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FISIOTERAPIA EM FISIOTERAPIA EM

Fisioterapia em Traumatologia e Ortopedia


TRAUMATOLOGIA E TRAUMATOLOGIA E
ORTOPEDIA ORTOPEDIA
Gabriela Souza de Vasconcelos Gabriela Souza de Vasconcelos

A Fisioterapia Traumato-ortopédica é uma das especialidades da Fisioterapia que visa


a plena reabilitação física de disfunções musculoesqueléticas, como lesões em osso,
músculos, ligamentos, tendões, meniscos, cápsulas, bursas, entre outras estruturas.
Além dos conhecimentos sobre os órgãos e sistemas corporais e sobre os mecanismos
das diferentes lesões que podem acometer o sistema musculoesquelético, o fisiote-
rapeuta deve ter domínio da avaliação e do diagnóstico cinético-funcional, consultas,
reavaliações, análise e solicitação de exames complementares, alta dos atendimen-
tos, entre outros.
A partir deste material, você vai compreender a atuação do fisioterapeuta na área de
Fisioterapia em Traumatologia e Ortopedia, entender a estrutura da avaliação e do
diagnóstico cinesiológico funcional, conhecer os recursos fisioterapêuticos disponí-
veis, bem como a fisiopatologia e os mecanismos das principais lesões traumatológi-
cas e ortopédicas.

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gente criando o futuro

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Indicação de filmes, vídeos ou similares que trazem informações comple-
mentares ou aprofundadas sobre o conteúdo estudado.

CITANDO
Dados essenciais e pertinentes sobre a vida de uma determinada pessoa
relevante para o estudo do conteúdo abordado.

CONTEXTUALIZANDO
Dados que retratam onde e quando aconteceu determinado fato;
demonstra-se a situação histórica do assunto.

CURIOSIDADE
Informação que revela algo desconhecido e interessante sobre o assunto
tratado.

DICA
Um detalhe específico da informação, um breve conselho, um alerta, uma
informação privilegiada sobre o conteúdo trabalhado.

EXEMPLIFICANDO
Informação que retrata de forma objetiva determinado assunto.

EXPLICANDO
Explicação, elucidação sobre uma palavra ou expressão específica da
área de conhecimento trabalhada.

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Sumário

Unidade 1 - Fisioterapia Traumato-ortopédica


Objetivos da unidade............................................................................................................ 12

Introdução à Fisioterapia Traumato-ortopédica............................................................. 13


Semiogênese e semiotécnica........................................................................................ 15
Avaliação e diagnóstico cinesiológico funcional....................................................... 19

Assistência em Fisioterapia Traumato-ortopédica........................................................ 21


Objetivos fisioterapêuticos............................................................................................. 22
Recursos e condutas fisioterapêuticas........................................................................ 24
Prognóstico e alta da fisioterapia.................................................................................. 24

Doenças reumáticas: epidemiologia e classificação.................................................... 26


Etiopatogenia das doenças reumáticas....................................................................... 27
Aspectos psicossociais das doenças reumáticas..................................................... 29

Sintetizando............................................................................................................................ 31
Referências bibliográficas.................................................................................................. 33

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Sumário

Unidade 2 - Fraturas: conceitos básicos e tratamento


Objetivos da unidade............................................................................................................ 36

Fraturas: conceitos básicos................................................................................................ 43


Processo de consolidação das fraturas....................................................................... 44
Complicações e distúrbios de consolidação associados às fraturas..................... 44
Deslocamentos articulares associados às fraturas................................................... 45

Fraturas: assistência clínica cirúrgica............................................................................. 46


Osteossíntese, fixadores internos e fixadores externos........................................... 48
Artrodese e artroplastias................................................................................................ 51

Fraturas: assistência fisioterapêutica.............................................................................. 51


Objetivos do tratamento fisioterapêutico..................................................................... 53
Programa de atendimento fisioterapêutico................................................................. 55
Elaboração do prognóstico fisioterapêutico............................................................... 56

Sintetizando............................................................................................................................ 58
Referências bibliográficas.................................................................................................. 60

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Sumário

Unidade 3 – Algias e deformidades da coluna vertebral e traumatismos dos tecidos


moles
Objetivos da unidade............................................................................................................ 63

Processos álgicos da coluna vertebral............................................................................ 64


Definição, etiologia e quadro clínico dos processos álgicos da coluna vertebral.............................65
Assistência fisioterapêutica nos processos álgicos da coluna vertebral........................... 67

Deformidades da coluna vertebral.................................................................................... 70


Definição, etiologia e repercussões mecânicas das deformidades da coluna
vertebral............................................................................................................................... 72
Assistência fisioterapêutica nas deformidades da coluna vertebral.................................. 76

Traumatismos dos tecidos moles....................................................................................... 78


Conceito, classificação e etiologia dos traumatismos dos tecidos moles.......................... 79
Assistência fisioterapêutica nos traumatismos dos tecidos moles.................................... 83

Sintetizando............................................................................................................................ 86
Referências bibliográficas.................................................................................................. 88

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Sumário

Unidade 4 – Distúrbios ortopédicos e amputações


Objetivos da unidade............................................................................................................ 90

Distúrbios ortopédicos dos membros inferiores............................................................. 91


Definição, etiologia e quadro clínico dos distúrbios ortopédicos dos membros
inferiores............................................................................................................................ 91
Assistência fisioterapêutica nos distúrbios ortopédicos dos membros inferiores
99

Distúrbios ortopédicos dos membros superiores......................................................... 101


Definição, etiologia e quadro clínico dos distúrbios ortopédicos dos membros
superiores....................................................................................................................... 102
Assistência fisioterapêutica nos distúrbios ortopédicos dos membros superiores �����108

Amputações.......................................................................................................................... 109
Aparelhos ortopédicos e próteses.............................................................................. 111
Assistência fisioterapêutica nas amputações.......................................................... 113

Sintetizando.......................................................................................................................... 117
Referências bibliográficas................................................................................................ 119

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Apresentação

A Fisioterapia Traumato-ortopédica é uma das especialidades da Fisiote-


rapia que visa a plena reabilitação física de disfunções musculoesqueléticas,
como lesões em osso, músculos, ligamentos, tendões, meniscos, cápsulas, bur-
sas, entre outras estruturas.
Além dos conhecimentos sobre os órgãos e sistemas corporais e sobre os
mecanismos das diferentes lesões que podem acometer o sistema musculoes-
quelético, o fisioterapeuta deve ter domínio da avaliação e do diagnóstico ciné-
tico-funcional, consultas, reavaliações, análise e solicitação de exames comple-
mentares, alta dos atendimentos, entre outros.
A partir deste material, você vai compreender a atuação do fisioterapeuta
na área de Fisioterapia em Traumatologia e Ortopedia, entender a estrutura
da avaliação e do diagnóstico cinesiológico funcional, conhecer os recursos fi-
sioterapêuticos disponíveis, bem como a fisiopatologia e os mecanismos das
principais lesões traumatológicas e ortopédicas.

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A autora

A professora Gabriela Souza de Vas-


concelos possui Mestrado em Ciên-
cias do Movimento Humano (2017) e
graduação em Fisioterapia (2013), pela
Universidade Federal do Rio Grande
do Sul – UFRGS.

Currículo Lattes:
http://lattes.cnpq.br/7544638133581172

Dedico este trabalho a todos aqueles a quem este material possa ajudar de
alguma forma.

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UNIDADE

1 FISIOTERAPIA
TRAUMATO-ORTOPÉDICA

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Objetivos da unidade
Entender a avaliação cinesiológica funcional direcionada para a área de
Fisioterapia Traumato-ortopédica, bem como determinar o diagnóstico
cinesiológico funcional;

Identificar, a partir do diagnóstico cinesiológico funcional, os objetivos e os


recursos fisioterapêuticos e o prognóstico para cada intervenção;

Conhecer a epidemiologia e a classificação das doenças reumáticas, assim


como a etiopatogenia e os aspectos psicossociais associados a elas.

Tópicos de estudo
Introdução à Fisioterapia Doenças reumáticas:
Traumato-ortopédica epidemiologia e classificação
Semiogênese e semiotécnica Etiopatogenia das doenças
Avaliação e diagnóstico reumáticas
cinesiológico funcional Aspectos psicossociais das
doenças reumáticas
Assistência em Fisioterapia
Traumato-ortopédica
Objetivos fisioterapêuticos
Recursos e condutas
fisioterapêuticas
Prognóstico e alta da fisioterapia

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Introdução à Fisioterapia Traumato-ortopédica
Com o desenvolvimento e aprimo-
ramento de técnicas e métodos de
avaliação e intervenção na área da Fi-
sioterapia, percebeu-se a necessidade
de reconhecer a Fisioterapia Trauma-
to-ortopédica como uma de suas es-
pecialidades, sendo atribuição exclu-
siva do fisioterapeuta. Sendo assim, a
Fisioterapia Traumato-ortopédica foi
reconhecida pela Resolução n. 260, de
11 de fevereiro de 2004, emitida pelo
Conselho Federal de Fisioterapia e Terapia Ocupacional (COFFITO), e trata de
disfunções do sistema musculoesquelético, como lesões em ossos, músculos,
tendões, ligamentos, cápsulas, meniscos, bursas, fáscias, dentre outros.
A partir dessa resolução, outra foi publicada, determinando as atribuições
e competências de um fisioterapeuta traumato-ortopédico (Quadro 1). Con-
forme a Resolução n. 404, de 03 de agosto de 2011, o fisioterapeuta traumato-
-ortopédico pode exercer a profissão em todos os níveis de atenção à saúde,
assim como em todas as fases do desenvolvimento ontogênico, por meio de
ações de prevenção, promoção, proteção, educação, intervenção, recuperação
e reabilitação do cliente/paciente/usuário, nos ambientes hospitalares, domici-
liares, home care, ambulatoriais, instituições públicas, filantrópicas, militares,
privadas e/ou organizações sociais.
Para contemplar todas essas atribuições, o profissional especialista deve
ter conhecimentos sobre a anatomia geral dos órgãos e sistemas,
biomecânica, fisiologia geral e do exercício,  fisiopatologia das
doenças osteomioarticulares, física aplicada, semio-
logia, cinemática, ergonomia,  instrumentos de me-
dida e avaliação, farmacologia aplicada, técnicas
e recursos tecnológicos, recondicionamento físi-
co funcional, próteses, órteses e tecnologia assis-
tiva, humanização, ética e bioética (COFFITO, 2011).

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De um modo geral, todas essas atribuições, competências e conheci-
mentos permitem que o fisioterapeuta realize e desenvolva os atendimen-
tos dessa área, por meio da avaliação e da identificação do diagnóstico
cinético-funcional, escolha dos recursos, métodos e técnicas fisioterapêu-
ticos mais adequados para cada paciente, condução das sessões de fisio-
terapia, reavaliações sistemáticas e alta da fisioterapia.
O fisioterapeuta traumato-orto-
pédico tem à sua disposição inúme-
ros recursos fisioterapêuticos que
podem ser empregados durante os
atendimentos para favorecer a ple-
na recuperação de pacientes. Os
recursos fisioterapêuticos mais utili-
zados nessa área são cinesioterapia;
termoterapia; crioterapia; lasers de
baixa potência; ultrassom; corren-
tes de estimulação elétrica (TENS,
corrente interferencial, terapia com-
binada, corrente russa); compressão
intermitente; tração; massagem;
drenagem linfática, técnicas de libe-
ração miofascial; diatermia por on-
das curtas e por microondas; lâm-
padas infravermelhas; terapia com
luz ultravioleta; iontoforese; biofeedback e a terapia por ondas de choque
extracorpóreas (PRENTICE, 2014).
A fisioterapia traumato-ortopédica, por meio desses proce-
dimentos, é capaz de melhorar a função física e a qualida-
de de vida dos pacientes atendidos e, com isso,
desempenha um papel fundamental na preven-
ção e na reabilitação de inúmeras condições
musculoesqueléticas (COLBY; KISNER, 2017;
DUTTON, 2010; MAGEE, 2010; O’SULLIVAN;
SCHMITZ, 2010;).

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QUADRO 1. COMPETÊNCIAS E ATRIBUIÇÕES DO FISIOTERAPEUTA TRAUMATO-ORTOPÉDICO

Realizar consulta fisioterapêutica, anamnese, solicitar e realizar interconsulta e encaminhamento;


Realizar avaliação física e cinésio-funcional;
Solicitar, aplicar e interpretar escalas, questionários e testes funcionais; 
Solicitar, realizar e interpretar exames complementares; 
Determinar diagnóstico e prognóstico fisioterapêutico;
Planejar e executar medidas de prevenção e redução de risco;
Prescrever, montar, testar, operar, avaliar e executar recursos terapêuticos tecnológicos;
Prescrever, confeccionar, gerenciar órteses, próteses, adaptações e tecnologia assistiva;
Prescrever, analisar, aplicar, métodos, técnicas e recursos para restaurar as funções articular,
óssea, muscular, tendinosa, sensório, sensitiva e motoras;
Prescrever, analisar, aplicar, métodos, técnicas e recursos para reeducação postural, da marcha,
entre outros;
Prescrever, analisar, aplicar, métodos, técnicas e recursos para promoção de analgesia e a inibição
de quadros álgicos;
Aplicar métodos, técnicas e recursos terapêuticos manuais;
Preparar e realizar programas de atividades cinesioterapêuticas para todos os segmentos corporais;
Prescrever, analisar e aplicar recursos tecnológicos, realidade virtual e/ou práticas integrativas e
complementares em saúde;
Utilizar recursos de ação isolada ou concomitante de agente cinésio-mecano-terapêutico,
termoterapêutico, crioterapêutico, fototerapêutico, eletroterapêutico, sonidoterapêutico,
aeroterapêutico, entre outros;
Aplicar medidas de controle de infecção hospitalar; 
Realizar posicionamento no leito, sedestação, ortostatismo, deambulação, orientar e capacitar o
cliente/paciente/usuário visando sua funcionalidade;
Determinar as condições de alta fisioterapêutica;
Prescrever a alta fisioterapêutica;
Registrar em prontuário consulta, avaliação, diagnóstico, prognóstico, tratamento, evolução,
interconsulta, intercorrências, e alta fisioterapêutica;
Emitir laudos, pareceres, relatórios e atestados fisioterapêuticos;
Realizar atividades de educação em todos os níveis de atenção à saúde, e na prevenção de riscos
ambientais, ecológicos e ocupacionais;
Realizar atividades de segurança ambiental, documental, biológica e relacional.
Fonte: COFFITO, 2011. (Adaptado).

Semiogênese e semiotécnica
De acordo com a International Association for the Study of Pain – IASP (As-
sociação Internacional para o Estudo da Dor), “dor é uma experiência sensitiva
e emocional desagradável associada ou relacionada à lesão real ou potencial
dos tecidos” (RAJA et al., 2020, p. 1, tradução nossa).

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Como forma de mensurar e quantificar os sinais dolorosos de um paciente,
é possível citar escalas de dor, como as apresentadas na Figura 1, além do pró-
prio relato do paciente (DUTTON, 2010; MAGEE, 2010; PRENTICE, 2012).

Sem dor Maior dor


possível

0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
Sem dor Maior dor
possível

Figura 1. Escala visual analógica (acima) e escala numérica (abaixo) para mensurar intensidade da dor.

O edema pode ser definido como o extravasamento e o acúmulo de líqui-


do na região acometida pela lesão, causando aumento da pressão, atraso no
processo de cicatrização, separação de tecidos, inibição do controle neuromus-
cular, alterações neurológicas reflexivas e impedimento da nutrição na parte
lesada (COLBY; KISNER, 2017; PRENTICE, 2012).
O edema articular pode ser avaliado por meio da mensuração da circunfe-
rência ou perimetria e por testes específicos em cada articulação, como o teste
de rechaço patelar do joelho (DUTTON, 2010; MAGEE, 2010; PR ENTICE, 2012).

Figura 2. Exemplo da avaliação do tamanho da circunferência da coxa. Fonte: Shutterstock. Acesso em: 15/01/2021.

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O derrame articular pode ser caracterizado pelo sangramento intra-arti-
cular, com o sangue podendo ficar acumulado nessa região (hemartrose); ou
pelo aumento anormal da produção do líquido sinovial intra-articular em fun-
ção de um processo inflamatório (hidrartrose) (COLBY; KISNER, 2017).
A atrofia é a perda do tecido muscular e resulta da deterioração da pro-
teína contrátil do músculo imobilizado, da diminuição do diâmetro das fi-
bras musculares, da redução do número de miofibrilas e da densidade capi-
lar intramuscular.
A avaliação da atrofia pode ser desenvolvida pela mensuração da circunfe-
rência ou da perimetria, assim como por testes de força muscular, como escala
de força muscular de Kendall, dinamômetro isocinético, dinamômetro manual
(Figura 3), eletromiografia, dentre outros (DUTTON, 2010; HEBERT et al, 2016;
MAGEE, 2010; PRENTICE, 2012).

Figura 3. Exemplo da utilização do dinamômetro manual para mensurar força dos músculos da mão, punho e antebra-
ço. Fonte: Shutterstock. Acesso em: 15/01/2021.

O bloqueio articular, ou restrição do movimento artrocinemático normal,


pode ocorrer por aderências, proliferação sinovial, derrame articular, irregula-
ridades na cartilagem articular, formação de osteófitos, patologias intra-arti-
culares ou, ainda, pela contratura dos tecidos conjuntivos que se cruzam ou se
ligam à articulação ou à cápsula articular.

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Para identificar a presença de bloqueio articular em um ou mais
ângulos de movimento, é possível aplicar testes de ampli-
tude (passiva, ativo-assistida e ativa) por meio de goniô-
metro, inclinômetro digital, flexímetro, entre outros
(DUTTON, 2010; HEBERT et al., 2016; MAGEE, 2010;
PRENTICE, 2012).

Figura 4. Exemplo da avaliação da amplitude de movimento do cotovelo por meio do goniômetro. Fonte: Shutterstock.
Acesso em: 15/01/2021.

Aderências são alterações fibrosas no tecido conjuntivo do músculo e das


estruturas periarticulares que podem levar à contratura fibrótica e à restrição
da mobilidade tecidual e articular.
As aderências podem ser identificadas por meio da observação e da palpa-
ção da região comprometida (COLBY; KISNER, 2017; MAGEE, 2010); além disso,
é possível aplicar a escala proposta por Rothkopf e colaboradores (1991), que
determina a severidade da aderência da seguinte maneira:
• Severidade 0: ausência de aderência;
• Severidade 1: aderência fraca ou leve;
• Severidade 2: aderência moderada;
• Severidade 3: aderência densa.

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Avaliação e diagnóstico cinesiológico funcional
A Fisioterapia Traumato-ortopédica é a especialidade que reabilita indiví-
duos expostos a um aumento da sobrecarga articular, manutenção de postu-
ras inadequadas por longos períodos, repetição de movimentos, condições de
trabalho inadequadas, dentre outros fatores. Entre as principais disfunções
cinético-funcionais atendidas por essa especialidade, podemos destacar as:
lombalgias, artroses, fraturas, tendinites, alterações posturais (escoliose), ar-
trite reumatoide, lesão por esforço repetitivo (LER), bursites, luxações e disten-
sões musculares, entorses ligamentares, pós-operatórios (NOGUEIRA, 2016).
Mesmo que o paciente chegue ao atendimento fisioterapêutico ciente da
lesão que sofreu ou, até mesmo, com um diagnóstico médico (como entor-
se de tornozelo, discopatia degenerativa, fratura do rádio, bursite do ombro,
dentre outros exemplos), é imprescindível a realização da avaliação cinesio-
lógica funcional.
Essa avaliação, na grande maioria dos casos, é o contato inicial entre o fi-
sioterapeuta e o paciente, e serve para que o fisioterapeuta entenda os meca-
nismos, sinais e sintomas da lesão, os déficits que precisam ser melhorados
e/ou recuperados e as reais necessidades de cada paciente, além de auxiliar
na identificação do diagnóstico cinesiológico funcional (COLBY; KISNER, 2017;
DUTTON, 2010; MAGEE, 2010; O’SULLIVAN; SCHMITZ, 2010).
De modo geral, a avaliação cinesiológica funcional consiste em algumas
etapas, tais como a história do paciente, observação ou inspeção, palpação,
exames e testes específicos.
A primeira etapa, história do paciente, consiste em uma série de questões
a respeito da lesão ou disfunção cinético-funcional, tais como causa, mecanis-
mos, como, onde e quando ocorreu, início dos sintomas, o que alivia e o que
piora os sintomas, o que foi feito após a lesão, medicamentos, procedimentos
cirúrgicos, comportamento dos sintomas, dentre outras informações que po-
dem ser úteis ao tratamento fisioterapêutico.
Nesse momento, também devem ser elencadas questões sobre doenças ou
lesões e procedimentos cirúrgicos pregressos, independentemente de eles es-
tarem ou não relacionados à doença e/ou lesão atual (DUTTON, 2010; MAGEE,
2010; PRENTICE, 2012).

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DICA
Os fatores que geram alívio ou piora dos sintomas informados pelo pacien-
te podem fornecer dados suficientes para auxiliar o fisioterapeuta a elabo-
rar o plano de intervenção e escolher as condutas fisioterapêuticas.

A segunda etapa da avaliação, na verdade, já começa desde o momento


em que o paciente entra no consultório/sala de avaliação. Por meio da obser-
vação ou inspeção, tanto da área lesionada quanto das regiões adjacentes,
o fisioterapeuta tem o intuito de identificar a presença de deformidades; ci-
catrizes; hiperemia (vermelhidão); hemorragias; áreas edemaciadas; caracte-
rísticas do movimentos (muito lentos, muito rápidos); sinais de claudicação;
posturas antálgicas ou de proteção; expressões faciais relacionadas com os
sintomas; evidente hipotrofia muscular, assimetrias; mau alinhamento pos-
tural; protusão ou protuberâncias articulares (luxações ou fraturas), dentre
muitos outros exemplos (DUTTON, 2010; MAGEE, 2010; PRENTICE, 2012).
Com as informações obtidas por meio da história do paciente e pela ob-
servação, o fisioterapeuta pode realizar a palpação do local da lesão, das
regiões adjacentes e demais áreas que ele julgar necessário. A palpação
pode ser dividida em dois grupos: tecidos moles e componentes ósseos.
Nos tecidos moles, a palpação tem o objetivo de identificar edemas,
nódulos e espaços; tensão muscular anormal e variações de temperatura;
onde ligamento e tendões se romperam; variações na forma das estruturas
e diferenças na rigidez e textura dos tecidos; distinguir tecidos flexíveis de
outros mais resilientes; contrações musculares ou tremores involuntários;
secura ou umidade excessiva da pele; sensações anormais na pele, como
diminuição da sensação (disestesia), dormência (anestesia) ou aumento da
sensação (hiperestesia).
Por outro lado, nos componentes ósseos, a palpação permite identifi-
car espaço anormal na articulação, edema ósseo, articulações desalinhadas
ou protuberâncias anormais associadas a uma articulação ou a algum osso
(DUTTON, 2010; MAGEE, 2010; PRENTICE, 2012).
Na última etapa, de exames e testes específicos, é realizada a avaliação
dos movimentos envolvidos na disfunção cinético-funcional, bem como a
confirmação ou exclusão de algum diagnóstico que não ficou claro durante
as etapas anteriores.

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As avaliações que podem ser realizadas nessa etapa são: amplitude de movi-
mento (passiva, ativo-assistida e ativa por meio de goniômetro, inclinômetro digi-
tal, flexímetro); teste muscular (escalas, dinamômetro isocinético, dinamômetro
manual, eletromiografia); teste neurológico, testes de movimentos acessórios; tes-
tes de estabilidade articular; testes de desempenho funcional; testes ortopédicos
especiais; exame postural e medidas antropométricas. Além de todas essas men-
surações e análises, o fisioterapeuta poderá avaliar os exames de imagem e exa-
mes laboratoriais dos pacientes (DUTTON, 2010; MAGEE, 2010; PRENTICE, 2012).
Após todas essas etapas, o fisioterapeuta terá condições de determinar o
diagnóstico cinesiológico funcional, ou seja, o que precisa ser corrigido, recu-
perado ou otimizado com a intervenção fisioterapêutica.

EXEMPLIFICANDO
Um exemplo de diagnóstico cinesiológico funcional pode ser: presença
de dor, edema, restrições da amplitude de movimento articular do joelho e
diminuição do desempenho muscular dos membros inferiores, redução do
equilíbrio e da propriocepção.
A partir do diagnóstico cinesiológico funcional, é possível elaborar o pla-
no de tratamento fisioterapêutico, individualizado e personalizado para as
necessidades de cada paciente. Esse plano de tratamento é composto pelos
objetivos e recursos fisioterapêuticos mais adequados, assim como pelo prog-
nóstico/alta da fisioterapia. Em função da sua importância para a evolução da
intervenção e das condições clínicas, a avaliação cinesiológica
funcional deve ser realizada de forma completa e com o máxi-
mo de detalhes possíveis (COLBY; KISNER, 2017; DUTTON, 2010;
MAGEE, 2010; O’SULLIVAN; SCHMITZ, 2010; PRENTICE, 2012).

Assistência em Fisioterapia Traumato-ortopédica


O tratamento fisioterapêutico está associado às habilidades e conheci-
mentos do fisioterapeuta, seja em relação aos mecanismos, à fisiopatologia
e demais determinantes das lesões, seja pela escolha adequada dos recursos
fisioterapêuticos que serão aplicados. Por isso, é importante que o profissional
conheça esses recursos disponíveis, tenha capacitação para aplicá-los e os uti-
lize de forma coerente e não apenas por utilizar.

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Além desses conhecimentos, é imprescindível que a intervenção fisiotera-
pêutica seja cuidadosamente planejada e orientada para as necessidades indi-
viduais de cada paciente. Somente assim a intervenção atingirá o seu objetivo,
que é melhorar a função física, a capacidade para execução de tarefas básicas,
a qualidade de vida e recuperar a homeostase funcional (COLBY; KISNER, 2017;
DUTTON, 2010; MAGEE, 2010; PRENTICE, 2012).
O planejamento dessa intervenção se baseia nas informações obtidas por
meio da avaliação cinesiológica funcional e da identificação do diagnóstico. A
partir disso, é possível determinar os objetivos fisioterapêuticos (a curto, mé-
dio e longo prazo, que nortearão a escolha pelas condutas e recursos fisiote-
rapêuticos durante o tratamento. Em função disso, o sucesso da intervenção
fisioterapêutica está diretamente relacionado à realização de uma avaliação
cinesiológica funcional completa e detalhada.
Com as informações adequadas para planejar a intervenção, o fisioterapeuta
pode determinar prazos para reavaliações, o prognóstico e o momento espera-
do da alta de cada paciente. Importante salientar que esses prazos e estimativas
não são fixos e podem ser alterados conforme a necessidade de cada um.

Objetivos fisioterapêuticos
Os objetivos fisioterapêuticos são utilizados para favorecer as tomadas de
decisão do fisioterapeuta e a boa evolução da intervenção e, consequentemen-
te, do quadro clínico do paciente. Geralmente, eles são descritos como sendo
de curto, médio e longo prazo, embora essa determinação de prazos não seja
fixa, podendo significar dias, semanas e meses, conforme a percepção do fisio-
terapeuta sobre a necessidade de cada paciente.
De modo geral, o objetivo a longo prazo serve de guia para os demais obje-
tivos. Em outras palavras, os objetivos a curto e médio prazo devem conduzir
a intervenção para o alcance e realização do objetivo a longo prazo. Por exem-
plo, o objetivo a longo prazo pode ser o retorno às atividades esportivas sem
sintomas. Para isso, os objetivos a curto e médio prazo deverão incluir alívio
da dor, controle do processo inflamatório, melhora da mobilidade articular, do
alongamento, da força e da potência muscular, dentre outros objetivos possí-
veis (DUTTON, 2010; MAGEE, 2010; PRENTICE, 2012).

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Para determinar esses objetivos, o fisioterapeuta deve estar ciente dos défi-
cits apresentados pelo paciente no momento da avaliação cinesiológica funcio-
nal, dos objetivos do paciente e o que é possível alcançar em um determinado
período. No Quadro 2 estão alguns exemplos de objetivos fisioterapêuticos e
como eles podem ser distribuídos a curto, médio e longo prazo.

QUADRO 2. OBJETIVOS FISIOTERAPÊUTICOS DE DETERMINADO PACIENTE A CURTO,


MÉDIO E LONGO PRAZO

Objetivos fisioterapêuticos Curto prazo (1 semana)


1. Diminuir a dor e o edema;
2. Controlar o processo inflamatório;
3. Reduzir tensões musculares;
1. Diminuir a dor e o edema; 4. Melhorar a mobilidade articular;
2. Controlar o processo inflamatório;
3. Reduzir tensões musculares; Médio prazo (até três semanas, aproximadamente)
4. Melhorar a mobilidade articular;
1. Melhorar o alongamento muscular;
5. Melhorar o alongamento
2. Melhorar o desempenho muscular (força e
muscular;
potência).
6. Melhorar o desempenho muscular
(força e potência); Longo prazo (de 3 a 4 semanas, aproximadamente)
7. Melhorar a propriocepção e o
senso de posição articular; 1. Melhorar a propriocepção e o senso de posição
8. Melhorar/manter o articular;
condicionamento cardiorrespiratório; 2. Melhorar/manter o condicionamento
cardiorrespiratório;
3. Incorporar progressões funcionais e acompanhar o
retorno à atividade esportiva.

Os objetivos fisioterapêuticos são mensuráveis, o que permite que o fisio-


terapeuta realize reavaliações periódicas para identificar a evolução ou não
do paciente. Essas reavaliações, ainda, permitem que o fisioterapeuta trace
novos objetivos e altere condutas e recursos fisioterapêuticos que não são
mais adequados.
Assim como todas essas informações são importantes para o sucesso da
intervenção, a relação de confiança entre paciente e fisioterapeuta é decisiva.
O fisioterapeuta deve levar em consideração os objetivos pessoais do pacien-
te, que podem, eventualmente, não ser os objetivos mais pertinen-
tes na visão do profissional. Além disso, o paciente deve estar
ciente do que é possível alcançar e a previsão de quando
isso pode acontecer (COLBY; KISNER, 2017; MAGEE, 2010;
O’SULLIVAN; PRENTICE, 2012; SCHMITZ, 2010).

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Recursos e condutas fisioterapêuticas
O fisioterapeuta traumato-ortopédico tem à sua disposição inúmeros
recursos, métodos e técnicas fisioterapêuticas que podem ser empre-
gadas durante os atendimentos para favorecer a plena recuperação dos
pacientes. Por isso, é tão importante identificar os objetivos fisioterapêu-
ticos e fazer escolhas assertivas para sua evolução clínica.

DICA
Além da assertividade na escolha da conduta, o fisioterapeuta deve
conhecer e entender o mecanismo de ação desses recursos sobre os
diferentes tecidos corporais para que, de fato, os resultados satisfatórios
sejam alcançados.

Ainda, a cinesioterapia é o recurso mais aplicado na especialidade de fisio-


terapia traumato-ortopédica. De forma resumida, ela consiste na utilização de
exercícios terapêuticos como forma de prevenir, tratar e reabilitar as disfunções
cinético-funcionais. Esses exercícios terapêuticos se caracterizam pelo desempe-
nho sistemático e planejado de movimentos corporais, posturas ou movimentos
físicos, com objetivo de corrigir ou prevenir deficiências, melhorar, restaurar ou
aprimorar a função física, prevenir ou reduzir fatores de risco relacionados à saúde
e otimizar o estado geral de saúde (COLBY; KISNER, 2017).
Por meio desses recursos fisioterapêuticos, que visam diminuir a dor e o ede-
ma, controlar o processo inflamatório, melhorar a mobilidade articular, o alonga-
mento, a força e a potência muscular e demais alterações que o paciente venha a
apresentar, a fisioterapia traumato-ortopédica é capaz de melhorar a função física
e a qualidade de vida dos pacientes atendidos.
Com isso, a fisioterapia traumato-ortopédica desempenha um papel fundamen-
tal na prevenção e na reabilitação de inúmeras condições musculoesqueléticas.

Prognóstico e alta da fisioterapia


O prognóstico no contexto da Fisioterapia Traumato-ortopédica pode ser
entendido como o nível previsto de uma determinada função física que o pa-
ciente poderá atingir em um período de tempo.

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Para definir esse prognóstico, é fundamental levar em consideração ques-
tões como o estado social, emocional e motivacional e as expectativas do
paciente em relação à intervenção, bem como os dados obtidos na avaliação
cinesiológica funcional e os conhecimentos e experiências prévias do fisiotera-
peuta (DUTTON, 2010).
Geralmente, na intervenção fisioterapêutica são estipulados prazos para os
objetivos serem cumpridos a curto, médio e longo prazo. Esses prazos, assim
como o prognóstico, dependem de cada paciente, da sua condição clínica e
são um guia do tratamento, não atuando como determinante para sucesso ou
fracasso do atendimento fisioterapêutico.
A forma de identificar se a intervenção fisioterapêutica está evoluindo
como o esperado é por meio de reavaliações periódicas. Essas reavaliações
devem ser determinadas pelo fisioterapeuta conforme a necessidade do pa-
ciente, mas são essenciais para comparar com os dados obtidos na avaliação
cinesiológica funcional do início do tratamento.
A comparação entre essas informações traz muitos benefícios para o de-
senvolvimento da intervenção fisioterapêutica, uma vez que disponibiliza
dados clínicos que demonstram a necessidade de progredir ou regredir (o
tratamento fisioterapêutico, além de demonstrar a evolução clínica ao pa-
ciente (DUTTON, 2010; PRENTICE, 2012). O completo reparo tecidual depende
do equilíbrio entre a proteção e a adequada progressão e aumento da inten-
sidade das tensões funcionais.
Outro motivo que torna essas reavaliações tão importantes é que elas au-
xiliam a determinar o momento da alta da fisioterapia. Por meio das reavalia-
ções, o fisioterapeuta pode mensurar os objetivos fisioterapêuticos e identi-
ficar que o paciente conseguiu atingir todos eles, estando apto a retornar às
suas atividades diárias, esportivas e ao trabalho (COLBY; KISNER, 2017; MAGEE,
2010; PRENTICE, 2012).
A intervenção fisioterapêutica depende das informações obtidas na ava-
liação cinesiológica funcional e da identificação do diag-
nóstico cinesiológico funcional, pois a partir disso será
possível determinar os objetivos fisioterapêuticos que
nortearão a escolha pelas condutas fisioterapêuticas e a
alta do tratamento.

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Doenças reumáticas: epidemiologia e classificação
As doenças reumáticas, de acordo com a Sociedade Brasileira de Reuma-
tologia, se caracterizam por doenças que acometem o sistema musculoesque-
lético (ossos, articulações, cartilagens, músculos, tendões e ligamentos, dentre
outros), assim como outras partes do corpo, em indivíduos de todas as idades.

DICA
No site da Sociedade Brasileira de Reumatologia é possí-
vel encontrar cartilhas explicativas sobre diversas doen-
ças reumáticas, o que são, quais seus sinais e sintomas,
suas causas, formas de diagnóstico e tratamentos dispo-
níveis, entre outras informações.

Existe uma grande diversidade de doenças reumáticas e elas são classifi-


cadas conforme a origem do processo inflamatório e mecanismos de lesão,
por exemplo: autoimunes, como artrite reumatoide, espondilite anquilosante
e lúpus eritematoso sistêmico; doenças metabólicas, como gota e osteoporose;
infecciosas (febre reumática); degenerativa (osteoartrite) e traumáticas/mecâ-
nicas (bursites e tendinites) (IMBODEN; STONE, 2014; WIBELINGER, 2019).
Conforme dados do Ministério da Saúde, em “Saúde alerta para preven-
ção às doenças reumáticas”, publicado em 2011, essas doenças atingem 12
milhões de pessoas, aproximadamente, e, embora homens, mulheres, idosos
e adolescentes possam ser acometidos, a maior prevalência é entre as mulhe-
res de 30 e 40 anos. A forma de doença mais comum é a osteoartrite, seguida
pela artrite reumatoide.
De modo geral, elas apresentam um caráter inflamatório crônico, dege-
nerativo e sistêmico que pode gerar inflamações nos tecidos conjuntivos de
outras partes do corpo (rim, pulmão, pele etc.), além do sistema musculoes-
quelético (IMBODEN; STONE, 2014; WIBELINGER, 2019).
Os efeitos desse processo inflamatório crônico, degenerativo e sistêmi-
co sobre o sistema musculoesquelético costumam ser dor e incapacidades
funcionais nas articulações, músculos, tendões ou ossos acometidos, interfe-
rindo diretamente na qualidade de vida e nas atividades diárias, esportivas e
profissionais dos pacientes.

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Etiopatogenia das doenças reumáticas
A etiologia da artrite reumatoide ainda é desconhecida; sabe-se, todavia,
que é uma doença inflamatória predominantemente articular, em que o pa-
ciente pode apresentar sintomas como fadiga, febre baixa (até 38 °C), anemia
e elevação dos reagentes de fase aguda (velocidade de hemossedimentação e
níveis de proteína C reativa) (IMBODEN; STONE, 2014; WIBELINGER, 2019).
Embora possa causar um comprometimento sistêmico, o alvo inicial dessa
doença é a sinóvia articular, tecido que prolifera de modo descontrolado, ge-
rando aumento da produção de líquido sinovial, erosão subcondral e lesão dos
tendões e ligamentos.

Figura 5. Exemplo de um paciente com artrite reumatoide. Fonte: Shutterstock. Acesso em: 15/01/2021.

A espondilite anquilosante se caracteriza pelo acometimento da coluna ver-


tebral, em especial da articulação sacroilíaca, e apresenta um início insidioso de
lombalgia inflamatória durante o final da adolescência ou início da idade adulta. Os
fatores ambientais podem contribuir com o desenvolvimento dessa doença; entre-
tanto, o principal determinante de suscetibilidade é a base genética (gene HLA-B27).
Além disso, alguns fatores parecem contribuir para a evolução da espondilite
anquilosante, como o tempo entre o início dos sintomas e o diagnóstico definiti-
vo (aproximadamente nove anos). O início dos sintomas lombares é insidioso e os
pacientes podem demorar para procurar atendimento médico. Além disso, a lom-
balgia mecânica é prevalente e os pacientes frequentemente são diagnosticados
de maneira errônea, uma vez que há dificuldade em diagnosticar essa doença nos
estágios iniciais devido à falta de critérios diagnósticos.

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O lúpus eritematoso sistêmico é uma doença autoimune que afeta vários ór-
gãos e sistemas. As causas parecem ser genéticas (mais de 100 genes já foram re-
conhecidos), ambientais (exposição à luz ultravioleta, tabagismo, exposição à sílica
e mercúrio) e hormonais (uso de anticoncepcionais e reposição de estrogênio). Além
disso, esses fatores ainda podem ser considerados como exacerbadores das disfun-
ções clínicas características da doença (IMBODEN; STONE, 2014).

Figura 6. Exemplo de um paciente com lúpus eritematoso sistêmico. Fonte: Shutterstock. Acesso em: 15/01/2021.

A gota é uma doença causada pelo aumento da quantidade da reserva total


de urato corporal (hiperuricemia), determinada como uma concentração sérica
de urato maior do que 7 mg/dL. A alteração na concentração de urato corporal
predispõe à precipitação de cristais de urato, que podem afetar o líquido sino-
vial e as articulações (IMBODEN; STONE, 2014).
A osteoporose se caracteriza pela redução da massa óssea, desorganiza-
ção da microarquitetura do osso e diminuição da resistência óssea, com au-
mento do risco de fratura. Alguns fatores estão associados com a ocorrência da
osteoporose, como: deficiência de estrogênio (principalmente em mulheres na
menopausa); uso prolongado de glicocorticoides; e características do envelhe-
cimento, como redução da população de células precursoras ósseas, carências
nutricionais e má absorção.
A febre reumática, embora não tenha a patogenia esclarecida, parece ser
causada pela resposta imune a antígenos de estreptococos do grupo A que, en-
tão, apresentam reação cruzada com tecidos humanos por mimetismo mole-
cular, gerando febre, poliartrite migratória e cardite (IMBODEN; STONE, 2014).

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A osteoartrite pode ser causada por inúmeras
condições, como doenças congênitas (doença de
Legg-Calvé-Perthes, displasia acetabular, epifisite
primária da cabeça do fêmur); transtornos inatos
do tecido conjuntivo (síndrome de Ehlers-Danlos e
síndrome de Marfan); situações pós-traumáticas (rup-
tura do ligamento cruzado anterior, ruptura do menisco com ou
sem meniscectomia cirúrgica anterior); distúrbios metabólicos (hemocro-
matose, doença de Wilson e ocronose (alcaptonúria); história de uma articu-
lação séptica) e condições pós-inflamatórias (artrite reumatoide subjacente,
osteoartrite generalizada).
De modo geral, todas essas condições atingem a fina borda de cartila-
gem hialina (tecido avascular) interposta entre os dois ossos da articulação,
tornando-a desgastada. Isso leva à esclerose do osso subjacente, crescimen-
to de osteófi tos na margem articular, fraqueza e atrofia dos músculos que
recobrem a articulação, relaxamento e ruptura dos ligamentos e, em várias
articulações, sinovite.
A partir disso, há perda focal da cartilagem em um lado da articulação
e a posterior remodelação óssea no local, ocasionado o desalinhamento da
articulação, o aumento da carga transarticular focal e danos posteriores à
cartilagem e ao osso subjacente (IMBODEN; STONE, 2014; WIBELINGER, 2019).

Aspectos psicossociais das doenças reumáticas


As doenças reumáticas geram perdas significativas da autonomia e inca-
pacidades funcionais, sejam elas em atividades de vida diária, esportivas ou
relacionadas com o trabalho do paciente. Além desses comprometimentos re-
lacionados com a função física, essas doenças também interferem nos aspec-
tos psicossociais (IMBODEN; STONE, 2014; WIBELINGER, 2019).

CURIOSIDADE
Os pacientes portadores de algum tipo de dor crônica, como as doenças
reumáticas, estão mais propensos à depressão e a relações pessoais
interrompidas, conforme afirmado por Dutton em Fisioterapia ortopédica,
exame, avaliação e intervenção, publicado em 2010.

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Os sintomas mais comuns das doenças reumáticas são dor e incapacida-
de funcional. Em função disso, independentemente do grau de severidade da
doença, os pacientes poderão apresentar algum tipo de prejuízo em relação
aos aspectos emocionais, físicos, psicológicos, sexuais e financeiros. Isso se
deve, principalmente, à incapacidade gerada pela doença, que traz impacto
negativo para o status psicossocial do indivíduo, podendo obrigá-lo a desistir
de sua profissão/ocupação e tornando-o dependente de familiares (mesmo em
atividades simples). Isso faz com que esse paciente se sinta isolado, solitário,
deprimido e até mesmo culpado pelo seu quadro clínico (O’DONOVAN, 2004).
A sensação de dor, fadiga e cansaço, além das incapacidades funcionais, fa-
vorecem o surgimento de quadros de depressão e ansiedade, além da presen-
ça de sentimentos como raiva, medo e inutilidade. Infelizmente, nessas doen-
ças reumáticas o alívio dos sintomas talvez não seja alcançado rapidamente ou
talvez não possa ser mantido por longos períodos (HALE; HILL, 2004).
Com a progressão da doença e piora dos sintomas, mais articulações po-
dem ser acometidas e a dor pode se tornar permanente, atrapalhando a qua-
lidade do sono e de vida desse paciente (O’DONOVAN, 2004). Somado a isso,
mistura-se o medo e a ansiedade em relação à doença, o que impede o plane-
jamento de eventos futuros sobre profissão, prática esportiva, viagens, dentre
tantas outras questões da vida cotidiana.
Outro fator que deve ser considerado é a influência dessas doenças sobre a
degradação das articulações e, consequentemente, sobre profundas mudanças
na aparência física, trazendo efeitos para autoestima do paciente (BOYINGTON
et al., 2008; OLIVIER; RYAN, 2002).
A Fisioterapia Traumato-ortopédica exerce um papel muito importante na
reabilitação física desses pacientes e é fundamental que o pro-
fissional leve em conta os aspectos psicossociais no momento
das avaliações e atendimentos fisioterapêuticos (IMBODEN;
STONE, 2014; WIBELINGER, 2019).

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Sintetizando
A Fisioterapia Traumato-ortopédica, enquanto especialidade da Fisioterapia,
dedica-se ao tratamento de disfunções musculoesqueléticas, como traumas, le-
sões e alterações posturais, e às doenças reumáticas.
Para determinar o plano de assistência fisioterapêutico, o profissional
deve conhecer e realizar a avaliação cinesiológica funcional de forma deta-
lhada e com o maior número de informações possível. A partir dessas in-
formações será possível identificar o diagnóstico cinesiológico funcional, ou
seja, o que precisa ser recuperado, melhorado ou otimizado; assim como os
objetivos fisioterapêuticos.
Os objetivos fisioterapêuticos são fundamentais para determinar as con-
dutas mais recomendadas para cada paciente. Isso implica que o profissional
deve ter amplo conhecimento das condutas fisioterapêuticas, como aplicá-las
e os efeitos que elas provocam nos tecidos corporais.
Em geral, os objetivos são definidos a curto, médio e longo prazo. Dessa
forma, o profissional estipula prazos, para que o paciente alcance determinado
objetivo fisioterapêutico. Esses prazos não são fixos e podem ser modificados
conforme a necessidade do paciente e a percepção do fisioterapeuta.
Assim como os objetivos e os prazos, as condutas fisioterapêuticas tam-
bém podem ser alteradas ao longo do tratamento. Por meio de reavaliações,
o profissional terá condições de analisar se o tratamento está evoluindo da
forma adequada ou se precisa sofrer alterações. Essas reavaliações também
serão úteis para auxiliar a determinar o momento da alta do paciente, ou seja,
o momento em que todos os objetivos foram alcançados e o paciente está ple-
namente recuperado.
Embora o plano de tratamento siga as mesmas diretrizes para as doenças
reumáticas, algumas particularidades devem ser levadas em consi-
deração. A principal delas é que as doenças crônicas apresentam
um caráter crônico, inflamatório e sistêmico, o que tor-
na o tratamento fisioterapêutico bastante desafiador.
Outra questão muito importante nessas doenças é
o comprometimento emocional, social, profissional,
escolar e de demais aspectos psicossociais.

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Além disso, elas são diversas e iniciam afetando as estruturas do sistema
musculoesquelético, na grande maioria, o que faz com que sejam confundidas
com outras lesões musculoesqueléticas. Conhecer as causas, a epidemiologia
e as principais características dessas doenças pode auxiliar o fisioterapeuta na
hora de planejar o tratamento fisioterapêutico.
Diante disso, a Fisioterapia Traumato-ortopédica é muito vasta, com uma
ampla gama de métodos e técnicas, e tem capacidade para atender inúmeras
condições musculoesqueléticas. Assim como é importante conhecer os proce-
dimentos da avaliação cinesiológica funcional e as condutas fisioterapêuticas,
o profissional deve levar em conta os aspectos psicossociais que podem estar
associados com as lesões musculoesqueléticas, em especial com as doenças
reumáticas. Somente dessa forma, o tratamento fisioterapêutico alcançará êxi-
to e o paciente terá melhora da sua função física e qualidade de vida.

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tendon adhesions. Journal of Hand Surgery, [s.l.], v. 16, n. 4, p. 694-700, 1991.
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São Paulo, [s.d.]. Disponível em: <https://www.reumatologia.org.br/>. Acesso
em: 15 jan. 2021.
WIBELINGER, L. M. Fisioterapia em reumatologia. São Paulo: Thieme Revinter,
2019.

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UNIDADE

2 FRATURAS: CONCEITOS
BÁSICOS E TRATAMENTO

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Objetivos da unidade
Compreender conceitos básicos sobre as fraturas como definição, etiologia,
classificação, processo de consolidação e complicações;

Conhecer os principais métodos empregados na assistência clínico-cirúrgica


das fraturas;

Entender a aplicação do tratamento fisioterapêutico para as fraturas.

Tópicos de estudo
Fraturas: conceitos básicos Fraturas: assistência
Processo de consolidação das fisioterapêutica
fraturas Objetivos do tratamento
Complicações e distúrbios fisioterapêutico
de consolidação associados às Programa de atendimento
fraturas fisioterapêutico
Deslocamentos articulares Elaboração do prognóstico
associados às fraturas fisioterapêutico

Fraturas: assistência clínica


cirúrgica
Osteossíntese, fixadores
internos e fixadores externos
Artrodese e artroplastias

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Fraturas: conceitos básicos
O sistema musculoesquelético, composto pelos ossos, músculos, tendões,
ligamentos, meniscos, cartilagens, bursas, fáscias e articulações, tem um pa-
pel muito importante para a sustentação do corpo humano, além de servir
como sítios de fi xação, alavanca, proteção, armazenamento e formação de
células sanguíneas.
Os ossos são as estruturas em maior número e são caracterizados por
uma forma altamente vascular de tecido conjuntivo composto de colágeno,
fosfato de cálcio, água, proteínas amorfas e células. Essa composição do teci-
do ósseo permite que ele tenha rigidez, resistência à compressão e à tração,
sendo o tecido mais rígido entre os tecidos conjuntivos (HALL, 2016).
Existem quatro tipos de ossos (longos, curtos, planos e irregulares), cada
um com funções específicas. Ainda, os ossos podem ser classificados, de
acordo a porosidade, em duas categorias: osso cortical (baixa porosidade) e
osso trabecular (alta porosidade). Sabe-se que a porosidade do tecido ósseo
afeta diretamente as suas características mecânicas, por exemplo o osso cor-
tical é mais rígido e consegue suportar forças maiores, entretanto apresenta
uma capacidade de deformação menor, o que predispõe a ocorrência de fra-
turas. Já no osso trabecular, a capacidade de deformação é maior, permitindo
que ele se deforme mais antes de fraturar (HAMILL e colaboradores, 2016).
Antes de trazer mais detalhes a respeito das fraturas, é importante elu-
cidar sobre as forças que atuam em nosso corpo e podem favorecer a ocor-
rência das fraturas. O conhecimento sobre esses conceitos biomecânicos
permitirá que o fisioterapeuta compreenda como a lesão ocorreu, qual o tra-
tamento mais adequado e como evitar falhas mecânicas que poderão favore-
cer as complicações e distúrbios de consolidação.
Devemos lembrar que existem quatro forças básicas que atuam sobre
o corpo humano: compressão, tensão, torção e flexão. Elas podem
atuar de forma individual ou em conjunto (MCGINNIS, 2015;
COURT-BROWN e colaboradores, 2016). A seguir, veremos
cada uma delas.
A força de compressão (Figura 1) gera um encurta-
mento do comprimento do osso.

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Figura 1. Ilustração da atuação da força de compressão sobre um objeto. Fonte: Adobe Stock. Acesso em: 28/01/2021.

Já a força de tensão, ou tração (Figura 2), promove o alongamento ou a se-


paração do osso.

Figura 2. Ilustração da atuação da força de tensão sobre um objeto. Fonte: Adobe Stock. Acesso em: 28/01/2021.

A força de torção (Figura 3) faz com que o osso gire em torno do seu eixo
longitudinal.

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Figura 3. Ilustração da força de torção. Fonte: Adobe Stock. Acesso em: 28/01/2021.

Por fim, a força de flexão faz com que o osso faça um arco no centro (Figura 4).

Figura 4. Ilustração da força de flexão. Fonte: Shutterstock. Acesso em: 28/01/2021.

Quando uma ou mais dessas forças é aplicada sobre um osso, por exem-
plo, ele sofrerá deformação. Caso ele retorne ao formato/ estado anterior, isso
será denominado deformação elástica. Por outro lado, se ele não retornar ao
formato/ estado anterior, teremos uma deformação plástica. O Gráfico 1 traz

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a curva de tensão-deformação que ilustra esses processos. Nesse contexto,
a fratura ocorre quando essas forças aplicadas sobre o osso excedem a sua
deformação elástica e superam o seu limite de resistência (MCGINNIS, 2015;
COURT-BROWN e colaboradores, 2016).

GRÁFICO 1. CURVA TENSÃO-DEFORMAÇÃO


Tensão

Região plástica

Ponto de
(Limite de proporcionalidade)
escoamento
a
stic
elá
ião
Reg

0 Deformação
Fonte: MCGINNIS e colaboradores, 2015, p. 251.

As fraturas ósseas se caracterizam pela quebra estrutural da continuidade


de um osso e elas podem ocorrer por um trauma direto, como um golpe apli-
cado sobre o osso, ou por um trauma indireto, como uma lesão por rotação
(fratura associada a entorses ligamentares) ou por uma queda sobre a estrutu-
ra óssea. Geralmente, em função do trauma, ocorrem lesões de tecidos moles
juntamente à lesão óssea.
Os sintomas que normalmente acompanham essas lesões, e servem de
alerta para os fisioterapeutas, são: dor localizada e agravada pelo movimento,
edema, deformidade, movimento anormal, sensibilidade aguda evidente no
local, defesa muscular durante os movimentos passivos, redução da função

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física do segmento acometido e histórico de queda, trauma, lesão com entorse
ou acidente.
A classificação das fraturas pode ser complexa e levar em consideração di-
versos fatores, como: a região do osso (diafisária, metafisária, epifisária, in-
tra-articular), a extensão da lesão (incompleta ou completa – perda da con-
tinuidade óssea), a relação entre os fragmentos (sem desvio ou com desvio),
a relação com o ambiente (fechada ou aberta – o fragmento ósseo perfura a
pele e fica exposto) (Figura 5), as complicações (locais ou sistêmicas) quanto à
sua estabilidade (estável ou instável – que tende a deslocar após a redução) e
a configuração transversa (Figura 6), oblíqua (Figuras 7 e 8), cominutiva (Figura
9), espiral (Figura 10), por avulsão (Figura 11), em galho verde (Figura 12) (RÜEDI
e colaboradores, 2007; KISNER; COLBY, 2017).

Aberta Fechada

Figura 5. Exemplos de fratura aberta e fratura fechada. Fonte: Shutterstock. Acesso em: 28/01/2021.

Figura 6. Ilustração de uma fratura do tipo transversa. Fonte: Adobe Stock. Acesso em: 28/01/2021.

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Figura 7. Ilustração de fratura do tipo oblíqua, sem desvio. Fonte: Adobe Stock. Acesso em: 28/01/2021.

Figura 8. Ilustração de fratura do tipo oblíqua, com desvio. Fonte: Adobe Stock. Acesso em: 28/01/2021.

Figura 9. Ilustração de fratura do tipo cominutiva. Fonte: Adobe Stock. Acesso em: 28/01/2021.

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Figura 10. Ilustração de fratura do tipo em espiral. Fonte: Adobe Stock. Acesso em: 28/01/2021.

Figura 11. Ilustração de fratura do tipo por avulsão. Fonte: Adobe Stock. Acesso em: 28/01/2021.

Figura 12. Ilustração de fratura do tipo em galho verde. Fonte: Adobe Stock. Acesso em: 28/01/2021.

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A natureza dessas lesões depende da direção, magnitude, taxa de carga e
duração do estímulo mecânico aplicado, assim como da saúde e da maturidade
do osso no momento da lesão.

Processo de consolidação das fraturas


O processo de cicatrização e consolidação óssea inicia imediatamente
após a ocorrência da lesão e seguirá três fases: fase inflamatória (forma-
ção do hematoma e proliferação celular), fase de reparo (formação do calo
ósseo) e fase de remodelamento (consolidação e remodelamento ósseo)
(KISNER; COLBY, 2017).
Embora todos os ossos passem por essas três fases, existem algumas dife-
renças entre a cicatrização dos ossos corticais e esponjosos. Para as fraturas
dos ossos corticais, como a diáfise do fêmur, a fase inflamatória é marcada
pelo sangramento interno, seguido da coagulação normal no local da fratura.
Já na fase de reparo, em que o hematoma já está formado, as células osteogê-
nicas proliferam-se a partir do periósteo e do endósteo para formar um calo
espesso, o calo mole, que envolve o local da fratura. Esse calo mole ainda não
aparece nos exames de radiografias (radiolucente), pois não contém osso. Com
o passar do tempo, o calo começa a amadurecer e as células osteogênicas dife-
renciam-se em osteoblastos e condroblastos, que formarão osso e cartilagem
perto do local da fratura, respectivamente.

EXPLICANDO
Os osteoblastos são células responsáveis pela formação do tecido
ósseo, enquanto a reabsorção do osso antigo é realizada pelos osteo-
clastos (DUTTON, 2010).

Por último, a fase de remodelamento será marcada por dois estágios: de


união clínica e união radiológica. O estado de união clínica é quando o local da
fratura está firme e não se move mais. No exame de radiografia, será possível
observar que existe osso no calo (calo duro), e ainda será possível perceber
a linha da fratura. Já no estado de união radiológica, o osso está cicatrizado
e consolidado, ou seja, o calo duro foi completamente substituído por tecido
ósseo lamelar maduro.

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Após a fratura dos ossos esponjosos, como a escápula, a fase inflamatória
se caracteriza pela formação de um calo interno (endosteal). Isso é possível,
em função da rica irrigação sanguínea e da área larga de contato ósseo, de
modo que a união seja mais rápida do que no osso cortical denso. O restante
do processo de consolidação, fase de reparo e remodelamento, ocorre da
mesma forma.
No entanto, o tempo de consolidação pode variar entre os pacientes e de-
pende da extensão da lesão, da qualidade óssea e do suprimento sanguíneo
na região, mas o esperado é que em crianças demore de 4 a 6 semanas, em
adolescentes de 6 a 8 semanas e em adultos de 10 a 18 semanas. É importante
entender o processo de consolidação normal para prevenir e/ ou evitar com-
plicações que podem ocorrer durante o processo. Essas complicações podem
retardar o tempo de cicatrização e recuperação do paciente, além de expô-lo a
sérios riscos de saúde (KISNER; COLBY, 2017).

Complicações e distúrbios de consolidação associados


às fraturas
Com a ocorrência da fratura, tem início o processo de cicatrização tanto do
tecido ósseo quanto dos tecidos moles que podem ter sido acometidos. Duran-
te esse processo cicatricial, podem ocorrer diversas complicações e distúrbios
que interferem na boa evolução da cicatrização dos tecidos ósseos e moles, e
da recuperação física do paciente. Conforme a extensão da lesão, principal-
mente em fraturas abertas e instáveis, há uma maior chance de ocorrer lesões
vasculares e nervosas associadas à fratura. Isso pode demandar reparos cirúr-
gicos ou, até mesmo, comprometimento severo na função física dos pacientes,
além de retardar o processo de consolidação óssea. Outros exemplos que ve-
remos a seguir são a osteomielite, a embolia gordurosa, a síndrome comparti-
mental e alguns distúrbios de consolidação.
É importante ressaltar que a osteomielite, no caso, é um processo inflama-
tório e de origem infecciosa, que acomete o tecido ósseo. Ela pode ser aguda
ou crônica (quando o processo inflamatório está instalado há mais de um mês).
Contudo, não necessariamente está associada às fraturas, pois ela pode iniciar
em função de um tratamento inadequado para um agente infeccioso ou a par-

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tir de infecção crônica de partes moles adjacentes. Nas situações de fraturas,
ainda mais abertas (ocorre em 5 a 50%), há uma maior chance de infecção no
momento da lesão e durante o tratamento, principalmente se for equivocado.
No entanto, caso a infecção não seja tratada, os microrganismos permanece-
rão no tecido ósseo, aumentando cada vez mais a necrose e lesão da região
acometida (HEITZMANN e colaboradores, 2018).
Uma consequência possível é a embolia gordurosa que ocorre com a libe-
ração de êmbolos gordurosos na corrente sanguínea, devido à mobilidade no
foco da fratura, principalmente em diáfises de ossos longos, como o fêmur e
o úmero. Uma forma de prevenir a embolia gordurosa é por meio da imobili-
zação do segmento acometido, o quanto antes (SILVA e colaboradores, 2017).
Há também a síndrome compartimental, que é caracterizada pelo aumento
da pressão dentro de um dos compartimentos da perna, fechado por fáscias,
e afeta a viabilidade dos tecidos. Após traumas graves, como as fraturas, o
paciente pode apresentar dor, paresia dos músculos do compartimento, hi-
poestesia ou parestesia na topografia dos nervos que atravessam o segmento
afetado, endurecimento ou inflamação e pulsos distais reduzidos ou ausentes.
O tratamento é cirúrgico, por meio de fasciotomias descompressivas, para evi-
tar a necrose de músculos (PITTA e colaboradores, 2014).
Já os distúrbios de consolidação envolvem qualquer evento anormal no
processo cicatricial do osso, podendo atrasar o processo ou, até mesmo, gerar
deformidades. O atraso na consolidação é quando a fratura demora
mais tempo que o esperado para cicatrizar, já a ausência de conso-
lidação é quando a fratura consolida por meio de união
fibrosa ou pseudoartrose. Outro distúrbio é a conso-
lidação viciosa, em que a fratura consolida em uma
posição inadequada, gerando deformidades ósseas
e articulares (DUTTON, 2010).

Deslocamentos articulares associados às fraturas


Os deslocamentos articulares, como luxações e subluxações, podem ocor-
rer associados com as fraturas, principalmente em traumas graves. De um
modo geral, as luxações e subluxações acontecem em fraturas desviadas e

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cominutivas, que também geram a lesão de outros tecidos responsáveis por
fornecer a estabilidade para a articulação, como ligamentos, ossos e músculos.
As articulações, mais frequentemente, acometidas pelas chamadas fraturas-lu-
xações são: mão, carpo, cotovelo, ombro, quadril, joelho, tálus, médio pé e ante
pé (COURT-BROWN e colaboradores, 2016).
Assim como para as fraturas isoladas, o mecanismo de lesão das fraturas-
-luxações depende da intensidade, da direção, do ponto de contato e do tipo
de força que se aplicou durante o trauma. As causas dessas lesões costumam
ser quedas, traumas, golpes, acidentes e demais situações que provoquem um
impacto de alta energia sobre as articulações.
Geralmente, os sinais e sintomas presentes nas fraturas-luxações são: dor,
edema, rigidez, fraqueza, deformidade, perda da coordenação, crepitação, dor-
mência e formigamento, que significam envolvimento de nervo associado (seja
por lesão direta ao nervo, ou como efeito secundário do edema). Esses sinais
e sintomas são semelhantes às fraturas isoladas, o que justifica a necessidade
de realizar um exame inicial detalhado, com o objetivo de identificar possíveis
luxações e subluxações associadas às fraturas graves, bem como lesões nervo-
sas e vasculares que possam ter ocorrido.
As fraturas associadas às luxações ou subluxações são lesões graves que,
normalmente, exigem tratamento cirúrgico tanto para o reposicionamento ar-
ticular quanto para a estabilidade do segmento articular. Além disso, são le-
sões que demandarão cuidados e estratégias especiais durante o tratamento
fisioterapêutico, visto que o comprometimento do sistema musculoesquelético
foi superior ao das fraturas isoladas.

Fraturas: assistência clínica cirúrgica


As fraturas são condições frequentes em hospitais de pronto atendimen-
to, e esse primeiro atendimento é essencial para a adequada evolução da
consolidação e, consequentemente, do quadro clínico do paciente.
Após o trauma e a suspeita de fratura, o médico traumato-ortopedista
solicitará exames de imagem que confirmem ou descartem essa suspeita.
Além disso, esse exame permitirá identifi car e classifi car o tipo de fratura
e a localização exata em que ela ocorreu. Com essas informações, o mé-

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dico poderá escolher o tratamento
mais adequado, seja ele cirúrgico ou
conservador. Contudo, independen-
temente do tratamento escolhido (ci-
rúrgico ou conservador), é necessá-
rio realizar a redução da fratura, de
forma cuidadosa e atraumática, para
minimizar qualquer dano adicional à
vascularização já comprometida dos
fragmentos fraturados e do envoltó-
rio de partes moles.
A redução da fratura pretende restaurar as relações anatômicas do osso fra-
turado e do segmento, mediante a reversão do mecanismo de deslocamento
dos fragmentos durante a lesão. Então, para o sucesso do tratamento médico
e, posteriormente, do tratamento fisioterapêutico, é essencial que a redução
seja realizada e obtida a restauração correta do comprimento, do alinhamento
axial e da rotação na diáfise (COURT-BROWN e colaboradores, 2016). Vale res-
saltar que há quatro tipos de redução: aberta, fechada, direta e indireta.
A redução aberta é aquela em que o local da fratura fica exposto, permitin-
do o exame e a inspeção visual e a manipulação direta de alguns fragmentos
ósseos. Esse tipo de redução costuma ser aplicado às fraturas articulares com
desvio e impactação da superfície articular, fraturas que requerem alinhamen-
to axial exato (fraturas do antebraço e fraturas metafisárias simples), insucesso
da redução fechada, alto risco para lesão às estruturas nervosas e vasculares e
impossibilidade de acesso (COURT-BROWN e colaboradores, 2016).
Já na redução fechada não há exposição da fratura, ou seja, ela depende
inteiramente de um alinhamento indireto dos fragmentos por ligamentotaxia
ou por tração do envoltório de tecido mole. Esse método de redução é indi-
cado para fraturas diafisárias, fraturas com desvio mínimo e em idosos, com
fraturas do colo do fêmur, fraturas trocantéricas, fraturas umerais subcapitu-
lares e certas fraturas do rádio distal (COURT-BROWN e colaboradores, 2016).
Há também a redução direta, em que os fragmentos da fratura devem ser
manipulados diretamente pela aplicação de diferentes instrumentos ou das
mãos, o que em geral depende de uma exposição aberta do local da fratura.

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Em função disso, ela pode ser considerada uma cirurgia minimamente invasiva,
já que permite obter restauração precisa da anatomia óssea. Entretanto, inter-
fere na biologia do osso e das partes moles, aumenta o risco de infecção e pre-
dispõe a um atraso na consolidação (COURT-BROWN e colaboradores, 2016).
Por último, a redução indireta é aquela em que a redução e o alinhamento
dos fragmentos da fratura são alcançados sem que haja exposição do local
da fratura, devido à aplicação da tração manual ou esquelética, uso de um
distrator ou por qualquer osteossíntese fechada com haste intramedular
aplicada com o uso de mesa de tração ortopédica. A redução fechada não
expõe o local da fratura, por isso consegue diminuir o risco de infecções e de
lesões nos tecidos moles, porém, por ser uma técnica complexa, há o risco
de o fragmento ósseo não ficar adequadamente alinhado (COURT-BROWN e
colaboradores, 2016).
A redução da fratura é o primeiro, e talvez mais importante, passo do
tratamento. Depois da correta redução, o paciente ficará um período imo-
bilizado para a consolidação óssea e cicatrização dos demais tecidos moles
acometidos. Embora se tenha uma estimativa do prazo de imobilização, isso
dependerá do processo de consolidação, da qualidade do osso acometido,
do procedimento cirúrgico, dentre tantos outros fatores que serão rotineira-
mente acompanhados pela equipe médica.

Osteossíntese, fixadores internos e fixadores externos


Em muitos casos, apenas a redução da fratura não é suficiente e é preciso
realizar a osteossíntese (procedimento cirúrgico utilizado para corrigir a fratu-
ra e alinhar o segmento acometido). Para que isso seja possível, são aplicados
fixadores internos e/ ou externos no segmento para fixar e imobilizar o foco da
fratura (HEBERT e colaboradores, 2016).
Alguns princípios norteiam as osteossíntese, assim como a escolha pelo fi-
xador mais indicado, sendo alguns deles: redução da fratura; fixação estável
(a estabilização das fraturas deve ser suficiente para suportar as demandas
biomecânicas locais, podendo ser obtida a partir de várias técnicas e tipo de
implantes); preservação do suprimento sanguíneo e mobilização precoce (HE-
BERT e colaboradores, 2016). No entanto, a escolha pelo fixador adequado para

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cada paciente passa pelo tipo de fratura, pelo mecanismo e energia do trauma,
pelo perfil do paciente e pela qualidade óssea.
Os fixadores internos são aplicados por baixo do tecido mole e podem esta-
bilizar o osso por meio de hastes intramedulares (interior do canal medular) ou
por meio de parafusos, placas convencionais não bloqueadas, placas de furos
bloqueados e fios em banda de tensão (exterior do osso) (Figura 14) (HEBERT e
colaboradores, 2016).

Figura 13. A) Exemplo de fraturas no rádio e na ulna; B) Tratadas com fixadores internos, placa e parafusos. Fonte:
Shutterstock. Acesso em: 29/01/2021.

Os fixadores externos são aplicados de forma percutânea, fazendo com


que esses dispositivos sejam mais versáteis (vários tipos de montagens e con-
figurações) e podendo ser colocados rapidamente (característica fundamental
nos centros de urgência e emergência). Mesmo com essas vantagens, esses
fixadores apresentam altos índices de infecção nos trajetos dos pinos, perda
da redução, retardo de consolidação e consequente necessidade de enxertia
óssea. Geralmente, eles são usados por um período até que seja possível rea-

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lizar a osteossíntese e implantar um fixador interno definitivo. Além disso, vale
lembrar que os fixadores externos são formados por pinos rosqueados, cali-
brosos e parafusados ou fios metálicos, transfixantes e barras longitudinais ou
anéis circulares (Figura 15) (HEBERT e colaboradores, 2016).

ASSISTA
Obtenha mais informações sobre os princípios me-
cânicos, indicações, tipos de estruturas, técnicas de
inserção, cuidados e complicações associados aos
fixadores externo no vídeo Fixadores Externos - Dr.
Camilo Partezani Helit.

Os métodos, tanto para redução quanto para fixação das fraturas, são di-
versos e dependem de vários fatores que o médico levará em conta no momen-
to que iniciar o atendimento do paciente. Embora todos esses procedimentos
sejam atribuições médicas, é imprescindível que o fisioterapeuta tenha conhe-
cimento sobre esses métodos e saiba quais foram utilizados no tratamento
clínico cirúrgico do paciente, para o tratamento fisioterapêutico adequado.

Figura 14. Exemplo da utilização de um fixador externo no tratamento de fraturas da tíbia. Fonte: Shutterstock. Acesso
em: 29/01/2021.

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Artrodese e artroplastias
A artrodese é a fusão cirúrgica das superfícies de uma articulação. Ela é in-
dicada em casos de dor articular intensa e instabilidade articular, que pode ser
gerada por uma fratura, em que a mobilidade da articulação é uma preocupa-
ção secundária. Em função disso, a artrodese é aplicada com maior frequência
no punho, polegar, tornozelo e na coluna vertebral, em especial nas regiões
cervical e lombar.
A artrodese consegue estabilizar a articulação e eliminar a dor, porém, de-
vido à estabilização, as cargas são transferidas para as articulações adjacentes,
levando à hipermobilidade e à dor nesses locais. Nas fraturas em que o médico
optar pela artrodese, o paciente também ficará imobilizado após a intervenção
cirúrgica até cicatrização óssea e a anquilose completa da articulação acometi-
da (KISNER; COLBY, 2017).
Já a artroplastia pode ser definida como qualquer procedimento articular de re-
construção ou substituição, com ou sem implante articular, destinado a aliviar a dor
e melhorar a função. Diferentemente da artrodese, a artroplastia permite a mobili-
dade da articulação. Além disso, as próteses utilizadas nas artroplastias podem ser
aplicadas em quaisquer articulações do corpo humano, embora sejam amplamente
utilizadas no quadril e joelho. Sabe-se que existe uma gama de materiais, modelos e
métodos que podem ser empregados nelas.
As artrodeses e artroplastias não são as primeiras opções de intervenção cirúrgi-
ca das fraturas, mas podem ser necessárias em casos crônicos ou graves. Isso justi-
fica a importância de o fisioterapeuta conhecer tais procedimentos e as consequên-
cias que eles podem gerar nas articulações adjacentes, para direcionar o tratamento
fisioterapêutico para as reais necessidades do paciente (KISNER; COLBY, 2017).

Fraturas: assistência fisioterapêutica


Após a assistência clínica cirúrgica, seja por meio do tratamento conserva-
dor ou do cirúrgico, os pacientes acometidos por fraturas ficarão um período
utilizando imobilizadores como gesso, aircasts, robofoots, ente outros. Esse
período pode durar muitas semanas, conforme a severidade da fratura e/ ou
o procedimento cirúrgico utilizado.

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Mais uma vez, a escolha dos imobilizadores não necessariamente passará
pelo fisioterapeuta, entretanto é importante entender os efeitos da imobi-
lização sobre os tecidos ósseos e moles, envolvidos ou não na fratura. Com
a lesão e os possíveis procedimentos cirúrgicos, ocorrerá a lesão de tecidos
moles ao redor da fratura e a formação de cicatriz, conforme o processo de
consolidação se estabeleça. A partir da imobilização, além dos efeitos da le-
são e dos procedimentos cirúrgicos, ocorrerá o enfraquecimento do tecido
conjuntivo, degeneração da cartilagem articular, atrofia muscular, desenvol-
vimento de contraturas e diminuição da circulação. Contudo, mesmo com to-
das essas consequências, a imobilização é fundamental para a consolidação
óssea (DUTTON, 2010; KISNER; COLBY, 2017).

CURIOSIDADE
Além dos efeitos deletérios provocados pelo período de imobilização, é
importante ressaltar que os tecidos conjuntivos também se tornam mais
vulneráveis a deformações e rupturas em comparação com tecidos nor-
mais sujeitos a níveis de tensão similares (DUTTON, 2010).

A cicatrização de tecidos moles depende da tensão aplicada sobre esses


tecidos, até mesmo, como uma forma de reorganizar e orientar o processo ci-
catricial. Nesse caso, a mobilização precoce seria ideal para a cicatrização dos
tecidos moles, o que é contraindicado para a consolidação do tecido ósseo.
Alguns casos, por exemplo as fraturas tratadas com fixação interna, podem
receber estímulos e mobilizações não destrutivas, como exercícios que não
comprometam o alinhamento do foco da fratura (KISNER; COLBY, 2017).
Outra condição associada à fratura pode ser a imobilização no leito e isso
trará ainda mais consequências ao estado geral de saúde do paciente. Além
dos cuidados com o foco da fratura, será importante realizar mobilizações e
exercícios que promovam a recuperação e/ ou a otimização do sistema car-
diorrespiratório, assim como das outras articulações que não foram compro-
metidas pela fratura (KISNER; COLBY, 2017).
Com o término do período de imobilização, alguns comprometimentos
serão percebidos, tais como a diminuição da amplitude de movimento, da
mobilidade intra-articular e da flexibilidade muscular, a presença de atrofia
muscular, pouca resistência à fadiga e dor aos movimentos.

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CURIOSIDADE
A atrofia muscular, provocada pela inatividade advinda da imobilização,
começa dentro de quatro horas do início do período de repouso, resul-
tando em reduções na massa, diâmetro da célula e do número de fibras
musculares (DUTTON, 2010).

Quanto antes o paciente tiver acesso ao tratamento fisioterapêutico, meno-


res serão as consequências pós-imobilização. Mesmo que não seja recomen-
dado mobilizações amplas e exercícios intensos no foco da fratura durante o
período de imobilização, o fisioterapeuta poderá orientar, diminuir os efeitos da
inflamação e da imobilização, bem como manter a mobilidade e o desempenho
muscular de outras articulações que não foram comprometidas pela lesão.
O início do tratamento fisioterapêutico é marcado pela avaliação cinesio-
lógica funcional, em que o maior número de informações possíveis deve ser
questionado sobre a lesão e o tratamento clínico cirúrgico que foi adotado em
seguida. Após a avaliação cinesiológica funcional (história do paciente, obser-
vação, palpação e exames e testes específicos), o fisioterapeuta determinará
o diagnóstico cinesiológico funcional e os objetivos fisioterapêuticos, levando
em consideração os efeitos do trauma que ocasionou a fratura, do tratamento
médico aplicado e do período de imobilização (MAGEE, 2010).
Como forma de complementar as informações obtidas na avaliação ci-
nesiológica funcional, o fisioterapeuta deverá entrar em contato com a
equipe médica que atendeu o paciente. Isso será importante para o su-
cesso do tratamento fisioterapêutico, pois é essencial saber se ocorreu
cicatrização clínica ou radiológica, como foi a redução, se houve algum tipo
de osteossíntese e todas as informações que forem pertinentes ao quadro
clínico do paciente.

Objetivos do tratamento fisioterapêutico


De um modo geral, o tratamento fisioterapêutico, destinado a fraturas, poderá
ser dividido em dois grandes momentos: período de imobilização e período pós-
-imobilização. Para cada um desses momentos, o fisioterapeuta deverá realizar a
avaliação cinesiológica funcional e determinar o diagnóstico cinesiológico funcional
e os objetivos fisioterapêuticos específicos.

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No período de imobilização, o paciente apresentará
edema, dor, entre outros sinais de processo inflamatório,
além dos comprometimentos provocados pela imobili-
zação, como atrofia muscular, formação de contraturas,
degeneração da cartilagem, diminuição da circulação e li-
mitações funcionais. Tendo isso em mente, os objetivos fisio-
terapêuticos serão:
• Diminuir a dor e o edema;
• Controlar o processo inflamatório;
• Orientar o paciente sobre adaptações funcionais;
• Diminuir os efeitos da imobilização;
• Manter a mobilidade, o alongamento e o desempenho muscular das articula-
ções não acometidas pela fratura;
• Melhorar/ manter o condicionamento cardiorrespiratório.
Em geral, no período pós-imobilização, o paciente apresenta dor aos mo-
vimentos, amplitude de movimento e mobilidade intra-articular diminuídas,
aderências cicatriciais e diminuição do desempenho muscular. Para esse mo-
mento, os objetivos serão:
• Orientar o paciente;
• Diminuir a dor aos movimentos;
• Aumentar a mobilidade intra-articular e a amplitude de movimento;
• Iniciar exercícios ativos e, gradualmente, inserir descarga de peso sobre a
articulação;
• Melhorar o desempenho muscular (resistência, força e potência muscular);
• Melhorar a propriocepção, o equilíbrio e o senso de posição articular;
• Melhorar/manter o condicionamento cardiorrespiratório;
• Treinar atividades complexas e que exijam boa coordenação da articula-
ção acometida;
• Treinar atividades funcionais e/ou esportivas;
• Permitir que o paciente retorne às atividades funcionais e esportivas sem
dor e limitações funcionais;
• Alta da fisioterapia.
Esses objetivos, tanto do período de imobilização quanto do pós-imobilização,
são generalistas e podem ser aplicados a alguns pacientes, mas não significa que

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todos eles apresentarão essas condições e limitações e não necessariamente serão
esses os objetivos fisioterapêuticos mais adequados. Os objetivos listados anterior-
mente auxiliam na compreensão dos efeitos da lesão e da imobilização, e dos desa-
fios que precisam ser enfrentados durante o tratamento.

Programa de atendimento fisioterapêutico


O programa de atendimento fisioterapêutico será planejado, de forma indivi-
dual e personalizada, a partir da avaliação cinesiológica funcional, bem como do
seu diagnóstico e dos objetivos fisioterapêuticos. Cada paciente apresentará sinais
e sintomas específicos, diferentes graus de limitação, além de objetivos e necessida-
des diferentes em relação ao tratamento.
Sabemos que a fisioterapia traumato-ortopédica conta com muitos recursos,
métodos e técnicas que podem ser aplicados para alcançar os objetivos fisiotera-
pêuticos e tratar as fraturas. Agora, descreveremos alguns recursos fisioterapêu-
ticos, com os seus respectivos efeitos, que podem ser aplicados no tratamento
das fraturas e das consequências da imobilização (DUTTON, 2010; PRENTICE, 2012;
PRENTICE, 2014; KISNER; COLBY, 2017).
• TENS e correntes analgésicas: analgesia;
• Correntes interferenciais: controle do edema e analgesia;
• Crioterapia e PRICE (Proteção, Repouso, Gelo ou Ice, Compressão e Elevação):
controle do edema e analgesia;
• Turbilhão: controle do edema, analgesia e redução dos espasmos musculares;
• Laser: favorecer o processo cicatricial, controlar o edema e diminuir a dor;
• Ultrassom: favorecer o processo cicatricial, controlar o edema e diminuir a dor;
• Compressão intermitente: controle e redução do edema.
Vale ressaltar também as técnicas de terapia manual e mobilização articular,
sendo elas:
• Técnicas de terapia manual (Cyriax, massagem, liberação miofascial, drenagem
e outras): relaxamento muscular, redução das tensões e contraturas que po-
dem ocorrer em função das lesões e melhora do fluxo circulatório;
• Técnicas de mobilizações articulares (Maitland, Mulligan,
Kaltenborn): ganho e reestabelecimento da amplitude de
movimento;

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• Máquina de movimento passivo contínuo (CPM, do inglês, continuos passive
motion): mobilização articular, melhora da fluidez do líquido sinovial e do retorno
venoso e circulatório.
Por fim, com relação à cinesioterapia, podemos citar:
• Exercícios terapêuticos para ganho e reestabelecimento do alongamento mus-
cular, da resistência, da força e da potência muscular, além da propriocepção, do
senso de posição articular, do equilíbrio e da coordenação;
• Exercícios específicos da função, que simulam e retreinam gestos como mar-
cha, saltos, corrida, gestos esportivos ou do dia a dia;
• Exercícios aeróbicos (bicicleta ergométrica, esteira, elíptico, entre outros)
para melhora e/ ou recuperação do sistema cardiorrespiratório e da capacida-
de ventilatória.
As orientações ao paciente também fazem parte do programa de tratamento
fisioterapêutico e desempenham um papel muito importante, pois através de orien-
tações adequadas será possível prevenir compensações em outras articulações e o
agravamento do quadro clínico do paciente. Assim, o fisioterapeuta pode orientar
quanto à lesão (adaptações funcionais), ao tratamento fisioterapêutico (objetivos,
plano de tratamento e exercícios para casa) e ao que se espera até o momento da
alta. Na maioria dos casos, caberá ao fisioterapeuta ensinar ao paciente sobre as ór-
teses, como tipoias para os membros superiores, os dispositivos auxiliares de mar-
cha (andadores e muletas) e demais órteses para os membros inferiores.
O tratamento fisioterapêutico pode ser desenvolvido com muitos recursos
e métodos que estão à disposição do fisioterapeuta, porém esses recursos e
métodos precisam ser assertivamente escolhidos para contemplar as necessi-
dades de cada paciente. Por isso, é importante realizar a avaliação cinesiológi-
ca funcional, entender o mecanismo e o tipo da fratura, os procedimentos que
foram realizados pela equipe médica, bem como as condições e limitações que
o paciente apresenta, para planejar o tratamento fisioterapêutico de forma ade-
quada e contemplar os seus objetivos.

Elaboração do prognóstico fisioterapêutico


O prognóstico fisioterapêutico está diretamente relacionado com os dados
obtidos na avaliação cinesiológica funcional, onde são identificados déficits que

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precisam ser corrigidos e/ ou melhorados ao longo da
intervenção fisioterapêutica (DUTTON, 2010).
Como forma de acompanhar se esses déficits es-
tão sendo corrigidos e melhorados, o fisioterapeuta
deve realizar reavaliações sistemáticas, que permitem
identificar se o quadro clínico do paciente está evoluindo
ou regredindo e se o plano fisioterapêutico está adequado
ou precisa de alterações.
Nesse contexto, o prognóstico fisioterapêutico se baseia nos ganhos e melhorias
que se pretende atingir em um determinado intervalo de tempo, estipulado pelo
fisioterapeuta. Por exemplo, se pensarmos no período de imobilização das fraturas,
o prognóstico será alcançar os objetivos fisioterapêuticos (diminuir a dor e o edema,
controlar o processo inflamatório, orientar o paciente sobre adaptações funcionais,
diminuir os efeitos da imobilização, manter a mobilidade, o alongamento e o desem-
penho muscular das articulações não acometidas pela fratura e melhorar/ manter
o condicionamento cardiorrespiratório) dentro desse intervalo de poucas semanas,
visto que, em geral, o paciente permanece com imobilizador por quatro a oito se-
manas.
Esse prognóstico também será importante para a próxima etapa do tratamento
fisioterapêutico (pós-imobilização), já que o paciente apresentará melhores condi-
ções clínicas e conseguirá evoluir dentro da expectativa do prognóstico elaborado
nesta nova etapa. Dessa forma, as reavaliações permitirão avaliar se os objetivos
fisioterapêuticos estão sendo progressivamente cumpridos e se o prognóstico está
coerente com a evolução clínica do paciente. Tais informações determinarão a alta
da fisioterapia, marcando esse momento pelo alcance dos objetivos fisioterapêuti-
cos e da melhora da função física e da qualidade de vida do paciente.

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Sintetizando
As fraturas são caracterizadas por qualquer perda na continuidade óssea.
Elas estão entre as lesões mais corriqueiras dos serviços de urgência e emer-
gência, assim como na prática clínica do fisioterapeuta traumato-ortopédico.
Os mecanismos de lesão das fraturas são diversos e podem estar associa-
dos à trauma, golpes, quedas, acidentes, além do uso excessivo e repetitivo,
como nas fraturas por estresse.
A classificação das fraturas pode ser complexa e considerar a localização, a
extensão da lesão, se teve desvio ou não, se é aberta ou fechada, se é instável
ou estável, além das configurações, como transversa, oblíqua, cominutiva, es-
piral, por avulsão e em galho verde. Embora isso seja identificado pelo médico
com exames de imagem, é essencial que o fisioterapeuta conheça os meca-
nismos de lesão, assim como a classificação das fraturas. Isso será decisivo
para o contato entre a equipe médica e o fisioterapeuta, mas também para o
adequado entendimento do quadro clínico do paciente e, consequentemente,
do sucesso do tratamento fisioterapêutico.
Além de compreender os mecanismos e a classificação das fraturas, o fisio-
terapeuta deve estar ciente sobre os tratamentos clinico cirúrgicos e as carac-
terísticas e consequências relacionadas a cada um deles. Assim, a escolha do
tratamento clinico cirúrgicos passa por muitas condições, como a natureza do
impacto, a gravidade da lesão, a qualidade do osso e a idade do paciente.
O tratamento conservador será a melhor opção para fraturas estáveis ou
para fraturas instáveis em pacientes idosos, fragilizados e com comorbidades
que contraindiquem o procedimento cirúrgico. A partir disso, as condutas da
fisioterapia deverão ser escolhidas considerando que pode haver algum foco
de instabilidade na região da fratura.
Nos casos de procedimentos cirúrgicos, existe a garantia de fixa-
ção e estabilidade do foco da fratura. Entretanto, o médico, basea-
do nas suas experiências e habilidades, poderá escolher
entre inúmeros métodos de fixação interna ou fixação
externa para estabilizar o foco de fratura do pacien-
te. Assim, o entendimento e conhecimento sobre a
classificação e o tratamento clinico cirúrgico das fratu-

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ras, não exclui a necessidade da realização da avaliação cinesiológica funcional
por parte do fisioterapeuta. Após o procedimento cirúrgico e/ ou período de
imobilização, são esperados muitos prejuízos ao sistema musculoesquelético
e que podem variar, em maior ou menor grau, de um paciente para o outro.
Com a avaliação e determinação do diagnóstico cinético funcional individualiza-
do, o fisioterapeuta poderá determinar os objetivos e, consequentemente, o prog-
nóstico fisioterapêutico. Nesse momento, as informações sobre a classificação da
fratura e o método clínico cirúrgico serão decisivas, visto que alguns pacientes pode-
rão progredir mais rapidamente que outros, principalmente, pelo método de fixação
escolhido pelo médico. Conforme o nível de estabilidade e fixação da lesão, poderá
ser aplicado certo nível de tensão no local da fratura, por meio de exercícios ativos, e,
com isso, a recuperação poderá ser mais rápida e os prejuízos minimizados.
De um modo geral, o foco do tratamento fisioterapêutico será diminuir a dor,
controlar o edema e o processo inflamatório, melhorar a mobilidade articular e
a amplitude de movimento, melhorar o desempenho muscular, melhorar o con-
dicionamento cardiorrespiratório e permitir que o paciente retorne as suas ativi-
dades de vida diária, esportivas e profissionais sem dor e limitações funcionais.
Para contemplar todos esses objetivos, a fisioterapia traumato-ortopédica
conta com uma ampla gama de recursos, métodos e técnicas, como correntes
elétricas, ultrassom, laser, técnicas de terapia manual, cinesioterapia, entre ou-
tros. Devido a essa diversidade de opções, é importante que o fisioterapeuta
saiba aplicar o recurso e saiba qual o propósito dessa aplicação.
Ainda pensando na grande variedade de recursos fisioterapêuticos, será in-
teressante que o fisioterapeuta realize reavaliações sistemáticas como forma
de avaliar a efetividade do plano de tratamento, se os objetivos estão sendo
alcançados e determinar a alta do paciente da fisioterapia. Em alguns casos,
essas reavaliações levarão em consideração as informações obtidas pela equi-
pe médica, com base nos exames de imagem, como o estágio da consolidação
óssea e a cicatrização dos tecidos moles envolvidos na fratura.
Diante disso, é possível perceber que o tratamento fisioterapêutico volta-
do para as fraturas é bastante amplo e complexo. O fisioterapeuta deve ter
conhecimento sobre os mecanismos de lesão, a classificação das fraturas, os
procedimentos clínico cirúrgicos, bem como sobre as consequências disso para
o sistema musculoesquelético.

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UNIDADE

3 ALGIAS E
DEFORMIDADES DA
COLUNA VERTEBRAL E
TRAUMATISMOS DOS
TECIDOS MOLES

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Objetivos da unidade
Conhecer a definição, a etiologia e o quadro clínico dos processos álgicos da
coluna vertebral, bem como a assistência fisioterapêutica para esses processos;

Entender a definição, a etiologia, as repercussões mecânicas e a assistência


fisioterapêutica das deformidades da coluna vertebral;

Compreender o conceito, a classificação, a etiologia dos traumatismos dos


tecidos moles, assim como a assistência fisioterapêutica destinada a esses
traumatismos.

Tópicos de estudo
Processos álgicos da coluna Assistência fisioterapêutica nas
vertebral deformidades da coluna vertebral
Definição, etiologia e quadro
clínico dos processos álgicos da Traumatismos dos tecidos
coluna vertebral moles
Assistência fisioterapêutica Conceito, classificação e
nos processos álgicos da coluna etiologia dos traumatismos dos
vertebral tecidos moles
Assistência fisioterapêutica nos
Deformidades da coluna traumatismos dos tecidos moles
vertebral
Definição, etiologia e
repercussões mecânicas
das deformidades da coluna
vertebral

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Processos álgicos da coluna vertebral
A coluna vertebral é uma estrutura complexa, formada por 33 vértebras
distribuídas da seguinte forma: 7 vértebras cervicais, 12 vértebras torácicas, 5
vértebras lombares, 5 vértebras sacrais e 4 vértebras coccígeas.
Além da estrutura vertebral, há discos intervertebrais, ligamentos e inú-
meros músculos, a fim de fornecer estabilidade e mobilidade para a coluna
vertebral. É importante ressaltar que, mesmo com essa estrutura de vértebras,
ligamentos e discos intervertebrais, a maior parte da estabilidade da coluna
vertebral é oriunda das ações musculares (PRENTICE, 2012).
A partir dessa estrutura, a coluna vertebral desempenha um papel para
a mobilidade humana, visto que fornece estabilidade para que os membros
superiores e inferiores realizem movimento, recebe e distribui as cargas mecâ-
nicas e protege a medula espinhal (HAMILL; KNUTZEN; DERRICK, 2016). Assim,
sua importância para o desempenho dos movimentos do dia-a-dia, bem como
movimentos esportivos, faz com que fique exposta a diferentes lesões, as
quais podem ocorrer por esforço repetitivo, por traumas e por alterações pos-
turais, causando sintomas dolorosos e restrições de mobilidade (HALL, 2020).
Além das lesões com causas identificadas, existem as dores na coluna vertebral
de origem inespecífica, ou seja, são dores que não estão associadas a um even-
to traumático, estresse repetitivo ou alterações posturais. As dores inespecíficas
costumam ser a grande maioria das disfunções da coluna vertebral e acometem
mais a região lombar. Outra característica é que geralmente essa dor é autolimi-
tante, sendo resolvida em poucas semanas, independentemente do tratamento
médico ou fisioterapêutico aplicado (HALL, 2020).
Portanto, cada uma das regiões da coluna vertebral (cer-
vical, torácica, lombar e sacro) pode ser aco-
metida por lesões e disfunções de diferentes
etiologias. E, como resultado, o paciente
apresentará dor (cervicalgia, dorsalgia,
lombalgia, sacralgia e coccidinia), restri-
ções de mobilidade, diminuição do de-
sempenho muscular, da função física e da
qualidade de vida.

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Definição, etiologia e quadro clínico dos processos
álgicos da coluna vertebral
A coluna vertebral pode ser acometida por lesões de origem traumáticas, por
esforço repetitivo e por alterações e/ou deformidades posturais, além das dores de
origens inespecíficas. Entretanto, as lesões e disfunções podem apresentar um ca-
ráter agudo (duração de até sete dias) ou crônico (duração superior a três meses).
Geralmente, os sintomas associados a essas lesões são algias (dores) e limitações
funcionais, que geram redução da função física e da qualidade de vida dos pacientes.
Veja na sequência as principais algias da coluna vertebral, assim como suas
causas e aspectos relevantes, associados aos quadros clínicos (PRENTICE, 2012):
• Cervicalgia
A cervicalgia é um problema muito comum e se caracteriza por dor na
região da coluna cervical, em decorrência de um trauma (queda, acidente
automobilístico, golpe, pancada etc.), do esforço repetitivo e das alterações
posturais (como hiperlordose ou anteriorização da cabeça). É válido lem-
brar que a coluna cervical apresenta significativa mobilidade, o que favore-
ce a ocorrência de lesões de diferentes etiologias.
As lesões que geram cervicalgia são disfunções musculares (torcicolo,
espasmos, tensões excessivas, contraturas, entre outros), fraturas verte-
brais, hérnia de disco cervical, entorses ligamentares, lesões em chicote,
luxações vertebrais, estenose da região cervical, entre outros exemplos.
Dessas, a grande maioria é ocasionada por traumas na região cervical, en-
quanto que as disfunções musculares são rotineiramente causadas pelo
uso repetitivo da musculatura da cervical e pelas alterações posturais.
Sabe-se ainda que as cervicalgias podem estar relacionadas com distúr-
bios da articulação temporomandibular por causa da relação e da proximi-
dade entre essas articulações, como bruxismo, tensões excessivas, luxa-
ções e subluxações da mandíbula, entre outros.

CURIOSIDADE
As lesões traumáticas na coluna cervical requerem muita atenção no momento
dos primeiros socorros, visto que o comprometimento pode ser severo e levar
o paciente à morte, especialmente se a região cervical da medula espinhal
estiver envolvida.

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As cervicalgias apresentam quadros clínicos diversos, visto que dependem
do mecanismo e da extensão das lesões nos tecidos ósseos e moles da região.
Assim, elas podem manifestar-se como cefaleia, dor nos ombros, no tórax, no
dorso, ou parestesia, e dor em membros superiores.
• Dorsalgia
As dorsalgias são menos frequentes que as cervicalgias, muito em função
da maior estabilidade dessa região que é fornecida pelas costelas. As fraturas
na região dorsal da coluna são raras, mas podem acontecer em casos traumáti-
cos. As lesões mais comuns são hipercifose (alteração postural), a osteoporose
(envelhecimento, alteração postural e/ou esforço repetitivo) e as disfunções
musculares (espasmos, contraturas, pontos-gatilho, entre outras).
O quadro clínico pode incluir cefaleia, dor nos ombros, no tórax e dificulda-
des para respirar. Esses sintomas variam de acordo com o tipo e a extensão da
lesão na coluna torácica.
• Lombalgia
As lombalgias são as lesões mais comuns da coluna vertebral, pois a região
lombar tem muita mobilidade e atua na sustentação do peso do tronco, dos
membros superiores e da cabeça.

CONTEXTUALIZANDO
A lombalgia é uma das doenças mais comuns e incapacitantes conhecidas nos seres
humanos. Ela atinge até 65% das pessoas anualmente e até 84% das pessoas em
algum momento da vida, apresentando uma prevalência de, aproximadamente, 11,9%
na população mundial (BEZERRA; MAGALHÃES, 2021).

As lesões que podem gerar lombalgia são fraturas, fraturas por es-
tresse, espondilólise, espondilolistese, hérnia de disco, estenose do canal
medular lombar, disfunções musculares, síndromes dolorosas miofasciais,
contusões, entorses ligamentares, entre outras. Essas lesões
podem ser causadas por eventos traumáticos, por esforço re-
petitivo ou por alterações posturais (aumento ou re-
tificação da lordose lombar).
O quadro clínico das lombalgias se manifesta por
disfunções musculares, restrição dos movimentos e
dor irradiada e/ou parestesia para os membros inferiores.

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• Sacralgia
A região sacral, assim como a coluna torácica, apresenta maior estabili-
dade e, por isso, está menos exposta a lesões e disfunções musculoesque-
léticas. Entretanto, pode ocorrer entorses sacroilíacas, sacroileíte (infla-
mação da região entre o sacro e o íleo) e alterações, como hipermobilidade
ou hipomobilidade.
O quadro clínico das sacralgias pode resultar em sensibilidade no local,
dor irradiada e/ou parestesia para os membros inferiores e limitações fun-
cionais, que podem atingir a lombar e os quadris.
• Coccidinia
A dor na região do cóccix é, geralmente, causada por trauma direto na
região, como em uma queda na posição sentada ou algum acidente. Tais
lesões incluem: torções, subluxações e fraturas.
O quadro clínico dessas lesões se manifesta como irritação do plexo
coccígeo, dor persistente e/ou crônica, além de restrições aos movimen-
tos, como sentar, levantar e caminhar.

Assistência fisioterapêutica nos processos álgicos da


coluna vertebral
A assistência fisioterapêutica é fundamental no tratamento dos proces-
sos álgicos da coluna vertebral. Esses processos estão relacionados com li-
mitações funcionais e diminuição da qualidade de vida dos pacientes. Além
disso, podem se tornar crônicos e perdurar por muito tempo, tornando o
paciente cada vez mais limitado em suas atividades de vida diárias, espor-
tivas e profissionais.
O primeiro passo da assistência fisioterapêutica consiste na avaliação
cinesiológica funcional e é a partir dela que o plano de tratamento fisiote-
rapêutico será elaborado, considerando os aspectos individuais e as neces-
sidades reais de cada paciente (MAGEE, 2010).
Ao avaliar o paciente com algias da coluna vertebral, o fisioterapeuta
deverá seguir algumas etapas, sendo elas: conhecer a história do paciente,
fazer observação ou inspeção, palpação, exames e testes específicos (MA-
GEE, 2010). Na etapa da história do paciente é imprescindível obter o maior

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número de informações possíveis,
esclarecendo o comportamento dos
sintomas, a história da lesão atual e
de lesões pregressas.
Com essas informações, será pos-
sível observar a área da coluna onde
se encontra a queixa do paciente e
perceber se existem deformidades,
cicatrizes, hiperemia (vermelhidão),
hemorragias, áreas edemaciadas,
identificar as características do mo-
vimentos (muito lentos, muito rápidos), posturas antálgicas ou de proteção,
expressões faciais relacionadas com os sintomas, evidente hipotrofia mus-
cular, assimetrias, mau alinhamento postural, protusão ou protuberâncias
articulares (luxações ou fraturas), entre muitos outros exemplos. Vale res-
saltar que o paciente deverá ser observado em pé, sentado e em decúbito
dorsal, além de outras posturas que ele relate causarem dor ou limitações
funcionais.
Na etapa seguinte, o fisioterapeuta deverá palpar os tecidos ósseos
(processos transversos, processos espinhosos, articulações sacroilíacas) e
moles (músculos e ligamentos) dessa região, buscando identificar edema,
cistos, espaço, tensão muscular anormal e variações de temperatura, varia-
ções na forma das estruturas e diferenças na rigidez e textura dos tecidos
e distinguir tecidos flexíveis de outros mais resilientes, contrações muscu-
lares ou tremores involuntários, secura ou umidade excessiva da pele, sen-
sações anormais na pele, como diminuição da sensação (disestesia), dor-
mência (anestesia) ou aumento da sensação (hiperestesia), espaço anormal
na articulação, edema ósseo, articulações desalinhadas ou protuberâncias
anormais, associadas a uma articulação ou a algum osso.
Por fim, na etapa de exames e testes específicos, o fisioterapeuta
aplicará testes especiais ou funcionais, com a intenção de confirmar ou
descartar alguma suspeita diagnóstica. As avaliações que podem ser rea-
lizadas nessa etapa são: amplitude de movimento (passiva, ativo-assisti-
da e ativa, por meio de goniômetro, inclinômetro digital ou flexímetro),

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teste muscular (escalas, dinamômetro isocinético, dinamômetro manual
ou eletromiografia), teste neurológico, testes de movimentos acessórios,
testes de estabilidade articular, testes de desempenho funcional, testes
ortopédicos especiais para coluna vertebral, exame postural e medidas
antropométricas.
Além de todas essas informações, o fisioterapeuta pode analisar os
exames de imagem e laboratoriais, caso ele os tenha, com o objetivo de
complementar os dados da avaliação cinesiológica funcional, compreender
melhor seu quadro clínico e, dessa forma, favorecer a elaboração do plano
de tratamento fisioterapêutico.
Ao final da avaliação, o fisioterapeuta terá condições de terminar o
diagnóstico cinesiológico funcional, que consiste na identificação das dis-
funções resultantes dos processos álgicos, como dor em repouso, dor aos
movimentos, diminuição do desempenho e da flexibilidade muscular, limi-
tação de amplitude de movimento, edema, paresteia etc. (DUTTON, 2010).
Com o diagnóstico cinesiológico funcional definido, será possível elabo-
rar os objetivos fisioterapêuticos específicos e individualizados para cada
paciente, a fim de escolher as condutas e recursos capazes de atingi-los.
De um modo geral, os objetivos fisioterapêuticos para as algias da colu-
na são (PRENTICE, 2012):
• aliviar a dor;
• controlar o processo inflamatório (se houver);
• melhorar a mobilidade articular;
• melhorar a flexibilidade muscular;
• melhorar o desempenho muscular;
• aumentar a estabilidade e a propriocepção da coluna vertebral;
• treinar atividades complexas e funcionais;
• orientar e reeducar gestos motores;
• promover a alta da fisioterapia.
Para contemplar esses objetivos fisioterapêuticos, inúmeros recursos
podem ser utilizados, tais como (PRENTICE, 2012; PRENTICE, 2014):
• Termoterapia: como compressas quentes, bolsas de água quente, in-
fravermelho, ondas curtas para promover relaxamento muscular, aumento
do fluxo sanguíneo na região e melhora dos sintomas dolorosos;

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• TENS e correntes analgésicas: para promover alívio das dores na co-
luna vertebral;
• Técnicas de terapia manual (tração, pompage, massagem, libera-
ção miofascial, entre outras): para promover relaxamento muscular, au-
mento do fluxo sanguíneo na região e melhora dos sintomas dolorosos;
• Mobilizações articulares (Maitland, Mulligan, Kaltenborn): ganho e
reestabelecimento da amplitude de movimento;
• Cinesioterapia: exercícios de alongamento para os diferentes grupos
musculares da coluna vertebral, exercícios para melhorar o desempenho
muscular (resistência, força e potência muscular), exercícios para melhorar
a estabilidade e a propriocepção da coluna vertebral, treinamento de ati-
vidades (funcionais, esportivas, profissionais) e treinamento de atividades
complexas;
• Orientações e reeducação de gestos motores: para prevenir recidi-
vas desses processos álgicos.
Além do plano de tratamento fisioterapêutico, o prognóstico do pacien-
te também depende dos dados obtidos na avaliação cinesiológica funcio-
nal, visto que esses dados contribuirão para determinar prazos para reava-
liações periódicas, prognóstico e expectativa da alta do paciente.
Devemos considerar que as algias da coluna vertebral apresentam alta
prevalência na população e são disfunções frequentemente atendidas
pelos serviços de fisioterapia. Em função disso, é importante
entender as causas, mecanismos e o quadro clínico dessas
disfunções, bem como realizar a avaliação cine-
siológica funcional, da forma mais detalhada
e criteriosa, assim será possível determi-
nar o plano de tratamento fisioterapêuti-
co mais adequado para as necessidades de
cada paciente.

Deformidades da coluna vertebral


Na vista sagital ou perfil, a coluna vertebral apresenta quatro curvaturas
normais. As curvaturas torácica e sacral, que são côncavas anteriormente (ci-

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fose), estão presentes no nascimento e são chamadas de curvaturas primárias
da coluna vertebral. Entretanto as curvaturas lombar e cervical, que são côn-
cavas posteriormente (lordose), se desenvolvem pela sustentação do corpo na
posição ereta após a criança começar a se sentar e levantar e, por isso, são
consideradas secundárias. Já em uma vista frontal, a coluna deve ser reta e
sem desvios laterais, com apófises e corpos vertebrais alinhados (HALL, 2020).

Figura 1. Vista sagital e frontal da coluna vertebral. Fonte: Adobe Stock. Acesso em: 05/04/2021.

As diferentes curvaturas da coluna vertebral sofrem influências da here-


ditariedade, de condições patológicas, do estado mental do indivíduo e das
forças as quais a coluna vertebral está submetida habitualmente. Além disso,
qualquer alteração, ou deformidade em uma região da coluna vertebral pro-
vocará consequências nas demais, por causa da proximidade dos segmentos
e da relação necessária entre as regiões para permitir a mobilidade do tronco
(KISNER; COLBY, 2017).
As curvas cifóticas e lordóticas da coluna vertebral, em conjunto com os discos
intervertebrais e ligamentos, permitem a absorção das forças compressivas verti-
cais, o que não seria possível se a coluna fosse reta. Em função dessa atuação na
absorção de cargas, as quatro curvaturas vertebrais podem ser afetadas quando
a coluna vertebral é submetida habitualmente a forças assimétricas. Vale ressaltar

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que as alterações/deformidades nas curvaturas fisiológicas da coluna vertebral são
hipercifose, hiperlordose e retificação (plano sagital) e escoliose (plano frontal).

Definição, etiologia e repercussões mecânicas das


deformidades da coluna vertebral
Para a adequada absorção de cargas compressivas na coluna vertebral, é
importante a preservação das quatro curvaturas fisiológicas: lordose cervical,
cifose torácica, lordose lombar e cifose sacral. Inúmeros fatores podem contri-
buir para alterações e, consequentemente, levar a deformidades permanentes
nessas curvaturas.
De um modo geral, as deformidades da coluna vertebral são geradas pelo
aumento ou pela redução (retificação) das curvaturas fisiológicas, como as
hipercifoses/hiperlordoses e retificações cervicais ou lombares, respectiva-
mente. Outra deformidade na coluna vertebral é a escoliose, visível no plano
frontal e que se caracteriza pela rotação dos corpos vertebrais.
Observe na sequência a definição, a etiologia e as repercussões mecânicas
relacionadas com essas deformidades na coluna vertebral:
• Hipercifose
A postura hipercifótica consiste no aumento das curvaturas cifóticas da co-
luna vertebral, como na região torácica e sacral.

Figura 2. Ilustração de uma postura hipercifótica da coluna torácica (à direita) em comparação com uma postura
normal (à esquerda). Fonte: Adobe Stock. Acesso em: 05/04/2021.

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A hipercifose pode resultar de uma anomalia congênita, uma patologia
como a osteoporose ou a doença de Scheuermann, em que uma ou mais vér-
tebras em cunha se desenvolvem por causa do comportamento anormal da
lâmina epifisial.
Essa deformidade da coluna vertebral gera encurtamento dos músculos do
tórax e nos músculos dos membros superiores, originados no tórax (peitoral
maior e menor, Iatíssimo do dorso, serrátil anterior), músculos da região cervi-
cal e cabeça e músculos da região suboccipital. Por outro lado, gera distensão
dos músculos eretores da espinha e retratores da escápula, músculos anterio-
res do pescoço e flexores da cabeça (KISNER; COLBY, 2017).
• Hiperlordose
A postura hiperlordótica lombar é caracterizada por aumento do ângulo
lombossacral (o ângulo formado pela borda superior do corpo da primeira vér-
tebra sacral com a linha horizontal, que idealmente é de 30°), da anteversão
pélvica e da flexão do quadril (KISNER; COLBY, 2017).

Figura 3. Ilustração de uma postura hiperlordótica da coluna lombar (à esquerda) em comparação com uma postura
normal (à direita). Fonte: Adobe Stock. Acesso em: 05/04/2021.

A etiologia da hiperlordose inclui: deformidade congênita na coluna verte-


bral, fraqueza dos músculos abdominais, hábitos posturais ruins e supertreina-
mento em esportes/atividades que requerem hiperextensão lombar repetitiva.
A hiperlordose lombar, por exemplo, favorece o encurtamento dos
músculos flexores do quadril e dos extensores lombares, enquanto dis-

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tende os músculos abdominais, afetando completamente o desempenho
desses grupos musculares.
O estresse mecânico, somado a um número significativo de movimen-
tos em hiperextensão da coluna, aumenta a compressão sobre as estrutu-
ras da região posterior da coluna vertebral (ligamento longitudinal ante-
rior, espaço discal posterior do forame intervertebral, da dura-máter, dos
vasos sanguíneos, das raízes nervosas e das facetas articulares), sendo um
fator de risco para o desenvolvimento de lombalgia (KISNER; COLBY, 2017).
• Retificação das curvas
A retificação ocorre com mais frequência na coluna lombar, havendo
também a diminuição do ângulo lombossacral e da lordose lombar, ex-
tensão de quadril e retroversão da pelve. Essa deformidade leva ao en-
curtamento e, consequentemente, ao comprometimento na mobilidade e
no desempenho dos músculos flexores do tronco e extensores do qua-
dril, enquanto que os extensores do
tronco e flexores do quadril têm seu
desempenho afetado pelo aumento
do comprimento muscular.
Além disso, a ausência da curva-
tura lombar faz com que a absorção
de impactos nessa região predispo-
nha ao surgimento de lesões e que
aumentem o espaço discal poste-
rior, favorecendo a ocorrência de
protusões posteriores (HALL, 2020).
• Escoliose
A escoliose é uma deformidade
lateral da coluna vertebral, que nor-
malmente acomete as regiões torácica
e lombar. As curvaturas da escoliose
podem ser em S ou em C e essas cur-
vaturas podem provocar assimetrias
nos quadris, na pelve e nos membros
Figura 4. Escoliose em S. Fonte: Adobe Stock. Acesso em:
inferiores. 05/04/2021.

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nhecerá mais informações sobre a escoliose, como ela pode ser
avaliada e diagnosticada, análise das curvaturas e indicações
de tratamento cirúrgico ou conservador.

Figura 5. Escoliose em C. Fonte: Adobe Stock. Acesso em: 05/04/2021.

A escoliose pode ser estrutural ou não estrutural. Sendo assim, é válido sa-
ber que o primeiro caso apresenta curvatura irreversível, com rotação fixa das
vértebras. Essa rotação dos corpos vertebrais ocorre em direção à convexida-
de da curva e, nos casos de comprometimento da torácica, as costelas rodam
com as vértebras, de modo que há uma proeminência das costelas posterior-
mente no lado da convexidade da coluna e anteriormente no lado da concavi-
dade (gibosidade).
Outra questão importante é que a etiologia da escoliose estrutural inclui:
doenças ou distúrbios neuromusculares (como paralisia cerebral, lesão me-
dular, doenças neurológicas ou musculares progressivas), distúrbios ósseos
(como hemivértebra, osteomalácia, raquitismo e fratura) e distúrbios idiopáti-
cos de causa desconhecida.
Já a escoliose não estrutural (o segundo caso apresentado para escoliose),
também conhecida como postural ou funcional, traz a curvatura como rever-
sível. Isso significa que pode ser mudada com a inclinação para a frente, para
o lado ou com mudanças de decúbitos, alinhamento postural e correção de

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discrepâncias dos membros inferiores. Suas causas incluem discrepância de
membros, defesa ou espasmo muscular, decorrente de estímulos dolorosos na
coluna ou pescoço e posturas habituais ou assimétricas.
No lado côncavo das curvaturas escolióticas pode ocorrer comprometimen-
to da mobilidade das articulações, dos músculos e das fáscias. Já no lado con-
vexo, ocorre distensão e fraqueza da musculatura. Entretanto, em situações de
deformidades severas, pode ocorrer comprometimento dos sistemas cardio-
vascular e respiratório, associados com as alterações do sistema musculoes-
quelético (KISNER; COLBY, 2017).
É fundamental considerar que a coluna vertebral desempenha um impor-
tante papel na mobilidade do corpo humano, bem como na absorção de cargas
e impactos. Qualquer alteração, por menor que seja, repercute nos segmentos
adjacentes, trazendo prejuízos para a função e a mobilidade da coluna. Além
desses aspectos, podem surgir deformidades capazes de alterar a curvatura
fisiológica das diferentes regiões e, a partir disso, modificar a distribuição de
cargas e o desempenho dos músculos do tronco, podendo aumentar a chance
de lesões de tecidos ósseos e moles. Logo, é importante compreender os con-
ceitos dessas deformidades, bem como suas causas e repercussões que po-
dem gerar sobre a função da coluna vertebral, para determinar o tratamento
fisioterapêutico mais adequado.

Assistência fisioterapêutica nas deformidades da


coluna vertebral
As deformidades posturais geram dor, restrições na mobilidade, altera-
ções na fl exibilidade e no desempenho muscular, que podem levar a outras
lesões e disfunções não apenas do sistema musculoesquelético, mas tam-
bém de outros sistemas corporais, como o cardiovascular e o respiratório
em escolioses graves. Por isso, a assistência fisioterapêutica é imprescin-
dível para minimizar esses prejuízos ao sistema musculoesquelético e, se
possível, corrigir as deformidades.
Assim como em qualquer intervenção fisioterapêutica, a primeira etapa
consiste na avaliação cinesiológica funcional: história do paciente, observação,
inspeção, exames e testes específicos (MAGEE, 2010).

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Com os dados da avaliação cinesiológica funcional, o fisioterapeuta poderá
determinar o diagnóstico cinesiológico funcional e os objetivos fisioterapêu-
ticos que nortearão a escolha das condutas e recursos fisioterapêuticos mais
adequados para as necessidades de cada paciente.
Geralmente nas deformidades da coluna vertebral, os objetivos fisiotera-
pêuticos, são (PRENTICE, 2012):
• aliviar a dor;
• melhorar a mobilidade articular da região acometida;
• melhorar a flexibilidade muscular;
• melhorar o desempenho muscular;
• melhorar o controle postural;
• reeducar a postura corporal;
• melhorar o condicionamento cardiorrespiratório;
• realizar orientações para prevenir agravamento do quadro clínico ou rein-
cidência de sintomas;
• promover a alta da fisioterapia.
Dessa forma, os recursos fisioterapêuticos que podem ser aplicados para
comtemplar esses objetivos são (KISNER; COLBY, 2017):
• Recursos analgésicos, caso seja necessário: termoterapia, crioterapia,
TENS, correntes interferenciais, entre outros;
• Técnicas de terapia manual para relaxamento muscular e alívio dos sin-
tomas dolorosos: massagem, pompage, tração, liberação miofascial, entre outros;
• Mobilizações articulares para ganho e/ou reestabelecimento da am-
plitude de movimento: Maitland, Mulligan, Kaltenborn;
• Cinesioterapia:
• Exercícios de alongamento muscular: alongamento ativo, passivo, faci-
litação neuromuscular proprioceptiva (FNP), entre outras opções;
• Exercícios para estabilização do tronco;
• Exercícios para melhorar o desempenho muscular de forma global;
• Exercícios funcionais para preparo de uma mecânica corporal segura:
agachamentos, avanços, alcançar e carregar objetos, trocar de postura
enquanto carrega objetos;
• Exercícios para favorecer a reeducação postural: treinamento cinestésico,
movimentos articulares das diferentes regiões da coluna buscando a neu-

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tralização das curvaturas, aplicar esses movimentos em diferentes postu-
ras – em pé, sentado, quatro apoios, decúbitos laterais, entre outras;
• Exercícios para melhorar o condicionamento cardiorrespiratório: cami-
nhada, bicicleta, natação, corrida, hidroginástica, entre outros.
• Aplicação de técnicas posturais: Isostretching, Método Klapp, Pilates,
Reeducação Postural Global (RPG), osteopatia, entre outros;
• Orientações: sobre ergonomia;
• Adaptações: do local de trabalho e da casa;
Os recursos fisioterapêuticos disponíveis são diversos e podem trazer inú-
meros benefícios aos pacientes com deformidades da coluna vertebral. Para
isso, o fisioterapeuta deve ter habilidade ao aplicá-los e basear-se nos dados da
avaliação cinesiológica funcional para escolhê-los adequadamente.
Com sucessivas reavaliações, será possível determinar o prognóstico do pa-
ciente e o momento da alta. Além disso, essas reavaliações trarão informações
sobre a evolução clínica do paciente, e eventual necessidade de alterar algum
objetivo fisioterapêutico e, consequentemente, as condutas e re-
cursos até então utilizados.
Sendo assim, a alta da fisioterapia do paciente
com deformidades na coluna vertebral deve ser
marcada por orientações sobre a importância
da continuidade da prática de atividade física,
como forma de manter os ganhos obtidos na
assistência fisioterapêutica.

Traumatismos dos tecidos moles


O fisioterapeuta traumato-ortopédico deve compreender o mecanismo
pelo qual as lesões de tecido moles ocorrem, assim como as repercussões
mecânicas sobre os diferentes tecidos e o tratamento fisioterapêutico
mais adequado.
Por definição, traumatismo significa lesão ou ferimento físico produzido por
uma força externa ou interna. As forças externas (compressão, cisalhamento,
torção, flexão e tensão), ao atuarem sobre o corpo humano, provocam altera-
ções internas nas diferentes estruturas anatômicas. Em situações de lesões,

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essas forças externas atuam com magnitude superior ao que os tecidos conse-
guem suportar (PRENTICE, 2012).
Os tecidos moles, por exemplo, apresentam propriedades mecânicas que
permitem um certo nível de tolerância à ação dessas forças externas. Porém,
ao ultrapassar esse nível, ocorrem lesões que podem atingir músculos, tendões,
ligamentos, cápsula, bursas, sinóvias, fáscias, meniscos, discos intervertebrais,
labrum, cartilagem e outros. Em função disso, dos eventos traumáticos e dos
estresses repetitivos, os traumatismos nos tecidos moles ocorrem com bastante
frequência e podem acometer atletas, não-atletas, idosos, jovens e crianças.
Na maioria dos casos, os traumatismos dos tecidos moles ocorrem por es-
forço repetitivo e por eventos traumáticos. Entretanto, também podem ocor-
rer, de forma secundária, em lesões traumáticas, como fraturas, luxações,
subluxações, entre outros eventos possíveis.

Conceito, classificação e etiologia dos traumatismos


dos tecidos moles
Os traumatismos dos tecidos moles englobam uma grande variedade de le-
sões e os mecanismos pelas quais elas ocorrem. No entanto, para o adequado
tratamento fisioterapêutico, é essencial conhecer essas lesões, seus mecanis-
mos e as repercussões que elas podem gerar ao sistema musculoesquelético.
Observe, na sequência, alguns des-
ses traumatismos dos tecidos moles
(PRENTICE, 2012; KISNER; COLBY, 2017):
Entorses ligamentares
Resultam de eventos traumáti-
cos, nos quais as forças, principal-
mente em torção, são aplicadas à
articulação e levam o movimento
além dos seus limites ou planos nor-
mais. Podem lesar os ligamentos e
as demais estruturas da articulação,
como cápsula, meniscos, cartilagem,
Figura 6. Ilustração de uma lesão do ligamento cruzado ante-
entre outros. rior do joelho. Fonte: Adobe Stock. Acesso em: 06/04/2021.

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Lesões meniscais
Resultam de traumas na articulação, como as entorses que podem lesar
os meniscos em conjunto com os ligamentos, de cargas compressivas e es-
tresse repetitivo.
Bursite
Resulta do excesso de movimento ou de trauma agudo próximo as bursas.

Figura 7. Ilustração de uma bursite olecraniana. Fonte: Adobe Stock. Acesso em: 06/04/2021.

Capsulite
Resulta de traumas repetidos, como entorses ou microtraumas sobre as
cápsulas articulares.
Sinovite
Resulta de lesões articulares repetidas ou lesões articulares que foram tra-
tadas de forma inadequada.
Distensão muscular (separação ou ruptura das fibras musculares)
Resulta de alongamento excessivo do músculo ou por contração súbita e
forçada contra uma sobrecarga.

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Figura 8. Ilustração de uma distensão muscular. Fonte: Adobe Stock. Acesso em: 06/04/2021.

Cãibra muscular (contrações musculares involuntárias)


Resulta de movimentos repetitivos, que levam os músculos à fadiga, mau
condicionamento muscular e/ou da perda excessiva de água, eletrólitos e íons.
Defesa muscular (contração muscular em reposta a dor e processo
inflamatório)
Resulta de outras lesões e serve para imobilizar a área acometida, minimi-
zar a dor e restringir o movimento dos segmentos envolvidos.
Espasmo muscular
Resulta de uma reação reflexa, causada por trauma no sistema musculoes-
quelético. Pode ser clônico (alterna entre contração muscular involuntária e
relaxamento) ou tônico (contração muscular rígida).
Dor muscular
Resulta do mau condicionamento muscular, do processo de senescência e
do excesso de esforço muscular durante o exercício. Pode ser dor muscular
aguda (acompanha a fadiga) ou dor muscular de início tardio (intensifica no
período de 24h a 48h pós exercício e perdura por três ou quatro dias).

FISIOTERAPIA EM TRAUMATOLOGIA E ORTOPEDIA 81

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A dor muscular de início tardio ocorre em função de pequenas rupturas no
tecido muscular ou rupturas do tecido conjuntivo, que une o tendão ao ventre
muscular, causadas pelo esforço muscular excessivo.
Contratura muscular
Resulta de lesões musculares que desenvolvem um tecido inelástico e resis-
tente, gerando um encurtamento anormal do tecido muscular (resistência ao
alongamento passivo).
Contusão
Resulta de um golpe, trauma ou compressão sobre os tecidos moles contra
ossos duros. A repetição de contusões ou traumatismos pode levar à miosite
ossificante, que é acúmulo de cálcio que forma uma saliência e se projeta para
fora do osso.

Figura 9. Ilustração de uma contusão. Fonte: Adobe Stock. Acesso em: 06/04/2021.

Tendinite/tendinose
A tendinite resulta de movimentos repetidos, que geram a inflamação do
tendão. Por outro lado, a tendinose resulta de processos inflamatórios repe-
tidos no tendão ou tendinites tratadas de forma inadequada, que provocam
degeneração do tendão.

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Figura 10. Ilustração de uma inflamação nos tendões extensores do punho (epicondilite lateral). Fonte: Adobe Stock.
Acesso em: 06/04/2021.

Tenossinovite
Resulta de movimentos repetitivos, que geram a inflamação da bainha si-
novial dos tendões.

Assistência fisioterapêutica nos traumatismos dos


tecidos moles
De um modo geral, os traumatismos dos tecidos moles provocam dor,
edema, processo inflamatório, restrições da mobilidade, diminuição do de-
sempenho e da fl exibilidade muscular, além de gerar alterações propriocep-
tivas. Assim, com essas disfunções, o paciente torna-se mais exposto a uma
recidiva da lesão ou ocorrência de uma nova. Por isso, a assistência fisiote-
rapêutica tem um papel fundamental não apenas na reabilitação física de
pacientes com traumatismos dos tecidos moles, mas também na prevenção
de reincidências ou lesões novas que possam estar associadas com as dis-
funções desses tecidos.
Após a avaliação cinesiológica funcional, o fisioterapeuta definirá o diag-
nóstico, os objetivos e os recursos fisioterapêuticos que podem ser aplica-
dos para as necessidades individuais do paciente.
Normalmente, o tratamento fisioterapêutico das lesões de tecidos moles
é distribuído em três fases: fase aguda, fase de reparação e fase de remo-
delamento. Veja então os objetivos e condutas fisioterapêuticos correspon-
dentes a cada uma dessas fases (PRENTICE, 2012; PRENTICE, 2014; KISNER;
COLBY, 2017):

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1) Fase aguda ou fase inflamatória: essa fase dura de três dias a uma
semana e os objetivos fisioterapêuticos são controlar o processo inflamató-
rio e a hemorragia provocada pela lesão dos tecidos moles, reduzir o ede-
ma, a dor e os espasmos musculares.
Condutas:
• Recursos analgésicos: crioterapia, massagem com gelo, imersão em
água gelada, PRICE (Proteção, Repouso, Gelo ou Ice, Compressão e Eleva-
ção), TENS;
• Recursos para controlar o processo inflamatório e o edema: crioterapia,
correntes interferenciais, turbilhão;
• Recursos para favorecer a cicatrização tecidual: ultrassom, laser, ion-
toforese;
• Técnicas de terapia manual para reduzir espasmos e promover o relaxa-
mento muscular: cyriax, massagem, liberação miofascial, drenagem, entre
outras.
2) Fase de reparação: essa fase dura, aproximadamente, três semanas
e os objetivos fisioterapêuticos são de restabelecer a mobilidade articular e
o desempenho muscular.
Condutas:
• Mobilizações articulares para ganho e reestabelecimento da amplitude
de movimento: Maitland, Mulligan, Kaltenborn;
• Correntes bifásicas de alta potência, para estímulo da contração e ati-
vação muscular, ganho de força muscular, controle do decréscimo do de-
sempenho muscular (hipotrofia);
• Exercícios de alongamento muscular: passivos, ativos e facilitação neu-
romuscular proprioceptiva;
• Exercícios para melhorar o desempenho muscular: resistência, força e
potência muscular;
3) Fase de remodelação: essa fase dura, aproximadamente, de três a
quatro semanas (dependendo da extensão da lesão) e os objetivos fisiote-
rapêuticos são de reestabelecer completamente o desempenho muscular,
melhorar a estabilidade, a coordenação, o senso de posição e a propriocep-
ção, treinar atividades funcionais e atividades complexas e, por fim, alcan-
çar a alta da fisioterapia.

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Condutas:
• Exercícios para ganho de equilíbrio e pro-
priocepção;
• Exercícios funcionais;
• Exercícios complexos e desafiadores;
• Reeducação de gestos motores;
• Exercícios aeróbicos para melhora do condiciona-
mento cardiorrespiratório: bicicleta ergométrica, esteira, elípti-
co, corrida, natação, entre outros.
Esse plano terapêutico é generalista e pode ser aplicado para alguns pa-
cientes, mas isso não significa que seja adequado para todos. A elaboração
do plano de tratamento fisioterapêutico depende das informações indivi-
duais, apresentadas por cada paciente, da extensão da lesão e do mecanis-
mo pelo qual ela ocorreu.
Dessa forma, o fisioterapeuta deve conhecer os traumatismos dos te-
cidos moles, além de realizar a avaliação cinesiológica funcional, de forma
detalhada, para conduzir o plano de intervenção fisioterapêutico da manei-
ra mais adequada.

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Sintetizando
Os processos álgicos da coluna vertebral são condições musculoesque-
léticas bastante frequentes na prática clínica do fisioterapeuta traumato-
ortopédico. Essas algias podem acometer qualquer uma das regiões da coluna
vertebral e podem ser causadas por eventos traumáticos, como nos casos de
fraturas, luxação, lesões em chicote, entorses, por esforço repetitivo e por alte-
rações posturais, que ocorrem nas disfunções musculares.
As algias da coluna vertebral são denominadas de acordo com a localização
de sua ocorrência. Assim, podemos ter: cervicalgias, dorsalgias, lombalgias,
sacralgias e coccidinias. Por essa razão, a assistência fisioterapêutica desses
processos álgicos deve levar em consideração a etiologia e os mecanismos que
estão predispondo determinada algia. Sendo assim, de um modo geral, a fisio-
terapia traumato-ortopédica conta com recursos analgésicos, técnicas de tera-
pia manual, técnicas de mobilizações articulares, cinesioterapia, entre tantos
outros recursos que podem ser escolhidos pelo fisioterapeuta, conforme as
reais necessidades do paciente.
Vale lembrar que, além das algias, a coluna vertebral é comumente acome-
tida por alterações e deformidades posturais. Essas deformidades consistem
no aumento ou na diminuição das curvaturas fisiológicas da coluna vertebral,
como nos casos da hiperlordose/hipercifose e retificação, respectivamente. O
aumento e a redução das lordoses e cifoses da coluna podem ser percebidos
pela vista lateral.
Outra deformidade da coluna vertebral é a escoliose, que se caracteriza
pelo desalinhamento da coluna no plano frontal e pode ser em C ou em S, aco-
metendo, na grande maioria dos casos, as regiões torácica e lombar.
Todas essas deformidades podem gerar dores e limitações funcionais aos
pacientes e, por isso, precisam ser adequadamente tratadas pela
fisioterapia traumato-ortopédica. Além dos recursos fisioterapêu-
ticos, como condutas analgésicas, técnicas de terapia
manual, mobilização articular e cinesioterapia, a fi-
sioterapia ainda conta com métodos e técnicas que
visam especificamente a melhora dessas deformida-
des posturais e dos sintomas a elas associados.

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Por fim, os traumatismos dos tecidos moles, como entorses ligamentares,
sinovites, bursites, contusões, contraturas, tendinites, tenossinovites, entre
outros, ocorrem por eventos traumáticos e por estresse repetitivo em indiví-
duos atletas e não-atletas, de todas as faixas etárias. Diante disso e da recor-
rência desses traumatismos, é fundamental que o fisioterapeuta entenda os
mecanismos dessas lesões para conseguir elaborar o plano de tratamento fi-
sioterapêutico adequado para o paciente.
De um modo geral, a assistência fisioterapêutica, para esses traumatismos,
divide-se em três fases: inflamatória, reparação e remodelamento, as quais são
definidas pelo estágio do processo inflamatório e a cicatrização dos tecidos
lesados. Essas fases ainda ajudam na identificação dos recursos fisioterapêuti-
cos mais adequados para contemplar os objetivos previamente determinados
para o paciente.
Dessa forma, não podemos considerar somente as algias e as deformidades
da coluna vertebral, mas também os traumatismos dos tecidos moles como le-
sões recorrentes na prática clínica do fisioterapeuta traumato-ortopédico. Em
todos os casos, deve-se realizar a avaliação cinesiológica funcional, determinar
o seu diagnóstico e os objetivos, para então elaborar o plano de tratamento
fisioterapêutico que contemple as necessidades individuais de cada paciente.

FISIOTERAPIA EM TRAUMATOLOGIA E ORTOPEDIA 87

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Referências bibliográficas
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pacientes com queixas de dor lombar assistidos pelo NASF de Alegrete do
Piauí. 2020. 18 f. Trabalho de Conclusão de Curso. Universidade Federal do Piauí,
2020. Disponível em: <https://ares.unasus.gov.br/acervo/html/ARES/14804/1/
Artigo%20-%20Anna%20Carla.pdf>. Acesso em: 15 abr. 2021.
DUTTON, M. Fisioterapia ortopédica. Exame, avaliação e intervenção. 2. ed.
Porto Alegre: Artmed, 2010.
ESCOLIOSE idiopatica | Dr. Luiz Marchese. Postado por e-Ortopedia.
(12min. 21s.). son. color. port. Disponível em: <https://www.youtube.com/
watch?v=CmmMmyNz-c0>. Acesso em: 15 abr. 2021.
HAMILL, J.; KNUTZEN, K. M.; DERRICK, T. R. Bases biomecânicas do movimento
humano. 4. ed. São Paulo: Manole, 2016.
HALL, S. J. Biomecânica básica. 8. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2020.
KISNER, C.; COLBY, L. A. Exercícios terapêuticos: fundamentos e técnicas. 6. ed.
São Paulo: Manole, 2017.
MAGEE, D. J. Avaliação musculoesquelética. 5. ed. São Paulo: Manole, 2010.
PRENTICE, W. E. Fisioterapia na prática esportiva: uma abordagem baseada
em competências. 14. ed. Porto Alegre: Artmed, 2012.
PRENTICE, W. E. Modalidades terapêuticas para fisioterapeutas. 4. ed. Porto
Alegre: Artmed, 2014.

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UNIDADE

4 DISTÚRBIOS
ORTOPÉDICOS E
AMPUTAÇÕES

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Objetivos da unidade
Conhecer o quadro clínico dos distúrbios ortopédicos dos membros
inferiores;
Conhecer a fisioterapia para os distúrbios ortopédicos dos membros
inferiores;
Conhecer o quadro clínico dos distúrbios ortopédicos dos membros
superiores;
Conhecer a fisioterapia para os distúrbios dos membros superiores;
Entender os diferentes tipos de amputações;
Conhecer os aparelhos ortopédicos ligados às amputações;
Conhecer a assistência fisioterapêutica destinada às amputações.

Tópicos de estudo
Distúrbios ortopédicos dos Amputações
membros inferiores Aparelhos ortopédicos e
Definição, etiologia e quadro próteses
clínico dos distúrbios ortopédicos Assistência fisioterapêutica nas
dos membros inferiores amputações
Assistência fisioterapêutica
nos distúrbios ortopédicos dos
membros inferiores

Distúrbios ortopédicos dos


membros superiores
Definição, etiologia e quadro
clínico dos distúrbios ortopédicos
dos membros superiores
Assistência fisioterapêutica
nos distúrbios ortopédicos dos
membros superiores

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Distúrbios ortopédicos dos membros inferiores
Os membros inferiores fornecem sustentação ao peso corporal, ao mesmo
tempo que permitem a realização de movimentos com amplitudes variadas,
como marcha, corrida, saltos, subida e descida de degraus, entre outros. Para
isso, é necessário a integração perfeita entre os movimentos e as funções das
articulações do quadril, do joelho, do tornozelo e do pé.
Em função disso, os membros inferiores são, corriqueiramente, acometidos
por lesões, disfunções e deformidades que comprometem a funcionalidade e a
qualidade de vida dos pacientes. Em geral, os distúrbios ortopédicos dos membros
inferiores são ocasionados pelos movimentos repetitivos, pela sobrecarga articu-
lar e pelas alterações do alinhamento de uma extremidade. Eles acometem mús-
culos, ligamentos, cápsulas, sinóvias, bursas, cartilagem, entre outras estruturas.
Nesse contexto, a assistência fisioterapêutica pode ser aplicada no trata-
mento desses distúrbios com o intuito de aliviar os sintomas e melhorar a fun-
ção física e a qualidade de vida dos pacientes. Para isso, o fisioterapeuta deve
compreender esses distúrbios ortopédicos, seus mecanismos de lesão, etiolo-
gia e opões de tratamento médico e fisioterapêutico.

Definição, etiologia e quadro clínico dos distúrbios


ortopédicos dos membros inferiores
Nos membros inferiores, os distúrbios ortopédicos, além de sintomas dolorosos,
causam restrições da mobilidade que podem comprometer diferentes tarefas do dia
a dia do paciente, visto que essas articulações atuam diretamente na marcha, no sen-
tar, no levantar, no subir e descer degraus, entre outros exemplos. Logo é fundamen-
tal conhecer a etiologia e o quadro clínico dos distúrbios ortopédicos dos membros
inferiores, a fim de conduzir a assistência fisioterapêutica de forma adequada.
Veja, adiante, alguns dos principais distúrbios ortopédicos que acometem as
articulações do quadril, joelho, tornozelo e pé, e seus respectivos tratamentos mé-
dicos (DUTTON, 2010; PRENTICE, 2012; HEBERT et al., 2016; KISNER; COLBY, 2015).
Bursite trocantérica (quadril)
A bursite trocantérica se caracteriza por uma inflamação da bursa do trocânter
maior do fêmur, provocada pelos movimentos repetitivos e pelas alterações do

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alinhamento do quadril. Como sinais e sintomas, os pacientes costumam ter dor,
que pode irradiar até o joelho, e sensibilidade à palpação. O tratamento da bursite
é conservador, buscando aliviar os sintomas, melhorar a função física e corrigir as
causas dessa lesão para evitar reincidência.
Ruptura do lábio do quadril (quadril)
A lesão do lábio do quadril, ou cartilagem que reveste o acetábulo, pode
ser causada por movimentos repetitivos do quadril durante a corrida e em ati-
vidades que o indivíduo gira em torno do eixo dessa articulação. Os sinais e
sintomas são variados entre os pacientes, sendo que alguns podem, inclusive,
permanecer assintomáticos. Ainda, podem ocorrer travamentos, estalidos, dor
no quadril ou na virilha, rigidez e limitações de movimentos.
A primeira opção de tratamento é conservadora, entretanto, se os sintomas per-
sistirem e o tratamento conservador não for resolutivo, o procedimento cirúrgico
para reparar a ruptura ou remover a parte do lábio rompido deve ser considerado.
Osteíte púbica (quadril)
A osteíte púbica é provocada pelo esforço repetitivo sobre a sínfise púbica
e as estruturas ósseas da pelve, levando a um processo inflamatório crônico.
Em função disso, os sinais e sintomas incluem dor ao realizar movimentos (ab-
dominais, corrida, agachamentos, entre outros) e sensibilidade na região. O
tratamento para a osteíte púbica é conservador, reabilitando fisicamente as
disfunções apresentadas pelo paciente e corrigindo as causas dessa lesão para
evitar recidivas.
Disfunções do ilíaco (quadril)
O ilíaco é um dos ossos da pelve que juntamente com o sacro forma a arti-
culação sacroilíaca. Embora seja uma região com pouca mobilidade, devido aos
fortes ligamentos estabilizadores, podem ocorrer entorses articulares, proces-
sos inflamatórios e hipomobilidade ou hipermobilidade articular. Os sinais e
sintomas das disfunções do ilíaco costumam ser dor e restrições da mobilidade
articular local e/ou nas regiões adjacentes.
O tratamento dessas disfunções é conservador, envolvendo a re-
solução dos sintomas dolorosos e da disfunção. Por exemplo,
reestabelecendo a função ligamentar pós-entorse, melho-
rando a mobilidade em casos de hipomobilidade ou melho-
rando a estabilidade nos casos de hipermobilidade.

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Fraturas por estresse (quadril)
As fraturas por estresse são comuns no ramo púbico inferior, no colo femoral
e na área subtrocantérica do fêmur. São geradas pelos movimentos repetitivos em
sustentação de peso (forças de reação do solo). Os sinais e sintomas são dor ao
movimento, que alivia em repouso, dificuldades para permanecer em apoio unila-
teral sobre o lado acometido e sensibilidade à palpação. O tratamento é conserva-
dor e envolve, além do reestabelecimento da função física, o acompanhamento e
o favorecimento do processo cicatricial do osso acometido.
Bursite (joelho)
No joelho, diversas bursas podem ser acometidas por processos inflamatórios
decorrentes dos movimentos repetitivos dessa articulação. Algumas das bursas
com maior incidência de disfunção são: a pré-patelar, a infrapatelar profunda e a
subpatelar. Os sinais e sintomas das bursites do joelho incluem dor, edema, hipe-
remia e aumento da temperatura na região. O tratamento pode ser conservador
e visa à redução do processo inflamatório e o reestabelecimento da função física
do paciente.
Distúrbio femoro-patelar ou síndrome da dor patelofemoral (joelho)
A síndrome da dor patelofemoral (Figura 1) consiste em uma dor na região an-
terior no joelho, de início insidioso e que é exacerbada em atividades que sobre-
carregam a articulação patelofemoral, como correr, subir e descer degraus, saltar,
agachar, permanecer sentado, entre outros. Os sinais e sintomas costumam ser
dor na parte anterior do joelho e limitações funcionais, e o tratamento desse dis-
túrbio ortopédico é conservador.

Figura 1. Representação da dor patelofemoral. Fonte: Adobe Stock. Acesso em: 05/05/2021.

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Condromalácia patelar (joelho)
A condromalácia patelar pode ser definida como um amolecimento ou uma
deterioração da cartilagem patelar. Essa lesão pode ser dividida em quatro es-
tágios, conforme a extensão da lesão na cartilagem:
• Grau I: certo amolecimento da camada mais externa da cartilagem da patela;
• Grau II: lesões na cartilagem com até 1,3 cm de diâmetro;
• Grau III: lesões na cartilagem são maiores que 1,3 cm de diâmetro;
• Grau IV: lesões extensas na cartilagem que permitem a visualização do
osso subcondral.
Os sinais e sintomas podem incluir dor na região anterior do joelho durante
atividades de sustentação de peso (caminhada, agachamento, corrida, subida
ou descida de degraus), edema e crepitação.
O tratamento da condromalácia patelar é conservador e envolve o alívio
dos sintomas, a melhora do desempenho muscular e a correção de desalinha-
mentos patelares, do joelho e dos membros inferiores, em geral.
Tendinite patelar (joelho)
A tendinite patelar se caracteriza por uma inflamação do tendão patelar em
função dos movimentos repetitivos de extensão do joelho. Essa lesão pode
evoluir e provocar a degeneração e ruptura do tendão patelar. Os sinais e sin-
tomas são dor durante e após os movimentos e sensibilidade no polo inferior
da patela, no aspecto posterior.
O tratamento costuma ser conservador, buscando resolver os sinais e sin-
tomas e prevenir reincidências dessa lesão. Nos casos de ruptura completa,
em um estágio mais avançado da lesão, o procedimento cirúrgico pode ser
escolhido.
Doenças de Larsen-Johansson e de Osgood-Schlatter (joelho)
Esses dois distúrbios ortopédicos costumam acometer crianças e adoles-
centes e se caracterizam por serem apofisites. A doença de Larsen-
-Johansson é causada no polo inferior da patela, em função do
estiramento excessivo e repetido do tendão patelar. A
doença de Osgood-Schlatter (Figura 2) causa dor na
ligação do ligamento patelar com a tuberosidade ti-
bial, decorrente das repetidas avulsões do ligamento
patelar na apófise do tubérculo tibial.

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Os sinais e sintomas incluem: dor, que se intensifica na corrida, nos saltos e
nos agachamentos; edema; e sensibilidade na área envolvida. Essas duas doen-
ças são tratadas de forma conservadora e os sinais e sintomas se resolvem até
os 18 anos, restando apenas as saliências ósseas.

Figura 2. Ilustração da doença de Osgood-Schlatter. Fonte: Adobe Stock. Acesso em: 05/05/2021.

Síndrome do trato iliotibial (joelho)


A síndrome do trato iliotibial (Figura 3) é uma irritação na inserção do trato
iliotibial, por causa da fricção gerada pelos movimentos repetitivos. Os sinais e
sintomas são dor, sensibilidade na região e limitações funcionais. O tratamento
da síndrome do trato iliotibial é conservador, visando resolver os sintomas e
corrigir as causas da lesão para prevenir recidivas.

Figura 3. Representação da síndrome do trato iliotibial. Fonte: Adobe Stock. Acesso em: 05/05/2021.

FISIOTERAPIA EM TRAUMATOLOGIA E ORTOPEDIA 95

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Tendinite da pata de ganso (joelho)
A tendinite de pata de ganso se caracteriza pela inflamação do local onde
os tendões dos músculos sartório, grácil e semitendinoso se inserem na tíbia. A
tendinite de pata de ganso ainda pode estar associada com uma inflamação da
bursa nesse local. A etiologia desse distúrbio ortopédico envolve os movimen-
tos repetitivos da articulação do joelho associados com o geno valgo excessivo.
Os sinais e sintomas incluem dor, edema e sensibilidade na região. O trata-
mento dessa tendinite pode ser conservador, visando resolver os sintomas e
corrigir as causas da lesão para prevenir recidivas.
Alterações no alinhamento patelar (patela alta ou patela baixa) (joelho)
A patela alta consiste em uma alteração do alinhamento patelar, em que na
posição em pé, a patela fica mais elevada do que o normal. Quando a patela
está mais elevada, o comprimento do ligamento patelar é 20% maior do que a
altura da patela. E, em geral, essa proporção entre o comprimento do ligamen-
to patelar e a altura da patela é maior do que 1:1.
A patela baixa também é uma alteração do alinhamento patelar, em que a
patela fica abaixo do normal. Nesse caso, a proporção entre o comprimento do
ligamento patelar e a altura da patela é menor do que 1:1.
Alterações do alinhamento do joelho (joelho)
O geno valgo ou joelho valgo, é um desalinhamento dos membros inferiores
em que os joelhos se encostam. Em geral, essa condição é comum em crianças
e tende a se normalizar com o crescimento e o consequente fortalecimento e
alinhamento dos pés com a pelve. Essa condição pode ser unilateral ou bilateral.
O geno varo, ou joelho varo, é outro desalinhamento dos membros inferiores
em que os joelhos se afastam, dando um aspecto de arqueamento aos mem-
bros. O joelho varo pode ser funcional ou estrutural. O joelho varo funcional, ou
postural, é frequentemente associado com a hiperextensão dos joelhos e rota-
ção interna dos fêmures. Já o joelho varo estrutural é mais frequente em pacien-
tes idosos ou com artroses de joelho e representa um desvio no fêmur e na tíbia.
Geno recurvato se caracteriza por uma hiperextensão dos joelhos, enquan-
to que o geno flexo consiste numa alteração do alinhamento dos joelhos que
permanecem em leve flexão constantemente. O joelho valgo, ou varo, pode
ser avaliado e identificado por uma análise do plano frontal, enquanto o geno
recurvato e o geno flexo, por uma análise do plano sagital.

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Tendinite do calcâneo (tornozelo e pé)
A tendinite do calcâneo (Figura 4) é uma condição inflamatória que envolve
o tendão do calcâneo e/ou a sua bainha. A cronicidade dessa lesão pode levar
à tendinose e, em sequência, à ruptura do tendão. Essas disfunções são gera-
das pelo estresse repetitivo e pela tensão excessiva sobre o tendão durante os
movimentos, como saltar ou correr.
Os sinais e sintomas envolvem dor, rigidez na região do tendão do calcâ-
neo e diminuição da flexibilidade do tríceps sural. O tratamento costuma ser
conservador, buscando resolver os sinais e sintomas e prevenir reincidências
dessa lesão. Nos casos de ruptura completa, em um estágio mais avançado da
lesão, o procedimento cirúrgico pode ser escolhido.

Figura 4. Representação da tendinite de calcâneo. Fonte: Adobe Stock. Acesso em: 05/05/2021.

Síndrome do estresse tibial medial (tornozelo e pé)


A síndrome do estresse tibial medial se caracteriza por dor na parte ante-
rior da canela, em decorrência de fratura tibial por estresse, ou síndrome do
esforço repetitivo (microtraumas repetidos). As causas dessa lesão envolvem
fraqueza nos músculos da perna, calçados que fornecem pouco suporte ou
acolchoamento, pé varo, rigidez no tendão calcâneo, pé pronado hipermóvel
ou antepé supinado.
Os sinais e sintomas são dor durante e após as atividades, o que leva à im-
possibilidade de realizar movimentos. O tratamento é conservador e consiste em
reabilitar os sinais e sintomas e acompanhar a cicatrização da fratura por estresse.

FISIOTERAPIA EM TRAUMATOLOGIA E ORTOPEDIA 97

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Alterações do alinhamento do pé (tornozelo e pé)
O pé calcâneo valgo consiste em uma alteração do alinhamento do pé em
que ocorre a dorsiflexão do tornozelo e a eversão da subtalar excessivas, em
decorrência da retração dos tecidos moles no dorso e na região lateral do pé.
Essa alteração pode ser classificada em três estágios, conforme a deformidade:
• Grau I: o indivíduo consegue realizar a plantiflexão do tornozelo e inverter
a subtalar além da posição neutra passivamente;
• Grau II: o indivíduo consegue realizar a plantiflexão do tornozelo e inver-
ter a subtalar até a posição neutra passivamente;
• Grau III: a face dorsal do pé toca a face anterior da perna e o indivíduo não
consegue realizar a plantiflexão do tornozelo e inverter a subtalar até a posição
neutra passivamente.
O pé equino consiste em uma alteração do pé, gerando a plantiflexão do
tornozelo e a inversão subtalar excessivas, em função da hipertonia do tríceps
sural. Essa alteração pode ser dinâmica ou estruturada. O pé equino dinâmico
aparece apenas durante a marcha, pois quando o indivíduo está em repouso,
consegue tocar o calcâneo no solo. Já o pé equino estruturado é aquele em que
o indivíduo não consegue tocar o calcâneo no solo em repouso.
Essas duas alterações podem ser tratadas tanto de forma conservadora,
quanto cirúrgica. Embora a opção cirúrgica seja a mais comumente adotada,
para permitir a funcionalidade da extremidade inferior.
Síndromes compartimentais (tornozelo e pé)
As síndromes compartimentais consistem em um aumento da pressão den-
tro de um dos quatro compartimentos da porção inferior da perna, ocasionan-
do a compressão das estruturas musculares e neurovasculares do interior do
compartimento. Os sinais e sintomas incluem dor profunda, rigidez, redução
da circulação e mudanças sensoriais no pé.
De acordo com a extensão da compressão, o tratamento poderá ser con-
servador ou cirúrgico, por meio de uma fasciotomia para aliviar a pressão.
Fascite plantar (tornozelo e pé)
A fascite plantar (Figura 5) se caracteriza por uma inflamação da
fáscia plantar, por causa do estresse repetitivo sobre as estrutu-
ras do pé. Os sinais e sintomas são dor no calcanhar, na inser-
ção da fáscia plantar no calcâneo e na parte central da fáscia

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plantar. A persistência dessa disfunção pode gerar o esporão de calcâneo,
na inserção da fáscia plantar no aspecto medial do calcâneo.
O tratamento desse distúrbio ortopédico é conservador, com o foco em ali-
viar os sintomas, melhorar a função e corrigir as causas para prevenir reinci-
dência e progressão da fascite plantar.

Figura 5. Representação da fascite plantar. Fonte: Adobe Stock. Acesso em: 05/05/2021.

Os distúrbios ortopédicos que acometem os membros inferiores são di-


versos e podem gerar prejuízos à função física e à qualidade de vida dos pa-
cientes. Por isso, a assistência fisioterapêutica é tão importante para reesta-
belecer a mobilidade e a funcionalidade dos pacientes, independentemente
do distúrbio ortopédico.

Assistência fisioterapêutica nos distúrbios ortopédicos


dos membros inferiores
A assistência fisioterapêutica aplicada aos distúrbios ortopédicos tem o ob-
jetivo de aliviar a dor, controlar o processo inflamatório e a reestabelecer a
mobilidade, o desempenho muscular, a flexibilidade muscular, o equilíbrio e
a propriocepção, além de melhorar o condicionamento cardiorrespiratório e
demais disfunções apresentadas pelo paciente.
Como os pacientes respondem de formas diferentes aos distúrbios orto-
pédicos, é imprescindível a realização da avaliação cinesiológica funcional, que

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permitirá elaborar o diagnóstico cinesiológico funcional e os objetivos fisiotera-
pêuticos mais apropriados para as reais necessidades dos pacientes.
Assim, listei alguns recursos fisioterapêuticos que podem ser aplicados ao
tratamento conservador dos distúrbios ortopédicos do quadril, joelho, torno-
zelo e pé, conforme os objetivos gerais para essas condições (DUTTON, 2010;
PRENTICE, 2012; PRENTICE, 2014; HEBERT et al., 2016; KISNER; COLBY, 2015):
• Crioterapia e PRICE (proteção, repouso, gelo (ice), compressão e elevação)
para controlar o edema e diminuir a dor;
• TENS e correntes analgésicas para aliviar as dores;
• Corrente interferencial para controlar o edema e promover analgesia;
• Ultrassom e laser para favorecer o processo cicatricial, controlar o edema
e diminuir a dor;
• Turbilhão para controlar o edema e reduzir a dor e os espasmos musculares;
• Compressão intermitente para controlar e reduzir o edema;
• Técnicas de terapia manual (Cyriax, massagem, liberação miofascial,
drenagem etc.) para promover o relaxamento muscular e redução das ten-
sões e contraturas que podem ocorrer com as lesões, além da melhorar o
fluxo circulatório;
• Mobilizações articulares (Maitland, Mulligan, Kaltenborn) para promover o
ganho e reestabelecimento da ADM;
• Máquina de movimento passivo contínuo (CPM) para promover a mobi-
lização articular, melhorar a fluidez do líquido sinovial e melhorar o retorno
venosos e circulatório;
• Orientações sobre o uso de órteses (braces, joelheiras, air cast, tornozeleiras,
robô foot etc.) ou dispositivos auxiliares de marchar (muletas, andadores, etc.);
• Estimulação muscular elétrica para facilitar a contração muscular e pro-
mover a reeducação neuromuscular;
• Exercícios terapêuticos para ganho e reestabelecimento do
alongamento muscular;
• Exercícios para ganho e reestabelecimento da re-
sistência, da força e da potência muscular;
• Exercícios para ganho e reestabelecimento da
propriocepção, do senso de posição articular, do
equilíbrio e da coordenação;

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• Exercícios específicos da função, que simulam e retreinam gestos, como
marchar, sentar, levantar, subir e descer degraus, saltar, correr, fazer gestos
esportivos ou do dia a dia;
• Exercícios aeróbicos, como bicicleta ergométrica, esteira, elíptico;
• Reeducação postural;
• Orientações ergonômicas;
• Orientações gerais sobre o distúrbio ortopédico (o que é, mecanismos de
lesão, fatores modificáveis, estratégias para prevenir reincidências ou progres-
são dos sinais e sintomas, entre outros).

CURIOSIDADE
Os exercícios terapêuticos para melhora do desempenho muscular do joelho
devem ser cuidadosamente prescritos para evitar forças compressivas ou de
cisalhamento sobre essa articulação durante a reabilitação física. Sugere-se
iniciar a prática com exercícios isométricos e progredir, cautelosamente, para
isotônicos e resistidos.

Assim como o prognóstico, a alta da fisioterapia será determinada a partir


das informações obtidas com as avaliações e reavaliações cinesiológicas fun-
cionais, que monitoram a evolução clínica do paciente. Dessa forma, o paciente
terá alta quando estiver sem sintomas, conseguindo desempenhar suas ativi-
dades de vida diária, profissionais e esportivas e os objetivos fisioterapêuticos
tiverem sido alcançados.

Distúrbios ortopédicos dos membros superiores


O membro superior é composto pelas articulações do ombro, do co-
tovelo, do punho, mãos e dedos. A atuação dessas articulações permite
o posicionamento da mão no espaço, a interação do indivíduo com o am-
biente e a execução de funções motoras finas. Os distúrbios ortopédicos
que acometem o membro superior comprometem essa capacidade de po-
sicionamento da mão no espaço, resultando em prejuízos à função física e
à qualidade de vida dos pacientes.
Nos membros superiores, os principais distúrbios ortopédicos são le-
sões musculares, lesões tendíneas, lesões por estresse repetitivo, disfun-
ções sinoviais, bursites e capsulites. Os distúrbios ortopédicos podem ser

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tratados de forma cirúrgica ou conservadora, conforme a gravidade dos
sinais e sintomas e a extensão da lesão aos tecidos musculoesqueléticos.
De um modo geral, a assistência fisioterapêutica desses distúrbios or-
topédicos depende do conhecimento do fisioterapeuta em relação à ana-
tomia, cinesiologia e biomecânica dessas articulações, além de uma ava-
liação cinesiológica funcional precisa e esclarecedora. Assim, é possível
determinar os melhores recursos fisioterapêuticos para as necessidades
do paciente, independentemente de o tratamento médico ter sido cirúrgi-
co ou conservador.

Definição, etiologia e quadro clínico dos distúrbios


ortopédicos dos membros superiores
Os distúrbios ortopédicos que acometem os membros superiores podem ser
causados por esforço repetitivo, posicionamento inadequado das articulações e so-
brecarga mecânica. Em geral, esses distúrbios geram lesões musculares, tendíneas,
ligamentares, capsulares, sinoviais e das bursas.
Veja, adiante, alguns dos principais distúrbios ortopédicos que acometem as ar-
ticulações do ombro, cotovelo, punho, mão e dedos e seus respectivos tratamentos
médicos (DUTTON, 2010; PRENTICE, 2012; HEBERT et al., 2016; KISNER; COLBY, 2015).
Síndrome do impacto do ombro (ombro)
A síndrome do impacto do ombro envolve a compressão mecânica, de forma
repetitiva, do tendão supraespinal, da bolsa subacromial e da cabeça longa do ten-
dão do bíceps, levando à inflamação dessas estruturas. Em geral, as atividades re-
petitivas de flexão e abdução do ombro acima de 90° costumam favorecer a lesão
por impacto nessa região do ombro e levar à instabilidade funcional da articulação,
além de inflamação e dor. A inflamação prolongada causa diminuição da eficiência
muscular e um ciclo de agravamento progressivo que, por fim, pode resultar em
ruptura do tendão supraespinal ou bicipital.
Outros fatores que podem favorecer a ocorrência do im-
pacto no ombro são: presença de acrômio ganchoso e al-
terações posturais, como cabeça anteriorizada, ombros
protusos e/ou hipercifose, pois eles contribuem com a
diminuição do espaço sob o arco coracoacromial. O sinal

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e sintoma da síndrome do impacto costuma ser dor difusa em torno do acrômio,
que aumenta com a palpação ou movimentos da articulação.
O tratamento dessa lesão costuma ser conservador, porém em casos de rup-
turas tendíneas totais, a cirurgia pode ser considerada para corrigir essa alteração.
Discinesia escapular (ombro)
A discinesia escapular consiste em uma alteração dos movimentos ou do po-
sicionamento da escápula, em função de hipercifose, encurtamento ou angulação
da clavícula (fraturas), instabilidade e artrose acromioclavicular, lesão neurológica
(nervo torácico longo e acessório) e disfunção muscular (principalmente do serrátil
anterior, romboide e trapézios superior e inferior).
Normalmente, a discinesia resulta de causas musculares, como lesões,
traumas, fadiga, inibição, contraturas, entre outros exemplos. Isso se explica
pelo fato de o movimento e o posicionamento adequado da escápula, du-
rante os movimentos do ombro e do tronco, dependerem da coativação de
diferentes músculos.
Essa relação direta da discinesia escapular com ombro e tronco pode favorecer
a ocorrência de lesões nessas regiões, se a discinesia não for adequadamente trata-
da. A discinesia, também, pode ser um resultado de alguma lesão ou alterações no
ombro e/ou tronco.
Os sinais e sintomas incluem dor, a borda medial alada e limitações funcionais
nos movimentos da escápula, do tronco e do ombro do lado acometido. O trata-
mento da discinesia é conservador, buscando tratar as causas e fatores que levaram
a essa alteração.
Capsulite do ombro (ombro)
A capsulite adesiva, ou ombro congelado, se caracteriza por ser uma doença
idiopática, com duas características principais: dor intensa e diminuição de mobili-
dade articular. Embora a etiologia ainda seja desconhecida, esse distúrbio ortopédi-
co apresenta a cápsula articular contraída e espessada, presa firmemente à cabeça
do úmero, com pouco fluido sinovial.

EXPLICANDO
Uma lesão, doença ou disfunção ortopédica é considerada idiopática quando ela
não tem uma causa específica, ou seja, não se pode afirmar que foi gerada por um
trauma, impacto direto, por estresse repetitivo, alterações posturais ou sobrecarga
articular, entre outras causas.

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Além disso, pode existir inflamação crônica, com alguma fibrose. Os
músculos do manguito rotador ficam tensionados e inelásticos. Os sinais
e sintomas costumam ser dor ao movimentar-se e progressiva rigidez do
ombro. O tratamento da capsulite, normalmente, é conservador, com foco
em reestabelecer a mobilidade da articulação do ombro, diminuir a dor e
controlar o processo inflamatório.
Bursite do ombro (ombro)
A bursite do ombro costuma ser causada pelos movimentos repetitivos
da articulação do ombro. Em geral, a bursa mais comumente acometida é a
subacromial. Os sinais e sintomas costumam ser dor, em especial aos mo-
vimentos de flexão, abdução, adução e rotação interna, e sensibilidade à
palpação na região subacromial.
O tratamento da bursite é conservador, com o objetivo de diminuir a dor,
controlar o processo inflamatório, corrigir as causas da bursite (impacto do
ombro) e melhorar a função física da articulação.
Bursite do olecrano (cotovelo)
A bursa do olecrano é frequentemente lesionada em função da sua super-
ficialidade. Ela está situada entre o processo do olecrano e a pele. A inflama-
ção dessa bursa gera dor, edema severo e sensibilidade na região. O trata-
mento é conservador e envolve o controle da dor e do processo inflamatório,
assim como o reestabelecimento da função física da articulação do cotovelo.
Epicondilite lateral (cotovelo)
A epicondilite lateral (Figura 6) se caracterizada por uma inflamação
crônica do tendão dos músculos extensores do punho. Esse
distúrbio ortopédico crônico é causado pelos movimentos
repetitivos de extensão do cotovelo. Os sinais de sintomas
da epicondilite lateral são dor durante e após os movimen-
tos, sensibilidade na região, fraqueza do ante-
braço, punho, mãos e dedos e dor à extensão
resistida do punho e à extensão completa
do cotovelo. O tratamento da epicondilite
é conservador e consiste em recuperar as
disfunções apresentadas pelo paciente e pre-
venir reincidências.

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Figura 6. Ilustração da epicondilite lateral. Fonte: Adobe Stock. Acesso em: 05/05/2021.

Epicondilite medial (cotovelo)


A epicondilite medial é uma inflamação dos tendões flexores do punho, em
função dos movimentos repetitivos de flexão do punho. Os sinais e sintomas
da epicondilite medial incluem dor ao movimento do punho, sensibilidade na
região do epicôndilo medial e leve edema. Assim como na epicondilite lateral, o
tratamento da epicondilite medial é conservador e se propõe a reestabelecer a
função física do membro superior e previr reincidências dessa lesão.
Tenossinovite (punho, mãos e dedos)
Os distúrbios do punho, mãos e dedos são, em geral, tratados de forma
conservadora para reestabelecer a função física dessas articulações. A tenossi-
novite do punho acomete o extensor radial curto ou longo do carpo, em função
dos movimentos repetitivos do punho em extensão. Os sinais e sintomas são,
em geral, dor aos movimentos, edema e sensibilidade na região.
Tendinite (punho, mãos e dedos)
A tendinite mais frequente no punho acomete os tendões dos músculos
flexor radial e ulnar do carpo, em decorrência dos movimentos repetitivos de
flexão do punho e de atividades que exercem pressão prolongada sobre as
palmas das mãos. Os sinais e sintomas costumam ser dor aos movimentos,
principalmente ativos e resistidos.

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Síndrome do túnel do carpo (punho, mãos e dedos)
A síndrome do túnel do carpo é caracterizada como a inflamação dos ten-
dões flexores e bainhas sinoviais que passam dentro do túnel do carpo. Ela
leva à compressão do nervo mediano. Os sinais e sintomas podem incluir dor,
edema, limitações de movimento, fraqueza muscular e parestesias, como for-
migamento e dormência.
Síndrome de De Quervain (punho, mãos e dedos)
A síndrome de De Quervain (Figura 7) consiste em uma tenossinovite do
polegar, em que o primeiro túnel do punho se torna contraturado e estreitado,
como resultado da inflamação do revestimento sinovial. Os tendões acometi-
dos por esse distúrbio ortopédico são o extensor curto do polegar e o abdutor
longo do polegar.
Os sinais e sintomas envolvem dor, que pode irradiar para a mão ou para o
antebraço, sensibilidade no local, fraqueza dos músculos abdutores e extenso-
res do polegar e rigidez tendínea.

Figura 7. Representação da síndrome de De Quervain. Fonte: Adobe Stock. Acesso em: 05/05/2021.

Contratura de Dupuytren (punho, mãos e dedos)


A contratura de Dupuytren (Figura 8) consiste no desenvolvimento de nódu-
los na aponeurose palmar, que limitam a extensão do dedo e, eventualmente,

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causam uma deformidade em flexão. Dessa forma, os sinais e sintomas são
restrições do movimento de extensão do dedo e dor.

Figura 8. Representação da contratura de Dupuytren. Fonte: Adobe Stock. Acesso em: 05/05/2021.

Deformidades dos dedos (dedo em gatilho) (punho, mãos e dedos)


A deformidade do dedo em gatilho (Figura 9) é provocada pelos movimentos
repetitivos que geram irritação entre os tendões do punho, mãos e dedos, levan-
do a tenossinovite. Os tendões mais frequentemente acometidos são os tendões
extensores do punho, mão e dedos: extensor ulnar do carpo, extensor longo
do polegar, extensor curto do polegar e abdutor longo do polegar. Os sinais e
sintomas são dor, edema, crepitação, sensibilidade, sensação de resistência ao
movimento de extensão dos dedos, além de ressalto palpável e audível.

Figura 9. Representação dos dedos em gatilho. Fonte: Adobe Stock. Acesso em: 05/05/2021.

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Assistência fisioterapêutica nos distúrbios ortopédi-
cos dos membros superiores
A assistência fisioterapêutica para os distúrbios ortopédicos tem por ob-
jetivo aliviar sintomas dolorosos, controlar processos inflamatórios e reesta-
belecer a amplitude de movimento, o desempenho muscular, o equilíbrio e a
propriocepção das diferentes articulações dos membros superiores.
Para elaborar o plano de tratamento fisioterapêutico, o fisioterapeuta deve
ter ciência da etiologia e dos mecanismos que provocam esses distúrbios orto-
pédicos nos membros superiores. Além disso, é imprescindível a realização da
avaliação cinesiológica funcional.
Na avaliação cinesiológica funcional, o fisioterapeuta investigará e questio-
nará sobre todos os fatores que possam estar relacionados com a lesão, mes-
mo que indiretamente. A partir dessas informações será possível estabelecer
o diagnóstico cinesiológico funcional e os objetivos fisioterapêuticos, que nor-
tearão a escolha pelas condutas e recursos fisioterapêuticos.
A maioria dos distúrbios ortopédicos dos membros superiores costumam ser
tratados de forma conservadora, sendo necessário algum tipo de procedimento
cirúrgico em casos mais graves ou severos de disfunção. Dessa forma, a seguir,
você poderá compreender a elaboração de um plano fisioterapêutico aplica-
do ao tratamento conservador desses distúrbios ortopédicos (DUTTON, 2010;
PRENTICE, 2012; PRENTICE, 2014; HEBERT et al., 2016; KISNER; COLBY, 2015).
Tratamento conservador
Na assistência fisioterapêutica dos distúrbios ortopédicos dos membros supe-
riores, em geral, os objetivos são diminuir a dor, controlar o processo inflamatório,
reestabelecer a amplitude de movimento, melhorar o desempenho e a flexibilida-
de muscular, melhorar a propriocepção, permitir o retorno seguros às atividades
de vida diárias, esportivas e profissionais e promover a alta da fisioterapia.
Condutas:
• Crioterapia para controle do edema e analgesia;
• TENS e correntes analgésicas para analgesia;
• Correntes interferenciais para controle do edema e analgesia;
• Laser e ultrassom para favorecer o processo cicatricial, controlar o edema
e diminuir a dor;

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• Técnicas de terapia manual (Cyriax, massagem, liberação miofascial, dre-
nagem etc.) para proporcionar o relaxamento muscular, a redução das tensões
e contraturas que podem ocorrer em função das lesões, além de melhorar o
fluxo circulatório;
• Técnicas de mobilizações articulares (Maitland, Mulligan, Kaltenborn) para
promover o ganho e reestabelecimento da ADM;
• Exercícios terapêuticos para ganho e reestabelecimento do alongamento
muscular;
• Exercícios para ganho e reestabelecimento da resistência, da força e da
potência muscular;
• Exercícios para ganho e reestabelecimento da propriocepção do senso de
posição articular, do equilíbrio e da coordenação;
• Exercícios específicos da função;
• Reeducação postural;
• Orientações gerais;
• Uso de órteses e talas específicas para punho, mãos e dedos, a fim de es-
tabilizar as articulações, prevenir deformidades e/ou melhorar a função.
O prognóstico e a alta da fisioterapia serão determinados a partir das ava-
liações e reavaliações cinesiológicas funcionais. De um modo geral, o paciente
terá alta quando os objetivos fisioterapêuticos forem contemplados e ele con-
seguir desempenhar suas atividades funcionais sem sintomas.

Amputações
As amputações são caracterizadas como a retirada parcial ou total de
um segmento corporal. Em geral, as amputações são necessárias em doen-
ças cardiovasculares periféricas, diabetes, alterações congênitas ou trau-
mas (acidentes automobilísticos e com arma de fogo, por exemplo) que
comprometem a viabilidade e a funcionalidade do segmento, da articula-
ção ou das condições sistêmicas do indivíduo.
A amputação de um membro deve ser criteriosamente definida e en-
volver uma equipe multidisciplinar nessa decisão, com médicos, fisiotera-
peuta, terapeutas ocupacionais, psicólogos, assistentes sociais, nutricio-
nistas etc. É importante ter em mente que, mesmo que a amputação seja

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o tratamento mais recomendado para determinadas
condições, isso criará uma nova realidade para o
paciente, em relação aos aspectos físicos, emo-
cionais e sociais.
Dessa forma, o nível da amputação pode influen-
ciar nesses aspectos e interferir na funcionalidade do
segmento. Para a escolha do nível, os profissionais devem con-
siderar fatores, como idade, causa da amputação, manutenção do maior
comprimento possível, capacidade de protetização e condições para boa
cicatrização, com adequada cobertura da pele e sensibilidade preservada.
Veja os níveis de amputações que podem ser aplicados aos membros in-
feriores e membros superiores.
• Membros inferiores (BRASIL, 2013; INSS, 2017):
• Amputação parcial do pé (amputação das interfalangianas, das
transmetatarsianas, do antepé, do médiopé ou do retropé);
• Desarticulação do tornozelo;
• Amputação transtibial;
• Desarticulação do joelho;
• Amputação transfemoral;
• Desarticulação do quadril;
• Hemipelvectomia.
• Membros superiores (BRASIL, 2013; INSS, 2017):
• Amputação ao nível das falanges (proximal, média e distal);
• Amputação interfalangiana proximal ou distal;
• Amputação metacarpo-falangeana;
• Amputação transmetacarpal;
• Desarticulação carpo-metacarpal;
• Desarticulação intercápica;
• Desarticulação do punho;
• Amputação transradial;
• Desarticulação do cotovelo;
• Amputação transumeral;
• Desarticulação do ombro;
• Desarticulação escápulo-torácica.

FISIOTERAPIA EM TRAUMATOLOGIA E ORTOPEDIA 110

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EXPLICANDO
A escolha pelo nível mais adequado para o paciente passa por diferentes aspectos
que devem ser considerados pela equipe multidisciplinar. Além disso, o nível de
amputação determinará a possibilidade ou não de protetização, e isso é extrema-
mente relevante, pois a utilização de próteses pode melhorar a funcionalidade e a
qualidade de vida do paciente.

Aparelhos ortopédicos e próteses


Após a amputação, tem início o processo de cicatrização do coto. Durante
esse processo de consolidação, alguns aparelhos ortopédicos podem ser utili-
zados para favorecer o processo e preparar para a protetização. Tanto os apa-
relhos ortopédicos, quando as próteses desempenham um papel fundamental
na plena reabilitação física após as amputações.
As próteses são definidas como dispositivos que substituem a função de
um membro e podem ser classificadas em: cirúrgicas ou implantáveis (Figura
10) e não cirúrgicas ou não implantáveis (Figura 11). Em geral, nas amputações,
são usadas as próteses não cirúrgicas ou não implantáveis.

Figura 10.Prótese do tipo cirúrgica. Fonte: Adobe Stock. Acesso em: 05/05/2021.

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Figura 11. Atleta usando prótese do tipo não cirúrgica. Fonte: Adobe Stock. Acesso em: 05/05/2021.

Essas próteses não cirúrgicas podem ser passivas (estéticas) ou ativas (fun-
cionais). As próteses passivas apresentam uma estrutura rígida (madeira, alu-
mínio, polipropileno, fibra de carbono ou resina acrílica), única e não modular.
Por essas características, essas próteses estão em desuso.
Por outro lado, as próteses ativas ou funcionais são modulares, mais leves
e formadas por um sistema tubular conectado ao encaixe, habitualmente em
aço, alumínio ou titânio, com ou sem revestimento cosmético. Essas próteses
podem, ainda, ser confeccionadas com propulsão artificial (pneumáticas, elé-
tricas ou mioelétricas). Dessa forma, essas próteses são amplamente utilizadas
e trazem diversos benefícios à função física do paciente.
Além das próteses que podem ser confeccionadas sob medida e especifica-
mente para o nível de amputação e as necessidades de cada pessoa, os pacien-
tes podem precisar utilizar aparelhos ortopédicos durante a recuperação da
amputação e/ou período de protetização. Esses aparelhos ortopédicos podem
ser dispositivos auxiliares de marcha, como cadeira de rodas, muletas, andado-
res, bengalas, entre outros, ou órteses, como tipoias, braces, slings, joelheiras,
tornozeleiras, entre outros.
Em razão da grande diversidade de próteses e aparelhos ortopédicos, os
profissionais da equipe multidisciplinar devem avaliar o paciente criteriosa-
mente para identificar os déficits e necessidades que precisam ser corrigidos e,
então, determinar a protetização e o uso de um ou mais aparelhos ortopédicos.

FISIOTERAPIA EM TRAUMATOLOGIA E ORTOPEDIA 112

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Assistência fisioterapêutica nas amputações
A assistência fisioterapêutica pode ser dividida em dois momentos: pré e
pós-amputação (cirurgia). O momento pós-amputação conta, ainda, com as fa-
ses de pré-protetização e de protetização. Veja, adiante, como o fisioterapeuta,
membro da equipe multidisciplinar, pode atuar e contribuir para a melhora da
função física e da qualidade de vida em pacientes amputados.
Momento pré-cirúrgico
No momento pré-cirúrgico, a assistência fisioterapêutica tem como objetivos:
aliviar sintomas dolorosos; controlar o processo inflamatório; orientar o pacien-
te sobre a cirurgia e o pós-cirúrgico (posturas para evitar deformidades e encur-
tamentos, prognóstico, dor fantasma, protocolo de reabilitação etc.); melhorar
a capacidade cardiorrespiratória (prevenção de disfunções cardiovasculares e
respiratórias no pós-cirúrgico); manter/melhorar a flexibilidade e o desempenho
muscular do lado acometido e do lado contralateral; corrigir ou prevenir defor-
midades; melhorar/manter o equilíbrio; treinar atividades que simulem as habili-
dades necessárias à realização dos autocuidados, alimentação, vestuário, trocas
posturais etc.; e acompanhar possíveis complicações antes da cirurgia. Dessa
forma, as condutas aplicadas nesse momento podem ser diversas, tais como
(O’SULLIVAN; SCHMITZ; FULK, 2017; PRENTICE, 2014; KISNER; COLBY, 2015):
• Crioterapia para controle do edema e analgesia;
• TENS e correntes analgésicas para analgesia;
• Correntes interferenciais para controle do edema e analgesia;
• Laser e ultrassom para favorecer o processo cicatricial, controlar o edema
e diminuir a dor;
• Técnicas de terapia manual (massagem, liberação miofascial, drenagem
etc.) para promover o relaxamento muscular, redução das tensões e contratu-
ras que podem ocorrer em função das lesões e melhora do fluxo circulatório;
• Técnicas de mobilizações articulares (Maitland, Mulligan, Kaltenborn) para
ganho e reestabelecimento da ADM;
• Exercícios terapêuticos para ganho e reestabelecimento do alongamento
muscular;
• Exercícios para ganho e reestabelecimento da resistência, da força e da
potência muscular;

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• Exercícios para ganho e reestabelecimento da pro-
priocepção do senso de posição articular, do equilí-
brio e da coordenação;
• Exercícios específicos da função;
• Exercícios aeróbicos;
• Exercícios respiratórios;
• Treinamento de atividades funcionais;
• Reeducação postural;
• Orientações gerais e sobre posicionamentos articulares.
A partir da assistência fisioterapêutica pré-cirúrgica, o paciente apresen-
tará melhores condições clínicas e físicas para ser submetido à cirurgia e, ain-
da, iniciará o momento pós-cirúrgico com menos prejuízos à função física, em
comparação com pacientes que não realizaram essa intervenção prévia.
Momento pós cirúrgico, pré-protetização e protetização
No momento pós-cirúrgico, a assistência fisioterapêutica visa aliviar a dor;
controlar o processo inflamatório; favorecer a cicatrização; prevenir deformi-
dades; melhorar a capacidade cardiorrespiratória; melhorar a flexibilidade e
do desempenho muscular de forma global; melhorar o equilíbrio e a proprio-
cepção; orientar sobre o uso de dispositivos auxiliares de marcha; treinar mar-
cha; treinar e adaptar as atividades que simulem as habilidades necessárias à
realização dos autocuidados, alimentação, vestuário, trocas posturais etc.; e
preparar para a protetização.
Dessa forma, as condutas aplicadas nesse momento podem ser (O’SULLI-
VAN; SCHMITZ; FULK, 2017; PRENTICE, 2014; KISNER; COLBY, 2015):
• Crioterapia para controle do edema e analgesia;
• TENS e correntes analgésicas para analgesia;
• Correntes interferenciais para controle do edema e analgesia;
• Laser e ultrassom para favorecer o processo cicatricial, controlar o edema
e diminuir a dor;
• Técnicas de terapia manual (massagem, liberação miofascial, drenagem
etc.) para promover o relaxamento muscular, a redução das tensões e contra-
turas que podem ocorrer em função das lesões e melhora do fluxo circulatório;
• Técnicas de mobilizações articulares (Maitland, Mulligan, Kaltenborn) para
ganho e reestabelecimento da ADM;

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• Exercícios terapêuticos para ganho e reestabelecimento do alongamento
muscular de forma global;
• Exercícios para ganho e reestabelecimento da resistência, da força e da
potência muscular de forma global;
• Exercícios de ativação muscular do coto (iniciar de forma isométrica e pro-
gredir conforme tolerância do paciente);
• Exercícios para ganho e reestabelecimento da propriocepção do senso de
posição articular, do equilíbrio e da coordenação;
• Exercícios aeróbicos;
• Exercícios respiratórios;
• Treinamento de marcha (iniciar nas barras paralelas com duplo apoio de
membros superiores, para o paciente se adaptar à nova anatomia e centro de
gravidade e evoluir para andador, muletas tipo axilar ou canadense, com dife-
rentes obstáculos e acessórios que tentem simular a realidade durante uma
caminhada);
• Treinamento de atividades funcionais, como transferência de peso no
membro não amputado; sentar; levantar; subir e descer degraus; carregar ob-
jetos; alcançar objetos etc.
• Orientações sobre o posicionamento articular (no leito ou na cadeira) para
prevenir encurtamentos e deformidades;
• Orientações sobre modelagem do coto. As mobilizações no coto devem
ser iniciadas entre 24 e 48 horas após a cirurgia de amputação. O enfaixamento
compressivo deve ser realizado para reduzir e controlar o processo inflamató-
rio; reduzir o edema; estimular o metabolismo do coto; e modelar e preparar o
coto para protetização. Além do enfaixamento, deve ser realizada a dessensibi-
lização do coto com técnicas de massagem, estímulos sensoriais (água quente
e fria, diferentes texturas etc.) e exercícios em frente ao espelho;
• Orientações gerais para o paciente e familiares, em relação as adaptações
e cuidados no domicilio.
Na fase pré-protetização, o fisioterapeuta deverá ava-
liar as condições do coto (cicatrização, sensibilidade,
comprimento e perimetria) e prescrever a prótese
mais adequadas para as características e necessida-
des do paciente.

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Com a reabilitação física pós-cirúrgica e a cicatrização do coto, é possível
iniciar a fase de protetização, em que o paciente deverá ser orientado sobre a
forma correta de usar a prótese (como calçar e retirar a prótese, como realizar
a transferência de peso para o membro protetizado, como subir e descer esca-
das e rampas, como sentar e levantar, como desviar de obstáculos, como andar
em terrenos irregulares, como realizar preensão e como adaptar-se ao peso
dos objetos e à nova sensibilidade). Nessa última etapa, o paciente realizará a
adaptação à prótese a partir das orientações do fisioterapeuta e do treinamen-
to de atividades funcionais necessárias para o dia a dia.
Dessa forma, na assistência fisioterapêutica, o paciente será preparado
para o procedimento cirúrgico, realizará a reabilitação pós-cirúrgica e, ainda,
será acompanhado durante o período de protetização, para que ele consiga
retornar às atividades de vida diária de forma independente.

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Sintetizando
No âmbito da fisioterapia traumato-ortopédica, os distúrbios ortopédicos
dos membros inferiores e superiores são condições clínicas frequentes e que ge-
ram prejuízos à função física e à qualidade de vida dos pacientes, pois além dos
sinais e sintomas agudos, esses distúrbios podem ser tornar crônicos e deman-
dar tratamento cirúrgico e afastamento do trabalho e das atividades esportivas.
De um modo geral, tanto os distúrbios ortopédicos dos membros inferio-
res, quanto os dos membros superiores são ocasionados por estresse repetiti-
vo, sobrecarga articular e alterações posturais. Nos membros inferiores, os dis-
túrbios mais comuns são bursite trocantérica, fraturas por estresse no fêmur,
ruptura do lábio do quadril, síndrome do trato iliotibial, tendinite de pata de
ganso, síndrome da dor patelofemoral, tendinite patelar, síndrome do estresse
tibial media, síndrome compartimental, tendinite de calcâneo e fascite plantar.
Essas lesões e disfunções podem estar associadas com alterações e defor-
midades dos membros inferiores, como geno valgo, geno varo, geno recurvato,
pé plano e pé cavo, que interferem diretamente no alinhamento da cadeia ciné-
tica. Nos membros superiores, os distúrbios mais comuns são bursite do om-
bro, síndrome do impacto do ombro, discinesia escapular, bursite olecraniana,
epicondilite medial, epicondilite lateral, síndrome do túnel do carpo, contratura
de Dupuytren, síndrome de Ole craniana Quervain, tenossinovite e tendinites
do punho e deformidades nos dedos.
Em geral, os distúrbios ortopédicos dos membros inferiores e superiores
são tratados de forma conservadora, com a intervenção cirúrgica sendo con-
siderada em casos graves ou demasiados crônicos, em que o tratamento con-
servador não obteve sucesso.
Além dos distúrbios ortopédicos, a fisioterapia traumato-ortopédica de-
sempenha um papel importante na reabilitação de pacientes ampu-
tados. As amputações consistem na retirada total ou parcial de um
segmento. O tratamento dos pacientes amputados, seja
pré ou pós-cirúrgico, deve ser conduzido por uma equi-
pe multidisciplinar.
A assistência fisioterapêutica nas amputações
deve ser iniciada previamente à cirurgia e acompanhar

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o paciente até a protetização. O tratamento fisioterapêutico é fundamental
para reestabelecer a função física e a adaptação do paciente à nova anatomia
e biomecânica corporal, prevenir deformidades, preparar o coto para a prote-
tização e adaptar a prótese.
Portanto, tanto para o atendimento fisioterapêuticos dos distúrbios or-
topédicos quanto para as amputações, o fisioterapeuta deve compreender o
quadro clínico do paciente, bem como a etiologia desses distúrbios ou amputa-
ções. Além disso, o fisioterapeuta deve ter ciência dos recursos fisioterapêuti-
cos disponíveis para o tratamento dos sinais e sintomas dessas condições, seja
no pré ou no pós-operatório. Assim como deve conhecer as diferentes opções
de próteses e dispositivos ortopédicos disponíveis no mercado, para recomen-
dar o mais adequado as necessidades do paciente.

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