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Curso de Conhecimentos Gerais e Atualidades


Centro Universitário Leonardo da Vinci

Organização
Grupo UNIASSELVI

Reitor da UNIASSELVI
Prof. Hermínio Kloch

Pró-Reitora de Ensino de Graduação a Distância


Prof.ª Francieli Stano Torres

Pró-Reitor Operacional de Ensino de Graduação a Distância


Prof. Hermínio Kloch

Diagramação e Capa
Paulo Herique do Nascimento

Revisão:
Harry Wiese
José Roberto Rodrigues

Todos os direitos reservados à Editora Grupo UNIASSELVI - Uma empresa do Grupo UNIASSELVI
Fone/Fax: (47) 3281-9000/ 3281-9090
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FILOSOFIA E PSICOLOGIA

FILOSOFIA E PSICOLOGIA

1 ECOLOGIA

A ecologia vem sendo um dos temas mais recorrentes da


atualidade. A origem do termo é grega: oikos significa casa, e
logos, estudo. Teríamos, então, “estudo da casa” ou, por extensão,
estudo do ambiente onde se vive. A ecologia é, portanto, a ciência
que estuda as interações entre os seres vivos e o seu ambiente.

As brutais transformações que a humanidade vem


imprimindo ao ambiente, principalmente após a Revolução
Industrial, vêm colocando em xeque a própria sobrevivência da
espécie. Por isso, a ecologia é uma temática que desperta tantos
interesses e tantos debates acalorados.

Martínez Alier (2007), um renomado estudioso do


ecologismo, acredita ser possível enquadrar os mais diversos
grupos presentes nesse debate em três grandes correntes: “o
culto ao silvestre”, “o evangelho da ecoeficiência” e “o ecologismo
dos pobres”.

A corrente do culto à vida silvestre faz a defesa romântica


da natureza intocada, de maneira bucólica, contemplativa, com
preocupações muito mais estéticas do que científicas. Entre os

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Conhecimentos Gerais e Atualidades

adeptos dessa corrente não há uma preocupação explícita em


combater o crescimento econômico, contentando-se em manter o
que resta dos espaços de “natureza original”, ainda não inseridos
na lógica do mercado.

Nas sociedades ocidentais, o culto ao silvestre tem se


manifestado com bastante frequência no ativismo do movimento
da chamada Ecologia Profunda, também conhecida como
Ecologia Radical. A tônica se assenta numa forte crítica à
perspectiva antropocêntrica nas questões atinentes às relações
homem-natureza em prol de uma atitude biocêntrica, negando
a preponderância ou predominância do humano em relação
às demais espécies vivas. Há, nessa corrente, excessos de
romantismo tão exacerbados que, prescindindo dos mais
elementares princípios lógicos das ciências, chegam a considerar
o próprio planeta Terra um ser vivo.

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FIGURA 1 – BELEZAS NA NATUREZA INTOCADA

FONTE: Disponível em: <http://www.guiame.com.br/


images_materia/materia/j_2070.jpg>. Acesso
em: 1 ago. 2011.

A corrente do evangelho da ecoeficiência volta sua


atenção para os impactos ambientais e danos à saúde provocados
pela urbanização e pelos processos produtivos tanto da indústria
quanto da agricultura. A economia torna-se o foco central
desse grupo de ecologistas que, a exemplo dos anteriores, não
condenam o crescimento econômico. Pelo contrário, muitas vezes
o incentivam, acreditando que “desenvolvimento sustentável” e
“crescimento econômico sustentável” sejam sinônimos.

O amor à “natureza original”, à bucolicidade, os valores


estéticos relativos à “natureza intocada” não os preocupam,
dando ênfase aos “recursos naturais”, “capital natural”, “serviços
ambientais”. Os lucros econômicos devem estar associados

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também aos lucros ecológicos. A ideia de comercialização dos


créditos de carbono é uma aberração produzida por esse grupo
tão heterogêneo que abarca mesmo aqueles que defendem o
uso de transgênicos. Estes justificam sua adesão afirmando que
o cultivo de transgênicos podem diminuir do uso de praguicidas e
até realizar uma síntese muito melhor do nitrogênio atmosférico.

Entre aqueles que compactuam com esse credo


encontramos um cem(100)-número de “ecologistas” abrigados
sob o guarda-chuva do “ambientalismo moderado”, que propõe
o matrimônio do crescimento econômico com a conservação
ambiental. Tal perspectiva teórica é altamente funcional ao
modelo econômico liberal/neoliberal, especialmente na sua versão
neofordista, de acumulação flexível.

Entretanto, as evidências empíricas vêm demonstrando


que, nesse casamento, o juramento de fidelidade encontra
sérias dificuldades de concretização. A racionalidade econômica,
ainda que ostente a adjetivação de “sustentável”, é frontalmente
conflitante com a racionalidade ecológica. O fracasso, ou pelo
menos, a parca efetividade das ações propostas e acordadas nas
conferências de Estocolmo, Rio de Janeiro e Johanesburgo, são
uma clara demonstração do iminente divórcio a que está fadado
esse casamento.

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FIGURA 2 – CRÍTICA À COMERCIALIZAÇÃO DOS


CRÉDITOS DE CARBONO

FONTE: Disponível em: <http://4.bp.blogspot.com/_tSvDPO-


28yA/S80VLeLfCxI/AAAAAAAAAKQ/66tCuaVNgqo/
s1600/credicarb.jpg>. Acesso em: 1 ago. 2011.

O ecologismo dos pobres, também conhecido como


ecologismo popular, questiona as bases epistemológicas tanto da
corrente do culto à vida silvestre quanto da corrente do evangelho
da ecoeficiência. Estes ecologistas afirmam que o aumento da
produção econômica “implica sacrifício de recursos, tais como
florestas, solo, água, ar, biodiversidade, estabilidade climática
etc.” (CAVALCANTI, 2010, p. 62).

Por isso, a terceira corrente:

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assinala que desgraçadamente o crescimento


econômico implica maiores impactos no ambiente,
chamando a atenção para o deslocamento
geográfico das fontes de recursos e das áreas de
descarte dos resíduos (MARTÍNEZ ALIER, 2007,
p. 34).

Assevera ainda, o mesmo autor, que os países


industrializados são dependentes de importações dos países do
Sul para atender à sua crescente demanda por matérias-primas
e bens de consumo. Exemplifica assinalando que os Estados
Unidos importam a metade do petróleo que consomem e a União
Europeia importa uma quantidade quase quatro vezes maior
de materiais do que exporta. Já a América Latina exporta uma
quantidade seis vezes maior de materiais (inclusive energéticos)
do que importa. Os impactos gerados por esses fenômenos
absurdos não podem ser solucionados por políticas econômicas
ou por inovações tecnológicas, atingindo grupos sociais que
frequentemente protestam e resistem e que nem sempre são
identificados como ecologistas.

Dentre os atores identificados com o “ecologismo dos


pobres” poderíamos enquadrar aqueles ecologistas a quem
Gudynas (1992) chama de “contra-hegemônicos”. Tais grupos
percebem estreitas relações entre os problemas sociais, em
especial aqueles relacionados com a pobreza e os problemas
ambientais. Apontam para a necessidade de profundas
transformações sociais, com uma importante reflexão ética e com
interesse em dialogar com outros grupos.

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Herculano (2006, p. 2) afirma que o:

Ecologismo dos Pobres pode ser também chamado de


Ecossocialismo, uma vez que essa corrente percebe
nos conflitos socioambientais “uma situação de
contradição estrutural própria da economia capitalista
contemporânea, onde a produção se orienta pela busca
do crescimento econômico, a ser obtido via integração
ao mercado globalizado, através da exportação.

Essa lógica antagoniza com a preservação ambiental e


com formas de vida não capitalistas, ainda remanescentes, mas
paulatinamente incorporadas pela lógica produtiva do agronegócio.

O entendimento dessa natureza leva, necessariamente,


ao questionamento e à tentativa de superação da lógica
de crescimento inerente ao modo de produção capitalista.
A perspectiva ecossocialista não busca, então, simples e
ingenuamente, a conservação, preservação ou recuperação
de espaços ambientais, pois a luta ambiental não pode ser
desvinculada de uma perspectiva mais ampla e global, que ponha
em cheque as formas de apropriação tanto dos recursos naturais
quanto dos bens socialmente produzidos.

Como nos ensina Löwy (2009), o raciocínio ecossocialista


se apoia em dois argumentos essenciais: a) o modo de produção
e consumo dos países capitalistas desenvolvidos, fundado na
lógica de acumulação ilimitada tanto do capital quanto dos lucros e
mercadorias, no desperdício de recursos, no consumo ostentatório
e na acelerada destruição ambiental, jamais poderá ser estendido
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ao conjunto do planeta, uma vez que implicaria uma crise ecológica


ainda maior; b) a continuidade do “progresso” capitalista e a
expansão da civilização fundada na economia de mercado (até
mesmo no modelo brutalmente desigual da atualidade) constituem,
em médio prazo, ameaça direta à própria sobrevivência da espécie
humana.

Para Löwy (2009), a limitada racionalidade do mercado


capitalista, preocupada com o cálculo imediatista de perdas
e lucros, é intrinsecamente contraditória com a racionalidade
ecológica que incorpora a relativamente longa temporalidade
dos ciclos naturais. Não é o caso de opor os “maus” capitalistas
ecocidas aos “bons” capitalistas verdes. O próprio sistema, cuja
competição impiedosa, exigências de rentabilidade e a corrida pelo
lucro rápido lhe são inerentes, é que é destruidor dos equilíbrios
naturais. Por isso, o pretenso capitalismo verde não vai além
de uma manobra publicitária, uma etiqueta promocional de uma
mercadoria ou, no máximo, uma iniciativa local semelhante a uma
gota d’água no árido solo do deserto capitalista.

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FIGURA 3 – PRODUÇÃO AGROECOLÓGICA

FONTE: Disponível em: <http://www.sct.embrapa.br/dctv/2005/


img/Prod_agroecol.gif>. Acesso em: 1 ago. 2011.

2 ÉTICA E RELAÇÕES INTERPESSOAIS

Na primeira noite, eles se aproximam e colhem uma flor de


nosso jardim.
E não dizemos nada.
Na segunda noite, já não se escondem, pisam as flores,
matam nosso cão.
E não dizemos nada.
Até que um dia, o mais frágil deles entra sozinho em nossa
casa, rouba-nos a lua, e, conhecendo nosso medo, arranca-

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nos a voz da garganta.


E porque não dissemos nada, já não podemos dizer nada.
(Maiakovski, início do século XX)

Primeiro eles roubaram os sinais, mas não fui eu a vítima,


Depois incendiaram os ônibus, mas eu não estava neles;
Depois fecharam ruas, onde não moro;
Fecharam então o portão da favela, que não habito;
Em seguida arrastaram até a morte uma criança, que não era
meu filho...

FONTE: HUMBERTO, Cláudio. Disponível em: <http://www.via6.com/


topico/59829/maiakovski->. Acesso em: 1 ago. 2011.

Cecília Meireles, em Romanceiro da Inconfidência (1977,


p. 42), conceitua liberdade como: “palavra que o sonho humano
alimenta que não há ninguém que explique e ninguém que não
entenda”. Nas palavras de Álvaro Valls (2006), a ética assume o
mesmo lugar da liberdade: “A Ética é daquelas coisas que todo
mundo sabe que são, mas que não são fáceis de explicar, quando
alguém pergunta”.

Por que será que é tão difícil conceituar ética? E, ao


mesmo tempo, parece que todos a compreendem? Será por que
a vivenciamos diariamente? Por que cada um pensa que tem “a
sua” e, por essa razão, nos sentimos autorizados a justificar nossas
posturas e a julgar as dos outros? Ou será que a temática é tão
complexa porque é tecida em conjunto? Afinal, não existe ética

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FILOSOFIA E PSICOLOGIA

simples, pois a ética só é possível quando pensada nas relações


entre as pessoas.

A ideia desse texto é conduzir o leitor a refletir sobre as


relações pessoais e sociais que estabelece com o seu entorno,
(re)avaliando e (re)significando seus próprios conceitos éticos.
Para tanto, busca-se um resgate histórico capaz de contextualizar
nossos valores hoje.

Vamos às origens. Ética é uma palavra de origem grega


que provém do vocábulo êthos, que, semanticamente, relaciona-
se a caráter, a um modo habitual de vida e que se aproxima
de uma fonte de comportamento. Êthos adquiriu significados
relativos à moradia, àquilo que o homem tem dentro de si, ao
seu modo de ser e, na atualidade, à cidadania. A ética é, então,
um saber humano que implica relação com o outro. Tem-se aí
um pressuposto essencial: só construímos valores éticos na
relação com o outro. Esse outro não representa apenas mais um
ou dois sujeitos, representa instituições organizacionais como
família, escola, empresa, igreja, grupos e toda uma sociedade,
com suas leis, culturas, ritos, civilizações. Mas a ética se refere
ao que pode ou não pode, ao que deve ou não deve ser feito com
o outro e consigo mesmo? Quais os objetos da ética? Como ela
se desenvolveu no ser humano?

Bem, voltemos à história. Entre os anos 500 a 300 a.C.,


pensadores gregos como Sócrates, Platão e Aristóteles refletiram
sobre os juízos de valor da essência humana, sobre o agir do
homem. Pesquisaram sobre a natureza do bem. Afinal, certo,
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Conhecimentos Gerais e Atualidades

errado, bom, ruim, prazer, dor, bem, mal, virtude, vício, verdade,
mentira são termos que correspondem a valores e julgamentos
éticos. Bom é o que é natural? Bem está relacionado à evolução?

Sócrates (470-399 a.C.), grande mestre da interrogação,


não deixou nada escrito, mas foi considerado o fundador da ética.
Questionava, em seus diálogos, a validade das leis, pois tinha
a crença de que bastava saber o que é bondade para ser bom.
Platão (427-347 a.C.) partiu da ideia de que todos os homens
buscavam a felicidade. Acreditava em uma vida depois da morte
e, assim, não buscava o prazer terreno. O ser humano deveria
praticar a virtude como ordem e harmonia universal. Aristóteles
(384-332 a.C.), por sua vez, buscou depoimentos sobre a vida
das pessoas, utilizou-se da observação empírica para descobrir
os fins a serem alcançados para que o ser humano pudesse ser
feliz. Seu objetivo era encontrar regras claras que pudessem ser
conhecidas, rotuladas e catalogadas. Foi considerado o pai da
Ética como ciência, no entanto, subordinou sua ética à política,
mantendo-a prática e adaptativa. Kant, Schopenhauer, Nietzshe,
Santo Agostinho e muitos outros pensadores mereceriam destaque
por seus posicionamentos em relação a essa temática. No entanto,
pesquisadores contemporâneos trazem suas contribuições para
discutir questões relacionadas a valores humanos e à moralidade.

Lawrence Kohlberg (apud PIAGET, 1994) concebeu uma


teoria segundo a qual o desenvolvimento moral se processa numa
sequência de estágios, que é a mesma em todas as pessoas,
independente da cultura. É importante diferenciar aqui a moral
da ética. A moral é normativa, delimita o que é bom ou ruim numa
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FILOSOFIA E PSICOLOGIA

convivência, refere-se à conduta, é temporal. A ética, por sua vez,


revela princípios, refere-se à justiça, é universal. Mesmo assim, vale
citar o estudo, pois ética implica reflexão moral. Segundo Kohlberg
(apud PIAGET, 1994), há seis estágios de desenvolvimento moral,
divididos em três níveis: moralidade pré-convencional; moralidade
convencional e moralidade pós-convencional. No primeiro nível, há
dois estágios: o primeiro, quando a noção de moralidade se orienta
pela obediência e pelo medo da punição; o segundo, quando os
atos são considerados moralmente corretos se lhe dão prazer
ou se satisfazem a uma necessidade própria. No segundo nível,
estão em um primeiro estágio aquelas pessoas que atendem à
moralidade do “bom garoto”, de manutenção de boas relações e de
aprovação dos outros; num segundo estágio, a autoridade é que
mantém a moralidade. No último nível, o primeiro estágio refere-se
à moralidade de contrato e de lei democraticamente aceitos; e o
segundo abraça uma moralidade pautada em princípios individuais
de consciência.

Essa pesquisa foi realizada em diferentes culturas. Kohlberg


(apud PIAGET, 1994) acompanhou, numa pesquisa longitudinal, o
desenvolvimento moral de cinquenta pessoas, no período de 1957
a 1977, observando seus julgamentos morais em intervalos de três
anos. Os resultados desses estudos apresentam alguns pontos
que valem ser destacados: a sequência do desenvolvimento moral
é invariante; embora as pessoas não possam pular os estágios,
elas entendem e preferem o julgamento moral que corresponde
a um estágio além do nível em que estão; as crianças menores
de nove anos estão no nível pré-convencional; dos nove aos
quinze anos, a maioria está no nível convencional; e somente
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Conhecimentos Gerais e Atualidades

após os dezesseis anos, algumas pessoas atingem o nível pós-


convencional. Essa pesquisa nos mostra que a ética é construída
socialmente, na relação com o meio e com as pessoas.

Habermas (1989) desenvolveu uma teoria sobre a moral


e propõe uma forma de ação comunicativa, pautada no diálogo,
na troca, no intercâmbio das relações humanas, na qual as ações
morais se desprendem da ética tradicional e nascem de reflexões
e questionamentos pessoais e sociais. Assim, uma vez colocada
em prática e incorporada à vida social, a moral passa a ser
vivida como ética. Os princípios éticos de uma sociedade, então,
evoluem segundo os valores morais que, por sua vez, também
se modificam seguindo novas ordens religiosas, econômicas,
tecnológicas e sociais. Para Vazquéz (2000), os princípios éticos
evoluem devido à necessidade de relacioná-los com as relações
humanas que pretendem regulamentar.

Aricó (2001, p. 45) vai além e defende uma visão totalitária


entre o biológico e o social e lembra que os impulsos humanos
sempre se originam nas nossas estruturas genéticas, que, por
sua vez, objetivam “além da adaptação ao meio ambiente, a
transmissão dos gens para gerações futuras, talvez no âmbito da
imortalidade”. Essa ideia nos leva a crer que sentimentos como
raiva, ódio, antipatia, desconfiança e a proposição de situações
que englobem desonestidade e agressividade podem estar a
serviço da ética, do bem e da felicidade? Seria lícito matar a fim
de conservar a espécie?

Aricó (2001) descreve as seguintes características do


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FILOSOFIA E PSICOLOGIA

Homo sapiens moderno: aptidão para a tecnologia, capacidade


de expressão oral e artística, consciência de si próprio e dos
semelhantes e capacidade para formular códigos de ética. As
relações necessárias entre estas características não têm se
estabelecido, avanços tecnológicos não têm promovido uma
civilização mais igualitária. O poder instituído tem sido contrário
a qualquer forma reflexiva de raciocínio lógico. Pessoas têm sido
consideradas desnecessárias. Vamos mal!

Decorre daí outro pressuposto fundamental referente


à temática da ética: é preciso ver o outro, não somente com
uma ideologia, cultura, raça, religião, cosmovisão diferente da
nossa; é preciso reconhecer essas diferenças, respeitar essas
escolhas e, sobretudo, ver as pessoas independentemente de
nós mesmos. O que requer empatia, um tipo de introjeção do
outro e, consequentemente, menos individualismo. Aricó (2001,
p. 137) denuncia que “os valores éticos tropeçam na grande
muralha narcisista [...] tudo tende a se igualar, tudo tende a
possuir o mesmo valor, ou nenhum valor”. De verdade, estamos
vivendo uma crise ética, em que posturas e situações antiéticas
têm sido banalizadas. Basta pensar nas notícias que nos chegam
através dos meios de comunicação diariamente, atravessam
nossas próprias conversas e passam a não nos assustar mais.
Roubos, crimes, desastres, mortes, destruições, guerras, fome,
miséria humana só nos afetam quando a tragédia é próxima.
Como chegamos aqui? Será que o ser humano, como pensava
Nietzsche, é só uma etapa, uma transição, uma promessa?

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3 ADMINISTRAÇÃO DE CONFLITOS

Segundo a Bíblia Sagrada, o primeiro conflito da


humanidade foi entre Abel e Caim. Neste conflito houve um
perdedor, Abel. Por muito tempo o conflito foi visto como negativo.
A ausência de conflitos era encarada como expressão de boas
relações e bons ambientes. A tradição educacional e a autoridade
paterna, estimulou valores anticonflitos. A estratégia era abafar
e não enfrentar para resolver os conflitos, pois eram vistos como
resultantes da ação de comportamentos agressivos, intolerantes,
atitudes radicais e, como resultado, sempre tinham uma parte
perdedora.

FIGURA 4 – ABEL E CAIM

FONTE: Disponível em: <http://4.bp.blogspot.


com/-GF09LPjKcxI/TaeLVTPLo6I/
AAAAAAAABkk/5YjPC-YQnys/s1600/
Abel+e+Caim.jpg>. Acesso em: 1 ago. 2011.

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FILOSOFIA E PSICOLOGIA

A humanidade se estruturou em organizações sociais,


políticas, empresariais, educacionais, de saúde e outras. Portanto,
são administradas por equipes de pessoas habilitadas por funções
e responsabilidades específicas, se relacionando para alcançarem
objetivos comuns.

Matos Gomes (2003) diz que conviver implica reconhecer a


divergência como uma realidade existencial, pois está no âmago
da relação humana. O conflito afeta a todos, não tem como
escapar.

Maginn (1996) diz que, de fato, o conflito incomoda tanto


que todo mundo faria qualquer coisa para evitá-lo. Isto porque o
conflito entre pessoas frequentemente se manifesta através de
palavras rudes, socos em mesas, vozes exaltadas, ressentimentos,
afastamentos.

Para que a sociedade se mantenha organizada e


sustentável deve haver um equilíbrio, e este equilíbrio vem do
desequilíbrio, isto é, do conflito e da forma de como ele é visto.
Os conflitos não surgem de repente, vão dando alguns sinais,
por exemplo: as pessoas fazem comentários com alta carga
emotiva, atacam as ideias dos outros antes mesmo que eles
tenham terminado de falar, dizem não entender exatamente qual
é a questão em pauta, se recusam a ceder e, desta forma, as
negociações entre as partes não chegam a nenhum lugar. Estes
comportamentos indicam que há um conflito.

Os sinais não são suficientes para pensar que os conflitos


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Conhecimentos Gerais e Atualidades

serão resolvidos; em muitos âmbitos organizacionais, eles são


acumulados, as causas mais comuns são porque as partes entram
no jogo do tudo ou nada. Querem apenas ganhar, em vez de
solucionar o problema. Endurecem suas posições, reduzem a
comunicação e limitam o envolvimento mútuo.

Cada uma das partes envolvidas no conflito tem uma forma


de reagir, algumas das reações naturais são: o confronto agressivo,
manobras estratégicas, protelação contínua e combates. A curto
prazo é mais simples negar os conflitos do que enfrentá-los.
No entanto, é viável solucioná-los construtivamente quando os
enfrentamos logo no início.

Tornou-se necessário buscar novos meios para enfrentar


conflitos. Tratar os conflitos de modo negativo, abafá-los, ignorá-
los ou ganhar x perder não é o melhor modelo de trazer benefícios
para a sociedade como um todo.

Atualmente, o que se busca em administração de conflitos


é o ganha x ganha, que caracteriza o positivo, pois ambas as
partes ganham alguma coisa; quando bem administrado resulta em
inovação, oportunidade, enriquecimento pessoal, organizacional
e expansão.

Matos Gomes (2003) descreveu seis passos para resolver


conflitos no modelo atual, ou seja, o ganha x ganha:

O primeiro passo: Abordagem - significa a confrontação


positiva que evita as costumeiras e desastrosas situações eles
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FILOSOFIA E PSICOLOGIA

e nós típicas da realidade ganhar x perder que uma sociedade


competitiva e predatória alimenta. A conversação é um instrumento
essencial nesta abordagem, prestar atenção no que fala e como
fala. E nesta conversação levar a verdade dos fatos para ser
discutida de maneira objetiva, levando em conta o pensamento,
sentimento e criatividade para estimular a busca pelo novo; é a
maneira inteligente de responder às situações em mudanças.
Não personalizar os problemas, o caso isolado limita a percepção
e fecha a porta ao acordo e entendimento. A atitude fechada
impede de perceber a realidade exterior e o outro lado, abrir-se
na conversação.

Segundo passo: A argumentação - com o conhecimento


constroem-se os argumentos. A negociação eficaz parte da
realidade conhecida, da análise da situação de forças e fraquezas
das reivindicações. A negociação envolve habilidades humanas
(relacionamento interpessoal) e habilidades técnicas (processo).
Conhecer a tipologia humana que compõe a mesa de negociação
ajuda a estruturar a argumentação adequada para o consenso do
acordo. Há quatro estilos de negociadores e suas Táticas.

● Estilo racional: centrado em ideias e fatos, vai direto


aos objetivos. Tática para argumento: estar atento aos pontos
convergentes que diferem da objetividade da discussão e
conduzam ao acordo.

● Estilo sociável: centrado no esforço da equipe, busca o


relacionamento afetivo. Tática para argumento: soltar um pouco
o anzol, para satisfazer às necessidades de socialização, mas
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Conhecimentos Gerais e Atualidades

procurar fisgar o peixe, com a proposição objetiva das bases


para o acordo.

● Estilo metódico: centrado no processo da discussão,


orientado para os aspectos culturais. Tática para argumentação:
reservar o tempo inicial para discussão dos aspectos formais
(estrutura da reunião, metodologia da discussão, documentação
básica, listagens das principais divergências). A partir daí, objetivar
ao problema em essência com propostas claras e incisivas.

●Estilo decidido: centrado na solução mais rápida


possível, persegue resultados. Tática para argumentação:
recomenda-se, já no início da conversação, a apresentação
de um quadro diagnóstico confiável da situação, com as várias
alternativas solucionadoras. Com isto, atende-se a sua motivação
psicológica em discutir objetivamente os problemas, mas dentro
de uma análise ampla, com parâmetros efetivos que evitem visões
distorcidas e ênfases fragmentárias.

● Terceiro passo: A superação de objeções - cabe


diferenciar as objeções das desculpas. Enquanto a primeira constitui
um argumento ponderável, a segunda revela tão somente um
pretexto, camuflando as motivações mais profundas. Conhecendo
as motivações do opositor à proposição e diagnosticando a
objeção concreta. É um esforço necessário, cujas dificuldades
podem ser minimizadas por uma argumentação planejada, em que
possíveis objeções são levantadas e estudadas. Prevenir objeções
é uma tática eficaz por meio de estudo e experiência, quando em
uma percepção treinada, antevê as objeções, antecipando-se
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FILOSOFIA E PSICOLOGIA

com argumentos convincentes. Contornar as objeções consiste


em fixar-se nas vantagens substanciais em contraposição às
desvantagens levantadas.

Aceitação aparente de uma objeção - esta tática é no


sentido de aceitar e respeitar a outra parte com tolerância, obtendo
assim receptividade e o momento psicológico que se estabelece
entre as partes. O acordo é justamente uma consequência lógica
do espírito de compreensão acerca das vantagens recíprocas.

Quarto passo: O acordo - ganhar x ganhar é a situação


desejável em que todas ganham algum benefício no processo de
resolver o conflito. A situação ganhar x ganhar exige consenso,
troca livre de ideias até chegar a um acordo. Estabelecer objetivos
integradores e fixar-se neles é um dos melhores estratagemas
para negociar com êxito. Os objetivos integradores correspondem
aos pontos de interesse mútuo e aos valores, ou seja, aos aspectos
que interessam a todos.

Quinto passo: O reforço - se a situação “ou tudo ou nada”


significa a radicalização do conflito, a situação nós expressa o
acordo, com a necessária harmonização de interesses que implica
integração, cooperação, disposição para compreender, negociar
e caminhar junto.

Sexto passo: A reabordagem - configura a certeza de


que a negociação não é um acontecimento episódico e fugaz,
mas como parte da convivência humana. O acordo, portanto,
não é uma meta aleatória, nem fruto de racionalizações, muito
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Conhecimentos Gerais e Atualidades

menos obra do acaso, algo tão lógico, natural e gratuito que se


deixa acontecer. O acordo demanda preparação, argumentação
e superação de objeções; o acordo, portanto, envolve liderança,
planejamento, organização, avaliação de resultado, solicita uma
estratégia que justifique, integre e dê produtividade às inúmeras
táticas aplicáveis ao processo de negociação.

A sociedade em mudança característica de nossa


época é uma fonte inesgotável de conflitos. A
mudança gera tensões, ansiedades, resistências
e, portanto, conflitos. As classes sociais vêm se
conscientizando do direito de serem ouvidas e de
influenciarem nas decisões que lhe dizem respeito
[...] Igualmente são reconhecidos, hoje, de modo
conceitual, os Direitos Humanos, mas não se criam
as instituições sociais, políticas e econômicas para
verdadeiramente respeitá-los e pô-los em prática.
(MATOS GOMES, 2003, p. 24).

Assim, cada vez mais, administrar conflitos se destaca


como um imperativo de saúde das organizações, de valorização
e desenvolvimento humano, de qualidade de vida e prática
democrática.

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FILOSOFIA E PSICOLOGIA

4 UMA REFLEXÃO SOBRE GÊNERO E SEXO

FIGURA 5 – REFLEXÃO

FONTE: Disponível em: <www.clubedamafalda.blogspot.com>. Acesso


em: 20 jul. 2011.

Iniciamos nossa reflexão sobre gênero e sexo a partir da


tirinha da Mafalda, uma personagem de quadrinhos atemporal,
criada nos anos 40 e que vivenciou o auge das discussões sobre
o papel da mulher na sociedade.

Foi justamente a partir da segunda Guerra Mundial, em


1941, que os papéis entre homens e mulheres começaram a se
modificar. Com o recrutamento dos homens para lutarem na guerra,
as fábricas necessitaram de mão de obra, e a única alternativa
foi retirar as mulheres de casa e colocá-las no trabalho. No
entanto, esperava-se que, com o fim da guerra, elas retornassem
à função de donas de casa, fato que não ocorreu. Iniciando uma
revolução do papel da mulher na sociedade, reivindicando direitos

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Conhecimentos Gerais e Atualidades

de igualdade, liberdade sexual, ascensão e direito a uma carreira


profissional.

A expressão “gênero” ganhou força nos movimentos


feministas, especialmente entre as americanas e as inglesas,
nos anos 70. De acordo com Braga (2007), a expressão gênero
começou a ser utilizada justamente para marcar as diferenças
entre homens e mulheres, mostrando que não são apenas
de ordem física e biológica. Segundo ela, a diferença sexual
anatômica não pode mais ser pensada isolada das construções
socioculturais em que estão imersas, a diferença biológica é
apenas o ponto de partida para a construção social do que é ser
homem ou ser mulher.

FIGURA 6 – MULHERES NA LUTA PELOS SEUS DIREITOS

FONTE: Disponível em: <http://www.clam.org.br/galeria/fotos/


feminist/manifest_mexico.JPG>. Acesso em: 1 ago. 2011.

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FILOSOFIA E PSICOLOGIA

Scott (1991) complementa o conceito afirmando que


entende gênero como relações de poder que se estabelecem
social e culturalmente a partir das diferenças percebidas entre
os sexos.

Diante disso, podemos perceber que os termos sexo e


gênero são distintos. Entendemos por gênero a maneira que
as diferenças entre o feminino e o masculino se assumem nas
diferentes sociedades. É uma construção sociocultural que pode
variar de uma cultura para outra e se transformar no decorrer
da história. Sexo, por sua vez, é uma construção natural (inato),
atribuída às diferenças anatômicas e fisiológicas que diferenciam
um homem de uma mulher.

Portanto, o conceito de gênero atualmente é uma


representação de direitos igualitários entre homens e mulheres.
Conceito esse que vem se ampliando e hoje não está relacionado
apenas ao masculino e feminino, pois a identidade sexual abrange
também os homo e transexuais, constituindo-se como um direito
humano à cidadania.

De acordo com a Declaração Universal dos Direitos


Humanos (1948): “Todas as pessoas nascem livres e
iguais em dignidade e direitos. São dotadas de razão e
consciência e devem agir em relação umas às outras
com espírito de fraternidade”.
Vamos refletir um pouco sobre esse assunto.
Você percebe relações de desigualdades em seu
entorno? Que relações são estas?

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Conhecimentos Gerais e Atualidades

Apesar da garantia dos direitos humanos, convivemos


com quadros de desigualdades no cenário nacional e mundial.
No entanto, com o passar dos tempos, as questões de gênero
e sexualidade mudaram e novos papéis sociais foram se
constituindo.

As contribuições no campo jurídico (novas leis), os


avanços tecnológicos e científicos foram decisivos e influenciaram
significativamente nessas relações. Vale ressaltar que essas
conquistas são atribuídas ao Ocidente e pouco percebidas no
Oriente por uma questão cultural, pois, segundo Moore (1991 apud
MACHADO, 1999), diferentes culturas desenvolvem diferentes
entendimentos sobre o que seja ser homem e mulher.

Essas conquistas são percebidas em diferentes grupos


anteriormente considerados marginalizados. Destacamos aqui o
direito dos homossexuais ao casamento, dez países já legalizaram
o casamento homossexual. No Brasil, de acordo com o jornal
Estadão on-line, o Supremo Tribunal Federal (STF) reconheceu
no mês de maio a união estável homoafetiva e seus efeitos
jurídicos. Garantindo aos casais direitos como pensão, herança,
regulamentação da comunhão de bens e a adoção de crianças.
No entanto, o casamento homossexual ainda não é possível,
apenas a união estável, que garante o direito de alteração do
estado civil do casal.

Outra conquista percebida é a ascensão das mulheres ao


poder público. Atualmente, nove mulheres ocupam o cargo de
presidente da República no mundo. No Brasil, Dilma Rousseff é a
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FILOSOFIA E PSICOLOGIA

primeira a ocupar o cargo, mas, na América Latina, países como


a Bolívia, o Haiti, a Nicarágua, o Equador, a Guiana, o Panamá,
o Chile e Costa Rica já foram ou estão sendo governados por
mulheres. Dilma Rousseff (Brasil), Cristina Kirchner (Argentina)
e Laura Chinchilla (Costa Rica) são as presidentes dos países
latino-americanos atualmente. Lembramos também que um
negro (Barack Obama) ocupa o cargo de presidente dos Estados
Unidos, um índio (Evo Morales) comanda a Bolívia e uma mulher
preside um dos maiores times de futebol do Brasil. Estes são
apenas alguns dos exemplos, em pequena escala, de que essa
problemática que atinge as chamadas “minorias” caminha para
um processo de igualdade.

É importante lembrar que, embora novas leis sejam


importantes na garantia da igualdade e equidade entre os sexos e
gêneros, isto não é o suficiente, essa questão deve estar presente
e pautar novas ações de políticas públicas. Independentemente
do sexo, da opção sexual, da cor, da idade ou do grupo social,
é importante garantir os direitos de igualdade do cidadão,
visualizando a construção de um mundo mais “humano”, de fato.

5 POLÍTICA

A política faz parte de nossa vida e envolve questões de


interesse público e privado, relações de autoridade e poder. Mas,
na sociedade, a expressão política tem vários significados, o que
expressa a polissemia do termo.

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Conhecimentos Gerais e Atualidades

Primeiramente, vamos apresentar a você o significado


etimológico da palavra política. A origem é grega e vem de pólis
que significa a arte de governar e de gerir o destino da cidade.
Geralmente, utilizamos o termo política para descrever a atividade
parlamentar de um político, as ações do prefeito, do governador
ou do presidente da República. Outra compreensão que temos
de política são as campanhas eleitorais que os partidos fazem
nas vésperas das eleições e que culminam com o ato de votar
nos candidatos aos cargos dos poderes Executivo e Legislativo.

Também se emprega o termo para expressar a


multiplicidade de situações em que a política se
manifesta: política econômica, política sindical,
política ecológica, política das igrejas. Neste sentido,
entende-se a política como a atuação de instituições
ou de segmentos da sociedade civil com a finalidade
de alcançar determinados objetivos. Trata-se, pois, de
uma política reduzida aos espaços institucionais, dos
quais indivíduos participam apenas ocasionalmente.
(CORDI et al., 2000, p. 175).

Conforme pudemos constatar no parágrafo anterior, a


política diz respeito às diferentes situações e faz parte de nossa
vida de maneira direta ou indireta. Por exemplo, no programa de
governo de combate à fome e à miséria, a política vai além dos
partidos políticos e destina-se às pessoas mais pobres do país.

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FILOSOFIA E PSICOLOGIA

FIGURA 7 – CAMPANHA DO BOLSA FAMÍLIA

FONTE: Disponível em: <http://www.sgc.goias.gov.br/upload/


fotos/2011-06/img_851_bolsa_familia_alta.jpg>. Acesso
em: 31 jul. 2011.

Muitas pessoas relacionam a política com a politicagem.


Quando alguém utiliza a política para o benefício próprio está
fazendo politicagem, pois desvirtua a finalidade da expressão
política, que é governar e gerir os destinos da cidade em vista do
bem comum. Mas nem sempre estas questões estão presentes

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Conhecimentos Gerais e Atualidades

entre os políticos e a sociedade, mas constantemente os meios


de comunicação apresentam situações em que políticos se
apropriaram do bem público em benefício próprio.

Vamos pensar um pouco? Na imagem que segue, a atitude


do político serve ao bem público ou a interesses particulares?

FIGURA 8 – POLITICAGEM

FONTE: Disponível em: <http://1.bp.blogspot.com/_E8OAOhRMlRI/


TMcSgPCvFKI/AAAAAAAAATc/syGdnhT9z2w/s1600/
POLITICAGEM2.jpg>. Acesso em: 31 jul. 2011.

Acredito que a sua conclusão foi de que a figura caracteriza


a atitude de um político que pensa apenas em seus interesses e
se esquece de trabalhar para o bem comum da sociedade. Este

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FILOSOFIA E PSICOLOGIA

tipo de político não desempenha sua função na sociedade e,


numa sociedade democrática o povo pode, através do voto ou
da pressão popular, excluí-lo da vida pública.

Além da politicagem que caracteriza muitos políticos, outro


aspecto importante a se destacar é o regime político. Por regime
político compreende-se o modo como o Estado se relaciona com
a sociedade, que pode ser de forma democrática ou ditatorial.

A palavra democracia é de origem grega: Demos significa


povo e cracia, poder, logo, democracia é o poder do povo. De
acordo com Chauí (1997, p. 430):

A democracia é, assim, reduzida a um regime político


eficaz, baseado na ideia de cidadania organizada
em partidos políticos e manifestando-se no processo
eleitoral de escolha dos representantes, na
rotatividade dos governantes e nas soluções técnicas
(e não políticas) para os problemas sociais.

Em suma, a democracia se caracteriza pela participação


política do povo, a divisão do poder político (Executivo,
Legislativo e Judiciário) e vigência do Estado de Direito (o
Estado respeita o direito dos cidadãos e os cidadãos respeitam
os direitos dos Estados).

Já a ditadura é uma palavra de origem latina, dictare,


que significa ditar ordens. Portanto, é uma forma de governo
em que os poderes estão nas mãos de um único indivíduo,
grupo ou partido político, não possibilitando a participação da
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Conhecimentos Gerais e Atualidades

sociedade nas decisões políticas.

Atualmente, de acordo com Cotrim (1996), um Estado


costuma ser considerado ditatorial quando apresenta as
seguintes características:

● elimina a participação popular nas decisões políticas;

● concentra a decisão política em uma única pessoa;

● inexistência do Estado de direito, ou seja, as leis só valem


para a sociedade, enquanto o ditador está acima das leis;

● fortalecimento dos órgãos de repressão que espalham


pânico na sociedade;

● controle dos meios de comunicação.

Para finalizar esta seção, leia a história em quadrinhos.

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FILOSOFIA E PSICOLOGIA

FIGURA 9 – DITADURA

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Conhecimentos Gerais e Atualidades

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