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FICHAMENTO DE CITAÇÃO

PROGRAMA DE RESIDÊNCIA PEDAGÓGICA / CAPES / UFS

Curso de Artes Visuais – Licenciatura

Título da Obra: Homo Ludens.

Autor: Johan Huizinga.

Aluno: Petherson Guilherme da Silva Fontes

Preceptor: Prof. Aline Oliveira (Colégio Estadual Atheneu Sergipense)

1. NATUREZA E SIGNIFICADO DO JOGO COMO FENÔMENO


CULTURAL

“Como a realidade do jogo ultrapassa a esfera da vida humana, é impossível que tenha
seufundamento em qualquer elemento racional, pois nesse caso, limitar-se-ia à
humanidade. Aexistência do jogo não está ligada a qualquer grau determinado de
civilização, ou a qualquer concepção do universo.” (P. 6)

“As grandes atividades arquetípicas da sociedade humana são, desde início,


inteiramente marcadas pelo jogo. Como por exemplo, no caso da linguagem, esse
primeiro e supremo instrumento que o homem forjou a fim de poder comunicar,
ensinar e comandar.” (P. 7)

“[...] É lícito dizer que o jogo é a não-seriedade, mas esta afirmação, além do fato de
nada nos dizer quanto às características positivas do jogo, é extremamente fácil de
refutar. Caso pretendamos passar de "o jogo é a não-seriedade" para "o jogo não é
sério", imediatamente o contraste tornar-se-á impossível, pois certas formas de jogo
podem ser extraordinariamente sérias. Além disso, é facílimo designar várias outras
categorias fundamentais que também são abrangidas pela categoria da "não-
seriedade" e não apresentam qualquer relação com o jogo. O riso, por exemplo, está
de certo modo em oposição à seriedade, sem de maneira alguma estar diretamente
ligado ao jogo.” (p. 8)

2. A NOÇÃO DE JOGO E SUA EXPRESSÃO NA LINGUAGEM

“Seja qual for a língua que tomemos como exemplo, sempre encontramos uma
tendência constante para enfraquecer a idéia do jogo, transformando este em uma
simples atividade geral que está ligada ao jogo propriamente dito apenas através de
um de seus diversos atributos, tais como a ligeireza, a tensão e a incerteza quanto ao
resultado, a alternância segundo uma certa ordem, a livre escolha etc.” (p. 30)

3. JOGO E A COMPETIÇÃO COMO FUNÇÕES CULTURAIS

“A essência do lúdico está contida na frase "há alguma coisa em jogo". Mas esse
"alguma coisa" não é o resultado material do jogo, nem o mero fato de a bola estar
no buraco, mas o fato ideal de se ter acertado ou de o jogo ter sido ganho.” (p. 39)

“A idéia de ganhar está estreitamente relacionada com o jogo. Todavia, para alguém
ganhar é preciso que haja um parceiro ou adversário; no jogo solitário não se pode
realmente ganhar, não é este o termo que pode ser usado quando o jogador atinge o
objetivo desejado.” (p. 40)

4. O JOGO E O DIREITO

“Procuramos distinguir no processo jurídico três formas lúdicas, comparando-o, sob


a forma que hoje lhe conhecemos, com os julgamentos da sociedade primitiva: jogo
de sorte, competição, batalha verbal. O julgamento continua sendo uma batalha
verbal, mesmo nos casos em que perdeu, de modo total ou apenas em parte,
efetivamente ou só em aparência, sua qualidade lúdica, devido ao progresso da
civilização. Para nosso assunto, contudo, interessa apenas a fase primitiva da batalha
verbal, fase em que é o fator agonístico, e não a idéia de justiça, que é decisivo. O que
predomina não são os argumentos jurídicos, meticulosos e deliberados, e sim as
invectivas mais insultuosas e veementes. Neste caso, o agon consiste quase
exclusivamente no esforço de cada um dos adversários para superar o outro na escolha
dos vitupérios, para sempre levar vantagem sobre outrem. Já tratamos dos torneios de
insultos como fenômeno social, em defesa da honra e do prestígio, sob a forma dos
iambos, do mufakhara, do mannjafnadr etc. Todavia, é difícil determinar
rigorosamente a passagem da joute de jac-tance propriamente dita para os concursos
de ultrajes como procedimento jurídico. Talvez o problema fique mais claro se
dedicarmos agora nossa atenção a um dos aspectos mais notáveis da íntima relação
entre a cultura e o jogo, a saber, os concursos de tambor e os concursos de canto dos
esquimós da Groenlândia. Trataremos deste assunto um pouco mais detidamente,
porque, neste caso, estamos perante uma prática ainda existente (ou que pelo menos
ainda recentemente o era), na qual a função cultural que conhecemos como jurisdição
não se separou ainda da esfera do jogo25.” (p. 64/65)

5. O JOGO E A GUERRA

“E não há dúvida que toda luta submetida a regras, devido precisamente a essa
limitação, apresenta as características formais do jogo. Podemos considerar a luta
como a forma de jogo mais intensa c enérgica, e ao mesmo tempo a mais óbvia e mais
primitiva. Os cachorros e os garotinhos lutam "de brincadeira", com regras que
limitam o grau de violência; apesar disso, nem sempre os limites da violência
permitida excluem o derramamento de sangue ou mesmo a morte dos combatentes.”
(P. 68)

“Muitas vezes, as duas idéias parecem inseparavelmente confundidas no espírito


primitivo. E não há dúvida que toda luta submetida a regras, devido precisamente a
essa limitação, apresenta as características formais do jogo. Podemos considerar a luta
como a forma de jogo mais intensa c enérgica, e ao mesmo tempo a mais óbvia e mais
primitiva. [...]” (p. 68)

6. O JOGO E O CONHECIMENTO

“Para o homem primitivo as proezas físicas são uma fonte de poder, mas o
conhecimento é uma fonte de poder mágico. Para ele lodo saber é um saber sagrado,
uma sabedoria esotérica capaz de obrar milagres, pois todo conhecimento está
diretamente ligado à própria ordem cósmica.” (P.79)

7. O JOGO E A POESIA

“O jogo de perguntas e respostas em forma de verso pode também ter uma função de
armazenamento de toda uma massa de conhecimentos úteis. Uma moça acaba de dizer
sim a seu noivo, e ambos pretendem abrir juntos uma loja. O noivo pede-lhe para lhe
dizer os nomes dos medicamentos, e todo o tesouro da farmacopéia se segue em verso.
A arte da aritmética, o conhecimento das diversas mercadorias e o uso do calendário
na agricultura também podem ser transmitidos de forma extremamente sucinta por
este processo. As vezes, os namorados interrogam-se mutuamente, sobre questões de
literatura. Fizemos notar acima que todas as formas de catecismo se relacionam
diretamente com o jogo dos enigmas. O mesmo é também o caso do exame, que
sempre desempenhou um papel extraordinariamente importante na vida social do
Extremo Oriente.” (p. 93)

8. A FUNÇÃO DA FORMA POÉTICA

“Não é apenas no lírico que se encontra o desejo de apresentar as idéias mais


mirabolantes possíveis. Esta é uma função lúdica típica, que se encontra tanto na vida
da criança como em certas doenças mentais.” (p. 104)

“O fato de a poesia, no sentido mais amplo da poiesis grega, sempre se encontrar


dentro da esfera do jogo, não significa que seu caráter essencialmente lúdico seja
sempre conscientemente mantido. A epopéia perde sua relação com o jogo a partir
do momento em que não se destina mais a ser recitada em ocasiões festivas, mas
apenas a ser lida. E também a lírica deixa de ser compreendida como função lúdica a
partir do momento em que desaparece sua união com a música.” (p. 105)

9. FORMAS LÚDICAS DA FILOSOFIA

“O fato de a poesia, no sentido mais amplo da poiesis grega, sempre se encontrar


dentro da esfera do jogo, não significa que seu caráter essencialmente lúdico seja
sempre conscientemente mantido. A epopéia perde sua relação com o jogo a partir
do momento em que não se destina mais a ser recitada em ocasiões festivas, mas
apenas a ser lida. E também a lírica deixa de ser compreendida como função lúdica a
partir do momento em que desaparece sua união com a música.” (p. 105)

“[...] Trata-se do velho jogo de perguntas e respostas, do concurso de enigmas, a


resposta com o sentido oculto numa fórmula. Em resumo, encontramos aqui uma vez
mais todas as características do jogo do saber, o mesmo dos antigos hindus, dos
árabes pré-islâmicos e dos escandinavos.” (p. 113)

10. FORMAS LÚDICAS DA ARTE

“[...] Conforme dissemos, o jogo situa-se fora da sensatez da vida prática, nada tem a
ver com a necessidade ou a utilidade, com o dever ou com a verdade.” (p. 115)

11. CULTURAS E PERÍODOS "SUB SPECIE LUDI"

“Passando da poesia, da música e da dança para as artes plásticas, verifica-se serem


menos evidentes as relações com o jogo. O espírito helênico viu com toda a clareza
a diferença fundamental existente entre os dois campos da produção e da experiência
estética, ao colocar algumas das artes sob a proteção das musas e negar essa dignidade
a algumas outras, entre as quais se contam aquelas que classificamos como artes
plásticas. [...] Os artistas plásticos não recebiam uma admiração e uma atenção que
se pudesse comparar à que era dedicada aos poetas. Não quer isto dizer que as honras
prestadas a um artista se medissem pelo fato de ele pertencer a uma Musa ou não, pois
conforme já vimos o status social do músico, regra geral, era muito baixo.” (p. 119)

“O exemplo mais claro da presença do elemento lúdico na sociedade romana é o grito


por panem et circenses. Para ouvidos modernos, a tendência dominante é detectar
neste grito pouco mais do que a necessidade de uma subvenção e de entrada livre nos
cinemas sentida por um proletariado desempregado. Mas seu significado é mais
profundo do que isso. A sociedade romana não podia viver sem os jogos. Estes eram
tão necessários para sua existência como o pão, pois eram jogos sagrados e o direito
que o povo a eles tinha era um direito sagrado.” (P. 128)

12. O ELEMENTO LÚDICO DA CULTURA CONTEMPORÂNEA

“Chegamos portanto, através de um caminho tortuoso, à seguinte conclusão: a


verdadeira civilização não pode existir sem um certo elemento lúdico, porque a
civilização implica a limitação e o domínio de si próprio, a capacidade de não tomar
suas próprias tendências pelo fim último da humanidade, compreendendo que se está
encerrado dentro de certos limites livremente aceites. De certo modo, a civilização
sempre será um jogo governado por certas regras, e a verdadeira civilização sempre
exigirá o espírito esportivo, a capacidade de fair play. O fair play é simplesmente a
boa fé expressa em termos lúdicos.” (P. 151)

“[...] Em toda consciência moral baseada no reconhecimento da justiça e da graça, o


dilema do jogo e da seriedade, até aqui insolúvel, deixará de poder ser formulado.”
(p. 152)

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