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Esta obra tem como objetivo introduzir os principais conceitos da química orgâni-
ca, por meio de exemplos descritivos relacionados ao cotidiano e uma linguagem
acessível. Como objetivo secundário, visa-se motivar o aluno a observar o mundo
através de outra perspectiva e com pensamento crítico, além de prepará-lo para
outros desafios da química e do mundo.
Em cada unidade, serão abordados diferentes conceitos. Na primeira, serão apre-
sentados o conceito de átomo e como as ligações ocorrem. Na segunda unidade,
serão estudadas a nomenclatura e as funções de compostos orgânicos. Na terceira,
será demonstrada algumas propriedades importantes dos compostos orgânicos e,
na última unidade, reações da química orgânica serão introduzidas, bem como será
discutido como a síntese do ácido acetilsalicílico (AAS) pode ser realizada. Ademais,
as unidades possuem tópicos com curiosidades e dicas sobre conceitos relacionados
à química orgânica.
DADOS DO FORNECEDOR
*Todos os gráficos, tabelas e esquemas são creditados à autoria, salvo quando indicada a referência.
Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida por qualquer meio
A violação dos direitos autorais é crime estabelecido pela Lei n.º 9.610/98 e punido pelo artigo 184 do
Código Penal.
ASSISTA
Indicação de filmes, vídeos ou similares que trazem informações comple-
mentares ou aprofundadas sobre o conteúdo estudado.
CITANDO
Dados essenciais e pertinentes sobre a vida de uma determinada pessoa
relevante para o estudo do conteúdo abordado.
CONTEXTUALIZANDO
Dados que retratam onde e quando aconteceu determinado fato;
demonstra-se a situação histórica do assunto.
CURIOSIDADE
Informação que revela algo desconhecido e interessante sobre o assunto
tratado.
DICA
Um detalhe específico da informação, um breve conselho, um alerta, uma
informação privilegiada sobre o conteúdo trabalhado.
EXEMPLIFICANDO
Informação que retrata de forma objetiva determinado assunto.
EXPLICANDO
Explicação, elucidação sobre uma palavra ou expressão específica da
área de conhecimento trabalhada.
Sintetizando............................................................................................................................ 38
Referências bibliográficas.................................................................................................. 39
Cromatografia (prática)........................................................................................................ 68
Sintetizando............................................................................................................................ 71
Referências bibliográficas.................................................................................................. 73
Tópicos de estereoquímica................................................................................................. 77
Quiralidade........................................................................................................................ 79
Isômeros constitucionais................................................................................................ 83
Sintetizando.......................................................................................................................... 106
Referências bibliográficas................................................................................................ 109
Sintetizando.......................................................................................................................... 142
Referências bibliográficas................................................................................................ 145
QUÍMICA ORGÂNICA 9
Currículo Lattes:
http://lattes.cnpq.br/2211299884467001
Esta obra é dedica a Deus, a minha mãe, avós e amigos, que acreditaram
no meu propósito de vida e sempre me motivaram a buscar a felicidade.
Sou grata por todos que participaram desta trajetória na busca pelo
conhecimento. Também dedico à equipe que me auxiliou a produzir este
conteúdo.
QUÍMICA ORGÂNICA 10
1 ÁTOMOS, LIGAÇÕES E
ESTRUTURAS
Tópicos de estudo
Introdução à química orgânica
QUÍMICA ORGÂNICA 12
Aquecimento NH2
NH4CNO O C
NH2
Cianato de Ureia
amônio
Figura 1. Produção de ureia a partir do cianato de amônio.
QUÍMICA ORGÂNICA 13
Fase móvel:
mistura de proteínas
Fase estacionária:
feita de polímeros
Proteínas separadas
após passar pela coluna
1 2 3 4 5 6
Figura 2. Separação de uma mistura de compostos orgânicos (proteínas) utilizando coluna cromatográfica. Fonte:
ACIKARA, 2014.
QUÍMICA ORGÂNICA 14
QUÍMICA ORGÂNICA 15
CURIOSIDADE
É comum encontrar, na química orgânica, moléculas que possuem a
mesma fórmula molecular, mas diferentes fórmulas estruturais, ou seja, a
forma em que os átomos da molécula estão ligados é diferente. A teoria
estrutural permitiu resolver essa questão, uma vez que isômeros geral-
mente possuem propriedades físicas e químicas diferentes, e essa dife-
rença era uma incógnita para os cientistas.
Estruturas de Lewis
A união entre átomos produz as moléculas, por meio de ligações quí-
micas. Os primeiros estudos acerca dessas ligações foram realizados em
1916, pelos cientistas Lewis e Kössel. Como resultado da pesquisa
de ambos, foi proposto que os átomos podem se ligar por meio
de ligações iônicas ou ligações covalentes. As ligações
iônicas ocorrem quando um átomo ganha ou perde
elétrons, logo, quando há transferência elétrons
acontecendo entre um metal e um ametal, o metal
perde e o ametal ganha elétrons.
QUÍMICA ORGÂNICA 16
EXPLICANDO
Os átomos se ligam tanto por meio de ligações iônicas, quanto por liga-
ções covalentes, para atingir a estabilidade. De acordo com a regra do
octeto, a estabilidade é atingida quando um átomo apresenta oito elétrons
na camada de valência, semelhante à configuração eletrônica de gases
nobres. Outra possibilidade ocorre quando o átomo, por meio de ligações,
alcança dois elétrons na camada de valência, semelhante ao hélio, um gás
nobre. Existem também exceções à regra do octeto, alguns compostos,
como PCl4 e SF6, podem conter átomos com mais de oito elétrons na cama-
da de valência.
QUÍMICA ORGÂNICA 17
Hidrogênio H2: Hx + Hx H xx H
Hx
x· x
Metano CH4: C · + 4HX H · Cx · H
·
H
Cloro Cl2: Cl + Cl Cl Cl
Fórmulas estruturais
As fórmulas estruturais de traço, condensadas e de linhas são mais fáceis para
ilustrar os compostos orgânicos, principalmente quando a estrutura é grande e ou
complexa. A fórmula estrutural de traço representa, de maneira integral, como
os átomos de hidrogênio se ligam ao carbono. Os traços podem ser dispostos em
zigue-zague e, neste caso, demonstram com maior similaridade a disposição real
dos átomos em uma molécula orgânica, pois as ligações usualmente possuem um
ângulo. Contudo, é muito comum ilustrar a fórmula estrutural de traços utilizando
ângulos de ligação de 90º, a fim de simplificar sua escrita (Figura 4).
QUÍMICA ORGÂNICA 18
Carga formal
Até aqui, vimos que existem diferentes formas de representar uma estrutura
molecular. No entanto, quando tratamos da estrutura de Lewis, devemos lembrar
que nem todos os átomos se comportam de acordo com a regra do octeto ao reali-
zar ligações químicas, fato que pode ocasionar inúmeras dúvidas. Com o intuito de
resolver tal questão, é possível calcular a carga formal dos átomos e verificar qual é
a estrutura mais próxima da realidade.
Para tal, inicialmente, deve-se verificar qual a quantidade de elétrons na camada
de valência do átomo de interesse. Essa tarefa pode ser facilmente realizada consul-
tando a tabela periódica. Ao localizar o elemento químico na tabela, basta verificar
a qual família ele pertence. O número da família corresponde à quantidade de elé-
trons na camada de valência, os grupos variando de 1A até 7A e de 1B até 8B.
Como exemplo, considere uma molécula de oxido nitroso (N2O). Saberemos que
o átomo de oxigênio possui seis elétrons na camada de valência e o nitrogênio pos-
QUÍMICA ORGÂNICA 19
Possibilidade 1 Possibilidade 2
N N O N O N
Nitrogênio Nitrogênio Nitrogênio Nitrogênio
V=5 V=5 V=5 V=5
L=4 L=0 L=4 L=4
S=4 S=8 S=4 S=4
Cf = 5-(4+1/2x4) = -1 Cf = 5-(0+1/2x8) = -1 Cf = 5-(4+1/2x4) = -1 Cf = 5-(4+1/2x4) = -1
Oxigênio Oxigênio
V=6 V=6
L=4 L=0
S=4 S=8
Cf = 6-(4+1/2x4) = 0 Cf = 6-(0+1/2x8) = 2
Figura 5. Possíveis estruturas de Lewis e cálculo da carga formal. Fonte: OPENSTAX, 2016. (Adaptado).
QUÍMICA ORGÂNICA 20
I=0 s
I=1 Px Pz Py
I=2 dx - y
2 2 dzx d3z r
2- 2 dyx dxy
I=3 ƒ x(x 2
- 3y2) ƒ z(x2
- y2) ƒ x(5z 2
- r2) ƒ z(5z
2
- 3r2) ƒ y(5z
2
- r2) ƒ xyz ƒ y(3x
2
- y2)
QUÍMICA ORGÂNICA 21
QUÍMICA ORGÂNICA 22
Orbital molecular
antiligante
Energia
3. Ligação
1s 1s
covalente
2. Atração entre
elétrons e núcleos
σ
Distância intermolecular Orbital molecular
ligante
Figura 8. Gráfico da formação da ligação covalente entre átomos de hidrogênio e diagrama de energia da molécula de
hidrogênio. Fonte: SOLOMONS; FRYHLE, 2012. (Adaptado).
QUÍMICA ORGÂNICA 23
QUÍMICA ORGÂNICA 24
QUÍMICA ORGÂNICA 25
QUÍMICA ORGÂNICA 26
Carbono:
z
p p sp3 H
p Hibridização
sp 3
y +4 H
sp3 sp3 H H
sp3
H
x
H p H p
sp2 sp2 H π H
+ sp2 sp2
sp2 sp2 sp2 σ
sp2 sp2
sp2 sp2 H π H
H H
z z
H p H p
sp sp
π
1
sp +
σ
σ
H
p sp p sp
x y x y
π
1
Figura 9. Transferência do orbital 2s para orbital 2pz do carbono. Fonte: BARBOSA, 2011. (Adaptado).
QUÍMICA ORGÂNICA 27
Projeções de Newman
Até aqui, analisamos as ligações
entre átomos para formar moléculas.
Estudamos que a ligação mais comum
entre átomos de carbonos é a ligação
simples, também denominada de li-
gação sigma (σ). Basicamente, essa
ligação ocorre devido ao compartilha-
mento de elétrons entre dois átomos, resultando na ligação covalente. Ainda
de acordo com a teoria dos orbitais moleculares, essa ligação ocorre devido à
sobreposição de orbitais.
Uma das características da ligação sigma está relacionada à sua densidade
eletrônica, localizada especificamente no eixo em que ocorre a ligação entre
os átomos, situação essa diferente da observada em ligações duplas do tipo pi
(π), na qual a densidade eletrônica se localiza acima ou abaixo, em relação ao
eixo da ligação entre dois átomos. Logo, em uma ligação σ, a sobreposição de
orbitais ao longo do eixo permite que a ligação possa girar ao redor do próprio
eixo. No caso das ligações π, em que a sobreposição dos orbitais ocorre late-
ralmente, o movimento de rotação não é possível, pois quebraria a ligação.
Portanto, as ligações π não podem girar livremente.
Para que estas rotações ocorram, faz-se necessário a utilização de energia que
é denominada de barreira de rotação. Por exemplo, em uma molécula de etano
(H3C-CH3), há uma barreira de rotação de 2,9 kcal/mol. Nesse caso, a energia neces-
sária é pequena e, por isso, dizemos que a rotação ocorre livremente. A molécula
de etano é constituída, espacialmente, por dois carbonos, ligados por meio de uma
ligação simples, e três hidrogênios, ligados em cada carbono em direções distintas.
A rotação dessa molécula (Figura 10a), em um ângulo de 60º, pode resultar na
conformação em oposição e em coincidência. Na conformação em oposição, os
QUÍMICA ORGÂNICA 28
H H
H 60O 60O
A C C
H
H H
A B C
H Carbono de trás
H H H H
H
H H H
B
C C C Carbono da frente =
H
H H
H H H H
H
H
HH HH HH
Todos em coincidência:
H H H energia máxima
H H H H H H
H H H
Estado de transição Estado de transição Estado de transição
Barreira
de rotação
C
Ea = 2,9kcal/mol
H H H H
H H H H H H H H
Rotação Todos em oposição:
energia mínimo
H H H H H H H H
H H H H
Figura 10. (a) Rotação do etano em A e C para conformação de oposição, e em B para conformação de coincidência;
(b) Representação de uma molécula do etano sendo convertida a uma projeção de Newman;(c) Diagrama de energia
potencial das estruturas de Newman. Fonte: VALLHARDT; SCHORE, 2013. (Adaptado).
QUÍMICA ORGÂNICA 29
Teoria da ressonância
Uma estrutura química, molécula ou íon, pode ser representada por mais
de uma forma, de acordo com a teoria da ressonância. Como base, utiliza-se as
estruturas de Lewis, sendo que as moléculas apenas se diferem com relação à
posição dos elétrons que se deslocam pela molécula e, eventualmente, a posi-
QUÍMICA ORGÂNICA 30
Íon carbonato
O δ- - -
A O O O
C C C C -
- O O
O O - O O
δ- O O
δ-
Híbrido de ressonância Estruturas de ressonância
B C
Formaldeído Ácido fórmico
-
O O -
O O
C C+
H H H H C H C H
H O H O+
Octeto Não octeto
Estrutura principal Estrutura secundária
Figura 11. (A) Íon carbonato com estrutura do híbrido de ressonância e suas respectivas estruturas de ressonância; (B)
Estrutura do formaldeído cujas ressonâncias podem ou não seguir a regra do octeto; (C) Estrutura do ácido fórmico,
demonstrando a distância entre as cargas positivas e negativas.
QUÍMICA ORGÂNICA 31
QUÍMICA ORGÂNICA 32
Geometria molecular
O modelo de repulsão do par de elétrons é aplicado aos
elétrons presentes na camada de valência, ou seja,
aqueles que são utilizados para realizar as liga-
ções químicas. Este modelo ajuda a explicar
como os átomos nas moléculas podem se ar-
ranjar espacialmente. Contudo, para a aplica-
ção deste modelo, algumas premissas devem
ser consideradas:
• O átomo central de uma molécula se liga a outros átomos por meio
de ligações covalentes;
• Todos os pares de elétrons presentes na camada de valência do átomo
central, tanto os que realizam a ligação covalente com outros átomos, deno-
minados de pares ligantes; quanto os que não realizam ligação, classifi cados
como pares não compartilhados ou isolados, devem ser considerados;
• Sabendo que cargas iguais se repelem, aplica-se o mesmo conceito
aos elétrons, que também se repelem, sendo que pares de elétrons dispo-
níveis na camada de valência mantém a maior distância possível, mesmo
durante a ligação covalente. Os pares de elétrons não compartilhados, por
outro lado, têm maior repulsão, em comparação com os pares de elétrons
compartilhados, e a repulsão entre pares de elétrons ligados e não ligados
é intermediária;
• A geometria molecular deve considerar tanto os pares de elétrons
ligados, quanto os pares de elétrons não ligados. No entanto, sua posição
junto ao átomo é irrelevante, sendo, portanto, considerada a posição final
do átomo na molécula.
QUÍMICA ORGÂNICA 33
H N
H
Metano (CH4) Amônia (NH3) H
C H
Ângulo: 109,5º Ângulo: 107º
H
Tetraédrica Pirâmide trigonal
H H
F
O Trifluoreto
Água (H2O)
de boro (BF3)
Ângulo: 104,5º,
Ângulo: 120º B
Angular
H Trigonal plana
H
F F
Cl
Hidreto de berilio H Be H
Íon tetracloreto de
(BeH2) e Dioxido
iodo (ICl4-)
de carbono (CO2) Cl I- Cl
O C O Ângulo: 90º
Ângulo:180º
Quadrado planar
Linear
Cl
Cl F
F
Pentacloreto de
Cl Hexafloreto de F
fosforo (PCl5)
enxofre (SF6) S
Ângulo: 120º e 90º Cl P
Ângulo: 90º
Bipirâmide Cl Octaédrica F
trigonal F
Cl
F
QUÍMICA ORGÂNICA 34
QUÍMICA ORGÂNICA 35
QUÍMICA ORGÂNICA 36
Observe que, na Figura 12, as setas indicam quais átomos estão deslocando
a densidade eletrônica. Coincidentemente, tanto no dióxido de carbono como
na água, o oxigênio é responsável pelo deslocamento. Esse deslocamento,
simbolizado por setas, é referente ao vetor do momento
dipolo. Considerando os vetores, setas opostas resultam
em momento dipolo igual a zero, logo, em moléculas
apolares. Caso contrário, vetores que se somam resul-
tam em um momento dipolo maior que zero, portanto,
em moléculas polares.
QUÍMICA ORGÂNICA 37
QUÍMICA ORGÂNICA 38
QUÍMICA ORGÂNICA 39
2 FUNÇÕES
ORGÂNICAS
Tópicos de estudo
Hidrocarbonetos: alcanos, alce- Funções nitrogenadas
nos, alcadienos, alcinos, ciclanos, Funções sulfuradas
ciclenos e aromático Funções ou compostos
Nomenclatura IUPAC e proprie- organometálicos: compostos
dades físicas de Grignard e de Frankland
Conformações de cicloexano
Propriedades dos derivados Cromatografia (prática)
benzênicos
Outros compostos aromáticos:
nanotubos e fulerenos
Funções orgânicas
Haletos orgânicos
Funções oxigenadas
QUÍMICA ORGÂNICA 41
SATURADO INSATURADO
Alcano Alceno Alcadieno Alcino
butano buteno but-1,3-dieno but-2-ino
(C4H10) (C4H8) (C4H6) (C4H6)
CÍCLICOS POLICÍCLICOS
Cicloalcano Cicloalceno Policíclico
ciclopropano ciclopenteno decahidronaftaleno
(C3H6) (C5H8) (C10H18)
AROMÁTICOS
Aromático Aromáticos
benzeno policíclicos naftateno
(C6H6) (C10H8)
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QUÍMICA ORGÂNICA 44
QUÍMICA ORGÂNICA 45
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QUÍMICA ORGÂNICA 48
Fundido Em ponte 4
9 2 1 2 5 3
1 3
7 3 7
8 8
6 2
4
7 6 6 5 4 1
5
8-metilbiciclo [4,3,0] nonano 8-metilbiciclo [3,2,1] octano Triciclo [2,2,1,02,6] heptano
QUÍMICA ORGÂNICA 49
Conformações de cicloexano
Os ângulos entre as ligações do carbono nos cicloalcanos são formados
na tentativa de reduzir a energia excedente devido à tensão do anel. Nas
moléculas de cicloexano, o desvio da planaridade pode ser claramente ob-
servado por meio das estruturas de conformação, que podem assumir a
forma de cadeira ou a forma de barco.
A conformação em cadeira permite que a ligação entre os carbonos
ocorra em um ângulo de 109,5º, o que resulta na ausência da tensão an-
gular e tensão de torção, consequentemente, é a conformação mais es-
tável e de menor energia para o cicloexano. Obser vando uma projeção
de Newman para o cicloexano, é possível notar que as ligações nessa
conformação são alternadas, logo, a repulsão entre os hidrogênios tam-
bém é menor.
Ao fornecer uma energia de aproximadamente 45 kJ, as ligações en-
tre os carbonos começam a rotacionar, chegando à conformação de meia
cadeira e, em seguida, começam a perder energia até atingirem a confor-
mação em barco, que não possui tensão angular, mas que apresenta o au-
mento da tensão de torção. Adicionalmente, os átomos de hidrogênio dos
carbonos aproximam-se, o que gera repulsão. Essa conformação permite
que a molécula seja mais flexível. Um intermediário entre as conformações
também ocorre, a conformação torcida, que possui menor energia, cerca
de 23 kJ, e estabilidade ligeiramente maior em comparação à de barco, que
tem 30 kJ de energia. A Figura 3 apresenta as principais conformações em
cadeira e barco, as projeções de Newman e um gráfico das diferenças de
energia entre as conformações.
QUÍMICA ORGÂNICA 50
HH HH 30 kJ/mol
23 kJ/mol
Cadeira
CH2 Cadeira
H H
H CH2 H 0
Projeção de Newman com Cadeira Meia Torcida Barco Torcida Meia Cadeira
conformação em barco cadeira cadeira
Figura 3. (A) Projeções de Newman nas conformações em cadeira e barco; (B) Alteração da energia com a mudança da
conformação do cicloexano. Fonte: SOLOMONS; FRYHLE, 2012. (Adaptado).
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O O O O
Ativador moderado -NHCR -NHCAr -OCR -OCAr
REATIVIDADE
AUMENTA A
AO BENZENO
EM RELAÇÃO
Ativador fraco -R
AO BENZENO
EM RELAÇÃO
REATIVIDADE
REDUZ A
O O O O O O
META-DIRIGENTE
Figura 4. Efeito dos substituintes na adição dos grupos secundários. Fonte: BROWN; POON, 2016. (Adaptado).
De modo geral, pode-se dizer que quando grupos alquil e fenil se ligam ao
benzeno, têm-se uma ativação moderada e o direcionamento dos substituintes
ocorre para a posição orto- e para-. Halogênios são desativadores moderados
e induzem as ligações de outros substituintes para que ocorram, preferencial-
mente, nas posições orto- e para-. Os grupos funcionais que direcionam outras
substituições na posição meta- possuem carga total ou parcial positiva. Como
exemplo, considerando-se a síntese do bromonitrobenzeno, se for iniciada pela
nitração, então, o bromo se ligará à posição meta-, entretanto, se for iniciada
pela bromação, o grupo nitro- se ligará nas posições orto- e para-.
Outro modo de avaliar a capacidade de ativação e desativação dos grupos
funcionais ligados ao benzeno, é por ressonância e efeito indutivo. Por exem-
plo, ressonâncias em grupos -NH2, -OH e -OR deslocalizam a carga positiva do
íon intermediário, o que eleva a taxa de substituição da molécula em compa-
ração com o benzeno sozinho. O efeito indutivo e de ressonância de grupos
-NO2, -C = O, -SO3H, -NR 3+, -CCl3 e -CF 3, ligados ao anel aromático, diminuem a
sua densidade eletrônica, o que causa redução na taxa de substituição aromá-
QUÍMICA ORGÂNICA 53
(A) (B)
Figura 5. Representação esquemática de nanotubos de carbono (A); e fulerenos (B). Fonte: ZARBIN; OLIVEIRA, 2013. (Adapatado).
QUÍMICA ORGÂNICA 54
Funções orgânicas
O carbono pode se ligar a outros átomos, como o oxigênio, nitrogênio, en-
xofre e metais, por meio de diferentes combinações, dando origem a milhares
de compostos orgânicos que são utilizados em diversos processos químicos
que ocorrem no nosso corpo e, também, são aplicados industrialmente na pro-
dução de produtos de diferentes setores, como o farmacêutico, cosmético e
petroquímico.
Nesse contexto, serão apresentados os diferentes grupos funcionais do
carbono, bem como suas principais características e nomenclatura.
Haletos orgânicos
Haletos orgânicos, também conhecidos como haloalcanos ou haletos de al-
quila, são compostos que contêm um halogênio como o flúor, cloro, bromo e/ou
iodo, ligado a um átomo de carbono de uma molécula orgânica. Genericamente,
QUÍMICA ORGÂNICA 55
Br Cl
F Cl
Cl F
2-cloro-2-metilbutano 2-bromo-3-etilpentano Diclorodifluormetano
Iodociclopentano Fluorbenzeno
QUÍMICA ORGÂNICA 56
Radical + sufixo
Álcool R-OH
-ol
Metanol OH
C O Radical + sufixo
Aldeído Butanal
H - al O
O
Cetona Radical + -ona Butan-2-ona
R C R O
Radical + -oxi + O
Éter R O R’ radical
Metoxipropano
R C O Ácido + radical + O
Ácido carboxílico Ácido propanóico
-óico
OH OH
R C O Radical + -ato + O
Éster de + Butanato de etila
OR’ radical + -ila O
R C O Radical + -oato + O
Propanato de
Sal orgânico de + cátion
sódio
O-Me+ O Na
QUÍMICA ORGÂNICA 57
QUÍMICA ORGÂNICA 58
QUÍMICA ORGÂNICA 59
QUÍMICA ORGÂNICA 60
CURIOSIDADE
Os lipídios, ou simplesmente moléculas de gordura, têm uma importante
função no organismo humano: fornecer energia. Podem ser saturados,
sendo encontrados no queijo, leite e ovos, ou insaturados, presentes em
óleos de girassol e coco. O consumo de lipídios deve ser moderado, pois
em alta quantidade acabam se armazenando como tecido adiposo na
forma de gordura.
QUÍMICA ORGÂNICA 61
Funções nitrogenadas
O nitrogênio está presente em diversos compostos orgânicos e o modo como se
liga ao carbono gera diversas funções nitrogenadas, sendo as principais: aminas, imi-
nas, amidas, imidas, nitrilos e nitrocompostos. Alguns compostos nitrogenados têm
grandes aplicações industriais e outros são importantes em processos biológicos,
como na síntese de proteínas. O Quadro 3 apresenta as principais funções nitrogena-
das e suas respectivas nomenclaturas.
O
O
Amida Radical + amida Propanoamida
-C-NH2
NH2
O
H
Imida O N O Radical + imida Cicloexano-1,2-dicarboximida NH
Nitrila R-C≡N
R-C≡N Radical + nitrila Etanonitrila
N
NO2
Nitrocompostos R-NO2 Nitro + radical Nitrobenzeno
QUÍMICA ORGÂNICA 62
QUÍMICA ORGÂNICA 63
QUÍMICA ORGÂNICA 64
Funções sulfuradas
As funções sulfuradas mais relevantes são os tióis, tioéteres e ácidos sul-
fônicos, hidrocarbonetos orgânicos sulfurados em que o enxofre (S) se liga ao
carbono de diferentes formas e, além do carbono, também pode se ligar ao
oxigênio. O Quadro 4 apresenta as funções sulfuradas que serão abordadas
com mais detalhes, posteriormente.
SH
Tióis R-SH Radical + tiol Benzenotiol
Radical + tiol +
Tioéteres R-C-S-R Metil-tioetano
radical S
O O
Ácido + radical + Ácido S
HO
Ácidos sulfônicos R-S-OH sulfônico benzossulfônico
O O
QUÍMICA ORGÂNICA 65
CURIOSIDADE
Os compostos orgânicos sulfurados são conhecidos pelo seu odor
nada agradável. No entanto, sua utilização pode ser importante. Por
exemplo, o butan-1-tiol é um hidrocarboneto com função orgânica tiol
que, quando misturado ao gás de cozinha, resulta em um forte odor,
facilitando sua percepção em caso de vazamento. Por conta disso, o
butan-1-tiol é uma molécula muito utilizada para garantir a segurança
de quem utiliza gás de cozinha.
QUÍMICA ORGÂNICA 66
Composto de
Nome do ânion
Cloreto de
MgCl
R-MgX + de + radical +
Grignard o-toluil-magnésio
magnésio
Composto de
Frankland
R-Zn Radical + zinco Dietilzinco Zn
Onde X é um ânion.
QUÍMICA ORGÂNICA 67
Cromatografia (prática)
A cromatografia consiste em um processo no qual compostos de uma
mistura na fase líquida ou gasosa, denominada de fase móvel, são separa-
dos ao passar por uma coluna cromatográfica, denominada de fase esta-
cionária, podendo ser utilizada em processos de purificação e identifica-
ção de compostos.
Na cromatografia, usualmente, o analito é diluído em um solvente apro-
priado, formando a fase móvel. A fase estacionária pode ser constituída de
diferentes materiais, polares e apolares, sendo que sua escolha se relacio-
na com o material a ser analisado. Em um processo mais simples e mais
antigo, a cromatografia utiliza como fase estacionária a sílica, que é em-
pacotada em uma coluna de vidro. A separação ocorre pela diferença na
interação dos constituintes da amostra com a coluna. O solvente utilizado
pode ser mantido ao longo do processo ou alterado para facilitar a eluição
dos compostos da mistura, conforme a mudança das frações coletadas.
Outro modo de separar compostos é pela cromatografia de camada
delgada, em que a fase estacionária é fixada em uma placa. A amostra é
colocada na parte inferior da placa, que é inserida em um recipiente com
uma pequena quantidade de solvente. A adsorção e ascensão do solven-
te e a diferença de interação entre o material da placa e da amostra são
responsáveis pela separação dos constituintes da amostra. Esse processo
pode ser realizado, também, utilizando-se uma folha de papel.
Na cromatografia gasosa, o material a ser analisado é inicialmente
evaporado ao ser injetado no equipamento, segue em direção à coluna
juntamente com um gás inerte, que pode ser o hélio, nitrogênio, argônio,
também chamado gás de arraste. A coluna cromatográfica é capilar, com
diâmetros < 1 mm, e outra variável que pode ser alterada na cromatografia
QUÍMICA ORGÂNICA 68
2. Coluna
1. Extração 3. Separação
cromatográfica
Adicionar acetona
Retirar a primeira
na coluna para
fração colorida
umedece-la
Trocar de solvente de
acetona para removedor
de ceras contendo 25%
de acetato de etila
Coletar as frações
Figura 7. Fluxograma esquemático do procedimento para extração de pigmentos da folha de espinafre utilizando
cromatografia de coluna.
QUÍMICA ORGÂNICA 69
QUÍMICA ORGÂNICA 70
QUÍMICA ORGÂNICA 71
QUÍMICA ORGÂNICA 72
QUÍMICA ORGÂNICA 73
QUÍMICA ORGÂNICA 74
3 ISÔMEROS,
ÁCIDOS E BASES
ORGÂNICAS
Tópicos de estudo
Tópicos de estereoquímica Força dos ácidos e bases
Quiralidade Acidez e basicidade das
Isômeros constitucionais principais funções orgânicas
QUÍMICA ORGÂNICA 76
QUÍMICA ORGÂNICA 77
Enantiômeros Diastereoisômeros
2-butanol
Cis-1,2-dicloroeteno Trans-1,2-dicloroeteno
HO OH
Cl Cl Cl H
C H H C
H3C CH3
CH2 CH3 H3C CH2 H H H Cl
Original Espelhado
QUÍMICA ORGÂNICA 78
Quiralidade
Nas moléculas orgânicas, denomina-se quiral quando o carbono realiza qua-
tro ligações com átomos diferentes. Observar a quiralidade de uma molécula é
uma forma de determinar se ela é um enantiômero. O ácido 2-hidroxipropanói-
co, retratado na Figura 2A, apresenta um centro quiral no carbono central, que
está ligado a uma hidroxila, um metil, uma carboxila e a um hidrogênio.
Considerando o 2-propanol, pode-se notar que seu carbono central está
ligado a uma hidroxila, dois radicais etil e a um hidrogênio, e que sua imagem
espelhada é sobreponível, ainda que a molécula seja rotacionada, como será
observado na Figura 2B. Uma molécula sobreponível não é considerada um
enantiômero, mas uma aquiral, ou seja, sem quiralidade.
Para considerar uma molécula como aquiral, como o 2-propanol, é preci-
so avaliar os planos de simetria, o que consiste em dividir, imaginariamente, a
molécula. Assim, é possível perceber que um dos lados do 2-propanol é seme-
lhante ao outro. Portanto, ao menos um plano de simetria deve estar presente,
para que uma molécula seja considerada aquiral.
QUÍMICA ORGÂNICA 79
QUÍMICA ORGÂNICA 80
(C)
Elemento e n atômico
O
dH Colocando o átomo com menor
H = 1* prioridade mais distante CH3C
C=6
C dH C
Br = 35 a| CH3C |a
I = 53
bBr bBr
1-bromo-1-iodo-etano (R)-1-bromo-1-iodo-etano
Figura 2. (A) Quiralidade da molécula ácido 2-hidroxipropanóico; (B) Imagem espelhada e plano de simetria do 2-propa-
nol; (C) Substituição, seguindo a ordem de prioridade e determinação da nomenclatura pelo sistema R, S da molécula
1-bromo-1-iodo-etano.
QUÍMICA ORGÂNICA 81
Figura 3. (A) Representação dos diastereoisômeros do 2-bromo-3-cloro-butano, utilizando a projeção de Fischer; (B)
Determinação da configuração dos centros quirais, utilizando as projeções de Fischer.
QUÍMICA ORGÂNICA 82
Isômeros constitucionais
A isomeria constitucional, também conhecida como plana ou estrutural,
relaciona-se fundamentalmente com a estrutura de uma molécula, ou seja,
com o modo que os átomos estão dispostos e ligados entre si. Isso ocorre por-
que é comum que compostos apresentem fórmulas moleculares iguais, mas
fórmulas estruturais diferentes.
Além disso, isômeros também podem ter ponto de fusão, ebulição e densida-
de distintos. Os isômeros constitucionais são divididos em cinco categorias: iso-
meria de função, isomeria de cadeia, isomeria de posição, isomeria de compen-
sação ou metameria e isomeria dinâmica, também conhecida como tautomeria.
A isomeria de função está relacionada aos isômeros que possuem grupos
funcionais diferentes. Por exemplo, a fórmula molecular C2H6O pode ser utili-
zada para o etanol, cujo o grupo funcional é o álcool (-OH), representado na
extremidade da cadeia carbônica. O metoximetano possui a mesma fórmula,
mas sua função orgânica é éter, ou seja, possui um oxigênio entre os grupos
metil. As propriedades destes dois compostos também são muito diferentes: o
ponto de ebulição do etanol é de 78,3 ºC e do metoximetano é de -23 ºC.
QUÍMICA ORGÂNICA 83
QUÍMICA ORGÂNICA 84
OH HO O
OH
QUÍMICA ORGÂNICA 85
Ácido de Arrhenius
Base de Arrhenius
O O
Ácido-base
Arrhenius + H+ +
R NH2 + H2O R NH3 + OH-
OH O-
Amina primária
Ácido de etanóico
Par conjugado
ácido-base
O O
Ácido-base
Brønsted-Lowry + NH3 + NH4 +
OH O-
QUÍMICA ORGÂNICA 86
- +
BF3 :NH3 F3B-NH3
+
Figura 6. Mapa do potencial eletrostático do BF3 e NH3. Fonte: SOLOMONS; FRYHLE, 2012, p. 106. (Adaptado).
QUÍMICA ORGÂNICA 87
QUÍMICA ORGÂNICA 88
Reação de substituição
H H H H
H C C H + Br Br H C C H + HBr
H H H Br Ácido
Etano Bromo Bromo-etano bromídrico
Reação de adição
H H H Cl H
H C C C + Cl Cl H C C C H
H H H H H Cl
Propeno Cloro 1,2-dicloropropano
Reação de eliminação
H OH Meio
H H
ácido
H C C H C C + H2O
H H
Δ
H H
Etanol Eteno Água
Reação de rearranjo
CH3
ácido H3C CH3
H3C C C C H C C
H3C CH3
H3C H H
3-metil-1-buteno 2,3-dimetilbut-2-eno
QUÍMICA ORGÂNICA 89
QUÍMICA ORGÂNICA 90
QUÍMICA ORGÂNICA 91
QUÍMICA ORGÂNICA 92
QUÍMICA ORGÂNICA 93
OH- + H+ H O H
Exemplo 2 O O
H3C C + OH- H3C C + H O H
O H O-
Exemplo 3
H + H
H2C CH2 + H+ C C H
H H
Figura 9. Exemplos de utilização das setas em reações químicas.
Lembre-se que, ao utilizar setas nas reações para indicar o caminho reali-
zado por elétrons, as regras de valência devem ser verificadas. Em resumo, no
caso de ligações, se elétrons são removidos de uma ligação, então ela é que-
brada. Caso ocorra a inserção de elétrons entre dois átomos, então a ligação é
formada (SCUDDERS, 2013).
QUÍMICA ORGÂNICA 94
QUÍMICA ORGÂNICA 95
(A)
Homólise Heterólise
Cl Cl Cl + Cl H Cl H + Cl
(B)
H H H H
+
H2C CH2 + H Br C C H + Br H C H H C + H+
H H H H
Carbocátion Carbânion
(C)
Aumenta a estabilidade do carbocátion
CH3 H CH3 H
H3C C H3C C H3C C H C
CH3 CH3 H H
Primário Secundário Terciário Metila
Figura 10. (A) Cisão de uma ligação por homólise e heterólise; (B) Formação de um carbocátion e carbânion; (C) Varia-
ção da estabilidade dos intermediários com a quantidade de substituintes.
QUÍMICA ORGÂNICA 96
QUÍMICA ORGÂNICA 97
Base
Ácido Nome Nome
conjugada
HI Ácido iodídrico I- Íon iodeto
H2PO4 -
Íon Di-hidrogenofosfato HPO4 2-
Íon hidrogenofosfato
HPO4 2-
Íon hidrogenofosfato PO4 3-
Íon ortofosfato
H2O Água OH -
Íon hidróxido
QUÍMICA ORGÂNICA 98
O O
CH3COOH H+ H3C2OO-
[0,001] [0,001]
Ka = = 1 · 10-5
[0,1]
pKa = -log Ka = 5
QUÍMICA ORGÂNICA 99
Ácido iodídrico HI I -
-9
EXPLICANDO
O efeito indutivo está ligado ao fluxo de elétrons em uma molécula, cujas
ligações são covalentes e ocorrem devido à presença de um átomo mais
eletronegativo, como o flúor, cloro, nitrogênio, iodo, entre outros. Esse
efeito produz o aumento da densidade eletrônica em uma região da mo-
lécula, tornando-a parcialmente negativa, enquanto o restante será par-
cialmente positivo. Essa diferença na densidade eletrônica das diferentes
regiões da molécula facilitam a quebra de ligações e reações químicas.
Outro fator que pode alterar a força dos ácidos é o estado físico, pois, de
maneira geral, os ácidos se tornam mais fracos em fase gasosa do que em
solução. Por exemplo, vimos que o pK a do ácido acético é de 4,76 em solução.
Em fase gasosa, seu pK a é de 130, tal redução ocorre devido à dificuldade na
separação dos íons.
Uma das formas de prever os resultados das reações entre ácidos e bases
é através da observação do equilíbrio, visto que reações
equilibradas formam espécies mais estáveis que, usual-
mente, têm menor energia potencial. Assim, a intera-
ção em meio aquoso entre um ácido e uma base fortes
sempre resultaram na formação de um ácido e uma
base mais fracos. Isso ocorre na interação de um
fenol (ácido forte, pK a = 9,9) e hidróxido de só-
dio, que resulta na formação de um fenolato
de sódio e água (ácido fraco, pK a = 15,7) (SOLO-
MONS; FRYHLE, 2012).
O O O O
Ácido carboxílico: acidez maior B- + R C BH + R C R •HC + R C
devido a ressonância pKa entre 4 e 5 O - O- O
OH
4 REAÇÕES ORGÂNICAS
Tópicos de estudo
Reações orgânicas
Classificação e mecanismos
das reações orgânicas
Adição
Substituição
Eliminação
Estado de transição
HO---CH3---Cl
ΔG = 24,5 Energia de
Kcal/mol ativação
Energia livre
CH3Cl + OH-
Reagentes
ΔG = - 24
Kcal/mol
CH3OH + Cl-
Produtos
Coordenação da reação
Figura 1. Gráfico da energia de ativação de uma reação de substituição do cloro pela hidroxila.
ASSISTA
Um dos exemplos de catálise homogênea é a decompo-
sição do ozônio por compostos organoclorados que, na
presença de luz ultravioleta, se decompõem. O átomo de
cloro resultante da decomposição atua como catalisador
homogêneo, aumentando a velocidade da decomposição
do ozônio. O vídeo Os CFCs e a camada de ozônio apre-
senta uma animação das reações envolvidas na degrada-
ção da camada de ozônio e perspectivas futuras.
Adição
A reação de adição ocorre em hidrocarbonetos que possuem ligações π como
o alceno, alcadieno e alcino. Esses hidrocarbonetos, ao interagirem com outras
moléculas, têm suas ligações π quebradas, tornando-se saturadas, além de in-
corporarem os átomos do outro reagente presente na reação. As reações de adi-
ção são subdivididas em eletrofílicas, nucleofílicas e radicalares.
A adição eletrofílica ocorre entre um o hidrocarboneto insaturado, que devido
à presença de ligações π é considerado rico em elétrons (agindo como um nucleó-
filo), e um eletrófilo, espécie química com deficiência de elétrons, parcialmente ou
totalmente positiva. Na adição eletrofílica dos alquenos, o mecanismo da reação é
dividido em duas etapas. Na primeira etapa, tem-se a formação de um intermediá-
EXPLICANDO
A adição eletrofílica entre um alceno e um halogênio que possui um hi-
drogênio (HX onde X é o Cl, Br ou I) deve seguir a regra de Markovnikov.
De acordo com essa regra, o hidrogênio do haleto irá se ligar preferen-
cialmente ao carbono, que teve sua ligação π rompida, mais saturado, ou
seja, que possui mais hidrogênios. Essa regra também é aplicada para a
adição da água em hidrocarbonetos insaturados.
Lenta Rápida
+
H-Cl Cl-
Ácido + Cl
3-metil-but-2-eno
clorídrico 2-cloro-2-metilbutano
+ +
CatH2SO4 OH2 -H+
+ HSO4- O H + HSO4- OH
H2O
H
1-metilciclohexeno 1-metilciclohexanol
H Br
+ Br-Br
H Br
Antraceno Bromo 9,10-dibromo-4a,9,9a,
10-tetrahidroantraceno
+ Lento + Rápido
H3C-CH CH2 + H O CH3 H3C C CH3 + CH3OH H3C-HC-CH3 + CH3OH
H H O+ - CH3
Rápido H
H3C-HC-CH3 + H O+ CH3
O - CH3 H
2-metoxipropano
Figura 2. Adição eletrofílica: (A) Halogenadoção de um alceno; (B) Adição da função álcool em um cicloalceno e compe-
tição da água íon hidrogenossulfato; (C) Halogenação de um alcino; (D) Halogenação de um hidrocarboneto aromático
policíclico; e (E) Reação de adição do álcool a um alceno.
A O
CN + O
CN
Íon cianeto propanona 2-hidroxi-2metil-
Propanonitrilo
B
OH OH O
H2O Tautomeria
N + OH -
N- NH NH2
Cianeto de metila Ácido imídico Acetamida
Figura 3. Adição nucleofílica: (A) Íon cianeto a uma cetona; (B) Hidroxila a uma nitrila.
Δ Br
HO-OH 2 OH Br +
hv
Br Br
+ H-Br + Br
HO + H-Br H2O + Br
3. Terminação
Br + Br Br2
Br Br Br
+ Br
2-bromo-2-buteno 2,3-dibromobutano
Figura 4. (A) Mecanismo de adição radicalar; (B) Regiosseletividade na adição do bromo em uma molécula de buteno.
Substituição
As reações de substituição ocorrem pela troca de um átomo ou grupo
funcional ligado a um carbono alifático, com hibridização sp3 por
outro átomo ou função orgânica. Basicamente, a substituição
pode ocorrer via substituição síncrona e pela adi-
ção seguida de eliminação.
A substituição síncrona pode ser classifi-
cada em bimolecular e unimolecular. A subs-
tituição bimolecular, ou simplesmente SN2,
referente a uma reação cuja cinética seja de
segunda ordem, envolve a interação entre um
CURIOSIDADE
A velocidade da reação de substituição pode ser elevada quando metanol,
etanol, o dimetilsulfóxido (DMSO), dimetilformamida (DMF), hexametilfos-
foramida (HMPA) e acetona são utilizados como solventes, principalmente
se o nucleófilo é aniônico, como a hidroxila (OH-) ou metoxilo (CH3O-). O
aumento da velocidade da reação, nesse caso, ocorre porque o nucleófilo
não é estabilizado por meio de uma ligação de hidrogênio com o solvente.
Assim, para que sua estabilidade seja alcançada, ele interage rapidamen-
te com o substrato orgânico.
B Nuclófilo
Produto
(Nu)
OH- Álcool R-OH
Sal de amônio
R’3N
quaternária R3RN+X-
C
Cl
H3C-CH2 H3C-CH2 CH2 CH
NH + H2C CH -Cl- N+ CH CH3 H+
H3C-CH2 CH CH3 H3C-CH2 H
Dietilamina 3-cloro-buteno
H3C-CH2 CH2 CH
H+ N CH CH3
H3C-CH2
Dietilbut-2-en-1-amina
Figura 5. (A) Mecanismo de reação SN2 generalizado; (B) Tabela de nucleófilos e produtos formados a partir da intera-
ção do nucleófilo com haletos orgânicos; (C) Mecanismo de reação de uma amina com um haleto orgânico, contendo
uma dupla ligação.
Heterólise
H3C H3C
CH3 CH3
2-cloro-2-metilpropano
H3C CH2
CH2 CH2 Cl + H+ CH2 CH2 OH
S
H3C S CH2 H3C S CH2
H2C CH2
1-cloro-2etilsufaniletano 2-etilsufaniletan-1-ol
H2O
Figura 6. (A) Mecanismo de substituição SN1 em um alcano; (B) Enxofre atuando como um nucleófilo interno e promo-
vendo a heterólise.
B Cl Cl OH Cl OH Cl OH HO
- -
OH- -Cl-
-
Clorobenzeno Fenol
NO2+ + +
-H+
+
Benzeno Nitrobenzeno
D 1. Iniciação 2. Propagação
O O O O
O
O
O 2 2 + CO2
O
Peróxido de benzoíla
3. Terminação
Ph H H H PhCO2
-PhCO2H
Benzeno
Bifenilo
Figura 7. (A) Mecanismo de substituição com adição seguido da eliminação; (B) Substituição do cloro, estruturas de res-
sonância e formação do álcool; (C) Mecanismo de substituição na ausência de um átomo eletronegativo; (D) Mecanismo
de substituição pela interação do benzeno com um radical livre.
A B RCH CR RCH=CHR + BH + Br
-
Base
Carbono β
Br
Br
CH3OH
+ CH3O- + + CH3OH
B
2-bromobutano 2-buteno 1-buteno
80% 20%
+ 2 H2O + 2 CI-
C
CI CI CI
3,5-dicloro-2,6-dimetil-heptano 2,6-dimetil-2,4-heptadieno
Br
-NH2 -NH2 -
RCH2 C-R RCH C-R RCH C-R + 2 NH3 + 2 Br
D
Br Br
Dibrometo Brometo vinílico Alcino
Figura 8. (A) Mecanismo geral de uma reação de eliminação E2; (B) Regiosseletividade em uma reação de eliminação
do bromo; (C) Reação de eliminação consecutiva produzindo um dieno; (D) Reação de eliminação geral para produ-
ção de um alcino.
A
CH3 CH3 CH3
Lento Rápido
H3C C CH3 H2C C CH3 + H2O + Br- H2C C CH3 + H3O+
+
Br H
2-metil-1-eteno
2-bromo-2-metilproprano
B
CH3 CH3
CH3OH
C CH CH3 C CH CH3
+
CH3 Cl CH3
3-cloro-2-metil-2-fenilbutano
CH3 CH3
Rearranjo do
C CH CH3 C C CH3 + H+
carbocátion +
CH3 CH3
metil-3-fenil-2-buteno
Figura 9. (A) Mecanismo de eliminação E1; (B) Reação de eliminação E1 com rearranjo do carbocátion, de secundário
para terciário, produzindo um intermediário mais estável antes da eliminação do segundo hidrogênio.
Mecanismo SN2
CH2 CH2
-
Br + OH OH + Br
-
H3C H3C
Bromoetano Etanol
Mecanismo E2
CH2 H
-
Br CH2 + OH- H2C CH2 + H2O + Br
Eteno
Bromoetano
CH2
Cl O
CH3
CH CH CH
CH3CH2OH
H3C CH3 + CH3CH2O- H3C + HC CH2
CH3 3
Figura 10. (A) Tabela de reatividade dos haletos orgânicos; (B) Competição entre os mecanismos de substituição e
eliminação; (C) Influência do tamanho e força da base na obtenção do produto via reação de eliminação.
Por fim, as reações SN1 e E1 para os haletos orgânicos são igualmente fa-
voráveis nas condições que envolvem uma base fraca. Ambos os mecanis-
mos têm como primeira etapa a formação de um carbocátion, posto que na
segunda etapa, tanto um produto de substituição quanto de eliminação são
CONTEXTUALIZANDO
As primeiras tentativas de isolamento da substância da casca do sal-
gueiro foram realizadas em 1826, mas apenas em 1828 o processo foi
realizado com sucesso por Johann Buchner. Em 1897, após diversas
pesquisas, Felix Hoffmann, farmacologista e químico, conseguiu produzir
uma versão da Aspirina menos tóxica que as antecessoras, nos labora-
tórios da empresa Bayer. Em 1899, após estudos clínicos, a patente do
medicamento finalmente foi realizada (SCHRÖR, 2016).
O O OH O
+
2. Adição do nucleófilo
OH O + OH
do ácido salicílico ao OH HO+
eletrófilo O
Ácido salicílico
O OH
O O
3. Migração OH OH
HO+ H O
do hidrogênio
O O+
O OH O OH
O O OH
+
4. Eliminação OH OH O
H O O
do ácido acético Ácido acético
O+
HO+
O OH
O OH H- O OH
+ +
OH O OH O
4. Eliminação O O
do hidrogênio Ácido acético
HO+
O
Ácido acetilsalicílico
Figura 11. Etapas reacionais da síntese do ácido acetil salicílico. Fonte: SANTIAGO et al., 2017. (Adaptado).
Resfrie a Filtração a
Recristalização
temperatura vácuo
3 mL de etanol
5 g de ácido salicílico + 24h em
20 mL de água + produto Teste de pureza
5 mL de anidrido acético + geladeira
destilada + obtido + aqueci- FeCl3 e ponto
5 gotas de ácido sulfúrico, e filtração
banho de gelo mento brando + de fusão
Banho 50-60 ºC/10 min a vácuo
20 mL de água
Figura 13. Cálculo do rendimento da síntese do AAS supondo que foi obtido 6g de produto ao final da reação.
É importante lembrar, contudo, que alguns fatores que podem levar ao baixo
rendimento são a precipitação, na primeira etapa da síntese, e a recristalização in-
completas e perdas no processo de filtração a vácuo. Dessa forma, o processo expe-
rimental deve ser realizado com cautela para que haja maior rendimento na síntese.