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nossa região, entendendo-as como pré-requisitos estruturantes tanto

da consolidação democrática quanto do novo programa de desenvol-


vimento que se deseja e necessita construir para o futuro.

1 A SUB-REPRESENTAÇÃO POLÍTICA DAS MULHERES:


UMA REALIDADE MUNDIAL

Parece-nos urgente estabelecermos a compreensão mais ampliada


de que representação política é nas democracias liberais contemporâ-
neas um direito, mas ainda não é de fato um instrumento efetivo de
inclusão política e de promoção da justiça social. Ao menos não o é
ainda para grupos historicamente subalternizados e que se encontram
totalmente distantes de nossas instituições representativas. Entendida
como um aspecto fundamental para a erradicação das injustiças que
afetam as sociedades ao redor do mundo, os novos conceitos e prá-
ticas da representação, atualmente, vêm facilitando em muitas partes
do planeta a ampliação da participação dessas minorias nos governos,
não só por si mesmas, mas aliadas à presença estratégica da sociedade
civil no âmbito de outros espaços democráticos (conselhos, fóruns,
conferências etc.), assegurando-se, assim, de um modo mais eficiente,
a possibilidade da inclusão de demandas históricas de distintos grupos
subalternos na agenda púbica de debates. O diagnóstico é feito por
Gurza Lavalle; Houtzager e Castello:

A representação política nas democracias contemporâ­neas sofreu trans-


formações profundas no último quartel do século XX: partidos políticos
de massa perderam sua centralidade como ordenadores estáveis das
identidades e preferências do eleitorado; a personalização midiática
da política sob a figura de lideranças plebiscitárias tornou-se um fe-
nômeno comum; mudanças no mercado de trabalho tornaram ins-
táveis e fluidas as grandes categorias popula­cionais outrora passíveis
de representação por sua posição na estrutura ocupacional; e, se isso
não bastasse, uma vaga de inovações institucionais tem levado a repre-
sentação polí­tica, no Brasil e pelo mundo afora, a transbordar as elei­
ções e o legislativo como lócus da representação, envere­dando para o
controle social e para a representação grupal nas funções executivas do
governo (2006, p. 49, grifos meus).

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É necessário ressaltar, contudo, que esse é ainda um processo em curso
em todo o mundo e muito especialmente no Brasil. Os dados a seguir
pretendem nos oferecer uma moldura contextual geral sobre a qual as re-
flexões a respeito da relevância de termos mais mulheres nos espaços de
poder, com vistas à construção de um novo projeto de desenvolvimen-
to, irão se alinhar. Como veremos, a situação de representação política
das mulheres ainda é muito baixa, mas importa considerar que esse tipo
específico de participação vem aumentando ao longo dos anos. Essas
mudanças têm se dado em função, especialmente, da capacidade de or-
ganização, mobilização e mudança de tais grupos subalternos na socieda-
de e, dentre eles, certamente, as mulheres (que quantitativamente nunca
são efetivamente uma minoria) têm tido um protagonismo indiscutível.
O debate teórico sobre a representação de grupos (e não apenas de
indivíduos que se organizam em torno de uma agenda alinhada ex-
clusivamente com o liberalismo) está estreitamente vinculado, por sua
vez, à emergência de novas demandas político-identitárias na cena
pública, o que vem se refletindo recentemente nas práticas políticas
concretas brasileiras. Seria necessário também verificar como esses
grupos se articulam com algumas formas recentes de organização – as
frentes e bancadas parlamentares organizadas nos parlamentos, por
exemplo – de modo a proporcionar um incremento na representa-
ção dos grupos excluídos dos processos políticos, promovendo tanto o
avanço do debate teórico sobre o tema, quanto um avanço de nossas
próprias instituições e cultura democráticas (PINHEIRO, 2010). Esse,
porém, não será o foco de nossa análise.
Importa destacar, entretanto, que foi pela constatação da existência de
muitas posições inferiorizadas/subalternizadas (mulheres, negros, homos-
sexuais, jovens, idosos etc.) no âmbito societário e político que a luta de
tais grupos passou a constituir um dos motores renovados das novas lutas
políticas que têm como meta a emancipação social e política, buscando,
pela afirmação das identidades subalternizadas e em nome delas, a su-
pressão das desigualdades que as oprimem. Além disso, a percepção do
compartilhamento dessa situação de opressão, muitas vezes, deu origem
a novas concepções acerca das identidades que, assim, propiciaram reno-
vado sentido às reivindicações e à luta política em grupo (YOUNG, 1990).
Vamos nos ater neste trabalho exclusivamente a um desses grupos: as
mulheres. Utilizaremos como parâmetro de comparação o indicador do

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percentual de mulheres eleitas para as Câmaras Baixas (no Brasil, a Câma-
ra de Deputados), pois esse é o indicador comparativo internacional que
mais aproxima sistemas políticos muito heterogêneos e diferenciados.
Parto do pressuposto de que a grave ausência das mulheres nos espa-
ços decisórios da política institucionalizada e parlamentar, assim como
aquilo que poderíamos designar por atributos da representação política
mediada por uma perspectiva crítica de gênero, é um fator determinan-
te da qualidade de nosso processo democrático e também do modelo
de desenvolvimento possível que vamos construir. Gostaria, assim, de
destacar que o processo de inserção política de mulheres e de uma
representação política mais justa para elas precisa ser questionado pelo
viés de gênero e feminista. Ou seja, entendo que o jogo político-repre-
sentativo que se faz hoje na quase ausência delas pode ser pensado
como um elemento comprometedor de nosso atual estágio de conso-
lidação do processo democrático e de desenvolvimento humano. En-
tende-se, assim, que esse não é apenas um “problema” das mulheres
brasileiras, mas de todos os brasileiros e, sobretudo, das atuais condições
de consolidação da democracia no Brasil. Alguns dados podem nos dar
um retrato fiel e o diagnóstico inicial do tamanho do nosso “problema”.
A Tabela 1 e o Gráfico 1 nos revelam que isso não se constitui, infe-
lizmente, em um problema exclusivamente da democracia represen-
tativa brasileira.

Tabela 1
Comparativo da distribuição mundial dos percentuais
de representação política de mulheres –
Grandes regiões, IPU/ONU, janeiro de 1997 e dezembro de 2010

Grandes regiões do mundo 1/1/1997 31/12/2010


Américas 12,9 22,5
Europa 13,8 22
Ásia 13,4 18,7
África Sub-Sahariana 10,1 19
Pacífico 9,8 13,2
Estados Árabes 3,3 11,1
Mundo 12,0 19,3
Fonte: União interparlamentar (IPU/ ONU). Apud ALVES, CAVENAGHI e MARTINE, 2011.

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Gráfico 1
Comparativo da distribuição mundial dos percentuais
de representação política de mulheres –
Grandes regiões, IPU/ONU, janeiro de 1997 e dezembro de 2010

Américas
25
20
Estados Árabes 15 Europa

5 1º de janeiro
0 de 1997
31 de dezembro
de 2010
Pacífico Ásia

África Sub-Sahariana

Fonte: IPU/ONU. Apud ALVES, CAVENAGHI e MARTINE, 2011.

Segundo a União Interparlamentar da Organização das Nações Uni-


das (ONU) (IPU/ONU, 2011), a situação mundial de representação
de mulheres é uma questão séria em todo o mundo: a média de mu-
lheres nos parlamentos é de apenas 19,3%, combinando-se as duas
câmaras – a alta (ou Senado, com 19,5%) e a baixa (ou Câmara de De-
putados, com 18,3%). Para alguns países mais desenvolvidos – levan-
do-se em conta as duas câmaras – essas médias se elevam: os países
nórdicos contam com 42,1% de mulheres parlamentares; nos países
americanos as cifras chegam a 22,5% e nos europeus (excetuando-se
os nórdicos) a representação feminina está em 20,3%. O Brasil, que
tem 8,6 % de mulheres parlamentares na Câmara de Deputados, em
uma perspectiva comparada internacional, está em situação dramáti-
ca, já que, por exemplo, perdemos até para os países árabes (11,4%).
Como veremos a seguir, nosso país ocupa posição lamentável no
ranking mundial: o 110º lugar em um conjunto de 135 países. Não
nos encontramos sequer em posição de liderança nas próprias Amé-
ricas; pelo contrário, figuramos em último lugar nesse outro ranking,
perdendo apenas para o Panamá, com o qual na verdade estamos

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tecnicamente empatados, já que estamos com 8,6% e eles com 8,5%.
No continente latino-americano somos, e em muito, superados pela
Costa Rica (38,6%), pela Argentina (38,5%) e pelo Equador (32,3%),
por exemplo. Certamente esses não são números dos quais devamos
nos orgulhar.

Tabela 2
Distribuição dos percentuais de representação política de mulheres –
Américas (135 países), ranking IPU/ONU, junho de 2011

Posição no ranking
mundial (IPU/ONU) País %
5 Cuba 43,2
11 Costa Rica 38,6
12 Argentina 38,5
20 Equador 32,3
24 Guiana 30
27 Trinidad e Tobago 28,6
32 México 27,5
35 Bolívia 26,2
38 Canadá 24,7
50 Peru 21,5
53 República Dominicana 20,8
54 Nicarágua 20,7
59 El Salvador 19
64 Honduras 18
66 São Vicente/Granadinas 17,4
68 Venezuela 17
70 Estados Unidos 16,7
75 Uruguai 14,3
80 Chile 14,2
85 Grenada 13,3
85 Jamaica 13,3
90 Colômbia 12,7

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(Continuação da Tabela 2)

Posição no ranking
mundial (IPU/ONU) País %
91 Paraguai 12,5
93 Bahamas 12,2
94 Guatemala 12
97 Haiti 11,1
97 Santa Lúcia 11,1
103 Barbados 10
105 Suriname 9,8
110 Brasil 8,6
111 Panamá 8,5
Fonte: IPU/ONU.

Gráfico 2
Distribuição dos percentuais de representação política de mulheres –
Américas (135 países), ranking IPU/ONU, junho de 2011.

40
35
30
25
20
%

15
10
5
0
Haiti
Cuba
Costa Rica
Argentina
Equador

Uruguai

Grenada
Nicarágua

Jamaica

Santa Lúcia
Canadá

Panamá
Guiana

Bolívia

El Salvador

Colômbia
Paraguai
Bahamas
Trinidad e Tobago

Honduras
São Vicente/Granadinas
México

Chile
Venezuela

Guatemala

Suriname
República Dominicana

Estados Unidos

Brasil

Belize
Perú

Barbados

Fonte: IPU/ONU.

A campanha eleitoral brasileira de 2010, apesar de ter elegido a


primeira mulher na nossa história para a presidência da República, foi
uma campanha eivada de denúncias, provas documentais, debates

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inflamados (nos meios de comunicação e nas redes sociais, sobretudo)
e acusações recíprocas de candidatos que, em temas polêmicos como
aborto, união estável entre homossexuais, direitos humanos etc., tiveram
parte substantiva de responsabilidade por uma abordagem extrema-
mente conservadora de parte, através do voto, do eleitorado brasi-
leiro. Até mesmo o efeito de um uso eleitoreiro da religião tornou-se
evidente nesse último pleito (PIERUCCI, 2011). Para aquilo que nos
interessa neste trabalho, cabe destacar que tal conservadorismo reavi-
vado do eleitorado brasileiro significou “a gota que faltava a derramar
do copo” para que o efeito desejável e ansiosamente esperado de
termos duas mulheres candidatas ao cargo máximo do país (e o fato
de termos eleito uma delas à presidência) não tivesse quase nenhum
impacto nos demais espaços das candidaturas no âmbito da eleição.
Apesar de o tema das mulheres na política ter estado nas frentes de
disputa de inúmeros espaços discursivo-eleitorais, o resultado final das
urnas ratificou a onipresente posição de subordinação das mulheres
até aqui descrita pelos dados internacionais.
Segundo Miguel (2011) é necessário que tenhamos em mente três
peculiaridades da legislação eleitoral brasileira no que tange às mulhe-
res: 1) as nossas cotas são para candidaturas e não para reservas de
cadeiras no parlamento; 2) a mesma legislação que instituiu as cotas
para mulheres nas listas de candidaturas em 1995 ampliou na mesma
proporção o número de candidaturas que cada partido ou coligação
no país poderia apresentar; 3) os partidos políticos e as coligações não
são obrigados a cumprir essas cotas, preenchendo os 30% de vagas nas
listas com mulheres, e quase nada, como veremos, tem conseguido
alterar esse quadro geral.
Como podemos facilmente vislumbrar na Tabela 3, confirmando
uma condição recorrente nas disputas eleitorais brasileiras anteriores,
nossos partidos políticos, em sua quase integralidade, nem sequer
cumpriram o que está consagrado na Legislação Eleitoral Brasileira,
que é a previsão legal de “preencher” 30% das listas de candidatu-
ras com mulheres (ou com um dos sexos que esteja em desvanta-
gem política: sempre as mulheres). Para a Câmara de Deputados, em
2010, apenas o PCO (lançando o expressivo número de duas candi-
datas) cumpriu com a legislação das cotas, perfazendo pífios 33,3%
de candidatas. Nenhum outro partido cumpriu com essa legislação,

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nem mesmo os partidos mais importantes na disputa, o PT (21,33%),
o PSDB (20,65%) e o PMDB (16,06%).
As três peculiaridades relativas à legislação citadas juntamente com
um sistema eleitoral de representação proporcional em distritos plu-
rinominais com listas abertas (que incentivam a competição interna
entre os candidatos de um mesmo partido ou coligação), têm clara
e abertamente beneficiado as candidaturas masculinas, revelando e
mantendo um padrão já arraigado de que os homens largam em gran-
de vantagem em relação às mulheres.
O que observamos no pleito de 2010, então e mais uma vez, foi o
espaço ocupado na sua integralidade pelas candidaturas masculinas,
sendo que, novamente, as mulheres, nem de longe, tiveram propor-
cionalidade com os homens nessa disputa. Cabe lembrar, todavia, que
é expressiva a participação feminina como eleitora. Nós constituímos
51,8% de todo o eleitorado no país e, considerando-se todas as candi-
daturas de 2010, em todos os cargos que estiveram em disputa nessa
data, fomos apenas, na média final, 20,34% das candidaturas. Esse é
um primeiro aspecto importante para balizar as críticas que se podem
fazer ao nosso sistema político em uma perspectiva crítica da parti-
cipação e representação das mulheres. Por que, apesar de termos,
desde o ano de 1995, criado uma legislação específica para as can-
didaturas femininas, os nossos partidos continuam sem cumpri-la e
os nossos tribunais eleitorais continuam por sacramentar listas ilegais?
Esse é apenas o começo dos problemas.
Em pesquisa realizada com lideranças partidárias dos mais diversos
matizes político-ideológicos (MATOS, 2009) já identifiquei um dos ar-
gumentos mais utilizados para justificar tais atitudes: “São as mulheres
que não querem concorrer” e “elas não têm ambição pela política.”
Nossos dados não corroboram essas afirmações, ao menos não em
sua inteireza. Se é verdade que existe uma parcela significativa de
mulheres nos partidos políticos que não está efetivamente disposta a
colocar seu nome na disputa, o que ainda é preciso compreender e
explicar com urgência são os motivos que levam tais mulheres a essa
relativa desistência. Também entrevistamos as mulheres candidatas e
a realidade por elas revelada é muito diversa do argumento hege-
mônico de suas lideranças (masculinas) partidárias, o da ausência de
ambição política. Com certeza há inúmeros desestímulos – imediatos

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e diretos, e outros subentendidos, subterrâneos – que convergem per-
versamente para essa situação. Para simplificar os argumentos, nossas
candidatas em Minas Gerais afirmaram experiências de absoluto de-
sinteresse e descaso dos partidos em relação a suas candidaturas. Além
disso, todas as mulheres (inclusive as potenciais candidatas que estão
filiadas aos partidos políticos) continuam acumulando as atribuições
domésticas de cuidados com a família – filhos e marido – e o domicí-
lio, com as jornadas no mercado de trabalho (para algumas, devemos
também incluir a jornada da escolarização nessa contabilidade, pois,
como sabemos, hoje, em todos os níveis de ensino, as mulheres são
efetivamente a maioria). Assim, acumulando no mínimo duas, e com
frequência três ou quatro jornadas de trabalho, as mulheres têm, real-
mente, motivos suficientes para não se proporem à aventura eleitoral.
Mas, apesar disso, cabe esclarecer que inúmeras delas, apesar das
condições rigorosamente desiguais em que entram na disputa, se
aventuram em uma carreira política.

Tabela 3
Candidaturas para a Câmara dos Deputados no Brasil –
Partido/sexo/cotas

Partidos Mulheres Homens Total Candidatos


homens que
Nº % Nº % excedem
70%
DEM 21 10,82% 173 89,18% 194 124
PC do B 33 26,19% 93 73,81% 126 16
PCB 1 4,55% 21 95,45% 22 19
PCO 2 33,33% 4 66,67% 6 0
PDT 44 16,30% 226 83,7 % 270 123
PHS 26 14,69% 151 85,31% 177 90
PMDB 57 16,06% 298 83,94% 355 165
PMN 55 25,00% 165 75,00% 220 37
PP 36 17,31% 172 82,69% 208 88
PPS 29 19,59% 119 80,41% 148 51
PR 35 20,35% 137 79,65% 172 55
PRB 29 20,42% 113 79,58% 142 45

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(Continuação da Tabela 3)
Partidos Mulheres Homens Total Candidatos
homens que
Nº % Nº % excedem
70%
PRP 20 17,86% 92 82,14% 112 45
PRTB 16 11,85% 119 88,15% 135 82
PSB 65 21,45% 238 78,55% 303 86
PSC 37 17,87% 170 82,13% 207 84
PSDB 57 20,65% 219 79,35% 276 86
PSDC 11 16,42% 56 83,58% 67 30
PSL 35 22,29% 122 77,71% 157 40
PSOL 60 20,69% 230 79,31% 290 90
PSTU 8 23,53% 26 76,47% 34 7
PT 74 21,33% 273 78,67% 347 100
PT do B 31 20,81% 118 79,19% 149 46
PTB 71 23,43% 232 76,57% 303 66
PTC 46 17,97% 210 82,03% 256 103
PTN 25 20,83% 95 79,17% 120 37
PV 83 21,28% 307 78,72% 390 113
TOTAL 1.007 19,42% 4.179 80,58% 5.186 1.830
Fonte: Dados Cfêmea – Eleições 2010 (TSE – Dados preliminares de 1° de outubro de 2010).

As estatísticas gerais, sem termos ainda procedido a uma análise a


respeito do cumprimento da nova lei eleitoral pelos partidos em cada
estado2, mostram que os dados nacionais, nas eleições para depu-
tado federal, foram: 4.137 candidatos homens (79,62%) contra 994
2
  Um dos eventos recentes mais importantes foi a aprovação, em final de 2009,
do Projeto de Lei nº 5.498/2009, referente à “mini-reforma eleitoral”. As prin-
cipais demandas presentes no Projeto foram: i) a reserva de 5% do Fundo Parti-
dário para ser aplicada na formação política das mulheres; ii) o estabelecimento
do percentual de 10% do tempo de propaganda partidária para utilização pe-
las mulheres candidatas; iii) a obrigatoriedade, em vez da simples reserva, do
preenchimento pelos partidos do mínimo de 30% e do máximo de 70% para
candidaturas de cada sexo; e iv) a sanção de 2,5% a mais do Fundo Partidário
destinados à formação das mulheres, caso o partido não cumpra o preenchi-
mento das cotas. As medidas visam ao estímulo da participação das mulheres na
vida política e ao aumento progressivo das candidaturas femininas.

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candidatas mulheres (19,38%). Para o cargo de deputado estadual,
os números não foram mais animadores: 9.808 candidatos homens
(79,28%) e 2.563 candidatas mulheres (20,72%). Situação um pou-
co menos desigual foi encontrada no Distrito Federal, em que foram
apresentados para o cargo de deputado distrital 612 candidatos ho-
mens (74,28%) e 208 mulheres (25,72%).
Mesmo sendo descumprida a lei, nas eleições de 2010 houve au-
mento expressivo de candidatas. Em 2006, elas eram 12,71% do total
e em 2010 passaram a ser 19,38% do total, o que rendeu o maior nú-
mero de mulheres candidatas da história democrática brasileira. Entre-
tanto, tal crescimento não foi suficiente para produzir um incremento
da efetiva representação feminina, pois a proporção de candidatas
eleitas não aumentou nessa mesma intensidade. Inclusive, feita uma
comparação entre as candidaturas femininas e masculinas do último
período, é possível perceber que a proporção maior de candidaturas
femininas foi considerada como não apta ou impugnada pelo Tribu-
nal Superior Eleitoral (TSE): entre as candidaturas de mulheres, 24,8%
foram impugnadas, enquanto entre as candidaturas dos homens, esse
índice não chegou a 11%. Como não acreditamos que as candida-
turas femininas são “piores” que as masculinas, esse fenômeno pode
nos fazer ver ou pode mesmo nos indicar mais um descompromisso
dos partidos para com as candidaturas femininas, revelando que a do-
cumentação dessas candidaturas pode ter sido protocolada de forma
bem mais precária pelos partidos do que a documentação das can-
didaturas masculinas. Esse é mais um elemento palpável a confirmar
aquilo que as candidatas entrevistadas também já haviam destacado.
Um formato descuidado em relação às inscrições femininas sugere,
mais uma vez, a tentativa de cumprimento meramente formal da nova
lei de cotas. Muitas entrevistadas relataram o desinteresse dos partidos
por elas e por seus potenciais eletivos insistindo em afirmar que não
há ainda no país uma real disposição dos partidos em apresentar e
apostar na viabilidade de tais candidaturas.
Nossa pesquisa foi realizada com candidatas do estado de Minas
Gerais. A Tabela 4 revela o padrão regional e estadual brasileiro em
relação às candidaturas femininas. O que se ressalta mais uma vez é
o volume pouco expressivo de candidaturas femininas, que se distri-
bui mais ou menos de forma homogênea por todo o país. Apenas no

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estado do Mato Grosso do Sul as candidaturas femininas alcançaram
o patamar acima dos 30% legalmente previstos – 32,86%. Estados ab-
solutamente cosmopolitas, modernizados e desenvolvidos, como São
Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais, apresentaram índices baixos de
candidaturas femininas: 19,53%, 25% e 12,99% respectivamente. Os
estados de Pernambuco (7,87%), Goiás (9,02%) e da Bahia (11,46%)
foram aqueles em que esses valores foram os mais irrisórios do país.

Tabela 4
Candidaturas para a Câmara dos Deputados no Brasil –
Estado, número de cadeiras, sexo e cotas

Estado Candidaturas Masculina Cotas % Feminina Cotas % Cadeiras


AC 37 29 78,3% 8 21,62% 8
AL 65 53 81,54% 12 18,46% 9
AM 55 42 76,36% 13 23,64% 8
AP 76 55 72,37% 21 27,63% 8
BA 253 224 88,54% 29 11,46% 39
CE 121 96 79,34% 25 20,66% 22
DF 100 78 78,00% 22 22,00% 8
ES 72 60 83,33% 12 16,67% 10
GO 122 111 90,98% 11 9,02% 17
MA 152 133 87,50% 19 12,50% 18
MG 531 462 87,01% 69 12,99% 53
MS 70 47 67,14% 23 32,86% 8
MT 77 57 74,03% 20 25,97% 8
PA 125 103 82,40% 22 17,60% 17
PB 79 66 83,54% 13 16,46% 12
PE 178 164 92,13% 14 7,87% 25
PI 93 70 75,27% 23 24,73% 10
PR 289 228 78,89% 61 21,11% 30
RJ 800 600 75,00% 200 25,00% 46
RN 73 62 84,93% 11 15,07% 8
RO 73 55 75,34% 18 24,66% 8
RR 66 50 75,76% 16 24,24% 8

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(Continuação da Tabela 4)

Estado Candidaturas Masculina Cotas % Feminina Cotas % Cadeiras


RS 275 211 76,73% 64 23,27% 31
SC 148 112 75,17% 37 24,83% 16
SE 58 50 86,21% 8 13,79% 8
SP 1157 931 80,47% 226 19,53% 70
TO 40 30 75,00% 10 25,00% 8
TOTAL 5.186 4.179 80,58% 1,007 19,42%
Fonte: Dados Cfêmea – Eleições 2010 (TSE – Dados preliminares de 1° de outubro de 2010).

Todavia, apesar dos desincentivos e da frequente invisibilidade den-


tro das estruturas partidárias e nas candidaturas, há um número ex-
pressivo de mulheres que entram na disputa eleitoral. E, mais uma vez
enfrentando adversidades, as mulheres candidatas têm, no âmbito do
eleitorado brasileiro, outro conjunto intocado e nada debatido de obs-
táculos. Para nosso esclarecimento, o eleitorado brasileiro está assim
distribuído, sendo as mulheres sua efetiva maioria:

Tabela 5
O eleitorado por sexo no Brasil (2010)

Brasil Mulheres Homens % de Mulheres % de Homens


135.804.433 70.373.971 65.282.009 51,82% 48,07%
Fonte: Tribunal Superior Eleitoral – julho de 2010. Os percentuais não incluem os eleitores que não in-
formaram o sexo.

Se a proporção de candidaturas femininas é historicamente pequena


no país, a proporção de presença feminina se agrava se considerarmos
as que realmente conseguem se eleger. Nos 1.682 cargos em disputa
no ano de 2010, apenas 195 (11,6%) mulheres se elegeram ou foram
para a disputa do segundo turno. As tabelas 6 e 7 mostram a situação
das mulheres eleitas a partir de um recorte partidário, e depois terri-
torial, brasileiro. Como veremos, nas eleições de 2010, apenas dois
partidos elegeram mais que 30% de mulheres. São eles o PCdoB, com
40% (seis mulheres em um total de 15 eleitos), e o PTB, com 33,33%
(uma mulher em um total de apenas três eleitos). Mais uma vez, os
partidos expressivos das disputas nacionais não tiveram um desem-

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penho sequer razoável: o PT elegeu apenas 10,23% de mulheres, o
PSDB apenas 5,56% e o PMDB 8,97%.

Tabela 6
Eleitos para a Câmara dos Deputados no Brasil – partido/sexo

Partidos Mulheres Homens Total


Nº % Nº %
DEM 2 4,65% 41 95,35% 43
PC do B 6 40,00% 9 60,00% 15
PCB 0 0,00% 0 0,00% 0
PCO 0 0,00% 0 0,00% 0
PDT 2 7,14% 26 92,86% 28
PHS 0 0,00% 2 100,00% 2
PMDB 7 8,97% 71 91,03% 78
PMN 1 25,00% 3 75,00% 4
PP 4 9,76% 37 90,24% 41
PPS 0 0,00% 12 100,00% 12
PR 2 4,76% 40 95,24% 42
PRB 0 0,00% 7 100,00% 7
PRP 0 0,00% 2 100,00% 2
PRTB 0 0,00% 2 100,00% 2
PSB 4 11,76% 30 88,24% 34
PSC 2 11,76% 15 88,24% 17
PSDB 3 5,56% 51 94,44% 54
PSDC 0 0,00% 0 0,00% 0
PSL 0 0,00% 1 100,00% 1
PSOL 0 0,00% 3 100,00% 3
PSTU 0 0,00% 0 0,00% 0
PT 9 10,23% 79 89,77% 88
PT do B 1 33,33% 2 66,67% 3
PTB 1 4,76% 20 95,24% 21
PTC 0 0,00% 1 100,00% 1
PTN 0 0,00% 0 0,00% 0
PV 1 6,67% 14 93,33% 15
TOTAL 45 8,77% 468 91,23% 513
Fonte: Dados Cfêmea – Eleições 2010 (TSE – Dados de 1° de dezembro de 2010).

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Quando observamos esse mesmo desempenho nos estados da fe-
deração, vemos que foi apenas o Amapá (37,5%, perfazendo três
mulheres eleitas entre oito) e o Espírito Santo (40%, perfazendo qua-
tro mulheres eleitas entre dez) que elegeu mais de 30% de mulheres
para a Câmara dos Deputados. Os estados de São Paulo, Rio de Janei-
ro e Minas Gerais tiveram um desempenho inacreditável: elegeram
apenas 8,57% (seis mulheres entre setenta eleitos); 8,70% (quatro
mulheres entre 46 eleitos) e 1,89% (uma mulher entre 53 eleitos),
respectivamente.

Tabela 7
Eleitos para a Câmara dos Deputados no Brasil – estado/sexo

UF Mulheres Homens Total


Nº % Nº %
AC 2 25,005 6 75,00% 8
AL 2 22,22% 7 77,78% 9
AM 1 12,50% 7 87,50% 8
AP 3 37,50% 5 62,50% 8
BA 1 2,56% 38 97,44% 39
CE 1 4,55% 21 95,45% 22
DF 2 25,00% 6 75,00% 8
ES 4 40,00% 6 60,00% 10
GO 2 11,76% 15 88,24% 17
MA 1 5,56% 17 94,44% 18
MG 1 1,89% 52 98,11% 53
MS 0 0,00% 8 100,00% 8
MT 0 0,00% 8 100,00% 8
PA 1 5,88% 16 94,12% 17
PB 1 8,33% 11 91,67% 12
PE 2 8,00% 23 92,00% 25
PI 1 10,00% 9 90,00% 10
PR 2 6,67% 28 93,33% 30

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(Continuação da Tabela 7)
UF Mulheres Homens Total
Nº % Nº %
RJ 4 8,70% 42 91,30% 46
RN 2 25,00% 6 75,00% 8
RO 1 12,50% 7 87,50% 8
RR 1 12,50% 7 87,50% 8
RS 2 6,45% 29 93,55% 31
SC 1 6,25% 15 93,75% 16
SE 0 0,00% 8 100,00% 8
SP 6 8,57% 64 91,43% 70
TO 1 12,50% 7 87,50% 8
TOTAL 45 8,77% 468 91,23% 513
Fonte: Dados Cfêmea – Eleições 2010 (TSE – Dados de 1° de dezembro de 2010).

Como vemos, a situação de sub-representação feminina em nosso


país é uma questão grave e significativa no que tange ao jogo demo-
crático. Com um número tão reduzido de candidatas e outro ainda
mais baixo de mulheres eleitas, o campo político segue sendo um
reduto masculino.
Todavia, sabemos também que a inclusão das mulheres na esfera
pública, contrariando os estereótipos e preconceitos que relegavam
historicamente as mulheres aos domínios do privado doméstico e
da intimidade e os homens ao mundo “de fora de casa”, do públi-
co, foi um dos maiores avanços democráticos vivenciados no século
que passou. O acesso maciço das mulheres aos bancos escolares
e ao mercado de trabalho, sobretudo em termos quantitativos, no
entanto, deve ser ponderado com desníveis em dimensões quali-
tativas, já que, como sabemos, ainda perseveram muitas estratégias
de opressão, discriminação e preconceito. A situação das mulheres
candidatas é emblemática do processo inconcluso de ocupação fe-
minina de nossa esfera pública. E especial destaque deve ser dado
ao fato de que uma entrada e participação efetivas dos homens na
esfera doméstica e privada é ainda algo muito distante da nossa rea-
lidade brasileira. Destaco, assim, que o jogo político-representativo
que se faz hoje na quase ausência das mulheres de seu cenário é um

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elemento comprometedor de nosso atual estágio de consolidação
do processo democrático e também de nosso projeto de desenvolvi-
mento. Mas por quê?
Defendo o argumento de que um maior e mais significativo núme-
ro de mulheres eleitas para a elite política brasileira importa, mas não
é suficiente, enquanto mera quantidade, para transformar de fato
os padrões profundamente arraigados de desigualdades de gênero
no âmbito do trabalho político. Torna-se igualmente necessário e
urgente que ocorra um processo simultâneo de abertura desse cam-
po aos interesses e demandas das mulheres organizadas. Entendo e
reafirmo que tal dinâmica de exclusão política feminina não é um
fenômeno isolado e/ou à parte das demais desigualdades que cer-
cam as temáticas de gênero e as mulheres em nosso país. Pelo con-
trário, essas desigualdades se interconectam de modo que a quase
exclusão política das mulheres das elites políticas brasileiras alimenta
e é alimentada pela permanência de outras esferas de dominação
masculina que são simultaneamente experimentadas.
A seguir, apresento alguns dos argumentos centrais que têm sido
utilizados na literatura pertinente para destacar a relevância e im-
portância que pode ter uma maior ocupação dos espaços políticos
pelas mulheres. A contribuição das mulheres, em todo o mundo,
tem sido destacada como fundamental aos processos renovados de
desenvolvimento, especialmente em países ainda não plenamente
desenvolvidos.

2 POR QUE FARIA DIFERENÇA TERMOS MAIS


MULHERES NOS ESPAÇOS DE PODER?

Adoto aqui uma postura que claramente pode (e deve) ser alinha-
da às abordagens recentes das teorias feministas. Nesse sentido, é
preciso afirmar que o campo feminista de gênero (MATOS, 2008) é
um espaço de lutas em distintas fronteiras que são constantemente
disputadas. Os movimentos feministas e de mulheres, em todo o
mundo e também aqui no Brasil, têm formulado palavras de ordem
ou bandeiras – frases que em poucas palavras expressam grandes
conteúdos, projetos e propostas do movimento. Essas bandeiras são
criadas para servirem de referência às mulheres em todo o mun-

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