Você está na página 1de 145

Química Orgânica

QUÍMICA ORGÂNICA QUÍMICA ORGÂNICA


Luana dos Santos Andrade Luana dos Santos Andrade

Esta obra tem como objetivo introduzir os principais conceitos da química orgâni-
ca, por meio de exemplos descritivos relacionados ao cotidiano e uma linguagem
acessível. Como objetivo secundário, visa-se motivar o aluno a observar o mundo
através de outra perspectiva e com pensamento crítico, além de prepará-lo para
outros desafios da química e do mundo.
Em cada unidade, serão abordados diferentes conceitos. Na primeira, serão apre-
sentados o conceito de átomo e como as ligações ocorrem. Na segunda unidade,
serão estudadas a nomenclatura e as funções de compostos orgânicos. Na terceira,
será demonstrada algumas propriedades importantes dos compostos orgânicos e,
na última unidade, reações da química orgânica serão introduzidas, bem como será
discutido como a síntese do ácido acetilsalicílico (AAS) pode ser realizada. Ademais,
as unidades possuem tópicos com curiosidades e dicas sobre conceitos relacionados
à química orgânica.

GRUPO SER EDUCACIONAL

gente criando o futuro

Capa_SER_ECPME_QUIMIORG.indd 1,3 25/05/20 15:58


Presidente do Conselho de Administração Janguiê Diniz

Diretor-presidente Jânyo Diniz

Diretoria Executiva de Ensino Adriano Azevedo

Diretoria Executiva de Serviços Corporativos Joaldo Diniz

Diretoria de Ensino a Distância Enzo Moreira

Autoria Luana dos Santos Andrade

Projeto Gráfico e Capa DP Content

DADOS DO FORNECEDOR

Análise de Qualidade, Edição de Texto, Design Instrucional,

Edição de Arte, Diagramação, Design Gráfico e Revisão.

© Ser Educacional 2020

Rua Treze de Maio, nº 254, Santo Amaro

Recife-PE – CEP 50100-160

*Todos os gráficos, tabelas e esquemas são creditados à autoria, salvo quando indicada a referência.

Informamos que é de inteira responsabilidade da autoria a emissão de conceitos.

Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida por qualquer meio

ou forma sem autorização.

A violação dos direitos autorais é crime estabelecido pela Lei n.º 9.610/98 e punido pelo artigo 184 do

Código Penal.

Imagens de ícones/capa: © Shutterstock

SER_ECPME_QUIMIORG_UNID1.indd 2 25/05/20 16:32


Boxes

ASSISTA
Indicação de filmes, vídeos ou similares que trazem informações comple-
mentares ou aprofundadas sobre o conteúdo estudado.

CITANDO
Dados essenciais e pertinentes sobre a vida de uma determinada pessoa
relevante para o estudo do conteúdo abordado.

CONTEXTUALIZANDO
Dados que retratam onde e quando aconteceu determinado fato;
demonstra-se a situação histórica do assunto.

CURIOSIDADE
Informação que revela algo desconhecido e interessante sobre o assunto
tratado.

DICA
Um detalhe específico da informação, um breve conselho, um alerta, uma
informação privilegiada sobre o conteúdo trabalhado.

EXEMPLIFICANDO
Informação que retrata de forma objetiva determinado assunto.

EXPLICANDO
Explicação, elucidação sobre uma palavra ou expressão específica da
área de conhecimento trabalhada.

SER_ECPME_QUIMIORG_UNID1.indd 3 25/05/20 16:32


Sumário

Unidade 1 - Átomos, ligações e estruturas


Objetivos da unidade............................................................................................................ 12

Introdução à química orgânica.......................................................................................... 13

Ligação e estrutura molecular............................................................................................ 15


Teoria estrutural............................................................................................................... 16
Estruturas de Lewis.......................................................................................................... 16
Fórmulas estruturais........................................................................................................ 18
Carga formal...................................................................................................................... 19

Orbitais atômicos e moleculares....................................................................................... 20


Hibridização....................................................................................................................... 26
Projeções de Newman.................................................................................................... 28
Teoria da ressonância..................................................................................................... 30
Geometria molecular....................................................................................................... 33
Moléculas polares e apolares........................................................................................ 36

Sintetizando............................................................................................................................ 38
Referências bibliográficas.................................................................................................. 39

SER_ECPME_QUIMIORG_UNID1.indd 4 25/05/20 16:32


Sumário

Unidade 2 - Funções orgânicas


Objetivos da unidade............................................................................................................ 41

Hidrocarbonetos: alcanos, alcenos, alcadienos, alcinos, ciclanos, ciclenos e


aromático................................................................................................................................ 42
Nomenclatura IUPAC e propriedades físicas.............................................................. 43
Conformações de cicloexano......................................................................................... 50
Propriedades dos derivados benzênicos..................................................................... 51
Outros compostos aromáticos: nanotubos e fulerenos............................................. 54

Funções orgânicas ............................................................................................................... 55


Haletos orgânicos............................................................................................................ 55
Funções oxigenadas........................................................................................................ 57
Funções nitrogenadas..................................................................................................... 62
Funções sulfuradas.......................................................................................................... 65
Funções ou compostos organometálicos: compostos de Grignard e de Frankland........67

Cromatografia (prática)........................................................................................................ 68

Sintetizando............................................................................................................................ 71
Referências bibliográficas.................................................................................................. 73

SER_ECPME_QUIMIORG_UNID1.indd 5 25/05/20 16:32


Sumário

Unidade 3 - Isômeros, ácidos e bases orgânicas


Objetivos da unidade............................................................................................................ 76

Tópicos de estereoquímica................................................................................................. 77
Quiralidade........................................................................................................................ 79
Isômeros constitucionais................................................................................................ 83

Acidez e basicidade de substâncias orgânicas.............................................................. 85


As reações e seus mecanismos ................................................................................... 88
Reações ácido-base........................................................................................................ 90
A utilização de setas curvas na ilustração de reações............................................. 92
Formação de carbocátions e carbânions.................................................................... 94

Força dos ácidos e bases.................................................................................................... 97


Acidez e basicidade das principais funções orgânicas ......................................... 102

Sintetizando.......................................................................................................................... 106
Referências bibliográficas................................................................................................ 109

SER_ECPME_QUIMIORG_UNID1.indd 6 25/05/20 16:32


Sumário

Unidade 4 - Reações orgânicas


Objetivos da unidade.......................................................................................................... 111

Reações orgânicas............................................................................................................. 112


Classificação e mecanismos das reações orgânicas.............................................. 112
Adição.............................................................................................................................. 116
Substituição ................................................................................................................... 123
Eliminação....................................................................................................................... 131

Síntese do AAS (prática).................................................................................................... 137

Sintetizando.......................................................................................................................... 142
Referências bibliográficas................................................................................................ 145

SER_ECPME_QUIMIORG_UNID1.indd 7 25/05/20 16:32


SER_ECPME_QUIMIORG_UNID1.indd 8 25/05/20 16:32
Apresentação

Esta obra tem como objetivo introduzir os principais conceitos da química


orgânica, por meio de exemplos descritivos relacionados ao cotidiano e uma
linguagem acessível. Como objetivo secundário, visa-se motivar o aluno a ob-
servar o mundo através de outra perspectiva e com pensamento crítico, além
de prepará-lo para outros desafios da química e do mundo.
Em cada unidade, serão abordados diferentes conceitos. Na primeira, serão
apresentados o conceito de átomo e como as ligações ocorrem. Na segunda
unidade, serão estudadas a nomenclatura e as funções de compostos orgâ-
nicos. Na terceira, algumas propriedades de compostos orgânicos serão de-
monstradas e, na última unidade, reações da química orgânica serão introdu-
zidas, bem como será discutido como a síntese do ácido acetilsalicílico (AAS)
pode ser realizada. Ademais, as unidades possuem tópicos com curiosidades e
dicas sobre conceitos relacionados à química orgânica.
Bons estudos!

QUÍMICA ORGÂNICA 9

SER_ECPME_QUIMIORG_UNID1.indd 9 25/05/20 16:32


O autor

A professora Luana dos Santos


Andrade é doutora em Energia pela
Universidade Federal do ABC, mestre
em Ciências pelo Instituto de Pesqui-
sas Energeticas e Nucleares (IPEN/
USP) e graduada em Química, com
atribuições tecnologicas, pela Uni-
versidade Presbiteriana Mackenzie.
Trabalha com frações pesadas do pe-
tróleo, fotocalise e síntese de catali-
sadores para oxidação de compostos
orgânicos.

Currículo Lattes:
http://lattes.cnpq.br/2211299884467001

Esta obra é dedica a Deus, a minha mãe, avós e amigos, que acreditaram
no meu propósito de vida e sempre me motivaram a buscar a felicidade.
Sou grata por todos que participaram desta trajetória na busca pelo
conhecimento. Também dedico à equipe que me auxiliou a produzir este
conteúdo.

QUÍMICA ORGÂNICA 10

SER_ECPME_QUIMIORG_UNID1.indd 10 25/05/20 16:33


UNIDADE

1 ÁTOMOS, LIGAÇÕES E
ESTRUTURAS

SER_ECPME_QUIMIORG_UNID1.indd 11 25/05/20 16:34


Objetivos da unidade
Apresentar um breve histórico da química orgânica e sua presença cotidiano;

Aprender conceitos fundamentais sobre átomos e suas partículas, tipos de


ligação, e as diversas formas de representar as fórmulas estruturais;

Compreender como as ligações químicas se relacionam com a geometria


molecular e a polaridade.

Tópicos de estudo
Introdução à química orgânica

Ligação e estrutura molecular


Teoria estrutural
Estruturas de Lewis
Fórmulas estruturais
Carga formal

Orbitais atômicos e moleculares


Hibridização
Projeções de Newman
Teoria da ressonância
Geometria molecular
Moléculas polares e apolares

QUÍMICA ORGÂNICA 12

SER_ECPME_QUIMIORG_UNID1.indd 12 25/05/20 16:34


Introdução à química orgânica
O ser humano tem utilizado a química orgânica, desde a época das grandes
civilizações egípcia e romana, para pigmentar tecidos, produzir medicamen-
tos fitoterápicos e venenos, assim como processos mais complexos, como a
fermentação da uva para produzir vinhos. No entanto, não se sabia qual era a
composição química das substâncias utilizadas.
Historicamente, a química orgânica recebeu essa denominação por estudar
compostos extraídos de organismos dos reinos animal e vegetal. Acreditava-
-se que as substâncias extraídas eram compostas por uma força vital e que,
portanto, não poderiam ser sintetizadas em laboratório. Porém, em 1828, o
cientista Friedrich Woler descobriu que era possível produzir ureia ao aquecer
o cianato de amônio (Figura 1).

Aquecimento NH2
NH4CNO O C
NH2
Cianato de Ureia
amônio
Figura 1. Produção de ureia a partir do cianato de amônio.

Esta descoberta encorajou outros cientistas a buscar metodologias para


sintetizar compostos orgânicos, levando-os a observar que o carbono era o
elemento químico comum entre as diversas substâncias que eles obtiveram
(COMASSETO; SANTOS, 2008). Devido a isso, a química orgânica é conhecida
principalmente por estudar o carbono.
Com o advento de tais pesquisas, identifi cou-se que o carbono, ao se
ligar a outros elementos químicos, adquiria diferentes propriedades e fun-
ções, permitindo que diversas reações orgânicas fossem desenvolvidas.
Consequentemente, os métodos analíticos para a caracterização dos com-
postos orgânicos tiveram que ser definidos. Inúmeras técnicas foram de-
senvolvidas, dentre elas a cromatografi a (Figura 2), que é capaz de separar

QUÍMICA ORGÂNICA 13

SER_ECPME_QUIMIORG_UNID1.indd 13 25/05/20 16:34


uma mistura líquida de compostos orgânicos pela diferença de solubilidade,
por exemplo, passando a mistura por uma fase estacionária, geralmente
uma resina (SADEK, 2004).

Fase móvel:
mistura de proteínas

Fase estacionária:
feita de polímeros

Proteínas separadas
após passar pela coluna

1 2 3 4 5 6

Figura 2. Separação de uma mistura de compostos orgânicos (proteínas) utilizando coluna cromatográfica. Fonte:
ACIKARA, 2014.

Atualmente, a química orgânica está presente tanto na aspirina, para cuidar


de uma dor de cabeça, quanto no combustível de automóveis. No entanto, é a
partir da junção de conhecimentos presentes na química orgânica e na enge-
nharia, que novos materiais compósitos, medicamentos, defensivos agrícolas,
produtos de beleza, polímeros biodegradáveis, biocombustíveis e os mais di-
versos materiais podem ser produzidos (WILLIAM, 2014).
As áreas de pesquisa e desenvolvimento em química orgânica, e conse-
quentemente a indústria química, têm passado por uma revolução ao longo
dos últimos anos. Isso porque cada vez mais instituições e a sociedade enten-
dem a necessidade de buscar processos amigáveis ao meio-ambiente, a fim
de mitigar os impactos gerados pela ação do homem. Por exemplo, em uma
aplicação da química orgânica, a dopagem de um material inerte permitiu a
adsorção de poluentes presentes no meio aquoso (CASTANHEIRA et al., 2017).
Na prática, com a ampliação da fronteira do conhecimento e com o
desenvolvimento de novas tecnologias envolvendo a química orgânica, a
compreensão sobre o comportamento do carbono, bem como suas pro-
priedades, funções orgânicas e principais formas de interação se tornaram

QUÍMICA ORGÂNICA 14

SER_ECPME_QUIMIORG_UNID1.indd 14 25/05/20 16:34


indispensáveis, uma vez que permitem uma abordagem
inovadora para a solução de diferentes problemas. Com
base no contexto apresentado, diversos aspectos fun-
damentais da química serão abordados neste capítu-
lo, facilitando a compreensão sobre reações que são uti-
lizadas em processos químicos.

Ligação e estrutura molecular


Para compreender como os átomos se ligam, a fim de formar moléculas
mais complexas, é preciso conhecer a sua composição, isto é, suas partículas
subatômicas. Um átomo é composto por três partículas fundamentais: os pró-
tons (p) que são partículas carregadas positivamente, sendo sua quantidade
no núcleo denominada número atômico (Z); os nêutrons (n), por sua vez, não
possuem carga e têm como principal função diminuir a energia de repulsão
coulombiana entre os prótons, que tendem a se repelir. Essas duas partícu-
las, prótons e nêutrons, somadas, formam o núcleo do átomo e concentram a
maior parte da massa atômica, que é representada por A (A = N + Z).
A terceira partícula é o elétron, que possui massa infinitamente menor
em comparação às duas anteriores. Os elétrons estão presentes no átomo na
mesma proporção que os prótons, e estão distribuídas ao redor do núcleo em
camadas. Cada camada contém um número determinado de elétrons, sendo
que os elétrons da última camada, conhecida como camada de valência, são
os responsáveis por realizar as ligações com outros átomos. Além disso, os
elétrons são carregados negativamente, fazendo com que as cargas presentes
no átomo se igualem e resultando em um átomo neutro.
As moléculas orgânicas são majoritariamente compostas por
átomos de carbono (C) e hidrogênio (H), mas é comum encon-
trar heteroátomos, como oxigênio (O), nitrogênio (N),
enxofre (S) e fósforo (P), além de halogênios, como
o flúor (F), cloro (Cl), bromo (Br) e iodo (I). Des-
se modo, veremos como estes átomos se ligam,
produzindo uma molécula, e as formas de repre-
sentação das estruturas atômicas.

QUÍMICA ORGÂNICA 15

SER_ECPME_QUIMIORG_UNID1.indd 15 25/05/20 16:34


Teoria estrutural
A teoria estrutural é importante, pois explica como os átomos interagem
para formar ligações. De acordo com essa teoria, cada átomo pode formar um
número máximo de ligações, utilizando os elétrons dispostos na camada de
valência. O carbono possui quatro elétrons nessa camada, logo, pode realizar
quatro ligações, sendo então classificado como tetravalente. Hidrogênio e ha-
logênios são monovalentes, ou seja, realizam apenas uma ligação. Já o oxigênio
e o enxofre são bivalentes e o nitrogênio é trivalente.

CURIOSIDADE
É comum encontrar, na química orgânica, moléculas que possuem a
mesma fórmula molecular, mas diferentes fórmulas estruturais, ou seja, a
forma em que os átomos da molécula estão ligados é diferente. A teoria
estrutural permitiu resolver essa questão, uma vez que isômeros geral-
mente possuem propriedades físicas e químicas diferentes, e essa dife-
rença era uma incógnita para os cientistas.

Outra premissa apontada pela teoria estrutural relaciona-se aos tipos de


ligações que o carbono é capaz de formar, utilizando os elétrons da camada de
valência. Assim, o carbono pode fazer ligações simples, representadas por um
traço (C - C), ligações duplas, demonstradas por dois traços (C = C) e ligações
triplas, ilustradas por três traços (C ≡ C).

Estruturas de Lewis
A união entre átomos produz as moléculas, por meio de ligações quí-
micas. Os primeiros estudos acerca dessas ligações foram realizados em
1916, pelos cientistas Lewis e Kössel. Como resultado da pesquisa
de ambos, foi proposto que os átomos podem se ligar por meio
de ligações iônicas ou ligações covalentes. As ligações
iônicas ocorrem quando um átomo ganha ou perde
elétrons, logo, quando há transferência elétrons
acontecendo entre um metal e um ametal, o metal
perde e o ametal ganha elétrons.

QUÍMICA ORGÂNICA 16

SER_ECPME_QUIMIORG_UNID1.indd 16 25/05/20 16:34


Uma forma de avaliar a tendência dos átomos fazerem ligação iônica
é pela diferença de eletronegatividade, que pode ser verificada na tabe-
la periódica. Basicamente, essa característica aumenta da esquerda para
direita e de baixo para cima, na tabela periódica. Uma das característi-
cas mais marcantes de compostos que realizam ligação iônica é o seu alto
ponto de fusão, que geralmente ultrapassa os 1000 ºC. Além disso, esses
compostos são comumente sólidos.
Um exemplo de composto iônico presente no nosso dia a dia é o clore-
to de sódio (NaCl), também conhecido como sal de cozinha. Neste exem-
plo, o sódio (Na) é um metal com um elétron na camada de valência e
grande tendência de perder elétrons, enquanto o cloro corresponde a
um ametal com sete elétrons na camada de valência, por isso ganha mais
facilmente elétrons.
As ligações covalentes ocorrem entre ametais que possuem cerca de
quatro a sete elétrons na camada mais externa. Nesse caso, para que a
ligação ocorra, há o compartilhamento de elétrons, que, portanto, perten-
cem a dois átomos simultaneamente. Embora as moléculas orgânicas são
constituídas por ligação covalente, nem todos os elétrons são compartilha-
dos. O carbono, por exemplo, possui quatro elétrons na camada de valên-
cia e pode compartilhar todos eles, para realizar ligações com outros áto-
mos, como pode ser observado no metano (CH 4). O cloro, por outro lado,
possui sete elétrons em sua camada de valência, no entanto, compartilha
apenas um elétron, como ocorre no tetracloreto de carbono (CCl 4). De uma
maneira simplificada, diz-se que estes átomos seguem a regra do octeto,
para atingir a estabilidade (SOLOMONS; FRYHLE, 2012).

EXPLICANDO
Os átomos se ligam tanto por meio de ligações iônicas, quanto por liga-
ções covalentes, para atingir a estabilidade. De acordo com a regra do
octeto, a estabilidade é atingida quando um átomo apresenta oito elétrons
na camada de valência, semelhante à configuração eletrônica de gases
nobres. Outra possibilidade ocorre quando o átomo, por meio de ligações,
alcança dois elétrons na camada de valência, semelhante ao hélio, um gás
nobre. Existem também exceções à regra do octeto, alguns compostos,
como PCl4 e SF6, podem conter átomos com mais de oito elétrons na cama-
da de valência.

QUÍMICA ORGÂNICA 17

SER_ECPME_QUIMIORG_UNID1.indd 17 25/05/20 16:34


Tanto as ligações iônicas, quanto as ligações covalentes entre átomos po-
dem ser representadas por meio de pontos e ou estrelas, que simbolizam a
quantidade de elétrons disponíveis na camada de valência. Esse tipo de repre-
sentação é conhecido como estrutura de Lewis (Figura 3). Contudo, existem
também diversas formas mais simplificadas de representar as ligações dos
compostos orgânicos além da estrutura proposta por Lewis.

Hidrogênio H2: Hx + Hx H xx H

Hx
x· x
Metano CH4: C · + 4HX H · Cx · H
·
H

Cloro Cl2: Cl + Cl Cl Cl

Figura 3. Representação da estrutura de Lewis. Fonte: SOLOMONS; FRYHLE, 2012. (Adaptado).

Fórmulas estruturais
As fórmulas estruturais de traço, condensadas e de linhas são mais fáceis para
ilustrar os compostos orgânicos, principalmente quando a estrutura é grande e ou
complexa. A fórmula estrutural de traço representa, de maneira integral, como
os átomos de hidrogênio se ligam ao carbono. Os traços podem ser dispostos em
zigue-zague e, neste caso, demonstram com maior similaridade a disposição real
dos átomos em uma molécula orgânica, pois as ligações usualmente possuem um
ângulo. Contudo, é muito comum ilustrar a fórmula estrutural de traços utilizando
ângulos de ligação de 90º, a fim de simplificar sua escrita (Figura 4).

Fórmula estrutural de traços


H H
H H H H H H
H H
C C ou H C C C C C H
C C C H
H H H
H H H H H H H H

Fórmula estrutural condensada

H3C CH2 CH2 CH2 CH3 ou H3C [CH2]3 CH3 ou C5H12

Fórmula estrutural de linhas


Cl

Figura 4. Fórmulas estruturais do pentano do tipo traço, condensada e linhas.

QUÍMICA ORGÂNICA 18

SER_ECPME_QUIMIORG_UNID1.indd 18 25/05/20 16:34


As fórmulas condensadas (Figura 4) são a simplificação do modo de ano-
tação das fórmulas estruturais de traços. Na representação de uma molécula
orgânica, os átomos ligados ao carbono são escritos em uma sequência, ocu-
pando a mesma linha. Os índices que aparecem em subscrito na fórmula indi-
cam a quantidade do elemento, ligado ao carbono.
Também é muito comum a utilização de colchetes para indicar a repetição
de parte do constituinte da molécula, sendo que, do lado de fora dos colchetes,
é adicionado um índice para representar a quantidade de repetições. Em uma
notação ainda mais simples, pode-se apenas escrever quais são os átomos,
seguidos de seus índices, representando, portanto, a quantidade de moléculas
de carbono, hidrogênio e heteroátomos.
Outra forma de representar a estrutura de moléculas orgânicas é pela es-
trutura de linhas ou bastão (Figura 4), na qual se assume que as conexões en-
tre as linhas são feitas pelo carbono, raramente sendo representada por uma
molécula de hidrogênio. Os heteroátomos, quando presentes, são escritos por
suas fórmulas químicas. Essa fórmula estrutural é amplamente difundida na
química orgânica, por isso é comum encontrar, tanto em livros quanto em arti-
gos acadêmicos, moléculas orgânicas reproduzidas desta forma.

Carga formal
Até aqui, vimos que existem diferentes formas de representar uma estrutura
molecular. No entanto, quando tratamos da estrutura de Lewis, devemos lembrar
que nem todos os átomos se comportam de acordo com a regra do octeto ao reali-
zar ligações químicas, fato que pode ocasionar inúmeras dúvidas. Com o intuito de
resolver tal questão, é possível calcular a carga formal dos átomos e verificar qual é
a estrutura mais próxima da realidade.
Para tal, inicialmente, deve-se verificar qual a quantidade de elétrons na camada
de valência do átomo de interesse. Essa tarefa pode ser facilmente realizada consul-
tando a tabela periódica. Ao localizar o elemento químico na tabela, basta verificar
a qual família ele pertence. O número da família corresponde à quantidade de elé-
trons na camada de valência, os grupos variando de 1A até 7A e de 1B até 8B.
Como exemplo, considere uma molécula de oxido nitroso (N2O). Saberemos que
o átomo de oxigênio possui seis elétrons na camada de valência e o nitrogênio pos-

QUÍMICA ORGÂNICA 19

SER_ECPME_QUIMIORG_UNID1.indd 19 25/05/20 16:34


sui cinco. Assim, a próxima etapa consiste em escrever as prováveis estruturas de
Lewis e, em seguida, calcular a carga formal destas estruturas, que é dada por:
Carga formal = V - (L + 1/2S)
Nessa equação, V é o número de elétrons na camada de valência do átomo livre;
L é o número de pares de elétrons livres após a ligação; e S é o número de elétrons
compartilhados entre os átomos. A Figura 5 apresenta as possibilidades de ligações
entre o nitrogênio e o oxigênio, e o cálculo da carga formal para as prováveis estru-
turas de Lewis do átomo de N2O.

Possibilidade 1 Possibilidade 2

N N O N O N
Nitrogênio Nitrogênio Nitrogênio Nitrogênio
V=5 V=5 V=5 V=5
L=4 L=0 L=4 L=4
S=4 S=8 S=4 S=4
Cf = 5-(4+1/2x4) = -1 Cf = 5-(0+1/2x8) = -1 Cf = 5-(4+1/2x4) = -1 Cf = 5-(4+1/2x4) = -1
Oxigênio Oxigênio
V=6 V=6
L=4 L=0
S=4 S=8
Cf = 6-(4+1/2x4) = 0 Cf = 6-(0+1/2x8) = 2

Figura 5. Possíveis estruturas de Lewis e cálculo da carga formal. Fonte: OPENSTAX, 2016. (Adaptado).

Uma das formas de analisar qual a estrutura correta é observando os da-


dos obtidos a partir do valor da carga formal. Quanto mais próximo de zero
for este valor, maior a possibilidade de a molécula existir
naquela conformação. Portanto, observando o exemplo
do N2O (Figura 5), a estrutura de Lewis representada na
possibilidade 1 é a mais provável, pois suas cargas for-
mais, considerando os dois nitrogênios e o oxigênio, é
mais próxima de zero.

Orbitais atômicos e moleculares


Vimos que os elétrons estão ao redor do núcleo do átomo. Contudo, sua distri-
buição não é randômica, podendo ser descrito pela mecânica quântica. De acordo
com o princípio da incerteza, estabelecido pelo físico Werner Heisenberg, não é pos-
sível saber com precisão a exata localização e energia de uma partícula, princípio

QUÍMICA ORGÂNICA 20

SER_ECPME_QUIMIORG_UNID1.indd 20 25/05/20 16:34


este que se estende aos elétrons. A mecânica quântica também considera que par-
tículas podem ter o comportamento dual, denominado dualidade onda-partícula,
que compreende o comportamento de uma partícula, como se ela possuísse massa
em um dado momento, e como se ela fosse onda em outro instante.
A função de onda, descrita por Erwin Schrödinger e representada por ψ (psi),
descreve o comportamento de onda de um elétron em um nível de energia quânti-
ca. Já o quadrado da função de onda ψ2 considera um local especifico do eixo car-
tesiano (x, y, z) em que há maior probabilidade, ou densidade de probabilidade ele-
trônica, de se encontrar um elétron. Quando o valor de ψ2 é elevado, significa que
a probabilidade de se ter um elétron naquela localização também e grande e, se ψ2
for pequeno, então a probabilidade é menor. A região do átomo em que há probabi-
lidade de se encontrar um elétron é denominada de orbital atômico. Basicamente,
existem quatro tipos de orbitais (Figura 6), retratados em três dimensões:

I=0 s

I=1 Px Pz Py

I=2 dx - y
2 2 dzx d3z r
2- 2 dyx dxy

I=3 ƒ x(x 2
- 3y2) ƒ z(x2
- y2) ƒ x(5z 2
- r2) ƒ z(5z
2
- 3r2) ƒ y(5z
2
- r2) ƒ xyz ƒ y(3x
2
- y2)

Figura 6. Representação estrutural dos orbitais atômicos s, p, d e f. Fonte: MARRA, 2015.

• O orbital s é representado por uma esfera e é o de menor energia;


• O orbital p é representado por duas esferas muito próximas e pode estar
no eixo x, y e z (estas esferas também podem receber o nome de lóbulos);
• Os orbitais d podem assumir configurações e orientações diferentes, de
acordo com seu nível de energia. Sua configuração resulta em uma estrutura,
na forma de um trevo, cujas folhas se encaixam em diferentes planos, ou ainda

QUÍMICA ORGÂNICA 21

SER_ECPME_QUIMIORG_UNID1.indd 21 25/05/20 17:12


pode ter a forma de dois lóbulos no eixo z, somado a um orbital em forma de
rosca, ocupando os eixos x e y;
• Já os orbitais f possuem configurações muito mais complexas, com mais
lóbulos e roscas nos diferentes eixos cartesianos, sendo mais relevantes para
os metais de transição interna, actinídeos e lantanídeos.
Os elétrons podem também ser representados pela utilização de números
quânticos, n = 1, l = 0, ml = 0 e ms = +1/2. Os primeiros três relacionam-se à
região com maior probabilidade de encontrar um elétron, enquanto o último
relaciona-se ao spin. A forma com a qual os elétrons nos orbitais se organizam
é determinada pela energia de seus subníveis, de modo que cada subnível é
capaz de acomodar uma determinada quantidade de elétrons. Assim:
• O subnível “s” tem apenas um orbital, que acomoda no máximo dois elétrons;
• O subnível “p” possui três orbitais e pode conter até seis elétrons;
• O subnível “d” contém cinco orbitais, que podem receber até 10 elétrons;
• O subnível “f ” conta com sete orbitais, podendo manter no máximo
14 elétrons.
A distribuição eletrônica destes subníveis pode ser realizada utilizando a
distribuição de Linus Pauling (Figura 7). Adicionalmente, os subníveis são in-
seridos em sete camadas, que se iniciam no K e terminam no Q. Cada camada
também admite apenas uma determinada quantidade de elétrons. Portanto, a
camada K tem no máximo dois elétrons; as camadas L e Q, oito; a M e a P, 18; a
N e a O, 32.

Distribuição de Linus Pauling


Subníveis
K 1s2
L 2s2 2p6
M 3s2 3p6 3d10
Camadas

N 4s2 4p6 4d10 4f14


O 5s2 5p6 5d10 5f14
P 6s2 6p6 6d10
Q 7s2 7p6

Figura 7. Camadas eletrônicas e distribuição de Linus Pauling.

QUÍMICA ORGÂNICA 22

SER_ECPME_QUIMIORG_UNID1.indd 22 25/05/20 17:12


Note que a distribuição deve seguir as setas. Por exemplo, um átomo de
carbono possui seis elétrons, logo, sua distribuição eletrônica, de acordo com
Linus Pauling, será de 1s2, 2s2, 2p2. Adicionalmente, seguindo algumas regras,
torna-se possível determinar a configuração eletrônica dos primeiros dois
períodos da tabela periódica, sendo constituída por:
• Princípio de Aufbau: indica que subníveis, dos orbitais de menor energia,
são inicialmente preenchidos e qual é o mais próximo do núcleo;
• Princípio de exclusão de Pauli: afirma que os elétrons realizam um mo-
vimento de rotação ao redor do seu próprio eixo, designado de spin. O spin
possui duas orientações opostas, para cima e para baixo, sendo que nesta con-
figuração apenas dois elétrons podem ocupar o mesmo orbital, pois elétrons
com o mesmo spin se repelem;
• Regra de Hund: explica como os orbitais são preenchidos efetivamente.
Basicamente, os elétrons de mesmo spin ocupam individualmente os orbitais
de menor e igual energia (orbitais de energia semelhante são designados de
orbitais degenerados). Em seguida, elétrons com spin oposto são distribuídos
nesses orbitais, de modo que a menor quantidade possível de orbital com bai-
xa energia permanece desemparelhado.
A compreensão dos orbitais atômicos permite entender como as ligações co-
valentes são formadas. Para exemplificar, considere o gráfico da Figura 8, que
apresenta a síntese de uma molécula de hidrogênio H2. Para tal, são necessários
dois átomos de H, que possui apenas um elétron em seu orbital 1s, portanto:

Orbital molecular
antiligante

4. Repulsão 1. Nenhuma atração σ*


Energia

Energia

3. Ligação
1s 1s
covalente
2. Atração entre
elétrons e núcleos
σ
Distância intermolecular Orbital molecular
ligante

Figura 8. Gráfico da formação da ligação covalente entre átomos de hidrogênio e diagrama de energia da molécula de
hidrogênio. Fonte: SOLOMONS; FRYHLE, 2012. (Adaptado).

QUÍMICA ORGÂNICA 23

SER_ECPME_QUIMIORG_UNID1.indd 23 25/05/20 17:12


• Inicialmente, os átomos estão distantes um do outro;
• Ao se aproximarem, os núcleos começam a se atrair;
• As funções de onda dos orbitais envolvidos podem se somar ou subtrair. Quan-
do as funções de onda são somadas, ocorre o reforço da densidade eletrônica entre
os núcleos dos átomos e, consequentemente, ocorre a diminuição da energia de
repulsão coulombiana, produzindo uma ligação;
• Se a energia aumentar novamente, os átomos tendem a se repelir.
A junção dos dois orbitais atômicos, um de cada hidrogênio, produzirá dois
orbitais moleculares: um de alta energia, denominado de orbital molecular
antiligante; e outro com baixa energia, que corresponde ao orbital molecular
ligante. As energias dos orbitais moleculares são diferentes da energia dos or-
bitais atômicos iniciais. Esta junção resulta em uma ligação covalente.
Cabe ressaltar que existe uma certa distância entre os núcleos dos átomos,
quando estão ligados covalentemente. Essa distância internuclear permite
que os elétrons emparelhados pertençam, ao mesmo tempo, aos dois átomos,
além de evitar a repulsão, que pode ocorrer devido à proximidade de dois nú-
cleos, o comprimento desta distância estando associada à energia de ligação.
Agora que compreendemos as etapas que resultam na ligação, pode-se
definir o termo orbital molecular (OM), que é a região da molécula em que
há o aumento da probabilidade de densidade eletrônica, logo, é o local mais
provável de se encontrar os elétrons. Além disso, cada orbital pode conter
no máximo dois elétrons emparelhados, seguindo, portanto, o princípio de
exclusão de Pauli. Por fim, a quantidade de orbitais moleculares resultantes
da ligação entre átomos é sempre igual à quantidade de orbitais atômicos
presentes nos mesmos. A Figura 8 também apresenta um diagrama de ener-
gia, resultante da formação da molécula de hidrogênio com seus respectivos
orbitais atômicos e moleculares.
Com a soma dos orbitais atômicos produz-se apenas um orbital molecular
preenchido por elétrons, o orbital ligante, que é comumente denominado de
σ (sigma) e também representa a formação de uma ligação simples. O orbital
antiligante, por outro lado, é denominado de σ * (sigma estrela). Em moléculas
diatômicas, como o óxido de nitrogênio, que possui uma dupla ligação, além
dos orbitais σ e σ *, também estão presentes as ligações π (pi), portanto, o orbi-
tal molecular ligante é representado por π e o antiligante por π *.

QUÍMICA ORGÂNICA 24

SER_ECPME_QUIMIORG_UNID1.indd 24 25/05/20 17:12


O preenchimento dos orbitais moleculares com elétrons segue o mesmo
padrão aplicado no preenchimento dos orbitais atômicos. Desta forma, são
preenchidos os orbitais de menor energia, presentes na região inferior do dia-
grama, seguido dos de maior energia, localizados na região superior. Com rela-
ção às energias dos orbitais moleculares, que podem ser determinadas experi-
mentalmente, existem basicamente três regras:
• A energia dos orbitais moleculares relaciona-se diretamente à energia dos
orbitais atômicos;
• Quando os orbitas atômicos estão muito próximos de seus núcleos, a jun-
ção de dois átomos não produzirá orbitais ligantes ou antiligantes;
• O orbital ligante tem menor energia que o orbital atômico e o antiligante
que possui maior energia.
A quantidade de ligações químicas covalentes presentes na junção de dois átomos
e sua estabilidade pode ser determinada pela ordem de ligação, calculada por:

número de elétrons ligantes - número de elétrons antiligantes


Ordem de ligação =
2

Os valores da ordem de ligação variam de 0 a 3, sendo que 0 significa que


a ligação não tem possibilidade de ocorrer; 1 é referente a uma ligação simples;
2, ligações duplas; e 3, ligações triplas. Considere como exemplos uma molécu-
la de hélio (He2) e as ligações entre o oxigênio e o nitrogênio de uma molécula
de oxido nitroso (N = O). O átomo de He possui apenas dois elétrons no orbital
1s, de modo que a união entre dois átomos resultaria em um diagrama do or-
bital molecular com um orbital ligante e um antiligante, ambos completamente
preenchidos, logo, a ordem de ligação seria igual a zero, fazendo com que a
molécula de hélio não seja possível.
No caso do óxido nitroso, apenas os elétrons da camada de valência são
utilizados para construir o diagrama do orbital molecular. O oxigênio possui
seis elétrons na camada de valência, enquanto o nitrogênio possui apenas cin-
co. Na distribuição dos elétrons no OM, os orbitais ligante e antiligante 2s são
preenchidos na íntegra. Quanto aos orbitais referentes a 2p, três orbitais ligan-
tes são preenchidos e um antiligante é preenchido com apenas um elétron. É
importante ressaltar que a ordem de ligação não necessariamente precisa ser
um número inteiro. Assim, a ordem de ligação neste caso é de 2,5.

QUÍMICA ORGÂNICA 25

SER_ECPME_QUIMIORG_UNID1.indd 25 25/05/20 17:12


Hibridização
Além da teoria do orbital molecular, as ligações covalentes podem ser explicadas
pela hibridização. Desse modo, as ligações são resultantes da sobreposição dos orbi-
tais atômicos que são rearranjados no espaço. Matematicamente, os orbitais híbridos
ocorrem devido à combinação das funções de onda. Uma forma de visualizar esta
combinação é imaginando que a nuvem de elétrons se comporta de modo semelhan-
te a uma onda em um lago, causada por uma perturbação qualquer. Quando duas
ondas se juntam, tem-se a formação de uma única onda, que possui características
diferentes das ondas iniciais.
Logo, diferentes funções de onda resultam em diferentes combinações de or-
bitais, sendo que a quantidade de orbitais híbridos é proporcional à quantidade de
funções de onda. Por exemplo, a combinação entre um orbital 2s e um 2px resulta
em dois orbitais híbridos, ou seja, duas funções de onda. A combinação entre os
orbitais 2s e 2px pode ser simplesmente denominada de sp.
Então, seguindo a mesma lógica, a combinação entre um orbital 2s e dois orbi-
tais 2p, que são referentes aos orbitais 2px e 2py, lembrando que os orbitais do tipo
p podem possuir diferentes orientações no espaço, nos eixos x, y e z, formando
o orbital hibridizado sp2. A combinação dos orbitais determina também a forma
com a qual a molécula irá se orientar espacialmente. Portanto, com a formação
de ligações covalentes, têm se a diminuição da repulsão eletrônica em torno do
átomo central.
Considere como exemplo o carbono e sua distribuição eletrônica de 1s2, 2s2,
2p2. De acordo com essa distribuição, o carbono possui apenas dois elétrons de-
semparelhados nos orbitais 2px e 2py, logo, poderia realizar apenas duas ligações,
e não quatro, como estudamos anteriormente. No entanto, esta configuração se
refere ao carbono em seu estado fundamental. Ao fornecer uma pequena quanti-
dade de energia, o carbono passa para o estado excitado, em que um dos elétrons
do orbital 2s2 é transferido para o orbital 2pz. Como resultado desta transferência,
o carbono passa a possuir quatro orbitais semipreenchidos que se unem, forman-
do um novo orbital hibridizado.
Portanto, o carbono se torna capaz de realizar quatro ligações simples,
também chamadas de ligação σ, e seu orbital híbrido é denominado de sp3,
que espacialmente é um tetraedro. A ligação entre o carbono e um hidrogê-

QUÍMICA ORGÂNICA 26

SER_ECPME_QUIMIORG_UNID1.indd 26 25/05/20 17:12


nio, que possui apenas um elétron no orbital 1s, resulta sobreposição dos
orbitais sp3 e s, formando efetivamente uma ligação σ.
Orbitais do tipo sp3 são comuns na química orgânica. Contudo, estudamos que o
carbono também pode realizar ligações duplas C=C, ou seja, o compartilhamento de
dois pares de elétrons entre carbonos, o que produz o orbital hibridizado sp2. Nesse
caso, assim como anteriormente, o carbono vai do estado fundamental para o exci-
tado, e o orbital s transfere um elétron para o orbital p. Entretanto, a hibridização
ocorre entre os orbitais 2s, 2px e 2py, sendo que o orbital 2pz não realiza a hibridização.
Os orbitais sp2 se organizam espacialmente na forma de um triangulo, e o orbital p
não hibridizado se arranja perpendicularmente ao triangulo. Assim, a sobreposição
entre dois carbonos com orbitais hibridizados sp2 gera uma ligação σ, e os orbitais p
realizam uma ligação π que ocorre lateralmente.
A interação entre carbono com orbital hibridizado sp gera uma ligação tripla.
Nesse caso, o orbital 2s hibridiza com um 2px, produzindo dois orbitais lineares do tipo
sp. Os outros orbitais, 2py e 2pz, não sofrem hibridização e se mantém em seus respec-
tivos eixos. A interação entre dois carbonos hibridizados sp ocorre pela sobreposição
frontal, que forma uma ligação σ. Os outros orbitais p não hibridizados realizam, cada
um, uma ligação do tipo π. A Figura 9 apresenta a transferência de elétrons do orbital
2s2 do carbono em seu estado fundamental para o orbital 2pz, resultando no carbono
em seu estado excitado, além dos orbitais do carbono hibridizados sp3, sp2 e sp.

Estado fundamental Estado excitado

Carbono:
z

p p sp3 H
p Hibridização
sp 3
y +4 H
sp3 sp3 H H
sp3
H
x

H p H p
sp2 sp2 H π H
+ sp2 sp2
sp2 sp2 sp2 σ
sp2 sp2
sp2 sp2 H π H
H H

z z
H p H p
sp sp
π
1

sp +
σ

σ
H

p sp p sp
x y x y
π
1

Figura 9. Transferência do orbital 2s para orbital 2pz do carbono. Fonte: BARBOSA, 2011. (Adaptado).

QUÍMICA ORGÂNICA 27

SER_ECPME_QUIMIORG_UNID1.indd 27 25/05/20 17:12


O carbono também pode interagir com outros átomos, como o oxigênio e
o nitrogênio, que realizam dupla ligação, logo, possuem orbitais hibridizados
do tipo sp2. O nitrogênio também é capaz de realizar ligação tripla, assumindo
a configuração do orbital hibridizado do tipo sp.

Projeções de Newman
Até aqui, analisamos as ligações
entre átomos para formar moléculas.
Estudamos que a ligação mais comum
entre átomos de carbonos é a ligação
simples, também denominada de li-
gação sigma (σ). Basicamente, essa
ligação ocorre devido ao compartilha-
mento de elétrons entre dois átomos, resultando na ligação covalente. Ainda
de acordo com a teoria dos orbitais moleculares, essa ligação ocorre devido à
sobreposição de orbitais.
Uma das características da ligação sigma está relacionada à sua densidade
eletrônica, localizada especificamente no eixo em que ocorre a ligação entre
os átomos, situação essa diferente da observada em ligações duplas do tipo pi
(π), na qual a densidade eletrônica se localiza acima ou abaixo, em relação ao
eixo da ligação entre dois átomos. Logo, em uma ligação σ, a sobreposição de
orbitais ao longo do eixo permite que a ligação possa girar ao redor do próprio
eixo. No caso das ligações π, em que a sobreposição dos orbitais ocorre late-
ralmente, o movimento de rotação não é possível, pois quebraria a ligação.
Portanto, as ligações π não podem girar livremente.
Para que estas rotações ocorram, faz-se necessário a utilização de energia que
é denominada de barreira de rotação. Por exemplo, em uma molécula de etano
(H3C-CH3), há uma barreira de rotação de 2,9 kcal/mol. Nesse caso, a energia neces-
sária é pequena e, por isso, dizemos que a rotação ocorre livremente. A molécula
de etano é constituída, espacialmente, por dois carbonos, ligados por meio de uma
ligação simples, e três hidrogênios, ligados em cada carbono em direções distintas.
A rotação dessa molécula (Figura 10a), em um ângulo de 60º, pode resultar na
conformação em oposição e em coincidência. Na conformação em oposição, os

QUÍMICA ORGÂNICA 28

SER_ECPME_QUIMIORG_UNID1.indd 28 25/05/20 17:13


átomos de hidrogênio, localizados nas extremidades, assumem ângulos opostos
entre si, em outras palavras, assumem as bissetrizes dos ângulos. Na conforma-
ção em coincidência, a posição dos hidrogênios coincide, sendo que, se a molé-
cula for observada sob outra perspectiva, é possível visualizar apenas três dos seis
hidrogênios presentes na molécula.

Em oposição Em oposição Em coincidência Em oposição

H H
H 60O 60O
A C C
H
H H

A B C

H Carbono de trás
H H H H
H
H H H
B
C C C Carbono da frente =
H
H H
H H H H
H
H

HH HH HH

Todos em coincidência:
H H H energia máxima
H H H H H H
H H H
Estado de transição Estado de transição Estado de transição

Barreira
de rotação
C

Ea = 2,9kcal/mol

H H H H
H H H H H H H H
Rotação Todos em oposição:
energia mínimo
H H H H H H H H

H H H H

0 60 120 180 240 300 360


Ângulo torcional

Figura 10. (a) Rotação do etano em A e C para conformação de oposição, e em B para conformação de coincidência;
(b) Representação de uma molécula do etano sendo convertida a uma projeção de Newman;(c) Diagrama de energia
potencial das estruturas de Newman. Fonte: VALLHARDT; SCHORE, 2013. (Adaptado).

Em uma molécula em que os átomos de hidrogênio são substituídos por outros


átomos, as conformações podem resultar em diferentes arranjos. A representação
destes arranjos pode ser realizada pelas projeções de Newman (Figura 10b), a fim
de simplificar a visualização. A projeção deve ser representada como se o especta-
dor observasse a molécula com a ligação C-C perpendicular ao eixo da folha. Basica-
mente, a representação consiste em uma um átomo central, que é simbolizado pelo
encontro de três, duas das linhas estão dispostas na vertical e uma está apontada
para cima. Um círculo é adicionado para representar o carbono de trás, e mais três
linhas referentes aos átomos ligados a este carbono são adicionadas.

QUÍMICA ORGÂNICA 29

SER_ECPME_QUIMIORG_UNID1.indd 29 25/05/20 17:13


As conformações assumidas pela molécula de etano, por exemplo, pos-
suem diferentes energias potenciais. A conformação em oposição tem menor
energia e, portanto, é mais estável, pois as ligações C-H da frente estão mais
distantes entre os carbonos e, consequentemente, há a diminuição da repul-
são. A conformação em coincidência, em contrapartida, é menos estável, devi-
do à redução da distância entre as ligações C-H dos dois carbonos, logo, tem-se
o aumento da repulsão.
A rotação ao redor do eixo, que resulta na conformação em coincidência,
tem energia de rotação de 2,9 kcal/mol. Em adição, essa configuração reduz a
energia de ligação entre os átomos de carbono, apesar de ocorrer ao longo do
eixo, pois a sobreposição dos orbitais sofre pequenas alterações, e a repulsão
também aumenta. A variação da energia, devido à rotação da ligação de uma
molécula, pode ser observada em um diagrama de energia potencial (Figura
10c), em que a energia mínima corresponde a 0º da conformação em oposição
e aumenta conforme a rotação da ligação (VALLHARDT; SCHORE, 2013).
Contudo, existem exceções quanto à rotação da ligação sigma. Por exem-
plo, em uma molécula cujas ligações são conjugadas, na qual ligações duplas
e simples ocorrem intercaladas, como o 1,3-butadieno (H2C=CH—CH=CH2), as
ligações entre os carbonos teoricamente poderiam rotacionar livremente. En-
tretanto, experimentalmente, a rotação da ligação simples entres os carbonos
centrais não é observada, pois, neste caso, a ligação σ é mais curta, possuindo
cerca de 148 nm, em comparação com uma ligação σ comum, que possui 154
nm. Além disso, existe uma barreira energética para que a rotação ocorra.
A presença de um grupo substituinte, como a metila (-CH3), pode elevar
a barreira de rotação devido ao impedimento estérico, que ocorre quando o
espaço ocupado pelo átomo substituinte é relativamente maior do que o dos
outros átomos, sendo necessária mais energia para que a ligação σ ocorra.

Teoria da ressonância
Uma estrutura química, molécula ou íon, pode ser representada por mais
de uma forma, de acordo com a teoria da ressonância. Como base, utiliza-se as
estruturas de Lewis, sendo que as moléculas apenas se diferem com relação à
posição dos elétrons que se deslocam pela molécula e, eventualmente, a posi-

QUÍMICA ORGÂNICA 30

SER_ECPME_QUIMIORG_UNID1.indd 30 25/05/20 17:13


ção da ligação também é alterada. As estruturas de ressonância são demons-
tradas dentro de colchetes, sua equivalência podendo ser demonstrada pela
utilização de uma seta com duplo sentido.
Para retratar as estruturas de ressonância (Figura 11a), inicialmente es-
creve-se a estrutura de Lewis, respeitando a regra do octeto. A troca do par
de elétrons é, então, indicado por setas curvas, e os átomos constituintes da
molécula permanecem na mesma posição. A utilização das setas curvas, para
indicar a movimentação dos elétrons, é imprescindível para que erros sejam
evitados. Além disso, elas podem ser aplicadas para escrever mecanismos de
reações químicas.

Íon carbonato

O δ- - -
A O O O

C C C C -
- O O
O O - O O
δ- O O
δ-
Híbrido de ressonância Estruturas de ressonância

B C
Formaldeído Ácido fórmico
-
O O -
O O
C C+
H H H H C H C H
H O H O+
Octeto Não octeto
Estrutura principal Estrutura secundária

Figura 11. (A) Íon carbonato com estrutura do híbrido de ressonância e suas respectivas estruturas de ressonância; (B)
Estrutura do formaldeído cujas ressonâncias podem ou não seguir a regra do octeto; (C) Estrutura do ácido fórmico,
demonstrando a distância entre as cargas positivas e negativas.

Também é possível representar a estrutura de ressonância pela utiliza-


ção de apenas uma estrutura, na qual a deslocalização do par de elétrons é
desenhada com traços acima das ligações simples, que são linhas continuas,
produzindo assim uma média das moléculas, que é denominada de híbrido
de ressonância. Deve-se ressaltar que as estruturas de ressonância não são
reais, ou seja, elas não simbolizam a mesma estrutura. Na realidade, a repre-
sentação da molécula hibrida de ressonância é mais adequada.

QUÍMICA ORGÂNICA 31

SER_ECPME_QUIMIORG_UNID1.indd 31 25/05/20 17:13


Desse modo, considere três estruturas de ressonância. Elas são diferentes
entre si, mas são equivalentes, o que significa que cada uma das estruturas
contribui, na mesma proporção, para formar a molécula hibrida de ressonância
(Figura 11a). Se avaliarmos a estrutura de ressonância de uma molécula que,
em sua constituição, possui uma ligação entre o carbono e o oxigênio, a estru-
tura é representada, em um determinado momento, como uma dupla ligação
(C=O), e em outro, como uma ligação simples, pois o par de elétrons é desloca-
do para outra região da molécula.
Então, na estrutura híbrido de ressonância, a ligação entre o carbono e o
oxigênio será constituída como uma ligação parcialmente dupla, uma vez que
ora a ligação é simples, ora ela é dupla (VALLHARDT, P. 2013). Portanto, para
escrever as estruturas de ressonância e a estrutura do híbrido de ressonância,
deve se lembrar que:
• As estruturas de ressonância não condizem com a forma da molécula
na realidade;
• Apenas os elétrons devem ser movimentados, os átomos permanecem em
suas posições iniciais;
• Todas as estruturas devem obedecer à regra de Lewis;
• As estruturas de ressonância possuem maior energia em comparação
com o híbrido de ressonância;
• A estabilidade de uma estrutura é proporcional à quantidade de ligações
covalentes, logo, essa estrutura colabora mais para a formação do híbrido;
• A separação entre cargas positivas e negativas reduz a estabilidade
da molécula;
• Se a camada de valência de um átomo estiver completa, então a estabili-
dade da estrutura será maior.
Contudo, nem sempre as estruturas de ressonância são equivalentes, pois
a deslocalização do par de elétrons pode gerar uma molécula diferente. Enfa-
tiza-se que uma das estruturas de ressonância certamente irá contribuir mais
para a formação do híbrido de ressonância. Assim, a fim de ampliar a discus-
são, vamos incluir moléculas cujas estruturas de ressonância não seguem a
regra do octeto. Considerando as afirmações anteriores, regras foram estabe-
lecidas para verificar qual estrutura colabora mais na formação do híbrido de
ressonância, sendo elas:

QUÍMICA ORGÂNICA 32

SER_ECPME_QUIMIORG_UNID1.indd 32 25/05/20 17:13


• Uma estrutura que possui mais octetos em relação a outra é mais relevan-
te no panorama geral (Figura 11b);
• Cargas positivas ou negativas devem ser representadas nos átomos cuja
eletronegatividade é pertinente;
• A estrutura com a menor distância entre as cargas positiva e negativa con-
tribuem mais para o híbrido de ressonância (Figura 11c).

Geometria molecular
O modelo de repulsão do par de elétrons é aplicado aos
elétrons presentes na camada de valência, ou seja,
aqueles que são utilizados para realizar as liga-
ções químicas. Este modelo ajuda a explicar
como os átomos nas moléculas podem se ar-
ranjar espacialmente. Contudo, para a aplica-
ção deste modelo, algumas premissas devem
ser consideradas:
• O átomo central de uma molécula se liga a outros átomos por meio
de ligações covalentes;
• Todos os pares de elétrons presentes na camada de valência do átomo
central, tanto os que realizam a ligação covalente com outros átomos, deno-
minados de pares ligantes; quanto os que não realizam ligação, classifi cados
como pares não compartilhados ou isolados, devem ser considerados;
• Sabendo que cargas iguais se repelem, aplica-se o mesmo conceito
aos elétrons, que também se repelem, sendo que pares de elétrons dispo-
níveis na camada de valência mantém a maior distância possível, mesmo
durante a ligação covalente. Os pares de elétrons não compartilhados, por
outro lado, têm maior repulsão, em comparação com os pares de elétrons
compartilhados, e a repulsão entre pares de elétrons ligados e não ligados
é intermediária;
• A geometria molecular deve considerar tanto os pares de elétrons
ligados, quanto os pares de elétrons não ligados. No entanto, sua posição
junto ao átomo é irrelevante, sendo, portanto, considerada a posição final
do átomo na molécula.

QUÍMICA ORGÂNICA 33

SER_ECPME_QUIMIORG_UNID1.indd 33 25/05/20 17:13


DICA
Outra forma de saber a geometria dos compostos químicos é pelo cálculo
do número de coordenação (NC), que pode variar de 2 a 12, e é dado pela
soma do número de pares de elétrons ligantes (PL) e pares de elétrons
não ligantes (PNL) ao redor do átomo central. Com todos os dados dispo-
níveis, é possível então prever a geometria, consultando uma tabela. Por
exemplo, o tetracloreto de carbono (CCl5) tem o NC= 4, o PL= 4 e o PNL=0,
correspondendo à geometria tetraédrica.

Para compreender melhor a teoria da repulsão do par de elétrons, e sua


relação com a estrutura molecular, vamos observar alguns exemplos e a geo-
metria molecular dos compostos neles descritos (Quadro 1):

QUADRO 1. GEOMETRIA MOLECULAR DE ACORDO O MODELO DE REPULSÃO


DO PAR DE ELÉTRONS

Características Representação da geo- Características Representação da


das moléculas metria molecular das moléculas geometria molecular

H N
H
Metano (CH4) Amônia (NH3) H
C H
Ângulo: 109,5º Ângulo: 107º
H
Tetraédrica Pirâmide trigonal

H H

F
O Trifluoreto
Água (H2O)
de boro (BF3)
Ângulo: 104,5º,
Ângulo: 120º B
Angular
H Trigonal plana
H
F F

Cl
Hidreto de berilio H Be H
Íon tetracloreto de
(BeH2) e Dioxido
iodo (ICl4-)
de carbono (CO2) Cl I- Cl
O C O Ângulo: 90º
Ângulo:180º
Quadrado planar
Linear
Cl

Cl F
F
Pentacloreto de
Cl Hexafloreto de F
fosforo (PCl5)
enxofre (SF6) S
Ângulo: 120º e 90º Cl P
Ângulo: 90º
Bipirâmide Cl Octaédrica F
trigonal F
Cl
F

QUÍMICA ORGÂNICA 34

SER_ECPME_QUIMIORG_UNID1.indd 34 25/05/20 17:13


• Exemplo 1: o metano é constituído por um carbono, com quatro elétrons
na camada de valência, e quatro hidrogênios, cada um com um elétron na ca-
mada de valência. O arranjo espacial que proporciona a máxima distância entre
os pares de elétrons, de modo que os hidrogênios estejam equidistantes, é a
estrutura tetraédrica. Os ângulos que correspondem à distância entre os hidro-
gênios são de precisamente 109,5º, sendo que qualquer outra forma espacial
poderia resultar em distâncias menores entre os hidrogênios, aumentado assim
sua repulsão;
• Exemplo 2: a molécula de amônia é formada por um nitrogê-
nio, que contém cinco elétrons na camada mais externa e
é ligada a três hidrogênios. A distância angular que pro-
porciona a maior distância entre os pares de elétrons é
de 107º, o que resulta em uma molécula com a forma
de pirâmide trigonal. Note que existe apenas uma peque-
na diferença entre os ângulos da amônia e do metano, que
possui um arranjo de tetraedro. No entanto, se os pares não ligados da amônia
forem colocados em um dos vértices do tetraedro, é possível observar que
eles ocupam mais espaço do que os elétrons que participam da ligação, o que
justifica o menor ângulo;
• Exemplo 3: a água é formada por um átomo de oxigênio, que contém em sua úl-
tima camada seis elétrons, e realiza apenas duas ligações com átomos de hidrogênio.
Poderíamos imaginar que a estrutura que proporciona a maior distância é a linear, no
entanto, deve-se lembrar que dois pares de elétrons não realizam ligação, e ocupam
uma área maior. Isto faz com que as ligações tenham um ângulo de 104,5º, sendo
opostas aos pares de elétrons não ligados, resultando em uma geometria angular;
• Exemplo 4: o trifluoreto de boro é constituído por um átomo de boro, que
possui três elétrons na última camada, e se liga a três átomos de flúor, com sete elé-
trons na camada de valência. A maior distância entre os átomos de flúor ocorre com
ângulos de 120º, que corresponde a um triangulo equilátero e gera uma estrutura
trigonal plana;
• Exemplo 5: a molécula de hidreto de berílio é resultado da ligação entre um
berílio, que possui dois elétrons na camada mais externa, e dois hidrogênios. A au-
sência de elétrons não ligados permite que, neste átomo, ocorra um maior ângulo
de distância, de 180º, resultando em uma geometria linear;

QUÍMICA ORGÂNICA 35

SER_ECPME_QUIMIORG_UNID1.indd 35 25/05/20 17:13


• Exemplo 6: o dióxido de carbono é formado por um átomo de carbono
ligado a dois átomos de oxigênio, por meio de ligações π, ou seja, duplas. A
maior distância possível, nesse caso, também resulta em uma estrutura linear,
ou seja, com ângulo máximo de 180º. De maneira geral, para a geometria mo-
lecular, considera-se que os elétrons das ligações duplas são semelhantes aos
de uma ligação simples;
• Exemplo 7: o íon tetracloreto de iodo é um átomo que não segue a regra
do octeto, o iodo possuindo sete elétrons na camada mais externa. Por ser um
íon, mais um elétron é acrescentado à camada, resultando, portanto, em oito
elétrons, sendo que dois destes pares não se ligam. O cloro possui também
sete elétrons na última camada. A estrutura resultante da ligação entre esses
dois átomos é um quadrado planar, sendo o ângulo de maior distância entre
os elétrons de 90º;
• Exemplo 8: o pentacloreto de fósforo apresenta uma geometria molecular
bipirâmide trigonal, sendo que os ângulos destas moléculas são de 90º e 120º.
Note que esta molécula também não segue a regra do octeto;
• Exemplo 9: o hexafloreto de enxofre apresenta os seis átomos de
flúor, ligados ao enxofre e separados em ângulos de 90º, produzindo a
estrutura octaédrica.

Moléculas polares e apolares


A polaridade das moléculas orgânicas deve ser analisada por meio
de seus constituintes, que possuem diferentes eletronegatividades. De
maneira simplificada, um átomo mais eletronegativo é naturalmente um
aceptor de elétrons, enquanto um átomo eletropositivo é um doador de
elétrons. Então, em uma molécula, o átomo mais eletronegativo tende a
deslocar a densidade eletrônica para si.
Por exemplo, se um átomo de carbono se ligar a outros átomos, como
o oxigênio e o nitrogênio, os elétrons são descolados para essas moléculas
que são mais eletronegativas e, como resultado, tem-se uma molécula
polar. Em contrapartida, uma molécula constituída apenas de carbono e
hidrogênio, cuja eletronegatividade é insignificante, produz uma molécula
apolar (VALLHARDT, P, 2013).

QUÍMICA ORGÂNICA 36

SER_ECPME_QUIMIORG_UNID1.indd 36 25/05/20 17:13


Outra forma de avaliar a polaridade (Figura 12) é pela geometria dos com-
postos, já que átomos eletronegativos tendem a deslocar a densidade eletrô-
nica para si, tornando uma parte da molécula parcialmente positiva e outra
parcialmente negativa. Ao avaliar a geometria molecular, se houver um áto-
mo que está deslocando a densidade eletrônica, então o composto é polar.
Se não houver deslocamento de cargas, por outro lado, ou se as forças com
as quais os elétrons são deslocados forem opostas e iguais, então o desloca-
mento é anulado e a molécula é considerada como sendo apolar.

Apolar devido a ausência Polar devido a presença


de átomos eletronegativos de um N que é eletronegativo

CH2 CH2 CH2 CH2


H3C CH2 CH3 H3C CH2 NH2
Pentano Butano-1-amina

Apolar pois as cargas Polar pois as cargas


se anulam não se anulam
O
O=C=O H H
Dióxido de carbono Água

Figura 12. Diferença de polaridade entre moléculas.

Observe que, na Figura 12, as setas indicam quais átomos estão deslocando
a densidade eletrônica. Coincidentemente, tanto no dióxido de carbono como
na água, o oxigênio é responsável pelo deslocamento. Esse deslocamento,
simbolizado por setas, é referente ao vetor do momento
dipolo. Considerando os vetores, setas opostas resultam
em momento dipolo igual a zero, logo, em moléculas
apolares. Caso contrário, vetores que se somam resul-
tam em um momento dipolo maior que zero, portanto,
em moléculas polares.

QUÍMICA ORGÂNICA 37

SER_ECPME_QUIMIORG_UNID1.indd 37 25/05/20 17:13


Sintetizando
Neste capítulo, aprendemos que os átomos são constituídos de partículas
fundamentais, como os prótons, os nêutrons e os elétrons, sendo estes últimos
importantes para que os átomos se liguem. Vimos, na teoria estrutural, que
cada átomo é capaz de realizar um número restrito de ligações, limitadas pela
quantidade de elétrons presentes na camada de valência, que é a camada mais
externa de elétrons. Os átomos podem se ligar uns aos outros por ligações
iônicas, que consistem na transferência de elétrons de um átomo mais eletro-
positivo para outro mais eletronegativo, ou por meio de ligações covalentes,
nas quais os elétrons são compartilhados pelos átomos.
Descobrimos que uma das formas de representar as ligações iônicas e covalen-
tes é utilizando a estrutura de Lewis, que consiste em representar o átomo com
seus elétrons de valência. Observamos também, com detalhes, como uma molécula
se forma e qual a variação de energia envolvida neste processo, para, em seguida
demonstrar como um diagrama do orbital molecular é formado, a partir de orbitais
atômicos. Adicionalmente, definiu-se que a quantidade de orbitais moleculares e
sua energia está intimamente relacionada aos orbitais atômicos. Retratou-se como
os orbitais devem ser preenchidos e como calcular a quantidade de ligações cova-
lentes em uma molécula, aplicando a fórmula da ordem de ligação.
A partir da hibridização, tornou-se possível compreender que ligações sim-
ples podem rotacionar, pois a sobreposição dos orbitais ocorrem em um eixo,
enquanto as ligações duplas e triplas ocorrem lateralmente, inviabilizando a
rotação. Utilizando as projeções de Newman, concebeu-se que uma molécula
é capaz de realizar o movimento de rotação no eixo, podendo assumir as con-
formações de oposição e coincidência. Além disso, por meio da utilização das
estruturas de Newman, comprovou-se que os elétrons de uma molécula não
permanecem em uma mesma posição.
Neste capítulo, diversos exemplos de moléculas foram explanados, isso porque
a compreensão de moléculas com diferentes geometrias é imprescindível quando
se trata de reações orgânicas. Com isso, tivemos uma visão geral dos conceitos fun-
damentais da química e como os átomos e suas partículas se organizam para for-
mar ligações e moléculas, que possuem diversas estruturas e geometrias.

QUÍMICA ORGÂNICA 38

SER_ECPME_QUIMIORG_UNID1.indd 38 25/05/20 17:13


Referências bibliográficas
ACIKARA, Ö. B. Ion-exchange chromatography and Its applications. In: Column
Chromatography. [s.l.] InTech, 2014. v. ip. 13.
BARBOSA, L. C. A. Introdução à química orgânica. [s.l.] Pearson, 2011.
CASTANHEIRA, B. et al. Dye photodegradation employing mesoporous or-
ganosilicas functionalized with 1, 8-naphthalimides as heterogeneous ca-
talysts. Journal of Photochemistry & Photobiology, A: Chemistry, v. 332,
2017, p. 316–325.
COMASSETO, J. V.; SANTOS, A. A. Química fina: sua origem e importância. Revis-
ta USP, v. 0, n. 76, 2008, p. 68-77.
MARRA, P. Theoretical approach to direct resonant inelastic x-ray scatte-
ring on magnets and superconductors. 2015. 132 f. Tese (Doutorado em Físi-
ca) Dresden: Technische Universität Dresden, 2015.
OPENSTAX. Formal charges and resonance. Disponível em: <https://opentex-
tbc.ca/chemistry/chapter/7-4-formal-charges-and-resonance/>. Acesso em: 21
fev. 2020.
SADEK, P. C. Illustrated Pocket Dictionary of Chromatography. [s.l.]
Wiley-Interscience, 2004.
SOLOMONS, T. W. G.; FRYHLE, C. B. Química Orgânica vol. 1. 10. ed. [s.l.] John
Wiley & Sons, Inc., 2012.
VALLHARDT, P.; SCHORE, N. Química orgânica: estrutura e função. 6. ed. [s.l.]
Bookman, 2013.
WILLIAM, F. A indústria química e o seu desenvolvimento no âmbito da enge-
nharia. In: Revista Brasileira de Engenharia Química, v. 30, 2014, p. 1–36.

QUÍMICA ORGÂNICA 39

SER_ECPME_QUIMIORG_UNID1.indd 39 25/05/20 17:13


UNIDADE

2 FUNÇÕES
ORGÂNICAS

SER_ECPME_QUIMIORG_UNID2.indd 40 25/05/20 16:33


Objetivos da unidade
Estudar os hidrocarbonetos de cadeia aberta e fechada, bem como suas
propriedades e nomenclatura;

Abordar funções orgânicas oxigenadas, nitrogenadas e sulfuradas;

Apresentar alguns conceitos fundamentais da cromatografia e propor uma


prática de separação de compostos orgânicos.

Tópicos de estudo
Hidrocarbonetos: alcanos, alce- Funções nitrogenadas
nos, alcadienos, alcinos, ciclanos, Funções sulfuradas
ciclenos e aromático Funções ou compostos
Nomenclatura IUPAC e proprie- organometálicos: compostos
dades físicas de Grignard e de Frankland
Conformações de cicloexano
Propriedades dos derivados Cromatografia (prática)
benzênicos
Outros compostos aromáticos:
nanotubos e fulerenos

Funções orgânicas
Haletos orgânicos
Funções oxigenadas

QUÍMICA ORGÂNICA 41

SER_ECPME_QUIMIORG_UNID2.indd 41 25/05/20 16:33


Hidrocarbonetos: alcanos, alcenos, alcadienos,
alcinos, ciclanos, ciclenos e aromático
Basicamente, os hidrocarbonetos são compostos por átomos de carbo-
no e hidrogênio. De início, sua classificação é realizada de acordo com o tipo
de ligação que o carbono realiza, podendo resultar em um hidrocarboneto sa-
turado ou insaturado. Os hidrocarbonetos saturados são caracterizados pela
presença de ligações simples entre seus carbonos, como o butano, classificado
como alcano (Figura 1).

SATURADO INSATURADO
Alcano Alceno Alcadieno Alcino
butano buteno but-1,3-dieno but-2-ino
(C4H10) (C4H8) (C4H6) (C4H6)

CÍCLICOS POLICÍCLICOS
Cicloalcano Cicloalceno Policíclico
ciclopropano ciclopenteno decahidronaftaleno
(C3H6) (C5H8) (C10H18)

AROMÁTICOS
Aromático Aromáticos
benzeno policíclicos naftateno
(C6H6) (C10H8)

Figura 1. Classes de hidrocarbonetos alifáticos, cíclicos e aromáticos.

As moléculas de hidrocarbonetos insaturados podem se constituir em li-


gações simples, duplas e triplas. Assim, o hidrocarboneto que possui apenas
uma ligação dupla é denominado de alceno, o que possui duas ligações du-
plas é designado de alcadieno e o que possui ligações triplas é chamado de
alcino. Outra classificação dos hidrocarbonetos se relaciona com a disposição
dos átomos de carbono, ou seja, um alcano, alceno, alcadieno e alcino, podem
ser também classificados como hidrocarbonetos alifáticos, em outras palavras,
possuem cadeia aberta. As diferenças entre os hidrocarbonetos também po-
dem ser observadas na Figura 1.

QUÍMICA ORGÂNICA 42

SER_ECPME_QUIMIORG_UNID2.indd 42 25/05/20 16:33


ASSISTA
Diversos hidrocarbonetos possuem um alto valor agregado
que está relacionado a sua aplicação, como no petróleo e
gás natural, que são utilizados como matéria-prima para
a indústria petroquímica, para a produção de diferentes
reagentes químicos, e em refinarias de combustível. A
grande maioria dos hidrocarbonetos provenientes de fon-
tes do petróleo se desenvolveram há milhares de anos pela
deposição de matéria orgânica que resultou na formação
de rochas sedimentares. O vídeo Origem do petróleo apre-
senta mais detalhes de como esse processo ocorreu.

Contudo, se um átomo de carbono da extremidade de uma cadeia alifática


saturada se ligar a outro na extremidade oposta, então, fecha-se a cadeia car-
bônica produzindo um ciclano ou cicloalcano. Hidrocarbonetos insaturados,
como os alcenos, também podem realizar o fechamento da cadeia e produzir
um cicloalceno. Os cicloalcano e cicloalceno estão inseridos na classificação de
hidrocarbonetos cíclicos. Quando um hidrocarboneto cíclico é condensado, ou
seja, ligado a outro anel, passa a ser denominado hidrocarboneto policíclico.
Os aromáticos são hidrocarbonetos formados por seis átomos de carbono
em uma cadeia fechada e contêm três ligações duplas e duas simples que são
dispostas alternadamente. Os compostos aromáticos também podem ser con-
densados, isso é, podem possuir mais de um anel aromático, que produzem os
hidrocarbonetos aromáticos policíclicos.

Nomenclatura IUPAC e propriedades físicas


Os alcanos, também conhecidos como hidrocarbonetos parafínicos, são
compostos saturados, alifáticos e apolares. Sua a fórmula geral é CnH2n+2 (no
qual, n representa a quantidade de carbono e é um número inteiro), os áto-
mos de carbono dos alcanos possuem hibridização do tipo sp3 .
Em geral, esses hidrocarbonetos são obtidos a partir do petróleo, sen-
do que o estado físico no qual um alcano pode ser encontrado à tempera-
tura ambiente se relaciona à quantidade de carbonos na molécula. Desse
modo, os alcanos que possuem no máximo quatro átomos de carbono
são gases, como o butano (C 4 H10 ), encontrado no gás de cozinha. Já al-
canos que possuem entre, aproximadamente, 5 e 17 átomos de carbo-

QUÍMICA ORGÂNICA 43

SER_ECPME_QUIMIORG_UNID2.indd 43 25/05/20 16:33


no, são líquidos como o octano (C 8 H18 ), encontrado na gasolina. Acima
de 17 átomos de carbono, o alcano é encontrado no estado sólido, por
exemplo, o tetracontano (C 40 H 82), presente nas velas e cosméticos, como
batons. Outras propriedades se relacionam ao ponto de ebulição e vis-
cosidade dos alcanos, que tende a crescer com o aumento do número de
carbonos na cadeia carbônica.
Por serem apolares, os alcanos são insolúveis em água, que é polar. Assim,
uma mistura contendo alcano e água visualmente resulta em duas fases sepa-
radas, sendo que, por possuir menor densidade, os alcanos tendem a flutuar
sob a superfície da água.
A nomenclatura dos alcanos segue as regras impostas pela União Interna-
cional de Química Pura e Aplicada (IUPAC), que também pode ser aplicada para
diversos outros hidrocarbonetos. Portanto:
• Inicialmente, deve-se determinar qual a cadeia principal de carbono, isso
porque os hidrocarbonetos podem ser ramificados; logo, a cadeia principal
é a que possui o maior número de hidrocarbonetos;
• Em seguida, determina-se qual o prefixo que deverá ser utilizado, esse
prefixo se relaciona à quantidade de átomos de carbono, sendo que met- é
utilizado quando se tem apenas um carbono (1C), como no metano (CH3);
et- (2C); prop- (3C); but- (4C); pent- (5C); hex- (6C); hept- (7C); oct- (8C);
non- (9C); dec- (10C), e assim por diante;
• O intermediário ou infixo se relaciona ao tipo de ligação, que quando é do
tipo sigma, ou seja, ligação simples, será -an-;
• O sufixo indica a qual classe pertence a molécula; nesse caso, hidrocarbo-
neto utiliza como sufixo a letra -o.
Para simplificar o conceito da nomenclatura, entende-
-se que é composta por prefixo + infixo + sufixo. Consi-
dere um alcano com seis carbonos, seu prefixo é o hex-,
o infixo é o -an-, portanto, a molécula possui apenas
ligações simples, e seu sufixo é a letra -o, então, tra-
ta-se de uma molécula de hexano.
Como mencionado, os hidrocarbonetos podem
ser constituídos apenas de uma cadeia linear, nes-
se caso, são denominados de alcanos normais, sendo

QUÍMICA ORGÂNICA 44

SER_ECPME_QUIMIORG_UNID2.indd 44 25/05/20 16:33


aconselhável utilizar a letra n antes de nomear o hidrocarboneto. Ou, os hidro-
carbonetos podem ser ramificados, em outras palavras, podem possuir substi-
tuintes orgânicos no lugar do átomo de hidrogênio.
A nomenclatura do hidrocarboneto com ramificação inicia pela determi-
nação da posição da ramificação, que é numerada de modo que irá receber
o menor número possível. Após o número, insere-se um traço e verifica-se a
quantidade de carbonos na ramificação, que deve ser nomeada utilizando os
mesmos prefixos indicados na formação da nomenclatura (met-, et-, prop-, etc.)
e, como sufixo da ramificação, utiliza-se -il. Insere-se novamente um traço, e
o restante da cadeia é nomeada normalmente de acordo com as regras ante-
riores. Por exemplo, uma molécula de alcano ramificada, cuja cadeia principal
contém cinco carbonos e uma ramificação no carbono de número três, com
dois carbonos, é denominada de 3-etil-pentano.
Caso haja mais de uma ramificação idêntica no mesmo hidrocarboneto,
além de numerar suas posições, utilizando a separação por vírgula, os prefixos
di-, tri-, tetra- são empregados para indicar a quantidade de repetições da rami-
ficação. Em seguida, adiciona-se os infixos (-met-, -et-, -prop- etc.) que indicam
a quantidade de carbono na ramificação, seguidos do sufixo -il. O restante da
nomenclatura do hidrocarboneto é realizada seguindo as mesmas regras an-
teriores. Assim, a ligação de um alcano ramificado contendo cinco carbonos
em sua maior cadeia e duas ramificações idênticas com um carbono cada, nas
posições dois e quatro da cadeia, é nomeada de 2,4-dimetil-pentano.
Quando as ramificações são diferentes, a ordem alfabética deve ser segui-
da. Logo, a ligação de um alcano ramificado com cinco carbonos em sua maior
cadeia e uma ramificação com dois carbonos na posição 3 e um carbono na
posição 2 é nomeada de 3-etil-2-metil-pentano. Portanto, as cadeias ramifica-
das são nomeadas seguindo o número da posição da ramificação + nome da
ramificação + prefixo + infixo+ sufixo.
Os alcenos, também conhecidos como olefinas, têm como fórmula geral
CnH2n, em que n é a quantidade de carbonos e um número inteiro. Alcenos são
hidrocarbonetos insaturados de cadeia aberta, ou seja, possuem uma dupla li-
gação, sendo que o carbono da dupla ligação possui orbital hibridização sp2. Em
comparação com os alcanos, os alcenos possuem pontos de ebulição e fusão
mais elevados, são insolúveis em solventes polares, como a água, e solúveis em

QUÍMICA ORGÂNICA 45

SER_ECPME_QUIMIORG_UNID2.indd 45 25/05/20 16:33


solventes polares, além de serem mais reativos quimica-
mente se comparados com alcanos, isso porque sua du-
pla ligação pode ser quebrada com mais facilidade.
Geralmente, os alcenos são encontrados em óleos
essenciais naturais e em alguns pigmentos de ori-
gem vegetal como no licopeno, responsável pela
cor vermelha de tomates, por exemplo, e também
são produzidos no processo de amadurecimento de
frutas. Além disso, diversos alcenos são sintetizados
em laboratório e utilizados como precursores de polímeros, como o polieti-
leno, utilizado na fabricação de embalagens plásticas e para induzir artificial-
mente o amadurecimento de frutas.
A nomenclatura dos alcenos, como os demais hidrocarbonetos, segue as
regras da IUPAC, portanto, de modo geral, pode utilizar o mesmo princípio apli-
cado aos alcanos, ou seja, prefixo + infixo + sufixo, com uma modificação no
infixo de -an- para -en-, que indica que a molécula possui uma dupla ligação.
Adicionalmente, a posição da dupla ligação deve ser identificada, a numeração
deve ser iniciada pela extremidade da molécula mais próxima à dupla ligação,
de modo que a indicação da dupla tenha o menor número possível. A nomen-
clatura do alceno indicando a posição da dupla ligação pode ser realizada de
duas formas: na primeira, o número é indicado entre o prefixo e infixo, separa-
do por traços; na segunda, o número antecede o nome do alceno. Por exemplo,
um alceno contendo quatro átomos de carbono, cuja dupla ligação está no se-
gundo carbono, pode ser nomeado como but-2-eno ou 2-buteno.
De maneira análoga à descrição para as moléculas de alcanos, se o alceno
apresentar ramificação, deve preceder o nome do alceno. Então, considere um
aceno com sete carbonos, com a dupla ligação no segundo carbono e com duas
metilas nos carbonos cinco e seis, logo, seu nome será 5,6-dimetil-hept-2-eno.
Os alcenos podem apresentar isômeros espaciais, produzindo os isômeros
cis e trans. Os isômeros ocorrem quando os átomos ligados aos carbonos, que
possuem a dupla ligação, são distintos. Considere um etano com dois substi-
tuintes como o bromo, a quantidade do substituinte também deve ser indica-
da por di-, tri-, entre outros. Ao representar o etano, os bromos podem estar
apenas de um lado do plano da molécula, assim, o isômero será o cis, logo a

QUÍMICA ORGÂNICA 46

SER_ECPME_QUIMIORG_UNID2.indd 46 25/05/20 16:33


nomenclatura da molécula será cis-dibromoeteno. Se os bromos estiverem em
lados opostos do plano da molécula o isômero produzido é o trans e a nomen-
clatura da molécula será trans-dibromoeteno.
Caso o hidrocarboneto seja um alcadieno, que possui duas duplas ligações,
deve-se adicionar ao prefixo a letra -a- e o infixo é, então, alterado para -dieno-.
A nomenclatura deve indicar a posição das ligações, sendo que a numeração
da cadeia deve ser sempre a menor possível. Por exemplo, um alcadieno com
seis carbonos e com as duplas ligações na posição um e três tem como nomen-
clatura hexa-1,3-dieno ou 1,3-hexadieno. Ainda, se o alcadieno for ramificado,
a nomenclatura deve conter as posições e nomes das ramificações de maneira
análoga aos demais hidrocarbonetos descritos anteriormente, ou seja, a posição
e as ramificações devem ser indicadas em ordem alfabética, utilizando traços
para separá-las.
Os alcinos são hidrocarbonetos insaturados de cadeia aberta, cuja fórmula
geral é CnH2n-2, possuem uma tripla ligação, e o carbono relaciona essa ligação
ao orbital hibridizado do tipo sp. Seus pontos de ebulição e fusão são maiores
em relação aos alcanos e alcenos com mesmo número de carbono. São inco-
lores, inodoros, insolúveis em solvente polar e solúveis em solventes apolares.
Com relação ao aroma e solubilidade, a única exceção é o etino, que é utilizado
na produção de borracha sintética, aplicada em pneus.
A nomenclatura dos alcinos segue a ordem prefixo + infixo + sufixo, sendo
que o infixo, nesse caso, será o -in-. Ademais, de maneira análoga à nomen-
clatura descrita para os alcenos, a posição da ligação tripla também deve ser
indicada nos alcinos. Portanto, um alcino com seis átomos de carbono e com a
tripla ligação no carbono dois será designado de pent-2-ino ou 2-pentino.
Alcinos ramificados também devem seguir as regras descritas para hi-
drocarbonetos ramificados, portanto, sua nomenclatura se baseia no nú-
mero da posição da ramificação + nome da ramificação + prefixo +
infixo + sufixo. Desse modo, a ligação de um alcino, cuja cadeia principal
contém sete carbonos, tripla ligação no terceiro carbono, e a ramificações
no carbono dois e cinco, contendo um e dois carbonos respectivamente,
será nomeada de 5-etil-2-metil-hept-3-ino.
O Quadro 1 apresenta exemplos de hidrocarbonetos, bem como sua
nomenclatura.

QUÍMICA ORGÂNICA 47

SER_ECPME_QUIMIORG_UNID2.indd 47 25/05/20 16:33


QUADRO 1. NOMENCLATURA DE HIDROCARBONETOS DE CADEIA ABERTA

Hidrocarboneto não ramificado


Alcanos
prefixo + infixo + sufixo

Quantidade n-pentano 3-etil-pentano 3-etil-2-metil-pentano


Prefixo Infixo Sufixo
de carbono
2 4 2 4 8
1C Met- 4
1 5 1 3 5 2
Alcano 3
2C Et- 1 3 5
-an- 6
6
3C Pro- 7
4C But- Alcenos
Alceno
but-2-eno 5,6-dimetil-hept-2-eno cis-dibromoeteno trans-dibromoeteno
5C Pent- -en-
9
-o 2 2 4 Br Br Br H
6C Hex- Alcadieno 4 6
-dien- 1 3
1 3 5 7
7C Hept- H H H Br
8

8C Oct- Alcadieno Alcinos

9C Non- Alcino hexa-1,3-dieno pent-2-ino ou 2-pentino 5-etil-2-metil-hept-3-ino


-in- 8
10C Dec- 2 4
2 4 2 4 6
6
1 3 5 1 3 5 7
1 3 5
Hidrocarboneto ramificado 9
no da posição da ramificação + nome da 10
ramificação + prefixo + infixo + sufixo

Os cicloalcanos são hidrocarbonetos de cadeia fechada contendo apenas li-


gações simples, sua fórmula geral é CnH2n e possuem propriedades físicas como
ponto de fusão, ponto de ebulição e densidade mais altas em comparação aos
alcanos. São compostos apolares, portanto, insolúveis em água.
A nomenclatura do cicloalcano segue os conceitos descritos anteriormente
para os alcanos, no entanto, o nome do composto é precedido pela palavra
ciclo. Assim, um cicloalcano com três átomos de carbono é denominado de
ciclopropano. De modo simplificado, segue o padrão ciclo + prefixo + infixo +
sufixo. Cicloalcanos também podem apresentar ramificação, quando apenas
uma ramificação está presente, não é preciso que seja indicada. No entanto, se
houver mais de uma ramificação, deve-se indicar as suas respectivas posições
em ordem alfabética, assim, a nomenclatura segue o padrão de número da po-
sição da ramificação + nome da ramificação + ciclo + prefixo + infixo + sufixo.
Cicloalcenos seguem a mesma regra, sendo alterado o infixo -na- para -en-.
Cicloalcanos podem ter anéis condensados entre si ou anéis ligados por
meio de pontes, denominados de alcanos bicíclicos ou bicicloalcanos. Se mais
anéis compartilharem seus carbonos, a molécula passa a ser denominada de

QUÍMICA ORGÂNICA 48

SER_ECPME_QUIMIORG_UNID2.indd 48 25/05/20 16:33


policíclica. Em um composto bicíclico, os átomos de carbono compartilhados
pelos anéis são designados de cabeça de ponte e as ligações que se conectam
aos carbonos cabeça de ponte são denominadas de ponte de carbono.
Os bicicloalcanos possuem em sua nomenclatura a descrição da quantida-
de de ciclos, seguida da indicação, entre colchetes, da quantidade, em ordem
decrescente, de átomos em cada ponte de carbono, e, por fim, o nome do hi-
drocarboneto. Por exemplo, a ligação de um bicíclico com o total de sete car-
bonos, contendo três pontes de carbono, sendo que duas contêm dois carbo-
nos e uma contém apenas um carbono, terá como nomenclatura biciclo[2,2,1]
heptano. Os bicicloalcanos podem presentar ramificações, sendo que deve ser
indicada em sua nomenclatura. Para tal, a numeração tem início na cabeça de
ponte e segue a contagem pela ponte com maior quantidade de carbonos, até
chegar na outra cabeça de ponte, onde continua pela ponte com menor núme-
ro de carbonos. Usualmente, a ponte de carbono mais curta é enumerada por
último, como pode ser observado na Figura 2.

Cicloalcano não ramificado: ciclo + prefixo + infixo + sufixo


DICA Cicloalcano ramificado:
nº da posição da ramificação + nome da ramificação + ciclo + prefixo
+ infixo + sufixo

Ciclopropano 1-etil-3-metilciclohexano Triciclo [2,2,1] heptano


7
1 Ponte de um
6 2 carbono Cabeça de ponte

5 3 8 Ponte de dois Ponte de dois


4 carbonos carbonos
9
Cabeça de ponte

Fundido Em ponte 4
9 2 1 2 5 3
1 3
7 3 7
8 8
6 2
4
7 6 6 5 4 1
5
8-metilbiciclo [4,3,0] nonano 8-metilbiciclo [3,2,1] octano Triciclo [2,2,1,02,6] heptano

Figura 2. Nomenclatura de cicloalcanos, bicicloalcano e policíclicos.

QUÍMICA ORGÂNICA 49

SER_ECPME_QUIMIORG_UNID2.indd 49 25/05/20 16:33


Em compostos policíclicos, além das cabeças de ponte e quantidade de car-
bono na ponte, deve-se considerar o biciclo principal, que é o de maior número
e adiciona-se o prefixo indicando a quantidade de ciclos (triciclo, tetraciclo etc.).
Adiciona-se a série de números referente às pontes entre colchetes. Se houver
pontes secundárias aos carbonos, então, serão indicadas no colchete por meio
da respectiva numeração e, em sobrescrito, deve-se indicar em quais carbonos
se ligam, separados por vírgula, como demonstrado na Figura 2.

Conformações de cicloexano
Os ângulos entre as ligações do carbono nos cicloalcanos são formados
na tentativa de reduzir a energia excedente devido à tensão do anel. Nas
moléculas de cicloexano, o desvio da planaridade pode ser claramente ob-
servado por meio das estruturas de conformação, que podem assumir a
forma de cadeira ou a forma de barco.
A conformação em cadeira permite que a ligação entre os carbonos
ocorra em um ângulo de 109,5º, o que resulta na ausência da tensão an-
gular e tensão de torção, consequentemente, é a conformação mais es-
tável e de menor energia para o cicloexano. Obser vando uma projeção
de Newman para o cicloexano, é possível notar que as ligações nessa
conformação são alternadas, logo, a repulsão entre os hidrogênios tam-
bém é menor.
Ao fornecer uma energia de aproximadamente 45 kJ, as ligações en-
tre os carbonos começam a rotacionar, chegando à conformação de meia
cadeira e, em seguida, começam a perder energia até atingirem a confor-
mação em barco, que não possui tensão angular, mas que apresenta o au-
mento da tensão de torção. Adicionalmente, os átomos de hidrogênio dos
carbonos aproximam-se, o que gera repulsão. Essa conformação permite
que a molécula seja mais flexível. Um intermediário entre as conformações
também ocorre, a conformação torcida, que possui menor energia, cerca
de 23 kJ, e estabilidade ligeiramente maior em comparação à de barco, que
tem 30 kJ de energia. A Figura 3 apresenta as principais conformações em
cadeira e barco, as projeções de Newman e um gráfico das diferenças de
energia entre as conformações.

QUÍMICA ORGÂNICA 50

SER_ECPME_QUIMIORG_UNID2.indd 50 25/05/20 16:33


(A) H H (B)
CH2 H Meia cadeira Meia cadeira
H
H CH2 H 40

Energia relativa kJ/mol


H H Barco
Torcida Torcida
Projeção de Newman com
conformação em cadeira 45,2 kJ/mol
20

HH HH 30 kJ/mol
23 kJ/mol
Cadeira
CH2 Cadeira
H H
H CH2 H 0

Projeção de Newman com Cadeira Meia Torcida Barco Torcida Meia Cadeira
conformação em barco cadeira cadeira

Figura 3. (A) Projeções de Newman nas conformações em cadeira e barco; (B) Alteração da energia com a mudança da
conformação do cicloexano. Fonte: SOLOMONS; FRYHLE, 2012. (Adaptado).

Propriedades dos derivados benzênicos


O benzeno é a molécula mais simples entre os compostos aromáticos, sendo
constituída por seis carbonos ligados entre si por ligações simples e duplas alter-
nadas, formando um anel e tendo um hidrogênio ligado a cada carbono, sendo
classificada como mononuclear. Esse hidrocarboneto aromático é altamente es-
tável devido à presença de seis elétrons π deslocalizados, além de ser a origem de
diversos outros compostos aromáticos, os chamados derivados de benzênicos.
Os derivados mais simples do benzeno são resultado da condensação de
anéis aromáticos que, de acordo com a quantidade, são classificados como:
• Dinucleares, quando contêm dois anéis aromáticos fundidos, como o
naftaleno;
• Trinucleares, como o antraceno;
• Polinucleares, como o coroneno, que é também classificado como hi-
drocarboneto aromático policíclico.
Além disso, o benzeno pode ser utilizado em reações de substituição ele-
trofílica, na qual um hidrogênio do anel aromático é trocado por outro átomo,
produzindo benzenos com outras funções orgânicas. As substituições mais co-

QUÍMICA ORGÂNICA 51

SER_ECPME_QUIMIORG_UNID2.indd 51 25/05/20 16:33


muns são as de nitração (NO2), halogenação (F, Cl, Br, I), sulfonação (SO3), alqui-
lação (por exemplo, -CH3), acilação (RC = O, onde R é um alquil).
A nomenclatura dos benzenos substituídos segue as regras da IUPAC, em
que cada função possui uma especificação. Por exemplo, benzenos monossubs-
tituídos com halogênios utilizam o prefixo indicando o átomo ou grupo funcional
seguido do sufixo benzeno, como clorobenzeno. Se a substituição é pela função
ácido carboxílico, então a nomenclatura do benzeno será ácido benzoico. O ben-
zeno pode ser dissubstituído e, nesse caso, a posição das substituições deve ser
indicada na nomenclatura por meio da utilização de números ou dos prefixos
orto-, meta- ou para-, simplificadamente, o-, m- e p-, respectivamente. Caso o
benzeno seja trissubstituído, apenas a numeração deve ser utilizada para indicar
a posição da substituição. Além disso, o benzeno pode sofrer reação de adição,
em que as ligações duplas são quebradas, permitindo que outros átomos sejam
adicionados à molécula, que se torna cíclica, como o hexaclorociclohexano.
As propriedades dos derivados de benzeno se relacionam com as fun-
ções dos seus substituintes. Uma característica importante para se avaliar
é a eletronegatividade do substituinte e sua influência sobre o anel aromá-
tico. Por exemplo, uma acilação produz carga parcialmente ou totalmen-
te positiva no átomo de carbono ligado ao anel aromático, isso porque o
oxigênio é mais eletronegativo que o carbono, o mesmo ocorre quando é
feita a substituição por halogênios.
Adicionalmente, a presença de um substituinte afeta a posição em que
outros grupos funcionais se ligam, podendo ser orto-, para- ou meta-dirigen-
tes, além da velocidade com a qual um grupo secundário se liga. Se a veloci-
dade da ligação do segundo substituinte for maior, tem-se um grupo ativador
que eleva a taxa de substituição eletrolítica; se for menor,
o grupo funcional é desativador, pois reduz a taxa de
substituição eletrolítica. Por exemplo, a halogenação
com bromo (Br) de um metoxibenzeno faz com que
96% do Br se ligue ao benzeno na posição para- e
apenas 4% na posição orto-. Ainda mais, devido
à presença do grupo funcional éter, a bromação
ocorre com mais velocidade se comparada à bro-
mação de um benzeno.

QUÍMICA ORGÂNICA 52

SER_ECPME_QUIMIORG_UNID2.indd 52 25/05/20 16:33


A nitração de um nitrobenzeno ocorre, preferencialmente, na posição
meta-. Portanto, o grupo NO2 é metadirigente e sua velocidade é muito menor
do que a nitração do benzeno, isso porque o grupo NO2 é desativador. A Figura
4 apresenta o efeito dos substituintes na adição dos grupos secundários.

Ativador forte -NH2 -NHR -NR2 -OH -OR


ORTO-PARA-DIRIGENTE

O O O O
Ativador moderado -NHCR -NHCAr -OCR -OCAr

REATIVIDADE
AUMENTA A

AO BENZENO
EM RELAÇÃO
Ativador fraco -R

Desativador fraco -F -CI -Br -I

AO BENZENO
EM RELAÇÃO
REATIVIDADE
REDUZ A
O O O O O O
META-DIRIGENTE

Desativador moderado -CH -CR -COH -COR -CNH2 -SOH


O

Desativador forte -NO2 -NH3+ -CF3 -CCI3

Figura 4. Efeito dos substituintes na adição dos grupos secundários. Fonte: BROWN; POON, 2016. (Adaptado).

De modo geral, pode-se dizer que quando grupos alquil e fenil se ligam ao
benzeno, têm-se uma ativação moderada e o direcionamento dos substituintes
ocorre para a posição orto- e para-. Halogênios são desativadores moderados
e induzem as ligações de outros substituintes para que ocorram, preferencial-
mente, nas posições orto- e para-. Os grupos funcionais que direcionam outras
substituições na posição meta- possuem carga total ou parcial positiva. Como
exemplo, considerando-se a síntese do bromonitrobenzeno, se for iniciada pela
nitração, então, o bromo se ligará à posição meta-, entretanto, se for iniciada
pela bromação, o grupo nitro- se ligará nas posições orto- e para-.
Outro modo de avaliar a capacidade de ativação e desativação dos grupos
funcionais ligados ao benzeno, é por ressonância e efeito indutivo. Por exem-
plo, ressonâncias em grupos -NH2, -OH e -OR deslocalizam a carga positiva do
íon intermediário, o que eleva a taxa de substituição da molécula em compa-
ração com o benzeno sozinho. O efeito indutivo e de ressonância de grupos
-NO2, -C = O, -SO3H, -NR 3+, -CCl3 e -CF 3, ligados ao anel aromático, diminuem a
sua densidade eletrônica, o que causa redução na taxa de substituição aromá-

QUÍMICA ORGÂNICA 53

SER_ECPME_QUIMIORG_UNID2.indd 53 25/05/20 16:33


tica em comparação com o benzeno. Grupos alquil não reduzem a densidade
eletrônica do anel aromático, ou seja, são ativadores.

Outros compostos aromáticos: nanotubos e fulerenos


Os nanomateriais de carbono ganharam destaque ao longo dos últimos anos
devido as suas propriedades óticas, eletrônicas e mecânicas, que se diferem de
compostos de carbono macroscópicos. Dentre os nanomateriais de carbono mais
estudados estão os nanotubos e os fulerenos.
Os nanotubos foram descobertos na década de 1990 e vêm sendo estudados
em áreas de pesquisa da física, química, biologia, ciências médicas e dos materiais.
Basicamente, são formados a partir de uma folha de grafeno enrolada para se obter
um cilindro ou tubo e que, dependendo da forma como é feito, pode influenciar na
estrutura dos nanotubos.
Podem ser classificados de acordo com a quantidade de camadas, simples ou
múltiplas, nas quais as folhas de carbono se enrolam concentricamente. Dentre
suas principais propriedades estão sua alta flexibilidade e resistência, que são mais
elevadas quando comparadas com fibras de carbono, sua característica metálica ou
semicondutora e alta condutividade térmica. As extremidades dos nanotubos pos-
suem ligações incompletas que permitem que sejam funcionalizados pela adsorção
de compostos com grupos funcionais de interesse, que resulta um novo material,
com outras propriedades e, consequentemente, outras aplicações.
Sua versatilidade permite que sejam utilizados em dispositivos emissores de elé-
trons, em sensores de gás e biosensores, na remoção de poluentes, no armazena-
mento de energia, na catálise e na produção de compósitos, por meio da mistura de
nanotubos com polímeros e fibras. A Figura 5 (A) apresenta nanotubos de carbono.

(A) (B)

Figura 5. Representação esquemática de nanotubos de carbono (A); e fulerenos (B). Fonte: ZARBIN; OLIVEIRA, 2013. (Adapatado).

QUÍMICA ORGÂNICA 54

SER_ECPME_QUIMIORG_UNID2.indd 54 25/05/20 16:33


Os fulerenos foram descritos pela primeira vez em meados da década de
1980, e são de moléculas constituídas por 60 carbonos ou mais, com hibri-
dização sp2 , com aspecto esférico, sendo formadas por hexágonos e pentá-
gonos intercalados, semelhante a uma bola, como apresentado na Figura 5
(B). Os fulerenos constituídos por menos de 300 carbonos são denominados
de endoédricos.
São considerados altamente simétricos e sua estabilidade fica atrás apenas
do diamante. O fato de poderem ser produzidos com diferentes quantidades
de carbono permite que suas propriedades possam ser adaptadas de acordo
com a aplicação desejada. Possuem interessantes propriedades fotofísicas e
fotoquímicas, que possibilitam sua utilização em processos de transferência
de carga em células solares orgânicas, na obtenção de cristais líquidos, devido
à organização da sua estrutura, e na construção de peças de computadores.
Aplicações na área médica têm sido estudadas, como a atividade antimicro-
biana e antiviral, terapia fotodinâmica e transporte de medicamentos. Devido
a sua estrutura oca, os fulerenos podem ser funcionalizados com átomos de
interesse, como metais, que fornecem propriedades magnéticas.

Funções orgânicas
O carbono pode se ligar a outros átomos, como o oxigênio, nitrogênio, en-
xofre e metais, por meio de diferentes combinações, dando origem a milhares
de compostos orgânicos que são utilizados em diversos processos químicos
que ocorrem no nosso corpo e, também, são aplicados industrialmente na pro-
dução de produtos de diferentes setores, como o farmacêutico, cosmético e
petroquímico.
Nesse contexto, serão apresentados os diferentes grupos funcionais do
carbono, bem como suas principais características e nomenclatura.

Haletos orgânicos
Haletos orgânicos, também conhecidos como haloalcanos ou haletos de al-
quila, são compostos que contêm um halogênio como o flúor, cloro, bromo e/ou
iodo, ligado a um átomo de carbono de uma molécula orgânica. Genericamente,

QUÍMICA ORGÂNICA 55

SER_ECPME_QUIMIORG_UNID2.indd 55 25/05/20 16:33


a fórmula dos haletos pode ser representada como R-X, onde R representa a
parte orgânica da substância e X o halogênio.
Os halogênios podem se ligar a carbonos hibridizados sp3 e sp2 e, nesse últi-
mo caso, passa a ser denominado de haleto vinílico ou haleto de arila. A ligação
entre um haleto e um carbono com ligação tripla, ou seja, hibridização sp, não
é verificada na química. Esses compostos podem ser classificados de diversos
modos, podendo ser de acordo com a quantidade de halogênios ligados à cadeia
de hidrocarboneto (mono-haleto, di-haleto etc.), com relação ao halogênio (bro-
meto, fluoreto etc.) e devido ao carbono no qual está ligado (primário, secundá-
rio e terciário). Sua nomenclatura deve ser realizada inicialmente informando o
número do carbono no qual o halogênio está ligado, nome do halogênio e o
nome do hidrocarboneto.
Os haletos orgânicos podem ser utilizados como solventes, como o tetraclo-
reto de carbono (CCl4), refrigerantes, como o diclorodifluorometano (CCl2F2), e
pesticidas, como o diclorodifeniltricloroetano (C14H9Cl5). A Figura 6 apresenta al-
guns exemplos de haletos orgânicos e suas respectivas nomenclaturas.

Nº do carbono no qual o halogênio está ligado +


nome do halogênio + nome do hidrocarboneto

Br Cl
F Cl
Cl F
2-cloro-2-metilbutano 2-bromo-3-etilpentano Diclorodifluormetano

Iodociclopentano Fluorbenzeno

Figura 6. Exemplos de haletos orgânicos.

Os haletos orgânicos são comumente utilizados na síntese de compostos


orgânicos, principalmente em reações de substituição e eliminação, sendo
que nessas reações o halogênio é convertido a um ânion, ou seja, um íon com
carga negativa.

QUÍMICA ORGÂNICA 56

SER_ECPME_QUIMIORG_UNID2.indd 56 25/05/20 16:33


Funções oxigenadas
As funções oxigenadas correspondem a uma das maiores classes de compos-
tos orgânicos, sendo os mais relevantes os álcoois, enóis, fenóis, aldeídos, cetonas,
éteres, éter etílico, ácidos carboxílicos, ésteres, sais orgânicos, cloretos ácidos e
anidridos. Diversos compostos oxigenados são utilizados em processos de síntese
de outros compostos orgânicos ou como solventes, ainda, algumas funções or-
gânicas oxigenadas estão presentes em moléculas biologicamente importantes,
como os lipídios. O Quadro 2 apresenta de modo simplificado as funções oxigena-
das, respectivas nomenclaturas e exemplos.

QUADRO 2. FUNÇÕES OXIGENADAS

Função Fórmula geral Nomenclatura Exemplo

Radical + sufixo
Álcool R-OH
-ol
Metanol OH

Enól R-OH Radical + en + -ol Etenol OH


Hidroxi + radical
Fenol Ar-OH aromático Hidroxibenzeno OH

C O Radical + sufixo
Aldeído Butanal
H - al O

O
Cetona Radical + -ona Butan-2-ona
R C R O

Radical + -oxi + O
Éter R O R’ radical
Metoxipropano

R C O Ácido + radical + O
Ácido carboxílico Ácido propanóico
-óico
OH OH

R C O Radical + -ato + O
Éster de + Butanato de etila
OR’ radical + -ila O

R C O Radical + -oato + O
Propanato de
Sal orgânico de + cátion
sódio
O-Me+ O Na

R C O Cloreto + de + rad- Cloreto de O


Cloreto ácido
ical + -ila propanoila Cl
Cl
R C O C R’
Anidro + radical O
Anidro Anidrido etanoico
+ -óico O O
O O

Onde R e R’ são os radicais orgânicos e -Me são cátions.

QUÍMICA ORGÂNICA 57

SER_ECPME_QUIMIORG_UNID2.indd 57 25/05/20 16:33


Os álcoois são caracterizados pela
presença do grupamento hidroxila
(-OH) ligado a um átomo de carbono
hibridizado sp3, ou seja, realiza ligação
simples. Se a hidroxila estiver ligada a
um carbono hibridizado sp2 , então, a
molécula passa a ser denominada de
enol, e se a ligação do -OH ocorrer em
um anel aromático, então a substância
é designada de fenol.
Um dos álcoois mais conhecidos e amplamente difundido é o álcool etílico, ou
etanol, que é utilizado como solvente, combustível e agente desnaturante. Além
disso, o grupo -OH é quimicamente ativo, podendo ser oxidado, por exemplo, em
reações que convertem o álcool do vinho (etanol) em vinagre (ácido etanoico).
Os enóis são utilizados como aromatizantes de alimentos e medicamentos, um
dos enóis mais conhecidos é o ácido ascórbico, ou vitamina C, que contém qua-
tro hidroxilas, sendo duas ligadas a carbonos sp2. Os fenóis também possuem
diversas aplicações industriais, como na preparação de polímeros, síntese de
aspirina, e em produtos dermatológicos como o benzeno-1,4-diol, também co-
nhecido como hidroquinona, que é utilizada para o clareamento de manchas
presentes no tecido cutâneo.
Os álcoois podem ser classificados em primários, secundários e terciá-
rios, de acordo com o carbono no qual o -OH se liga. Sua nomenclatura é
semelhante à dos hidrocarbonetos, contudo, utiliza-se como sufixo o -ol,
por exemplo, um álcool com três carbonos será denominado de 1-propanol.
Para a nomenclatura dos enóis, devem ser informadas as posições da dupla
ligação e da hidroxila; por exemplo, a ligação de um enol com seis carbonos,
contendo uma insaturação e -OH no carbono três, será denominada de hex-3-
en-3-ol. A nomenclatura dos fenóis pode ser realizada de modo simplificado,
iniciando pelo número do carbono ao qual o grupo -OH está ligado, seguido
do infixo -hidroxi e, como sufixo, o nome do anel aromático; por exemplo, um
benzeno com duas hidroxilas é denominado de 1,2-dihidroxibenzeno.
Aldeídos são geralmente produtos da oxidação de álcoois primários, sen-
do caracterizados pela presença de uma carbonila (-C=O) na extremidade da

QUÍMICA ORGÂNICA 58

SER_ECPME_QUIMIORG_UNID2.indd 58 25/05/20 17:12


cadeia carbônica. Sua nomenclatura é iniciada pela quantidade de carbonos,
seguida da identificação do tipo de ligação, simples, dupla ou tripla e como su-
fixo utiliza-se o -al, por exemplo, um aldeído com dois carbonos é chamado de
etanal. Caso a molécula apresente duas carbonilas, o infixo -di- deve preceder
o sufixo -al, um aldeído com cinco átomos de carbonos e duas carbonilas será
intitulado de pentanodial.
Os aldeídos podem ser aplicados na conservação de tecidos vivos e, por se-
rem facilmente oxidados, também são utilizados como agentes redutores e como
aromatizantes na indústria alimentícia e farmacêutica, sendo o mais conhecido a
vanilina ou baunilha.
As cetonas também possuem uma carbonila, no entanto, diferente do al-
deído, sua -C=O se encontra no meio da cadeia carbônica, ou seja, ligada a um
carbono secundário. A ausência do hidrogênio ligado à carbonila torna a cetonas
menos reativas em comparação com os aldeídos, devido a isso, muitas cetonas
são utilizadas como solventes. Sua nomenclatura se baseia no mesmo princípio
aplicado aos aldeídos, contudo, o sufixo utilizado é o -ona, assim, uma cetona
com três carbonos é denominada de propanona. Em cetonas simples, com até
quatro carbonos, não é necessário especificar a posição da carbonila, mas o
cenário é diferente se a cetona apresentar mais carbonos, por exemplo, uma
cetona com seis carbonos e uma dupla ligação no primeiro carbono terá como
nomenclatura o hex-1-en-3-ona.
A cetona mais conhecida é a propanona, também chamada de acetona, utili-
zada como removedor de esmaltes, solvente, para a extração de óleos vegetais
e síntese de medicamentos. As cetonas são também responsáveis por aromas,
como a jasmona, extraída de flores de jasmin, e podem ser encontradas na forma
de acetofenona em frutas como a banana.
Os éteres são compostos orgânicos oxigenados caracterizados pela presença
do oxigênio entre grupos alquila, definidos por sua baixa polaridade e reatividade.
Sua nomenclatura deve sempre ser iniciada pelo nome do menor radical, infixo
-oxi-, seguido da adição de um traço e nome do maior radical. Um éter com um
radical meti e outro propril será denominado de metoxi-propano. Outro modo
de nomear os éteres é adicionando no início do nome a palavra éter, seguido dos
nomes dos radicais, menor e maior, respectivamente, e do sufixo -ico, assim, um
éter com um radical metil e ou etil recebe o nome de éter metil-etílico.

QUÍMICA ORGÂNICA 59

SER_ECPME_QUIMIORG_UNID2.indd 59 25/05/20 17:12


O etoxietano, comumente denominado de éter etílico, é um importante sol-
vente de óleos, podendo ser utilizado na fabricação de pólvora e seda artificial,
entretanto, seu uso é controlado, uma vez que pode ser aplicado para a síntese de
produtos ilícitos. Na área médica, o éter etílico é utilizado como anestésico.
Ainda mais, os éteres também podem ter compostos cíclicos que recebem o
nome de epóxidos. Um dos éteres cíclicos mais conhecidos é o óxido de etileno ou
epóxi-etano, empregado industrialmente nos processos de produção de fibras,
resinas, tintas, entre outros. A nomenclatura dos éteres cíclicos se inicia com a nu-
meração da posição do oxigênio ligado aos carbonos, seguido do prefixo -epóxi-,
nomeando em ordem alfabética os substituintes e, por fim, a cadeia de carbonos.
Considere uma molécula com cinco átomos de carbono, no qual o oxigênio fecha
o ciclo se ligando simultaneamente no carbono um e quatro, a estrutura será no-
meada de 1,4-epoxipentano.
Ácidos carboxílicos possuem em sua estrutura um grupo carboxila, ou seja,
uma cadeia carbônica, onde o carbono da extremidade realiza uma ligação du-
pla com um oxigênio, e uma simples, com uma hidroxila. A nomenclatura desses
compostos é realizada adicionando a palavra ácido, seguida do nome da cadeia
carbônica e do sufixo -oico, ou -dioico, se a cadeia apresentar em ambas as ex-
tremidades a função ácido carboxílico. Assim, uma cadeia carbônica com três áto-
mos de carbono é chamada de ácido propanoico e, se a mesma cadeia apresentar
a função do ácido carboxílico em ambas extremidades, terá como nome ácido
propanodioico. Alguns ácidos têm importante aplicação industrial como o ácido
metanoico, conhecido como ácido fórmico, é utilizado como fixador de corantes,
já o ácido etanoico é um dos principais constituintes do vinagre.
Os ésteres podem ser obtidos por meio de reações de ácidos carboxílicos com
álcoois, sendo caracterizados por possuírem um átomo de carbono, no meio de
uma cadeia carbônica, ligado a dois oxigênios, por meio de
uma ligação simples e outra dupla, em outras palavras, um
radical se liga ao oxigênio, substituindo o hidrogênio do
ácido carboxílico. A nomenclatura dos ésteres é realiza-
da utilizando o prefixo que se relaciona à quantidade
de hidrocarboneto, até o carbono contendo o grupo
funcional, sendo o sufixo utilizado na primeira parte
o -ato, seguido da preposição de e do nome do radical

QUÍMICA ORGÂNICA 60

SER_ECPME_QUIMIORG_UNID2.indd 60 25/05/20 17:12


com sufixo -ila. Portanto, um éster com quatro carbonos, com a função orgânica
no terceiro carbono, é designado de propanoato de metila.
Os ésteres possuem geralmente aroma de frutas e, portanto, são amplamen-
te utilizados na indústria alimentícia, também podem ser biologicamente ativos,
como os lipídios. Outra aplicação importante se relaciona à síntese de polímeros
pela utilização de ésteres, sendo um dos mais conhecidos o poliéster, manuseado
na produção de garrafas e tecidos.

CURIOSIDADE
Os lipídios, ou simplesmente moléculas de gordura, têm uma importante
função no organismo humano: fornecer energia. Podem ser saturados,
sendo encontrados no queijo, leite e ovos, ou insaturados, presentes em
óleos de girassol e coco. O consumo de lipídios deve ser moderado, pois
em alta quantidade acabam se armazenando como tecido adiposo na
forma de gordura.

Os sais orgânicos são outra classe de compostos derivados da interação entre


ácidos carboxílicos e uma base, muito semelhante ao que ocorre em uma reação de
neutralização. De forma análoga à descrita para os ésteres, o hidrogênio da hidroxila
é substituído pelo cátion proveniente da base. Os sais orgânicos possuem estrutura
cristalina, além de altos pontos de fusão e ebulição. Sua nomenclatura é dada pelo
prefixo relacionado ao número de carbonos, infixo -oato, conector de e nome do
cátion. Por exemplo, um sal orgânico contendo cinco átomos de carbono e um sódio
tem como nomenclatura pentanoato de sódio. Se houver mais um cátion na outra
extremidade do sal orgânico, a nomenclatura do infixo deve ser -dioato, logo, consi-
derando-se uma molécula com quatro carbonos, um sódio e um potássio, o sal será
denominado de butanodioato de potássio e sódio. Os sais orgânicos são muito
utilizados na produção de sabão e sabonete.
O cloreto ácido é resultado da interação entre um ácido carboxílico e um cloro,
sendo que o Cl é proveniente de substâncias como pentacloreto de fósforo e cloreto
de tionila, em meio básico. De forma análoga à descrita para os sais orgânicos, o
cloreto ácido é resultado da substituição do hidrogênio da hidroxila presente em um
ácido carboxílico pelo cloro. Sua nomenclatura é dada pela associação da palavra
cloreto, seguida da preposição de, nome do radical ácido com o sufixo -ico ou -ila.
Por exemplo, um ácido benzoico que é convertido em cloreto ácido passa a ser de-
nominado de cloreto de benzoíla.

QUÍMICA ORGÂNICA 61

SER_ECPME_QUIMIORG_UNID2.indd 61 25/05/20 17:12


Ainda pela interação entre ácidos carboxílicos ou entre um ácido carboxílico e
um cloreto ácido, tem-se como produtos os anidridos. Essa reação ocorre basica-
mente devido à desidratação do ácido carboxílico. A nomenclatura do anidrido é
realizada pela palavra anidrido, seguida do prefixo relacionado aos carbonos, infixo
contendo tipo de ligação e sufixo -óico. Na interação entre dois ácidos etanoicos, por
exemplo, se produz o anidrido.

Funções nitrogenadas
O nitrogênio está presente em diversos compostos orgânicos e o modo como se
liga ao carbono gera diversas funções nitrogenadas, sendo as principais: aminas, imi-
nas, amidas, imidas, nitrilos e nitrocompostos. Alguns compostos nitrogenados têm
grandes aplicações industriais e outros são importantes em processos biológicos,
como na síntese de proteínas. O Quadro 3 apresenta as principais funções nitrogena-
das e suas respectivas nomenclaturas.

QUADRO 3. FUNÇÕES NITROGENADAS

Função Fórmula geral Nomenclatura Exemplo

Amina R-NH2, R — NH-R, -NR3 Radical + amida Etanoamina NH2

Imina R=NH Radical + imina Etanoimina NH

O
O
Amida Radical + amida Propanoamida
-C-NH2
NH2

O
H
Imida O N O Radical + imida Cicloexano-1,2-dicarboximida NH

Nitrila R-C≡N
R-C≡N Radical + nitrila Etanonitrila
N

NO2
Nitrocompostos R-NO2 Nitro + radical Nitrobenzeno

Onde R representa os radicais orgânicos.

QUÍMICA ORGÂNICA 62

SER_ECPME_QUIMIORG_UNID2.indd 62 25/05/20 17:12


Aminas são caracterizadas pela presença de um nitrogênio ligado a, no
máximo, três grupos orgânicos, podendo ser classificadas como primárias, se-
cundárias e terciárias, de acordo com a quantidade de grupos orgânicos. As
aminas podem ser alifáticas ou aromáticas, de acordo com o grupo ligado ao
nitrogênio. A nomenclatura das aminas se baseia na utilização do nome do
grupo ligado ao nitrogênio, seguido do sufixo -amina, por exemplo, uma amina
primária com apenas um carbono é designada de metilamina. No caso de uma
amina secundária ou terciária, os prefixos -di- e -tri-, respectivamente, devem
preceder o nome dos grupos alquil, como por exemplo, a dimetilamina, que
possui duas metilas ligadas ao nitrogênio.
Entretanto, se a molécula possuir mais de uma função amina, deve-se indi-
car a posição das aminas utilizando números e os infixos -di- e -tri-, por exem-
plo: butano-1,2,4-triamina, que possui três funções aminas na cadeia, conten-
do quatro carbonos.
Uma amina biologicamente importante é a adrenalina, que é liberada em
situações de perigo pelas glândulas suprarrenais. As plantas também podem
possuir moléculas de amina, como nicotina e a cocaína. Cheiros desagradáveis,
como o de putrefação, também estão relacionados à amina, a putrecina.
As iminas, também conhecidas como base de Schiff, podem ser sintetiza-
das a partir de uma reação entre uma amina primária e uma cetona ou aldeído
em meio ácido. Basicamente, são caracterizadas pela presença de um carbono
ligado a um nitrogênio por uma ligação dupla. As iminas seguem a nomencla-
tura baseada no nome da cadeia carbônica seguido do sufixo -imina, desse
modo, uma cadeia com seis carbono e uma função imina é denominada de he-
xan-1-imina. Caso a função imina esteja presente no
meio da cadeia, o sulfixo -imina deve acompanhar
a cadeia mais longa ou a cadeia na qual a imina se
encontra, assim, uma cadeia H3C-CH=N-CH3 é deno-
minada de N-metiletanimina.
As iminas possuem um comportamento
interessante de cristal líquido devido a sua
planaridade e são utilizadas em química
analítica, na área de polímeros, e possuem
propriedades antifúngicas.

QUÍMICA ORGÂNICA 63

SER_ECPME_QUIMIORG_UNID2.indd 63 25/05/20 17:12


As amidas são caracterizadas pela presença de um grupo carbonila (C=O)
ligado a um nitrogênio. Podem ser classificadas como primárias, secundárias
e terciárias de acordo com a quantidade de carbonila ligada ao nitrogênio. A
nomenclatura das amidas utiliza como prefixo a determinação da quantidade
de hidrocarbonetos e como sufixo -amida. Uma amina primária com apenas
três carbonos é denominada de propanamida. Em uma amida secundária e
terciária, o sufixo -amida permanece junto à cadeia principal, ou seja, que pos-
sui maior número de carbonos, como por exemplo, a N-metil-propanamida.
Contudo, caso a amida esteja ligada uma cadeia cíclica, o sufixo -amida é subs-
tituído pelo -carboxiamida, desse modo, um ciclo hexano com função amida
será designado de ciclo hexanocarboxiamida.
Uma amida muito conhecida é a ureia, excretada na urina humana. Indus-
trialmente, a ureia é utilizada como matéria-prima de fertilizantes, plásticos e
na indústria farmacêutica
As imidas possuem duas carbonilas ligadas ao átomo de nitrogênio,
podendo ser alifáticas ou aromáticas. A nomenclatura utiliza o mesmo
princípio aplicado para hidrocarbonetos, indicando a posição dos carbo-
nos com a carbonila, seguido do sufixo -imida ou -carboximida, como
o cicloexano-1,2-dicarboxiimida e o 1,4,5,8-naftalenodiimidas. As imidas
alifáticas como a maleimida e succinimidas possuem atividade antimicro-
biana e analgésica. As imidas aromáticas podem ser utilizadas em condu-
tores orgânicos e possuem atividade fotofísica, podendo ser utilizadas em
processos de catálise.
Nas nitrilas, o nitrogênio é ligado ao carbono por uma tripla ligação, os
compostos com esse grupo funcional são polares, podem estar presentes nos
estados gasoso, líquido e sólido, dependendo da quantidade de carbonos liga-
dos ao grupo nitrila. Além disso, as nitrilas possuem altos pontos de fusão e
ebulição. Sua nomenclatura deve indicar a quantidade de hidrocarbonetos no
prefixo, o infixo deve indicar o tipo de ligação existente na cadeia, seguido dos
sufixos -o- e -nitrila, portanto, uma cadeia contendo cinco carbonos, apenas
ligações simples e uma nitrila é designada de pentanonitrila.
Uma nitrila muito conhecida é a metanonitrila, que possui aroma de amên-
doas e é altamente tóxica, tendo sido utilizada em câmaras de gás. Outra nitrila
importante é a acrilonitrila, aplicada na síntese de materiais acrílicos e lãs.

QUÍMICA ORGÂNICA 64

SER_ECPME_QUIMIORG_UNID2.indd 64 25/05/20 17:12


Os nitrocompostos são caracterizados pela presença do grupamento nitro
-NO2 ligado aos hidrocarbonetos, podem estar presentes em cadeias alifáticas
ou ligados a compostos aromáticos. Os nitrocompostos são polares, suas carac-
terísticas se relacionam ao tipo de cadeia, os nitrocompostos alifáticos possuem
aroma agradável e não são tóxicos, em contrapartida, os nitrocompostos aromá-
ticos possuem odor ruim e são tóxicos. A nomenclatura desses compostos utiliza
como prefixo nitro-, seguido do nome do hidrocarboneto, logo, um metano que
possui em sua molécula a função nitro será nomeado de nitrometano. Se hou-
ver, na molécula, a presença de mais de um grupo nitro, a quantidade deve ser
indicada utilizando antes do prefixo (-nitro-) di- e tri-.
Nitrocompostos aromáticos são amplamente utilizados como solventes.
Entretanto, o 2,4,6-trinitrotolueno, TNT, é um dos nitrocompostos mais conhe-
cidos e, por ser reativo, costuma ser utilizado como explosivo.

Funções sulfuradas
As funções sulfuradas mais relevantes são os tióis, tioéteres e ácidos sul-
fônicos, hidrocarbonetos orgânicos sulfurados em que o enxofre (S) se liga ao
carbono de diferentes formas e, além do carbono, também pode se ligar ao
oxigênio. O Quadro 4 apresenta as funções sulfuradas que serão abordadas
com mais detalhes, posteriormente.

QUADRO 4. FUNÇÕES SULFURADAS

Função Fórmula geral Nomenclatura Exemplo

SH
Tióis R-SH Radical + tiol Benzenotiol

Radical + tiol +
Tioéteres R-C-S-R Metil-tioetano
radical S

O O
Ácido + radical + Ácido S
HO
Ácidos sulfônicos R-S-OH sulfônico benzossulfônico
O O

Onde R representa os radicais orgânicos.

QUÍMICA ORGÂNICA 65

SER_ECPME_QUIMIORG_UNID2.indd 65 25/05/20 17:12


Os tióis são muito semelhantes aos álcoois, entretanto, a função -OH é
substituída pela função -SH no caso dos tióis. Entre suas características, está a
acidez e baixa polaridade, sendo que os tióis geralmente são encontrados no
estado gasoso, e seus líquidos costumam ser voláteis. A nomenclatura segue as
regras citadas anteriormente, ou seja, como prefixo, nome do hidrocarboneto,
o tipo de ligação, e, como sufixo, -tiol. Por exemplo, uma molécula contendo
dois carbonos ligados a um -SH é designada de etanotiol.

CURIOSIDADE
Os compostos orgânicos sulfurados são conhecidos pelo seu odor
nada agradável. No entanto, sua utilização pode ser importante. Por
exemplo, o butan-1-tiol é um hidrocarboneto com função orgânica tiol
que, quando misturado ao gás de cozinha, resulta em um forte odor,
facilitando sua percepção em caso de vazamento. Por conta disso, o
butan-1-tiol é uma molécula muito utilizada para garantir a segurança
de quem utiliza gás de cozinha.

Os tioéteres apresentam um átomo de enxofre no meio da cadeia carbô-


nica. Entre suas propriedades, se destaca o odor desagradável, alto ponto
de fusão e ebulição, sua volatilidade menor em comparação aos compostos
tióis e sua insolubilidade em solventes polares. A nomenclatura para essa
classe de compostos é realizada iniciando pelo menor radial, seguido da
adição de um traço (-), infixo -tio- e nome do maior hidrocarboneto. Como
exemplo, considere o propil-tiopentano, que tem como menor radical o me-
til e como maior o pentano.
Os tioésteres podem ser encontrados no petróleo e são utilizados na
produção de plásticos. No corpo humano, estão presentes em aminoácidos
precursores de proteínas como a metionina.
Os ácidos sulfônicos possuem como grupo funcional o -SO3H ligado a hi-
drocarbonetos, que tiveram um hidrogênio substituído devido a sua intera-
ção com ácido sulfúrico. Esses compostos, na temperatura ambiente de 25 ºC,
são sólidos e se assemelham a um cristal, são solúveis em água e, no proces-
so de dissolução, produzem um ácido forte. A nomenclatura utiliza a palavra
ácido, seguida do nome do hidrocarboneto e sufixo -sulfônico. Desse modo,
um benzeno ligado a um ácido sulfônico é denominado de ácido benzenossul-
fônico. Os compostos que possuem essa função são empregados como ten-

QUÍMICA ORGÂNICA 66

SER_ECPME_QUIMIORG_UNID2.indd 66 25/05/20 17:12


sos ativos na produção de xampus e detergentes, sendo responsáveis pela
espuma que é observada durante a utilização desses produtos.

Funções ou compostos organometálicos: compostos de


Grignard e de Frankland
Os compostos ou reagentes de Grignard são haletos de organomagnésio,
ou seja, são resultantes da interação entre haletos orgânicos e o magnésio me-
tálico. A interação dos haletos orgânicos com magnésio é maior em haletos de
iodo, seguido de bromo e cloro. A síntese desses compostos é realizada em éter
anidro, sendo comum os utilizar em seguida para outras sínteses orgânicas
devido à reatividade. Os compostos de Grignard são aplicados para a síntese
de aldeídos, álcoois e cetonas e, também, para a produção de outros compos-
tos organometálicos. A nomenclatura é realizada pela utilização do nome do
ânion, preposição de, nome do radical orgânico, hífen (-) e sufixo -magnésio,
como por exemplo, o iodeto de isopropil-magnésio. O Quadro 5 apresenta um
exemplo de composto de Grignard.

QUADRO 5. COMPOSTOS ORGANOMETÁLICOS DE GRIGNARD E DE FRANKLAND

Função Fórmula geral Nomenclatura Exemplo

Composto de
Nome do ânion
Cloreto de
MgCl
R-MgX + de + radical +
Grignard o-toluil-magnésio
magnésio

Composto de
Frankland
R-Zn Radical + zinco Dietilzinco Zn

Onde X é um ânion.

Os compostos de Frankland são compostos do tipo organozinco, ou seja,


possuem em sua constituição ligações entre o átomo de carbono e zinco. O
primeiro composto organozinco foi obtido pela interação entre um iodeto de
etila, que é um haleto orgânico, com o zinco metálico, utilizando hexano como

QUÍMICA ORGÂNICA 67

SER_ECPME_QUIMIORG_UNID2.indd 67 25/05/20 17:12


solvente em atmosfera inerte de nitrogênio. Quimicamente, os compostos de
Frankland são menos reativos quando comparados aos compostos de Grig-
nard, portanto, são pouco usados na síntese orgânica. Sua nomenclatura se
baseia na identificação da quantidade de grupos orgânicos, nome do radical e
a palavra zinco, como por exemplo o dietilzinco.

Cromatografia (prática)
A cromatografia consiste em um processo no qual compostos de uma
mistura na fase líquida ou gasosa, denominada de fase móvel, são separa-
dos ao passar por uma coluna cromatográfica, denominada de fase esta-
cionária, podendo ser utilizada em processos de purificação e identifica-
ção de compostos.
Na cromatografia, usualmente, o analito é diluído em um solvente apro-
priado, formando a fase móvel. A fase estacionária pode ser constituída de
diferentes materiais, polares e apolares, sendo que sua escolha se relacio-
na com o material a ser analisado. Em um processo mais simples e mais
antigo, a cromatografia utiliza como fase estacionária a sílica, que é em-
pacotada em uma coluna de vidro. A separação ocorre pela diferença na
interação dos constituintes da amostra com a coluna. O solvente utilizado
pode ser mantido ao longo do processo ou alterado para facilitar a eluição
dos compostos da mistura, conforme a mudança das frações coletadas.
Outro modo de separar compostos é pela cromatografia de camada
delgada, em que a fase estacionária é fixada em uma placa. A amostra é
colocada na parte inferior da placa, que é inserida em um recipiente com
uma pequena quantidade de solvente. A adsorção e ascensão do solven-
te e a diferença de interação entre o material da placa e da amostra são
responsáveis pela separação dos constituintes da amostra. Esse processo
pode ser realizado, também, utilizando-se uma folha de papel.
Na cromatografia gasosa, o material a ser analisado é inicialmente
evaporado ao ser injetado no equipamento, segue em direção à coluna
juntamente com um gás inerte, que pode ser o hélio, nitrogênio, argônio,
também chamado gás de arraste. A coluna cromatográfica é capilar, com
diâmetros < 1 mm, e outra variável que pode ser alterada na cromatografia

QUÍMICA ORGÂNICA 68

SER_ECPME_QUIMIORG_UNID2.indd 68 25/05/20 17:12


gasosa é a temperatura da coluna, que pode ser mantida ou variar durante
toda a análise. De maneira análoga, nas outras cromatografias o analito é
separado devido à diferença de interação com a coluna.
A exemplo, descreve-se a prática de separação de pigmentos presentes
na folha de espinafre. A Figura 7 apresenta um fluxograma esquemático
desse procedimento.

2. Coluna
1. Extração 3. Separação
cromatográfica

15 g de espinafre + 18 g sílica gel


Adicionar 0,5 mL de
acetona + removedor empacotada em
amostra e acetona
de cera um bureta

Adicionar acetona
Retirar a primeira
na coluna para
fração colorida
umedece-la

Trocar de solvente de
acetona para removedor
de ceras contendo 25%
de acetato de etila

Coletar as frações

Figura 7. Fluxograma esquemático do procedimento para extração de pigmentos da folha de espinafre utilizando
cromatografia de coluna.

Inicialmente, deve-se preparar a amostra para extrair o pigmento do es-


pinafre, para isso, utiliza-se 15 g de folhas de espinafre picadas que devem
ser colocadas em um recipiente 5 mL de acetona comercial (removedor de
esmaltes) e 10 mL de removedor de cera. A mistura deve ser triturada uti-
lizando um pistilo, por alguns minutos. A mistura é separada do restante
das folhas por filtração. Ao líquido resultante, é adicionado uma pequena
porção de sal, que remove a água derivada do processo de extração.
Para montar a coluna, uma bureta com cerca de 30 cm de comprimento
e no máximo 2 cm de diâmetro deve ser utilizada. Uma pequena quantida-
de de algodão deve ser inserida e pressionada no afinamento da bureta,
para que a fase estacionária não saia junto com a fase móvel. Em seguida,

QUÍMICA ORGÂNICA 69

SER_ECPME_QUIMIORG_UNID2.indd 69 25/05/20 17:12


entre 15 e 18 g de sílica gel deve ser inserida na bureta aos poucos, essa pode
ser pressionada ou, ao final, pode-se bater suavemente para otimizar o empa-
cotamento da coluna. Opcionalmente, pode-se utilizar açúcar para confeccio-
nar a coluna. Ao final da montagem, é necessário colocar solvente na coluna,
deixando-a úmida, com excedente acima da sílica e antes de realizar a separa-
ção da amostra. É importante não deixar a coluna secar.
Com a torneira da bureta fechada, deve-se inserir cerca de 0,5 mL da amos-
tra lentamente, e abrir a torneira, a amostra deverá escoar pela bureta; em
seguida, sem deixar secar a coluna, adiciona-se pequenos volumes de 5 mL
de acetona e, então coleta-se as frações em tubos de ensaio numerados. Após
a coleta da primeira fração colorida (amarela), deve-se trocar o solvente para
removedor de cera, contendo 25% de acetato de etila, para coletar a segunda
fração que possui uma coloração verde.

QUÍMICA ORGÂNICA 70

SER_ECPME_QUIMIORG_UNID2.indd 70 25/05/20 17:12


Sintetizando
Nessa unidade, demonstramos que hidrocarbonetos são compostos cons-
tituídos fundamentalmente de carbono e hidrogênio. A forma com a qual os
carbonos se ligam influencia a classe de compostos formados, classificando-os
como saturados ou insaturados. Adicionalmente, a presença de diferentes li-
gações faz com que o hidrocarboneto pertença a uma classe específica, sendo
que, se houver apenas ligações simples entre os carbonos, a molécula será
classificada como um alcano, se apresentar uma ligação dupla, será um alceno,
se possuir duas ligações duplas, será um alcadieno e, por fim, se o carbono
realizar uma tripla ligação com outros carbonos, será considerado um alcino.
Aprendemos, também, a nomenclatura dos hidrocarbonetos que é baseada na
quantidade de carbono presente na cadeia.
Vimos que os hidrocarbonetos não são apenas lineares, sendo que os car-
bonos das extremidades de uma cadeia podem se ligar, tendo, como resultado,
um hidrocarboneto cíclico. Quando um hidrocarboneto possui mais de um anel
cíclico condensado, passa a ser denominado de policíclico.
Um cicloalcano que desperta curiosidade e continua sendo alvo de estudos
é o cicloexano, sua estrutura possui um desvio da planaridade, o que permite
que ele assuma as conformações de cadeira ou barco, cuja estabilidade varia
com a energia necessária para que a conformação seja atingida.
Aprendemos, também, que um anel contendo seis carbonos com ligações
simples e duplas alternadas é designado de hidrocarboneto aromático, sendo
o mais simples o benzeno. De maneira análoga aos hidrocarbonetos cíclicos,
anéis aromáticos podem ser condensados, gerando, portanto, o hidrocarbone-
to aromático policíclico.
O benzeno possui inúmeros derivados, que são obtidos principalmente a par-
tir de reações de substituição eletrolítica. A substituição do hidrogênio ligado ao
benzeno por outro grupo funcional permite que novas características sejam obti-
das. Outros compostos aromáticos que têm despertado interesse são os nanotu-
bos e fulerenos, cuja versatilidade, propriedades físicas e químicas, permitem que
eles possam ser utilizados em diferentes áreas das ciências exatas e biológicas.
Constatamos que os hidrocarbonetos podem se ligar a outros elementos
químicos como os halogênios, produzindo os haletos orgânicos. Os halogênios

QUÍMICA ORGÂNICA 71

SER_ECPME_QUIMIORG_UNID2.indd 71 25/05/20 17:12


podem se ligar a carbonos com hibridização sp3 e sp2. Demonstramos a no-
menclatura dos haletos, que se inicia pela numeração da posição e nome do
halogênio, seguido pela nomenclatura do hidrocarboneto.
As funções oxigenadas basicamente possuem átomos de oxigênio ligados
ao carbono. A disposição do oxigênio no hidrocarboneto pode resultar em di-
ferentes combinações e, consequentemente, em diferentes funções orgânicas.
A classe mais simples consiste em um uma hidroxila (-OH) ligada ao carbono,
resultando nos álcoois, cuja composição da nomenclatura é similar a dos hi-
drocarbonetos.
As funções orgânicas não se limitam à ligação entre o carbono e o oxigê-
nio. O carbono possui muitas moléculas com funções nitrogenadas, como as
aminas, que possuem um nitrogênio ligado a grupos alquil. As iminas apre-
sentam o nitrogênio no meio da cadeia, ligado a um carbono por uma dupla
ligação. As amidas possuem um carbono que se liga simultaneamente a um
oxigênio e a um nitrogênio. A imidas são caracterizadas pela presença do ni-
trogênio entre duas carbonilas. A nitrila é caracterizada pela ligação tripla
entre o carbono e o nitrogênio, os nitrocompostos possuem grupamentos
NO2 ligados à cadeia carbônica.
Outra classe de compostos são os sulfurados, os tióis são definidos pela
presença de um grupos -SH. Os tioéteres são caracterizados pela presença do
enxofre entre grupos alquil. Ácidos sulfônicos são caracterizados pela presen-
ça -SO3H.
Dentre as mais diferentes funções, destacam-se os compostos organome-
tálicos de Grignard e de Frankland, que são utilizados em reações de síntese
orgânicas, principalmente, devido a sua reatividade.
Por fim, apresentamos alguns princípios básicos da cromatografia e concei-
tos como fase móvel e fase estacionária, bem como as técnicas mais comuns de
cromatografia, que são a de coluna, gasosa e em camada delgada. E, também,
apresentamos uma sugestão prática de separação de compostos do espinafre
utilizando a cromatografia em coluna.

QUÍMICA ORGÂNICA 72

SER_ECPME_QUIMIORG_UNID2.indd 72 25/05/20 17:12


Referências bibliográficas
ANSPACH, F. B. Affinity chromatography. Journal of Chromatography Library, v.
69, p. 139-169, 2004. Disponível em: <https://www.sciencedirect.com/science/arti
cle/abs/pii/S0301477004800095?via%3Dihub>. Acesso em: 05 maio 2020.
ATKINS, P. et al. Princípios de química: questionando a vida moderna e o meio
ambiente. 7. ed. Porto Alegre: Bookman, 2018.
BARBOSA, L. C. A. Introdução à química orgânica. São Paulo: Pearson, 2011.
BROWN, W. H.; POON, T. Introduction to organic chemistry. 6. ed. Nova Jer-
sey: John Wiley & Sons, 2016.
DOS SANTOS, L. J. et al. Fulereno [C60]: química e aplicações. Quím. Nova, v.
33, n. 3, p. 680-93, 2010. Disponível em: <https://www.scielo.br/scielo.php?s
cript=sci_arttext&pid=S0100-40422010000300036>. Acesso em: 05 maio 2020.
FILHO, A. G. S.; FAGAN, S. F. Funcionalização de nanotubos de carbono. Quím.
Nova, v. 30, n. 7, p. 1695-1703, 2007. Disponível em: <https://www.scielo.br/
scielo.php?pid=S0100-40422007000700037&script=sci_abstract&tlng=pt>.
Acesso em: 05 maio 2020.
FONSECA, S. F.; GONÇALVES, C. C. S. Extração de pigmentos do espinafre e se-
paração em coluna de açúcar comercial. Química Nova na Escola, v. 20, p.
55-58, 2004. Disponível em: <http://qnesc.sbq.org.br/online/qnesc20/v20a10.
pdf>. Acesso em: 05 maio 2020.
LEMKE, T. L.; ROCHE, V. Review of organic functional groups: introduction to
medicinal organic chemistry. Philadelphia: Lippincott Williams & Wilkins, 2011.
ORIGEM do petróleo. Postado por Singularizando. (8min. 32s.). son. color.
port. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=8WBORjb6Mb8>.
Acesso em: 05 maio 2020
RODRIGUES, J. A. R. Nomenclatura de compostos orgânicos segundo as reco-
mendações da IUPAC: uma breve introdução. Revista Chemkeys, n. 7, p. 1-11,
jul. 2018. Disponível em: <https://econtents.bc.unicamp.br/inpec/index.php/
chemkeys/article/view/9658>. Acesso em: 05 mai 2020.
SILVA, I. S.; LIMA, S. G. Abordagem física de compostos orgânicos. Ponta
Grossa: Atena, 2019.
SOLOMONS, T. W. G.; FRYHLE, C. B. Organic chemistry. 10. ed. Nova Jersey:
John Wiley & Sons, 2012.

QUÍMICA ORGÂNICA 73

SER_ECPME_QUIMIORG_UNID2.indd 73 25/05/20 17:12


VALLHARDT, P.; SCHORE, N. Química orgânica: estrutura e função. 6. ed. Porto
Alegre: Bookman, 2013.
ZARBIN, A. J. G.; OLIVEIRA, M. M. Nanoestruturas de carbono (nanotubos, gra-
feno): quo vadis? Quim. Nova, v. 36, n. 10, p. 1533-39, 2013. Disponível em:
<https://www.scielo.br/pdf/qn/v36n10/09.pdf>. Acesso em: 05 maio 2020.

QUÍMICA ORGÂNICA 74

SER_ECPME_QUIMIORG_UNID2.indd 74 25/05/20 17:12


UNIDADE

3 ISÔMEROS,
ÁCIDOS E BASES
ORGÂNICAS

SER_ECPME_QUIMIORG_UNID3_1.indd 75 25/05/20 16:33


Objetivos da unidade

Apresentar conceitos sobre estereoisômeros, quiralidade e isômeros


constitucionais;

Apresentar as principais teorias ácido-base;

Analisar a força de ácidos e bases de compostos orgânicos.

Tópicos de estudo
Tópicos de estereoquímica Força dos ácidos e bases
Quiralidade Acidez e basicidade das
Isômeros constitucionais principais funções orgânicas

Acidez e basicidade de substân-


cias orgânicas
As reações e seus mecanismos
Reações ácido-base
A utilização de setas curvas na
ilustração de reações
Formação de carbocátions e
carbânions

QUÍMICA ORGÂNICA 76

SER_ECPME_QUIMIORG_UNID3_1.indd 76 25/05/20 16:33


Tópicos de estereoquímica
A estereoquímica dos compostos orgânicos se baseia, principalmente, na
análise do arranjo molecular em três dimensões, e em sua imagem espelha-
da, também denominada como imagem especular. Ao analisar uma molécula
de forma espacial ou observar sua imagem especular (observar que as molé-
culas contêm átomos ligados na mesma sequência, mas que espacialmente
são diferentes), pode-se afirmar que se trata de um estereoisômero.
Os estereoisômeros podem ser classificados como enantiômeros e dias-
tereoisômeros.
Enantiômeros são compostos que possuem imagem especular não so-
breponível. Para que fique mais claro, é possível fazer uma analogia ao ob-
servar as mãos: note que, quando ambas estão voltadas para baixo ou para
cima, não é possível sobrepô-las perfeitamente. Os enantiômeros seguem o
mesmo princípio, fazendo parte desse grupo compostos bioquímicos, como
proteínas e DNA.
Um outro bom exemplo é a estrutura do álcool 2-butanol, que possui uma
hidroxila (-OH) ligada ao segundo carbono. Caso esta molécula seja refletida
em um espelho, como mostrará a Figura 1, veremos que as ligações entre os
átomos são semelhantes, mas que as moléculas (original e espelhada) não se
sobrepõem. Portanto, essas moléculas são consideradas distintas.
Além disso, os enantiômeros possuem as mesmas propriedades físicas e
químicas, contudo, podem ser opticamente ativos, ou seja, podem desviar
a luz polarizada. Quando a luz polarizada entra em
contato com um enantiômero e é desviada para a di-
reita, a molécula é denominada dextrogiro ou sim-
plesmente D. Quando a luz desvia para a esquerda, a
molécula é designada de levogiro ou L.
As letras que simbolizam o desvio da luz, L ou
D, devem ser expressadas na nomenclatura da
molécula. Outra possibilidade é de a que a luz
polarizada interaja com uma molécula e não
cause o desvio da luz, mostrando-se uma mo-
lécula não opticamente ativa.

QUÍMICA ORGÂNICA 77

SER_ECPME_QUIMIORG_UNID3_1.indd 77 25/05/20 16:33


ASSISTA
A luz do Sol possui ondas eletromagnéticas que se pro-
pagam, de maneira não organizada, em diversos planos
perpendiculares. Já a luz polarizada é resultado do iso-
lamento de um único plano de luz, obtida ao passar uma
fonte de luz por meio de um polarizador, produzindo, de
maneira organizada, a luz plano-polarizada. Saiba mais
assistindo ao vídeo Luz polarizada e luz natural.

A mistura racêmica (presença uniforme de levogiro e dextrogiro) também


pode fazer com que um enantiômero não desvie a luz polarizada. Isso ocor-
re, pois equimolaridade entre os estereoisômeros causa o não desvio da luz
polarizada, visto que a atividade óptica de uma molécula cancela a da outra,
resultando em um desvio de luz nulo.
Os diastereoisômeros, por sua vez, são isômeros espaciais, cuja análise é
realizada pela verificação da disposição de seus átomos. Os diastereoisômeros
são isômeros do tipo cis e trans, como o 1,2 dicloroeteno, por exemplo, que
pode ser cis e que, nesse caso, possui os átomos de cloro ligados ao carbono
no mesmo lado do plano da molécula. Seu isômero trans possui os átomos de
cloro ligados a lados opostos da molécula, como também poderá ser observa-
do na Figura 1.

Enantiômeros Diastereoisômeros
2-butanol
Cis-1,2-dicloroeteno Trans-1,2-dicloroeteno

HO OH
Cl Cl Cl H
C H H C
H3C CH3
CH2 CH3 H3C CH2 H H H Cl

Original Espelhado

Figura 1. À esquerda, exemplo de um enantiômero da molécula de 2-butanol; à direita, exemplo de um diastereoisô-


mero do 1,2-dicloroeteno.

QUÍMICA ORGÂNICA 78

SER_ECPME_QUIMIORG_UNID3_1.indd 78 25/05/20 16:33


A nomenclatura dos diastereoisômeros deve ser feita incluindo os prefixos
cis ou trans, de acordo com a sua estrutura. Diferente dos enatiômeros, os
diastereisômeros, geralmente, possuem propriedades físicas e químicas dis-
tintas, tais como ponto de fusão, ponto de ebulição, solubilidade e velocidade
de reação. Além de moléculas contendo dois centros quirais, ou seja, carbo-
nos ligados a diferentes átomos, também são considerados diastereoisômeros
(SOLOMONS; FRYHLE, 2012).
É importante ressaltar que, ainda que os enantiômeros possuam as mesmas
propriedades físicas e químicas (mesma solubilidade, mesmos pontos de fusão
e ebulição), um pode ser opticamente ativo ou até mesmo tóxico, enquanto o
outro não o é. Portanto, quando se deseja separar os enantiômeros, a técnica de
conversão da molécula de interesse em um diastereoisômero pode ser utilizada.
Nesse processo, uma mistura racêmica interage com um enantiômero de
outra molécula, produzindo diastereoisômeros que, por possuírem pontos de
fusão, ebulição e solubilidade diferentes, podem ser separados por cromato-
grafia e destilação, por exemplo.

Quiralidade
Nas moléculas orgânicas, denomina-se quiral quando o carbono realiza qua-
tro ligações com átomos diferentes. Observar a quiralidade de uma molécula é
uma forma de determinar se ela é um enantiômero. O ácido 2-hidroxipropanói-
co, retratado na Figura 2A, apresenta um centro quiral no carbono central, que
está ligado a uma hidroxila, um metil, uma carboxila e a um hidrogênio.
Considerando o 2-propanol, pode-se notar que seu carbono central está
ligado a uma hidroxila, dois radicais etil e a um hidrogênio, e que sua imagem
espelhada é sobreponível, ainda que a molécula seja rotacionada, como será
observado na Figura 2B. Uma molécula sobreponível não é considerada um
enantiômero, mas uma aquiral, ou seja, sem quiralidade.
Para considerar uma molécula como aquiral, como o 2-propanol, é preci-
so avaliar os planos de simetria, o que consiste em dividir, imaginariamente, a
molécula. Assim, é possível perceber que um dos lados do 2-propanol é seme-
lhante ao outro. Portanto, ao menos um plano de simetria deve estar presente,
para que uma molécula seja considerada aquiral.

QUÍMICA ORGÂNICA 79

SER_ECPME_QUIMIORG_UNID3_1.indd 79 25/05/20 16:33


CURIOSIDADE
Como um dos princípios da quiralidade se relaciona com a imagem especular
não sobreponível, é possível que uma molécula seja quiral sem possuir um
centro de quiralidade, como é o caso do ligante 1,1’-binaftaleno-2,2’-diil-bis
(difenilfosfina) ou simplesmente BINAP. Sua quiralidade se deve, basica-
mente, a altas barreiras rotacionais entre seus isômeros conformacionais,
também denominados de atropisômero. A barreira rotacional dá alta esta-
bilidade à molécula e também permite que esta seja isolada.

Além das nomenclaturas L e D citadas anteriormente, outra nomenclatura


utilizada para enantiômeros se relaciona com seu centro quiral e é baseada no
sistema R, S. Para isso, o primeiro passo é localizar o centro quiral da molécula
e representá-lo no centro de um tetraedro (os átomos ligados ao carbono ficam
dispostos nos vértices de um tetraedro). Em seguida, os átomos ligados ao car-
bono quiral são organizados, de acordo com sua prioridade. Para tal, algumas
regras devem ser seguidas:
1. Os átomos ligados ao carbono quiral que possuem maior número atô-
mico são prioridade. Por exemplo, um -C tem maior prioridade do que um -H;
2. Se dois átomos ligados ao carbono quiral forem semelhantes, deve-se
observar os átomos seguintes, até que um ponto de diferença seja encontrado.
Por exemplo, um substituinte -CH2SH tem menor prioridade do que um subs-
tituinte -CH2-S-CH3.
Após ordenar os substituintes do carbono quiral, posiciona-se a molécula
de modo que o menor substituinte tenha a maior distância possível do obser-
vador, que terá a visão da base do tetraedro. Se os substituintes seguirem o
sentido anti-horário, em ordem decrescente de prioridade, o centro quiral é
denominado de S, que se relaciona à esquerda.
Se a ordem decrescente dos substituintes estiver no sentido
horário, o carbono quiral é denominado de R, que se relaciona
à direita. Os símbolos R e S devem ser representados na no-
menclatura em itálico.
A Figura 2C apresenta como exemplo o 1-bromo-1-io-
do-etano, demonstra a substituição que segue a ordem
de prioridade e o fato de que, ao colocar o substituin-
te de menor prioridade -H mais distante do observador,
pode-se designar a nomenclatura seguindo o sistema R, S.

QUÍMICA ORGÂNICA 80

SER_ECPME_QUIMIORG_UNID3_1.indd 80 25/05/20 16:33


(B)
(A)
2-propanol
Ácido 2-hidroxipropanóico
Planos de
simetria
HO O O OH
C C HO OH
C C H3C H
H H C H H C
HO CH3 H3C OH H3C C
CH3 H3C CH3
OH
Carbono quiral H3C

(C)

Elemento e n atômico
O
dH Colocando o átomo com menor
H = 1* prioridade mais distante CH3C
C=6
C dH C
Br = 35 a| CH3C |a
I = 53
bBr bBr

1-bromo-1-iodo-etano (R)-1-bromo-1-iodo-etano

Figura 2. (A) Quiralidade da molécula ácido 2-hidroxipropanóico; (B) Imagem espelhada e plano de simetria do 2-propa-
nol; (C) Substituição, seguindo a ordem de prioridade e determinação da nomenclatura pelo sistema R, S da molécula
1-bromo-1-iodo-etano.

Outra forma de representar a molécula, para determinar se ela é R ou S, é


pela utilização das projeções de Fischer, especialmente úteis quando a molé-
cula possui mais de um centro quiral, como será observado na Figura 3A. Os
centros quirais são muito comuns em moléculas biologicamente importantes,
como o colesterol.
Além disso, elimina a necessidade da visualização em três dimensões da
molécula. Para moléculas que possuem mais de um centro quiral, a quantidade
de estereoisômeros é facilmente determinada por 2n, em que n é a quantidade
de centros quirais, sendo que a proporção resultante de 2n não é ultrapassada.
Para moléculas, a projeção de Fisher segue alguns parâmetros importantes:
sua estruturação vertical representa a cadeia principal de carbono; na horizon-
tal, são dispostos os átomos que se ligam ao carbono quiral, de modo que toda
a representação seja perpendicular ao plano do papel.
Em moléculas que possuem apenas um centro quiral, a ordem na qual os
átomos são ligados ao carbono quiral deve seguir as regras de prioridade des-
critas anteriormente. Portanto, o grupo de menor prioridade é colocado no
topo da coluna. Em moléculas com mais centros quirais, as possibilidades para
as projeções de Fischer devem ser representadas.

QUÍMICA ORGÂNICA 81

SER_ECPME_QUIMIORG_UNID3_1.indd 81 25/05/20 17:12


A análise que determina se o centro quiral é R ou S é realizada individual-
mente, como ilustrado na Figura 3B, em que o 2-bromo-3-cloro-butano é utili-
zado como exemplo.

Plano espelhado Plano espelhado


(A)
2-bromo-3-cloro-butano CH3 CH3 CH3 CH3
possui 2 centros quirais S R H
S Br
R
H Br Br H Br H
S R R S
2n = 4 estereoisômeros Cl H H Cl H Cl Cl H
CH3 CH3 CH3 CH3
DIASTEREOISÔMERO
Enantiômero Enantiômero

(B) (2S-3S)-2-bromo-3-cloro-butano CH3 dH


Troca
CH3 H Br H3C CHClCH3b
dupla
S CHClCH3 a Br
H Br
S S
Cl H
CH3 CHBrCH3 Hd
Cl H Troca cH3C CHBrCH3
dupla
CH3 aCl

Figura 3. (A) Representação dos diastereoisômeros do 2-bromo-3-cloro-butano, utilizando a projeção de Fischer; (B)
Determinação da configuração dos centros quirais, utilizando as projeções de Fischer.

Na Figura 3B, ao posicionar o grupo de menor prioridade na vertical e para


cima, perceba que os outros grupos (CH3 e CHBrCH3) também sofrem a troca de
posição, sendo que, somente após a dupla troca, a configuração da molécula
em R ou S é determinada.
Considere o 2,3-dibromo-butano, possuidor de dois centros quirais e que,
pela lógica, ao aplicar 2n, a molécula produziria quatro estereoisômeros. Entre-
tanto, moléculas com substituintes iguais produzem menos estereoisômeros.
No exemplo citado, apenas três.
Ao utilizar um plano de simetria no meio dessa molécula, quando ela apre-
senta os átomos de bromo em apenas um lado, pode-se observar que as par-
tes superior e inferior da molécula são idênticas. Nesse caso, a molécula é de-
nominada Meso (SOLOMONS; FRYHLE, 2012).

QUÍMICA ORGÂNICA 82

SER_ECPME_QUIMIORG_UNID3_1.indd 82 25/05/20 17:12


O mesmo é observado em molécu-
las cíclicas que contêm substituintes
iguais, ao inserir um plano no meio
da molécula, nota-se que ela possui
ambos os lados iguais. Mas, caso a
molécula cíclica apresente dois cen-
tros quirais distintos, sabe-se que esta
terá quatro estereoisômeros: dois isô-
meros espelhados cis (que possuem a
metila e hidroxila voltadas para frente)
e dois isômeros espelhados trans (que
possuem os substituintes voltados
para trás, em relação ao plano). Por
exemplo, um ciclo pentano com uma metil e uma hidroxila, originando o 2-me-
tilciclopentanol, com a utilização da regra 2n.

Isômeros constitucionais
A isomeria constitucional, também conhecida como plana ou estrutural,
relaciona-se fundamentalmente com a estrutura de uma molécula, ou seja,
com o modo que os átomos estão dispostos e ligados entre si. Isso ocorre por-
que é comum que compostos apresentem fórmulas moleculares iguais, mas
fórmulas estruturais diferentes.
Além disso, isômeros também podem ter ponto de fusão, ebulição e densida-
de distintos. Os isômeros constitucionais são divididos em cinco categorias: iso-
meria de função, isomeria de cadeia, isomeria de posição, isomeria de compen-
sação ou metameria e isomeria dinâmica, também conhecida como tautomeria.
A isomeria de função está relacionada aos isômeros que possuem grupos
funcionais diferentes. Por exemplo, a fórmula molecular C2H6O pode ser utili-
zada para o etanol, cujo o grupo funcional é o álcool (-OH), representado na
extremidade da cadeia carbônica. O metoximetano possui a mesma fórmula,
mas sua função orgânica é éter, ou seja, possui um oxigênio entre os grupos
metil. As propriedades destes dois compostos também são muito diferentes: o
ponto de ebulição do etanol é de 78,3 ºC e do metoximetano é de -23 ºC.

QUÍMICA ORGÂNICA 83

SER_ECPME_QUIMIORG_UNID3_1.indd 83 25/05/20 17:15


Na isomeria de cadeia, as moléculas apresentam funções orgânicas simi-
lares, no entanto, suas cadeias apresentam diferenças. Portanto, um isômero
pode ter uma cadeia aberta e outra fechada ou uma ramificada e a outra não.
Por exemplo, o C4H10 pode ser relacionado com um butano ou ao 2-metilpropano,
ambas as moléculas são hidrocarbonetos, com carbonos ligados apenas por liga-
ções simples, sendo que o butano possui uma cadeia normal enquanto o 2-metil-
propano é ramificado.
A isomeria de posição está associada à mudança de posição de gru-
pos funcionais, insaturação (ligação dupla ou tripla) e ainda do substituinte
ou ramificação. A fórmula molecular C 3H8O pode ser utilizada tanto para o
propanol que possui a hidroxila ligada ao primeiro carbono quanto para o
propano-2-ol que apresenta a função álcool no segundo carbono.
Isômeros de compensação se diferenciam pela mudança da posição dos
heteroátomos, como o oxigênio e o nitrogênio, que devem estar especifica-
mente entre os carbonos de uma cadeia. Essa isomeria ocorre majoritaria-
mente em moléculas com funções orgânicas do tipo éter, éster, amina e
amida. O C4H11N pode ser utilizado para representar tanto o metiletanamina
quanto o etiletanamina.
A tautomeria ocorre, basicamente, quando isômeros de grupos funcionais
diferentes estão em equilíbrio em uma solução, sendo comum a conversão
de um isômero em outro. Usualmente, a tautomeria ocorre em moléculas que
possuem átomos eletronegativos em suas funções orgânicas, como o oxigê-
nio e o nitrogênio, ligados a um carbono insaturado. Por exemplo, nesse caso,
devido a sua eletronegatividade, os átomos de oxigênio deslocam a nuvem
eletrônica da molécula, possibilitando ao carbono realizar
uma dupla ligação com outro carbono, e hora esta dupla
ligação é realizada entre o carbono e o oxigênio.
As tautomerias mais importantes estão liga-
das ao equilíbrio entre aldeído e enol, conhecido
como equilíbrio aldo-enólico, e ao equilíbrio
entre cetona e enol, designado de equilíbrio
aceto-enólico. A Figura 4 apresenta exemplos
de isômeros das diferentes classes explicadas
anteriormente.

QUÍMICA ORGÂNICA 84

SER_ECPME_QUIMIORG_UNID3_1.indd 84 25/05/20 17:15


Isomeria de função C2H6O Isômeros de compensação C4H11O
O NH NH
OH
Etanol Metoximetano Metiletanamina Etiletanamina

Isomeria de cadeia C4H10 Tautomeria aldo-enólica C2H4O


H OH H O
H
H H H H
Butano 2-metilpropano Etenol Etanal

Isomeria de posição C3H8O Tautomeria ceto-enólica C3H6O

OH HO O
OH

Propanol Propano-2-ol 1-propen-2-ol Propanona

Figura 4. Exemplo das diferentes classes de isômeros constitucionais.

Acidez e basicidade de substâncias orgânicas


Os conceitos de ácido e base podem ser descritos por três teorias: a de
Arrhenius, a de Brønsted-Lowry e a de Lewis. A Figura 5 apresentará, de forma
detalhada, reações que envolvem esses conceitos. Um dos primeiros cientistas
a definir o conceito de ácido e base foi Arrhenius.
Para ele, uma substância que produz íons H+, ao ser dissolvida em solução
aquosa, é considerada um ácido. Portanto, ácidos carboxílicos, fenóis e álcoois
são considerados ácidos. Porém, se íons OH- são produzidos em solução aquo-
sa, tem-se uma base. Logo, as aminas, por exemplo, são consideradas bases,
assumindo a teoria de Arrhenius, como demonstrará a Figura 5.
Atualmente, sabe-se que íons H+, em solução aquosa, interagem com a água
e, como resultado, tem-se o íon hidrônio H3O+. Em solução aquosa, o íon hidrô-
nio H3O+ é considerado um dos ácidos mais fortes, formado pela interação de
um próton com água. Em termos de solução basicidade, o íon hidróxido é con-
siderado a base mais forte, sendo que bases mais fortes do que o OH - realizam
ligações de hidrogênio com a água, formando, por fim, íons hidróxidos.

QUÍMICA ORGÂNICA 85

SER_ECPME_QUIMIORG_UNID3_1.indd 85 25/05/20 17:15


Tendo em vista as premissas anteriores, quando um composto iônico como
o hidróxido de sódio (NaOH), que é uma base, é dissolvido em água, ocorre ini-
cialmente a ionização, formando íons Na+. Tais íons interagem com o oxigênio
das moléculas de água e são estabilizados, os íons OH -, por sua vez, interagem
com os hidrogênios da água, por meio de ligações de hidrogênio. As interações
dos íons com água são denominadas de solvatação.
Considera-se que a definição de Arrhenius para ácido e base não é muito apro-
priada para descrever reações que ocorrem em solventes orgânicos. Para isso, são
utilizadas as teorias de Brønsted-Lowry e de Lewis, consideradas mais adequadas.
Um ácido de Brønsted-Lowry se relaciona com uma molécula doadora de pró-
tons, enquanto a base é um aceptor de prótons. Além disso, no processo de transfe-
rência de prótons, um par de moléculas e/ou íons podem ser convertidos de doador
para aceptor e vice-versa, estes são chamados de par conjugado ácido-base.
Então, quando um ácido doa prótons, ele é convertido em uma base conjuga-
da. Na reação que será apresentada na Figura 5, entre o ácido acético (doador de
prótons) e a amônia (aceptor de prótons), são produzidos o íon acetato, que passa a
ser um aceptor de prótons, e o íon amônio, que é um doador de prótons. Portanto,
nesta interação, estão presentes dois pares conjugados ácido-base.

Ácido de Arrhenius
Base de Arrhenius
O O
Ácido-base
Arrhenius + H+ +
R NH2 + H2O R NH3 + OH-
OH O-
Amina primária
Ácido de etanóico

Par conjugado ácido-base

Par conjugado
ácido-base
O O
Ácido-base
Brønsted-Lowry + NH3 + NH4 +
OH O-

Ácido de Amônia/base Base Ácido


etanóico/ácido conjugada conjugado

Ácido de Lewis Base de Lewis


Cl
Cl
Ácido-base - +
Lewis Cl Al + NH3 Cl Al NH3
Cl
Cl
Cloreto de alumínio Amônia

Figura 5. Exemplos de ácido e base de Arrhenius, Brønsted-Lowry e Lewis.

QUÍMICA ORGÂNICA 86

SER_ECPME_QUIMIORG_UNID3_1.indd 86 25/05/20 17:15


Outra definição que pode ser aplicada a diversas reações orgânicas é o con-
ceito de ácido-base de Lewis, neste, um ácido é um aceptor de pares de elé-
trons, ou seja, são cátions ou até mesmo uma molécula neutra, que possuem
menos elétrons na camada de valência e que, portanto, podem receber pares
de elétrons. Uma base é doadora de pares de elétrons (ânions ou uma molécu-
la neutra), que possui pelo menos um ou mais pares de elétrons disponíveis em
sua camada mais externa.
A Figura 5 expôs a interação entre um cloreto de alumínio e a amônia, as
setas curvas indicam como ocorre a transferência de elétrons da amônia, que
é uma base de Lewis, para o cloreto de alumínio, que age como aceptor de
elétrons. Note que a teoria ácido-base de Lewis engloba, inclusive, as reações
ácido-base propostas por Brønsted-Lowry. Isso ocorre devido à ampliação do
conceito envolvido nessa teoria (CANTO, 2006).
Outra perspectiva para a teoria ácido-base de Lewis esta associada à inte-
ração entre cargas opostas, ou seja, ao potencial eletrostático das moléculas.
Por exemplo, em uma reação entre o trifluoreto de boro (BF 3), que contém uma
carga positiva no átomo de boro e cargas negativas do flúor; a amônia (NH3),
cuja a carga negativa se dá devido ao par de elétrons não ligado do nitrogênio,
uma ligação é formada quando o nitrogênio da amônia doa seus elétrons para
o boro, formando o composto de coordenação F 3BNH3.
A interação entre esses compostos ficará mais clara na Figura 6, na qual um
mapa de potencial eletrostático é apresentado.

- +
BF3 :NH3 F3B-NH3
+

Figura 6. Mapa do potencial eletrostático do BF3 e NH3. Fonte: SOLOMONS; FRYHLE, 2012, p. 106. (Adaptado).

QUÍMICA ORGÂNICA 87

SER_ECPME_QUIMIORG_UNID3_1.indd 87 25/05/20 17:18


Observe que nas estruturas de potencial eletrostático, a cor azul representa
as áreas da molécula que são parcialmente positivas, enquanto as áreas par-
cialmente negativas são representas pela cor vermelha. Após a interação, a
área da molécula F 3BNH3 (em azul) se refere ao BF 3 e a positiva ao NH3.

As reações e seus mecanismos


As reações orgânicas podem ser classificadas como de substituição, adição,
eliminação e rearranjos. A reação de substituição geralmente ocorre em hi-
drocarbonetos saturados, como alcanos, e insaturados, como os hidrocarbo-
netos aromático e haletos orgânicos, trata-se de uma reação em que um grupo
funcional é substituído por outro.
A Figura 7 demonstrará uma reação de substituição, que ocorre pela inte-
ração de um etano e uma bromo, produzindo o bromo-etano. Neste caso, um
hidrogênio ligado ao etano é substituído por um átomo de bromo. Além disso,
há a formação de ácido bromídrico.
A reação de adição ocorre quando os átomos de uma molécula são literal-
mente somados aos de outra molécula. Geralmente, essa reação ocorre pela
interação de compostos que contém em sua estrutura ligações π, ou seja, li-
gações duplas e, ao interagir com uma outra molécula, como halogênio, por
exemplo, sofre a quebra da ligação e, em seguida, a adição.
A Figura 7 apresentará uma reação de adição entre um propeno e um cloro,
que tem sua ligação dupla rompida e sofre a adição dos átomos de cloro, pro-
duzindo 1,2-dicloropropano.
A reação de eliminação ocorre, geralmente, com hidrocarbonetos com
ligações σ, como os alcanos, haletos orgânicos e álcoois, e consiste na eli-
minação de alguns átomos de uma molécula. De maneira geral, esta reação
é utilizada na síntese de alcenos, uma vez que a eliminação de hidrogênios
e ou halogênios de hidrocarbonetos, em condições adequadas, facilitaria a
formação da dupla ligação.
No caso do álcool, a reação de eliminação pode ser utilizada tanto para a
síntese de um alceno quanto para a síntese do éter. A Figura 7 apresentará a
reação de eliminação de hidrogênios de um etanol que, em meio ácido e sob
aquecimento, é convertido em um alceno e em água.

QUÍMICA ORGÂNICA 88

SER_ECPME_QUIMIORG_UNID3_1.indd 88 25/05/20 17:18


Nas reações de rearranjos, a molécula em condições ideais, como na
presença de um catalisador, tem seus átomos reorganizados e um isô-
mero é, então, produzido. A Figura 7 apresenta uma reação na qual um
3-metil-1-buteno é rearranjado, produzindo o 2,3-dimetilbut-2-eno, na pre-
sença do ácido como catalisador.

Reação de substituição
H H H H

H C C H + Br Br H C C H + HBr

H H H Br Ácido
Etano Bromo Bromo-etano bromídrico

Reação de adição
H H H Cl H

H C C C + Cl Cl H C C C H

H H H H H Cl
Propeno Cloro 1,2-dicloropropano

Reação de eliminação
H OH Meio
H H
ácido
H C C H C C + H2O
H H
Δ
H H
Etanol Eteno Água

Reação de rearranjo
CH3
ácido H3C CH3
H3C C C C H C C
H3C CH3
H3C H H
3-metil-1-buteno 2,3-dimetilbut-2-eno

Figura 7. Exemplos de reação de substituição, adição, eliminação e rearranjo.

QUÍMICA ORGÂNICA 89

SER_ECPME_QUIMIORG_UNID3_1.indd 89 25/05/20 17:18


Reações ácido-base
Outro tipo de reação muito comum em química orgânica é a que ocorre
entre um ácido e uma base, podendo resultar na neutralização ou ser apenas
uma etapa dentre uma série de reações.
Se consideramos o conceito de ácido e base descrito por Arrhenius, no qual,
em meio aquoso, os compostos ácidos e básicos são ionizados, produzindo íons
H+ e OH-, então, a interação entre ácidos e bases fortes resultará na neutralização.
Portanto, como produto da reação, será observada a formação de um sal e água.
Como exemplo, a Figura 8 trará a interação entre o ácido nítrico (HNO3) e
hidróxido de potássio (KOH), que resulta na formação de um sal, o nitrato de
potássio (KNO3) que, em meio aquoso, está presente na forma de aníon NO3 - e
cátion K+, e uma moléculas de água. Deve-se ressaltar que o pH da solução
resultante é neutro.
Para que haja a completa neutralização, a proporção entre o ácido e a base
deve ser levada em consideração. Em outras palavras, se um mol de ácido ní-
trico interagir com um mol de hidróxido de potássio, tem-se a produção de um
mol de nitrato de potássio. Se os íons H+ e OH -, em solução aquosa, estiverem
em proporções diferentes, então, a neutralização parcial irá ocorrer.
A Figura 8 apresentará uma reação entre um mol de ácido fosfórico (H3PO4)
que, em solução aquosa, produz três íons H+ e um mol de hidróxido de sódio
(NaOH), que produz apenas um íon OH-, e tem a formação de uma molécula de
água e fosfato monossódico (NaH2PO4), um sal ácido.
Em uma reação entre um mol de ácido clorídrico (HCl) e um mol de hidró-
xido de magnésio (Mg(OH)2), gera-se um mol de hidrocloreto de magnésio
(Mg(OH)Cl), um sal básico. Outra definição também utilizada para descrever
reações que ocorrem em meio aquoso é a de Brønsted-Lowry, na qual ácidos
são doadores de prótons e bases são aceptoras de prótons.
Em uma reação entre um ácido etanoico (CH3COOH) e o hidróxido de sódio
(NaOH), que é uma base, será produzida uma molécula de água que, nesta
reação, é um ácido conjugado, e o etanoato de sódio (CH3COO -Na+), que é uma
base conjugada. Portanto, tem-se os pares ácido-base conjugado. Ainda em
solução aquosa, o etanoato de sódio sofre dissociação, produzindo o ácido eta-
noico e íons hidróxido, deixando a solução alcalina, ou seja, com pH acima de 7.

QUÍMICA ORGÂNICA 90

SER_ECPME_QUIMIORG_UNID3_1.indd 90 25/05/20 17:18


Note que, no exemplo acima, a formação do sal orgânico, em meio aquoso,
resulta em uma solução alcalina. De maneira geral, quando um ânion orgâni-
co é uma base conjugada proveniente de um ácido orgânico fraco, a solução
final se torna alcalina. Entretanto, se a reação ocorrer entre uma base fraca e
um ácido forte, a solução resultante será ácida, portanto, com pH abaixo de 7.
Uma forma de prever o pH da solução é conhecendo os reagentes da rea-
ção, se são ácidos fortes, como o ácido clorídrico, nítrico e sulfúrico ou se são
bases fortes, como o hidróxido de sódio e hidróxido de potássio.
Para Lewis, a definição de ácido e base é mais abrangente, envolvendo a
transferência de elétrons, por exemplo, na interação entre um fenol (C6H5OH)
e um hidróxido de sódio (NaOH), um ácido e uma base, respectivamente. Pela
transferência do par de elétron do oxigênio para o hidrogênio do fenol, for-
ma-se uma molécula intermediária do fenóxido de sódio (C6H5ONa) e uma
água, como será apresentado na Figura 8.
Basicamente, o que se observa nas reações ácido-base de Lewis é a in-
teração entre espécies com excesso de elétrons, que reagem com espécies
que possuem poucos elétrons. Em reações orgânicas, a teoria ácido-base de
Lewis também pode ser aplicada. Contudo, tanto ácido quanto base podem
assumir outra classificação, a de eletrófilo e nucleófilo, respectivamente.
Os eletrófilos são aceptores de elétrons e interagem com o átomo mais
negativo da outra molécula, sendo que o átomo aceptor de elétrons da molé-
cula deve ser capaz de acomodar mais uma ligação σ. Basicamente, um cen-
tro eletrófilico possui baixa densidade de elétrons, como o H+, BF 3 e AlCl3.
Os nucleófilos são doadores de elétrons que, co-
mumente, contêm pares de elétrons não compar-
tilhados, como a H2O, OH -, NH3, RNH2 e CN -. Além
disso, espécies eletronegativas também podem ser
consideradas nucleófilos fortes. Moléculas que
possuem ligações π e, consequentemente,
maior densidade de elétrons na região da
ligação também são consideradas nucleó-
filos, pois ligações do tipo π podem ser
quebradas, utilizando-se menos energia
(SOLOMONS; FRYHLE, 2012).

QUÍMICA ORGÂNICA 91

SER_ECPME_QUIMIORG_UNID3_1.indd 91 25/05/20 17:18


HNO3 + KOH KNO3 + H2O
Ácido Hidróxido Nitrato Água
nítrico de potássio de potássio

H3PO4 + NaOH NaH2PO4 + H2O


Reação ácido-base
Ácido Hidróxido Fosfato Arrhenius
fosfórico de sódio monossódico

HCI + Mg(OH)2 Mg(OH)CI + H2O


Ácido Hidróxido Hidrocloreto
clorídrico de magnésio de magnésio

Par conjugado ácido-base

CH3COOH + NaOH CH3COO-Na+ + H2O


Reação ácido-base
Ácido Hidróxido Etanoato Brønsted-Lowry
etanóico de sódio de sódio

Par conjugado ácido-base

C6H5 O H + Na+- O H C6H5 O- Na+ + H O H


Reação ácido-base
Fenol Hidróxido Fenóxido Lewis
de sódio de sódio

Figura 8. Reações ácido-base, de acordo com as teorias de Arrhenius, Brønsted-Lowry e Lewis.

A utilização de setas curvas na ilustração de reações


A utilização de setas, em mecanismos de reação, é útil para demonstrar
como ocorre a transferência de elétrons de um átomo com maior densidade
eletrônica para outro de menor densidade eletrônica. Em outras palavras, é útil
para rastrear as alterações que ocorrem em uma reação.
Ao utilizar a seta, deve-se notar que os elétrons dos átomos se movem da
cauda para a ponta da seta. A seta com duas farpas (seta completa) indica o
deslocamento de dois elétrons, enquanto a meia seta indica o deslocamento
de apenas um elétron.

QUÍMICA ORGÂNICA 92

SER_ECPME_QUIMIORG_UNID3_1.indd 92 25/05/20 17:18


Em reações químicas, as setas curvas são utilizadas para indicar o desloca-
mento de elétrons em três situações de sua movimentação:
1. De um átomo que contém elétrons para o outro, resultando na formação
de uma ligação;
2. De uma ligação para um átomo, devido à quebra da ligação;
3. De uma ligação para a produção de outra.
No processo de transferência de elétrons, deve-se notar que o átomo doa-
dor se torna mais positivo, isso porque possui elétrons a menos. Em contrapar-
tida, o átomo aceptor de elétrons se torna mais negativo. A mudança de carga
do átomo deve ser também ilustrada na reação. A seguir, serão apresentados
exemplos referentes à transferência de elétrons.
Exemplo 1: considere uma hidroxila (OH-), o oxigênio possui excesso de elé-
trons e os doa para um hidrogênio (H+), resultando na formação de uma ligação
H-O, gerando uma molécula de água, como mostrará a Figura 9. Observe que
há a mudança da carga formal dos átomos envolvidos, pois, ao doar um elé-
tron, o oxigênio se torna mais positivo e o hidrogênio, ao ganhar esse elétron,
torna-se mais negativo. A molécula final não apresenta cargas positivas ou ne-
gativas, pois elas são equilibradas;
Exemplo 2: em uma reação entre uma hidroxila e um ácido etanoico, tem-
-se, inicialmente, a transferência dos elétrons da hidroxila para o hidrogênio
da função ácido carboxílico. Logo, há a formação de uma molécula de água,
processo semelhante ao descrito no exemplo 1. Entretanto, ao receber esses
elétrons há, simultaneamente, a quebra da ligação O-H da
carboxila, e o elétron da ligação simples é transferido
para o oxigênio, que se torna mais negativo, como de-
monstrará a Figura 9;
Exemplo 3: em uma reação entre um eteno, que
possui uma ligação dupla, com um átomo de hi-
drogênio, tem-se a transferência do elétron pro-
veniente da dupla ligação para o hidrogênio,
resultando em um ligação C-H em um dos
carbonos, sendo que o outro se torna mais
negativo. A transferência de elétrons e forma-
ção da ligação são apresentados na Figura 9.

QUÍMICA ORGÂNICA 93

SER_ECPME_QUIMIORG_UNID3_1.indd 93 25/05/20 17:18


Exemplo 1

OH- + H+ H O H

Exemplo 2 O O
H3C C + OH- H3C C + H O H
O H O-

Exemplo 3

H + H
H2C CH2 + H+ C C H
H H
Figura 9. Exemplos de utilização das setas em reações químicas.

Lembre-se que, ao utilizar setas nas reações para indicar o caminho reali-
zado por elétrons, as regras de valência devem ser verificadas. Em resumo, no
caso de ligações, se elétrons são removidos de uma ligação, então ela é que-
brada. Caso ocorra a inserção de elétrons entre dois átomos, então a ligação é
formada (SCUDDERS, 2013).

Formação de carbocátions e carbânions


As reações químicas possuem processos de quebra e formação de novas
ligações em uma molécula. No caso de moléculas orgânicas, a quebra e forma-
ção de ligações covalentes podem ocorrer de maneira simétrica, também de-
nominada de homólise, ou assimétrica, que pode ser designada de heterólise.
Na quebra da ligação via homólise, cada fração da molécula fi ca com um
elétron, sendo que, devido à presença desse elétron desemparelhado, os
fragmentos passam a ser denominados de radicais. Quando, no rompimen-
to de uma ligação, o par de elétrons da ligação permanece com apenas um
dos fragmentos, afirma-se que a quebra é heterolítica.
Esse tipo de quebra requer que a molécula contenha átomos com diferen-
tes eletronegatividades. Em outras palavras, requer que a ligação seja polariza-

QUÍMICA ORGÂNICA 94

SER_ECPME_QUIMIORG_UNID3_1.indd 94 25/05/20 17:18


da, sendo que parte da molécula é parcialmente negativa e se relaciona com a
presença de um elemento mais eletronegativo, como halogênio, e que a outra
parte seja parcialmente positiva, como o carbono.
Na heterólise, o elemento mais eletronegativo recebe o par de elétrons. As
frações geradas devido à quebra são, portanto, carregados positivamente ou
negativamente, o que significa que íons são produzidos.
A quebra de ligações em moléculas orgânicas pode gerar moléculas de car-
bono intermediárias, classificadas como carbocátions e carbânions. Os carbo-
cátions são produzidos em decorrência da heterólise, que é a quebra de uma
ligação ou saída de um grupo orgânico da molécula.
Nesse caso, o átomo não permanece com os elétrons provenientes da que-
bra da ligação, o que faz com que o elemento químico fique positivamente car-
regado, ou seja, deficiente de elétrons. Além disso, um carbocátion também
pode ser produzido a partir da adição de um grupo eletrofílico a uma ligação pi.
A alta reatividade dos carbocátions faz com que este intermediário reaja
rapidamente com átomos que podem doar seus elétrons, para que ele atinja
a estabilidade. Contudo, alguns fatores podem influenciar nesse processo,
como o tipo de solvente, presença de ligação dupla e tipo de grupo ligado
ao carbono, principalmente deficientes de elétrons. Em um solvente apolar,
é raro se observar um carbocátion, pois não há estabilidade suficiente para
sua existência.
Em contrapartida, em um solvente polar, a estabilização ocorre devido à
doação eletrônica intermolecular. A presença de dupla ligação entre carbonos
também estabiliza o carbocátion, devido ao deslocamento da densidade ele-
trônica na molécula, por ressonância.
O aumento da quantidade de substituintes também é fundamental para
estabilizar o carbocátion, pois estes atuam como doadores de elétrons “diluin-
do” a carga positiva presente no carbono. Portanto, a estabilidade decai na
seguinte ordem: carbocátion terciário R 3C+ > carbocátion secundário R 2HC+ >
carbocátion primário RH2C+ > metil H3C+.
Os carbânions também são resultado da heterólise, entretanto, nesse
caso, na quebra da ligação, os elétrons ficam no carbono, fazendo com que
este apresente excesso de elétrons. A estabilidade destes intermediários está
fundamentalmente ligada à hibridização e à ressonância.

QUÍMICA ORGÂNICA 95

SER_ECPME_QUIMIORG_UNID3_1.indd 95 25/05/20 17:18


Por exemplo, um carbono hibridizado sp (≡) possui maior densidade eletrô-
nica na ligação entre os carbonos, ou seja, é mais eletronegativo, o que tende a
deslocar para essa região a nuvem eletrônica do átomo, favorecendo a estabi-
lidade. Portanto, quando há hibridização sp2 e sp3 como substituinte, a redução
da estabilidade é esperada.
De maneira inversa aos carbocátions, os carbânions apresentam maior es-
tabilidade com menos substituintes alquil, que agem como doadores de elé-
trons. Logo, um carbânion H3C- é mais estável. O efeito estabilizador da resso-
nância em um carbânion se dá, também, devido aos substituintes que contêm
ligações duplas ou aromáticos, que distribuem a carga negativa.
A presença de grupos mais eletronegativos também age des-
localizando os elétrons do intermediário. A Figura 10 demonstra
como ocorre a quebra da ligação por homólise e heterólise, a
formação de carbocátion e carbânion, além da variação da es-
tabilidade dos intermediários com a quantidade de substituintes.

(A)
Homólise Heterólise

Cl Cl Cl + Cl H Cl H + Cl

(B)

H H H H
+
H2C CH2 + H Br C C H + Br H C H H C + H+
H H H H
Carbocátion Carbânion
(C)
Aumenta a estabilidade do carbocátion

CH3 H CH3 H
H3C C H3C C H3C C H C
CH3 CH3 H H
Primário Secundário Terciário Metila

Aumenta a estabilidade do carbânion

Figura 10. (A) Cisão de uma ligação por homólise e heterólise; (B) Formação de um carbocátion e carbânion; (C) Varia-
ção da estabilidade dos intermediários com a quantidade de substituintes.

QUÍMICA ORGÂNICA 96

SER_ECPME_QUIMIORG_UNID3_1.indd 96 25/05/20 17:18


Força dos ácidos e bases
Considera-se que ácidos e bases inorgânicos são fortes quando, em meio
aquoso, ocorre sua completa ionização. Por exemplo, ao adicionar ácido clorí-
drico (HCl) em água, sabemos que há a ionização e formação dos íons, intera-
ção do próton com a molécula de água, o que forma H3O+, e a presença do cloro
na forma do ânion Cl-. Essa reação não ocorre de maneira inversa, ou seja, após
a dissociação, não há formação de HCl novamente.
Contudo, nem todo ácido ou base ioniza totalmente em meio aquoso, e é nesta
categoria que se inserem a maioria dos ácidos e bases orgânicas, além de alguns
ácidos inorgânicos. Qualitativamente, considerando o conceito de Brønsted-Lowry
em uma reação, é observada a formação de um par ácido-base conjugado.
Uma base forte produz um ácido conjugado fraco, assim como um ácido
forte produz, em uma reação, uma base conjugada fraca. Nesse caso, deve-se
observar que a força de um ácido está relacionada com a sua capacidade de
doação de prótons, enquanto a força de uma base está relacionada à propen-
são de obtenção de prótons.
Por exemplo, o ácido sulfúrico (H2SO4), ao ser dissolvido em água, produz o
íon HSO4-, portanto, tem maior tendência de doar prótons, sendo considerado um
ácido forte. No entanto, seu íon é uma base fraca. Alguns pares de ácido-base con-
jugados têm suas forças relativas tabeladas, como será apresentado na Tabela 1.
A força de um ácido está também associada à força de ligação, ou seja, à
energia necessária para separar um próton de um ácido e transferi-lo para
uma base. A família 7A dos halogênios tem, à medida que se desce a coluna,
maior acidez, ou seja, o HI é mais ácido do que o HF.
Isso ocorre devido à menor sobreposição entre os orbitais do hidrogênio
e dos halogênios, cujo raio atômico aumenta ao longo da coluna. Quanto me-
nor for a sobreposição, mais fraca será a ligação e, portanto, mais forte será o
ácido, uma vez que ele irá ionizar mais facilmente em meio aquoso. A mesma
regra se aplica a outras famílias da tabela periódica.
Outro fator que altera a força de ligação e, consequentemente, a acidez, é a
eletronegatividade, que aumenta da esquerda para a direita na tabela periódi-
ca. Ela atua na polarização da ligação do átomo com o próton e na estabilização
da base conjugada, formada após a ionização de um ácido.

QUÍMICA ORGÂNICA 97

SER_ECPME_QUIMIORG_UNID3_1.indd 97 25/05/20 17:18


Os hidretos CH3, NH3, H2O e HF pertencem ao mesmo período na tabela pe-
riódica. Sabe-se que, dentre eles, o que contem flúor é o mais eletronegativo,
sua ligação com o hidrogênio também é a mais polarizada, seu próton possui
maior carga parcial positiva, o que faz com que o HF seja facilmente ionizado e
seja, portanto, o ácido mais forte.
Sendo o HF o ácido mais forte, considerando o período analisado da tabela
periódica, então, sua base conjugada será a mais fraca. Logo, a basicidade das
bases conjugadas aumenta no sentido oposto e o íon metaneto (CH3-) é o mais
básico no grupo de bases conjugadas, sendo que a basicidade diminui, então,
na ordem CH3- > H2N - > HO - > F-.

TABELA 1. FORÇA DE ALGUNS PARES ÁCIDO-BASE CONJUGADOS

Base
Ácido Nome Nome
conjugada
HI Ácido iodídrico I- Íon iodeto

HCl Ácido clorídrico Cl- Íon cloreto

H2SO4 Ácido sulfúrico HSO4- Íon bissulfato

HNO3 Ácido nítrico NO3- Íon nitrato

H3O+ Íon hidrônio H2O Água

HSO4- Íon hidrogenossulfato SO42- Íon sulfato


Aumenta a força do ácido

H3PO4 Ácido fosfórico H2PO4 -


Íon diidrogenofosfato Aumenta a força da base

CH3COOH Ácido acético CH3COO -


Íon acetatato

H2CO3 Ácido carbônico HCO3 -


Íon hidrogenocarbonato

H2S Ácido sulfídrico HS- Íon bissulfeto

H2PO4 -
Íon Di-hidrogenofosfato HPO4 2-
Íon hidrogenofosfato

NH4+ Íon amónio NH3 Amônia

HCN Ácido cianídrico CN- Íon cianeto

C6H5OH Fenol C6H5O- Íon fenóxido

HCO3- Íon bicarbonato CO32- Íon carbonato

HPO4 2-
Íon hidrogenofosfato PO4 3-
Íon ortofosfato

H2O Água OH -
Íon hidróxido

C2H5OH Etanol C2H5O -


Íon etoxido

Fonte: BROWN; POON, 2016, p. 43. (Adaptado).

QUÍMICA ORGÂNICA 98

SER_ECPME_QUIMIORG_UNID3_1.indd 98 25/05/20 17:18


Note que a força do ácido cresce de cima para baixo e a força da base segue
o comportamento contrário. Na Tabela 1, o ácido iodídrico é apresentado como
o mais forte, e seu íon I - é a base mais fraca.
Uma maneira de saber a força do ácido ou da base quantitativamente é por
meio das constantes de equilíbrio Ka para ácidos e K b para bases. Considere
como exemplo 0,1 M de ácido etanoico que, ao ser dissolvido em água a 25 ºC,
ioniza aproximadamente 1% de suas moléculas, gerando como produtos os
íons H3C2OO - e H3O+. Nesse caso, a constante de equilíbrio é descrita pela razão
entre a concentração dos produtos e reagentes, como mostrará a Figura 11.
Considera-se que, de maneira geral, em soluções aquosas muito diluídas,
a concentração da água é de, aproximadamente, 55,5 M. Ainda é possível en-
contrar o equilíbrio pela constante de acidez, que consiste na razão entre a
concentração dos produtos e a concentração do ácido etanoico.
Como a constante ligada a ácidos fracos, geralmente, possui expoentes ne-
gativos, é comum que estes sejam convertidos para pKa (pKa = -log10Ka), sendo
que, quanto maior o pKa, mais fraco é o ácido. Caso a conversão não seja reali-
zada, deve-se observar que, quanto maior é o Ka, mais forte é o ácido.

O O

H3C C + H2O H3C C + H3O+


OH O-

Calculando a concentração dos reagentes e produtos no equilíbrio

CH3COOH H+ H3C2OO-

ÍNICIO 0,1 mol 0 0

DURANTE 0,1 - 0,001 mol 0,001 mol 0,001 mol

EQUILÍBRIO 0,099 mol 0,001 mol 0,001 mol

[H3O+] [CH3CO2-] [H3O +] [CH3CO2-]


Keq = Ka = Keq =
[CH3CO2H ] [H2O ] [CH3CO2H ]

[0,001] [0,001]
Ka = = 1 · 10-5
[0,1]
pKa = -log Ka = 5

Figura 11. Exemplo de cálculo da constante de dissociação Ka e pKa.

QUÍMICA ORGÂNICA 99

SER_ECPME_QUIMIORG_UNID3_1.indd 99 25/05/20 17:18


O cálculo da constante de dissociação de uma base Kb, em meio aquoso, é
análogo ao do ácido. Portanto, é dado pela razão entre a concentração dos pro-
dutos de dissociação e da base, sendo que, quanto menor o valor obtido da cons-
tante Kb, menor será a força da base. Ademais, a força da base também pode
ser analisada a partir da constante de dissociação do ácido, sendo que, quanto
maior o pKa do ácido conjugado, mais forte é a base (BROWN; POON, 2016).
A Tabela 2 apresentará a força dos ácidos e suas respectivas bases conjuga-
das, baseando-se em pKa. Note que esta tabela cita apenas alguns valores, pois
existem outras mais extensas.
Tendo em vista um ácido orgânico qualquer H-A, sendo um hidrocarboneto,
sabe-se que fatores como força da ligação entre o H e o A, eletronegatividade
de A, ressonância, efeito indutivo e solvente utilizado podem influenciar na
acidez dos compostos de um composto orgânico.
Note que, no início da Tabela 2, a acidez dos compostos é menor e, ao final,
maior. Além disso, lembre-se que, quanto maior a força do ácido, menor a força
da base conjugada.

TABELA 2. FORÇA DOS ÁCIDOS, DE ACORDO COM SEU pKa, A 25 ºC

Nome Ácido Base conjugada pKa

Etano CH3CH3 CH3CH2- 51

Amônia NH3 NH2- 38

Eteno HC=CH HC=C -


36,5
Aumenta a força do ácido

Etino HC≡CH HC≡C -


25

Etanol C2H5OH C2H5O- 15,9

Água H2O OH- 15,7

Íon metil amônio CH3NH3+ CH3NH2 10,64

Íon bicarbonato HCO3- CO32- 10,33

Fenol C6H5OH C6H5O -


9,95

Íon amónio NH4+


NH3 9,24

Ácido cianídrico HCN CN- 9,21

Ácido carbônico H2CO3 HCO3- 6,36

QUÍMICA ORGÂNICA 100

SER_ECPME_QUIMIORG_UNID3_1.indd 100 25/05/20 17:18


Ácido acético CH3COOH CH3COO- 4,76
Aumenta a força do ácido
Ácido benzoico C6H5COOH C6H5COO -
4,19

Ácido fosfórico H3PO4 H2PO4 −


2,1

Íon hidrônio H3O+ H2O -1,74

Ácido sulfúrico H2SO4 HSO4- -5,2

Ácido clorídrico HCl Cl- -7

Ácido bromídrico HBr Br -


-8

Ácido iodídrico HI I -
-9

Fonte: BROWN; POON, 2016, p. 45. (Adaptado).

EXPLICANDO
O efeito indutivo está ligado ao fluxo de elétrons em uma molécula, cujas
ligações são covalentes e ocorrem devido à presença de um átomo mais
eletronegativo, como o flúor, cloro, nitrogênio, iodo, entre outros. Esse
efeito produz o aumento da densidade eletrônica em uma região da mo-
lécula, tornando-a parcialmente negativa, enquanto o restante será par-
cialmente positivo. Essa diferença na densidade eletrônica das diferentes
regiões da molécula facilitam a quebra de ligações e reações químicas.

Outro fator que pode alterar a força dos ácidos é o estado físico, pois, de
maneira geral, os ácidos se tornam mais fracos em fase gasosa do que em
solução. Por exemplo, vimos que o pK a do ácido acético é de 4,76 em solução.
Em fase gasosa, seu pK a é de 130, tal redução ocorre devido à dificuldade na
separação dos íons.
Uma das formas de prever os resultados das reações entre ácidos e bases
é através da observação do equilíbrio, visto que reações
equilibradas formam espécies mais estáveis que, usual-
mente, têm menor energia potencial. Assim, a intera-
ção em meio aquoso entre um ácido e uma base fortes
sempre resultaram na formação de um ácido e uma
base mais fracos. Isso ocorre na interação de um
fenol (ácido forte, pK a = 9,9) e hidróxido de só-
dio, que resulta na formação de um fenolato
de sódio e água (ácido fraco, pK a = 15,7) (SOLO-
MONS; FRYHLE, 2012).

QUÍMICA ORGÂNICA 101

SER_ECPME_QUIMIORG_UNID3_1.indd 101 25/05/20 17:18


Acidez e basicidade das principais funções orgânicas
Vimos, anteriormente, que a acidez em qualquer reação pode ser deter-
minada pela constante de equilíbrio ou seu pKa. Observando esse princípio, a
acidez e basicidade de algumas funções orgânicas como os hidrocarbonetos,
álcoois, aldeído, cetona, ácido carboxílico e aminas serão discutidas.
Nos hidrocarbonetos, a acidez pode ser relacionada à hibridização do car-
bono e eletronegatividade da ligação entre os carbonos. O etino, por exemplo,
tem o pKa = 25, hibridização sp e maior densidade eletrônica, fazendo com que
sua eletronegatividade seja maior, se comparada com um etano pKa = 51, cuja
a hibridização é sp3 , possui densidade eletrônica distribuída pela molécula e
apenas realiza ligações simples.
Portanto, a acidez relativa dos hidrocarbonetos reduz na ordem HC ≡ CH >
H2C = CH2 > H3C - CH3. O etino possui ligações mais polarizadas, o que faz com
que seus hidrogênios possuam cargas parcialmente positivas mais elevadas,
logo, em uma reação, essa molécula doa próton com mais facilidade para uma
base, além de estabilizar mais facilmente a carga negativa.
Os álcoois possuem o comportamento anfótero, ou seja, podem agir tanto como
ácidos quanto como bases, em diferentes situações. De maneira geral, os álcoois são
considerados ácidos fracos, no entanto, sua acidez é maior, se comparado a hidro-
carbonetos como alcanos e haletos orgânicos. Isso ocorre, pois, ao ser dissociado
em água, um álcool é convertido em íon alcóxido, que é uma base conjugada forte.
Cabe ressaltar que o aumento da quantidade de hidrocarboneto, em uma
molécula que contém a função álcool, reduz a força do ácido resultante. Por
exemplo, o pKa do metanol é de 15,5, enquanto o pKa do terc-butanol é 18, ou
seja, o butanol é um ácido mais fraco. Em fenóis, anéis aromáticos com uma
hidroxila, o pKa é de 9,5 menor em comparação com os álcoois, o que dá a esta
substância um caráter mais ácido.
A presença, na mesma molécula, de substituintes eletronegativos, que con-
têm a função álcool, também atua diminuindo o pKa, devido ao efeito indutivo. A
eletronegatividade do oxigênio é responsável pela estabilidade do íon produzi-
do. Já o deslocamento do equilíbrio na direção da base conjugada (íon alcóxido),
só é possível se uma base mais forte do que o alcóxido for utilizada na reação, ou
seja, uma base proveniente de um ácido conjugado mais fraco do que o álcool.

QUÍMICA ORGÂNICA 102

SER_ECPME_QUIMIORG_UNID3_1.indd 102 25/05/20 17:18


Como exemplo, considere a reação entre uma amida de sódio (NaNH2) e um
metanol (CH3OH), que tem como produtos a amônia e metóxido de sódio. Nes-
se caso, o equilíbrio é deslocado para a direita, pois a amida é uma base forte
que produz um ácido conjugado fraco (pKa = 35), em comparação com o álcool
(pKa = 15,5). Vimos que álcoois são anfóteros, então, os álcoois também podem
ser considerados bases fracas, sendo necessário um ácido mais forte para que
a hidroxila seja protonada.
O pKa de aldeído e cetonas são considerados ácidos fracos, portanto, ao
interagir com uma base forte, remove-se um hidrogênio da molécula, resul-
tando em um íon enonalo, ou seja, uma base conjugada que, devido ao efeito
indutivo, estabiliza a carga negativa do íon, aumentando a acidez relativa da
molécula de origem.
Além disso, as estruturas de ressonância do íon também agregam na esta-
bilização da carga negativa. A carbonila dos aldeídos apresenta carga parcial
positiva maior do que a carbonila da acetona, o que faz com que o aldeído
tenha maior acidez.
Assim como os álcoois, os ácidos carboxílicos também são anfóteros, ou
seja, apresentam caráter ácido ou básico. Em relação à acidez, os ácidos car-
boxílicos apresentam pKa que variam entre 3 e 5, valores menores do que ob-
servados para os álcoois. Isso ocorre devido à diferença estrutural, pois se tem
a hidroxila ligada à carbonila, sendo que esta atua na retirada de elétrons por
meio da polarização ou efeito indutivo, que atrai elétrons.
Ademais, o íon carboxilato também é estabilizado por ressonância. Há a pre-
sença de substituintes eletronegativos, que deslocam a nuvem eletrônica, ou seja,
atuam como captadores de elétrons, elevando a acidez dos ácidos carboxílicos.
Isso pode ser observado pelas constantes de dissociação do ácido metanoico, que
possui o pKa de 3,55, enquanto que um ácido cloro etanoico possui um pKa de 2,82.
Quanto aos ácidos dioicos, estes possuem dois pKa, cada um se relaciona
com um grupamento ácido. O ácido etanodioico, por exemplo, tem os pKa de
1,27 e 4,19, em que o valor relacionado ao primeiro é relativamente menor que
ao segundo, devido ao efeito indutivo de retirada dos elétrons. De maneira
análoga aos álcoois, os ácidos, especificamente o oxigênio da carbonila, tam-
bém pode ser protonado, sendo que, nesse processo, a carga positiva se torna
deslocalizada, por ressonância.

QUÍMICA ORGÂNICA 103

SER_ECPME_QUIMIORG_UNID3_1.indd 103 25/05/20 17:18


Em contrapartida, a protonação do oxigênio da hidroxila não produz esta-
bilidade.
Aminas também podem atuar como ácidos e bases, contudo, seu caráter bá-
sico é mais elevado, em comparação aos demais anfóteros apresentados, porque
o par de elétrons presentes no nitrogênio pode ser protonado com facilidade.
Essa característica permite os íons amida sejam aplicados na desprotonação dos
álcoois, enquanto sua desprotonação requer que bases fortes sejam utilizadas.
O aumento da densidade eletrônica no nitrogênio, por substituição ou hi-
bridização, aumenta a basicidade e o pKa, enquanto a redução da densidade
eletrônica reduz a basicidade da amina. Isso pode ser notado ao comparar um
sal de amônio substituído, como o CH3N+H3, cujo o pKa é de 10,64 com o íon
amônio N+H4, que tem o pKa de 9,24.
O grupo alquil, no CH3N+H3, atua como doador de elétrons, reduzindo a den-
sidade eletrônica do nitrogênio da amina. Logo, se a amina apresentar mais
alquil, sua basicidade tende a reduzir. A Figura 12 apresenta um esquema re-
sumido de como a acidez e basicidade aumentam ou reduzem nas diferentes
funções orgânicas discutidas anteriormente (BRUICE, 2006).

Hidrocarbonetos: redução da acidez


HC CH > HC = CH > CH3CH3
da ligação π para a σ pKa entre 25 e 51

Álcoois: redução da acidez com o


aumento de substituintes alquil pKa CH3OH > CH3CHOH > (CH3)2CHOH > (CH3)3COH
entre 18 a 15,5
H O H O H O H O
Aldeidos e cetonas: acidez maior C C C C C C + BH
H C C + B-
devido a ressonância pKa entre 16 e 21
H R H R H R H R

O O O O
Ácido carboxílico: acidez maior B- + R C BH + R C R •HC + R C
devido a ressonância pKa entre 4 e 5 O - O- O
OH

Aminas: aumento da basicidade devido


ao maior número de substituintes CH3NH3 > (CH3)2 NH2 > (CH3)3NH
pKa entre 9,79 a 10,73

Figura 12. Fatores que alteram acidez e basicidade em funções orgânicas.

QUÍMICA ORGÂNICA 104

SER_ECPME_QUIMIORG_UNID3_1.indd 104 25/05/20 17:18


Além disso, a presença de substituintes captadores de elétrons, como o
2-[bis(2-hidróxi-etil)-amino]-etanol, por possuir três hidroxilas, reduz a basici-
dade das aminas. O efeito de ressonância observado na benzenamina também
reduz o caráter básico da molécula, uma vez que reduz a disponi-
bilidade dos elétrons no nitrogênio. Outro fator que afeta a ba-
sicidade é a hibridização do nitrogênio ligado ao carbono, sen-
do que esta tende a reduzir na ordem NH3 > R 2C = NR’ > RC ≡ N
(BRUICE, 2006).

QUÍMICA ORGÂNICA 105

SER_ECPME_QUIMIORG_UNID3_1.indd 105 25/05/20 17:18


Sintetizando
Nessa unidade, estudamos compostos orgânicos que possuem estereoisô-
mero, que podem ser classificados em enantiômero e diastereoisômero. Vimos
que os enantiômeros são compostos que possuem imagem especular não so-
breponível e, para facilitar o entendimento desse conceito, comparamos com
as palmas das mãos que, quando viradas para cima ou para baixo e colocadas
uma sobre a outra, não se sobrepõem.
Os enantiômeros são caracterizados por possuírem propriedades físicas
e químicas semelhantes, entretanto, possuem atividade óptica, ou seja, des-
viam a luz para a direita ou para a esquerda e, nesse caso, são denomina-
dos de dextrogiro e levogiro, respectivamente. Os diasterereoisômeros, em
contrapartida, não possuem atividade óptica e suas propriedades químicas
e físicas são diferentes. Basicamente, estão relacionados com as diferentes
formas espaciais com a qual os átomos de uma molécula são dispostos, po-
dendo ser cis ou trans.
Aprendemos que os enantiômeros têm como principal característica a qui-
ralidade, ou seja, possuem um carbono ligado a quatro átomos diferentes,
sendo que essa propriedade pode ser avaliada pela inserção dos planos de
simetria. Além disso, os centros quirais podem ser classificados a partir da
observação dos substituintes e suas prioridades, sendo que, se a prioridade
segue o sentido anti-horário, o centro quiral é denominado de S e, se segue o
sentido horário, é denominado de R.
Uma molécula pode apresentar mais de um centro quiral e, para facilitar
sua classificação utilizando o sistema R, S, utiliza-se a projeção de Fischer,
que consiste em desenhar as moléculas no plano do papel e utilizar as re-
gras para ordenar os substituinte do carbono e, assim, determinar se os
centros quirais da molécula são R ou S. Outro aspecto avaliado em molécu-
las, é a existência de substituintes idênticos nos diferentes centros, o que
reduz o número de estereoisômero.
Estudamos, também, os isômeros constitucionais, que possuem a mesma
fórmula molecular, mas, estruturas diferentes. Tais isômeros são divididos em
cinco categorias: isômeros de função que, apesar da fórmula molecular aná-
loga, possuem funções diferentes; isômeros de cadeia, que podem ter cadeia

QUÍMICA ORGÂNICA 106

SER_ECPME_QUIMIORG_UNID3_1.indd 106 25/05/20 17:18


simples ou ramificada e até mesmo fechada, independente da fórmula mole-
cular; isômeros de posição, que têm a posição de seus grupos funcionais ou
insaturações alterados; isômeros de compensação, que se diferenciam entre si
pela mudança da posição do heteroátomos, como oxigênio e nitrogênio, obri-
gatoriamente entre os carbonos de uma cadeia; tautomeria, que se relaciona
com a existência de duas funções em uma solução equilibrada, sendo comum
entre o enol e aldeído ou cetona.
Quanto aos conceitos de acidez e basicidade que foram apresentados, vi-
mos que Arrhenius considera como ácido a substância que produz íons H+,
e base as que produzem íons OH -, ambas em solução aquosa. A teoria de
Brønsted-Lowry diz que um ácido é um doador de prótons, enquanto uma
base é um aceptor de prótons.
Por fim, a definição de Lewis, que é considerada a mais abrangente, relacio-
na-se com transferência de pares de elétrons, na qual um ácido é um aceptor
de pares de elétrons, enquanto a base atua como doadora de elétrons. Além
disso, vimos as principais reações orgânicas: de substituição, que consiste em
substituir um grupo funcional por outro, sendo muito comum em hidrocarbo-
netos e haletos orgânicos; de adição, que se relaciona com a soma dos reagen-
tes da reação, produzindo apenas um produto; de eliminação, que é oposta à
reação de adição, usualmente utilizada na síntese de alcenos; de rearranjo, que
consiste no arranjo da molécula em outra fórmula estrutural.
Pontuamos, também, que as reações entre um ácido e uma base, usual-
mente, produzem sais e uma molécula de água, se as concentrações entre os
reagentes for equimolar. Entretanto, se a produção de íons não for na propor-
ção de 1:1, pode-se ter como produto um sal ácido ou um sal básico.
Demonstrou-se que, de acordo com a definição de Brønsted-Lowry, um áci-
do forte produz uma base conjugada fraca e uma base fraca produz um ácido
conjugado forte. Uma outra classificação foi exposta, envolvendo a definição
de Lewis para ácidos e bases, nela, um ácido pode ser denominado de eletró-
filo, que é um aceptor de elétron, enquanto uma base, doadora de elétrons, é
designada como nucleófilo.
Além disso, vimos que uma das maneiras eficientes de rastrear a forma
com a qual as reações de transferência de prótons ou elétrons ocorrem é a par-
tir da utilização de setas curvas que, usualmente, saem de uma molécula com

QUÍMICA ORGÂNICA 107

SER_ECPME_QUIMIORG_UNID3_1.indd 107 25/05/20 17:18


maior densidade eletrônica para um átomo de menor densidade eletrônica.
Pode-se utilizar, também, a seta nas reações, para demonstrar um processo de
protonação e ressonância.
Estudamos que a quebra de ligações pode ser homolítica, em que cada fra-
ção da molécula fica com um elétron, ou heterolítica, sendo que apenas uma das
frações fica com o par de elétrons e, nesse caso, é a fração mais eletronegativa.
No processo de heterólise, pode gerar um carbocátion, no qual o carbono da mo-
lécula orgânica não fica com os elétrons da ligação, ou carbânio, no qual os car-
bonos ficam com os elétrons após a quebra da ligação. Evidenciamos, também,
fatores que agem estabilizando esses intermediários, como solvente utilizado,
presença de ligações duplas ou triplas e grupos deficientes de elétrons.
Ressaltamos que é possível determinar qualitativamente e quantitativa-
mente a força de ácidos e bases, sendo que uma das formas mais relevantes é
avaliar o par ácido-base conjugado, por meio do cálculo da constante de equi-
líbrio e pKa. No cálculo do pKa para ácidos, demonstrou-se que, quanto maior
é seu valor, mais fraco é o ácido. A partir da observação do pKa do ácido con-
jugado, pode-se determinar se a base é forte ou fraca, porque um ácido forte
produz uma base conjugada fraca, enquanto uma base fraca produz um ácido
conjugado forte.
Além disso, estudamos sobre a acidez e basicidade de hidrocarbonetos,
álcoois, aldeído, cetona, ácido carboxílico e aminas, e os fatores que afe-
tam esses aspectos, como hibridização do orbital, ligantes que atuam como
doadores ou receptores de elétrons, substituintes eletronegativos, efeito
indutivo e ressonância.

QUÍMICA ORGÂNICA 108

SER_ECPME_QUIMIORG_UNID3_1.indd 108 25/05/20 17:18


Referências bibliográficas
ATKINS, P. et al. Princípios de química: questionando a vida moderna e o meio
ambiente. 7. ed. [s.l.]: Bookman, 2018.
BARBOSA, L. C. A. Introdução à química orgânica. [s.l.]: Pearson, 2011.
BROWN, W. H.; POON, T. Introduction to organic chemistry. 6. ed. [s.l.]: [s.n.],
2016.
BRUICE, P. Y. Química orgânica. 4. ed. [s.l.]: Pearson, 2006.
LUZ polarizada e luz natural. Postado por Geometria Descritiva. (5min. 18s.).
son. color. port. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=bIOks9
NIV4>. Acesso em: 23 abr. 2020.
PERUZZO, T.; CANTO, E. Química na abordagem do quotidiano. [s.l.]: [s.n.], 2006.
SCUDDERS, P. H. Electron flow in organic chemistry: a decision-based guide
to organic mechanisms. 2. ed. [s.l.]: Wiley, 2013.
SOLOMONS, T. W. G.; FRYHLE, C. B. Química orgânica 1. 10. ed. [s.l.]: John Wiley
& Sons, Inc., 2012.
VOLLHARDT, P.; SCHORE, N. Química orgânica: estrutura e função. 6. ed. [s.l.]:
Bookman, 2013.

QUÍMICA ORGÂNICA 109

SER_ECPME_QUIMIORG_UNID3_1.indd 109 25/05/20 17:18


UNIDADE

4 REAÇÕES ORGÂNICAS

SER_ECPME_QUIMIORG_UNID4.indd 110 25/05/20 17:11


Objetivos da unidade
Entender a classificação das reações orgânicas de acordo com diferentes
parâmetros;

Detalhar os mecanismos de reação de adição, substituição e eliminação, bem


como fatores que podem interferir em tais reações;

Aprender a síntese, purificação e caracterização do AAS.

Tópicos de estudo
Reações orgânicas
Classificação e mecanismos
das reações orgânicas
Adição
Substituição
Eliminação

Síntese do AAS (prática)

QUÍMICA ORGÂNICA 111

SER_ECPME_QUIMIORG_UNID4.indd 111 25/05/20 17:11


Reações orgânicas
As reações orgânicas estão presentes no cotidiano e são relevantes em pro-
cessos industriais, como na síntese de fármacos, cosméticos, produtos de higiene,
utensílios domésticos, combustíveis e automobilísticos. Em um contexto amplo, o
estudo e compreensão das reações orgânicas é altamente relevante para químicos,
uma vez que, com seu conhecimento, seja possível prever como moléculas de uma
reação interagem entre si, gerando diferentes produtos. Algumas informações e co-
nhecimentos são, portanto, primordiais para a síntese orgânica, para a otimização
de processos já existentes, para novas descobertas e, principalmente, para o contro-
le de parâmetros, como o tempo e reprodução das reações em larga escala.
Grande parte das reações orgânicas de interesse industrial ocorrem no
estado líquido, ou seja, na presença de solventes, e envolvem basicamente a
formação e clivagem das ligações covalentes de uma molécula. Diante desse
quadro, serão discutidos neste capítulo a classificação e principais mecanismos
e fatores que afetam as reações.

Classificação e mecanismos das reações orgânicas


Um dos aspectos importantes para compreender e rastrear a forma com a
qual uma reação ocorre é o tempo reacional, que deve ser manipulado para que
seja possível observar as etapas envolvidas no processo químico, como quebra
ou formação de ligações, transferência de prótons e elétrons que ocorrem entre
moléculas ou até mesmo processos intramoleculares a partir das estruturas de
ressonância. Inicialmente, portanto, deve-se avaliar as moléculas e a pureza dos
reagentes que participarão do processo, para que ocorra a quebra ou formação
de uma ligação. Isto posto, a reação deve ser escrita utilizando-se setas e curvas
para demonstrar o mecanismo proposto para a reação.
Além disso, uma variável importante a ser analisada é a energia necessária para
que uma reação ocorra, denominada energia livre de ativação. Se essa energia for
baixa, a reação em questão ocorrerá rapidamente e, se a energia for elevada, a ve-
locidade da reação será menor; essa velocidade com a qual uma reação se desen-
volve é designada por cinética. Nesse caso, as energias dos reagentes e produtos
geralmente são diferentes, como demonstrado na Figura 1. Na máxima energia li-

QUÍMICA ORGÂNICA 112

SER_ECPME_QUIMIORG_UNID4.indd 112 25/05/20 17:11


vre, tem-se o estado de transição, no qual uma molécula é representada por linhas
pontilhadas, simbolizando as ligações que estão sendo realizadas e/ou quebradas.
O estado de transição de uma molécula é instável, o que faz com que não seja
identificado. Há, contudo, a formação de intermediários, que pode ser identificada
ao utilizar uma molécula que tenha um átomo marcador, usualmente um isótopo.
A Figura 1 apresenta um gráfico da energia de ativação em uma reação entre uma
hidroxila (OH-) e clorometano (CH Cl), resultando no metanol, bem como o estado de
3

transição da molécula (ocorrido entre a quebra e a formação de uma nova ligação).

Estado de transição
HO---CH3---Cl

ΔG = 24,5 Energia de
Kcal/mol ativação
Energia livre

CH3Cl + OH-
Reagentes

ΔG = - 24
Kcal/mol

CH3OH + Cl-
Produtos

Coordenação da reação
Figura 1. Gráfico da energia de ativação de uma reação de substituição do cloro pela hidroxila.

Além dos reagentes, o solvente também possui um papel importante na


reação, uma vez que ele permite que os reagentes entrem em contato, agindo
como facilitador da reação. Dentre os solventes mais relevantes estão a água e
álcoois, que contêm grupos hidroxi. Além deles, temos a acetona, que é apró-
tica dipolar, e o hexano, que é polar. Adicionalmente, existe a possibilidade do
solvente ser um dos reagentes.
É importante observar, também, que muitas reações utilizam catalisadores,
que aumentam a velocidade da reação ao reduzirem a energia de ativação,
sendo em termos um processo inerte, ou seja, que não reage ou é consumido
durante sua utilização.

QUÍMICA ORGÂNICA 113

SER_ECPME_QUIMIORG_UNID4.indd 113 25/05/20 17:11


Assim, ao final da interação entre os reagentes, solvente e catalisador, têm-
-se os produtos que, de acordo com o meio no qual se encontram, podem ser
removidos por destilação, separação, centrifugação, cromatografia, entre ou-
tros. Diversas reações são reversíveis, em outras palavras, os produtos podem
ser convertidos em seus reagentes iniciais e vice-versa. Graficamente, o equi-
líbrio da reação é representado por duas setas em sentidos opostos. Se uma
das setas for maior em relação à outra, a representação é referente ao deslo-
camento do equilíbrio, a fim de que um novo equilíbrio seja atingido, seguindo
o princípio de Le Châtelier.
Nesse sentido, o equilíbrio em uma reação pode ser alterado caso a con-
centração dos produtos ou reagentes seja modificada. Assim, se um ou mais
reagentes forem adicionados à reação, o sistema tenderá a consumi-lo, deslo-
cando o equilíbrio para o sentido dos produtos. A alteração da pressão em uma
mistura gasosa (pela redução de um volume) também desloca o equilíbrio, no
sentido em que há menor número de mols. Por exemplo, uma reação entre um
mol de nitrogênio e três mols de hidrogênio, produzindo dois mols de amônia;
verifica-se que no lado dos reagentes existe o total de quatro mols e no lado
dos produtos, apenas dois mols. Assim, a redução de pressão nesse cenário
desloca o equilíbrio para a produção de amônia, que tem o menor número de
mols. Adicionalmente, o equilíbrio pode ser deslocado pelo aumento ou redu-
ção de temperatura. Em uma reação endotérmica, a elevação da temperatura
desloca a reação, favorecendo a formação dos produtos. Já a redução da tem-
peratura desloca o equilíbrio para os reagentes. Por fim, uma reação exotérmi-
ca tem o comportamento contrário ao descrito anteriormente.
Desse modo, existem inúmeras formas de descrever como as reações ocor-
rem, ou seja, classificar os mecanismos das reações, sendo eles: molecularidade,
pelo tipo catálise, homólise e heterólise. Lembrando que, neste último caso, as
frações das moléculas podem ser denominadas de nucleofílicas ou eletrofílicas.
Nesse sentido, a classificação de reações por molecularidade tem como
objetivo identificar a quantidade de reagentes que participam da reação, se-
jam eles átomos, moléculas ou íons. Dessa forma, uma reação unimolecular
possui apenas um reagente, que fornece um ou mais produtos por meio do
seu rearranjo. Uma reação unimolecular pode ocorrer em apenas uma etapa,
como a conversão do ciclobutano em duas moléculas de etenos; ou ser apenas

QUÍMICA ORGÂNICA 114

SER_ECPME_QUIMIORG_UNID4.indd 114 25/05/20 17:11


uma das etapas de inúmeras reações mais complexas, como na conversão do
ozônio (O3) em oxigênio (O2), que ocorre em duas etapas. A primeira parte é
unimolecular, e o O3 é inicialmente transformado em O2 e O. Na segunda etapa
o átomo de oxigênio reage com o ozônio produzindo mais O2.
Uma reação que possui dois reagentes ou dois mols de um único reagente
é intitulada reação bimolecular, como na reação contendo dois mols de áci-
do iodídrico (HI), gerando hidrogênio (H2) e iodo (I2). De maneira análoga, as
reações bimoleculares também podem representar uma etapa de uma reação
mais complexa (FLOWERS et al., 2015b).
Na catálise, os mecanismos reacionais que envolvem um catalisador po-
dem ser denominados de homogêneos ou heterogêneos. O catalisador ho-
mogêneo é inserido no início da reação, juntamente com os reagentes. Por se
tratar de uma catálise homogênea, o catalisador não é visualmente detectado
durante o processo de conversão dos reagentes em produtos. Contudo, sabe-
-se que o catalisador interage com o reagente, formando um intermediário que
posteriormente se decompõe, regenerando o catalisador.

ASSISTA
Um dos exemplos de catálise homogênea é a decompo-
sição do ozônio por compostos organoclorados que, na
presença de luz ultravioleta, se decompõem. O átomo de
cloro resultante da decomposição atua como catalisador
homogêneo, aumentando a velocidade da decomposição
do ozônio. O vídeo Os CFCs e a camada de ozônio apre-
senta uma animação das reações envolvidas na degrada-
ção da camada de ozônio e perspectivas futuras.

No mecanismo catalítico heterogêneo, o catalisador é um sólido e a reação


ocorre em etapas que envolvem a adsorção do reagente na superfície do cata-
lisador. Esses processos, ativação e reação catalítica entre reagente adsorvido
e os sítios ativos do catalisador, e difusão do produto resultante da catálise no
meio, podem ocorrer em minutos ou horas. A difusão regenera o catalisador,
que pode ser reutilizado. Após um processo, contudo, nem sempre o catali-
sador continua com todos seus centros ativos intactos, e podem perder a sua
performance catalítica com a utilização. Um exemplo de catálise é a hidroge-
nação do eteno que ocorre na superfície de um catalisador de níquel, o qual

QUÍMICA ORGÂNICA 115

SER_ECPME_QUIMIORG_UNID4.indd 115 25/05/20 17:11


promove a quebra da dupla ligação, facilitando a hidrogenação e produzindo o
etano (FLOWERS et al., 2015a).
A classificação por homólise e heterólise se baseia na quebra da ligação quí-
mica por meio do compartilhamento de elétrons pelos átomos constituintes da
molécula. Em outras palavras, a quebra da ligação covalente. Por exemplo, na
quebra da ligação simples entre os carbonos da molécula de etano (H3C-CH3),
cada fração da molécula mantém um elétron da ligação (. CH ), representado
3

por um ponto. Nesse caso, a quebra da ligação é denominada homolítica. Por


outro lado, se a ruptura da ligação for assimétrica, quando apenas uma das fra-
ções da molécula permanece com os elétrons da ligação, a ruptura da ligação
será designada heterolítica. A cisão heterolítica é observada na quebra da liga-
ção entre o carbono e o bromo da molécula de bromometano (H3C-Br), sendo
que o bromo permanecerá com o par de elétrons da ligação, representados por
dois pontos (:Br-).
Além disso, na reação heterolítica, a fração da molécula que manter o par de
elétrons será denominada de nucleófilo e atuará como doador de elétrons, uma
vez que será “rico” nessas partículas. Já a fração que não mantém o par será
intitulada de eletrófilo e agirá como aceptor de elétrons, uma vez que papre-
sentará “deficiência” deles. Basicamente, no mecanismo de reação envolvendo
nucleófilos e eletrófilos, pode-se citar os principais tipos de reação: a adição,
substituição e eliminação. A seguir, elas serão discutidas detalhadamente.

Adição
A reação de adição ocorre em hidrocarbonetos que possuem ligações π como
o alceno, alcadieno e alcino. Esses hidrocarbonetos, ao interagirem com outras
moléculas, têm suas ligações π quebradas, tornando-se saturadas, além de in-
corporarem os átomos do outro reagente presente na reação. As reações de adi-
ção são subdivididas em eletrofílicas, nucleofílicas e radicalares.
A adição eletrofílica ocorre entre um o hidrocarboneto insaturado, que devido
à presença de ligações π é considerado rico em elétrons (agindo como um nucleó-
filo), e um eletrófilo, espécie química com deficiência de elétrons, parcialmente ou
totalmente positiva. Na adição eletrofílica dos alquenos, o mecanismo da reação é
dividido em duas etapas. Na primeira etapa, tem-se a formação de um intermediá-

QUÍMICA ORGÂNICA 116

SER_ECPME_QUIMIORG_UNID4.indd 116 25/05/20 17:11


rio, o carbocátion, que é resultante da interação entre o alceno e um eletrófilo. Na
segunda etapa, o carbocátion interage com o nucleófilo, adicionando-o.
A Figura 2A apresenta a reação de adição do ácido clorídrico ao 3-metil-but-2-eno.
Inicialmente, o excesso de elétrons da dupla ligação interage com o hidrogênio do
HCl, que é inserido na molécula do átomo de carbono menos substituído, formando
uma ligação C-H e, consequentemente, um carbocátion; já o outro carbono que par-
ticipava da ligação π se torna positivamente carregado. O carbocátion, na segunda
etapa da reação, interage com o íon cloreto, resultando no 2-cloro-2-metilbutano.

EXPLICANDO
A adição eletrofílica entre um alceno e um halogênio que possui um hi-
drogênio (HX onde X é o Cl, Br ou I) deve seguir a regra de Markovnikov.
De acordo com essa regra, o hidrogênio do haleto irá se ligar preferen-
cialmente ao carbono, que teve sua ligação π rompida, mais saturado, ou
seja, que possui mais hidrogênios. Essa regra também é aplicada para a
adição da água em hidrocarbonetos insaturados.

A velocidade da reação da adição do ácido clorídrico ao 3-metil-but-2-eno é


lenta na primeira etapa, pois requer uma energia de ativação mais elevada; já
a interação entre o carbocátion e o íon cloreto é mais rápida, devido à menor
energia de ativação.
Basicamente, a velocidade com a qual uma reação de adição ocorre se re-
laciona ao tipo de alqueno utilizado, sendo que os alquenos mais substituídos
apresentam maiores velocidades de reação, isso ocorre porque substituintes
alquilas atuam como doadores de elétrons, elevando a densidade eletrônica
existente na ligação π. Considerando as reações de adição do bromo ao etano
e do bromo ao 2,3-dimetil-2-buteno, a reação que ocorre mais rapidamente é
a segunda, pois a molécula contém mais alquilas como substituintes. Em con-
trapartida, a existência de um substituinte que atua atraindo elétrons, como
halogênios, tende a reduzir a velocidade da reação de adição.
Deve-se notar, também, que a formação de haletos orgânicos via adição
ocorre pela interação do alceno com um ácido forte, sendo que ânions, como
sulfato de hidrogênio, nitrato, perclorato, entre outros, são nucleófilos fracos,
que fazem com que sua reação com o carbocátion intermediário seja mais
lenta, e que produtos instáveis sejam gerados. Nesse caso, a adição de ou-

QUÍMICA ORGÂNICA 117

SER_ECPME_QUIMIORG_UNID4.indd 117 25/05/20 17:11


tro nucleófilo, como a água ou metanol, pode interagir com o intermediário,
gerando como produto um álcool. A Figura 2B apresenta a interação entre o
1-metilciclohexeno e o ácido sulfúrico em meio aquoso. Nesse exemplo, o íon
hidrogenossulfato compete com a água na segunda etapa da reação, e o 1-me-
tilciclohexanol é formado como produto.
As mesmas regras e características podem ser aplicadas à substituição
eletrofílica em alcinos, apesar desse hidrocarboneto ser menos suscetível à
adição, caso comparado com o alceno. A interação entre o butino e bromo é
apresentada na Figura 2C. Em uma reação equimolar, o 1,2- dibromo-1-buteno
é formado. Se essa reação, entretanto, for realizada com excesso de bromo, en-
tão, o alqueno 1,2- dibromo-1-buteno será inicialmente formado, e em seguida
sofrerá uma segunda adição eletrofílica, gerando o 1,1,2,2-tetrabromobutano.
Em relação aos compostos aromáticos, usualmente eles interagem com
eletrófilos via substituição, uma vez que a formação de um intermediário re-
sultaria na desestabilização do composto. Existem exceções, entretanto, como
na reação de adição de um bromo e um antraceno, que tem como produto o
9,10-dibromo-4a,9,9a,10-tetrahidroantraceno, produtor de estabilidade, devi-
do à presença de dois anéis aromáticos, como demonstrado na Figura 2D.
Outro fator que deve ser avaliado na reação adição eletrofílica é a regios-
seletividade, que em uma molécula pode ser moderada, alta ou completa,
sendo que na última apenas um tipo de produto é formado. Por exemplo,
uma reação de adição de um halogênio (H-X) à molécula a 2-metilpropeno
apresenta alta seletividade. A adição de uma H-X ao 2-metil-2-buteno, entre-
tanto, não possui a mesma seletividade, uma vez que dois carbocátions com
estabilidades análogas são formados. Sendo assim, os produtos da adição,
nesse caso, podem ter praticamente a mesma proporção.
Para prever qual produto será majoritariamente formado, portanto, é im-
portante saber qual a estabilidade dos carbocátion formados. Nesse sentido,
lembrando a reação de adição do halogênio, inicia-se a adição do hidrogênio
e depois do halogênio, em seguida, a regra de Markovnikov é aplicada. Assim,
considerando essa premissa, é possível prever que o hidrogênio de um halogê-
nio se liga ao carbono menos substituído em uma interação com o 1-buteno,
formando um carbocátion secundário, que é mais estável, se comparado a um
carbocátion primário.

QUÍMICA ORGÂNICA 118

SER_ECPME_QUIMIORG_UNID4.indd 118 25/05/20 17:11


A

Lenta Rápida
+
H-Cl Cl-
Ácido + Cl
3-metil-but-2-eno
clorídrico 2-cloro-2-metilbutano

+ +
CatH2SO4 OH2 -H+
+ HSO4- O H + HSO4- OH
H2O
H
1-metilciclohexeno 1-metilciclohexanol

CH2 CH2 CH2 Br


Br Br
H3C C C + Br-Br H3C + Br-Br H3C C C
C C
H Br H Br Br H
Butino 1,2- dibromo-1-buteno 1,1,2,2-tetrabromobutano

H Br

+ Br-Br

H Br
Antraceno Bromo 9,10-dibromo-4a,9,9a,
10-tetrahidroantraceno

OH-CH3 + H2SO4 CH3O+H2 + HSO4-

+ Lento + Rápido
H3C-CH CH2 + H O CH3 H3C C CH3 + CH3OH H3C-HC-CH3 + CH3OH
H H O+ - CH3
Rápido H
H3C-HC-CH3 + H O+ CH3
O - CH3 H
2-metoxipropano

Figura 2. Adição eletrofílica: (A) Halogenadoção de um alceno; (B) Adição da função álcool em um cicloalceno e compe-
tição da água íon hidrogenossulfato; (C) Halogenação de um alcino; (D) Halogenação de um hidrocarboneto aromático
policíclico; e (E) Reação de adição do álcool a um alceno.

QUÍMICA ORGÂNICA 119

SER_ECPME_QUIMIORG_UNID4.indd 119 25/05/20 17:11


Tratamos, majoritariamente, da adição de halogênios a alcenos e alcinos,
entretanto, também é possível a adição da água e de álcoois a esses hidro-
carbonetos. Essa reação, contudo, só é possível se utilizado um ácido como
catalisador. Nesse caso, a presença de um ácido é necessária, porque tanto
a água quanto o álcool são ácidos fracos que não geram eletrófilos, por isso
um ácido é adicionado à solução, a fim de fornecer um hidrogênio e gerar os
eletrófilos H3O+ e CH3O+H2. Os eletrófilos, como mencionado, têm seu hidro-
gênio adicionado a um carbono de dupla ligação, formando o carbocátion. O
intermediário interage com os elétrons do oxigênio provenientes das molécu-
las de água ou álcool, gerando outra molécula intermediária com um próton
a mais. Esse intermediário protonado interage novamente com o solvente,
gerando mais eletrófilos e o produto, álcool (no caso da adição da água), ou
éter (no caso da adição de álcool). A Figura 2E apresenta as etapas da adição
do metanol ao propeno, produzindo como resultado um éter, o 2-metoxipro-
pano, e um novo eletrófilo.
Independente da reação de adição eletrofílica, é possível notar que todas pos-
suem em comum a formação de um carbocátion que interage com o eletrófilo
e gera produtos. É importante ressaltar, no entanto, que, em algumas reações
de adição, um produto pouco esperado pode ser gerado majoritariamente. Isso
ocorre no processo de bromação do 3-metil-1-butano, que tem como produtos
o 2-bromo-3-metilbutano (em menor proporção) e o 2-bromo-2-metilbutano (em
maior proporção). O produto 2-bromo-2-metilbutano não seria esperado de acor-
do com o que estudamos até o momento, entretanto, é possível que haja o rear-
ranjo na molécula de carbocátion, a fim de que um intermediário mais estável seja
gerado, o que explicaria a formação do 2-bromo-2-metilbutano (em
maiores concentrações). Nesse caso, um carbocátion secundário foi
inicialmente produzido, mas sofre rearranjo, o que gera um carbo-
cátion terciário mais estável.
Já em relação à adição nucleofílica, um
nucleófilo interage com um eletrófilo, sendo
comum que a adição ocorra em compostos
que possuem o carbonila, como aldeídos e
cetonas. A Figura 3A apresenta a adição do
íon cianeto à propanona. Inicialmente, o nucleó-

QUÍMICA ORGÂNICA 120

SER_ECPME_QUIMIORG_UNID4.indd 120 25/05/20 17:11


filo interage com a carbonila, parcialmente positiva. Nessa interação, portanto,
ocorre a quebra da ligação entre o carbono e o oxigênio, que fica com uma
carga negativa. Em seguida, a adição é concluída pela interação entre o próton
proveniente do solvente, nesse caso a água, gerando o 2-hidroxi-2metil-propa-
nonitrilo e uma hidroxila.
Fatores como a presença de grupos volumosos nas imediações da carbonila
podem reduzir o processo de adição, isso porque esses grupos agem como um
impedimento estérico, impedindo o acesso do nucleófilo ao eletrófilo. Adicio-
nalmente, aldeídos e cetonas ligados a grupos aromáticos são menos reativos
em comparação aos aldeídos e cetonas alifáticas, porque há estabilização das
cargas no estado de transição. Em contrapartida, a presença de substituintes
mais eletronegativos no anel aromático facilita a reação.

A O
CN + O
CN
Íon cianeto propanona 2-hidroxi-2metil-
Propanonitrilo

B
OH OH O
H2O Tautomeria
N + OH -
N- NH NH2
Cianeto de metila Ácido imídico Acetamida

Figura 3. Adição nucleofílica: (A) Íon cianeto a uma cetona; (B) Hidroxila a uma nitrila.

Nesse seguimento, a reação aditiva também pode ocorrer em funções ni-


trilas, que tem a ligação tripla entre o nitrogênio e o carbono, atacada pela
hidroxila da água. Nesse sentido, e por tautomeria, é produzida uma ami-
da, como apresentado na Figura 3B. É importante apontar, entretanto, que
alcinos interagem fortemente com íons alcóxidos, mas, se o nucleófilo não
ser forte o suficiente, a reação precisará ser realizada na presença de um
catalisador para que haja a redução na energia de ativação. Já com relação
à velocidade do processo, sabe-se que a presença de nucleófilos muito rea-
tivos, como o íon cianeto, faz com que a velocidade da reação de adição seja

QUÍMICA ORGÂNICA 121

SER_ECPME_QUIMIORG_UNID4.indd 121 25/05/20 17:11


elevada. Contudo, na presença de uma solução aquosa ou álcoois, que even-
tualmente também podem ser utilizados como nucleófilos, há redução da ve-
locidade da reação.
Similarmente, a adição também pode ocorrer pela interação de hidrocar-
bonetos insaturados com radicais livres, que são produzidos após a que-
bra homolítica da ligação de uma molécula. Geralmente, alcenos são mais
suscetíveis a esse tipo de reação de adição, sendo sua interação rápida com
os radicais livres.
Em suma, a adição radicalar consiste em uma reação em cadeia, iniciada
pela presença de um peróxido (H2O2, ROOR, ROOH, onde R é um hidrocarbo-
neto) ou compostos diazo (RN2), que por aquecimento ou irradiação formam
radicais livres. Na reação de bromação de um alceno, apresentada na Figura
4A, observamos como a adição radicalar é uma reação em cadeia que ocorre
em três etapas distintas, iniciação, propagação e terminação.
Na iniciação, o radical livre é produzido pela quebra da ligação do peróxido
que, em seguida, interage com hidrogênio do ácido bromídrico, formando água
e um radical bromo. Na etapa de propagação, o radical bromo interage com o
2-metilprop-1-eno, que terá sua ligação dupla quebrada, formando um novo
radical orgânico. O radical orgânico, por sua vez, interage com uma molécula de
ácido bromídrico, produzindo outro radical bromo. Na terminação, os radicais
bromo podem se recombinar entre si, ou o radical orgânico pode interagir com
outro radical bromo, o 1,2-dibromo-2-metil-propano.
Também é importante lembrar que a adição de um radical a um alceno
ocorre de maneira regiosseletiva, ou seja, ocorre no átomo menos substituído.
Essa predileção é explicada pelo impedimento estérico, que em um determina-
do átomo da molécula tende a ser menor. Além disso, a adição radicalar tam-
bém tende a ser estereosseletiva. Por exemplo, adicionando bromo ao (E) ou
(Z)-2-bromo-2-buteno à temperatura ambiente, 75% do produto final são isô-
meros L ou D-2,3-dibromobutano, e os 25% restantes é de um isômero meso,
como apresentado na Figura 4B. Acredita-se que isso ocorra devido à rápida
rotação da ligação entre carbonos do radical orgânico intermediário, formado
na etapa de propagação, o que faz com que o radical bromo se ligue ao radical
orgânico de maneira oposta, reduzindo a repulsão (NORMAN; COXON, 2017;
SMITH, 2016; SOLOMONS; FRYHLE, 2012).

QUÍMICA ORGÂNICA 122

SER_ECPME_QUIMIORG_UNID4.indd 122 25/05/20 17:11


1. Iniciação 2. Propagação

Δ Br
HO-OH 2 OH Br +
hv

Br Br
+ H-Br + Br
HO + H-Br H2O + Br

3. Terminação

Br + Br Br2

Br Br Br
+ Br

2-bromo-2-buteno 2,3-dibromobutano

H3C CH3 H3C CH3 Br CH3


B C C + Br C C + C C
H Br Br Br H3C Br

Rendimento: 75% 25%

Figura 4. (A) Mecanismo de adição radicalar; (B) Regiosseletividade na adição do bromo em uma molécula de buteno.

Substituição
As reações de substituição ocorrem pela troca de um átomo ou grupo
funcional ligado a um carbono alifático, com hibridização sp3 por
outro átomo ou função orgânica. Basicamente, a substituição
pode ocorrer via substituição síncrona e pela adi-
ção seguida de eliminação.
A substituição síncrona pode ser classifi-
cada em bimolecular e unimolecular. A subs-
tituição bimolecular, ou simplesmente SN2,
referente a uma reação cuja cinética seja de
segunda ordem, envolve a interação entre um

QUÍMICA ORGÂNICA 123

SER_ECPME_QUIMIORG_UNID4.indd 123 25/05/20 17:11


nucleófilo e um carbono deficiente em elétrons. Já a substituição unimolecular,
SN1, relaciona-se a uma reação na qual a cinética é de primeira ordem. Deve-se,
inicialmente, produzir um carbocátion para que, posteriormente, haja intera-
ção do intermediário com um nucleófilo.
Nesse sentido, a reação SN2 possui sequência geral, apresentada na Figura
5A. Inicialmente, tem-se um substrato orgânico que possui um grupo de saída
X parcialmente negativo e que está ligado ao carbono hibridizado sp3, esse par-
cialmente positivo. A colisão do nucleófilo (Nu) com o carbono sp3 promove a
transferência de elétrons do Nu para o carbono, formando uma nova ligação co-
valente. Simultaneamente, ocorre a quebra da ligação entre o carbono e o grupo
de saída, gerando um novo produto e um íon X-. Importante apontar que esse
ataque do nucleófilo à molécula orgânica ocorre à distância de 180º do grupo
de saída, porque qualquer outro ângulo de ataque não é favorecido, devido à
repulsão eletrostática.
Normalmente, a lógica descrita para a reação de substituição pode ser apli-
cada em qualquer substituição SN2. A lista de nucleófilos e produtos esperados
em reações de substituição SN2 é apresentada na Figura 5B. A ordem de rea-
tividade entre o nucleófilo alcano com substituintes alquila diminui na ordem
metil> alcano primário> alcano secundário> alcano terciário, o que se deve ao
aumento do impedimento estérico e repulsão. Desse modo, alcenos interagem
com nucleófilos em uma reação de substituição, como apresentado na Figura
5C, quando uma dietilamina interage com o 3-cloro-buteno e desloca sua dupla
ligação. Simultaneamente, há a promoção da ruptura da ligação entre o átomo
de carbono e o grupo de saída, (no exemplo um cloro), gerando como produto a
dietilbut-2-en-1-amina.

CURIOSIDADE
A velocidade da reação de substituição pode ser elevada quando metanol,
etanol, o dimetilsulfóxido (DMSO), dimetilformamida (DMF), hexametilfos-
foramida (HMPA) e acetona são utilizados como solventes, principalmente
se o nucleófilo é aniônico, como a hidroxila (OH-) ou metoxilo (CH3O-). O
aumento da velocidade da reação, nesse caso, ocorre porque o nucleófilo
não é estabilizado por meio de uma ligação de hidrogênio com o solvente.
Assim, para que sua estabilidade seja alcançada, ele interage rapidamen-
te com o substrato orgânico.

QUÍMICA ORGÂNICA 124

SER_ECPME_QUIMIORG_UNID4.indd 124 25/05/20 17:11


A
H H H
δ- δ+ δ-
Nu C X Nu C X Nu C
R1 R1
R1
R2 R2 R2

B Nuclófilo
Produto
(Nu)
OH- Álcool R-OH

R’O- Éter R-OR’

R’S- Tioéter R-SR’

R-CO2- Éster R-OCOR’

R’C C- Alcino R-C CR’

RN- Nitrila R-CN

NH3 Amina R-NH2

Sal de amônio
R’3N
quaternária R3RN+X-

C
Cl
H3C-CH2 H3C-CH2 CH2 CH
NH + H2C CH -Cl- N+ CH CH3 H+
H3C-CH2 CH CH3 H3C-CH2 H
Dietilamina 3-cloro-buteno

H3C-CH2 CH2 CH
H+ N CH CH3
H3C-CH2

Dietilbut-2-en-1-amina

Figura 5. (A) Mecanismo de reação SN2 generalizado; (B) Tabela de nucleófilos e produtos formados a partir da intera-
ção do nucleófilo com haletos orgânicos; (C) Mecanismo de reação de uma amina com um haleto orgânico, contendo
uma dupla ligação.

Desse modo, diversos produtos podem ser obtidos a partir da substi-


tuição, utilizando o mecanismo SN2, como os álcoois, tiois, éteres, e aminas
primárias. Tais reações, inclusive, podem ser revertidas, assim, uma forma
de avaliar a reversibilidade de uma reação é a partir da observação do par
ácido-base envolvido nela. Por exemplo, em uma reação de substituição na
qual o cloreto de etila e a água interagem, produzindo um metanol e ácido

QUÍMICA ORGÂNICA 125

SER_ECPME_QUIMIORG_UNID4.indd 125 25/05/20 17:11


clorídrico; se compararmos a força do HCl com a H2O, sabemos que o HCl é
o ácido mais forte. Sua base conjugada, portanto, que consiste no íon Cl - , é
mais fraca em comparação com H2O, um ácido mais fraco e que tem como
base conjugada um íon OH - ,mais forte. Nesse caso, a reação ocorre em ape-
nas um sentido, pois a base mais forte (OH -) desloca a reação no sentido
da base mais fraca (Cl -). Entretanto, se a diferença de basicidade não for
grande, então a reação poderá ser revertida. Esse processo pode ser obser-
vado na reação entre o brometo de etila e ácido iodídrico (pK a = - 10), que
gera como produtos um iodeto de etila e um ácido bromídrico (pK a = - 9). É a
proximidade entre as constantes de dissociação ácida do HBr e HI que torna
a reação reversível.
Já no que concerne a substituição unimolecular SN1, ela depende inicialmen-
te da ionização da molécula orgânica. Esse é um processo que ocorre lentamente
e influencia no rendimento e estereoquímica dos produtos de substituição.
Basicamente, esse mecanismo consiste em uma eliminação seguida de
adição, e ocorre quando um hidrocarboneto possui um átomo eletronegativo
que na clivagem da ligação leva o par de elétrons consigo, gerando um íon e
um carbocátion. Se a reação ocorrer em meio aquoso, então a água interage
com o carbocátion, produzindo um álcool, como apresentado na Figura 6A, na
qual o 2-cloro-2-metilpropano tem sua ligação C-Cl quebrada e o carbocátion
da reação interage com a hidroxila da água, formando o 2-metil-prop-2- ol.
Esse mecanismo reacional é otimizado quando o substituinte pode estabilizar
com facilidade o carbocátion, sendo que a reatividade reduz na ordem: car-
bocátion terciário> carbocátion secundário> carbocátion primário, a ordem
inversa a reação de substituição SN2. Vale lembrar, também, que reatividade
do carbocátion influencia a velocidade da reação. Na presença de um car-
bocátion terciário, a velocidade da reação é superior em comparação a um
carbocátion primário.
Já a reatividade do grupo de saída se relaciona a ligação fraca entre o C-X,
onde X são os grupos de saída, sendo os halogênios os mais comuns. Nos halo-
gênios, a reatividade diminui do I> Br, Cl >>F. De acordo com essa ordem, o iodo
é um grupo de saída melhor do que o flúor, devido a seu maior raio atômico e
tamanho da ligação entre os átomos, tornando-a mais fraca e, portanto, mais
fácil de quebrar.

QUÍMICA ORGÂNICA 126

SER_ECPME_QUIMIORG_UNID4.indd 126 25/05/20 17:11


A

Heterólise
H3C H3C

H3C C Cl H3C C+ + Cl-

CH3 CH3
2-cloro-2-metilpropano

H3C H3C H3C


+. H H+
H3C C+ + H2O H3C C O. H3C C OH
H
CH3 CH3 CH3
2-metil-prop-2-ol

H3C CH2
CH2 CH2 Cl + H+ CH2 CH2 OH
S
H3C S CH2 H3C S CH2
H2C CH2
1-cloro-2etilsufaniletano 2-etilsufaniletan-1-ol

H2O
Figura 6. (A) Mecanismo de substituição SN1 em um alcano; (B) Enxofre atuando como um nucleófilo interno e promo-
vendo a heterólise.

Nesse sentido, a substituição em alcenos pode resultar na mistura de pro-


dutos, como no 4-cloro-2-buteno, que ao ser substituído tem como produtos o
2-buten-1-ol e o 3-buten-2-ol. Isso ocorre porque o carbocátion tem sua carga
positiva deslocalizada no intermediário. Também, a presença de substituintes
na molécula rica em elétrons e que não age como grupo de saída aumenta a
cinética da reação. Por exemplo, no 1-cloro-2 etilsufanil etano, que tem como
produto o 2-etilsufanil etan-1-ol, o enxofre da molécula atua como um nucleó-
filo interno, que ataca o carbono ligado ao cloro, promovendo a quebra da liga-
ção e formação de um anel. Em seguida, o anel é aberto pelo ataque da hidro-
xila, proveniente da molécula de água, gerando o 2-etilsufanil etan-1-ol, como
mostra a Figura 6B. Outros átomos substituintes também podem ter o mesmo
comportamento, como o nitrogênio das aminas e o oxigênio dos carboxilatos
e íons alcóxidos.

QUÍMICA ORGÂNICA 127

SER_ECPME_QUIMIORG_UNID4.indd 127 25/05/20 17:11


É importante ressaltar que as reações de substituição SN2 e SN1 podem
competir entre si em determinados casos, como na substituição de haletos de
alquila primários e haletos benzílicos primários e secundários. Nesses casos,
fatores como a concentração e reatividade do nucleófilo, assim como o sol-
vente no qual é realizada a reação são fundamentais. O aumento da concen-
tração do nucleófilo favorece a substituição pelo mecanismo SN2, isso porque
a velocidade da reação é determinada pelo ataque do nucleófilo ao haleto de
alquila. Além disso, esse mecanismo pode ser ainda mais favorecido na presen-
ça de nucleófilos mais reativos. Em contrapartida, a velocidade do mecanismo
SN1 depende essencialmente da ionização da molécula orgânica, formando um
carbocátion. Logo, o aumento da concentração e a reatividade do nucleófilo
não favorecem positivamente o mecanismo de reação SN1.
Já o solvente pode atuar isolando as cargas dos íons por solvatação, porém,
solventes apolares não são bons isolantes das cargas. Se considerarmos a rea-
ção de substituição SN1, que possui a formação de um íon e um carbocátion,
o aumento da polaridade do solvente atua estabilizando as cargas no estado
de transição e, portanto, há elevação da velocidade da reação. Entretanto, se
a molécula que sofre uma reação SN1 for carregada, então o aumento da pola-
ridade não contribuirá para o aumento da velocidade da reação, uma vez que
o solvente tende a estabilizar preferencialmente a carga do reagente, dificul-
tando a formação do estado de transição. Podemos dizer, portanto, que uma
reação SN1 do brometo de terc-butila será mais rápida quando o solvente for
a água, por ser polar prótica e possuir constante dielétrica (a capacidade que
um solvente tem de isolar cargas opostas) de 79. No entanto, se a reação for
realizada com etanol, a velocidade da reação cai drasticamente,
porque a constante dielétrica desse solvente é de 25.
Além disso, o mecanismo SN2 também é afetado pela po-
laridade dos solventes. Em uma reação na qual
o haleto de alquila é neutro e o nucleófilo é
carregado negativamente, o aumento da
polaridade do solvente atua estabilizan-
do a carga do nucleófilo, reduzindo a ve-
locidade da reação. Idealmente, portanto,
uma reação de substituição com mecanismo

QUÍMICA ORGÂNICA 128

SER_ECPME_QUIMIORG_UNID4.indd 128 25/05/20 17:11


SN2 deve ser realizada em solvente apolar. No entanto, se esse solvente não
dissolver o nucleófilo, logo a opção, nesse caso, é a utilização de um solven-
te polar aprótico. Em contrapartida, na interação entre um haleto de alquila
e um nucleófilo, ambos neutros, tem-se o aumento da polaridade do solven-
te, que tende a acelerar a reação de substituição.
Já o mecanismo de adição seguido de eliminação ocorre em hidrocarbo-
netos insaturados. Nesse caso, os processos mais importantes são a substi-
tuição nucleofílica em carbonila, substituição eletrofílica e a substituição via
radical livre.
A substituição nucleofílica ocorre usualmente em derivados de ácidos car-
boxílicos, cujo a carbonila se encontra imediatamente ao lado de um substi-
tuinte eletronegativo, levando em consideração que a reatividade do grupo aci-
la decai na ordem: halogeneto de acila > anidrido > éster > amida. A Figura 7A
apresenta uma reação genérica desse mecanismo de substituição, que pode
ser aplicado a outras moléculas. Observe que nesse mecanismo de substitui-
ção existe um estado de transição que pode influenciar a velocidade da rea-
ção, desde que haja um substituinte que atraia elétrons. Já o contrário também
pode ocorrer, e a cinética da reação de substituição pode ser reduzida quando
há substituintes doadores de elétrons, como as alquilas.
Além disso, a substituição nucleofílica em carbonos aromáticos ocorre
em condições mais severas de temperatura e pressão, porque suas molé-
culas são inertes a nucleófilos em condições brandas. Assim, a presença de
grupos com mais elétrons nas posições orto e para do anel aromático pode
elevar a cinética da reação, porque a adição nucleofílica, nesse caso, forma
como intermediário um ânion, que possui uma estrutura de ressonância,
que promove a eliminação, como observado na Figura 7B. Já na ausência
de um substituinte eletronegativo, o anel aromático realiza a substituição
eletrofílica em um dos carbonos do anel, como apresentado na Figura 7C
(nitração do benzeno).
Por fim, a substituição em um carbono aromático na presença de um radi-
cal livre ocorre, também, pelo mecanismo de adição-eliminação. A Figura 7D
apresenta as etapas da formação do radical livre pela decomposição do peró-
xido de benzoílo e a interação com o benzeno, formando um bifenilo. Além do
mais, deve-se ressaltar, ainda, que a presença de substituintes pode aumentar

QUÍMICA ORGÂNICA 129

SER_ECPME_QUIMIORG_UNID4.indd 129 25/05/20 17:11


a deslocalização do intermediário formado, principalmente se os substituintes
estiverem nas posições orto ou para (BRUICE, 2006; NORMAN; COXON, 2017;
SMITH, 2016; VOLLHARDT; SCHORE, 2013).

A H3C Lento H3C Rápido H3C OH-


HO- + C O HO C O- C O H3CCO2-
-Cl- HO
Cl Cl
Cloreto de etanoíla Ácido acético

B Cl Cl OH Cl OH Cl OH HO
- -
OH- -Cl-

-
Clorobenzeno Fenol

C HNO3 + 2H2SO4 NO2+ + H3O+ + 3HSO4-

H NO2 H NO2 H NO2 O2N

NO2+ + +
-H+

+
Benzeno Nitrobenzeno

D 1. Iniciação 2. Propagação

O O O O
O
O
O 2 2 + CO2
O

Peróxido de benzoíla

3. Terminação

Ph H H H PhCO2
-PhCO2H
Benzeno

Bifenilo

Figura 7. (A) Mecanismo de substituição com adição seguido da eliminação; (B) Substituição do cloro, estruturas de res-
sonância e formação do álcool; (C) Mecanismo de substituição na ausência de um átomo eletronegativo; (D) Mecanismo
de substituição pela interação do benzeno com um radical livre.

QUÍMICA ORGÂNICA 130

SER_ECPME_QUIMIORG_UNID4.indd 130 25/05/20 17:11


Eliminação
Reações de eliminação são opostas
às reações de adição. Nelas, os grupos
de saída mais comuns são os halogê-
nios, ésteres esulfonas, que são eli-
minados juntamente com um átomo
de hidrogênio, formando uma nova
ligação π. As reações de eliminação se
destacam por serem um importante
método de síntese de alcenos e alci-
nos. Assim, reações desse tipo podem
ser subdividas em bimolecular-E2, ou
unimolecular-E1.
No mecanismo E2, toda a reação
ocorre em apenas uma etapa, como
apresentada na Figura 8A. Nesse mecanismo, uma base interage com um áto-
mo de hidrogênio ligada a um carbono β, cujo carbono é vizinho ao carbono α,
que está ligado ao halogênio. Os elétrons do hidrogênio, por indução, movem-
-se em direção ao halogênio. Antes de atingir o átomo mais eletronegativo, no
entanto, eles passam pelo carbono, promovendo a quebra entre o C-X (onde X
é halogênio). Nesse processo, o halogênio permanece com o par de elétrons
da ligação e os elétrons que eram do hidrogênio formam uma nova ligação π.
Esse mecanismo também pode ser denominado de reação de eliminação β ou
reação de eliminação 1,2.
É importante, também, observar que a facilidade com que um halogênio
rompe sua ligação com o carbono na reação de eliminação está associada à
força da base. Assim, quanto menor a força, mais fácil será a ruptura da ligação.
Sabendo, portanto, que reatividade dos haletos orgânicos reduz na ordem RI>
RBr> RCl> RF, pode-se afirmar que o iodo é o melhor grupo de saída.
Outra característica é que a reação de eliminação também é regiosseletiva.
Um exemplo é a eliminação do bromo da molécula de 2-bromobutano, que
resulta nos produtos 2-buteno e o 1-buteno, nas proporções de 80% e 20%, res-
pectivamente, como na Figura 8B. Já a relação da proporção dos produtos for-

QUÍMICA ORGÂNICA 131

SER_ECPME_QUIMIORG_UNID4.indd 131 25/05/20 17:14


mados se relaciona à maior estabilidade do
alceno, que está associada à maior quanti-
dade de substituintes. Nesse contexto, o
2-buteno, que possui dois substituintes,
é mais estável do que o 1-buteno, que con-
tém apenas um substituinte.
Assim, essa forma de prever qual alceno será
formado em maior proporção é denominada de
regra de Zaitsev. De acordo essa regra, o alceno
mais substituído é obtido como produto majoritá-
rio, sendo que, para tal, a interação entre a base e o
hidrogênio deve ocorrer no carbono β, que contém o
menor número de hidrogênios. Assim, a eliminação em um haleto de alquila
terciário resulta em um alceno mais substituído. Quando a substituição ocorre
em um dieno, existe um desvio da regra de Zaitsev, porque o produto majori-
tariamente formado e de maior estabilidade não é devido ao haleto orgânico
mais substituído, mas ao haleto que produz um dieno conjugado, ou seja, que
possui ligações duplas intercaladas com apenas uma ligação simples. Isso pro-
porciona à molécula maior estabilidade, quando comparado a ligações duplas
mais distantes.
Em alguns casos, não é recomendável utilizar a regra de Zaitsev para prever
a formação do produto majoritário, isso porque a presença de impedimento
estérico também pode afetar as proporções dos produtos e, nesse caso, a base
interage preferencialmente com o hidrogênio mais exposto.
Importante lembrar que dialetos de alquila, como o 3,5-dicloro-2,6-di-
metil-heptano, podem ter duas reações de eliminações consecutivas pelo
mecanismo E2 gerando o 2,6 dimetil-2,4-heptadieno, como exposto na
Figura 8C, considerado um produto mais estável, devido à presença de
ligações conjugadas.
Já a síntese de alcinos é realizada pela eliminação de dois halogênios que
devem estar ligados a um mesmo átomo de carbono ou em sequência na molé-
cula. A primeira eliminação, em ambos os casos, produz composto vinílico, que
é caracterizado pela dupla ligação, já a segunda eliminação resulta efetivamen-
te no alcino, como demonstrado na Figura 8D.

QUÍMICA ORGÂNICA 132

SER_ECPME_QUIMIORG_UNID4.indd 132 25/05/20 17:14


H H Carbono α

A B RCH CR RCH=CHR + BH + Br
-

Base
Carbono β
Br

Br
CH3OH
+ CH3O- + + CH3OH
B
2-bromobutano 2-buteno 1-buteno
80% 20%

+ 2 H2O + 2 CI-
C
CI CI CI
3,5-dicloro-2,6-dimetil-heptano 2,6-dimetil-2,4-heptadieno

Br
-NH2 -NH2 -
RCH2 C-R RCH C-R RCH C-R + 2 NH3 + 2 Br
D
Br Br
Dibrometo Brometo vinílico Alcino

Figura 8. (A) Mecanismo geral de uma reação de eliminação E2; (B) Regiosseletividade em uma reação de eliminação
do bromo; (C) Reação de eliminação consecutiva produzindo um dieno; (D) Reação de eliminação geral para produ-
ção de um alcino.

A eliminação unimolecular, também designada de reação E1, ocorre em


duas etapas. Na primeira etapa, o haleto orgânico tem a ligação entre o ha-
logênio e o carbono clivada, sendo que o halogênio leva consigo o par de
elétrons da ligação, formando um carbocátion. Essa etapa da reação ocorre
lentamente e é reversível. Assim, na segunda fase a base interage com o hi-
drogênio do carbono β, e os elétrons do hidrogênio são utilizados para reali-
zar uma nova ligação, gerando um alceno como produto. Ao contrário, essa

QUÍMICA ORGÂNICA 133

SER_ECPME_QUIMIORG_UNID4.indd 133 25/05/20 17:14


etapa de eliminação ocorre em maior velocidade e não é reversível. A Figura
9A apresenta o mecanismo de reação E1 do 2-bromo-2-metilproprano que
resulta no 2-metil-1-eteno.
Também é preciso considerar que a reação E1 tem uma cinética de primeira
ordem. Em outras palavras, a velocidade da reação depende da primeira etapa,
assim, se houver mais carbocátion, maior será a velocidade da reação. A for-
mação do carbocátion, por sua vez, depende diretamente da sua estabilidade,
sendo que um dos haletos de alquila terciários são mais reativos e mais está-
veis do que um haleto de alquila primário. Adicionalmente, o carbocátion pode
se rearranjar, a fim de produzir um intermediário mais estável, como apresen-
tado na Figura 9B; o 3-cloro-2-metil-2-fenilbutano sofre heterólise e forma um
carbocátion, que se rearranja e produz metil-3-fenil-2-buteno. Outra observa-
ção relevante quanto às reações com mecanismo E1, é que, quando há mais
de um produto formado, a maior proporção do produto será devido ao alceno
mais substituído.

A
CH3 CH3 CH3
Lento Rápido
H3C C CH3 H2C C CH3 + H2O + Br- H2C C CH3 + H3O+
+
Br H
2-metil-1-eteno
2-bromo-2-metilproprano

B
CH3 CH3
CH3OH
C CH CH3 C CH CH3
+
CH3 Cl CH3
3-cloro-2-metil-2-fenilbutano

CH3 CH3
Rearranjo do
C CH CH3 C C CH3 + H+
carbocátion +
CH3 CH3
metil-3-fenil-2-buteno

Figura 9. (A) Mecanismo de eliminação E1; (B) Reação de eliminação E1 com rearranjo do carbocátion, de secundário
para terciário, produzindo um intermediário mais estável antes da eliminação do segundo hidrogênio.

QUÍMICA ORGÂNICA 134

SER_ECPME_QUIMIORG_UNID4.indd 134 25/05/20 17:14


Haletos orgânicos secundários e
terciários também podem sofrer a
substituição tanto por mecanismos de
reação E1 quanto E2. O mecanismo E2
ocorre na presença de uma base forte
e solvente aprótico no meio reacional.
Já o mecanismo de eliminação E1 ocor-
re na presença de uma base fraca e
solvente prótico, como água e álcool.
As reações de eliminação (E2 e
E1) e substituição (SN2 e SN1) ocorrem
competitivamente, porque as condi-
ções entre os mecanismos reacionais
SN2/E2 e SN1/E1 são semelhantes,
como visto na Figura 10A. Considere a
interação entre o bromoetano e uma
hidroxila, apresentada na Figura 10B. Por substituição, via mecanismo SN2, o
etanol pode ser produzido, já por eliminação, com o mecanismo E2; e o ete-
no pode ser gerado como produto. Note que o haleto orgânico do exemplo
é primário, portanto, mais suscetível a uma reação de substituição SN2 do
que eliminação E2. Nesse sentido, o etanol é formado em maior proporção.
Assim, para que uma reação de eliminação seja majoritária, o haleto orgânico
deve ser terciário. Pode-se se dizer, portanto, que a reatividade nas reações
SN2 e E2 são opostas. Existe uma exceção, entretanto. O impedimento estéri-
co não favorece o ataque do nucleófilo ao carbono, o que nesse contexto faz
a reação de eliminação predominante.
Já em um haleto orgânico secundário, a competição entre os mecanismos
SN2 e E2 tendem a ser semelhantes. Sendo assim, um dos fatores que influen-
ciam para que uma reação ocorra em detrimento à outra está associado à
força e ao volume da base, de modo que quanto maior a força e tamanho da
base, maior será a tendência de que ocorra uma reação de eliminação. Esse
fato está exemplificado na Figura 10C, no qual o 2-cloropropano interage com
o íon etóxido, uma base forte e volumosa, que produz cerca de 75% de prope-
no e 25% de 2-etoxipropano.

QUÍMICA ORGÂNICA 135

SER_ECPME_QUIMIORG_UNID4.indd 135 25/05/20 17:16


A

Reatividade dos haletos orgânicos e prioridade na reação

Mecanismo de Diminuição da Mecanismo de Diminuição da


reação reatividade reação reatividade

SN2 1º > 2º > 3º SN1 3º > 2º > 1º

E2 3º > 2º > 1º E1 3º > 2º > 1º

Mecanismo SN2

CH2 CH2
-
Br + OH OH + Br
-
H3C H3C

Bromoetano Etanol

Mecanismo E2
CH2 H
-
Br CH2 + OH- H2C CH2 + H2O + Br
Eteno
Bromoetano

CH2
Cl O
CH3
CH CH CH
CH3CH2OH
H3C CH3 + CH3CH2O- H3C + HC CH2
CH3 3

2-cloropropano íon etóxido 2-etoxipropano Propeno


25% 75%

Figura 10. (A) Tabela de reatividade dos haletos orgânicos; (B) Competição entre os mecanismos de substituição e
eliminação; (C) Influência do tamanho e força da base na obtenção do produto via reação de eliminação.

Por fim, as reações SN1 e E1 para os haletos orgânicos são igualmente fa-
voráveis nas condições que envolvem uma base fraca. Ambos os mecanis-
mos têm como primeira etapa a formação de um carbocátion, posto que na
segunda etapa, tanto um produto de substituição quanto de eliminação são

QUÍMICA ORGÂNICA 136

SER_ECPME_QUIMIORG_UNID4.indd 136 25/05/20 17:16


possíveis, uma vez que a ordem de reatividade é análoga para essas reações.
A exceção se relaciona aos haletos orgânicos primários, cuja formação de um
carbocátion não é viável, devido à baixa estabilidade que esse intermediário
apresenta (BRUICE, 2006; SMITH, 2016).

Síntese do AAS (prática)


O ácido acetilsalicílico, popularmente conhecido como AAS ou Aspirina,
pode ser extraído da casca do salgueiro, árvore encontrada em diversas re-
giões do mundo. Esse medicamento possui uma história de mais de 3500 anos
e foi citado no famoso Papiro de Ebers, um guia de práticas medicinais do an-
tigo Egito, além de ter sido prescrito por Hipócrates, o grego pai da medicina.

CONTEXTUALIZANDO
As primeiras tentativas de isolamento da substância da casca do sal-
gueiro foram realizadas em 1826, mas apenas em 1828 o processo foi
realizado com sucesso por Johann Buchner. Em 1897, após diversas
pesquisas, Felix Hoffmann, farmacologista e químico, conseguiu produzir
uma versão da Aspirina menos tóxica que as antecessoras, nos labora-
tórios da empresa Bayer. Em 1899, após estudos clínicos, a patente do
medicamento finalmente foi realizada (SCHRÖR, 2016).

Nesse sentido, a síntese da aspirina é realizada por meio de uma reação


denominada de acetilação do ácido salicílico pelo anidrido acético. Essa
reação é iniciada pela protonação do anidrido acético na presença do áci-
do sulfúrico, formando um carbocátion do anidrido acético, que interage
com o nucleófilo do ácido acético, mais precisamente com sua hidroxila.
Nessa etapa, há a formação de outro intermediário com carga positiva,
que terá o hidrogênio rearranjado a fim de facilitar a eliminação do áci-
do acético. Por fim, um novo intermediário com carga positiva elimina o
hidrogênio e gera como produto um éster denominado de ácido acetilsa-
licílico e um acetato. A Figura 11 apresenta o mecanismo da reação deta-
lhado da síntese do A AS. Já o processo completo para a obtenção do A AS,
portanto, pode ser dividido em três etapas: a síntese do A AS, a purificação
e o teste de pureza.

QUÍMICA ORGÂNICA 137

SER_ECPME_QUIMIORG_UNID4.indd 137 25/05/20 17:16


O O O OH
1. Protonação
da Carbonila + H2SO4 + HSO2-
O O +
Anidrido acético Ácido sulfúrico

O O OH O
+
2. Adição do nucleófilo
OH O + OH
do ácido salicílico ao OH HO+
eletrófilo O
Ácido salicílico
O OH

O O

3. Migração OH OH
HO+ H O
do hidrogênio
O O+
O OH O OH

O O OH
+
4. Eliminação OH OH O
H O O
do ácido acético Ácido acético
O+
HO+
O OH

O OH H- O OH
+ +
OH O OH O
4. Eliminação O O
do hidrogênio Ácido acético
HO+
O
Ácido acetilsalicílico

Figura 11. Etapas reacionais da síntese do ácido acetil salicílico. Fonte: SANTIAGO et al., 2017. (Adaptado).

Para realizar a síntese, será necessária vidrarias e alguns equipamentos,


sendo eles:
• uma balança;
• um balão de fundo redondo de três bocas de 50 mL;
• uma tampa para uma das entradas;
• condensador de refluxo conectado na entrada inferior a uma torneira por
meio de uma mangueira;
• uma mangueira na parte superior para o descarte da água que passa pelo
condensador;

QUÍMICA ORGÂNICA 138

SER_ECPME_QUIMIORG_UNID4.indd 138 25/05/20 17:16


• uma barra magnética para agitação;
• um agitador magnético com chapa aquecedora;
• um pirex contendo vaselina que será utilizada como banho no processo
de aquecimento;
• um termômetro;
• garras, macaco e suporte para segurar a vidraria enquanto o experimento
é realizado.
Para iniciar, prepare o banho utilizando o pirex e vaselina, em temperatura en-
tre 50 e 60 ºC. Pese 5 g de ácido salicílico e transfira para o balão de três bocas e,
em seguida, adicione cuidadosamente 5 mL de anidrido acético. Proceda com a
montagem do aparato experimental. Conecte na abertura central do balão o con-
densador e em uma das laterais, insira o termômetro para o controle da tempe-
ratura, a barra magnética e, na terceira abertura, a rolha. Antes de inserir o balão
no banho, adicione 3etano, utilizando uma pipeta de vidro pela abertura do balão.
Ligue o agitador e dissolva o líquido até que haja uma solução homogênea, em
seguida, insira o aparato experimental no banho. O balão deve ser inserido até a
metade no banho, ou até a altura da solução no interior do balão. A preparação
deve ser mantida por 10 minutos. Após esse período, pare a agitação, remova o
balão do banho e deixe esfriar até a temperatura ambiente. Nesse momento, a
cristalização tem início. Caso não ocorra naturalmente, raspe a parede do balão.
Após a cristalização, adicione 20 mL de água deionizada no balão e leve-o
para um banho de gelo por alguns minutos. Em seguida, faça a filtração a vácuo
e a lavagem dos cristais com água gelada. Para remover o precipitado remanes-
cente do balão, pode-se adicionar um pouco de água e agitar manualmente e,
logo após, filtrar a solução.
Em seguida, a purificação é realizada por meio do processo de recristaliza-
ção. O sólido obtido na etapa anterior deve ser transferido para um béquer e
dissolvido em 3 mL de etanol, cuja pureza deve ser de 96%. Realize o aqueci-
mento suave para favorecer a dissolução do produto anterior. Logo após adi-
cione mais 20 mL de água fria. Então, o béquer deve ser fechado e levado à
geladeira pelo período mínimo de 24 horas para a recristalização ocorrer. O
produto obtido na recristalização, portanto, é o AAS, separado da solução por
filtração a vácuo e seco à temperatura de 40 ºC. O processo pode durar duas
horas ou mais, até que não se observe mudança de peso.

QUÍMICA ORGÂNICA 139

SER_ECPME_QUIMIORG_UNID4.indd 139 25/05/20 17:16


Por fim, o teste de pureza é realizado no produto (AAS). Uma pequena fração
da amostra recristalizada é colocada em 5ml de água e dissolvida por aquecimento
durante alguns minutos. Em seguida, adicione uma gota de cloreto de ferro III 1%
(FeCl3). Caso a solução mude de cor, mais especificamente para vermelho ou viole-
ta, significa que ainda há ácido salicílico não convertido a AAS na amostra. Caso não
haja impurezas, a coloração amarela da solução permanecerá inalterada.
Outra forma de avaliar a pureza da amostra é determinando o ponto de fu-
são. A amostra é inserida em um tubo capilar e tem seu ponto de fusão medido
em um determinador que eleva, de maneira controlada, a temperatura. A aspi-
rina possui o ponto de fusão teórico de 135 ºC. Caso a amostra seja liquefeita
antes dessa temperatura, significa que existem impurezas no AAS obtido (CONS-
TANTINO; SILVA; DONATE, 2004; SCHRÖR, 2016). A Figura 12 apresenta um fluxo-
grama simplificado do procedimento experimental para síntese do AAS.

Resfrie a Filtração a
Recristalização
temperatura vácuo

3 mL de etanol
5 g de ácido salicílico + 24h em
20 mL de água + produto Teste de pureza
5 mL de anidrido acético + geladeira
destilada + obtido + aqueci- FeCl3 e ponto
5 gotas de ácido sulfúrico, e filtração
banho de gelo mento brando + de fusão
Banho 50-60 ºC/10 min a vácuo
20 mL de água

Figura 12. Fluxograma simplificado do procedimento experimental para obtenção do AAS.

A fim de verificar a quantidade de produto produzido em uma síntese orgâ-


nica, é comum realizar o cálculo do rendimento percentual (RT ), dado pela razão
entre o rendimento obtido experimentalmente e o rendimento teórico, ambos
em massa, multiplicados por cem.
O cálculo do rendimento teórico considera que, na reação, o ácido salicílico é
totalmente convertido em AAS. Para chegar a tal raciocínio, no entanto, deve-se de-

QUÍMICA ORGÂNICA 140

SER_ECPME_QUIMIORG_UNID4.indd 140 25/05/20 17:19


terminar o reagente limitante da reação, utilizando cálculo do número de mols. O
reagente da reação que estiver presente no meio em menor quantidade é o reagen-
te limitante, como demonstram os cálculos realizados na Figura 13. Nesse sentido,
pode-se concluir que as quantidades de mols de ácido salicílico e AAS são semelhan-
tes. Em seguida, calcula-se a massa teórica de AAS, como demonstrado na Figura 13.
O rendimento experimental é obtido ao final da síntese, pela determinação
da massa de cristais. Para fins didáticos, suponha que foi obtido 6 g de ácido
acetilsalicílico. O cálculo do rendimento demonstra que houve rendimento de
cerca de 92%, ou seja, a maior parte do ácido salicílico foi convertida em AAS.

Cálculo de mols de 5 g Ácido salicílico


massa (g) 5 (g)
n= g n= = 0,036 mol
Massa molar (mol( 138,123 (molg (
Cálculo de mols de 5 ml de anidrido acético
massa (g) massa (g)
Densidade p = 1,08 g/cm3 Massa = 5,4 g
volume (ml) 5 (ml)

massa (g) 5,4 (g)


n= g n= g = 0,053 mol
Massa molar (mol( 102,1 (mol(

O Ácido salicílico é o reagente limitante

Cálculo da massa teórica do AAS utilizando a quantidade de mol do ácido salicílico


massa (g) massa (g)
n= g 0,036 = g = 6,49 g
Massa molar (mol( 180,158 (mol(

Cálculo do rendimento da síntese de AAS


Rendimento experimental (g) 6 (g)
R= x 100 RT = x 100 = 92,45%
Rendiment teorico (g) 6,49 (g)

A síntese do ASS rendeu aproximadamente 92%.

Figura 13. Cálculo do rendimento da síntese do AAS supondo que foi obtido 6g de produto ao final da reação.

É importante lembrar, contudo, que alguns fatores que podem levar ao baixo
rendimento são a precipitação, na primeira etapa da síntese, e a recristalização in-
completas e perdas no processo de filtração a vácuo. Dessa forma, o processo expe-
rimental deve ser realizado com cautela para que haja maior rendimento na síntese.

QUÍMICA ORGÂNICA 141

SER_ECPME_QUIMIORG_UNID4.indd 141 25/05/20 17:19


Sintetizando
Nessa unidade, foram apresentados os mecanismos de algumas reações
orgânicas e suas formas de classificação. Aprendemos que a energia de ativa-
ção é um parâmetro que afeta a velocidade da reação e demonstramos que ele
deve chegar a um máximo para que essa seja iniciada. Além disso, as reações
usualmente possuem um estado de transição no ponto máximo da energia de
ativação. Nesse caso, se houver a formação de um intermediário, é possível
identificá-lo pela inserção de isótopos no meio reacional.
Também foi possível compreender que a proporção da energia de ativação afe-
ta a velocidade do processo: quanto menor for a energia, mais rápida será uma
reação. Concomitantemente, uma das formas de reduzir a energia de ativação é
pela utilização de catalisadores. Vimos, também, que inúmeras reações podem ser
reversíveis, e que essa reversibilidade se relaciona ao deslocamento do equilíbrio,
que pode ser afetado por fatores como concentração, pressão e temperatura.
As reações orgânicas também foram classificadas de acordo com sua mole-
cularidade: unimolecular ou bimolecular. Além disso, vimos que outra forma de
classificação é pelo tipo de catalisador utilizado, que pode ser homogêneo (não
distinguido no meio reacional) ou heterogêneo (sólido disperso no meio reacio-
nal). Outra categoria de reações relaciona-se à forma com a qual uma ligação é
quebrada. Na quebra da ligação hemolítica cada fração da molécula mantem um
elétron da ligação, já na quebra heterolítica apenas uma das frações fica com o par
de elétrons. Demonstramos também que as frações da quebra heterolítica podem
ser caracterizadas de acordo com suas características como nucleófilos, que atua
como doador de elétrons, ou um eletrófilo, que atua como aceptor de elétrons.
Em seguida, apresentou-se o mecanismo da reação de adição que resulta
da quebra da ligação π de alcenos, alcinos e alcadienos. A reação de adição,
nesse sentido, pode ser subdividida em adição eletrofílica, nucleofílica e radi-
calar. Na adição eletrofílica, a interação de um alceno com um eletrófilo produz
um intermediário designado de carbocátion. Posteriormente, o intermediário
interage com o nucleófilo finalizando a reação de adição.
A adição nucleofílica já ocorre pela interação de um nucleófilo com um ele-
trófilo, sendo comum em compostos contendo carbonila, com exceção aos aro-
máticos com essa mesma substância.

QUÍMICA ORGÂNICA 142

SER_ECPME_QUIMIORG_UNID4.indd 142 25/05/20 17:19


Outro mecanismo da reação de adição é pela interação de alcenos ou al-
cinos com radicais livres, produzidos por aquecimento ou irradiação. Apren-
demos, nesse sentido, que esse mecanismo envolve três etapas: iniciação, na
qual os radicais livres são produzidos; a propagação, na qual o alceno interage
com o radical, produzindo radicais orgânicos e livres; e, por fim, a terminação,
que consiste na combinação entre os radicais.
Estudamos, também, o mecanismo da reação de substituição: síncrona do
tipo SN2 ou SN1 ou de adição seguida da eliminação. A reação com mecanismo
do tipo SN2 ocorre pela interação de um nucleófilo com um carbono hibridizado
sp3, formando uma nova ligação. O mesmo carbono tem como substituinte um
átomo mais eletronegativo, geralmente um halogênio. Assim, pela transferên-
cia de elétron do nucleófilo para o hidrocarboneto ocorre simultaneamente
a quebra da ligação entre o carbono e o halogênio, finalizando a reação de
substituição. Na substituição SN1, inicialmente temos a ionização da molécula
orgânica. Nesse processo, um carbocátion é gerado e um nucleófilo interage
com o intermediário.
Também estudamos que os mecanismos de substituição SN2 e SN1 podem
competir entre si, principalmente quando a substituição ocorre em haletos de
alquila primários e haletos benzílicos primários e secundários.
Já o mecanismo de substituição cuja as etapas envolvem uma adição segui-
da de uma eliminação, ocorre em carbonilas via substituição nucleofílica, sem
gerar intermediários. Também vimos que a substituição por esse mecanismo
em carbonos aromáticos ocorre apenas em condições mais severas de tem-
peratura e pressão. Já a substituição na presença de radicais livres segue as
mesmas etapas descritas para adição.
De modo similar, estudamos, também, sobre as reações de eliminação, par-
ticularmente utilizadas para síntese de alcenos e alcinos. A eliminação pode
ocorrer pelo mecanismo E2 ou E1. No mecanismo E2 a reação ocorre em ape-
nas uma etapa. Já no mecanismo E1 ocorre em mais etapas: a clivagem da liga-
ção entre o átomo mais eletronegativo e o carbono, a geração de um carbocá-
tion, a ligação hidrogênio do carbono β quebrada e a utilização de seus elétrons
para produzir uma nova ligação.
Vimos, também, que as reações de eliminação com mecanismos E2 e E1 e
de substituição SN2 e SN1 podem competir entre si, o que faz com que diferen-

QUÍMICA ORGÂNICA 143

SER_ECPME_QUIMIORG_UNID4.indd 143 25/05/20 17:19


tes produtos sejam obtidos em uma síntese. Desse modo, para prever qual
tipo de mecanismo prevalecerá é essencial avaliar a reatividade dos compostos
orgânicos e intermediários, e o volume dos reagentes envolvidos.
Demonstramos, também, como é realizada a síntese do ácido acetilsalicílico
ou AAS. Demonstramos que a reação para a síntese consiste em uma acetila-
ção do ácido salicílico pelo anidrido acético, enquanto a purificação por recris-
talização e testes de pureza ocorrem a partir da reação de uma solução de AAS
com cloreto de ferro III. Também estudamos outra forma de verificar a pureza
da amostra, pela determinação do ponto de fusão.
Por fim, verificamos como se calcula o rendimento de uma reação de sínte-
se a partir do peso do material obtido ao final do processo e do cálculo teórico
do rendimento.

QUÍMICA ORGÂNICA 144

SER_ECPME_QUIMIORG_UNID4.indd 144 25/05/20 17:19


Referências bibliográficas
BRUICE, P. Y. Química orgânica. 4. ed. São Paulo: Pearson, 2006.
CONSTANTINO, M. G.; SILVA, G. V. J.; DONATE, P. M. Experimento 7. Síntese da Aspi-
rina. In: Fundamentos de química experimental. v. 53. São Paulo: Edusp, 2004.
FLOWERS, P. et al. Catalysis. Chemistry. Texas: OpenStax, 2015a.
FLOWERS, P. et al. Reaction mechanisms. Chemistry. Texas: OpenStax, 2015b.
NORMAN, R. O. C.; COXON, J. M. Principles of organic synthesis. 3. ed. [s.l.]:
CRC Press, 2017.
OS CFCs e a Camada de Ozônio || Entrando no Clima || 2016. Postado por
DelicatePoem. (3min. 20s.). son. color. port. Disponível em: <https://www.you-
tube.com/watch?v=hAbD2taWUT8&ab_channel=DelicatePoem>. Acesso em:
14 maio 2020.
SANTIAGO, J. C. C. et al. Síntese e determinação do ponto de fusão da aspiri-
na. 57º Congresso Brasileiro de Química. Anais[...]. Gramado. 2017. Disponível
em: <http://www.abq.org.br/cbq/2017/trabalhos/1/10664-16382.html>. Acesso
em: 01 abr. 2020.
SCHRÖR, K. Acetylsalicylic acid. 2. ed. [s.l.]: Wiley-VCH, 2016.
SMITH, M. B. Organic synthesis. 4. ed. Londres: Academic Press, 2016.
SOLOMONS, T. W. G.; FRYHLE, C. B. Organic chemistry. 10. ed. Nova Jersey:
John Wiley & Sons, 2012.
VOLLHARDT, P.; SCHORE, N. Química orgânica: estrutura e função. 6. ed. Porto
Alegre: Bookman, 2013.

QUÍMICA ORGÂNICA 145

SER_ECPME_QUIMIORG_UNID4.indd 145 25/05/20 17:19

Você também pode gostar