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que Chomsky empresta grande realce à criatiolclade ( ou


"abertura") da linguagem humana, sustentando que a teoria
da gramática deve refletir a capacidade que têm todos quan-
tos falam fluentemente uma língua de produzir e compre-
ender sentenças que jamais ouviram anteriormente. Como
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Chomsky veio a reconhecer mais tarde, estudiosos anteriores,
4 entre os quais Wilhelm von Humboldt e Ferdinandde
Saussure (1857-1913), também haviam insistido sobre a im-
portância desse traço que é' a criatividade. Em verdade,
METAS DA TEORIA LINGütSTICA esse trar.:o havia sido dado como pressuposto e ocasionalmente
transformado em objeto de menção explícita desde o início
da teoria lingüística ocidental, no mundo antigo. Contudo,
havia sido esquecido, senão negado, nas formulações bloom-
Antes de passarmos. a copsiderar as contribuições de ÍÍeldianas a propósito dos objetivos da teoria lingüística.
ord('m mais técnÍC'a dadas por Chomsky à lingüística, é de A razão desse procedimento parece ter sido a de que os
conveniência introduzir e explicar Os motivos e as presun- bloomfieldianos, assim como diversas outras escolas lingüís-
ções metodológicas que estão na base de sua obra.. Neste ticas do século XX, tinham consciência muito clara da neces-
capítulo. ten'mos em conta principalmente as explicações sidade de distinguir, de modo preciso, entre gramática des- .
que o próprio Chomsky oferece em seu breve, porém mar- critiva e prescritiva (ou normativa): entre a descrição das.
cante livro Syntactic Structurcs, publicado em 1957. Como regras que são efetivamente observadas quando se fala a
veremos no devido tempo, ele adota uma visão mais ampla língua-mãe e a prescrição de regras que, na opinião dos
do escopo da lingüística em obras posteriores. O capítulo gramáticos, deveriam ser seguidas para falar-se "correta-
6 de Syntactic S/ructures tem por título "Metas da Teoria mente" Há muitos exemplos de regras prescritivas estabele-
Lingüística", que tomei de empréstimo para este capítulo. cidas por gramáticos e que não encontram base no uso
Tal como já deixei assinalado, as concepções gerais de normal da língua. (Em português, por exemplo, existe a
Chomsky a propósito da teoria lingÜística, nos termos em regra segundo a qual o "correto" é "Assistir ao filme", em-
que são apresentadas em Syntaclic Structures, confundem-se, bora o mais usual seja, na linguagem corrente, "Assistir o
sob muitos aspectos. com as defendidas por outros membros filme". ) Tão preocupados estavam os bloomfieldianos (e
da escola bloomfieldiana e, especialmcnte. por Zellig Harris. várias outras "escolas") com assentar a lingüística em termos
Em particular, cabe referir que não há vestígio, nesse período. de ciência descritiva que transformaram em questão de prin-
do "racionalismo" tão característico das obras mais recentes cípio o não adiantar quaisquer juízos a propósito de grama-
de Chomsky. Seu reconhecimento da inflll~ncia recebida ticalidade ou "correção" de sentenças, a menos que tais
dos filósofos empiristas. Coodman e Quine, poderia sugerir se~tenças passassem pelo crivo do uso no linguajar comum,
que ele partilhasse de suas conccpçóes; contudo, não há. e houvessem merecido inclusão no corpo daquele material
em Syntactic Structures, discussão. em termos gerais. das que forma a base da descrição gramatical.
implicações filosóficas e psicológicas da gramática. Chomsky insistiu em que a grande maioria das sentenças
em qualquer corpo representativo de pronunciamentos regis-
Existem, contudo, um ou dois pontos que distinguem niti- trados seria de sentenças "novas", no sentido de que ocor-
damente das ohras de Harris e de outros autores bloomfiel-
reriam uma vez e tão-somente uma. vez; e insistiu em que
dianos a obra inicial de Chomsky. No capítulo 2, assinalei
isso permaneceria verdadeiro por mais que se prosseguisse
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no trabalho de registrar pronunciamentos feitos pelos que
falam uma língua-mãe. A língua inglesa, como todas as ocorre. A concepção de que todas as elocuções de quem
línguas naturais, consiste de um número de sentenças inde- fala a língua-mãe são igualmente corretas e provadas tais.
finidamente grande, do qual somente reduzida fração já foi pelo único fato de terem sido enunciadas, embora haja sido
sustentada, com freqüência, por lingÜistas que se inclinam
ou virá a ser enunciada. A descrição gramatical do inglês
pode basear-se num corpo de enunciações efetivamente conS- pelo empirismo, é, em última instància, inadmissível. E
tatadas, mas descreverá tais sentenças e as classificará como Chomsky tem indiscutivelmente razão quando reclama para a
lingüística o mesmo direito de desconsiderar "dados brutos"
"gramaticais" de modo apenas incidental, por assim dizer,
"projetando-as" contra o conjunto indefinidamente amplo de reconhecido para outras ciências. Há, naturalmente, tanto na
sentenças que constituem a linguagem. Recorrendo à teoria, como na prática, problemas sérios para decidir o que
terminologia de Chomsky, diremos que a gramática gera se constitui em fator estranho ou lingÜisticamente irrelevante;
(e conseqüentemente define como "gramaticais") todas as e pode muito bem ocorrer que, na prática, a "idealização" de
dados, advogada por Chomsky, tenda a introduzir alguma~
sentenças da língua, não distinguindo entre aquelas que já
foram e as que não foram emitidas. das considerações normativas que comprometeram grande
A distinção que Chomsky traça em Syntactic Structures porção da gramática tradicional. Isso, contudo, não afeta c
princípio geral.
entre as sentenças geradas pela gramática (a língua) e a
amostra dos enunciados produzidos, em condições normais Adicional e correlata diferença que se pode estabelecer
de uso, pelos que falam uma língua-mãe (o corpus), ele volta entre a concepção inicial e a concepção posterior de Choms-
a traçar em escritos posteriores, traduzindo-a por meio das ky a propósito das "metas da lingüística" diz respeito ao
noções de competência e desempenho. Essa alteração ter- papel que ele atribui às intuições, ou juízos dos que falam
minológica é sintomática da evolução do pensamento de a língua-mãe. Em Syntactic Structures, ele assevera que as
Chomsky, que passa do empirismo para o racionalismo, sentenças geradas pela gramática devem ser "aceitáveis para
como já foi mencionado e se verá mais pormenorizadamente quem fala a língua-mãe" (p. 49-50); e considera ponto favo-
adiante. Em suas últimas obras, embora não em Syntactic rável ao tipo de gramática por ele desenvolvido a circunstàn-
Structures, Chomsky sublinha o fato de que muitas das eia de também explicar as "intuições" de quem fala a língua-
construções produzidas pelos que falam uma língua-mãe -mãe no que diz respeito à maneira como certas sentenças
(amostras de seu "desempenho") serão, por motivos diversos, são dadas por equivalentes ou por ambíguas. Contudo, as
não gramaticais.' Essas razões têm a ver com fatores lin- intuições de quem fala a língua-mãe são apresentadas como
gÜisticamente irrelevantes como lapsos da memória ou da prova independente e a explicação que delas se dá é vista
atenção e disfunções dos mecanismos psicológicos responsá- como secundária em\ relação à tarefa principal de gerar as
veis pela fala. Admitido que assim seja, segue-se que o sentenças da língua. Em sua obra posterior, Chomsky inclui
lingüista não pode tomar o corpus dos pronunciamentos as intuições de quem fala a língua-mãe como parte dos dados
efetivos em termos de superficialidade, como parte da lín- a serem levados em conta pelo gramático. Além disso, ele,
gua a ser gerada pela gramática. Deve ele, até certo ponto, hoje, aparentemente, dá mais crédito à validade e confiabili-
idealizar os "dados brutos" e eliminar do corpus todas dade dessas intuições do que dava anteriormente, quando
as elocuções que os que empregam a língua-mãe reconhece- muito se preocupava com a necessidade de. submetê-Ias a
riam, por força de sua "competência" como não-gramaticais. ensaio por meio de satisfatórias técnicas "operacionais".
Á primeira vista, pode parecer que .Chomsky se tome, aqui,
Como vimos no capítulo anterior, a lingüística norte-
réu da culpa de confundir descrição com prescrição, o que
-americana do período "bloornfieldiano" tendia a ser de orien-
era comum na gramática tradicional. Assim, porém, não
tação muito "procedimental". Questões de teoria eram re-
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formuladas para se apresentarem como questões de método critérios (procedimento de avaliação) para escolher entre
("Como se deve exercer a tarefa prática de analisar a lin- gramáticas alternativas. Em outras palavras. não podemos
guagem?"); e' comumente se admitia que fosse possível che- esperar a possibilidade de dizer que certa descrição dos dados
gar a um conjunto de processos que. aplicado ao corpus de é correta em sentido absoluto, mas tão-somente que é mais
material de uma língua desconhecida (ou de uma língua correta do que uma descrição alternativa dos mesmos dados.
tratada como desconhecida do lingüista) permitiria correta A distinção traçada por Chomsky entre procedimentos de
análise gramatical da língua de que o corpus fosse amostra decisão c procedimentos de avaliação deu margem a muitos
representativa. Um dos pontos principais sustentados por mal-ent('ndidos e a contrO\'érsias desnecessárias. Afinal de
Chomsky em SlIntactic Structures é o de que essa é uma contas. nenhum físico diria que a Teoria da Relatividade de
presunção desnecessária e, em verdade, prejudicial: "uma Einstcin. por cxemplo. dá a melhor explicação possível dos
teoria lingüística não deve ser confundida com um manual dados que abarca. mas apenas que é melhor que a teoria
de procedimentos úteis, nem se deve esperar que ela assegure alternativa. baseada na física newtoniana. Uma vez' ainda,
métodos mecànicos para a descoberta de gramáticas" (p. 55, por que deveriam os lingüistas pretender mais do que preten-
nota 6). Os meios pelos quais, na prática. o lingüista chega dem as outras ciências? Afirma-se, por vezes. que a formula-
a uma e não a outra análise poderiam incluir "intuição, ima. ção das metas da teoria lingüística, proposta por Chomsky.
ginação, exame de todos os tipos de indícios metodológicos. choca-se com o fato de que, para muitas línguas, não dis-
apoio na experi~ncia anterior, etc." (p. 56). Importante é o pomos nem mesmo de uma gramática parcial e, para língua
resultado; e este pode ser apresentado e justificado sem alguma. contamos com uma gramática que possa dizer-se
alusão aos processos seguidos para alcançá-Io. Não significa próxima de completa. Isso é fato inegável. Contudo, daí não
isso que seja inútil tentar desenvolver técnicas heurísticas decorre a conclusão de que seja prematuro. em tais circuns-
para descrição das línguas, mas simplesmente - para diz~-lo t:lncias. falar de comparação entre gramáticas. A elaboração
de modo cru - que a prova do pudim está no comê-lo.
de um conjunto de regras gramaticais põe. para o lingüista,
Assim como a prova de um teorema pode ser verificada sem a necessidadc de tomar decisões que o levam a manipular
que se leve em conta a maneira como a pessoa que elaborou os dados desta e não daquela maneira. Ainda que as regras
a prova tenha chegado a determinar as proposições inter- só descrevam reduzida porção dos dados, de\'e haver. de
mediárias relevantes, assim também deve ocorrer no que
respeita à análise gramatical. Como diz Chomsky. esse maneira explícita ou implícita, comparação de alternativas.
Cabe n teoria lingÜística. afirma Chomsky, tomar explícitas
ponto seria admitido de imediato no campo das ciências as alternativas e formular 'princípios gerais para decidir entre
físicas e não há porque a lingüística deva colocar ambições elas.
mais altas; e especialmente importa considerar que nenhum
lingüista aproximou-se, até a~ora, da formulação de quais- Mais uma questão deve ser levantada. Embora Chomsky
quer "procedimentos de descoberta" que merecessem a quali- esteja. em certo sentido. sugerindo que a teoria lingüística.
ficação de satisfatórios. renunciando à busca "bloomfieldiana" de "procedimentos
A teoria lingüística deve, portanto. preocupar-se com a. de descoberta". proponha. para si mesma. objetivos mais
justificação das gramáticas. Chomsky vai adiante, para consi- modestos que os anteriores. há também um sentido em que
derar a possibilidade de formular critérios para decidir se suas proposições teóricas são incomparavelmente mais ambi-
uma particular gramática é a melhor possível. face aos dados. ciosas que as de seus predecessores. Alguns anos antes da
Conclui ele que mesmo esse objetivo - formulação de um publicação de SYl1tactic Structures. em artigo pouco divul-
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procedimento de decisão é demasiado ambicioso. Pode-se gado e intitulado "Systems of Syntactic Analysis", Chomsky
havia tentado formular, com precisão matemática, alguns
esperar, quando muito, que a teoria lingüística proporcione
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dos prOCédimentosde análise gramatical esboçados no M6- de regras. Chomsky, entretanto, nos previne, continuamente,
thods in Structural Linguistics de Harris. Convenceu-se ele, contra o perigo de confundir a "produção" de sentenças den-
em razão dessa experiência e do exame de outras "cuida- tro de determinado quadro gramatical com a produção de
dosas propostas para desenvolvimento da teoria lingüística", sentenças por quem fala uma língua. A gramática pr9põe-se
de que os esforços em questão, embora aparentemente volta- a ser neutra entre produção e recepção, a ambas explicando
dos para a especificação de "procedimentos de descoberta", até certo ponto, mas não mais inclinada por uma do que por
conduziam, de fato, "não mais do que a procedimentos de outra. Em geral, Chomsky não fala da gramática a "pro-
avaliação das gramáticas" (Syntactic Structures, p. 52). A duzir" sentenças. O termo que costumeiramente emprega é
contribuição mais original e provavelmente a mais sólida, "gerar"; e esse foi o termo que anteriormente empregamos
emprestada por Chomsky à lingüística reside no rigor e pre- neste capítulo. Mas, nesse contexto, que significa exatamente
cisão matemáticos postos na formalização das propriedades a palavra "gerar"?
de sistemas alternativos de descrição gramatical. Considera- Já vimos que a gramática gerativa é aquela que "pro-
ção mais ampla desse tópico deverá esperar pelos capítulos jeta" qualquer dado conjunto de sentenças contra o conjunto
seguintes. Aqui, mencionaremos apenas um ou dois pontos mais amplo, e possivelmente infinito de sentenças que cons-
gerais. titui a língua sob descriçãó, e que tal propriedade da gramá-
Nas primeiras páginas de Syntactic Structures, Chomsky tica é a que reflete o aspecto criador da linguagem humana.
fala da gramática em termos de "instrumento para produzir Contudo "gerativo" tem, para Chomsky, um segundo
as sentenças da língl,la sob análise". O uso que Chomsky sentido, de importância igual, se não maior. Este segun-
fez das palavras "instrumento" e "produção", nesse contexto, do sentido, em que "gerativo" pode ser entendido como
desorientou muitos leitores, levando-os a pensarem que ele "explícito", exige sejam especificadas precisamente as regras
concebe a gramática de uma língua como um modelo me- da gramática e as condições sob as quais operam. Talvez
cânico ou eletrÔnico - máquina - que reproduz o compor- possamos melhor ilustrar o que, no sentido mencionado, sig-
tamento de quem fala uma língua, emitindo sentenças. Im- nifica "gerativo", recorrendo a uma analogia matemática
porta acentuar que ele empregou esses termos porque o simples (e o uso que Chomsky faz do termo "gerar" deriva.
particular ramo da matemática sobre o qual se estava apoian- de fato do contexto matemático). Tenhamos em conta a
do para formalização da gramática também emprega palavras seguinte expressão algébrica: 2x + 3y - z. Dado que as
tais como "instrumento" e até "máquina" de maneira per- variáveis x, y e z podem ter, como valor, qualquer dos
feitamente abstrata, sem referência às propriedades físicas números inteiros, a expressão gerará (nos termos das opera-
de quaisquer modelos reais que possam tornar efetivo o ções aritméticas usuais) infinito conjunto de valores conse-
qüentes. Com x = =
3, y =
2 e z 5, o resultado será 7; com
abstrato "instrumento". Esse ponto se tornará mais claro
no próximo capítulo.
= = =
x 1, y 3 e z 21, o resultado será -10; e assim por
diante. Podemos dizer. portanto, que 7, - 10, etc. situam-se
~ lamentável, entretanto, que Chomsky tenha recor- no conjunto de valores gerados pela função em pauta. Se
rido à palavra "produzir", na passagem citada. Tal palavra alguém aplicar as regras da aritmética e obtiver resultado
sugere, quase indiscutivelmente, que a estrutura gramatical diferente, diremos que incidiu em erro. Não dizemos que as
da língua está sendo descrita do ponto de vista de quem regras são indeterminadas e permitem dúvida quanto à ma-
fala e não de quem ouve; que o gramático descreve a pro- neira como devam ser aplicadas. A concepção de Chomsky
dução e não a recepção da fala. Há, como veremos, um a respeito das regras de gramática é similar. Devem elas ser
sentido em que uma gramática do tipo a que Chomsky aludiu tão precisamente especificadas - formalizadas é o termo téc-
"produz" senteRças por via da aplicação de uma seqüência nico - quanto as regras da aritmética. Se avançarmos
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até o ponto de identificar as regras da gramática .à compe- casos duvidosos. A.dvogao mesmo enfoque para a lingüística;
tbu:ia lingüística de quem fala uma língua-mãe, tal como para Chomsky, a gramática gerativa é uma teoria científica.
faz Chomsky em sua obra mais recente, poderemos explicar Para dar um exemplo simples (que não é de Chomsky):
a ocorrência de sentenças não-gramaticais e a ocasional inca- muitas pessoas que falam inglês rejeitariam a sentença Tias
pacidade de os ouvintes analisarem sentenças pedeitamente house will have been being built, enquanto outras a acei-
tariam como normal. De vez que os juízos dos que têm"
gramaticais - muito à semelhança de como podemos expli-
car as diferenças ocorridas no cálculo de uma função ma- português como língua-mãe não parecem variar sistematica-
temática. Dizemos que tais diferenças se devem a erros de mente de acordo com alterações regionais, admitamos que,
desempenho - erros cometidos na aplicação das regras. para o português como um todo, o status de sentenças como
a referida é indeterminado (em contraste com sentenças
Segundo Chomsky, a gramática de uma língua deve inteiramente aceitáveis, como The house will have been built,
gerar "todas e somente" as sentenças da língua. Se o leitor The house is being built, They will have been building the
se perturbar com o acréscimo de "e somente" (que é exem- house, etc., e inteiramente inaceitáveis como °The house can
plo relativamente trivial do tipo de precisão estimulado pela nvill be built, etc.). Como não sabemos de antemão se The
formalização), bastar-lhe-á dar-se conta de que, construindo house will have been being built é QUnão é uma sentença
a gramática de maneira que ela gere todas as combinações gramatical, podemos formular as regras da gramática de
de palavras inglesas, por exemplo (e tratar-se-ia de uma modo a incluírem todas as seqüências decididamente acei-
gramática muito simples), poder-se-ia estar seguro de gerar táveis e a excluírem todas as seqüências decididamente ina-
todas as sentenças. da língua. Contudo, a maior parte das ceitáveis, verificando, a seguir, se tais. regras excluem ou
combinações não corresponderia a sentenças. O acréscimo incluem sentenças como The house nvill have been being
de "e somente" é, portanto, ressalva importante. built. (Sentenças desse tipo são, de fato, geradas, e. por
A geração de todas e somente as sentenças do inglês isso mesmo, definidas como gramaticais, pelas regras dadas
ou de qualquer outra língua poderia parecer exageradamente ao inglês em Syntactic Structures.)
ambiciosa. Convém lembrar, entretanto, que isso traduz. um Neste capítulo, limitamo-nos, em grande parte, a exami-
ideal que, ainda que fosse de realização impossível, é meta nar as primeiras concepções de Chomsky acerca dos obje-
no sentido da qual o gramático de qualquer língua deve tivos da metodologia da lingüística; assinalemos que, posta
continuamente caminhar; e uma gramática pode ser conside- de parte a ênfase que ele coloca na importància da criativi-
rada melhor do que outra se, havendo igualdade de todos dade e a rejeição que fez dos procedimentos de descoberta.
os demais aspectos, ela se coloca mais próxima desse ideal. o nosso Autor ao escrever Syntactic Structures, permanece
Deve ser também acentuado, embora isso possa parecer acentuadamente "bloomfieldiano". Deixamos dito que a por-
algo paradoxal, que a adoção do ideal de Chomsky, no sen- ção mais notável e mais original dos primeiros trabalhos de
tido de gerar todos e somente as senienças da língua, não Chomsky consiste em sua formalização dos vários sistemas
envolve a concepção de que seja invariavelmente nítida a de gramática gerativa; os próximos três capítulos serão
distinção entre seqüências (de palavras) gramaticais e não devotados a uma explicação desse lópico. Passaremos, depois.
gramaticais e que, portanto, seja sempre possível decidir ao exame de suas contribuições mais recentes para a psico-
se dada seqüência deve ou não ser gerada pela gramática. logia e a filosofia da linguagem.
Chomsky assinala em Syntactic Structures que é lugar-comum
da filosofia da ciência a afirmação de que, sendo uma teoria
formulada de maneira tal que abrange os casos claros, pode
essa mesma teoria ser usada para tomar posição diante de
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