. 647. (Adaptado).

Fígado e vesícula biliar


O fígado é o maior órgão interno, sendo localizado inferiormente ao diafrag-
ma. Este órgão possui coloração marrom-avermelhada e apresenta uma face
diafragmática (anterossuperior) e uma face visceral (posteroinferior). Além disso,
o fígado se subdivide em quatro lobos: lobo direito, lobo esquerdo, lobo quadra-
do e lobo caudado. Anteriormente, o ligamento falciforme marca a separação
entre o lobo direito e o lobo esquerdo. Inferiormente, o lobo caudado está situa-
do adjacente à veia cava inferior e o lobo quadrado está próximo a vesícula biliar.

ANATOMIA HUMANA 111

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Todo sangue que deixa as superfícies
de absorção do trato digestório entra
no sistema porta-hepático e flui para o
fígado. Esta disposição faz com que as
células do fígado extraiam nutrientes
absorvidos ou toxinas do sangue antes
que eles atinjam a circulação sistêmica
através das veias hepáticas. O fígado de-
sempenha funções essenciais que são executadas, em sua maioria, pelas células he-
páticas (ou hepatócitos). Podemos classificar as funções importantes do fígado em
três categorias: regulação metabólica, regulação hematológica e produção de bile.
• Regulação metabólica: o fígado atua como o centro de regulação meta-
bólica do corpo, onde os hepatócitos monitoram e regulam os níveis de car-
boidratos, lipídios e aminoácidos circulantes conforme a necessidade do orga-
nismo. O excesso de nutrientes é removido para armazenamento, assim como
as deficiências nutricionais são corrigidas pela mobilização de reservas ou de
atividades de síntese. Toxinas e resíduos do metabolismo são removidos do
sangue para serem armazenados, inativados ou excretados. As vitaminas li-
possolúveis (A, D, K e E) também são absorvidas e armazenadas no fígado;
• Regulação hematológica: o fígado também atua o maior reservatório
sanguíneo do corpo. A partir da passagem do sangue através de capilares cha-
mados vasos sinusoides hepáticos, dois processos ocorrem: células fagocitá-
rias presentes no fígado removem glóbulos vermelhos danificados ou envelhe-
cidos, fragmentos celulares e patógenos da circulação; e as células hepáticas
sintetizam a maioria das proteínas plasmáticas, que colaboram com o trans-
porte de nutrientes, a concentração osmótica do sangue e a coagulação;
• Síntese e secreção de bile: a bile é produzida por hepatócitos, armaze-
nada na vesícula biliar e secretada no duodeno. A bile é um líquido alcalino
verde e basicamente composto de água, poucos íons, bilirrubina (um pigmento
derivado da hemoglobina), além de diversos lipídios, chamados de sais biliares.
A água e os íons atuam para a diluição e o tamponamento de ácidos no quimo.
Sais biliares associam-se aos lipídios presentes no quimo, permitindo a ação
de enzimas para emulsificação (redução em partículas menores) de lipídios em
ácidos graxos de fácil absorção.

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A vesícula biliar é uma estrutura piriforme que se subdivide em fundo, cor-
po, infundíbulo, colo e ducto cístico. Quando a vesícula está cheia, o fundo gera
uma proeminência entre o lobo direito e o lobo quadrado. Ele se estende com
o corpo, que se estreita para compor o infundíbulo, e logo se afunila no colo.
A continuação do colo é o ducto cístico, que se liga ao ducto hepático comum
para constituir o ducto colédoco, que termina no duodeno. A ejeção da bile
ocorre sob estimulação do hormônio colecistoquinina com a chegada do qui-
mo. A vesícula biliar apresenta duas funções principais: armazenamento da
bile, quando a bile não pode fluir ao longo do ducto colédoco; e modificação
da bile, em que a água é absorvida e os sais biliares e outros componentes
tornam-se mais concentrados.

ASSISTA
Se a concentração da bile aumenta exageradamente, podem
aparecer cristais de sais e minerais insolúveis (cálculos
biliares), bem como processos inflamatórios na vesícula (co-
lecistites). Para saber mais sobre os cálculos biliares, assista
ao vídeo Pedra na vesícula – Sintomas e Tratamento.

Pâncreas
O pâncreas é a maior segunda glândula anexa do sistema digestório e situa-
-se transversalmente e posterior à curvatura maior do estômago. O pâncreas
é formado por cabeça, corpo e cauda. A cabeça é a porção expandida do ór-
gão perto da curvatura do duodeno. Da porção inferior da cabeça projeta-se o
processo uncinado, que forma um arco atrás da artéria e da veia mesentéricas
superiores, circundando-as.
O pâncreas é um órgão misto (ou anfícrino), pois trata-se de uma glândula
com função exócrina e endócrina. As secreções endócrinas são os hormônios
insulina e o glucagon, envolvidos no metabolismo dos glicídios. A secreção exó-
crina é o suco pancreático, que é composto por enzimas que digerem proteí-
nas, lipídios e glicídios. Embora se presuma que a inervação autônoma influen-
cie a produção de enzimas, a secreção pancreática é controlada principalmente
pelos hormônios secretina e colecistoquinina liberados pelo intestino delgado
na presença do quimo.
O suco pancreático é produzido pelas células secretoras acinares e segue
para fora do pâncreas por dois canais: o ducto pancreático (ducto de Wirsung)

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e o ducto pancreático acessório (ducto de Santorini). O ducto pan-
creático une-se ao ducto colédoco e entra no duodeno
como um ducto comum dilatado, denominado am-
pola hepatopancreática (ampola de Vater). O duc-
to pancreático acessório esvazia-se diretamente
no duodeno, poucos centímetros acima da ampo-
la hepatopancreática.

ANATOMIA HUMANA 114

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Sintetizando
Ao longo do material, abordamos alguns dos sistemas do corpo como o
cardiovascular, o respiratório e o digestório, assim como seus componentes,
organizações, funções e processos.
Vimos que o sistema circulatório liga o meio interno do corpo e o meio ex-
terno, transportando nutrientes, produtos residuais e mesmo células, entre
estes dois meios e entre os diferentes tecidos do corpo. Estando subdividido
em sistema cardiovascular (composto de sangue, coração e vasos sanguíneos)
e sistema linfático (composto de linfa, órgãos linfáticos e vasos linfáticos).
O sistema cardiovascular se organiza em dois circuitos fechados: a circula-
ção pulmonar, que faz o transporte de sangue entre o coração e os pulmões,
e a circulação sistêmica, que realiza o transporte de sangue entre o coração
e o restante do corpo. O coração atua como uma bomba dupla, bombeando
sangue para os pulmões e também por todo o corpo, visando a nutrição dos
tecidos do corpo. Já as artérias transportam sangue para fora do coração en-
quanto as veias carregam o sangue de volta ao coração.
O sistema linfático e suas estruturas exercem um papel central nas defesas
do corpo contra vírus, bactérias e outros microrganismos, sendo constituído
por uma rede de vasos linfáticos que transportam a linfa (um líquido similar ao
plasma sanguíneo, porém com uma menor concentração de proteínas) e por
órgãos linfáticos interconectados por vasos linfáticos, sendo os mais importan-
tes: os linfonodos, as tonsilas, o baço e o timo.
O sistema respiratório, entre outras funções, trabalha em conjunto com o
sistema cardiovascular para restabelecer o oxigênio (O2) e remover o dióxido de
carbono (CO2) do sangue, além de proteger as superfícies respiratórias, permi-
tir a comunicação vocal e auxiliar na regulação do pH, pressão arterial e volume
sanguíneo. O sistema respiratório inclui a cavidade nasal, a faringe, a laringe, a
traqueia, os brônquios e os pulmões e podem ser divididos em órgãos condu-
tores (do nariz aos bronquíolos terminais), que aquecem, umidificam e filtram
o ar inalado, e órgãos respiratórios (bronquíolos respiratórios até os alvéolos),
que permitem as trocas gasosas.
Os alimentos contêm uma variedade de nutrientes moleculares necessários
para a formação de novos tecidos do corpo, para reparar tecidos lesados e para

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sustentar as reações químicas necessárias. Os principais eventos da ingestão
dos alimentos e da absorção de seus nutrientes ocorrem ao longo do sistema
digestivo, que possui estruturas adaptadas para essas funções. O sistema di-
gestório é constituído do tubo digestório (boca, faringe, esôfago, estômago, e
intestinos delgado e grosso) e das estruturas digestórias anexas.
As estruturas digestórias da boca até o intestino delgado são direcionadas
para a transformação mecânica e química do alimento para que possam ser
absorvidas no intestino delgado. Os restos alimentares não absorvidos são
transferidos para o intestino grosso, que concentra as fezes absorvendo água,
para chegarem ao reto e anus, já como bolo fecal.
Bons estudos!

ANATOMIA HUMANA 116

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Referências bibliográficas
DANGELO, J. G; FATTINI, C. A. Anatomia humana sistêmica e segmentada. 3. ed.
rev. São Paulo: Atheneu, 2011.
MARIEB, E. N.; HOEHN, K. Anatomia e fisiologia. 3. ed. Porto Alegre: Artmed, 2008.
MARTINI, F. H.; TIMMONS, M. J.; TALLITSCH, R. B. Anatomia humana. 6. ed. Porto
Alegre: Artmed, 2009.
PEDRA na vesícula – Sintomas e tratamento. Postado por Medicina & Saúde.
(08min. 17s.). son. color. port. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?-
v=EbXUiK7CSfI>. Acesso em: 01 out. 2020.
TORTORA, G. J.; NIELSEN, M. T. Princípios de anatomia humana. 12. ed. Rio de Ja-
neiro: Guanabara Koogan, 2013.
VAN DE GRAAFF, K. M. Anatomia humana. 6. ed. Barueri: Manole, 2003.

ANATOMIA HUMANA 117

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UNIDADE

4 SISTEMAS URINÁRIO,
REPRODUTOR,
ENDÓCRINO E
TEGUMENTAR

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Objetivos da unidade
Identificar os componentes do sistema urinário e suas funções;

Analisar a função dos sistemas genitais masculino e feminino;

Relacionar e identificar a função dos principais hormônios produzidos pelo


corpo humano;

Apresentar a estrutura da pele e suas funções;

Discutir a anatomia e as funções das estruturas acessórias da pele.

Tópicos de estudo
Sistema urinário e sistema
reprodutor
Órgãos do sistema urinário
Vias urinárias
Órgãos genitais masculinos
Órgãos genitais femininos

Sistema endócrino
Classificação topográfica das
glândulas endócrinas
Outras estruturas endócrinas

Sistema tegumentar
Funções do sistema tegumentar
Pele
Anexos do sistema tegumentar

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Sistema urinário e sistema reprodutor
Para que uma espécie seja bem-sucedida, duas necessidades básicas
precisam ser contempladas. O primeiro quesito refere-se à homeostasia, o
equilíbrio interno vital à sobrevivência das células que ocorre por meio das
reações químicas. O segundo quesito descreve a reprodução, a capacidade
de um organismo de passar seus genes a outras gerações. Essas necessi-
dades são supridas pelos sistemas urinário (ou excretor) e reprodutor (ou
genital), respectivamente.
Embora funcionalmente diferentes, o sistema urinário e o sistema reprodu-
tor são trabalhados tradicionalmente juntos, na forma do aparelho urogenital.
Ambos os sistemas compartilham a mesma origem embriológica – o mesoder-
ma intermediário – antes de se diferenciarem. No sexo masculino, a associação
destes sistemas é anatômica, ocorrendo pelo ducto que expele a urina e os
gametas para o exterior do corpo.
Os sistemas urinário e reprodutor são de particular interesse para a medi-
cina, uma vez que podemos destacar como ramos especializados nesses siste-
mas: a nefrologia, especializada no estudo da anatomia, fisiologia e patologia
dos rins; a urologia, que estuda o sistema urinário, bem como diagnostica e
trata doenças específicas do sistema genital masculino; a andrologia, que trata
os distúrbios referentes ao sexo masculino, como a infertilidade e a disfunção
sexual; e, por fim, a ginecologia, especializada no diagnóstico e no tratamento
de doenças do sistema genital feminino.
Sistema urinário
Em nosso metabolismo, nutrientes absorvidos na digestão e o oxigênio do
ar inalado são utilizados para fornecer a energia necessária para a manuten-
ção do corpo. Entretanto, o metabolismo produz resíduos celulares que devem
ser eliminados para manter a homeostase. Assim como o sistema circulatório
transporta os nutrientes importantes para as células, ele também remove os
resíduos celulares e os conduz para os sistemas de excreção. Apesar de os pul-
mões, o fígado e a pele também participarem da excreção, os principais órgãos
excretores são os rins.
Os órgãos que compõem o sistema urinário são os rins, os ureteres, a bexiga
urinária e a uretra. Nesse sistema, as funções excretoras são realizadas pelo par

ANATOMIA HUMANA 120

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de rins, com túbulos que se entrelaçam com capilares sanguíneos para produzir
urina, um líquido residual que contém principalmente água e íons, além de pe-
quenos compostos solúveis. A partir dos rins, a urina segue por tubos conduto-
res chamados ureteres até a bexiga urinária, permanecendo temporariamente
armazenada. Durante a micção (o ato de urinar), a musculatura da bexiga contrai
e impele a urina em direção à uretra, um tubo condutor para o exterior do corpo.
Além das funções excretoras, o sistema urinário desempenha várias ativi-
dades essenciais, que incluem:
• Regulação da concentração plasmática de vários íons, como sódio (Na+),
potássio (K+), cálcio (Ca2+), cloreto (Cl-) e fosfato (HPO42-);
• Regulação do volume sanguíneo e da pressão arterial pela conservação e
eliminação de água presente na urina;
• Colaboração para a regulação do pH sanguíneo, com base na quantidade
de íons hidrogênio (H+) e bicarbonato (HCO3 -) no sangue;
• Preservação dos nutrientes, evitando sua excreção;
• Eliminação de produtos residuais orgânicos, especialmente substâncias
tóxicas, drogas e resíduos nitrogenados, como: a amônia e a ureia, resultantes
da decomposição de aminoácidos; a bilirrubina, produzida pela decomposição
da hemoglobina; a creatinina, derivada da decomposição do fosfocreatina nas
fibras musculares; e o ácido úrico, originado da renovação dos ácidos nucleicos;
• Produção de hormônios pelos rins, como o calcitriol (a forma ativa de vita-
mina D), que regula a homeostase do cálcio, e a eritropoietina, que estimula a
produção de hemácias;
• Contribuição na atividade hepática de desintoxicação e, durante o jejum,
na gliconeogênese, a síntese de novas moléculas de glicose.
Em resumo, todas as atividades do sistema urinário são cuidadosamente
reguladas para manter a composição e a concentração de solutos no sangue
dentro de limites aceitáveis. Uma alteração de qualquer uma dessas funções
acarretará consequências imediatas e potencialmente fatais.
Sistema reprodutor
O sistema reprodutor (ou genital), diferente dos outros sistemas, não é es-
sencial para a manutenção do indivíduo, contudo, sua utilidade se faz neces-
sária para a sobrevivência da espécie. O sistema reprodutor tem como função
a perpetuação da espécie por meio da reprodução, isto é, a capacidade de in-

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divíduos gerarem novos seres da mesma espécie. Em humanos, a reprodução
é sexuada, isto é, necessita que dois indivíduos, um macho e uma fêmea, rea-
lizem o ato sexual (coito), que permite a passagem e o encontro dos gametas
masculino e feminino no interior dos órgãos genitais femininos.
Embora os órgãos genitais (ou sexuais) masculinos e femininos possuam dife-
renças entre si, eles compartilham a função reprodutora e a origem embrionária
comum. Em ambos sexos, os órgãos sexuais são divididos em órgãos primários e
acessórios. Os órgãos sexuais primários ou gônadas são os testículos e os ovários,
presentes respectivamente nos homens e nas mulheres. As gônadas produzem as
células sexuais ou gametas – o espermatozoide nos homens e o óvulo nas mulhe-
res –, que se unem (fecundação) e formam um zigoto, uma célula cujo desenvol-
vimento dará origem a uma criança em aproximadamente nove meses. Todos os
outros órgãos sexuais são acessórios, incluindo os genitais externos, as glândulas
internas e os ductos que nutrem os gametas e os transportam para fora do corpo.
Além de produzirem células sexuais, as gônadas secretam hormônios se-
xuais e, portanto, funcionam como glândulas endócrinas. Os hormônios são
moléculas mensageiras que percorrem a corrente sanguínea de modo a sina-
lizar diversas respostas fisiológicas em determinados órgãos-alvo. Os hormô-
nios sexuais desempenham papéis vitais no desenvolvimento, manutenção e
função de todos os órgãos sexuais.

EXPLICANDO
Vale ressaltar que a capacidade reprodutora é limitada a períodos de vida
específicos: inicia-se durante o fim da adolescência, em uma fase cha-
mada de puberdade; alcança seu clímax na fase adulta; e diminui com o
avançar da idade, cessando primeiro na mulher.

Órgãos do sistema urinário


Rins
O rim é um órgão com a forma de um grão de feijão e coloração averme-
lhada, que ocorre em pares localizados logo acima da pelve. Como ocupam
posição posterior ao peritônio da cavidade abdominal, diz-se que são órgãos
retroperitoneais. O rim direito está em posição um pouco inferior ao esquerdo

ANATOMIA HUMANA 122

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porque o fígado ocupa espaço consi-
derável no lado direito superiormente
ao rim. A superfície medial do rim pos-
sui uma fenda vertical denominada
hilo renal, por onde entram e saem os
vasos, nervos e ureteres. Na parte su-
perior de cada rim encontramos uma
glândula endócrina chamada glându-
la suprarrenal, sem qualquer relação
funcional com o rim.
A anatomia externa de cada rim é revestida por três camadas: a camada mais
externa é a fáscia renal, constituída por tecido conjuntivo denso irregular e man-
tém o rim ancorado ao peritônio e à parede abdominal; a camada intermediária
é a cápsula adiposa, uma massa de tecido adiposo que mantém a sustentação;
e a camada mais interna envolvida pela cápsula adiposa é a capsula fibrosa, um
tecido conjuntivo liso e transparente que se fixa à superfície do rim e o protege.
No interior dos rins, encontramos duas regiões distintas: córtex e medula. O
primeiro é a região mais superficial, de coloração clara e textura granular. Abaixo
do córtex encontra-se a medula, de coloração mais escura e com massas cônicas
denominadas pirâmides renais, que apresentam bases amplas voltadas para o
córtex e um ápice, a papila renal, direcionada para a pelve renal. A papila renal
projeta-se em uma depressão chamada cálice menor, que se une a outros cálices
menores para formar um cálice maior. Por sua vez, os cálices maiores se unem
para formar a pelve renal, em forma de funil. A pelve renal recebe a urina produ-
zida nos néfrons e transporta-a dos cálices renais para o ureter.
Cada néfron é formado pelo corpúsculo renal e pelo túbulo renal. O néfron
inicia-se na cápsula glomerular, uma câmara em forma de cálice, que constitui o
corpúsculo renal. Este contém uma rede capilar denominada glomérulo renal,
que consiste em cerca de 50 capilares entrelaçados. A filtração através das pa-
redes do glomérulo produz uma solução isenta de proteínas, conhecida como
filtrado glomerular, ou simplesmente filtrado. A partir do corpúsculo renal, o
filtrado entra em uma longa via tubular que é subdividida em regiões com dife-
rentes características estruturais e funcionais, que incluem: o túbulo contorcido
proximal, a alça do néfron (ou alça de Henle), e o túbulo contorcido distal.

ANATOMIA HUMANA 123

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O corpúsculo renal e o túbulo contorcido proximal se situam no córtex. A
parede do túbulo contorcido proximal consiste em um epitélio com milhões
de microvilos, que aumentam a área de superfície para reabsorção. Na
reabsorção, água, sais e outras moléculas úteis ao corpo são transportadas
para os capilares que circundam o néfron. O líquido é, então, conduzido do
túbulo contorcido proximal para a alça de Henle, cujo ramo descendente se
encontra na medula renal e o ramo ascendente retorna ao córtex renal. No
córtex renal, o túbulo torna-se novamente contorcido, tornando-se o túbulo
contorcido distal, o último segmento do néfron. O túbulo contorcido distal
é menor que o túbulo contorcido proximal e possui uma menor quantidade
dos microvilos.
Um túbulo coletor, continuação do túbulo contorcido distal, conduz o filtra-
do a um ducto coletor nas proximidades. Os ductos coletores deixam o córtex
renal e percorrem um trajeto descendente em direção à medula renal, condu-
zindo o líquido a um ducto papilar. Esse líquido é drenado pelos cálices renais,
onde este líquido passa a ser conhecido como urina, até a pelve renal.

Vias urinárias
Ureteres
A partir dos rins, a urina flui da pelve renal por meio dos ureteres, tubos del-
gados que transportam a urina para a bexiga urinária, por onde entram através
dos ângulos póstero-laterais de sua base. Qualquer aumento de pressão den-
tro da bexiga comprime suas paredes, fechando as aberturas para os ureteres
e evitando o refluxo de urina.
A parede de cada ureter é composta de três camadas: uma mucosa interna
capaz de secretar um muco que cobre e protege as paredes do ureter; uma tú-
nica muscular intermediária constituída por uma camada longitudinal (interna)
e uma camada circular (externa) de músculo liso; e uma túnica mais externa de
tecido conjuntivo (adventícia), que envolve e protege as camadas mais internas,
além de sustentar o ureter em posição. Ondas peristálticas movimentam a uri-
na através do ureter, sendo iniciadas pela presença de urina na pelve renal e
cuja frequência é influenciada pelo volume de urina. As ondas podem ocorrer
por alguns segundos até alguns minutos.

ANATOMIA HUMANA 124

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Bexiga urinária
A bexiga urinária é um reservatório muscular que armazena e expele uri-
na, sendo encontrada abaixo da cavidade peritoneal no assoalho pélvico. De
acordo com o sexo do indivíduo, a bexiga situa-se na posição anterior ao reto
(nos homens) ou imediatamente anterior à vagina e ao útero (nas mulheres). O
formato da bexiga varia com base no volume de urina, sendo piramidal quando
a bexiga está vazia, ou ovoide com uma saliência para a cavidade abdominal,
quando cheia. A base da bexiga urinária recebe os ureteres e a uretra sai no
ápice, sua porção inferior. Chamamos de colo da bexiga urinária a região que
circunda a abertura uretral.
A parede da bexiga urinária contém uma túnica mucosa constituída por epi-
télio de transição, uma tela submucosa e uma túnica muscular. A túnica muscu-
lar é composta de três camadas: duas camadas musculares lisas longitudinais
(interna e externa) com uma camada muscular circular disposta entre elas. Co-
letivamente, essas camadas formam o músculo detrusor da bexiga. A contra-
ção desse músculo comprime a bexiga e expele o seu conteúdo para o interior
da uretra. Uma túnica serosa reveste a superfície superior da bexiga urinária.
Uretra
A partir da bexiga, a urina é drenada para a uretra, um tubo de parede fina
que a transporta para o exterior do corpo. A uretra é composta por músculo
liso e uma mucosa interna, que possui em sua parede glândulas uretrais espe-
cializadas, secretoras de muco protetor no canal uretral. Envolvendo a uretra,
temos dois esfíncteres musculares: o esfíncter situado superiormente é o es-
fíncter interno da uretra, formado por músculo liso involuntário, enquanto o
esfíncter mais inferior é o esfíncter externo da uretra, constituído pelo múscu-
lo esquelético voluntário.
Podemos observar variações na uretra entre homens e mulheres. A uretra
feminina é um tubo retilíneo, com cerca de 4 cm de extensão, que esvazia a uri-
na através do óstio externo da uretra, localizado no vestíbulo da vagina entre o
clitóris e a abertura da vagina. A uretra feminina atua somente transportando
urina para o exterior.
Por sua vez, a uretra masculina tem cerca de 20 cm de comprimento e pos-
sui um formato curvo, devido à sua localização no pênis. É possível identificar
três regiões na uretra masculina: a parte prostática da uretra, que passa pelo

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centro da próstata; a parte membranácea, em que há um curto segmento que
penetra o diafragma urogenital, parte do soalho muscular da pelve; e a parte
esponjosa, ou parte peniana, que se estende da face inferior do diafragma uro-
genital até a extremidade do pênis, onde localiza-se o óstio externo da uretra.
Vale destacar que a uretra masculina serve ao sistema urinário, transportando
a urina na micção, e ao sistema reprodutor, transportando o sêmen na ejacula-
ção, embora não simultaneamente.

Veia renal
Artéria renal direita esquerda

Rim direito Rim esquerdo

Veia renal direita


Artéria renal
esquerda

Ureter

Bexiga

Uretra

Figura 1. Sistema urinário. Fonte: Shutterstock. Acesso em: 16/10/2020.

Órgãos genitais masculinos


Considerando sua funcionalidade, os sistemas genitais masculino e fe-
minino diferem bastante entre si. Assim, veremos os órgãos genitais que
compõem esse sistema separadamente de acordo com o sexo, começando
pelo masculino.

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Escroto
O escroto, ou bolsa escrotal, é uma bolsa constituída por pele frouxa e te-
cido subcutâneo, ligada à raiz (a parte fixa) do pênis. Em um homem adulto, a
pele do escroto é coberta com pelos esparsos, numerosas glândulas sebáceas
e possui coloração mais escura que o restante da pele do corpo. Externamente,
o escroto é dividido em partes laterais por uma linha rugosa mediana chamada
rafe do escroto, que internamente corresponde a um septo chamado septo do
escroto. Cada porção lateral do escroto contém um testículo.
Vale destacar que a localização do escroto, bem como a contração e o re-
laxamento de suas fibras musculares atuam na regulação da temperatura dos
testículos. A produção normal de espermatozoides requer uma temperatura
aproximadamente 2 ºC a 3 ºC abaixo da temperatura central do corpo, que é
mantida devido ao afastamento do escroto da cavidade pélvica. Em resposta
a baixas temperaturas, o músculo cremaster contrai, aproximando os testícu-
los do corpo para absorver o calor corporal, bem como ocorre a contração do
músculo dartos, repuxando o escroto para reduzir a perda de calor. A elevação
da temperatura inverte essas ações.
Testículos
Os testículos são duas glândulas ovais produtoras dos espermatozoides
(as células sexuais masculinas) e do hormônio testosterona. O testículo de-
senvolve-se próximo aos rins e, posteriormente, migra para alojar-se na bolsa
escrotal. Os testículos são parcialmente cobertos pela túnica vaginal, uma
membrana serosa que se forma durante a descida dos testículos. No interior
da túnica vaginal, encontramos uma cápsula fibrosa branca chamada túnica
albugínea, constituída de tecido conjuntivo que se estende internamente e
divide cada testículo em diversos compartimentos internos denominados ló-
bulos. Ao todo, existem cerca de 200 a 300 lóbulos, e cada um contém de um
a três túbulos densamente espiralados, os túbulos seminíferos, nos quais são
produzidos os espermatozoides.
As paredes dos túbulos seminíferos possuem dois tipos de células: as es-
permatogênicas, que dão origem aos espermatozoides; e as nutrientes ou célu-
las de Sertoli, que possuem funções de apoio à produção de espermatozoides
nos túbulos seminíferos dos testículos, denominada espermatogênese. Nos
espaços entre os túbulos seminíferos adjacentes há aglomerados de células

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intersticiais (de Leydig). Essas células secretam testosterona, um hormônio que
promove o desenvolvimento de características masculinas a partir da puberda-
de. A testosterona também promove a libido (desejo sexual) masculina.
Epidídimo
O epidídimo possui formato semelhante ao de uma vírgula, com cerca de 4
cm de comprimento, situado posteriormente em cada testículo. Os epidídimos
são formados principalmente pelo ducto do epidídimo, bastante espiralado. Os
dúctulos eferentes do testículo unem-se ao ducto do epidídimo na porção su-
perior, maior, do epidídimo, chamada cabeça. O corpo é a porção intermediária
estreita do epidídimo, e na extremidade distal se localiza a porção inferior, me-
nor, chamada cauda do epidídimo.
Funcionalmente, o epidídimo é o local de maturação do espermatozoide,
onde eles adquirem motilidade e a capacidade de fertilizar o óvulo. O epidídimo
também os armazena e, durante a excitação sexual, ajuda a impulsioná-los para
o ducto deferente, por meio da contração peristáltica de sua musculatura lisa. Os
espermatozoides podem permanecer armazenados no epidídimo por vários me-
ses. Todos aqueles não ejaculados acabam por ser fagocitados e reabsorvidos.
Ducto deferente
A partir da cauda do epidídimo, o ducto do epidídimo aumenta seu diâme-
tro e torna-se menos contorcido, passando a ser chamado de ducto deferente.
Ele ascende pela lateral da bolsa escrotal e atravessa o abdome, contornando a
bexiga urinária pelo lado medial do ureter. A porção terminal dilatada do ducto
deferente é conhecida como ampola. A principal função é conduzir esperma-
tozoides do epidídimo para a uretra durante a excitação sexual por meio das
contrações peristálticas de sua túnica muscular. Como o epidídimo, o ducto de-
ferente também armazena esperma-
tozoides por algum tempo e reabsorve
os espermatozoides não ejaculados.
Ductos ejaculatórios
Cada ducto ejaculatório é compos-
to pela fusão do ducto deferente com o
ducto da glândula seminal. É a porção
de menor dimensão e de calibre mais
reduzido entre as vias condutoras dos

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espermatozoides, seguindo pela próstata e se abrindo na parte prostática da
uretra, em uma saliência denominada colículo seminal. Ao alcançar a uretra,
esses ductos ejetam os espermatozoides e as secreções da glândula seminal.
Uretra
A uretra masculina é um canal com aproximadamente 20 cm de compri-
mento, que atua na micção e na ejaculação. Tem seu início a partir do óstio
interno da uretra, na bexiga, e atravessa consecutivamente a próstata, o as-
soalho da pelve e o pênis, onde termina ao alcançar o óstio externo da uretra,
na extremidade do pênis. A uretra masculina se divide em três regiões: a par-
te prostática, quando atravessa a próstata; parte membranosa, quando atra-
vessa o assoalho da pelve; e parte esponjosa, localizada no corpo cavernoso
do pênis. A parte prostática apresenta duas pequenas saliências, os colículos
seminais, por onde desembocam os ductos ejaculatórios. Na extremidade da
parte esponjosa, a partir da abertura da uretra há uma dilatação conhecida
como fossa navicular. Também na porção esponjosa encontramos as glândulas
de Littré, produtoras de muco relacionadas à lubrificação sexual.
Glândulas seminais
As duas glândulas seminais são estruturas semelhantes a bolsas contorci-
das, encontradas na parte póstero-inferior da bexiga. Sua extremidade inferior
torna-se estreita e retilínea para formar um ducto excretor, que se une ao duc-
to deferente para compor o ducto ejaculatório. As glândulas seminais secretam
um líquido viscoso e alcalino que constitui cerca de 60% do volume do sêmen e
possui em sua composição frutose, prostaglandinas e proteínas da coagulação
distintas daquelas encontradas no sangue. O pH alcalino do líquido colabo-
ra para neutralizar a acidez da uretra masculina e do trato genital feminino,
impedindo a inativação e destruição imediata dos espermatozoides. A frutose
é usada pelo espermatozoide para nutrição e produção de energia. As pros-
taglandinas contribuem para a viabilidade e motilidade dos espermatozoides,
além de induzir contrações musculares no trato genital feminino. As proteínas
da coagulação ajudam na coagulação do sêmen após a ejaculação.
Próstata
A próstata é um pequeno órgão arredondado e muscular, que circunda a par-
te prostática da uretra. O tecido glandular da próstata é composto por um aglo-
merado de 30 a 50 glândulas tubuloalveolares compostas, que são circundadas

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por fibras musculares lisas. A próstata produz uma secreção leitosa e levemente
ácida chamada líquido prostático, que contribui com cerca de 30% do volume
do sêmen e o confere seu odor característico. As secreções prostáticas também
contêm plasmina seminal, um antibiótico que auxilia na prevenção de infecções
do trato urinário masculino. Essas secreções são liberadas na parte prostática da
uretra através das contrações peristálticas da parede muscular.
Glândulas bulbouretrais
As duas glândulas bulbouretrais (glândulas de Cowper) possuem, cada uma,
aproximadamente o tamanho de uma ervilha e localizam-se inferiormente à prós-
tata em cada lado da parte membranácea da uretra, com seus ductos abrindo-se na
parte esponjosa dela. Quando ocorre a excitação sexual, as glândulas bulbouretrais
secretam uma substância alcalina que neutraliza a acidez da urina na uretra, prote-
gendo os espermatozoides durante a passagem por esse canal. Ao mesmo tempo,
secretam um muco que lubrifica o revestimento da uretra e a extremidade do pênis,
reduzindo o número de espermatozoides danificados na ejaculação. Alguns homens
liberam uma ou duas gotas desse muco durante a excitação sexual ou na ereção.
Pênis
O pênis, o órgão masculino para o intercurso sexual, atua levando os esper-
matozoides para o interior do trato reprodutor feminino. Juntos, ele e o escroto
compõem os genitais externos do homem. Conforme descrevemos as estrutu-
ras internas do pênis, observe que as superfícies dorsal e ventral do pênis são
nomeadas considerando o pênis ereto.
O pênis consiste em uma raiz proximal, fixada ao arco púbico; um corpo tu-
bular livre e alongado; e uma ponta distal alargada, a glande do pênis. A raiz do
pênis se insere no interior do arco púbico e expande para formar o bulbo e os
ramos do pênis. O corpo do pênis é constituído de três colunas cilíndricas de
tecido erétil: os corpos cavernosos, um par posicionado dorsamente,
e o corpo esponjoso, inserido ventralmente e envolvendo a uretra.
O tecido fibroso, entre os dois corpos cavernosos, com-
põe o septo do pênis. Tanto o corpo cavernoso quanto
o esponjoso são mantidos unidos através de tecido
fibroso e recobertos por pele. A pele que recobre
o pênis é frouxa e estende-se na direção distal em
volta da glande, formando o prepúcio.

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A ereção do pênis requer funcionamento em sintonia dos sistemas vascu-
lar e nervoso. O pênis permanece flácido quando o tecido erétil não estiver
irrigado de sangue. Na estimulação sexual (visual, tátil, auditiva, olfatória ou
imaginária), fibras parassimpáticas da parte sacral da medula espinal iniciam e
mantêm a ereção, expansão e enrijecimento do pênis. As fibras parassimpáti-
cas produzem, liberam e causam a produção local de óxido nítrico (NO). O NO
relaxa o músculo liso nas paredes das arteríolas que irrigam o tecido erétil, o
que permite a dilatação desses vasos sanguíneos, e, consequentemente, au-
menta a quantidade de sangue que entra no tecido erétil do pênis.
O NO também causa o relaxamento do músculo liso no tecido erétil, pro-
vocando o alargamento dos espaços vasculares. A associação de aumento do
fluxo sanguíneo e alargamento dos espaços vasculares leva à ereção. A expan-
são dos espaços vasculares também comprime as veias que drenam o pênis; a
desaceleração da saída do sangue ajuda a manter a ereção.

Órgãos genitais femininos


Os órgãos genitais femininos possuem diversas diferenças importantes dos
órgãos masculinos. Primeiro, além de produzirem gametas, os órgãos genitais fe-
mininos preparam-se para dar suporte ao embrião durante a gravidez. Além disso,
os órgãos femininos sofrem mudanças reguladas pelo ciclo menstrual, um ciclo
reprodutivo que dura aproximadamente 28 dias. Os órgãos genitais femininos
primários são os ovários produtores de óvulos. Os ductos acessórios incluem as
tubas uterinas, onde normalmente ocorre a fertilização; o útero, onde o óvulo fer-
tilizado se fixa e o embrião se desenvolve; e a vagina, que recebe o pênis durante
o intercurso sexual e atua como passagem de saída do feto durante o parto. Os
genitais femininos externos constituem o pudendo (ou vulva). As glândulas ma-
márias produtoras de leite, que fazem parte do sistema tegumentar, também são
consideradas do sistema reprodutor devido a sua função de nutrir o bebê.
Ovários
Os pares de ovários se posicionam lateralmente ao útero, na parte superior da
pelve. Sua principal função reside na produção dos gametas femininos (os ovócitos
secundários, ou óvulos), a partir do final da puberdade. Além disso, também produ-
zem os hormônios estrógeno e progesterona, que estimulam o desenvolvimento dos

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caracteres sexuais secundários, bem como atuam na implantação do óvulo fecunda-
do no útero e no início do desenvolvimento do embrião. Antes da primeira ovulação,
isto é, a liberação do óvulo pela superfície do ovário, o ovário possui aparência rosada
e lisa, porém torna-se acinzentado e rugoso devido às cicatrizes resultantes das ovu-
lações. Com a velhice, os ovários diminuem de tamanho e param de liberar gametas.
Tubas uterinas
As tubas uterinas transportam os óvulos liberados pelos ovários para o útero. Os
espermatozoides também passam pelas tubas uterinas durante o intercurso sexual,
ocorrendo a fecundação geralmente no interior da tuba. É um tubo estreito, com
uma extremidade medial ligada ao útero chamada óstio uterino da tuba e uma extre-
midade lateral chamada óstio abdominal da tuba, que se comunica com a cavidade
peritoneal. Vale destacar que o óstio abdominal permite a comunicação da cavidade
peritoneal com o meio exterior através do trato genital feminino da tuba, sendo esta
comunicação exclusiva do sexo feminino. Partindo do útero para o ovário, a tuba é di-
vidida em quatro porções: uterina (na parede do útero), istmo, ampola e infundíbulo.
A porção afunilada de cada tuba uterina, denominada infundíbulo, está pró-
xima do ovário, mas é aberta para a cavidade peritoneal, e termina nas fimbrias,
uma franja de projeções digitiformes presas à extremidade lateral do ovário. A
partir do infundíbulo, a tuba estende-se em sentido medial e inferior, se fixando
ao útero em um ângulo lateral superior. A ampola da tuba uterina é a porção mais
larga e longa, constituindo cerca de dois terços laterais de seu comprimento. O
istmo da tuba uterina é a porção de parede espessa mais medial, curta e estreita,
que se une ao útero. A porção uterina da tuba uterina está unida na parede do
útero por meio do óstio uterino da tuba uterina. Supõe-se que contrações rítmi-
cas da tuba uterina podem realizar movimentos alternados de encurtamento e
distensão, favorecendo o transporte do óvulo para o útero.

ASSISTA
O óvulo já fecundado pode ocasionalmente fixar-se na
tuba uterina e dar início ao desenvolvimento do embrião,
uma condição que exige intervenção cirúrgica conhecida
como gravidez tubária ou gravidez ectópica. Para saber
mais sobre essa situação, procedimentos e riscos, assista
ao vídeo Há como levar a gestação adiante em casos de
gravidez tubária? | Momento Papo de Mãe.

ANATOMIA HUMANA 132

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Útero
Trata-se de um órgão muscular e oco que recebe os gametas femininos
e, em caso de gravidez, aloja o embrião durante seu desenvolvimento até o
fim da gestação. As cavidades do útero e da vagina formam juntas o canal
do parto, por onde o feto passa ao ser liberado após completar sua vida
intrauterina. O útero localiza-se entre a bexiga urinária e o intestino reto, na
pelve. Possui o formato de pera invertida e é subdivido em três regiões: a
porção superior é chamada fundo do útero, que possui forma de cúpula e se
conecta com as tubas uterinas; a porção intermediária é o corpo do útero,
sendo a maior e mais larga região anatômica do útero; e a porção inferior e
mais estreita é o colo do útero, que se abre na vagina ao projetar-se poste-
rior e inferiormente.
A parede do útero é composta de três camadas: endométrio, a camada in-
terna onde ocorrem modificações no ciclo menstrual ou na gravidez; miomé-
trio, a camada média de fibras musculares lisas que forma a maior parte da pa-
rede uterina; e perimétrio, a camada externa composta por uma túnica serosa
e pela tela subserosa. As paredes do útero são espessas devido à musculatura
do miométrio, mas o órgão é relativamente estreito na ausência de gestação.
O endométrio se prepara para receber o óvulo fecundado mensalmente, au-
mentando seu volume pela formação de redes capilares, além de outras mo-
dificações. Caso não ocorra a fecundação, a camada do endométrio descama
e ocorre eliminação sanguínea por meio da vagina, um fenômeno conhecido
como menstruação.
Vagina
A vagina é um canal fibromuscular tubular com revestimento de mucosa, si-
tuando-se anteriormente ao reto e posteriormente à bexiga e à uretra. A vagina
se abre para o exterior do corpo e se estende em direção superior e posterior
para se fixar ao colo do útero, sendo essa comunicação circundada por um
recesso chamado fórnice. Serve como receptáculo do pênis durante a relação
sexual, saída do fluxo menstrual e passagem do feto no parto.
A parede altamente distensível da vagina é composta por três camadas: uma
adventícia externa de tecido conjuntivo fibroso, uma muscular, de músculo liso,
e uma mucosa interna, marcada por pregas transversais, as rugas vaginais. Essas
pregas estimulam o pênis durante o intercurso e achatam-se à medida que a

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vagina se expande durante o parto. A mucosa consiste em uma lâmina própria,
que contém fibras elásticas que ajudam a vagina a retomar sua forma normal
após se expandir, e um epitélio escamoso estratificado que consegue suportar
o atrito do intercurso e resiste à infecção bacteriana. Além disso, a mucosa da
vagina contém grandes depósitos de glicogênio, que produzem ácidos orgânicos,
elevando a acidez da vagina e retardando a proliferação microbiana, mas tam-
bém prejudicando a viabilidade dos espermatozoides. Os componentes alcalinos
do sêmen, principalmente oriundos das glândulas seminais, afetam o pH vaginal,
mantendo-o adequado para a sobrevivência dos espermatozoides.
Próximo à abertura externa da vagina (o óstio da vagina), a mucosa forma
um diafragma incompleto chamado hímen. O hímen é vascularizado e tende a
sangrar quando se rompe durante o primeiro intercurso sexual. No entanto,
sua consistência varia: em algumas mulheres, ele é delicado e pode se romper
durante a atividade esportiva, na inserção de um absorvente interno ou em
um exame pélvico; em outras mulheres, o hímen é tão rígido que precisa ser
rompido cirurgicamente.
Vulva
A vulva, ou pudendo feminino, é o conjunto externo dos órgãos genitais
femininos, que incluem: o monte do púbis, os grandes e pequenos lábios, o
clitóris e as estruturas relacionadas ao vestíbulo.
O monte do púbis é uma proeminência gordurosa que atua como prote-
ção da sínfise púbica, tendo sua pele recoberta por pelos após a puberdade.
Posteriormente ao monte do púbis, estendem-se duas dobras gordurosas de
pele, os lábios maiores, que são cobertas de pelos e homólogos à bolsa escrotal
masculina. Os lábios maiores circundam duas pregas finas e sem pelos denomi-
nadas lábios menores, que delimitam
uma região chamada vestíbulo, que
abriga a abertura externa da uretra e,
posteriormente, a abertura externa da
vagina. A cada lado da abertura da va-
gina situam-se pares de glândulas ves-
tibulares maiores, também chamadas
glândulas de Bartholin, que secretam
muco lubrificante na abertura vaginal

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durante a estimulação sexual. Na extremidade posterior do vestíbulo, os lábios
menores unem-se formando uma prega chamada fúrcula ou frênulo dos lábios.
Na porção superior da vulva e anterior ao vestíbulo se localiza o clitóris, uma
estrutura saliente constituída de tecido erétil sensível e irrigada com sangue
durante a estimulação sexual. A junção anterior dos lábios menores envolve o
clitóris com uma prega de pele, o prepúcio do clitóris. O clitóris é uma estrutura
homóloga ao pênis, possuindo glande, corpo com corpos cavernosos, mas sem
corpo esponjoso e uretra em seu interior. Os bulbos do vestíbulo localizam-se
em cada lado da abertura da vagina e profundos aos músculos bulboesponjo-
sos. Durante a estimulação sexual, o tecido erétil se enche de sangue e colabo-
ra na manutenção do pênis dentro da vagina. Os bulbos do vestíbulo e a base
do clitóris atuam comprimindo o orifício uretral, mantendo-o fechado durante
o intercurso sexual e evitando a entrada de patógenos.
Mamas
As glândulas mamárias são glândulas sudoríferas modificadas situadas
nas mamas, fazendo parte do sistema tegumentar. Entretanto, a função de-
las está relacionada ao sistema genital, pois secretam leite, essencial para a
nutrição dos recém-nascidos. O tamanho e o formato das mamas variam de
acordo com fatores individuais, como diferenças genéticas, idade, porcenta-
gem de gordura no corpo ou gravidez. Durante a puberdade, o estrógeno
produzido no ovário estimula o depósito de tecido adiposo nas mamas e o
crescimento das glândulas mamárias. As mamas hipertrofiam durante a gra-
videz e o período de lactação.
Cada mama possui uma projeção pigmentada chamada papila mamária,
com diversas aberturas próximas aos ductos lactíferos, responsáveis pela saí-
da do leite. A área pigmentada circular de pele ao redor da papila é a aréola,
que possui aparência rugosa devido à presença de glândulas sebáceas modifi-
cadas. Cada mama contém uma glândula mamária, que possui 15 a 20 lobos se-
parados por tecido adiposo. Em cada lobo há vários compartimentos menores,
chamados lóbulos, formados de aglomerações de glândulas secretoras de leite
denominadas alvéolos. Eles, por sua vez, são circundados por células mioepite-
liais cuja contração ajuda a impulsionar o leite produzido dos alvéolos para di-
versos túbulos secundários e, em seguida, para os ductos mamários. Os ductos
mamários expandem-se próximo da papila e formam os seios lactíferos, que

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armazenam leite antes de sua drenagem para o ducto lactífero. Em geral, cada
ducto lactífero transporta leite de um dos lobos para o meio externo.
A função da glândula mamária reside na lactação, que compreende a pro-
dução e liberação do leite, estando associada à gravidez e ao parto. A produção
de leite é estimulada principalmente pelo hormônio prolactina da adeno-hipó-
fise, com contribuição da progesterona e dos estrogênios. A ejeção de leite é
estimulada pela ocitocina, liberada pela neuro-hipófise em resposta à sucção
da papila mamária pelo lactente.

Sistema endócrino
A regulação da homeostase do corpo humano consiste na coordenação das
atividades dos órgãos e sistemas, com os sistemas nervoso e endócrino traba-
lhando em conjunto para monitorar, ajustar e integrar as atividades fisiológicas
do corpo. O sistema nervoso produz respostas a curto prazo (geralmente milis-
segundos) e bastante específicas aos estímulos ambientais. Ao contrário, o sis-
tema endócrino altera as atividades metabólicas de diferentes órgãos e tecidos
simultaneamente, podendo ter um efeito que dure minutos, semanas ou meses.
Este padrão de resposta do sistema endócrino é particularmente eficiente
no controle de processos contínuos, lentos e com efeitos generalizados. Alguns
processos importantes regulados pelo sistema endócrino são o crescimento
do corpo, o desenvolvimento e o funcionamento dos órgãos genitais, a manu-
tenção da composição química sanguínea e o controle da taxa metabólica. O
ramo médico que estuda a estrutura e a função das glândulas endócrinas, além
do diagnóstico e o tratamento de seus distúrbios, é a endocrinologia.
Vale ressaltar que, com base na estrutura e na função, as numerosas glândulas
do corpo podem ser classificadas em exócrinas ou endócrinas. Glândulas exócri-
nas, como as glândulas sudoríferas, salivares e mucosas, sintetizam secreções que
são transportadas por ductos. As glândulas endócrinas constituem o sistema en-
dócrino. Ao contrário das glândulas exócrinas, as endócrinas não possuem ductos,
secretando substâncias químicas específicas chamadas hormônios diretamente
no sangue, na linfa ou no líquido intersticial circundante. Os tipos básicos de hor-
mônios são esteroides (derivados do colesterol), proteínas e aminas (derivados de
aminoácidos). Estes hormônios são transportados para células-alvo, locais especí-

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ficos onde executam determinadas funções. Assim, os hormônios são específicos
quanto às células sobre as quais eles atuam e as mudanças celulares que promo-
vem, dependendo da presença de receptores na célula.
A relação entre a quantidade de secreção de um hormônio e a proporção
de uso pelas células-alvo é intimamente equilibrada, em que os níveis de hor-
mônios são mantidos estáveis por impulsos neurais autônomos ou pelo siste-
ma de retroalimentação negativa. Esse sistema (feedback negativo) consiste
em um mecanismo homeostático que regula uma glândula pelo seu próprio
hormônio, e o aumento do hormônio inibe sua atividade. Uma glândula en-
dócrina continua secretando hormônios até que as células-alvo informem já
haver quantidades suficientes dos mesmos, que faz essa glândula inibir a se-
creção. A glândula endócrina somente retornará a secretar quando os níveis
sanguíneos de inibição química diminuírem novamente.

Classificação topográfica das glândulas endócrinas


Ao contrário dos órgãos da maioria dos sistemas, que são contínuos anatomi-
camente, os órgãos endócrinos estão dispersos ao longo do corpo humano. Assim,
podemos classificar as glândulas endócrinas a partir de sua posição topográfica:
• Cefálicas: glândula pineal, hipófise (glândula pituitária) e hipotálamo;
• Cervicais: glândulas tireoide e paratireoide;
• Torácica: timo;
• Abdominais: glândulas suprarrenais e pâncreas;
• Pélvicas: ovários;
• Escrotais: testículos.
Hipófise
A hipófise é uma pequena glândula oval, localizada inferiormen-
te ao hipotálamo em uma depressão do osso esfenoide chamada
sela turca. A hipófise já foi chamada de glândula mestra
porque secreta hormônios que regulam algumas ou-
tras glândulas endócrinas. A hipófise, contudo, não
é realmente uma glândula mestra, uma vez que as
secreções de seus hormônios, por sua vez, são con-
troladas por hormônios secretados pelo hipotálamo.

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Podemos classificar a hipófise com duas divisões: um lobo anterior, a adeno-
-hipófise (hipófise glandular), formado de tecido glandular, e um lobo posterior,
a neuro-hipófise (hipófise neural), formado por tecido neural. Nove hormônios
peptídeos importantes são liberados pela hipófise; dois pela parte nervosa da
neuro-hipófise, e sete pelas partes distal e intermédia da adeno-hipófise.

QUADRO 1. HORMÔNIOS DA HIPÓFISE

Glândula Tecidos/órgãos Ação principal


Hormônio
endócrina alvo do hormônio

Promove crescimento de
Hormônio do cresci-
Ossos e tecidos todos os tecidos; síntese
mento (GH) (somato-
moles proteica; mobilização de lipí-
propina)
deos e catabolismo

Glândulas
Prolactina (PRL) Estimula a produção de leite
mamárias

Tireoestimulante Estimula a produção de T3


Glândula tireoide
(TSH e Tireotropina) e T4

Estimula o desenvolvimento
Adrenocorticotrópico Córtex da dos óvulos/espermatozoides
(ACTH) suprarrenal e secreta estrógeno nas
Adeno-hipófise
mulheres

Provoca a ovulação; estimu-


Gonadotrofinas:
Ovários e la secreção de progesterona
– Folículo-estimulante
testículos na mulher e testosterona
(FSH)
nos homens

Provoca a ovulação; esti-


Gonadotrofinas: Ovários e mula secreção de progeste-
– Luteinizante (LH) testículos rona na mulher e testoste-
rona nos homens

Hormônio estimulante Síntese de melanina aumen-


Melanócitos
do melanócito (MSH) tada na epiderme

Estimula reabsorção da água


Antidiurético (ADH ou Rins e vasos
pelos rins e determina a cons-
vasopressina) sanguíneos
trição dos vasos sanguíneos
Neuro-hipófise Contração da musculatura
uterina no parto e liberação
Ocitocina (OT) Útero e mamas
ou ejeção do leite das glân-
dulas mamárias
Fonte: MARIEB; HOEHN, 2009, p. 550. (Adaptado).

Hipotálamo
A secreção de hormônios pela adeno-hipófise é controlada pelo hipotálamo,
que secreta tanto hormônios de liberação, estimulando as células da adeno-hi-

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pófise a liberar seus hormônios, quanto hormônios de inibição, desligando a
secreção dos hormônios pela adeno-hipófise quando necessário. Há diferentes
hormônios liberadores e inibidores do hipotálamo para quase todos os hormô-
nios da adeno-hipófise, com todos seguindo através do sistema porta hipotála-
mo-hipofisário para controlar as secreções de hormônios da adeno-hipófise.
Glândula pineal
A glândula pineal que faz parte do epitálamo e, se localiza na linha mediana
do encéfalo. Essa pequena glândula endócrina produz o hormônio melatonina,
que atua para o ajuste do biorritmo (o relógio biológico do corpo), controlado
pelo hipotálamo. Os níveis de melatonina presentes na corrente sanguínea se
elevam até dez vezes durante o sono para, em seguida, diminuirem novamen-
te antes de acordar. A administração oral de pequenas doses de melatonina
induz ao sono e reajusta os ritmos diários ou circadianos, podendo beneficiar
trabalhadores que alternam os turnos de dia e noite. A melatonina também é
um antioxidante potente que pode fornecer proteção relativa contra radicais
livres do oxigênio prejudiciais.
Glândulas tireoide e paratireoides
A tireoide localiza-se no plano mediano do pescoço, envolvendo parte da
traqueia e da laringe. A glândula tireoide apresenta um formato similar de
uma borboleta e consiste em dois lobos principais. As porções superiores
de cada lobo estendem-se sobre a face lateral da traqueia rumo à margem
inferior da cartilagem tireóidea, enquanto as porções inferiores dos lobos
estendem-se até a segunda ou terceira cartilagem traqueal. Os dois lobos
estão conectados por um trecho delgado, o istmo, cuja principal função é a
regulação do metabolismo basal de diversas regiões do corpo, além de estar
relacionada ao processo de crescimento. A glândula tireoide secreta princi-
palmente os hormônios tiroxina (T4) e triiodotironina (T3), e, secundariamen-
te, calcitonina (tireocalcitonina).

CURIOSIDADE
A ingestão continuada de iodo é essencial para a função normal da ti-
reoide. A substância absorvida é transportada pelo sangue até a glândula
tireoide e a bomba de iodo, um mecanismo de transporte ativo, conduz o
iodo para o interior das células da tireoide. O iodo, então, se combina com
aminoácidos para sintetizar os hormônios tireoidianos.

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As pequenas e achatadas glândulas paratireoides estão incluídas na face
posterior dos lobos laterais da tireoide. Normalmente, há quatro glândulas
paratireoides: duas superiores e duas inferiores. Cada uma delas consiste em
uma estrutura pequena, amarela tendendo para o marrom, e possui função de
grande relevância, pois regulam o metabolismo do cálcio.

QUADRO 2. HORMÔNIOS DA TIREOIDE E PARATIREOIDES

Glândula Tecidos/órgãos- Ação principal


Hormônio
endócrina -alvo do hormônio

Estimulam o padrão meta-


Triiodotironina (T3) e
Todos os tecidos bólico e regulam o cresci-
tireoxina (T4)
mento e o desenvolvimento
Glândula Tireoide

Favorece a formação de osso


Calcitocina Ossos e rins
e diminui os níveis de cálcio

Determina a reabsorção
óssea; aumenta os níveis de
Glândulas Ossos, rins e intes- cálcio; estimula a absorção
Paratireóideo (PTH)
Paratireoides tinos de cálcio pelos rins e intes-
tinos; e estimula a excreção
de fosfato pelos rins

Fonte: MARTINI; TIMMONS; TALLITSCH, 2009, p. 515.

Timo
O timo é um órgão linfoide e bilateralmente simétrico, que se desen-
volve bem até a adolescência, porém, na vida adulta, é reduzida a uma
massa de tecido conjuntivo infiltrada por tecido adiposo. Os hormônios
produzidos pelo timo são a timosina, o fator tumoral do timo (THF), o fator
tímico (TF) e a timopoetina, que estimulam a proliferação e o amadureci-
mento das células T, células de imunidade que destroem microrganismos
estranhos e toxinas.
Glândulas suprarrenais
As glândulas suprarrenais, ou adrenais, são pares de glândulas bilaterais
que se situam sobre o polo superior dos rins. Elas se dividem em medula,
uma porção central equivalente a 90% da massa glandular, e córtex, uma

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porção periférica que corresponde aos 10% restantes. Funcionalmente, o
córtex secreta hormônios derivados do colesterol chamados corticoste-
roides ou corticoides. Os corticoides da suprarrenal são classifi cados em
três categorias: mineralocorticoides, glicocorticoides e gonadocorticoides.
A medula das glândulas suprarrenais secreta dois hormônios intimamente
relacionados: norefinefrina e epinefrina. Assemelha-se, funcionalmente, à
parte simpática da divisão autônoma do sistema nervoso.

QUADRO 3. HORMÔNIOS DAS GLÂNDULAS SUPRARRENAIS

Glândula Tecidos/órgãos Ação principal


Hormônio
endócrina alvo do hormônio

Diversos tecidos,
Glândula Adrenalina (epinefri- Estimula na elevação dos
especialmente
suprarrenal na) e noradrenalina níveis de glicose e participa
coração e vasos
Medula (norefinefrina) da resposta ao estresse
sanguíneos

Auxiliam na regulação do
metabolismo de proteínas,
Glicocorticoides carboidratos e gorduras;
Todos os tecidos
(cortisol) elevam os níveis de glicose
no sangue; e participam na
resposta ao estresse

Glândula Estimulam os rins a reab-


suprarrenal sorver sódio e excretar
Mineralocorticoides
Córtex Rins potássio; auxiliam a regular
(aldolterona)
o equilíbrio hídrico e ele-
trolítico

Estimula o desenvolvimento
Órgãos sexuais,
das características sexuais
Hormônios sexuais ossos, músculos
secundárias em homens e
e pele
mulheres

Fonte: MARTINI; TIMMONS; TALLITSCH, 2009, p. 518.

Pâncreas
O pâncreas executa as funções de uma glândula endócrina e uma glându-
la exócrina simultaneamente. A porção endócrina do pâncreas consiste em
agrupamentos de células dispersas chamadas ilhotas pancreáticas ou ilhotas
de Langerhans. Estas estruturas endócrinas são mais comuns no corpo e na
cauda do pâncreas e consistem, principalmente, em dois tipos de células se-
cretoras chamadas células Alfa, que secretam glucagon, e células beta, que
secretam insulina.

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QUADRO 4. HORMÔNIOS DO PÂNCREAS

Glândula Tecidos/órgãos- Ação principal


Hormônio
endócrina -alvo do hormônio

Pâncreas
(ilhotas Fígado, músculos e Eleva níveis de glicose no
Glucagon
pancreáticas) tecido adiposo sangue
- Células Alfa

Pâncreas Regula o metabolismo de


(ilhotas Fígado, músculos e carboidratos, gorduras e
Insulina
pancreáticas) tecido adiposo proteínas e diminui os níveis
- Células Beta de glicose no sangue

Fonte: MARTINI; TIMMONS; TALLITSCH, 2009, p. 521.

Gônadas
As gônadas são os principais órgãos sexuais masculino e feminino, e pelo
fato de produzirem hormônios sexuais e células sexuais (gametas), são glân-
dulas mistas. As gônadas masculinas são denominadas testículos e as gônadas
femininas são chamadas de ovários.
Nos testículos, as células endócrinas liberam androgênios (principalmente
testosterona); nos ovários, os androgênios são secretados e convertidos em
estrogênios pelas células foliculares ovarianas, que também produzem proges-
terona. Após a ovulação, os estrogênios e a progesterona continuam sendo
liberados pelos folículos ovarianos remanescentes, o corpo lúteo.

QUADRO 5. HORMÔNIOS DO SISTEMA GENITAL

Glândula Tecidos/órgãos- Ação principal


Hormônio
endócrina -alvo do hormônio

Órgãos sexuais, Estimulam o desenvolvimen-


Gônadas Estrógenos e
pele, ossos e to dos óvulos e das caracte-
- Ovários progesterona
músculos rísticas sexuais femininas

Estimulam o desenvolvimen-
Gônadas Andrógenos Órgãos sexuais, to dos espermatozoides e
- Testículos (testosterona) pele e músculos das características sexuais
masculinas
Fonte: MARTINI; TIMMONS; TALLITSCH, 2009, p. 521.

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Outras estruturas endócrinas
Podemos encontrar células endócrinas em vários órgãos e tecidos do corpo,
os quais também produzem hormônios importantes (Quadro 6).

QUADRO 6. HORMÔNIOS PRODUZIDOS POR OUTROS


ÓRGÃOS E TECIDOS COM CÉLULAS ENDÓCRINAS

Hormônio Ações principais

Promove a secreção de suco gástrico e aumenta os


Gastrina
movimentos do estômago

Peptídio insulinotró-
Estimula a liberação de insulina pelas células beta
pico dependente de
pancreáticas
Trato glicose (GIP)
gastrintestinal
Secretina Estimula a secreção de suco pancreático e bile

Estimula a secreção de suco pancreático, regula a


Colecistoquinina (CCK) liberação de bile pela vesícula biliar e produz um
sentimento de saciedade após a refeição

Estimula o corpo lúteo no ovário a continuar a pro-


Gonadotrofina coriôni-
dução de estrogênios e progesterona para manter
ca humana (hCG)
a gravidez

Placenta Estrogênios e Mantém a gravidez e ajuda a preparar as glândulas


progesterona mamárias para secretar leite

Somatomamotropina Estimula o desenvolvimento das glândulas mamá-


coriônica humana (hCS) rias para lactação

Parte de uma sequência de reações que aumentam


Renina a pressão arterial, produzindo vasoconstrição e se-
creção de aldosterona

Rins Aumenta a taxa de formação de eritrócitos (células


Eritropoetina (EPO)
sanguíneas vermelhas)

Calcitrol (forma ativa Auxilia na absorção de cálcio e de fósforo na ali-


da vitamina D) mentação

Peptídio natriurético
Coração Diminui a pressão arterial
atrial (ANP)

Tecido Suprime o apetite e pode aumentar a atividade dos


Leptina
adiposo hormônios FSH (foliculoestimulante) e LH (luteinizante)

Fonte: TORTORA; NIELSEN, 2013, p. 827.

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Sistema tegumentar
O sistema tegumentar é, provavelmente, o sistema do corpo humano que
mais dedicamos atenção cotidianamente, seja em nosso corpo ou em outras
pessoas. Independentemente do vestuário, a primeira impressão que deixa-
mos é baseada geralmente na parte com mais visibilidade do corpo, a pele e
seus anexos. Podemos perceber esse impacto em nossos hábitos, como ver
nossa imagem em um espelho, por exemplo. A pele também revela outras ca-
racterísticas, como quando sentimos frio (a pele e os pelos ficam arrepiados),
calor ou nervosismo (a pele transpira e apresenta rubor na região da face). A
autoimagem de uma pessoa e seu comportamento social podem, consequen-
temente, estar intimamente associados com a aparência física, de tal maneira
que gastamos tempo, dinheiro e esforços consideráveis em nossos rituais de
embelezamento diários.
O sistema tegumentar é composto pela pele, também chamada de tegumen-
to, e suas estruturas associadas (pelos, unhas e glândulas tegumentares), além
de milhões de receptores sensitivos da pele e sua extensa rede vascular. A pele
é classificada como um órgão, consistindo em vários tipos de tecidos que são es-
truturalmente organizados para funcionar em conjunto. Portanto, o tegumento
é o maior órgão do corpo humano, ocupando cerca de 7% do peso do corpo de
uma pessoa e revestindo mais de 7600 cm2 em um adulto. Possui espessura va-
riável, sendo mais densa em regiões mais expostas ao uso e ao desgaste, como
as palmas da mão e as plantas dos pés. Dermatologia é a especialidade médica
que atua com o diagnóstico e o tratamento dos distúrbios da pele.

Funções do sistema tegumentar


A pele possui mais do que somente uma função cosmética. Vejamos diver-
sas outras funções:
• Proteção: a pele reveste e isola os órgãos internos e protege o corpo
de lesões, substâncias químicas e microrganismos invasores. A epiderme é
impermeável, evitando perdas hídricas desnecessárias, e suas células sin-
tetizam melanina, um pigmento que protege contra os efeitos nocivos da
radiação ultravioleta (UV);

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• Regulação da temperatura corporal: os capilares sanguíneos na pele e as
glândulas sudoríferas controlam a perda de calor pelo corpo, colaborando na
regulação da temperatura corporal;
• Excreção: o tegumento atua como sistema excretor ao eliminar ureia, sais
e água pelo suor;
• Produção de vitamina D: a radiação UV usa as células epidérmicas para
sintetizar vitamina D, uma molécula essencial para absorção de cálcio a partir
do trato gastrointestinal;
• Recepção sensorial: o tegumento possui receptores sensoriais, associa-
dos às terminações nervosas que informam as condições externas e superfi-
ciais do corpo a partir de sensações como toque, pressão, temperatura e dor.

Pele
A pele possui uma espessura que varia entre 1,5 mm para mais de 4 mm
em diferentes regiões do corpo, sendo subdividida em duas camadas: i) a epi-
derme, camada superficial de tecido epitelial espesso; e ii) a derme, camada
profunda de tecido conjuntivo fibroso. Abaixo da pele, ocorre uma camada ad-
jacente denominada hipoderme, constituída de tecido adiposo e tecido conjun-
tivo frouxo. A hipoderme não pertence ao sistema tegumentar, embora com-
partilhe funções com o tegumento.
Epiderme
A epiderme é um epitélio estratificado pavimentoso e possui quatro tipos
diferentes de células: queratinócitos, melanócitos, células epiteliais táteis e cé-
lulas dendríticas. Os queratinócitos são células especializadas que sintetizam
queratina, uma proteína que fortalece e impermeabiliza a pele. Como os quera-
tinócitos estão afastados do fornecimento de oxigênio e nutrientes vasculares
da derme, seus núcleos degeneram e os conteúdos celulares são dominados
por queratina, completando o processo de queratinização. Os melanócitos são
células epiteliais que produzem melanina, um pigmento que atua como uma
barreira protetora contra a radiação UV da luz solar e estão relacionadas às
variações da cor da pele na espécie humana. As células epiteliais táteis ajudam
na recepção da sensibilidade do tato e são escassas se comparadas com os
queratinócitos e os melanócitos. Por fim, as células dendríticas são células ma-

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crofágicas que protegem o corpo contra bactérias e outros resíduos estranhos,
estando dispersos por toda a membrana basal.
As células epiteliais mais abundantes são os queratinócitos, que formam
muitas camadas diferentes. Os limites precisos entre elas são geralmente de
difícil visualização. Nas regiões do corpo com pele espessa, podem ser di-
ferenciadas cinco camadas, enquanto na pele delgada observamos apenas
quatro camadas.

QUADRO 7. ESTRATOS DA EPIDERME

Estrato Descrição

Consiste em muitas camadas de células mortas queratinizadas que são


Córneo
achatadas e sem núcleo; cornificadas

Uma camada fina e clara apenas encontrada na epiderme dos lábios,


Lúcido
palmas da mão e plantas do pé

Composta de uma ou mais camadas de células granulosas que contêm


Granular
fibras de queratina e núcleos atrofiados

Composta de várias camadas de células com núcleo grande, oval, localizado


Espinhoso
centralmente e prolongamentos semelhantes a espinhos; mitose limitada

Consiste em uma única camada de células cúbicas em contato com a mem-


Basal
brana basal que sofre mitose; contém melanócitos produtores de pigmento
Fonte: VAN DE GRAAF, 2003.

Derme
A derme é a camada mais profunda e mais espessa do tegumento. No
interior da derme, as fibras colágenas e elásticas estão organizadas em
padrões bem definidos, que produzem as linhas de tensão da pele e pro-
movem o seu tônus. As fibras elásticas na derme estão mais presentes em
jovens e o decréscimo de fibras elásticas está associado ao envelhecimento.
As células encontradas na derme são típicas dos tecidos conjuntivos pro-
priamente dito: fibroblastos, macrófagos, mastócitos e leucócitos dispersos.
A vasta rede de vasos sanguíneos na derme supre a nutrição das células
vivas da epiderme.
A derme é formada por duas camadas distintas: a camada superior, em in-
terface com a epiderme, é chamada de camada papilar. Nela, encontramos as
papilas, numerosas projeções que se estendem da porção superior da derme
rumo à epiderme, formando as bases para as impressões digitais presentes

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nos dedos da mão e do pé. Abaixo da camada papilar, encontramos a espessa
camada reticular, com fibras mais densas e disposição regular formando uma
rede flexível e resistente.
Hipoderme
A hipoderme, ou tela subcutânea, não é realmente parte do sistema tegu-
mentar, mas prende a derme aos órgãos subjacentes (principalmente múscu-
los). A hipoderme é composta de tecido conjuntivo frouxo e células adiposas
enoveladas com canais sanguíneos. Fibras colágenas e elásticas reforçam a hi-
poderme, em especial na região palmar das mãos e na região plantar dos pés.
O tecido adiposo na hipoderme varia em quantidade de acordo com a região
do corpo, o sexo, a idade e o condição nutricional do indivíduo. Entre suas fun-
ções, a hipoderme atua armazenando lipídios, amortecendo choques físicos e
regulando a temperatura corporal.

Anexos do sistema tegumentar


As estruturas acessórias do tegumento comum incluem pelos, unhas e glân-
dulas cutâneas (sebáceas e sudoríferas). Durante o desenvolvimento embrio-
lógico, essas estruturas se formam por invaginações ou pregas da epiderme.
Suas funções estão relacionadas com a proteção do corpo (unhas e pelos) e a
regulação da temperatura corpórea (pelos e glândulas cutâneas).
Pelo
Uma característica marcante dos mamíferos, os pelos são estruturas quera-
tinizadas que cobrem consideravelmente a pele, estando ausentes em poucas
regiões do corpo. Os primeiros pelos que se desenvolvem no corpo formam a
lanugem, que se desprende pouco antes do parto e é substituído por pelos fi-
nos. Já os pelos longos são encontrados na cabeça (couro cabeludo), nas axilas,
na região genital e na face, em especial no sexo masculino. Como ocorre com a
pele, a cor dos pelos está relacionada à presença e à quantidade de pigmento
em seu interior.
O pelo diferencia-se em duas regiões: a haste, acima da pele, e a raiz, alo-
jada no folículo piloso, um tubo epidérmico localizado na derme ou mesmo na
hipoderme. O folículo piloso possui aberturas dos ductos das glândulas sebá-
ceas e uma dilatação na sua base chamada bulbo piloso. É possível encontrar

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na derme um feixe de fibras musculares lisas chamado de músculo eretor do
pelo, cuja contração ocasiona a ereção do pelo. A haste é formada por três ca-
madas, sendo uma delas uma cutícula externa; um córtex, com queratina dura;
e uma medula, com queratina mole. A melanina presente nos pelos é respon-
sável pela sua coloração e situa-se no córtex e na medula. Os cabelos brancos
não possuem melanina em seu córtex, sendo substituída por ar.
Unhas
A unha é a modificação da epiderme em forma de placas curvas, composta
de células queratinizadas mortas. Possuem aspecto rosáceo devido à nume-
rosa rede de capilares na derme subjacente. Cada unha é dividida em três re-
giões: uma margem livre distal; uma parte visível chamada corpo da unha ou
placa ungueal; e uma parte proximal inserida na pele chamada raiz da unha.
A unha permanece assentada em um trecho de epiderme chamado leito un-
gueal, que substitui as camadas superficiais queratinizadas da epiderme. Esse
leito espessa-se na raiz e compõe a matriz ungueal, onde ocorre o crescimento
ativo da unha. As margens lateral e proximal do corpo da unha são sobrepos-
tas por dobras de pele denominadas pregas ungueais. A cutícula, ou eponíquio,
é como denominamos a prega ungueal proximal da unha.
Glândulas sebáceas
As glândulas sebáceas são as glândulas da pele que ocorrem no corpo
inteiro, com exceção da região palmar e plantar. Entre suas principais carac-
terísticas, as glândulas sebáceas são classificadas como glândulas alveolares
simples, com vários alvéolos se abrindo para um único ducto, e glândulas ho-
lócrinas, cuja secreção é formada a partir do rompimento da célula secretora.
As glândulas sebáceas produzem uma secreção oleosa chamada de sebo,
constituída de lipídios, como ácidos graxos e colesterol, e porções da célula
secretora. Geralmente associadas aos folículos pilosos, essas glân-
dulas secretam o sebo na porção superior do folículo, que flui para
superfície da pele. O sebo possui ação lubrificante, evi-
tando o ressecamento da pele e dos pelos, além de
diminuir a perda hídrica pelo tegumento e exter-
minar bactérias. A secreção do sebo é estimula-
da por hormônios, especialmente os sexuais. As
glândulas sebáceas permanecem pouco ativas ao

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longo da infância, porém são ativadas durante a puberdade. A hiperatividade
das mesmas pode resultar no aparecimento de acnes, especialmente durante
a adolescência.
Glândulas sudoríparas
As glândulas sudoríparas (ou sudoríferas), popularmente chamadas de
glândulas do suor, realizam o processo de transpiração, isto é, excretam o suor
sobre a superfície do tegumento. O suor é composto de água, sais, ureia e ácido
úrico, atuando no resfriamento corporal por meio da evaporação e na elimina-
ção de certos resíduos. Com maior necessidade de regulação da temperatura
corporal através da transpiração, a quantidade de pelos foi reduzindo nas po-
pulações humanas. A secreção das glândulas sudoríparas aumenta em respos-
ta ao estresse e ao calor.
As glândulas sudoríferas estão distribuídas ao longo de toda superfície da
pele, com exceção dos mamilos e em partes dos genitais externos. Vale relem-
brar que as glândulas mamárias são glândulas sudoríferas especializadas loca-
lizadas no interior das mamas que secretam leite durante a lactação. Podemos
classificá-las como écrinas ou apócrinas:
• Glândulas sudoríferas écrinas: são formadas antes do nascimento e estão
distribuídas pela superfície do corpo, em especial na fronte, no dorso, na região
palmar e plantar. Atuam no resfriamento corpóreo;
• Glândulas sudoríferas apócrinas: da mesma maneira como as glândulas
écrinas, as glândulas apócrinas se tornam funcionais a partir da puberdade e
são situadas nas regiões axilar e púbica. Liberam suas secreções nos folículos
pilosos, inclusive secreções odoríferas que atuam como atração sexual.

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Sintetizando
O sistema urinário tem como função limpar o sangue, retirando os resí-
duos nitrogenados, o excesso de íons e água, além de outras substâncias des-
necessárias ou indesejáveis, formando assim a urina. Os órgãos de transpor-
te e armazenamento da urina são os ureteres, a bexiga e a uretra.
Ao ser conduzida para o exterior dos rins através dos tubos coletores, a
urina é canalizada pelos ureteres para a bexiga urinária e é eliminada do cor-
po pela uretra. A bexiga é capaz de se distender, armazenando assim a urina
por um tempo limitado, e os músculos da bexiga urinária e uretra controlam
o ato de urinar, chamado micção.
O sistema reprodutor compreende os órgãos genitais do homem e da mu-
lher, que diferem entre si e estão adaptados para produzir e permitir a união
das células sexuais. Os órgãos reprodutores femininos compreendem as se-
guintes estruturas: ovários, tubas uterinas, útero e vagina.
Os órgãos reprodutores masculinos são: os testículos, as vias espermáticas, as
glândulas anexas (próstata, vesículas seminais, e glândulas bulbouretrais) e o pênis.
O sistema endócrino é formado pelas glândulas endócrinas, que difundem
secreções chamadas hormônios através dos capilares para todas as partes do
corpo, onde encontram células-alvo específicas. A glândula hipófise pode ser
dividida de forma estrutural e funcional em neuro-hipófise (libera hormônios
que são produzidos no hipotálamo) e adeno-hipófise (secreta seus próprios
hormônios em resposta à regulação dos hormônios hipotalâmicos). A glân-
dula tireoide secreta tiroxina e triiodotironina, que funcionam na regulação
do metabolismo energético. Estes hormônios são especialmente importantes
para o próprio crescimento e desenvolvimento.
O pâncreas e as gônadas são considerados glândulas mistas, uma vez pos-
suem funções endócrina e exócrina. As ilhotas pancreáticas secretam dois hor-
mônios, insulina e glucagon, que estão especialmente envolvidos na regulação
dos níveis de glicose em sangue. As gônadas produzem hormônios sexuais, que
controlam o desenvolvimento e as funções do sistema reprodutor.
A pele e seus órgãos anexos (pelos, unhas e glândulas) compõem o sis-
tema tegumentar, que atua como uma interface entre os meios externo e
interno do corpo, em que colabora mantendo a homeostasia. O tegumento

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é composto em duas camadas: epiderme, externa e estratificada em cinco
extratos estruturais que geram proteção contra agentes patogênicos e lesões
externas; e a derme, espessa e mais profunda, formada por duas camadas
de tecido conjuntivo que garantem a elasticidade e resistência. A hipoderme
atua prendendo a pele aos órgãos subjacentes, além de funcionar como iso-
lante contra a perda de calor.

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