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Instalações Industriais

Material Teórico
Dimensionamento de Condutores pelo Critério da Proteção Contra
Curto-Circuito e Determinação da Corrente de Curto-Circuito
Presumida (Método Simplificado)

Responsável pelo Conteúdo:


Prof. Me. Robmilson Simões Gundim

Revisão Textual:
Prof.ª Dr.ª Selma Aparecida Cesarin
Dimensionamento de Condutores pelo Critério da Proteção
Contra Curto-Circuito e Determinação da Corrente de
Curto-Circuito Presumida (Método Simplificado)

• Conceitos sobre Proteção Contra Curto-Circuito;


• Condições de Proteção Contra Curto-Circuito;
• Localização dos Dispositivos de Proteção Contra Curto-Circuito;
• Deslocamento do Dispositivo de Proteção;
• Exemplo de Dimensionamento pelo
Critério de Proteção Contra Curto-Circuito;
• Cálculo Simplificado de Corrente de Curto-Circuito Presumida;
• Considerações Preliminares;
• Outras Considerações;
• Resolução para a Determinação da ICS.

OBJETIVO DE APRENDIZADO
• Complementar a aplicar os conceitos fundamentais sobre dimensionamento de
condutores conforme a ABNT NBR 5410:2004, sobretudo referente à proteção contra
curto-circuito em linhas elétricas.
Orientações de estudo
Para que o conteúdo desta Disciplina seja bem
aproveitado e haja maior aplicabilidade na sua
formação acadêmica e atuação profissional, siga
algumas recomendações básicas:
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material e local de
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Procure manter indicações
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horário fixo aprendizagem.
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da sua rotina. Por exemplo, você poderá determinar um dia e
horário fixos como seu “momento do estudo”;

Procure se alimentar e se hidratar quando for estudar; lembre-se de que uma


alimentação saudável pode proporcionar melhor aproveitamento do estudo;

No material de cada Unidade, há leituras indicadas e, entre elas, artigos científicos, livros, vídeos
e sites para aprofundar os conhecimentos adquiridos ao longo da Unidade. Além disso, você tam-
bém encontrará sugestões de conteúdo extra no item Material Complementar, que ampliarão sua
interpretação e auxiliarão no pleno entendimento dos temas abordados;

Após o contato com o conteúdo proposto, participe dos debates mediados em fóruns de discus-
são, pois irão auxiliar a verificar o quanto você absorveu de conhecimento, além de propiciar o
contato com seus colegas e tutores, o que se apresenta como rico espaço de troca de ideias e
de aprendizagem.
UNIDADE Dimensionamento de Condutores pelo Critério da Proteção
Contra Curto-Circuito e Determinação da Corrente de Curto-Circuito
Presumida (Método Simplificado)

Conceitos sobre Proteção


Contra Curto-Circuito
Em continuidade aos estudos sobre dimensionamento de condutores, vamos re-
ver, mais uma vez, de uma forma sucinta, os critérios estabelecidos na Norma
ABNT NBR 5410:2004:
• Seção mínima;
• Capacidade de condução de corrente;
• Queda de tensão;
• Sobrecarga;
• Curto-circuito;
• Contato indireto (TN).

E, mais uma vez, vale reforçar que, como a própria Norma estabelece, a seção
dos condutores deve ser determinada de forma que sejam atendidos, no mínimo,
todos os critérios.

Sendo assim, apesar de já terem sido estudados praticamente todos os critérios,


inclusive o dimensionamento do dispositivo de proteção, de forma prática, que
protegerá contra sobrecarga e curto-circuito, não foi possível, até o momento, a
determinação da corrente de curto-circuito presumida e consequente verificação da
capacidade de corrente de curto-circuito do Dispositivo.

Por isso, neste Material, será retomado o estudo de dimensionamento de condu-


tores sob o ponto de vista do critério da corrente de curto-circuito presumida e da
capacidade de ruptura do dispositivo.

Condições de Proteção Contra Curto-Circuito


Conforme o subitem 4.1.3.2 da Norma 5410, todo circuito deve ser protegido
por dispositivos que interrompam a corrente quando percorrer uma corrente de
curto-circuito.

A interrupção da corrente de curto-circuito deve acontecer em um tempo su-


ficientemente curto para que os condutores não atinjam os valores estabelecidos
como os reapresentados e destacados a seguir na Tabela 1, conforme Tabela 35 da
Norma 5410.

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Tabela 1 – Temperaturas características dos condutores
Temperatura máxima
Temperatura limite de Temperatura limite de
Tipo de isolação para serviço contínuo
sobrecarga (condutor) °C curto-circuito (condutor) °C
(condutor) °C
Policloreto de vinila
70 100 160
(PVC) até 300 m2
Policloreto de vinila
70 100 140
(PVC) maior que 300 m2
Borracha
90 130 250
etileno-propileno (EPR)
Polietileno reticulado (XLPE) 90 130 250
Fonte: ABNT NBR 5410:2004, p. 100

Para a correta proteção contra correntes de curto-circuito, a princípio, devem


ser determinadas as correntes de curto-circuito presumidas simétricas, em todos os
pontos em que forem necessários.

O dispositivo definido para proteger os condutores de um circuito deve estar ade-


quadamente coordenado com os condutores. Para isso, a Norma 5410 estabelece
duas condições:
• A capacidade de interrupção do dispositivo (ICN) deve ser no mínimo igual à
corrente de curto-circuito presumida (IK), no ponto em que for instalado. Só é
possível um Dispositivo com (ICN) menor a montanta se existir outro dispositivo
com a (ICN) necessária e que esteja coordenado com o anterior;
• A integral de Joule que o Dispositivo permite passar deve ser igual ou inferior
à integral de Joule necessária para aquecer o condutor desde a temperatura
máxima para serviço contínuo até a temperatura limite de curto-circuito, indi-
cado pela seguinte expressão:

 I 2 � t � dt  K 2 S� 2 �

Onde:

I 2 t dt é a integral de Joule  energia  que o dispositivo de


 proteção deixa passar em ampères quadrados-segundo

K2 S2 é a integral de Joule (energia) capaz de elevar a temperatura do condutor


desde a temperatura máxima para serviço contínuo até a temperatura de curto-cicuito.

O valor K é indicado na Tabela 30 da Norma 5410 e S é seção do condutor


em mm2.

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UNIDADE Dimensionamento de Condutores pelo Critério da Proteção
Contra Curto-Circuito e Determinação da Corrente de Curto-Circuito
Presumida (Método Simplificado)

Tabela 2 – Valores de K para condutores com isolação de PVC, EPR ou XLPE


Isolação do condutor
PVC
EPR/XLPE
≤ 300 mm2 > 300 mm2
Material do condutor
Temperatura
Inicial Final Inicial Final Inicial Final
70°C 160°C 70°C 140°C 90°C 250°C
Cobre 115 103 143
Alumínio 76 68 94
Emendas soldadas em condutores de cobre 115 – –
Notas
1. Outros valores de k, para os casos mencionados abaixo, ainda não estão normalizados:
– condutores de pequena seção (principalmente para seções inferiores a 10 mm2);
– curtos-circuitos de duração superior a 5 s;
– outros tipos de emendas nos condutores;
– condutores nus.
2. Os valores de k indicados na tabela são baseados na IEC 60724.
Fonte: ABNT NBR 5410:2004, p. 68

Dessa forma, pode-se ilustrar a condição geral de proteção contra curto-circuito


como segue:
ICN ≥ IK
∫ I2 t dt ≤ K2 S2
DP
Dispositivo de Proteção

IK
(IN, ICN, I2t) (S, K2 S2)
Figura 1 – Condição geral de proteção contra curto-circuito

Além do exposto, para curtos-circuitos de qualquer duração em que a assimetria


da corrente não seja significativa e para circuitos assimétricos de duração 0,1 s ≤ t
≤ 5 s, pode ser utilizada a seguinte relação simplificada:

I 2 � t � ≤ K 2 S� 2

Onde:

I é a corrente de curto-circuito presumida simétrica (IK)

t é o tempo de duração do curto-circuito em segundos

Vale lembrar que o parâmetro de 5 segundos é uma referência importante, pois


a temperatura em regime de curto-circuito é valor máximo no qual a isolação
pode permanecer por apenas 5 segundos ao longo da vida do condutor.

Sendo:
• p/ isolação em PVC . . . . . . . . . . . . . . . . 160°C;
• p/ isolação em EPR . . . . . . . . . . . . . . . . 250°C.

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Localização dos Dispositivos
de Proteção Contra Curto-Circuito
No subitem 5.3.5.2 da Norma 5410 está estabelecido que devem ser providos
dispositivos de proteção contra curtos-circuitos em todos os pontos em que uma
mudança (por exemplo, redução de seção) resulte em alteração do valor da capaci-
dade de condução de correntes dos condutores.

No caso da Figura 2, a seguir, os alimentadores têm a mesma seção nominal;


logo, não se faz necessário nenhum dispositivo de proteção contra curtos-circuitos
no ponto em que é realizada a emenda de derivação.

QG
Mesma seção nominal Emendas de derivação

QD1 QD2

Figura 2 – Ilustração de circuitos com mesma seção nominal


Fonte: Adaptado de Getty Images

No entanto, se houver seções diferentes, a regra geral determina que deve ser
instalado um Dispositivo na emenda.

QG Alimentador 1 Alime
Alimentador 3 Alimentador 3
35 mm² 10
10mm² 10mm²

125 A
100 A 50 A

QD1 QD2
Figura 3 – Ilustração de circuitos com seções nominais diferentes
Fonte: Adaptado de Getty Images

Assim, supondo um circuito como o representado na Figura 3, com alimenta-


dores com seções nominais diferentes, ou seja, o alimentador 1 com 35mm², o
ramal alimentador 2, com 25mm² e o ramal alimentador 3, com 10mm², faz-se

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Contra Curto-Circuito e Determinação da Corrente de Curto-Circuito
Presumida (Método Simplificado)

necessária­a instalação de Dispositivos de proteção em cada derivação; logo, nesse


caso, definidos de forma geral como 125A, 100A e 50A.

Esses casos com proteções nas derivações são muito comuns em instalações
industriais e, normalmente, utilizam as linhas elétricas tipo busways.

Mas e se não houver possibilidade de inserir dispositivo de proteção nas derivações? A Norma
Explor

prevê essa condição?

Deslocamento do Dispositivo de Proteção


No item 5.3.5.2.2 da “5410”, prescreve-se que o Dispositivo para proteger uma
linha elétrica contra curto-circuito pode não ser posicionado exatamente no ponto
de derivação, até porque, dependendo do tipo de instalação, pode ser inviável fi-
sicamente, mas sim, deslocado ao longo do percurso da linha, se a parte da linha
compreendida entre a mudança de seção e a localização pretendida para o Dispo-
sitivo de proteção atender simultaneamente aos seguintes requisitos:
• Seu comprimento não exceder 3 metros;
• Ser instalada de modo a reduzir ao mínimo o risco de curto-circuito;
• Não estar situada nas proximidades de materiais combustíveis.

A Figura 4, a seguir, apresenta uma situação na qual se verifica que se o compri-


mento do condutor entre a derivação e o Quadro de Distribuição for menor que 3
metros, as proteções contra sobrecargas podem ser instaladas dentro dos Quadros:

QG Alimentador 1 Alime
Alimentador 2 Alimentador 3
35 mm² 25 mm² 10 mm²

125 A

100 A 50 A

LMÁX = 3 m
Nenhuma derivação;
Nenhuma tomada de corrente;
Longe de materiais combustíveis.
QD1 QD2
Figura 4 – Ilustração do deslocamento dos Dispositivos de proteção
Fonte: Adaptado de Getty Images

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Ainda conforme prescrito no subitem 5.3.5.2.2, alínea b), em alternativa à situ-
ação descrita, é possível não instalar um Dispositivo de proteção no ponto de de-
rivação caso o condutor de seção reduzida esteja garantidamente protegido contra
curtos-circuitos por um dispositivo de proteção localizado a montante.

A Figura 5, a seguir, ilustra tal possibilidade, mas vale ressaltar que, para
que isso seja possível, é preciso que os requisitos previstos no subitem 5.3.5.5.2
da NBR 5410 relativos à integral de Joule dos dispositivos e dos condutores
sejam atendidos.

Alimentador 1 Alimentador 2 Alimentador 3


35 mm² 25 mm² 10 mm²
QG

Dispositivo de proteção contra


curtos-circuitos protegendo os
alimentadores 1,2 e 3.
QD1 QD2
Figura 5 – Ilustração de único Dispositivo de proteção no QG
Fonte: Adaptado de Getty Images

Trocando ideias... Importante!


Exemplo de dimensionamento pelo critério de proteção contra corrente de curto-circuito.

Para o dimensionamento dos condutores utilizando o critério de proteção contra


curtos-circuitos, será apresentado um exemplo.

Vale reforçar que a Norma apresenta as condições gerais de coordenação entre


condutores e dispositivos de proteção, mas não fornece as características espe-
cíficas referentes à proteção contra curtos-circuitos necessárias para os cálculos.

Essas informações devem ser obtidas junto aos fornecedores dos produtos, mas,
por isso, podem apresentar variações que, no entanto, não são significativas.

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UNIDADE Dimensionamento de Condutores pelo Critério da Proteção
Contra Curto-Circuito e Determinação da Corrente de Curto-Circuito
Presumida (Método Simplificado)

Exemplo de Dimensionamento pelo


Critério de Proteção Contra Curto-Circuito
Sejam os circuitos (A), (B) e (C), 220/380V, constituídos por cabos unipolares
não halogenados, instalados em leitos, com temperatura ambiente de 40°C.

Todos os circuitos têm comprimento de 30m e fator de potência de 0,80. Admi-


te-se uma queda de tensão máxima de 1,5%:
• Circuito (A): trifásico; corrente de projeto (incluindo as harmônicas) => IBA =
85 A com THD3 = 32 %;

• Circuito (B): trifásico com neutro, (circuito não equilibrado); corrente de proje-
to (incluindo as harmônicas) => IBB = 100 A com THD3 = 38 %;

• Circuito (C): bifásico, corrente de projeto (incluindo as harmônicas) => IBC =


90 A com THD3 = 15 %.

Supondo que os circuitos estão protegidos contra curto-circuito por disjuntor


conforme ABNT NBR NM 60898:2004 e que a corrente de curto-circuito presu-
mida no ponto em que os dispositivos estão instalados é 8kA, vamos à sequência
para o dimensionamento somente do circuito B, já que o procedimento é o mesmo
para os demais circuitos.

Para relembrar o exemplo já realizado, vejamos a Tabela a seguir, com os res-


pectivos dimensionamentos estabelecidos até o momento, com destaque para o
circuito B.

Tabela 3 – Tabela resumo com a determinação dos valores de correntes nominais


e curvas de atuação dos dispositivos de proteção do exemplo anterior

Capacidade de Corrente Corrente nominal


Seção adotada Corrente de aplicados FCT e FCA das proteções Curva de
Circuitos
(mm²) projeto IB (A) Atuação adotada
I 'Z �  A  I N �  A

A 25 85 101 100 C
B 35 100 108 100 C
C 35 90 100 100 C

Sendo assim, vamos aplicar sequência a seguir, para verificar se os cabos


e os disjuntores adotados estão em conformidade com a Norma, a partir dos
dados fornecidos:

1. O primeiro passo a determinar é o valor de energia K2S2 dos conduto-


res elétricos. Para isso, faz-se necessário, inicialmente, consultar a Tabela
4, a seguir, conforme Tabela 30 da Norma, para encontrar o valor de K de
acordo com o tipo de condutor.

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Tabela 4 – Valores de K para condutores com isolação de PVC, EPR ou XLPE
Isolação do condutor
PVC
EPR/XLPE
≤ 300 mm2 > 300 mm2
Material do condutor
Temperatura
Inicial Final Inicial Final Inicial Final
70°C 160°C 70°C 140°C 90°C 250°C
Cobre 115 103 143
Alumínio 76 68 94
Emendas soldadas em condutores de cobre 115 – –
Notas
1. Outros valores de k, para os casos mencionados abaixo, ainda não estão normalizados:
– condutores de pequena seção (principalmente para seções inferiores a 10 mm2);
– curtos-circuitos de duração superior a 5 s;
– outros tipos de emendas nos condutores;
– condutores nus.
2. Os valores de k indicados na tabela são baseados na IEC 60724.
Fonte: ABNT NBR 5410:2004, p. 68

Sendo assim, o valor encontrado é K = 143, permitindo, portanto, determinar:

K 2 S 2 1432  352  25,1 x 106 A2 s

2. O segundo passo é verificar a condição de energia I2 t do disjuntor.


Assumindo que a corrente de curto-circuito presumida é simétrica (situação
usual de projeto, pode-se utilizar a expressão simplificada a seguir para
verificação da condição de proteção.

I 2 � t � ≤ K 2 S� 2

Assim, considerando uma corrente de curto-circuito presumida de 8kA no


dispositivo de proteção com IN = 100A e curva de atuação C, o disjuntor
conforme, Norma 60898, deverá atuar em um tempo menor que 0,01 se-
gundos, como pode ser visto no destaque da curva genérica de disjuntores
termomagnéticos a seguir, pois (8000/100 = 80 IN); logo, o tempo t ≤ 0,01.

Figura 6 – Característica genérica tempo-corrente de minidisjuntores normalizados pela IEC


Fonte: NBR 5410, Guia EM, p. 141

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UNIDADE Dimensionamento de Condutores pelo Critério da Proteção
Contra Curto-Circuito e Determinação da Corrente de Curto-Circuito
Presumida (Método Simplificado)

Assim, para verificar as condições da proteção considerando o curto-circuito,


calcula-se I2 t e se compara com K2S2, como visto a seguir:

I 2 t  80002  0, 01  640.000  0, 64 106 A2 s

Comparando, temos:

I 2 t  K 2 S 2  0, 64 106 A2 s  25,1 x 106 A2 s

Dessa forma, pode-se concluir que as condições da proteção contra curto-circui-


to escolhida atende às Normas relacionadas, pois a energia I2 t que o disjuntor “dei-
xa passar” quando percorrida pela corrente de curto 8kA é, muitas vezes, menor
que a energia K2S2, energia essa capaz de elevar a temperatura do condutor desde
a temperatura máxima para serviço contínuo até a temperatura de curto-circuito.

Trocando ideias... Importante!


Tomara que você tenha percebido, mas esse exemplo também foi tratado no dimensio-
namento pelos critérios de capacidade de condução de corrente, pela queda de tensão,
pela proteção contra sobrecarga e, pode-se até dizer, incluindo de certa forma o curto-
-circuito, mas, nesta etapa, também pelo critério curto-circuito, mais especificamente,
como apresentado, comparando e adotando a seção que atenda à situação mais crítica
para o circuito B, que resulta:

Tabela 5 – Valores das seções adotadas dos condutores do exemplo


Corrente
Seção pelo Seção pelo
Seção pelo Seção pelo critério Seção nominal das Curva de
critério critério do
Circuitos critério queda de da proteção contra adotada proteções Atuação
capacidade de curto-circuito
tensão (mm²) sobrecarga (mm²) (mm²) adotada
corrente (mm²) (mm²) I N �  A

A 25 16 25 25 25 100 C
B 35 25 35 35 35 100 C
C 16 25 35 35 35 100 C

Fica como sugestão de estudo que você repita os procedimentos aqui apresen-
tados nos circuitos A e C e compare aos resultados com os definidos na Tabela 5.

Como visto, para realizar a verificação das condições de proteção contra curto-circuito, faz-
Explor

-se necessário saber a corrente de curto-circuito presumida no ponto da proteção, que, no


exemplo estudado, foi adotado como 8kA.
No entanto, como se determina tal corrente?
O exemplo a seguir apresenta uma situação de determinação das correntes de curto-circuito
presumidas de uma instalação. Apesar dos cálculos serem aproximados, são suficientes para
a aplicação em boa parte das instalações. Então, vamos nessa!

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Cálculo Simplificado de Corrente
de Curto-Circuito Presumida
Existem muitos métodos para a determinação da corrente de curto-circuito pre-
sumida. A seguir, apresenta-se um deles.

Vale observar que os valores aproximados obtidos por esse método são a favor
da segurança e oferecem o auxílio necessário para o dimensionamento dos condu-
tores pelo critério de proteção contra curto-circuito, que se torna indispensável para
a correta seleção da capacidade de condução de interrupção nominal (corrente de
ruptura) dos dispositivos de proteção contra curtos-circuitos.

Para determinar o valor da corrente de curto-circuito presumida em um ponto


qualquer do circuito alimentador trifásico após o transformador (trafo), tem-se:

L (m)

S (kVA) S (mm2) Falta


Figura 7 – Ilustração de circuito para cálculo simplificado de corrente de curto-circuito presumida
Fonte: adaptado de: LIMA FILHO, D. L., 2007, p. 186

Considerações Preliminares
Para o correto dimensionamento do dispositivo de proteção, faz-se necessário
o valor de Ics, isto é, o valor da corrente de curto-circuito presumida no ponto da
instalação do Dispositivo.

Em uma falta para terra, o valor da Ics depende basicamente da impedância


existente entre a fonte e o ponto da falta.

Procedimento simplificado para


de cálculo de Ics em Instalações Elétricas
Nesse método simplificado, foram considerados as seguintes condições:
• Desprezado o valor da impedância do Sistema de Energia da Concessionária
(a montante do trafo), isto é, considerada infinita a capacidade do Sistema. Em
cálculos de maior precisão (por exemplo, instalações industriais etc.), as Con-
cessionárias devem ser consultadas pois fornecem a capacidade de ruptura, em
kA, ou a potência de curto-circuito simétrico do Sistema, em MVA, no ponto
de entrega;

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UNIDADE Dimensionamento de Condutores pelo Critério da Proteção
Contra Curto-Circuito e Determinação da Corrente de Curto-Circuito
Presumida (Método Simplificado)

• Desprezada a impedância do circuito de média tensão para a alimentação do


trafo do consumidor (quando houver);
• Desprezadas as impedâncias internas dos Dispositivos de proteção e comando;
• Considerando curto-circuito direto, desprezando-se a resistência de contato;
• Considerando curto-circuito trifásico simétrico (condição mais desfavorável);
• Desprezada a contribuição de motores ou geradores em funcionamento na
ocasião da falta (em instalações industriais, esta contribuição pode ser signifi-
cativa em motores acima de 100 CV e tensão superior a 600 V, que passam a
funcionar como gerador no instante da falta, o que, geralmente, não é o caso
das instalações prediais).

Observação
Todas as considerações apresentadas, exceto a do último item, levam a um cálculo
a favor da segurança, ou seja, pode-se encontrar um valor de Ics um pouco superior
ao real, o que só levaria a especificar dispositivos com maior capacidade de ruptura.
• Cálculo da impedância até o ponto da falta

Para o cálculo da impedância até o ponto da falta, devem ser determinados os


seguintes parâmetros.

Resistência da linha: Impedância do trafo:


L U C2
RL  r  ZE  Z % 
N 100  S
Impedância da linha: Restância do trafo:
L
XL  x X E  Z E2  RE2
N
Resistência do trafo: Impedância de curto-circuito:
(100  PCU )
RE  Z CC  ( RL  RE ) 2  ( X L  X E ) 2
3  I N2

Corrente de curto-circuito presumida


Para o cálculo da corrente de curto-circuito presumida ICS, deve-se utilizar a se-
guinte expressão.

(U C )
Ics 
3  Z CC

Parâmetros de Cálculo
• RL = Resistência da linha a montante (mΩ);
• r = Resistência específica da linha, conforme tabela (mΩ/m);

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• L = Comprimento da linha a montante (entre fonte e o ponto dop
curto-circuito) (m);
• N = Número de condutores em paralelo em uma mesma fase;
• XL = Reatância da linha a montante (mΩ);
• x = Reatância específica da linha, conforme tabela (mΩ/m);
• RE = Resistência equivalente secundária do trafo (mΩ);
• PCU = Perdas no cobre (W), conforme tabela;
• IN = Corrente nominal do trafo;
• ZE = Impedância equivalente secundária do trafo (mΩ);
• UC = Tensão de linha nominal (V);
• Z% = Impedância percentual do trafo;
• S = Potência nominal do trafo (kVA);
• XE = Reatância equivalente secundária do trafo (mΩ);
• Zcc = Impedância total de curto-circuito (mΩ);
• Icc = Corrente de curto-circuito simétrica presumida (kA).

Outras Considerações
• Caso se tenha a continuidade do circuito de distribuição, com a ramificação de
subalimentadores, a impedância total até o ponto da falta deve ser levada em
consideração, desde o trafo até a falta;
• A corrente de curto-circuito para os circuitos subsequentes, trifásicos ou mono-
fásicos, também pode ser determinada, utilizando gráficos, que não é o objeto
de estudo deste Material.

Exemplo de cálculo de ICC (ICS)


Vamos determinar a corrente de curto-circuito nos pontos 1, 2 e 3 da instalação
representada na Figura a seguir.

Observe que os valores encontrados serão os mínimos da capacidade de ruptura


dos disjuntores instalados.

QGBT CM-01 QT-01


L1 L2 L3
1 2 3

P (kVA) S1 S2 S3

Figura 8 – Ilustração de circuito para exemplo de cálculo simplificado de corrente de curto-circuito presumida
Fonte: LIMA FILHO, D. L. 2007, p. 190

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Contra Curto-Circuito e Determinação da Corrente de Curto-Circuito
Presumida (Método Simplificado)

São dados:
• Transformador trifásico 13,8 kV/220 V-127 V;
• Potência nominal do trafo: S = 112,5 kVA
• Corrente nominal do trafo: In = 296 A
• Perdas no cobre: PCU = 1650 W (Tabela);
• Z% = 3,5% (Tabela)

Os dados de perdas no cobre e impedância do trafo foram extraídos da Tabela


6, que apresenta os dados de transformadores trifásicos, 15kV, 60Hz, Primário Y
ou Delta, Secundário Y.

Tabela 6 – Dados de transformadores trifásicos, 15kV, 60 Hz, Primário Y ou Delta, Secundário Y


Perdas Impedância (%)
Potência (kVA) Tensão Secundária (V)
A vazio Pfe (W) Cobre Pcu (W)
15 220 a 440 120 300 3,5
30 220 a 440 200 570 3,5
45 220 a 440 260 750 3,5
75 220 a 440 390 1200 3,5
112,5 220 a 440 520 1650 3,5
150 380 a 440 640 2050 3,5
220 640 2950 4,5
225 380 a 440 900 2800 4,5
220 900 3900 4,5
300 380 a 440 1120 3700 4,5
220 1700 6400 4,5
500 380 a 440 1700 6000 4,5
220 1700 10000 5,5
750 380 a 440 2000 8500 5,5
220 2000 12500 5,5
1.000 380 a 440 3000 11000 5,5
220 3000 18000 5,5
Fonte: LIMA FILHO, D. L. 2007, p. 188

Identificação e determinação de parâmetros dos circuitos


• Alimentador 1:
»» S1 = 3 # 2 x 95 (2 x 95) T 95 mm²;
»» L1 = 50 m;
»» r1 = 0,236 mΩ/m e x1 = 0,0975 mΩ/m (Tabela).
• Alimentador 2:
»» S2 = 3 # 3 x 35 (35) T 16 mm²;
»» L2 = 10 m;
»» r2 = 0,841 mΩ/m e x2 = 0,101 mΩ/m (Tabela).

20
• Alimentador 3:
» S3 = # 10 (10) T 10 mm²;
» L3 = 10 m;
» r3 = 2,24 mΩ/m e x3 = 0,119 mΩ/m (Tabela).

Os dados de impedância dos condutores foram extraídos da Tabela 7, que apre-


senta a impedância dos condutores.

Tabela 7 – Dados da impedância dos condutores


Seção Resistência Reatância Seção Resistência Reatância
nominal (mm2) (mΩ/m) (mΩ/m) nominal (mm2) (mΩ/m) (mΩ/m)
1 22,1 0,176 70 0,328 0,0965
1,5 14,8 0,168 95 0,236 0,0975
2,5 8,91 0,155 120 0,188 0,0939
4 5,57 0,143 150 0,153 0,0928
6 3,71 0,135 185 0,123 0,0908
10 2,24 0,119 240 0,0943 0,0902
16 1,41 0,112 300 0,0761 0,0895
25 0,880 0,106 400 0,0607 0,0876
35 0,841 0,101 500 0,0496 0,0867
50 0,473 0,101 630 0,0402 0,0865
Fonte: D. L. LIMA FILHO, 2007, p. 187

Resolução para a Determinação da ICS


• Cálculo das resistências e reatâncias do transformador

(100  PCU ) (1000 1650)


RE    RE  6, 277 m
3  I N2 3.2962
U C2 2202
ZE  Z %   3, 5   Z E  15, 057 m
100  S 100 112, 5
X E  Z E2  RE2  15, 057 2  6, 277 2  X E  13, 686 m

• Cálculo das resistências e reatâncias dos circuitos alimentadores

Alimentador 1

L 50
RL  r   R1  0, 236   R1  5, 90 m
N 2
L 50
X L  x   X 1  0, 0975   X 1  2, 43 m
N 2

21
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UNIDADE Dimensionamento de Condutores pelo Critério da Proteção
Contra Curto-Circuito e Determinação da Corrente de Curto-Circuito
Presumida (Método Simplificado)

Alimentador 2
L 10
RL  r   R2  0, 841   R2  8, 41 m
N 1
L 10
X L  x   X 2  0,101   X 2  1, 01 m
N 1

Alimentador 3
L 10
RL  r   R3  2, 24   R3  22, 24 m
N 1
L 10
X L  x   X 3  0,119   X 3  1,19 m
N 1

• Cálculo da ICS

No ponto 1:

Z CC  ( RL  RE ) 2  ( X L  X E ) 2  Z CC1  (5, 90  6, 277) 2  (2, 43  13, 686) 2 


Z CC1  20, 20 m
(U C ) (220)
I CS   I CS 1   I CS 1  6, 28 kA
3  Z CC 3  20, 20

No ponto 2:

Z CC  ( RL  RE ) 2  ( X L  X E ) 2 

Z CC 2  (5, 90  8, 41)  6, 277  (2, 43  1, 01))  13, 686


2 2


Z CC 2  (20, 587) 2  (17,126) 2  Z CC 2  26, 779m


(U C ) (220)
I CS   I CS 2   I CS 2  4, 743 kA
3  Z CC 3  26, 779

• Cálculo da ICS

No ponto 3:

Z CC  ( RL  RE ) 2  ( X L  X E ) 2 

Z CC 3  (5, 90  8, 41  22, 4)  6, 277  (2, 43  1, 01  1,19)  13, 69


2 2


Z CC 3  (42, 99) 2  (18, 32) 2  Z CC 3  46, 73 m


(U C ) (127)
I CS   I CS 3   I CS 3  1, 57 kA
3  Z CC 3  46, 73

Dessa forma, pode-se concluir que os Dispositivos de proteção a serem utiliza-


dos em cada um dos pontos do exemplo apresentado devem ter capacidades de
corrente de ruptura IK superiores às calculadas.

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Trocando ideias... Importante!
Diante do estudado, ou seja, da importância em dimensionar corretamente o Dispo-
sitivo de proteção incluindo o cuidado em determinar a corrente de curto-circuito
presumida no ponto da proteção para a escolha correta do dispositivo, vale desta-
car que existem diversos tipos de disjuntores e, entre eles, várias capacidades de in-
terrupção em kA, como pode ser observado na área destacada na Tabela 8 a seguir,
que apresenta um recorte da Tabela de fabricante para a identificação e escolha do
disjuntor termomagnético.

Figura 9 – Recorte da Tabela do fabricante para identificação e escolha do disjuntor termomagnético


Fonte: Catálogo de minidisjuntores Siemens

Em complemento, vale observar que a Tabela 9 apresentada trata-se somente de


um exemplo de um fornecedor e de alguns tipos de disjuntores com suas respecti-
vas características técnicas e maneiras de codificação/especificação.

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23
UNIDADE Dimensionamento de Condutores pelo Critério da Proteção
Contra Curto-Circuito e Determinação da Corrente de Curto-Circuito
Presumida (Método Simplificado)

Outros fabricantes também seguirão o mesmo raciocínio e apresentarão suas


próprias formas de composição do Código; no entanto, o importante é compre-
ender a importância da determinação adequada dos dispositivos de proteção, bem
como desenvolver os cálculos e as análises necessárias para cada situação.

Em Síntese Importante!

Retomando mais uma vez os critérios para o dimensionamento dos condutores, con-
forme determina a Norma 5410, exige-se que sejam aplicados, então, no mínimo seis
critérios, e a escolha dos condutores devem atender à situação mais crítica.
São eles, em resumo:
• As seções mínimas;
• A capacidade de condução de corrente;
• Os limites de queda de tensão;
• A proteção contra sobrecargas;
• A proteção contra curtos-circuitos e solicitações térmicas;
• A proteção contrachoques elétricos por seccionamento automático da alimentação
em esquemas TN e IT, quando pertinente.
Neste Material de Estudo foram apresentados procedimentos e métodos referentes à
proteção contra curtos-circuitos e solicitações térmicas.
Iniciando pelos conceitos sobre proteção contra curto-circuito, seguindo para as condi-
ções de proteção contra curto-circuito, analisando a localização dos dispositivos de pro-
teção contra curto-circuito, apresentando um exemplo de dimensionamento pelo crité-
rio de proteção contra corrente de curto-circuito e, por fim, descrevendo um método de
cálculo simplificado de corrente de curto-circuito presumida.
Para reforçar, vale observar que somente o critério da proteção contrachoques elétricos
não foi objeto de estudo, mas, na prática, deve-se considerar a escolha do valor nominal
do Dispositivo Diferencial Residual (DR) com valor comercial igual ou maior que o dispo-
sitivo de proteção contra sobrecarga e curto-circuito definido em projeto.
Além disso, outro ponto importante a se observar é que tais dispositivos devem ser utili-
zados somente quando forem aplicáveis.

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Material Complementar
Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade:

Livros
Instalações elétricas industriais
MAMEDE FILHO, J. Instalações elétricas industriais. 7. ed. Rio de Janeiro: LTC,
2010. (E-Book)
Instalações Elétricas e o projeto de arquitetura
CARVALHO JR, R. DE. Instalações Elétricas e o projeto de arquitetura. 8.ed.rev.
São Paulo: Edgard Blücher Ltda., 2018. (E-Book)
Fundamentos de instalações elétricas
SAMED M. A. S. Fundamentos de instalações elétricas. São Paulo: Saberes,
2017. (E-Book)
NR-12 Segurança em Máquinas e Equipamentos
SANTOS J. R. dos; ZANGIROLAMI, J. Z. NR-12 Segurança em Máquinas e
Equipamentos. Local: Érica, 2015.
Segurança e higiene do trabalho
ROSSETE C. A. Segurança e higiene do trabalho. São Paulo: Pearson Education
do Brasil, 2015.

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25
UNIDADE Dimensionamento de Condutores pelo Critério da Proteção
Contra Curto-Circuito e Determinação da Corrente de Curto-Circuito
Presumida (Método Simplificado)

Referências
COTRIM, A. M. B. Instalações Elétricas. 4.ed. São Paulo: Pearson Prentice Hall,
2005. (E-Book)

ABNT – NBR 5410 – Guia EM. Rio de Janeiro: ABNT, 2004.

COTRIM, A. M. B. Instalações Elétricas. 5.ed. São Paulo: Pearson Prentice Hall,


2008. (E-Book)

LIMA FILHO, D. L. Projetos de Instalações Elétricas Prediais. São José dos


Campos: Érica, 2007.

TAMIETTI, R. P. Condutores Elétricos. Passo-a-Passo das Instalações Elétricas


Residenciais. Belo Horizonte: IEA/CENTENE, 2001. p 5-25 (Livro eletrônico). Dis-
ponível em: <https://drb-m.org/LICAO6-128-153.pdf>. Acesso em: 4 mar. 2019.

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