Você está na página 1de 65

MAGNETISMO,

ELETROMAGNETISMO,
INDUTÂNCIA E INDUTORES
Universidade Federal de Itajubá
Instituto de Engenharia de Sistemas e Tecnologia da Informação
ELTA01A – Eletrônica Analógica I
Objetivo

• Introdução;
• Natureza do campo magnético;
• Circuitos magnéticos;
• Circuitos magnéticos com excitação CC;
• Indutores.
Histórico

Em 1819, Hans Christian


Oersted, um cientista
dinamarquês, provou que a
eletricidade e o magnetismo
estavam relacionados quando
mostrou que uma agulha da
bússola era totalmente defletida
por um condutor de corrente

Hans Christian Oersted


Histórico

Em 1820, André-Marie Ampère


demonstrou que condutores de
corrente se atraem ou repelem
uns aos outros, da mesma
maneira que os imãs.

André-Marie Ampère
Histórico

Foi Michael Faraday quem


desenvolveu nosso conceito atual
de campo magnético como uma
coleção de linhas de fluxo no
espaço que representam
conceitualmente tanto a
intensidade quanto a direção do
campo. Foi esse conceito que
levou à compreensão do
magnetismo e ao desenvolvimento
de dispositivos práticos
importantes, como o
transformador e o gerador elétrico.
Michael Faraday
Histórico

Em 1873, James Clerk Maxwell,


um cientista escocês, uniu os
conceitos teóricos e experimentais
então conhecidos e desenvolveu
uma teoria unificada do
eletromagnetismo que previa a
existência de ondas de radio.

James Clerk Maxwell


Histórico

Por volta de 1903, Heinrich Hertz,


um físico alemão, mostrou com
experimentos que tais ondas
existiam, comprovando, assim, as
teorias de Maxwell e abrindo o
caminho para a televisão e o radio
modernos.

Heinrich Rudolf Hertz


NATUREZA DO CAMPO
MAGNÉTICO

8
Fluxo magnético

Usando a representação de Faraday, os campos


magnéticos são desenhados como linhas no
espaço. Essas linhas, chamadas linhas de fluxo ou ф
linhas de forca, mostram a direção e a intensidade
do campo em todos os pontos. Pode-se ilustrar
essa representação para o campo de um imã em
barra. Como indicado, o campo é mais forte nos
polos do imã (onde as linhas de fluxo são mais
densas), sua direção é do norte (N) para o sul (S)
externamente ao imã, e as linhas de fluxo nunca
se cruzam. O símbolo para o fluxo magnético é a
letra grega Φ (fi).

O magnetismo refere-se à força que age entre os imãs e os materiais magnéticos. Sabe-se, por exemplo, que os
imãs atraem pedaços de ferro, defletem agulhas de bússolas, atraem ou repelem outros imãs etc. Essa força age
a uma distância e sem necessidade de contato físico direto. A região onde se sente a força é chamada “campo
do imã” ou, simplesmente, campo magnético; portanto, um campo magnético é uma força magnética.
Materiais ferromagnéticos

Os materiais magnéticos (são atraídos por imãs


como ferro, níquel, cobalto e suas ligas
metálicas) são chamados materiais
ferromagnéticos. Tais materiais propiciam um
caminho fácil para o fluxo magnético. Isso está
ilustrado na figura ao lado, em que as linhas de
fluxo percorrem o caminho mais longo (porém
mais fácil) através do ferro doce (também
chamado de ferro puro), em vez do caminho
mais curto que elas normalmente percorreriam.
Observe, no entanto, que os materiais não
magnéticos (plástico, madeira, vidro etc.) não
produzem efeito no campo.
Eletromagnetismo

A maioria das aplicações de magnetismo envolve


efeitos magnéticos ocasionados pelas correntes
elétricas. Considere a figura ao lado. A corrente I,
cria um campo magnético que é concêntrico do
condutor, uniforme ao longo de sua extensão, e
cuja intensidade é diretamente proporcional a I.
Direção do campo magnético

A direção do campo pode ser lembrada com o auxilio


da regra da mão direita. Imagine colocar a mão direita
em um condutor com o polegar apontando para a
direção da corrente. Os dedos, então, apontam para a
direção do campo. Se a direção da corrente for
invertida, a do campo também irá inverter.

Se o condutor é enrolado em uma bobina, os campos de


suas espiras individuais combinam, gerando um campo. A
direção do fluxo da bobina também pode ser lembrada por
uma regra simples: curve os dedos da mão direita ao redor
da bobina, na direção da corrente, e seu polegar apontará
para a direção do campo. Caso a direção da corrente seja
invertida, o campo também inverte. Desde que não haja
material ferromagnético, a intensidade do campo da
bobina é diretamente proporcional à corrente nela.
Fluxo em materiais ferromagnéticos

Se a bobina for enrolada em um núcleo


ferromagnético, como na figura ao lado (os
transformadores são construídos dessa
maneira), quase todo o fluxo fica confinado
no núcleo, embora uma pequena quantidade
(chamada parasita ou fluxo de fuga) passe
pelo ar em volta. No entanto, como há
presença de material ferromagnético, o fluxo
no núcleo não é mais proporcional à corrente.
Fluxo magnético

O fluxo magnético é representado pelo


símbolo Φ. No sistema SI, a unidade do
fluxo é o weber (Wb), em homenagem ao
pesquisador pioneiro, Wilhelm Eduard
Weber (1804-1891), físico alemão e, com
Carl Friedrich Gauss, inventaram do
primeiro telégrafo eletromagnético.

Se passarmos um condutor por um campo


magnético de modo que o condutor corte as
linhas de fluxo a uma taxa de 1 Wb por
segundo, a tensão induzida será́ de 1 V. Wilhelm Eduard Weber
Densidade de fluxo magnético

Geralmente tem-se mais interesse na


DENSIDADE DE FLUXO B (ou seja, o fluxo por
área) do que no fluxo total Φ. Como o fluxo é
medido em Wb e a área A em m2, a densidade
de fluxo é medida em Wb/m2.
Para homenagear Nikola Tesla, a unidade da
densidade de fluxo é chamada tesla (T), onde 1
T = 1 Wb/m2.

Nikola Tesla (1856-1943) foi um inventor,


engenheiro eletrotécnico e engenheiro
mecânico sérvio, mais conhecido por suas
contribuições ao projeto do moderno sistema
de fornecimento de eletricidade em corrente
alternada.
Nikola Tesla
Densidade de fluxo magnético

Para o núcleo magnético da figura abaixo, a


Φ densidade de fluxo na seção transversal 1 é
𝐵= B1 = 0,4 T. Determine B2:
𝐴

1 𝑊𝑏
1 𝑇 (𝑡𝑒𝑠𝑙𝑎) =
1 𝑚2

Para uma noção da dimensão das unidades


Φ1 = 𝐵1 𝐴1 = 0,8𝑥10−2 𝑊𝑏
magnéticas, observe que a intensidade do campo
da Terra é aproximadamente 50 μT perto de sua
superfície; o campo de um gerador ou motor grande Φ2 = Φ1 = 0,8𝑥10−2 𝑊𝑏
é da ordem de 1 ou 2 T, e os campos mais vastos
gerados até agora (usando imãs supercondutores) Φ2
𝐵2 = = 0,8 𝑇
são da ordem de 25 T. 𝐴2
CIRCUITOS
MAGNÉTICOS

17
Introdução
A maioria das aplicações praticas de magnetismo usa estruturas magnéticas para guiar e moldar os
campos magnéticos, propiciando um caminho bem definido para o fluxo. Tais estruturas, encontradas
em motores, geradores, unidades de disco do computador, gravadores de fita etc., são chamadas
circuitos magnéticos.

Gravadores de fita, VCRs e unidades de disco do


computador armazenam dados magneticamente nas
superfícies cobertas por oxido de ferro, para que eles
possam ser usados e recuperados no futuro. A figura ao
lado ilustra simbolicamente o esquema básico do gravador
de fitas. O som capturado pelo microfone é convertido em
sinal elétrico, amplificado, e a saída é aplicada ao
cabeçote de gravação. O cabeçote de gravação é um
pequeno circuito magnético. A corrente que sai do
amplificador passa pela bobina dele, criando um campo
magnético que magnetiza a fita em movimento. Os
padrões magnetizados na fita correspondem à entrada
original do som.
Entreferro e franja
A fenda no cabeçote de gravação chama-se entreferro. A maioria dos circuitos magnéticos práticos
possui entreferros, que são fundamentais para a operação do circuito. Nas fendas, há as franjas, que
diminuem a densidade de fluxo nos entreferros, como mostra a figura abaixo. Para entreferros curtos,
em geral, a franja pode ser desprezada. De forma alternativa, pode-se fazer a correção aumentando a
dimensão de cada seção transversal do entreferro pelo tamanho da fuga para compensar a diminuição
na densidade de fluxo.

Um núcleo com as dimensões da seção transversal de 2,5 cm por 3 cm tem


um entreferro de 0,1 mm. Sendo a densidade de fluxo B = 0,86 T no ferro,
qual é aproximadamente a densidade de fluxo não correta e correta no
entreferro?
Solução: Desprezando a franja, a área do entreferro é a mesma área do
núcleo. Por isso, Bg ≈ 0,86 T. Corrigindo para a franja, obtém-se:

Φ = 𝐵𝐴 = 0,86 𝑇 2,5 𝑥10−2 𝑚 3,0 𝑥10−2 𝑚 = 0,645 𝑚𝑊𝑏

𝐶𝑜𝑛𝑠𝑖𝑑𝑒𝑟𝑎𝑛𝑑𝑜 𝐴𝑔 ≅ 2,51 𝑥10−2 𝑚 3,01 𝑥10−2 𝑚 = 7,555𝑥10−4 𝑚2


Φ
𝐵𝑔 = = 0,854 𝑇
𝐴𝑔
Laminações
Muitos circuitos magnéticos práticos (como os transformadores) usam finas chapas de ferro ou aço
empilhado, como mostrado na figura abaixo. Como o núcleo não é um bloco maciço, a área da seção
transversal (ou seja, a área real do ferro) é menor do que a área física. O fator de empilhamento,
definido como a razão entre área real do material ferroso e a área física do núcleo, permite determinar
a área efetiva do núcleo.

Uma seção laminada do núcleo tem as dimensões de 0,03 m


por 0,05 m para a seção transversal e um fator de
empilhamento de 0,9.
a. Qual é a área efetiva do núcleo?
b. Dado Φ = 1,4 × 10−3 Wb, qual será́ a densidade de fluxo, B?

𝑎. 𝐴𝑒 = 0,03 𝑚 0,05 𝑚 (0,9) = 1,35𝑥10−3 𝑚2

Φ 1,4𝑥10−3
𝑏. 𝐵𝑔 = = = 1,04 𝑇
𝐴𝑒 1,35𝑥10−3
Circuito magnético série

Os circuitos magnéticos podem ter seções de


diferentes materiais. Por exemplo, o circuito
da figura ao lado tem seções de ferro fundido,
de chapa de aço, e um entreferro. Para esse
circuito, o fluxo Φ é igual em todas as seções.
Ele é chamado circuito magnético série.
Embora o fluxo seja o mesmo em todas as
seções, a densidade de fluxo em cada uma
delas pode variar dependendo da área efetiva
da seção transversal
Circuito magnético paralelo

Um circuito também pode ter elementos em


paralelo. Em cada junção, a soma dos fluxos
que entram é igual à soma dos que saem. Isso
é o equivalente da lei de Kirchhoff das
correntes.
Dessa forma, para a figura ao lado, sendo Φ1 =
25 μWb e Φ2 = 15 μWb, então Φ3 = 10 μWb.
Para os núcleos que são simétricos na perna
central, Φ2 = Φ3.
CIRCUITOS MAGNÉTICOS
COM EXCITAÇÃO CC

23
Fonte do fluxo magnético

A corrente através de uma bobina cria o fluxo magnético. Quanto maior a corrente ou o
numero de espiras, maior será o fluxo. Essa capacidade de produzir corrente a partir da
bobina é chamada força magnetomotriz (fmm) e é medida em amperes-espiras. Dado o
símbolo F, ela é definida como:

ℱ = 𝑁𝐼 (𝑎𝑚𝑝𝑒𝑟𝑒𝑠 − 𝑒𝑠𝑝𝑖𝑟𝑎, 𝐴𝑡)

Assim, uma bobina com 100 espiras e 2,5 amperes terá uma fmm de 250 amperes-
espiras, enquanto uma bobina com 500 espiras e 4 amperes terá uma fmm de 2.000
amperes-espiras.
Relutância

O fluxo em um circuito magnético também depende da oposição que o circuito apresenta a ele.
Chamada relutância, essa oposição depende da dimensão do núcleo e do material do qual ele é
feito. Como a resistência de um fio, a relutância é diretamente proporcional ao comprimento e
inversamente proporcional à área da seção transversal. Na forma de equação, tem-se:


ℛ= (𝐴𝑡Τ𝑊𝑏)
𝜇𝐴

onde μ é uma propriedade do material do núcleo chamada permeabilidade. A permeabilidade é


uma medida da facilidade com que se cria fluxo em um material. Materiais ferromagnéticos têm
alta permeabilidade e, portanto, baixa R, enquanto materiais não magnéticos tem baixa
permeabilidade e alta R.
Lei de Ohm para circuitos magnéticos

A relação entre o fluxo, a fmm e a relutância é:


Φ= (𝑊𝑏)

Essa relação também é parecida com a lei de Ohm e é


representada simbolicamente na figura ao lado.
Lembre-se, no entanto, de que o fluxo, diferentemente
da corrente elétrica, não flui.
Intensidade do campo magnético
A grandeza chamada intensidade do campo magnético, H (também conhecida como força
magnetizante) é uma medida da fmm por unidade de comprimento de um circuito.
Para se ter uma ideia, suponha a mesma fmm (600 At) aplicada em dois circuitos com caminhos de
comprimentos diferentes (abaixo). Em (a), há 600 amperes-espiras da fmm para “conduzir” através de
0,6 m do núcleo; em (b), a mesma fmm, mas ela é espalhada por apenas 0,15 m do comprimento do
caminho. Dessa forma, a fmm por unidade de comprimento é mais intensa no segundo caso. Com
base nessa ideia, pode-se definir a intensidade do campo magnético como a razão da fmm aplicada ao
comprimento do caminho no qual ela atua. Portanto:

ℱ 𝑁𝐼
ℋ= = (𝐴𝑡/𝑚)
ℓ ℓ
Intensidade do campo magnético

Assim, em (a), temos 1.000 amperes-espiras da “força


condutora” por metro para gerar o fluxo no núcleo,
enquanto em (b) temos quatro vezes mais. (No entanto,
não teremos quatro vezes mais fluxo, já que a oposição a
ele varia de acordo com a densidade do fluxo.)
Reorganizando a Equação da intensidade do campo
magnético obtém-se um resultado importante:
600
ℋ= = 1000 (𝐴𝑡/𝑚) ℋℓ = 𝑁𝐼 (𝐴𝑡)
0,6
Fazendo uma analogia com os circuitos elétricos, o
produto NI é uma fonte de fmm, enquanto o produto
H l é uma queda de fmm.

600
ℋ= = 4000 (𝐴𝑡/𝑚)
0,15
Relação entre B e H

Pode-se ver que a força magnetizante, H, é uma medida da habilidade


da bobina de produzir fluxo (já que ela depende de NI). Sabe-se que B é
uma medida do fluxo resultante (já que B = Φ/A). Portanto, B e H são
relacionados. A relação entre eles é:

𝐵 = 𝜇ℋ

Onde μ é a permeabilidade do núcleo


Relação entre B e H no entreferro
A permeabilidade é a medida da facilidade com que se cria o fluxo em um material. Quanto maior o
valor de μ, maior a densidade de fluxo para uma dada H. Entretanto, H é proporcional à corrente;
então, quanto maior o valor de μ, maior será a densidade de fluxo para uma dada corrente
magnetizante.
No sistema SI, μ tem unidades de webers por amperes-espiras-metro. A permeabilidade do espaço
livre é μ0 = 4π × 10−7. Para fins práticos, a permeabilidade do ar e de outros materiais não magnéticos
(por exemplo, o plástico) é a mesma que a do vácuo. Assim, em entreferros,

𝐵𝑔 = 𝜇0 ℋ𝑔 = 4𝜋. 10−7 ℋ𝑔 (𝑇)

Ou:

𝐵𝑔
ℋ𝑔 = −7
= 7,96. 105 𝐵𝑔 (𝐴𝑡/𝑚)
4𝜋. 10
Curvas de magnetização ou curvas B-H
Para materiais ferromagnéticos, μ
não é constante, varia de acordo
com a densidade de fluxo, e não
há um jeito fácil de calculá-la.
Todavia, na realidade, não se está
interessado em μ, o que realmente
quer saber é, dado B, qual é o
valor de H e vice-versa. Um
conjunto de curvas – chamadas
de B-H ou curvas de magnetização
– fornecem essa informação.
(Essas curvas são obtidas
experimentalmente e estão
disponíveis em manuais. Cada
material requer uma curva
separada.) Ao lado tem-se curvas
típicas para o ferro e o aço
fundidos, e a chapa de aço.
Lei de Ampère de circuito

Uma das principais relações na teoria de circuitos magnéticos é a lei de Ampère de circuito. A lei de
Ampère foi determinada experimentalmente, e é uma generalização da relação F=NI=Hl. Ampère
mostrou que a soma algébrica das fmm ao redor de uma malha fechada em um circuito magnético é
zero, independentemente do numero de seções ou bobinas. Isto é:

෍ ℱ=0
𝜃

Reescrevendo:

෍ 𝑁𝐼 = ෍ ℋℓ (𝐴𝑡)
𝜃 𝜃
Lei de Ampère de circuito

A soma de fmms aplicadas ao redor de uma malha fechada é igual à soma de quedas de fmms. O
somatório é algébrico, e os termos são aditivos ou subtrativos, dependendo da direção do fluxo e de
como a bobina está enrolada. Para ilustrar, considere a figura abaixo:

𝑁𝐼 − ℋ𝑎ç𝑜 ℓ𝑎ç𝑜 − ℋ𝑔 ℓ𝑔 − ℋ𝑓𝑒𝑟𝑟𝑜 ℓ𝑓𝑒𝑟𝑟𝑜 = 0

Então:

𝑁𝐼 = ℋ𝑎ç𝑜 ℓ𝑎ç𝑜 + ℋ𝑔 ℓ𝑔 + ℋ𝑓𝑒𝑟𝑟𝑜 ℓ𝑓𝑒𝑟𝑟𝑜


fmm aplicada soma das quedas de fmm

O caminho a ser usado para Hl é o caminho médio.


Modelos de circuitos magnéticos

Há dois modelos de circuitos magnéticos. Embora o modelo da relutância (a) não seja muito útil
para a resolução de problemas, ele ajuda a relacionar os problemas de circuitos magnéticos a
conceitos conhecidos de circuitos elétricos. Por outro lado, o modelo da lei de Ampere nos
permite resolver problemas práticos.
Propriedades do material magnético

As propriedades magnéticas estão relacionadas à


estrutura atômica. Cada átomo de uma substancia,
por exemplo, gera um campo magnético muito Domínio
pequeno no nível atômico porque seus elétrons em
movimento (ou seja, em orbita) constituem uma
corrente no nível atômico, e correntes criam campos
magnéticos. Para materiais não magnéticos, esses
campos são orientados aleatoriamente e se anulam.
No entanto, para materiais ferromagnéticos, os
campos em pequenas regiões, chamados domínios,
não se anulam. Os domínios são microscópicos, mas
são grandes o suficiente para comportar de 1.017 a
1.021 átomos. Se os campos do domínio em um
material ferromagnético se alinham, o material é
magnetizado; se eles são orientados aleatoriamente, Material Ferromagnético
o material não é magnetizado.
Magnetização de uma amostra

Uma amostra não magnetizada pode ser


magnetizada por meio da organização dos campos
do domínio. À medida que a corrente através da
bobina se eleva, a intensidade do campo aumenta,
e mais e mais domínios se alinham nas direções do
campo. Se o campo for forte o suficiente, quase
todos os campos do domínio se organizam, e diz-se
que o material está em saturação (a parte mais
plana da curva B-H). Na saturação, a densidade de
fluxo aumenta lentamente á medida que a
intensidade da magnetização aumenta. Isso
significa que, se o material estiver em saturação,
por mais que se tente, não é possível magnetizá-lo
por muito tempo. O caminho traçado do estado não
magnetizado para o estado saturado é chamado
curva DC ou curva de magnetização normal.
Histerese

Se a corrente for reduzida a zero, veremos que o


material ainda retém algum magnetismo, chamado
magnetismo residual. Se invertermos a corrente, o
fluxo inverte, e a parte de baixo da curva pode ser
traçada. Invertendo a corrente novamente em d, a
curva pode ser traçada de novo no ponto a. O
resultado é chamado laço de histerese. Agora, uma
grande origem de incerteza no comportamento de
circuitos magnéticos deveria estar aparente. Como
pode-se ver, a densidade de fluxo depende não só da
corrente, mas também de em qual braço da curva a
amostra é magnetizada, ou seja, ela depende do
passado histórico do circuito. Dessa forma, as curvas
B-H são a media dos dois braços do laço de
histerese, isto é, a curva DC.
Processo de desmagnetização

Somente desligar a corrente não


desmagnetiza o material ferromagnético.
Para desmagnetizá-lo, deve-se reduzir
sucessivamente o laço de histerese a
zero. É possível colocar a amostra dentro
de uma bobina alimentada por uma
fonte AC variável e gradativamente
reduzir a zero a corrente na bobina; ou
usar uma alimentação fixa AC e
paulatinamente retirar a amostra do
campo. Tais procedimentos são
adotados por técnicos de manutenção
que utilizam a função degraus para
desmagnetizar os tubos de imagem da
televisão.
Medição de campo magnético
Uma maneira de medir a intensidade do campo magnético é usar
o efeito Hall (em homenagem a Edwin Hebert Hall). Quando uma
lamina de arseneto de índio é colocada em um campo magnético,
uma pequena quantidade de tensão, denominada tensão de Hall,
VH, aparece em extremidades opostas. Para uma corrente fixa, I,
VH é proporcional à intensidade do campo magnético B. Os
instrumentos que usam esse principio são chamados
gaussímetros de efeito Hall.

Edwin Hebert Hall


INDUTORES

40
Indutância

A indutância é inteiramente ocasionada pelo campo magnético criado pela corrente, e o


seu efeito é desacelerar o aumento e o colapso da corrente e, em geral, se opor á
variação. Logo, de certa forma, a indutância pode ser comparada à inercia em um
sistema mecânico. A facilidade de usar a indutância nas analises é que se pode
dispensar todas as considerações acerca do magnetismo e dos campos magnéticos e só
nos concentrarmos nas grandezas de circuitos conhecidas – tensão e corrente – e no
parâmetro do circuito recém - apresentado, a indutância.
Indutor

O elemento do circuito construído para conter a indutância é o indutor. Em sua forma mais simples, o
indutor é apenas a bobina de um fio. Idealmente, os indutores têm somente a indutância. No
entanto, como são feitos de fio, os indutores práticos também apresentam alguma resistência.
Inicialmente, entretanto, assume-se que essa resistência é desprezível e trataremos os indutores
como ideais. Na prática, os indutores também são chamados de choques (porque tentam limitar ou
“restringir” a variação da corrente) ou de reatores.

Tipos de indutores
Indutor

Em diagramas de circuito e em equações, a indutância é


representada pela letra L. O símbolo para o circuito é
uma bobina.

Os indutores são usados em várias aplicações. Nos


rádios, são parte do circuito de sintonia que ajustamos
quando selecionamos uma estação de radio. Nas
lâmpadas fluorescentes, são parte do reator que limita a
corrente quando a lâmpada é acesa. Em sistemas de
potência, são parte da proteção do sistema de circuitos
usado para controlar as correntes no curto- circuito
durante as condições de falha Símbolo de indutor
Indutor

A unidade da indutância é o henry (H).


Homenagem à Joseph Henry foi um cientista
estadunidense. Em 1830, enquanto construía
eletroímãs, descobriu o fenômeno
eletromagnético chamado indução
eletromagnética ou autoindutância e a
indutância mútua.

𝑓𝑚𝑚 1 𝑉
1 (𝐻) =
𝐴
1𝑠

Joseph Henry
Tensão induzida
Lei de Faraday

Faraday concluiu que a tensão é induzida em um circuito sempre que o


fluxo que acopla o circuito (ou seja, que passa através dele) varia, e que a
magnitude da tensão é proporcional à taxa de variação dos acoplamentos
do fluxo. Esse resultado, conhecido como lei de Faraday, é também
algumas vezes postulado em termos da taxa das linhas de fluxo cortantes.
Lei de Lenz

Lenz mostrou que a polaridade da tensão


induzida é tal que se opõe ao que a
gerou. Esse resultado é conhecido como
lei de Lenz

Heinrich Friedrich Emil Lenz foi um físico


estoniano de etnia alemã. O símbolo L,
representação convencional de
indutância, é escolhido em sua memória.

Heinrich Friedrich Emil Lenz


Tensão induzida e indução
Como observado anteriormente, a indutância é totalmente provocada pelo campo magnético criado
pela corrente. Considere a figura abaixo. Em (a), a corrente é constante, e como o campo magnético é
provocado pela corrente, ele também é constante. Aplicando a lei de Faraday, vemos que, como o fluxo
que acopla a bobina não está variando, a tensão induzida é zero. Agora considere (b). Aqui, a corrente
(e, portanto, o campo) está aumentando. De acordo com a lei de Faraday, a tensão induzida é
proporcional à velocidade com que o campo varia, e, segundo a lei de Lenz, a polaridade dessa tensão
deve ser tal de modo a se opor ao aumento da corrente. Observe que, quanto mais rápido a corrente
aumentar, maior será a tensão antagônica. Agora considere (c). Como a corrente está diminuindo, a lei
de Lenz mostra que a polaridade da tensão induzida inverte, ou seja, o campo em colapso gera uma
tensão que tenta manter a continuidade da corrente. Novamente, quanto mais rápido a corrente variar,
maior será a tensão.
Força contra eletromotriz

Como a tensão induzida tenta se contrapor às variações na corrente, ela é chamada força
contra eletromotriz ou tensão de retorno. Observe com cuidado, entretanto, que essa
tensão não se opõe à corrente, ela se opõe somente à variação na corrente. Ela também
não previne a variação da corrente, apenas previne a variação brusca. O resultado é que se
a corrente em um indutor variar gradual e suavemente de um valor para outro o efeito da
indutância é, portanto, similar ao da inercia em um sistema mecânico. Um armazenador
cinético de energia (flywheel) usado em uma maquina, por exemplo, previne mudanças
bruscas na velocidade da maquina, mas não impede que a maquina varie gradualmente de
uma velocidade à outra.
Núcleo dos indutores

Como descobriu Faraday, a tensão induzida em uma bobina depende dos acoplamentos
de fluxo, e estes dependem dos materiais do núcleo. Bobinas com núcleos
ferromagnéticos (chamadas bobinas com núcleo de ferro) tem seu fluxo quase
totalmente confinado em seus núcleos, enquanto as bobinas enroladas em materiais
não ferromagnéticos não o tem. Estas são às vezes chamadas bobinas com núcleo de
ar porque todos os materiais não magnéticos do núcleo apresentam a mesma
permeabilidade que o ar, e, portanto, comportam-se da mesma maneira que ele.
Núcleo de ferro
No caso do núcleo de ferro, em teoria, todas as linhas de fluxo estão confinadas no núcleo e, dessa
forma, passam por todas as espiras do enrolamento. O produto do fluxo vezes o número de espiras
pelo qual ele passa é definido como acoplamento do fluxo da bobina. Para a um fluxo Ф linhas
passam através de N espiras, gerando um acoplamento de fluxo de NФ . De acordo com a lei de
Faraday, a tensão induzida é proporcional à taxa de variação de NФ. No sistema SI, a constante de
proporcionalidade é um, e a lei de Faraday para este caso pode ser postulada como:

𝑒 = 𝑁. 𝑡𝑎𝑥𝑎 𝑑𝑒 𝑣𝑎𝑟𝑖𝑎çã𝑜 𝑑𝑒 Φ

Ou seja:

𝑑Φ
𝑒=𝑁 (𝑉)
𝑑𝑡

Onde Ф é representado em webers, t em segundos e “e” em volts. Dessa forma, se


o fluxo varia a uma velocidade de 1 Wb/s em uma 1 espira da bobina, a tensão
induzida é 1 volt.
Núcleo de ar
Em um indutor com núcleo de ar nem todas as linhas de fluxo passam por todos os enrolamentos, é
difícil determinar os acoplamentos do fluxo como no caso de núcleo de ferro. No entanto (como não há a
presença de material ferromagnético), o fluxo é diretamente proporcional à corrente. Neste caso, como a
tensão induzida é proporcional à taxa de variação do fluxo, e como o fluxo é proporcional à corrente, a
tensão induzida será proporcional à taxa de variação da corrente. Sendo L a constante de
proporcionalidade, tem-se:

𝑒 = 𝐿. 𝑡𝑎𝑥𝑎 𝑑𝑒 𝑣𝑎𝑟𝑖𝑎çã𝑜 𝑑𝑎 𝑐𝑜𝑟𝑟𝑒𝑛𝑡𝑒

Ou seja:

𝑑𝑖
𝑒=𝐿 (𝑉)
𝑑𝑡

L é chamada auto indutância da bobina, e sua unidade é o henry no sistema SI


Auto indutância

A tensão induzida em uma bobina é e = Ldi/dt, onde L é a auto indutância da bobina (em geral,
chamada simplesmente de indutância), e di/dt é a taxa da variação da corrente nela. No
sistema SI, L é medida em henry e é a razão entre a tensão induzida em uma bobina e a taxa de
variação da corrente que gera essa tensão. Disso, obtém-se a definição do henry. Por definição,
a indutância de uma bobina será igual a um henry se a tensão gerada pela corrente variante for
igual a um volt quando a corrente variar a uma taxa de um ampere por segundo.
Na prática, a tensão em uma indutância é designada por vL em vez de e. Assim,

𝑑𝑖
𝑣𝐿 = 𝐿 (𝑉)
𝑑𝑡
Fórmula de indutância

A indutância para algumas formas simples pode ser determinada. Por exemplo, a indutância
aproximada da bobina da figura abaixo pode ser calculada como:

𝜇𝑁 2 𝐴
𝐿= (𝐻)

Onde l está em metros, A está em metros


quadrados, N é o numero de espiras e μ é a
permeabilidade do núcleo.

Se a razão l/d for maior do que 10 o erro da equação é menor que 4 %


Fórmula de indutância

Para obter uma indutância maior em espaços menores, às vezes se usam os núcleos de ferro.
A permeabilidade varia e a indutância não é constante, a menos que o fluxo no núcleo seja
mantido abaixo da saturação. Para alcançar uma indutância relativamente constante, pode-se
usar um entreferro. Se o entreferro for grande o suficiente para ser dominante, a indutância da
bobina será aproximadamente

𝜇𝑔 𝑁 2 𝐴𝑔
𝐿≅ (𝐻)
ℓ𝑔

Onde μ0 é a permeabilidade do ar, Ag é a área do


entreferro, e lg é o comprimento do entreferro. Uma outra
maneira de elevar a indutância é usar o núcleo de ferrite.
Indutância em série

𝐿𝑒𝑞 = 𝐿1 + 𝐿2 + 𝐿3 + ⋯ + 𝐿𝑁
Indutância em paralelo

1 1 1 1 1
= + + + ⋯+
𝐿𝑒𝑞 𝐿1 𝐿2 𝐿3 𝐿𝑁
Símbolos usados em circuitos
Resistência do indutor

Idealmente, os indutores tem apenas a


indutância. Todavia, como eles são
feitos de condutores imperfeitos (por
exemplo, fio de cobre), também
apresentam a resistência Pode-se
visualizar essa resistência como estando
em série com a indutância da bobina,
além da resistência existe também a
capacitância parasita. Embora a
resistência da bobina geralmente seja
pequena, em algumas situações deve
ser incluída na análise de um circuito.
Capacitância parasita

Como as espiras de um indutor são separadas umas das outras por


isolantes, há uma pequena quantidade de capacitância de
enrolamento para enrolamento. Esta é chamada capacitância
parasita. Embora ela seja distribuída de espira para espira, seu efeito
pode ser aproximado concentrando-se todas as capacitâncias. O efeito
da capacitância parasita depende da frequência. Em baixa frequência,
ela pode ser desprezada; em altas frequências, talvez tenha de ser
levada em conta. Algumas bobinas são enroladas em seções múltiplas
para reduzir a capacitância parasita.
Indutâncias parasitas

Como a indutância é totalmente ocasionada pelos efeitos magnéticos da


corrente elétrica, todos os condutores de corrente têm indutância. Isso
significa que todos os condutores nos componentes de circuito, como
resistores, capacitores, transistores etc., têm indutância, assim como os
trilhos nas placas de circuito impresso e os fios nos cabos. Chamamos essa
indutância de indutância parasita. Felizmente, em muitos casos, a indutância
parasita é tão pequena que pode ser desprezada
Indutância e estado estacionário CC

Examinando circuitos indutivos com corrente constante CC. A tensão em uma


indutância ideal com a corrente constante CC é zero porque a taxa de variação da
corrente é zero. Como o indutor possui corrente através dele, mas nenhuma
tensão, ele se comporta como um curto-circuito. Em geral, isso é verdade, ou seja,
um indutor ideal se comporta como um curto-circuito em estado estacionário CC
(esse fato não deve surpreender, já que é apenas um pedação de fio para CC).
Para um indutor não ideal, seu equivalente CC é a sua resistência da bobina.
Energia armazenada pela indutância
Quando a potencia flui em um indutor, a energia é armazenada em seu campo magnético. Quando o
campo entra em colapso, essa energia retorna para o circuito. Para um indutor ideal, Rl = 0 ohm,
não havendo potencia dissipada; logo, um indutor ideal tem uma perda de potencia nula.
Para determinar a energia armazenada por um indutor ideal a potência do indutor é dada por p = vLi
(W), onde vL = Ldi/dt. Somando essa potência, acha-se a energia da seguinte maneira:

1 2
𝑊 = 𝐿𝑖 (𝐽)
2

Onde i é o valor instantâneo da corrente. Quando a


corrente alcança seu valor de estado estacionário essa
energia permanece armazenada no campo, desde que a
corrente continue. Quando a corrente atinge zero, o
campo se desfaz, e a energia retorna ao circuito.
Cálculo da energia

A potencia do indutor é dada por p = vLi, onde vL = Ldi/dt.


Logo, p = Lidi/dt. Então, p = dW/dt. Tem-se:

𝑡 𝑡 𝑡
𝑑𝑖 1 2
𝑊 = න 𝑝𝑑𝑡 = න 𝐿𝑖 𝑑𝑡 = 𝐿 න 𝑖𝑑𝑖 = 𝐿𝑖
𝑑𝑡 2
0 0 0
UNIVERSIDADE FEDERAL DE ITAJUBÁ
INSTITUTO DE ENGENHARIA DE SISTEMAS E TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO

Professor Egon Luiz Müller Júnior

Você também pode gostar