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ELETROMECÂNICA
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3 UNIDADE 1 - Introdução
4 UNIDADE 2 - Eletricidade e Magnetismo
4 2.1 Breve evolução histórica

4 2.2 Conceitos e definições

5 2.3 Propriedades magnéticas dos materiais

6 2.4 Classificação dos materiais

9 2.4.1 Em termos de propriedades magnéticas

9 2.4.2 Em termos da susceptibilidade magnética

SUMÁRIO
9 2.5 Histerese

13 UNIDADE 3 - Circuitos Magnéticos


13 3.1 Circuitos magnéticos lineares

13 3.2 Circuitos magnéticos não lineares

14 3.3 Fator de empacotamento

14 3.4 Circuitos magnéticos com entreferros


16 UNIDADE 4 - Transformadores
18 4.1 Transformador monofásico

21 4.2 Transformações trifásicas

21 4.3 Transformadores de múltiplos enrolamentos

24 UNIDADE 5 - Conversão de Energia


24 5.1 Transdutores de energia

26 UNIDADE 6 - Máquinas Elétricas


27 6.1 Características dos principais tipos de motores

37 6.2 Motores assíncronos trifásicos com rotor em gaiola

38 6.3 Alternador – geradores síncronos

39 6.4 Noções básicas de transmissão e conversão de movimento

46 REFERÊNCIAS
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UNIDADE 1 - Introdução

Assim como a eletrônica, a eletromecâ- selecionar, calcular, desenhar, mo-


nica também faz parte do currículo básico nitorar, operar e manter sistemas básicos
da Engenharia Elétrica e dedicamos este de medição e controle de processos indus-
terceiro módulo à eletricidade aplicada à triais.
mecânica, a começar por conceitos básicos
como eletricidade e magnetismo, materiais Quanto ao tema sobre conversão de
e circuitos magnéticos. energia eletromecânica, é de especial inte-
resse formando um ponto de contato im-
Se pensarmos em tecnologia, a eletro- portante entre a engenharia elétrica e as
mecânica tem exatamente essa função: engenharias de outras áreas. Os transdu-
combinar ciências e técnicas de eletrotéc- tores eletromecânicos são usados geral-
nica com as da mecânica. Por outro lado, mente nos projetos de sistemas de contro-
quando se trata da combinação da mecâni- les industriais, aeroespaciais e aplicações
ca com a eletrônica estaremos falando em biomédicas e formam a base de muitas
mecatrônica. aplicações comuns. Princípios de funcio-
Dentre as competências do profis- namento de motores e máquinas elétricas
completam o módulo.
sional da eletromecânica podemos
citar: Ressaltamos em primeiro lugar que em-
bora a escrita acadêmica tenha como pre-
selecionar, implementar e controlar
missa ser científica, baseada em normas e
processos de produção industrial de com-
padrões da academia, fugiremos um pouco
ponentes, selecionando os materiais ade-
às regras para nos aproximarmos de vocês
quados;
e para que os temas abordados cheguem
organizar, gerir, planejar e controlar de maneira clara e objetiva, mas não me-
as atividades de manutenção em instala- nos científicos. Em segundo lugar, deixa-
ções industriais; mos claro que este módulo é uma compila-
ção das ideias de vários autores, incluindo
monitorar, operar e manter instala-
aqueles que consideramos clássicos, não
ções, máquinas e outros equipamentos
se tratando, portanto, de uma redação ori-
térmicos, elétricos e hidráulicos em pleno e
ginal e tendo em vista o caráter didático da
ótimo funcionamento;
obra, não serão expressas opiniões pesso-
calcular, selecionar, montar, operar, ais.
monitorar e manter as máquinas elétricas
Ao final do módulo, além da lista de re-
utilizadas em instalações industriais;
ferências básicas, encontram-se outras
planejar, calcular, desenhar, construir, que foram ora utilizadas, ora somente con-
operar, monitorar e manter instalações sultadas, mas que, de todo modo, podem
elétricas de alta, média e baixa tensão, de servir para sanar lacunas que por ventura
acordo com as regulamentações vigentes; venham a surgir ao longo dos estudos.
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UNIDADE 2 - Eletricidade e Magnetismo

2.1 Breve evolução histórica No século XX vimos consolidar o ele-


tromagnetismo por meio de sua incor-
Desde a antiguidade temos notícia de
poração à teoria da relatividade restrita
que os povos conheciam a eletricidade, es-
de Einstein, o qual percebeu que campos
pecialmente os gregos conheciam o fenô-
elétricos e magnéticos são partes de um
meno de eletrização por atrito. Eles sabiam
campo mais geral, denominado campo
que o âmbar (resina amarelada) quando
eletromagnético. Posteriormente, o ele-
atritada com pele de animais, atraia partí-
tromagnetismo foi incorporado à ciência
culas leves como sementes ou palha. Âmbar
do muito pequeno, a mecânica quântica,
em grego é elektron, o que gerou o nome da
onde outros resultados interessantes pu-
palavra eletricidade e do elétron.
deram ser tirados (NUSSENZVEIG, 1997;
Em se tratando de magnetismo, também SANTOS, 2011).
encontramos na Grécia o conhecimento das
propriedades de um minério de ferro en- 2.2 Conceitos e definições
contrado na região da Magnésia, a magne- Por definição, magnetismo é um fenô-
tita (Fe3O4), que atraia pequenos fragmen- meno básico no processo de andamento
tos de ferro. Os chineses também já haviam de geradores, motores elétricos, na repro-
descoberto que uma agulha de magnetita dução de voz e de imagens, no armazena-
capaz de se orientar livremente num plano mento de memória de aparatos tecnológi-
horizontal alinha-se aproximadamente na cos, como os computadores, entre outras
direção norte-sul. Eles usavam este apare- aplicações.
lho como uma bússola para navegação.
Ele acontece quando um elemento atrai
Até fins do século XVIII, eletricidade e pedaços de ferro e encontra no imã, o ob-
magnetismo eram ciências totalmente des- jeto mais comum que possui essas proprie-
conectadas entre si, consideradas apenas dades atrativas. Quando estes fenômenos
como curiosidades de laboratório. Em ambos acontecem nas correntes elétricas chama-
os casos, conheciam-se apenas fenômenos mos de eletromagnetismo.
estáticos, em que não havia movimentação
de cargas, ou seja, corrente elétrica. A magnetita é, portanto, um imã natural.
Chamamos corpo neutro àquele que não
Foi somente no século XIX que alguns ex- tem propriedade magnética: corpo iman-
perimentos mostraram certa relação entre tado àquele que se tornou ímã. Os corpos
a eletricidade e o magnetismo, mais preci- que se imantam com grande facilidade são
samente os efeitos magnéticos das corren- o ferro e certas ligas de ferro usadas na fa-
tes. Enquanto Faraday mostrou o fenôme- bricação de ímãs permanentes. Uma des-
no de indução eletromagnética (variação de sas ligas é o ALNICO, composta de ferro,
campos magnéticos que com o tempo pro- alumínio, níquel, cobre e cobalto.
duzia campos elétricos); Maxwell formulou
a teoria clássica do eletromagnetismo. De acordo com a constituição química
do ímã artificial, ele pode manter a pro-
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priedade magnética por muito tempo, até mo é uma propriedade básica de qualquer
por muitos anos, ou perdê-la logo depois material. As propriedades magnéticas dos
que cesse a causa da imantação. No pri- materiais têm sua origem na estrutura
meiro caso, o ímã é chamado permanente; eletrônica dos átomos. Do ponto de vista
no segundo, ímã temporal, ou transitório. clássico, são de dois tipos os movimentos,
Os eletroímãs são sempre ímãs temporais. associados ao elétron que podem explicar
Os ímãs naturais são permanentes (USP, a origem dos momentos magnéticos: o mo-
2007). mento angular orbital do elétron, e o mo-
mento angular do “spin” do elétron.
As regras do eletromagnetismo são re-
gidas pelas quatro equações de Maxwell.

Dentro do eletromagnetismo são estu-


dados vários segmentos como o magne-
tismo, a eletrostática, a magnetostática, a
eletrodinâmica e os circuitos elétricos.

As principais unidades utilizadas


dentro do eletromagnetismo podem Fonte: GRAÇA (2012, p. 1).
ser encontradas na tabela a seguir:
Veja as ilustrações abaixo:

2.3 Propriedades magnéti-


cas dos materiais
Todas as substâncias sejam elas sóli-
das, líquidas ou gasosas mostram algu-
ma característica magnética, em todas as
temperaturas. Dessa forma, o magnetis-
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Quando algum material é colocado sobre os materiais diamagnéticos:


em um campo magnético externo Bo, os
o campo magnético induzido se
momentos magnéticos atômicos individu-
opõe ao campo magnético externo, ge-
ais no material contribuem para a sua res-
rando uma repulsão de pequena inten-
posta ao campo magnético Bm, a indução
sidade. As variações do Campo Externo
magnética B é descrita assim: B= Bo+Bm.
geram variações no momento orbital dos
O campo magnético externo Bo ten- elétrons;
de a alinhar os momentos magnéticos di-
a susceptibilidade diamagnética é
polares (tanto induzidos como permanen-
negativa B<Bo;
tes) dentro do material, nesta situação o
material é dito magnetizado. Descreve-se os materiais diamagnéticos são re-
um material magnetizado por sua magne- pelidos pelo campo externo, observan-
tização Bm, que é definida como a soma do-se a repulsão das linhas de campo
de todos os momentos magnéticos ele- magnético;
mentares, por unidade de volume.
todas as substâncias são compos-
Para materiais do tipo paramagnéti- tas de átomos e moléculas nos quais os
cos e ferromagnéticos, Bm está na mesma elétrons ocupam órbitas definidas e,
direção de Bo; para materiais diamagnéti- evidentemente, o diamagnetismo é uma
cos, Bm é contrário a Bo. Para materiais propriedade geral que também ocorre
paramagnéticos e diamagnéticos, na quando os átomos possuam momentos
maioria das situações, a magnetização é magnéticos permanentes. No caso ge-
proporcional ao campo magnético aplica- ral, pode-se dizer que a susceptibilidade
do. magnética será a soma dos dois efeitos,
A magnetização nos materiais varia, ;
desde diamagnético até ferromagnético.
o valor do termo diamagnético, em
2.4 Classificação dos mate-
riais
geral, é muito inferior, em módulo, ao pa-
2.4.1 Em termos de pro- ramagnético;

priedades magnéticas os materiais chamados diamagnéti-


a) Materiais diamagnéticos: cos são aqueles que não possuem dipo-
los magnéticos permanentes, em virtude
pequenos valores negativos de dos seus átomos ou íons possuírem ca-
X (ou seja, o campo de magnetização madas eletrônicas completas. Os gases
opõe-se ao campo aplicado e desaparece nobres, como o He, Ne, Ar, Kr, Xe são por-
quando se retira o campo aplicado). tanto diamagnéticos, bem como os com-
Exemplos: Zn Cd Cu, Ag, Sn. postos como o NaCl, KBr e LiF, da mesma
forma, por possuírem camadas comple-
Outras observações importantes tas.
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os materiais paramagnéticos em
Susceptibilidade magnética (Xm) campos magnéticos sofrem o mesmo
tipo de atração e repulsão que os ímãs
normais, mas quando o campo é removi-
do o movimento Browniano rompe o ali-

de alguns materiais diamagnéticos:


Fonte: Padilha (2000, p. 321).

Eles não apresentam temperatura crí-


tica. É interessante mencionar que os
materiais supercondutores tem compor-
tamento diamagnético.

b) Materiais Paramagnéticos:
pequenos valores positivos de X
(o campo de magnetização desaparece
quando se retira o campo aplicado).

Exemplos: Al, Ca, Pt, Ti.


Outras considerações sobre os
materiais paramagnéticos:
o paramagnetismo consiste na ten-
dência que os dipolos magnéticos atô- nhamento magnético.
micos (orbitais e de spin) têm de se ali- De acordo com a Lei de Curie, a suscep-
nharem paralelamente com um campo tibilidade magnética varia com o inverso
magnético externo; da temperatura.
a susceptibilidade é então positiva, Nestes materiais, átomos estão com
mas pequena;

o paramagnetismo requer que os


átomos possuam, individualmente, dipo-
los magnéticos permanentes;
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momentos magnéticos permanentes. frisando – a temperatura a partir da


Campo externo alinha os momentos qual um material ferromagnético passa a
magnéticos surgindo o efeito paramag- ser paramagnético é denominada tempe-
nético. ratura de Curie;

Ocorre a competição entre o efeito uma teoria para o ferromagnetismo


de alinhamento magnético e a energia baseada nos momentos magnéticos atô-
cinética da agitação térmica (movimento micos, foi proposta por Pierre Weiss. Nes-
Browniano). te modelo, cada dipolo magnético atômi-
co sofre a ação de um campo magnético
Átomos com momento magnético médio criado pelos vizinhos, que tende
atômico não nulo, mas cuja orientação a fazer com que os vizinhos muito próxi-
espacial é aleatoriamente distribuída. O mos formem um domínio de momentos
campo magnético externo se acopla a es- magnéticos na mesma direção. Este cam-
tes momentos magnéticos gerando uma po efetivo é chamado campo molecular
atração de pequena intensidade. de Weiss e é proporcional à magnetiza-
ção local do domínio;
c) Materiais Ferromagneticos:
a origem do campo molecular de
X é grande (>>1). O campo de mag-
Weiss é atribuída a uma energia de tro-
netização mantém-se quando se remove
ca entre dois elétrons cuja diferença de
o campo aplicado.
energia eletrostática resulta de que os
Exemplos: Fe, Ni e Co. spins paralelos possuam uma energia mí-
nima de troca;
Outras considerações sobre ferro-
magnetismo: em materiais magnéticos, como o
ferro e o aço, os campos magnéticos dos
os materiais ferromagnéticos, as-
elétrons se alinham formando regiões
sim como os paramagnéticos, ocorrem
que apresentam magnetismo espontâ-
nos átomos que possuem momentos de
neo. Essas regiões são chamadas de do-
dipolo magnéticos resultantes perma-
mínios (figura a);
nentes. O que diferencia os materiais fer-
romagnéticos dos paramagnéticos é que em uma peça não-magnetizada de
nos primeiros existe uma forte interação um material magnético os domínios es-
entre momentos de dipolo atômicos vizi- tão distribuídos de forma aleatória e o
nhos que os mantêm alinhados, mesmo campo magnético total em qualquer dire-
quando o campo magnético externo é re- ção é zero (figura b);
movido;
quando esse material sofre a ação
nos materiais ferromagnéticos de um campo magnético externo, os do-
existe forte interação entre os spins. O mínios que estão aproximadamente ali-
resultado é tal que um grande número de nhados com o campo aplicado crescem à
spins alinha-se numa mesma direção for- custa dos outros domínios (figura c).
mando os domínios magnéticos;
d) Materiais Ferrimagnéticos:
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As propriedades magnéticas dos

materiais são consequência dos


momentos magnéticos atômicos, ou
seja:
os íons têm dipolos magnéticos de
Paramagnéticos – possuem mo-
intensidade diferente. Logo existe sem-
mento magnético atômico permanente;
pre um momento resultante.
Diamagnéticos – não possuem
Exemplos: ferrites, magnetites, momento magnético atômico;
em geral óxidos metálicos.
Ferromagnéticos – fortes momen-
tos atômicos ordenados.
2.4.2 Em termos da sus-
Lembre-se que os elétrons pos-
ceptibilidade magnética suem spin quantizado: s = +-1/2:
As substâncias ferromagnéticas são
fortemente atraídas pelos ímãs. Já as os elétrons possuem momento mag-
substâncias paramagnéticas e diamag- nético e atuam como espiras de corrente
néticas são, na maioria das vezes, deno- de dimensões atômicas, com momento
minadas de substâncias não magnéticas, de dipolo μ = +- eh/4πm = 9.27e-24 J/T;
pois seus efeitos são muito pequenos
os elétrons também possuem mo-
quando sobre a influência de um campo
mento magnético devido ao movimento
magnético, conforme ilustra o gráfico a
orbital, que também é quantizado.
seguir:

Fonte: Graça (2012, p. 13). 2.5 Histerese


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De maneira bem simples, podemos de- nética é sujeita a uma magnetização al-
finir histerese como a tendência de um ternada há uma perda de energia que se
material ou sistema em conservar suas transforma em calor e que é, por unidade
propriedades na ausência de um estímu- de volume, proporcional à área do ciclo de
lo que as gerou. histerese cada vez que este é percorrido.

Quando uma substância ferromag- Diferentes processos atuam ao longo

da curva de magnetização e de histerese, depende da composição do material. A mi-


mas os principais são a movimentação de croestrutura tem muita influência nas per-
paredes e a rotação de domínios. A energia das de histerese enquanto que a resistivi-
dissipada na magnetização do material é dade e a espessura têm influência muito
dada pela área da curva de magnetização grande nas perdas pelas correntes parasi-
(interior à curva de histerese), (Bo * B). tas (GRAÇA, 2012).

Nas aplicações em corrente alternada a Abaixo temos exemplos de aplicação de


60 Hz, o material é magnetizado e desmag- materiais magnéticos.
netizado 60 vezes por segundo. A variação
do fluxo gera perdas magnéticas devidas
principalmente à histerese e às correntes
de Foucault. O valor relativo dessas perdas
Lembre-se que todos os materiais pos-
11

Fonte: Graça (2012, p. 33).


12

suem propriedades magnéticas: os dia-


magnéticos (todos); os paramagnéticos e
ferromagnéticos (alguns). Estas proprie-
dades dependem dos momentos de dipolo
magnético que todos os átomos possuem
e o núcleo também.
13

UNIDADE 3 - Circuitos Magnéticos

Os circuitos magnéticos são emprega- geralmente se torna


dos com o intuito de concentrar o efeito
impossível de ser usado. Usualmente,
magnético em uma dada região do espaço.
só é possível se extrair uns poucos parâ-
Em outras palavras, este circuito direciona
metros descritivos, através dos quais as
o fluxo magnético para onde for deseja-
propriedades operacionais importantes da
do, sendo dotado de materiais com certas
máquina podem ser descritas adequada-
propriedades magnéticas e dimensões, a
mente. Em muitos casos, essa extração de
partir de uma variedade de seções e dife-
parâmetros resulta em um circuito elétri-
rentes comprimentos. Cumpre salientar
co equivalente, em outros, resulta em um
aqui que as características magnetizantes
conjunto de equações.
dos materiais são de natureza não linear, o
que deve ser levado em conta nos projetos Embora Bim (2012) ressalte que tradi-
de dispositivos eletromagnéticos. A título cionalmente a análise de circuitos magné-
de exemplos poderíamos citar a determi- ticos seja realizada a partir de sua analogia
nação da corrente elétrica requerida em com os circuitos elétricos, tentaremos ser
um enrolamento para produzir uma dada sucintos, pois acreditamos que este conte-
densidade de fluxo no entreferro de um údo foi apresentado em sua amplitude na
pequeno atuador, de um relé ou de um ele- graduação e mesmo porque objetivamos
tromagneto. concentrar os estudos nos transformado-
res, motores e máquinas elétricas.
Basicamente, todos os transformado-
res e máquinas elétricas usam material
ferromagnético para direcionar e dar for-
3.1 Circuitos magnéticos li-
ma a campos magnéticos, os quais atuam neares
como meio de transferência e conversão São considerados magneticamente li-
de energia (FITZGERALD et al., 2006). Ma- neares os circuitos magnéticos através dos
teriais magnéticos permanentes, ou imãs, quais a permeabilidade relativa é baixa.
também são largamente utilizados. Sem Circuitos magneticamente lineares podem
esses materiais, não seriam possíveis as ser obtidos quando o núcleo é de ar, ou de
implementações práticas da maioria dos material não-ferromagnético, ou quando o
dispositivos eletromecânicos de conver- entreferro for bastante grande.
são de energia.

Ferreira (2012) explica que os conceitos 3.2 Circuitos magnéticos


de campos elétricos e magnéticos são mui- não lineares
to úteis para a compreensão desses pro-
São considerados não lineares todos os
cessos de conversão. Contudo, quando es-
circuitos magnéticos que utilizem mate-
ses processos são utilizados em máquinas
riais ferromagnéticos, dotados de perme-
complexas, a grande quantidade de infor-
abilidade magnética alta, tais como o ferro
mações contidas na abordagem de campo
fundido, o aço silício, o aço fundido, a ferri-
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te, etc. A maioria dos circuitos magnéti- Núcleo laminado


cos de aplicação prática são não lineares
e a permeabilidade dos materiais ferro-
magnéticos torna-se variável em função
da indução ou densidade de fluxo mag-
nético B no núcleo.

3.3 Fator de empacotamen-


to
Quando um material ferromagnéti- Fonte: Aquino (2012, p. 6).
co é colocado na presença de um campo
A tabela a seguir fornece alguns valo-
magnético variável no tempo, correntes
res para o fator de empacotamento em
parasitas (ou correntes de Foucault) se-
função da espessura da chapa ou lâmina
rão induzidas em seu interior, provocan-
utilizada.
do perdas de energia com o aquecimento
do material. A redução deste fenômeno é
obtida com o núcleo de dispositivos ele-
tromagnéticos construído com chapas ou
lâminas de material ferromagnético, iso-
ladas entre si (por exemplo, com verniz).

Assim, devido ao processo de empi-


lhamento das chapas para montagem do
núcleo, a área efetiva do material ferro-
magnético, Smag atravessada pelo fluxo
3.4 Circuitos magnéticos
torna-se menor que a área geométrica, com entreferros
Sgeom ocupada pelo núcleo. Pode-se en- Alguns dispositivos eletromagnéticos,
tão definir um fator de empacotamento tais como instrumentos de medidas, mo-
ke como sendo a relação: tores, relés, etc., por serem constituídos
de uma parte fixa e outra móvel, possuem
um espaço de ar lg na sua estrutura mag-
nética. Este espaçamento ou interstício
promove o acoplamento entre as partes
sob o ponto de vista magnético para que
o fluxo se estabeleça por um caminho fe-
chado. A este espaço é dado o nome de
Outra razão de natureza prática para “entreferro” (ou “air gap” em inglês).
a laminação do circuito magnético é a de
facilitar a colocação das bobinas no dis-
positivo visando à construção e à manu-
tenção.

Veja abaixo um núcleo laminado.


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Estrutura magnética com entreferro

Fonte: Aquino (2012, p. 8).

Ao cruzar o entreferro, o fluxo magné-


tico sofre um fenômeno chamado de es-
praiamento (frangeamento, espalhamen-
to, efeito de bordas), conforme pode ser
visto na figura abaixo. Isto faz com que a
área efetiva por onde passa o fluxo se tor-
ne maior que a área S geométrica do entre-
ferro (AQUINO, 2012).

Campo magnético em um entreferro

Fonte: Aquino (2012, p. 8)

Seja uma área de secção reta S = a x b


retangular e o entreferro de comprimento
lg. Então, de uma forma prática, podemos
calcular a área aparente ou efetiva do en-
treferro Sg através da relação:

Observe-se aqui que quando o entrefer-


ro for muito reduzido, o efeito do espraia-
mento pode ser desprezado.
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UNIDADE 4 - Transformadores

Uma das estruturas magnéticas mais dor. No caso da distribuição, ao contrário


comuns nas aplicações do nosso cotidia- da transmissão, a tensão tem de ser di-
no é o transformador! minuída para atender às exigências das
cargas (BIM, 2012).
A facilidade na geração, transmissão e
distribuição de energia elétrica em cor- De maneira bem simplificada por Gia-
rente alternada possibilitou o seu empre- comin (2013) temos:
go em larga escala no ambiente indus-
trial. Os transformadores, os geradores A energia elétrica produzida nas
síncronos e os motores de corrente al- usinas hidrelétricas é levada, median-
ternada são os principais dispositivos de te condutores de eletricidade, aos
conversão eletromecânica, responsáveis lugares mais adequados para o seu
por esse fato. A invenção e o desenvolvi- aproveitamento. Ela iluminará cida-
mento do transformador elétrico não só des, movimentará máquinas e moto-
impulsionou a construção como também res, proporcionando muitas comodi-
estabeleceu o predomínio dos sistemas dades.
de transmissão de energia elétrica em
corrente alternada sobre os de corrente Para o transporte da energia até os
contínua, a partir do século XIX. A razão pontos de utilização, não bastam fios e
desse fato é que o transformador permi- postes. Toda a rede de distribuição de-
tiu, de forma simples, robusta e eficiente pende estreitamente dos transformado-
a transferência de energia de um circui- res, que elevam a tensão, ora a rebaixam.
to para outro, geralmente acompanhada Nesse sobe e desce, eles resolvem não
pela transformação de tensão e, conse- só um problema econômico, reduzindo
quentemente, de corrente. os custos da transmissão a distância de
energia, como melhoram a eficiência do
A geração de energia elétrica nas processo.
grandes usinas utiliza geradores síncro-
nos que são limitados a tensões de apro- Veja o esquema abaixo:
ximadamente 25 kV. Transmitir energia
para grandes distâncias com esse nível
de tensão levaria a perdas por efeito Jou-
le elevadas; assim, utiliza-se um trans-
formador que eleva a tensão e, conse-
quentemente, diminua a corrente nas
linhas: se a tensão do gerador for multi-
plicada por 10, a corrente na transmissão
será dividida por 10 e, portanto, a perda
por efeito Joule será 1/100 do valor que
se obteria com a tensão original do gera-
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Geração, distribuição e consumo condutores, seria necessário usar fios mais


de energia elétrica grossos, o que os tornaria mais pesados e o
transporte absurdamente caro. A solução é
o uso do transformador que aumenta a ten-
são, nas saídas das linhas da usina, até atin-
gir um valor suficientemente alto para que
o valor da corrente desça a níveis razoáveis
(P = U x i). Assim, a potência transportada
não se altera e a perda de energia por aque-
cimento nos cabos de transmissão estará
dentro dos limites aceitáveis.

Na transmissão de altas potências, tem


sido necessário adotar tensões cada vez
mais elevadas, alcançando em alguns casos
a cifra de 400.000 volts. Quando a ener-
gia elétrica chega aos locais de consumo,
outros transformadores abaixam a tensão
até os limites requeridos pelos usuários, de
acordo com suas necessidades (GIACOMIN,
2013).

Relembremos brevemente que em 1820,


a clássica experiência de Oersted mostrou
Antes de mais nada, os geradores que
que a corrente elétrica (eletricidade) produ-
produzem energia precisam alimentar a
zia o deslocamento de uma bússola (efeito
rede de transmissão e distribuição com
magnético). A partir dessa experiência, a
um valor de tensão adequado, tendo em
questão era como obter eletricidade a partir
vista seu melhor rendimento. Esse valor
do magnetismo.
depende das características do próprio
gerador, enquanto a tensão que alimenta Michael Faraday, em 1831, com a desco-
os aparelhos consumidores, por razões berta do princípio da indução eletromag-
de construção e, sobretudo de seguran- nética, mostrou que é possível, a partir de
ça, tem valor baixo, nos limites de algu- fluxo magnético variável (magnetismo),
mas centenas de volts (em geral, 127 ou gerar tensões elétricas (efeito elétrico). Sua
220). Isso significa que a corrente, e prin- experiência consistiu em chavear a fonte de
cipalmente a tensão fornecida, variam de tensão que alimentava uma bobina enrola-
acordo com as exigências. da em torno de um núcleo toroidal e verifi-
car o surgimento de tensão elétrica entre os
Nas linhas de transmissão a perda de po-
terminais de uma segunda bobina, isolada
tência por liberação de calor é proporcional
eletricamente da primeira. Outro aspecto
à resistência dos condutores e ao quadrado
pioneiro dessa descoberta foi o fato de Fa-
da intensidade da corrente que os percorre
raday ter usado um núcleo de ferro fecha-
(P = R x i2). Para diminuir a resistência dos
do com duas bobinas separadas e sem co-
18

nexão elétrica, construindo assim o que se conversão eficiente da corrente contínua


pode chamar de transformador primitivo, em corrente alternada e vice-versa. Moni-
ilustrado a seguir. torando a tensão do lado de C.A. através
do transformador e fazendo a retifica-
O transformador primitivo de Fara- ção no lado do enrolamento secundário,
day a transmissão em corrente contínua tor-
nou-se uma alternativa à transmissão em
corrente alternada, com os atrativos de
minimizar a necessidade de potência rea-
tiva e a redução de perdas no sistema.

Na usina hidrelétrica brasileira de Itai-


pu, o enrolamento de estator do gerador
síncrono – conectado em estrela – gera 18
kV entre as fases, alimenta o lado da baixa
Em 1882, em Nova York, Thomas Edison – conectado em delta – de um banco tri-
construiu um sistema elétrico com o qual fásico elevador que tem o seu secundário
mostrava as vantagens de se operar uma em estrela e com o neutro aterrado (BIM,
rede elétrica com tensão constante e car- 2012).
gas ligadas em paralelo. Mas coube a três
engenheiros húngaros – Max Deri, Otto
4.1 Transformador monofá-
Blathy e Karl Zipernowsky – mostrar pela
primeira vez, em uma exposição industrial sico
da Hungria, realizada na cidade de Buda- O transformador monofásico é um dis-
peste, em 1885, um sistema comercial de positivo elétrico que converte tensão e,
energia em corrente alternada para ali- consequentemente, corrente, através
mentar 1.067 lâmpadas incandescentes de dois enrolamentos montados em um
ligadas em paralelo, com a tensão de 60 núcleo magnético fechado, como mos-
V. O sistema de 100 Hz era composto por trado nas figuras (a) e (c) abaixo.
um gerador monofásico CA acionado por
uma máquina a vapor, por 12 transforma- Transformadores monofásicos
dores de núcleo envolvente de 5 kVA e por
4 transformadores de 7,5 kVA do tipo nu-
clear: transformador foi o nome dado por
eles aos dispositivos que converteram a
tensão de 1,4 kV para 60 V.

Os transformadores construídos e co-


locados em operação pelos três pesquisa-
dores foram os primeiros transformado-
res práticos com núcleo de ferro fechado.

A partir de 1960, o desenvolvimento de Fonte: Bim (2012, p. 67).


dispositivos de estado sólido permitiu a
O enrolamento das bobinas que re-
19

cebem energia da fonte elétrica mono- as bobinas dos enrolamentos do primário


fásica é, geralmente, denominado en- e secundário são envolvidas pelo núcleo,
rolamento primário, e o enrolamento ao com as bobinas do primário e do secundá-
qual a carga é conectada, enrolamento rio enroladas em torno da mesma coluna,
secundário. Esses enrolamentos podem como mostrado nas figuras (c) e (b).
ainda ser designados de acordo com a
2. Tipo núcleo envolvido, no qual as
tensão a que estão submetidos, ou seja:
colunas do núcleo são envolvidas pelas
enrolamento de alta ou de baixa tensão.
bobinas dos enrolamentos.
O transformador é dito abaixador quando
a tensão no primário é maior do que a do O transformador do tipo núcleo envol-
secundário; no caso contrário, é denomi- vente, quando comparado com o de nú-
nado transformador elevador. Quando os cleo envolvido, tem a vantagem de uti-
enrolamentos estão eletricamente co- lizar quantidades menores de cobre e a
nectados, como mostrado na figura (b), o desvantagem de exigir uma quantidade
dispositivo é denominado autotransfor- maior de material magnético para formar
mador. o núcleo.
O transformador utilizado na trans- O número de espiras das bobinas que
missão e distribuição de energia elétrica compõem cada um dos enrolamentos
é denominado transformador de potên- estabelece a relação entre as tensões
cia, e, com o objetivo de diminuir as per- internas (forças eletromotrizes) desses
das-ferro, o núcleo é montado a partir enrolamentos.
de lâminas de espessura fina; o material
Para o caso do transformador trifá-
magnético utilizado apresenta laços de
sico, cada fase tem o seu enrolamento
histerese estreitos e tem uma porcenta-
de alta e de baixa tensão dispostos de
gem de silício geralmente menor do que
forma concêntrica e com o enrolamento
4%.
de baixa sendo sempre o mais interno;
Outra aplicação de transformador é a assim, evita-se o perigo da formação de
de medição de tensão e de corrente; nes- arco entre o núcleo e o enrolamento da
se caso ele é projetado especificamente alta tensão, além de facilitar o reparo
para ter as propriedades de um aparelho dos transformadores, uma vez que, na
de medição e recebe os nomes de trans- maioria dos casos, são os enrolamentos
formador de potencial (TP) e de corrente de alta que sofrem danos físicos, como
(TC), respectivamente. É comum encon- queima parcial ou total de suas bobinas.
trar em circuitos eletrônicos os chama- Cada uma das três colunas verticais aco-
dos transformadores de pulsos. moda os enrolamentos concêntricos de
alta e de baixa de uma fase. Os terminais
De acordo com o arranjo entre as
dos enrolamentos de alta podem ser co-
bobinas dos enrolamentos e o nú- nectados em estrela (Y) ou em delta (Δ),
cleo, existem dois tipos de transfor- bem como os de baixa, resultando em um
madores: dos seguintes arranjos: YY, ΔΔ, YΔ e ΔY.
1. Tipo núcleo envolvente, no qual Os arranjos trifásicos podem ser ob-
20

tidos também pelos conhecidos bancos particular do primário conectado em del-


trifásicos, formado por três transforma- ta e o secundário em estrela.
dores monofásicos independentes. Na
figura abaixo temos representado o caso
Banco trifásico conectado em ΔY e
conectado a uma linha trifásica

Fonte: Bim (2012, p. 69).

O transformador é projetado para fun- as tensões nos lados de baixa e de alta;


cionar com valores selecionados de potên-
corrente nominal é o valor eficaz da
cia, de tensão, de frequência, de corrente e
corrente especificado pelo projeto para que
de temperatura. Quando o transformador
o limite de temperatura permitido não seja
funciona com esses valores, mencionados
ultrapassado;
como sendo os dados ou valores nominais,
diz-se que ele funciona nas condições nomi- frequência nominal é a frequência de
nais. O fabricante registra esses dados em operação para a qual o transformador foi
uma placa fixada na caixa do transformador projetado;
e, por essa razão, muitas vezes utiliza-se a
potência aparente nominal de um
expressão dados de placa, em vez de valo-
transformador é a potência nos terminais
res nominais.
do secundário, isto é, a potência que pode
Definem-se, então, as seguintes ser entregue à carga com tensão e frequ-
grandezas nominais: ência nominais, sem que se viole a sua tem-
peratura limite. Geralmente é expressa em
tensão nominal de um transformador
kVA.
é o valor eficaz da tensão que serve de base
para o seu funcionamento. Geralmente, é Os dois enrolamentos de um transfor-
entendida como sendo a tensão escolhida mador monofásico convencional podem ser
para alimentar a carga conectada ao enrola- conectados em série. A desvantagem des-
mento de baixa ou ao de alta. A especifica- sa conexão é a perda de isolamento elétrico
ção das tensões dos transformadores são entre os enrolamentos; a principal vanta-
21

gem é o tamanho menor do núcleo do au- se o banco estiver conectado em delta


totransformador, quando comparado com e ocorrer a perda de um transformador do
o tradicional transformador de dois enrola- banco, este continuará em funcionamento.
mentos, o que resulta em menores custos É a chamada conexão delta aberto ou V/V.
de fabricação, quando a relação de espiras
exigida não se afasta muito da unidade. A depender das características dos cir-
cuitos de geração, transmissão e distribui-
Outras vantagens são o aumento da efi- ção, as conexões trifásicas mais comuns
ciência e a melhor regulação de tensão. Com dos enrolamentos de transformadores são,
as mesmas correntes nos enrolamentos 1 e como já mencionado, a conexão estrela-es-
2, a conexão do autotransformador permite trela (Y-Y), a delta-delta (ΔΔ), a estrela-del-
o aumento da potência de saída, por causa ta (Y-Δ) e a delta-estrela (Δ-Y).
da conexão elétrica desses enrolamentos.
4.3 Transformadores de
4.2 Transformações trifási-
múltiplos enrolamentos
cas Transformadores monofásicos ou trifási-
A geração, a transmissão e a distribuição cos podem ser construídos com mais de um
de energia em sistemas comerciais de cor- enrolamento secundário. Os secundários
rente alternada utilizam circuitos trifásicos. adicionais servem para alimentar cargas e
A transferência de energia de um circuito linhas com tensões e potências desiguais a
trifásico para outro, acompanhada da trans- partir de uma única fonte e, por essa razão,
formação de tensão e de corrente, pode são denominados transformadores de múl-
ser realizada por três transformadores tiplos enrolamentos. Subestações possuem
monofásicos – os chamados bancos trifási- transformadores de três enrolamentos,
cos, mostrados anteriormente – ou por um sendo que o terceiro, denominado enrola-
transformador trifásico, no qual os enro- mento terciário, é utilizado para alimentar
lamentos das três fases são montados em as cargas da própria subestação. Transfor-
um núcleo comum, como ilustrado na figura madores de múltiplos enrolamentos são
(a). O uso de transformadores trifásicos tem também usados em circuitos eletrônicos.
sido preferido porque têm custos meno-
res de fabricação, pesam menos e ocupam Como a conexão delta permite a circula-
espaço menor quando comparados com o ção de componentes de correntes magneti-
banco trifásico de mesma potência. Sob o zantes de sequência zero em suas fases, ela
ponto de vista de manutenção ou mesmo se presta à eliminação das harmônicas de
de reparo de danos, o banco trifásico é mais frequência tripla e seus múltiplos do fluxo
vantajoso: magnético e das tensões em transformado-
res.
se houver a perda de um transforma-
dor do banco, a simples troca deste é a solu- Outra propriedade da conexão delta é
ção, enquanto no caso de um trifásico tem que correntes desequilibradas em suas fa-
de ser providenciada a sua substituição in- ses do secundário, estabelecidas por cargas
tegral; desiguais, não provocam o desbalancea-
mento das tensões trifásicas do secundá-
22

rio, como ocorre na conexão estrela sem o As impedâncias Z1, Z2 e Z3 são determi-
fio neutro. Por essas razões, transforma- nadas a partir dos testes de curto-circuito e
dores são projetados com um enrolamento se relacionam com as impedâncias mútuas
terciário conectado em delta. de dispersão entre os circuitos 1,2 e 3 (a no-
tação com subíndice duplo indica os circui-
No caso do transformador de três enro-
tos mútuos) pelas seguintes relações:
lamentos, veja a ilustração abaixo que apre-
senta o seu circuito equivalente.

Transformador de três enrolamentos


Esquema básico de uma fase

sendo que todas essas impedâncias


são referidas ao primário.

Os ensaios de determinação dessas


impedâncias são os mesmos dos trans-
formadores de dois enrolamentos, con-
siderando, claro, a existência do enrola-
mento terciário:

Teste de circuito aberto.


Circuito equivalente por fase Y
Aplica-se tensão nominal nos terminais
do enrolamento de baixa tensão com os
outros enrolamentos abertos. Determi-
nam-se, assim, os parâmetros do ramo de
excitação rc e Xm.

Teste de curto-circuito:
São necessários três ensaios de cur-
to-circuito:
1. Aplica-se tensão no primário com o
secundário curto-circuitado e o terciário
aberto e determina-se a impedância de
dispersão entre os circuitos 1 e 2:

Fonte: Bim (2012, p. 115).


23

2. Aplica-se tensão no primário com o


terciário curto-circuitado e o secundário
aberto e determina-se a impedância de dis-
persão entre os circuitos 1 e 3:

3. Aplica-se tensão no secundário com o


terciário curto-circuitado e o primário aber-
to e determina-se a impedância de disper-
são entre os circuitos 2 e 3, transferida para
o primário, dada por:

À medida que se aumenta o número de


enrolamentos, eleva-se sobremaneira o nú-
mero das impedâncias mútuas e, portanto,
o número de ensaios de curto-circuito. Por
exemplo, se o número de enrolamentos for
4, serão necessários 6 ensaios, e se for 5,
serão exigidos 10 (BIM, 2012).
24

UNIDADE 5 - Conversão de Energia

Um dispositivo eletromecânico é um logo:


conversor de energia elétrica em ener-
Wmag / Wele = 10.000
gia mecânica e vice-versa. Para ocorrer a
conversão eletromecânica de energia, é Lembremos que campo magnético é a
necessário que haja armazenamento de forma usual de armazenamento energé-
energia. Sabemos que campos elétricos tico para fins de Conversão de Energia
e magnéticos armazenam energia e que (SILVA, 2013).
é nos campos magnéticos que se obtêm
as maiores densidades de energia por vo- 5.1 Transdutores de energia
lume, portanto, permitem projetar dispo- Um transdutor é um dispositivo que
sitivos de volumes bem menores do que pode converter energia elétrica em me-
aqueles baseados somente em campos cânica (nesse caso ele será sempre cha-
elétricos. mado de atuador), ou vice-versa (caso
Esse campo de conhecimento estuda em que é chamado de sensor).
os princípios e processos de conversão, São vários os mecanismos físicos que
desenvolvendo meios para a obtenção permitem a conversão de energia elétrica
dos modelos dos transdutores eletrome- em mecânica e o inverso, sendo o efeito
cânicos. piezoelétrico o fenômeno principal, que
Dois motivos que levam a conversão consiste na geração de uma variação no
da energia para a forma elétrica: facilida- campo elétrico na presença da deforma-
de de transmissão e de processamento. ção (ou um esforço mecânico) de certos
cristais e “eletrofricção” e “magnetofric-
Frise-se: o armazenamento de energia ção”, em que variações na dimensão de
elétrica pode ser feito através de campos certos materiais conduzem a uma varia-
elétricos ou de campos magnéticos. ção em suas propriedades elétricas (ou
magnéticas).
Armazenamento em campos mag-
néticos: Na classe dos transdutores eletro-
magnetomecânicos, temos os transdu-
tores de ferro móvel, sendo o eletroímã o
exemplo mais simples e como aplicação a
válvula solenoide que atua quando ener-
Armazenamento em campos elé- gizada, fazendo com que o êmbolo (pis-
tricos: tão) se desloque num sentido que permi-
ta passagem de um fluido por um tubo.

O relé também é um dispositivo eletro-


mecânico de grande aplicação industrial.
Essencialmente é uma chave eletrome-
cânica que permite a abertura e o fecha-
25

mento de contatos elétricos por meio de


uma estrutura eletromecânica.

Microfones, alto-falantes e todos os


motores elétricos e geradores são dis-
positivos ou transdutores de bobina mó-
vel. Um transdutor de bobina móvel pode
agir como um motor quando uma corren-
te fornecida externamente, fluindo pela
parte eletricamente condutora do trans-
dutor, é convertida em uma força que
pode causar o deslocamento da parte
móvel do transdutor.
26

UNIDADE 6 - Máquinas Elétricas

As máquinas elétricas transformam a gem energia elétrica em energia mecâni-


energia proveniente de uma fonte primá- ca. Uns e outros se caracterizam por ha-
ria em energia elétrica. O motor elétrico ver movimento em seu funcionamento, o
é uma máquina que transforma energia qual pode ser rotativo ou linear.
elétrica em energia mecânica de utiliza-
Os motores elétricos são divididos em
ção.
dois grandes grupos, tomando-se o valor
Academicamente, quando falamos da tensão como base: corrente contínua
em máquinas elétricas estamos nos re- e alternada.
ferindo tanto ao estudo dos geradores
Abaixo temos dois esquemas que clas-
elétricos quanto dos motores elétricos.
sificam os tipos de motores elétricos e na
Enquanto os geradores elétricos con-
sequência a descrição das principais ca-
vertem energia mecânica em elétrica, os
racterísticas dos motores elétricos, em
motores elétricos, ao contrário, conver-
geral.

Classificação dos motores elétricos

Fonte: Mamede Filho (2012, p. 203).


27

Tipos de motores

Fonte: Pinto (2011, p. 28).

6.1 Características dos prin- São aqueles em que a corrente de car-


ga é utilizada também como corrente de
cipais tipos de motores excitação, isto é, as bobinas de campo
a) Motores de Corrente Contínua: são ligadas em série com as bobinas do
induzido. Estes motores não podem ope-
São aqueles acionados através de uma
rar a vazio, pois a sua velocidade tenderia
fonte de corrente contínua. São muito
a aumentar indefinidamente, danifican-
utilizados nas indústrias quando se faz
do a máquina.
necessário manter o controle fino da ve-
locidade num processo qualquer de fa- a.2) Motores em derivação:
bricação. Como exemplo, pode-se citar a
São aqueles em que o campo está di-
indústria de papel.
retamente ligado à fonte de alimentação
São fabricados em três diferentes e em paralelo com o induzido. Sob tensão
características. constante, estes motores desenvolvem
uma velocidade constante e um conjuga-
a.1) Motores em série: do variável de acordo com a carga.
28

a.3) Motores compostos: Máquina CC, excitação paralela


São aqueles em que o campo é consti-
tuído de duas bobinas, sendo uma ligada
em série e a outra em paralelo com o in-
duzido.

Estes motores acumulam as vanta-


gens do motor série e do de derivação,
isto é, possuem um elevado conjugado
de partida e velocidade aproximadamen-
te constante no acionamento de cargas
variáveis (MAMEDE FILHO, 2012).

Segundo Pinto (2011), nos motores


de corrente contínua – excitação para-
lela, o enrolamento dos polos nesse tipo
está em paralelo com o induzido. O enro-
lamento nesses casos é constituído de
fio muito fino com muitas espiras e por
consequência tem muita resistência elé-
trica, pois deverá suportar toda a força
eletromotriz gerada quando se tratar de Fonte: Pinto (2011, p. 84).
um gerador, ou então toda a força eletro-
motriz da rede de alimentação no caso de Para o funcionamento como motor são
ser um motor. necessários certos dispositivos de se-
gurança para se evitar a perda do campo
Nestas máquinas deve-se observar magnético no motor.
as diferenças para seu funcionamento,
quando se trata de um motor deverá ter A variação de velocidade nesses mo-
uma resistência de partida em série com tores quando sem carga é apenas de +/-
o conjunto, conforme a figura abaixo. 10%. Por esta razão os motores shunt
Quando a máquina funciona como gera- são considerados como motores de velo-
dor, elimina-se a resistência de partida cidade constante.
e coloca-se um reostato em série com o As principais partes de um motor C.C.
campo. estão ilustradas abaixo e explicados na
sequência:
Máquina CC, excitação contínua
Vista em corte de uma máquina
de corrente contínua
29

Fonte: Pinto (2011, p. 75).

Sistema de Campo ou Polos de Exci- los ou polos comutadores, que são bobinas
tação: parte do motor que fornece o fluxo de poucas espiras de fio grosso, enroladas
magnético necessário para criar o torque. com núcleos laminados estreitos dispostos
Têm a finalidade de gerar o fluxo magnético. entre os polos principais da máquina que são
São constituídos de condutores enrolados ligados em série com a armadura. Nas má-
sobre núcleos de chapas de aço laminadas quinas grandes há normalmente tantos in-
cujas extremidades possuem um formato terpolos quanto são os polos principais e nas
que se ajusta a armadura e são chamadas de máquinas pequenas quase sempre usa-se a
sapatas polares. metade.

Carcaça: é a estrutura suporte do con- Polos de Compensação: é um enro-


junto, também tem a finalidade de conduzir lamento distribuído na periferia da sapata
o fluxo magnético, que é gerado pelos polos polar e percorrido pela corrente de arma-
de excitação. dura. Sua finalidade é também compensar
a reação de armadura, mas agora em toda a
Interpolos ou Polos de Comutação: periferia do rotor, e não somente na região
as correntes que fluem no enrolamento da
transversal. Evita o aparecimento de faíscas
armadura criam forças magnomotrizes cujos
provocadas por uma diferença de potencial
fluxos magnéticos tendem a se opor à ação
entre as espiras devido a distribuição não
do campo principal, alterando e produzindo
uniforme da indução no entreferro.
centelhas nas escovas. Para evitar esta ação
indesejável da armadura (conhecida como Armadura: parte do motor que conduz
reação da armadura) são utilizados interpo- a corrente que interage com o fluxo de cam-
30

po para criar torque. dustriais.

Escovas: parte do circuito através do Os motores síncronos funcionam através


qual a corrente elétrica é alimentada para a da aplicação de uma tensão alternada nos
armadura através da fonte de alimentação. terminais do estator, excitando o campo ro-
Escovas são feitas de grafite ou metais pre- tórico por meio de uma fonte de corrente
ciosos. Um motor C.C. tem um ou mais pares contínua que pode ser diretamente obtida
de escovas. de uma rede de CC, de um conjunto retifica-
dor, de uma excitatriz diretamente acoplada
Comutador: é a parte que está em con-
no eixo do motor, comumente chamada de
tato com as escovas. A corrente é distribuída
dínamo, ou de um grupo motor-gerador. A
apropriadamente nas bobinas da armadura
excitação do campo é feita geralmente atra-
por meio das escovas e comutador. É o con-
vés de anéis coletores acoplados ao eixo do
versor mecânico que transfere a energia ao
motor.
enrolamento do rotor e é constituído de lâ-
minas de cobre isoladas uma das outras por b.3) Motores monofásicos de indução:
meio de lâminas de mica (PINTO, 2011).
Os motores monofásicos são, relativa-
b) Motores de Corrente Alternada: mente aos motores trifásicos, de pequeno
uso em instalações industriais. São constru-
São aqueles acionados através de uma
ídos normalmente para pequenas potências
fonte de corrente alternada e utilizados na
(até 15 cv, em geral).
maioria das aplicações industriais.
Os motores monofásicos são providos de
Há vários tipos de motores elétricos em-
um segundo enrolamento colocado no es-
pregados em instalações industriais. No en-
tator e defasado de 90° elétricos do enro-
tanto, por sua maior aplicação nesta área,
lamento principal, e que tem a finalidade de
devido à simplicidade de construção, vida útil
tornar rotativo o campo estatórico monofá-
longa, custo reduzido de compra e manuten-
sico. Isto é o que permite a partida do motor
ção, vamos tratar mais especificamente dos
monofásico.
motores elétricos assíncronos de indução.
O torque de partida é produzido pelo de-
b.1) Motores trifásicos:
fasamento de 90° entre as correntes do cir-
São aqueles alimentados por um sistema cuito principal e do circuito de partida. Para
trifásico a três fios, em que as tensões estão obter esta defasagem, liga-se ao circuito de
defasadas de 120º elétricos. Representam partida um condensador, de acordo com o
a grande maioria dos motores empregados esquema a seguir:
nas instalações industriais.

Mais adiante falaremos desses motores


em detalhes.

b.2)Motores síncronos:
Os motores síncronos, comparativamente
aos motores de indução e de rotor bobinado,
são de pequena utilização em instalações in-
31

Tipo força centrífuga porte que também tem a finalidade de pro-


tegê-lo mecanicamente.
O campo rotativo assim produzido orienta
o sentido de rotação do motor.

A fim de que o circuito de partida não fique


ligado desnecessariamente após o aciona-
mento do motor, um dispositivo automático
desliga o enrolamento de partida, passando
o motor a funcionar normalmente em regime
monofásico. Esse dispositivo pode ser acio-
nado por um sistema de força centrífuga.

A bobina que liga o circuito de partida é


desenergizada pelo decréscimo do valor da Tipo decréscimo da cor-
corrente no circuito principal após o motor
entrar em regime normal de funcionamento. rente
A ilustração a seguir fornece o detalhe de Os motores monofásicos podem ser do
ligação desse dispositivo automático. O con- tipo indução ou síncrono, cujas característi-
densador de partida é do tipo eletrolítico que cas básicas são idênticas às que foram esta-
tem a característica de funcionar somente belecidas para os motores trifásicos corres-
quando solicitado por tensões ou polarida- pondentes.
de estabelecida. É montado, normalmente, Na tabela abaixo temos as características
sobre a carcaça do estator através de um su- básicas dos motores elétricos monofásicos.

Fonte: Mamede Filho (2012, p. 207).


32

b.4)Motores tipo universal: excitação de campo e o fluxo do estator


também invertem 120 vezes por segun-
São aqueles capazes de operar tanto
do, e estas reversões acontecem em fase
em corrente contínua como em corren-
com a corrente de armadura. Em corren-
te alternada. São amplamente utiliza-
te alternada, o torque varia instantane-
dos em aparelhos eletrodomésticos, tais
amente 120 vezes por segundo, mas o
como enceradeiras, liquidificadores, ba-
torque desenvolvido é sempre unidire-
tedeiras, etc. São constituídos de uma
cional.
bobina de campo em série com a bobina
da armadura, e de uma bobina de com- Contudo, segundo Pinto (2011),
pensação que pode estar ligada em série há alguns efeitos presentes na ope-
ou em paralelo com a bobina de campo, ração AC que não estão presentes
cuja compensação é denominada respec- na CC, a saber:
tivamente de condutiva ou indutiva (MA-
MEDE FILHO, 2012).
a) Construção de estator laminado
– devido ao fato de que o fluxo do estator
Segundo Pinto (2011), essas condi- é alternado, é necessário usar uma es-
ções de operar em CC e CA, apresentando trutura laminada para reduzir as perdas
aproximadamente a mesma velocidade e histeréticas.
resposta devem ser encontradas quando
tensão contínua e tensão alternada são
b) Tensão reativa – em um circuito
CC, a corrente é limitada pela resistência.
aproximadamente iguais em valores efi-
Em um circuito AC, a corrente é limitada
cazes e médios e a frequência da tensão
pela impedância e não somente pela re-
alternada não ultrapassar 60 ciclos por
sistência ôhmica. A impedância é com-
segundo.
posta de duas componentes, resistência
A operação em corrente contínua é e reatância. A reatância está presente no
idêntica ao de um motor CC série. O prin- circuito AC quando um circuito magnéti-
cípio de desenvolvimento de torque pode co é criado pelo fluxo de corrente no cir-
ser obtido referindo-se à figura abaixo cuito elétrico. Esta tensão de reatância,
onde mostra um motor série de dois po- o qual está presente durante a operação
los. AC, mas não durante a CC, absorve uma
quantidade de tensão de linha, redu-
Motor em série de dois polos
zindo a tensão aplicada à armadura, de
modo que a velocidade do motor, para
uma dada corrente, tende a ser menor
em AC do que em CC. Em outras palavras,
a tensão efetiva na armadura, para uma
dada corrente é menor na operação AC
do que na CC.
O motor também irá funcionar se uma
c) Efeito da saturação – a tensão
corrente alternada é aplicada. A corrente
reativa tende a fazer a velocidade em
no circuito da armadura inverte 120 ve-
AC ser menor que em CC. Há outro efei-
zes por segundo (para 60 ciclos), mas a
33

to o qual dá uma tendência oposta. Este i) Carcaça: constituída de uma estrutu-


efeito é simplesmente de que uma dada ra de construção robusta, fabricada em
raiz quadrada de valor médio de corrente ferro fundido, aço ou alumínio injetado,
alternada irá produzir menos fluxo alter- resistente à corrosão e com superfície
nado efetivo do que na corrente contínua aletada e que tem como principal função
de mesmo valor devido ao efeito de sa- suportar todas as partes fixas e móveis
turação do ferro. Em correntes baixas e do motor.
altas velocidades, a tensão reativa não é
ii) Núcleo de chapas: constituído de
tão importante.
chapas magnéticas adequadamente fi-
d) Comutação e vida útil das esco- xadas ao estator.
vas – a comutação em corrente alterna-
iii) Enrolamentos: dimensionados em
da é substancialmente mais fraca do que
material condutor isolado, dispostos so-
em corrente contínua e a duração é tam-
bre o núcleo e ligados à rede de energia
bém menor. A principal razão para uma
elétrica de alimentação.
fraca comutação em corrente alternada
é devido a tensão induzida nas bobinas O rotor também é constituído de qua-
curto-circuitadas submetendo-se a co- tro elementos básicos, a saber:
mutação pela ação transformadora do
campo principal alternado. i) Eixo: responsável pela transmissão
da potência mecânica gerada pelo motor.
Voltando a falar dos motores trifási-
cos, a seguir mostra os seus principais ii) Núcleo de chapas: constituído de
componentes. chapas magnéticas adequadamente fi-
xadas sobre o eixo.

iii) Barras e anéis de curto-circuito


(motor de gaiola): constituído de alumínio
injetado sobrepressão.

iv) Enrolamentos (motor com rotor bo-


binado): constituídos de material condu-
tor e dispostos sobre o núcleo.

Outros componentes dos motores tri-


fásicos:

Ventilador – responsável pela re-


moção do calor acumulado na carcaça;

Os motores de indução são constituí- Tampa Defletora – componente


dos de duas partes básicas: o estator e o mecânico provido de aberturas instala-
rotor. das na parte traseira do motor sobre o
ventilador;
O estator é formado por três ele-
mentos: Terminais – conectores metálicos
que recebem os condutores de alimenta-
34

ção do motor; do rotor, e a quantidade utilizada depende


do número de estágios de partida adotado,
rolamentos – componentes mecâ-
que, por sua vez, é dimensionado em função
nicos sobre os quais está fixado o eixo;
exclusivamente do valor da máxima corren-
tampa – componente metálico de te admissível para acionamento da carga.
fechamento lateral;
A seguir temos dois esquemas, o primei-
caixa de ligação – local onde estão ro da ligação dos anéis acoplados ao reosta-
fixados os terminais de ligação do motor. to de partida, com a barra de curto-circuito
medianamente inserida e o segundo, a liga-
As correntes rotóricas são geradas
ção de um motor com reostato de partida
eletromagneticamente pelo estator, úni-
ajustado para acionamento em três tempos.
co elemento do motor ligado à linha de
alimentação (MAMEDE FILHO, 2012). Motor de rotor bobinado
O comportamento de um motor elétri-
co de indução relativo ao rotor é compa-
rado ao secundário de um transformador.

O rotor pode ser constituído de duas


maneiras: rotor bobinado e rotor em
gaiola.
Reostato de partida
Rotor bobinado
Constituído de bobinas, cujos terminais
são ligados a anéis coletores fixados ao eixo
do motor e isolados deste.

São de emprego frequente nos projetos


industriais, principalmente quando se ne-
cessita de controle adequado à movimen-
tação de carga, ou se deseja acionar uma
determinada carga através de reostato de
partida.

Estes motores são construídos com o ro- De acordo com a ilustração do reostato,
tor envolvido por um conjunto de bobinas pode-se observar que, quando é acionado o
normalmente interligadas, em configura- contator geral C1 ligado aos terminais 1-2-3,
ção estrela, com os terminais conectados a o motor parte sob o efeito das duas resis-
três anéis, presos mecanicamente ao eixo tências inseridas em cada bobina rotórica.
do motor, porém isolados eletricamente, Após um certo período de tempo, previa-
e ligados através de escovas condutoras a mente ajustado, o contator C3 curto-circui-
uma resistência trifásica provida de cursor ta o primeiro grupo de resistência do reos-
rotativo. Assim, as resistências são coloca- tato, o que equivale ao segundo estágio.
das em série com o circuito do enrolamento
35

Decorrido outro determinado período de campo magnético rotativo produzido no es-


tempo, o contator C2 opera mantendo em tator pela passagem da corrente alternada
curto-circuito o último grupo de resistên- em suas bobinas, cujo fluxo, por efeito de
cias do reostato, o que equivale ao terceiro sua variação, se desloca em volta do rotor,
estágio. Nesta condição, o motor entra em gerando neste, correntes induzidas que
regime normal de funcionamento. tendem a se opor ao campo rotativo, sendo,
no entanto, arrastado por este.
Os motores de anéis são particularmen-
te empregados na frenagem elétrica, con- O rotor em nenhuma hipótese atinge a
trolando adequadamente a movimentação velocidade do campo rotativo, pois, do con-
de cargas verticais, em baixas velocidades. trário, não haveria geração de correntes
Para isso, usa um sistema combinado de induzidas, eliminando-se o fenômeno mag-
frenagem sobressíncrona ou subsíncrona nético rotórico responsável pelo trabalho
com inversão das fases de alimentação. Na mecânico do rotor (MAMEDE FILHO, 2012).
etapa de levantamento, o motor é acionado
Quando o motor está girando sem a pre-
com a ligação normal; e tanto a força neces-
sença de carga mecânica no eixo, comu-
sária para vencer a carga resistente, quanto
mente chamado motor a vazio, o rotor de-
a velocidade de levantamento são ajusta-
senvolve uma velocidade angular de valor
das pela inserção ou retirada dos resistores
praticamente igual à velocidade síncrona
do circuito do rotor. Para o abaixamento da
do campo girante do estator. Adicionando-
carga, basta inverter duas fases de alimen-
-se carga mecânica ao eixo, o rotor diminui a
tação, e o motor comporta-se como gera-
sua velocidade. A diferença existente entre
dor, em regime sobressíncrono, fornecen-
a velocidade síncrona e a do rotor é deno-
do energia à rede de alimentação, girando,
minada escorregamento, que representa a
portanto, no sentido contrário ao funciona-
fração de rotação que perde o rotor a cada
mento anterior.
rotação do campo rotórico. O escorrega-
São empregados no acionamento de mento, em termos percentuais, é dado pela
guindastes, correias transportadoras, com- Equação:
pressores a pistão, etc.

Rotor em gaiola
O rotor em gaiola é constituído de um
conjunto de barras não isoladas e interliga- onde:
das através de anéis condutores curto-cir-
Ws = velocidade síncrona
cuitados e tem grande aplicação industrial.
W = velocidade angular do rotor
O motor de indução opera normalmente
a uma velocidade constante, variando ligei- Voltando agora aos motores síncro-
ramente com a aplicação da carga mecânica nos, é importante entender que a cor-
no eixo. rente absorvida pelo circuito estatório
é função da corrente de excitação para
O funcionamento de um motor de indu-
uma determinada carga acionada pelo
ção baseia-se no princípio da formação de
36

motor. Quando o motor está girando a va- mecânica para correção do fator de po-
zio, a corrente do estator é praticamente tência de uma instalação industrial re-
igual à corrente de magnetização. Se for quer cuidados adicionais com respeito
acoplada ao motor uma carga mecânica, a às flutuações no torque, devido à natu-
corrente absorvida pelo estator aumen- reza da própria carga. Também, motores
tará, estabelecendo um conjugado motor síncronos, de potência inferior a 50 cv,
suficiente para vencer o conjugado resis- não são adequados à correção do fator
tente. de potência, em virtude da sensibilidade
de perda de sincronismo quando da ocor-
Quando a corrente de excitação é de
rência de flutuações de tensão na rede
valor reduzido, isto é, o motor está su-
de alimentação.
bexcitado, a força eletromotriz induzida
no circuito estatórico é pequena, fazen- Os motores síncronos apresentam di-
do com que o estator absorva da rede ficuldades operacionais práticas, pois
alimentação uma determinada potência necessitam de fonte de excitação, re-
reativa necessária à formação de seu querendo manutenção constante e mui-
campo magnético e cuja corrente está tas vezes dispendiosa.
atrasada em relação à tensão da rede. Se
Uma das desvantagens de utilização
a corrente de excitação for aumentada
do motor síncrono está na partida, pois
gradativamente, mantendo-se a grande-
é necessário que se leve o mesmo a uma
za da carga e, consequentemente, ele-
velocidade suficientemente próxima
vando-se o valor da força eletromotriz no
da velocidade síncrona, a fim de que ele
estator, deve-se chegar num determina-
possa entrar em sincronismo com o cam-
do instante em que a corrente estatóri-
po girante.
ca, até então atrasada, fica em fase com
a tensão da rede significando um fator de Para essa finalidade são empregados
potência unitário. Se este procedimento dentre outros recursos, a utilização de
continuar, isto é, se a corrente de excita- um motor de corrente contínua acoplado
ção for aumentada ainda mais, a corrente ao eixo do motor síncrono e/ou a utiliza-
estatórica se adiantará em relação à ten- ção de enrolamento de compensação.
são, caracterizando a sobre-excitação do
Através da aplicação deste último mé-
motor síncrono, fazendo com que este
todo, o comportamento do motor síncro-
passe a fornecer potência reativa à rede,
no durante a partida é semelhante ao do
trabalhando com um fator de potência
motor de indução.
capacitativo.
Durante a partida do motor síncrono,
Esse é o princípio básico da correção
dotado de enrolamentos de compensa-
do fator de potência de uma instalação,
ção também conhecidos como enrola-
utilizando o motor síncrono em alterna-
mentos amortecedores, o enrolamen-
tiva a banco de capacitores (MAMEDE FI-
to de campo de corrente contínua deve
LHO, 2012).
ser curto-circuitado, enquanto se aplica
A utilização de motores síncronos a tensão da rede nos terminais do esta-
acionando determinados tipos de carga tor até levar o motor a vazio à condição
37

de sincronismo, semelhantemente a um ções de velocidade.


motor de indução. A seguir, desfaz-se a
Para obtenção de velocidade constan-
ligação de curto-circuito do enrolamento
te, devem-se usar motores síncronos,
de campo e aplica-se nele uma corrente
normalmente construídos para potências
contínua, ajustando-se adequadamente
elevadas, devido a seu alto custo relati-
à finalidade de utilização a que se propõe
vo, quando fabricados em potências me-
(MAMEDE FILHO, 2012).
nores.
Construtivamente, os enrolamentos
Nestes motores, as principais caracte-
amortecedores podem ser do tipo gaio-
rísticas que devemos conhecer envolve a
la de esquilo ou do tipo rotor bobinado.
potência, tensão, corrente e frequência
Neste último caso, o motor síncrono utili-
nominal, fator de potência e de serviços,
za cinco anéis coletores, ilustrados abai-
perdas ôhmicas, expectativa de vida útil,
xo, e em três desses anéis se acoplam as
classes de isolamento, elevação de tem-
resistências externas do reostato de par-
peratura, ventilação, graus de proteção,
tida, enquanto os outros dois são utiliza-
regime de funcionamento, os tipos de li-
dos para a excitação do campo rotórico.
gação e suas formas construtivas dentre
Motor síncrono outras.

Em se tratando da dimensão dos mo-


tores, no Brasil segue-se a norma NBR
15623:2008 que substituiu a NBR 5432,
que está de acordo com a normalização
da International Electrotechnical Comis-
sion – IEC-72.
Fonte: Mamede Filho (2012, p. 206). Esta norma toma com base as dimen-
sões de montagem de máquinas elétricas
À semelhança do motor de indução,
e atribuem letras designando determina-
à medida que se reduz a resistência do
das distâncias mostradas na ilustração
circuito de amortecimento, o motor se
abaixo:
aproxima da velocidade síncrona até que
se aplica no enrolamento de campo uma
tensão em corrente contínua, fazendo o
motor entrar em sincronismo com o cam-
po girante.

6.2 Motores assíncronos tri-


fásicos com rotor em gaiola H – é a altura do plano da base ao centro
Os motores de indução trifásicos, com da ponta do eixo.
rotor em gaiola, são usados na maioria
das instalações industriais principalmen- C – é a distância do centro do furo dos pés
te em máquinas não suscetíveis a varia- do lado da ponta do eixo ao plano de encosto
38

da ponto do eixo. Esta dimensão está asso- e os polos do estator são resultados do en-
ciada ao valor H. rolamento embutido no estator conforme
o arranjo simplificado mostrado na figura,
B – é a dimensão axial da distância entre
onde cada par a/a’, b/b’, e assim por diante,
centros dos furos dos pés. A cada dimensão
contribui para a geração dos polos magnéti-
de H podem ser associadas várias dimensões
cos, como segue.
B, o que permite reconhecer motores mais
longos e mais curtos. Máquina síncrona de dois polos
A – é a dimensão entre os centros dos fu- Máquina com polo saliente
ros dos pés no sentido frontal.

D – diâmetro do eixo do motor.


E – dimensão externa do eixo do motor.
As normas padronizam as dimensões dos
motores usando a simbologia dada pelas le-
tras acima. Assim, utilizando-se uma tabela
dimensional de motores, pode-se identifi- Máquina com rotor cilíndrico
car que o motor designado por 160M (ABNT)
tem H=160mm; A=254mm; B=210mm;
C=108mm; K= 15mm; D=42mm e E=110mm.

6.3 Alternador – geradores


síncronos
Uma das máquinas CA mais comum é o ge-
rador síncrono, ou alternador. Nessa máqui-
na, o enrolamento do campo fica no rotor e a
conexão é feita por meio de escovas, dispos-
tas de modo similar ao das máquinas CA.

O campo do rotor é obtido por meio de


uma corrente contínua fornecida pelo en-
rolamento do rotor, ou por ímãs permanen-
tes. O rotor então é conectado a uma fonte Alternador trifásico de quatro polos
de energia mecânica e gira numa velocidade
que será considerada constante para simpli-
ficar a análise.

As figuras abaixo mostram uma máquina


síncrona trifásica de dois polos e um alter-
nador trifásico de quatro polos, cujos polos
do rotor são gerados por meio de um enrola- Fonte: Rizzoni (2013, p. 684).
mento numa configuração com polo saliente
39

O grupo a/a’, b/b’, c/c’ produz um fluxo tensão gerada pelo gerador síncrono é:
distribuído senoidalmente correspon-
dente a um dos pares de polos, enquanto
o grupo -a/-a’, -b/-b’, -c/-c’ contribui para
o outro par de polo. As conexões das bobi-
nas que compõem os enrolamentos tam-
bém são mostradas na figura acima. Note onde n é a velocidade mecânica em
que as bobinas formam um ipsilon (cha- volta por minuto. Alternativamente, se a
mado também de estrela). A distribuição velocidade for expressa em radianos por
resultante do fluxo é tal que o fluxo com- segundo, temos:
pleta dois ciclos senoidais em torno da
circunferência do entreferro. Note tam-
bém que cada braço da conexão estrela
foi dividido em duas bobinas, enroladas
em diferentes posições, conforme o dia-
grama do estator na figura do alternador
onde ωm é a velocidade mecânica de
trifásico de quatro polos. Pode-se imagi-
velocidade em radianos por segundo. O
nar então configurações análogas com
número de polos usado num gerador sín-
maior número de polos, obtidas do mes-
crono é determinado então por dois fa-
mo modo, isto é, dividindo cada braço da
tores: a frequência desejada para a gera-
conexão estrela em mais enrolamentos.
da (por exemplo, 60 Hz, se o gerador for
O arranjo mostrado na ilustração exige usado para produzir uma potência CA) e a
que outra distinção seja feita entre graus velocidade de rotação do motor primário.
mecânicos θm e graus elétricos θe. No al- Sobre esta última, existe uma diferença
ternador de quatro polos, o fluxo verá significativa, por exemplo, entre a veloci-
dois ciclos completos durante uma volta dade de rotação de um gerador com tur-
do rotor, portanto a tensão gerada nas bina a vapor e um gerador hidroelétrico,
bobinas oscilará também com o dobro da sendo a primeira muito maior.
frequência de velocidade.
Uma aplicação comum do alternador
Em geral, os graus elétricos (ou radia- pode ser vista num sistema de carga de
nos) são relacionados com os graus me- bateria, no qual, no entanto, a tensão CA
cânicos pela expressão: gerada é retificada para fornecer a cor-
rente contínua necessária para a carga
da bateria (RIZZONI, 2013).

6.4 Noções básicas de trans-


missão e conversão de mo-
onde p é o número de polos. De fato, a
tensão numa bobina da máquina descre-
vimento
ve um ciclo cada vez que um par de polos Daremos uma atenção, mesmo que
passa por ela. Portanto, a frequência da breve e teórica, a uma parte importante
40

nos sistemas de acionamentos elétricos Ao se empregar as definições de tor-


que é a caracterização dos elementos que e de potência instantânea, tem-se
mecânicos responsáveis pela conversão
e transmissão de movimento, pois as
suas características de funcionamento
têm efeito direto na definição do contro-
le dos motores elétricos.
que é o análogo rotacional de P = Fv.
Dentre itens ou características de fun-
b) Volante de inércia: a determina-
cionamento de algumas cargas mecâni-
ção da energia cinética de discos sólidos
cas comuns nos sistemas de acionamen-
girando em torno de seu eixo de susten-
to elétrico, temos a potência e o volume
tação é importante em acionamentos,
de inércia e como elementos básicos de
pois eles podem ser utilizados como ele-
transmissão e conversão, engrenagens,
mentos armazenadores de energia. As-
polias, correias, a transmissão continua-
sim sendo, podem manter constante ou
mente variável e parafusos de potência.
permitir pequenas variações na veloci-
a) Potência: a capacidade de uma dade de máquinas, ao ceder ou absorver
máquina é expressa pela quantidade de energia, a despeito de variações nas po-
energia que ela fornece ou transforma tências de entrada ou de saída.
em um dado intervalo de tempo. Esta
Volante de inércia, então, é o termo
taxa no tempo com a qual a energia W
empregado para esse elemento mecâni-
é fornecida ou transformada recebe o
co. Para sistemas conservativos, o traba-
nome de potência. No sentido mais res-
lho realizado pelo torque para levar um
trito, potência mecânica é definida como
objeto em movimento de rotação da po-
a taxa relativa ao tempo na qual o traba-
sição θA à posição θ B é:
lho é realizado, isto é:

P = dW/dt.

Quando um objeto rígido gira em torno


de um eixo fixo, graças a ação de uma for-
ça externa Fm, as suas partículas sofrem o que significa dizer que o disco absor-
o deslocamento angular infinitesimal dθ, veu a energia Wdisco = -T(θA - θ B). Alternati-
o que resulta no correspondente compri- vamente, a mesma variação é determina-
mento infinitesimal ds = rdθ, na qual r é a da em função das velocidades angulares
distância da partícula ao eixo de rotação. inicial ωA e final ωB, ao se combinar a
equação:
Ao se considerar a rotação no interva-
lo de tempo infinitesimal dt, o trabalho
realizado pelo componente tangencial Ft
da força Fm é

com a equação, obtém-se


41

-manivela são elementos capazes de trans-


mitir e de converter movimento (BIM, 2012).

que integrada resulta na energia ciné- a) Engrenagens:


tica do objeto em rotação Geralmente, as engrenagens são utiliza-
das para a transmissão de movimento quan-
do as distâncias entre eixos não são grandes
e se a fonte primária de potência tem veloci-
Se o sistema não é conservativo esta dade diferente da exigida pela carga, assim,
equação torna-se utiliza-se a combinação de várias engrena-
gens para realizar a apropriada variação da
velocidade. Por exemplo, a combinação de
três engrenagens de raios diferentes permi-
na qual Wperdas designa a energia que
te alterar a velocidade sem, contudo, alterar
o disco toma e não é transformada em
o sentido de rotação, como ilustrado abaixo.
energia útil.

Grandes quantidades de energia são ar- Conjunto de três engrenagens


mazenadas mesmo em baixas velocidades,
com o emprego de volantes. Por exemplo,
um volante de inércia 250 kg x m2, que gira
com velocidade de 1 rotação por segundo,
armazena:

½ x 250 x (1 x 2π)2 = 4.934,8 J.

As máquinas de estamparia e prensas são Se não ocorre o deslizamento, os pontos


exemplos típicos de máquinas que se utili- de contato das engrenagens têm a mesma
zam de volantes (BIM, 2012). velocidade linear e, assim sendo, a relação
entre as velocidades angulares de duas en-
Quanto aos elementos básicos de trans-
grenagens é diretamente proporcional à re-
missão e conversão, é importante ressaltar
lação entre os respectivos deslocamentos
que quando o movimento de rotação do eixo
angulares B e inversamente proporcional
de um motor deve acionar uma carga distan-
aos respectivos números de dentes N e diâ-
te, há a necessidade de transmitir o movi-
metro D.
mento. Se o movimento da carga é de trans-
lação, a conversão do movimento de rotação
para o de translação deverá ser efetuada
também.

Engrenagens, polias, correntes de rolo,


correias são componentes de mecanismos,
cuja função é transmitir movimento e/ou po-
tência de um eixo para outro. O parafuso de
rosca sem fim, cremalheira e pinhão e biela-
42

A conversão e transmissão de movimen- Nas polias fixas, pelo fato de o eixo de


to podem ser realizadas com a combinação sustentação não se deslocar, a velocida-
de engrenagens circulares e cremalheiras de da carga na direção do cabo é igual à
como também por mecanismos do tipo biela- velocidade do cabo e, portanto, o deslo-
-manivela, como mostrado abaixo. camento H da carga na direção do cabo é
igual ao deslocamento h do cabo, isto é:
Biela-manivela
h=H (polia fixa)

Para uma polia fixa de rendimento η,


com o objetivo de se transmitir a força Fm
ao lado do cabo preso à carga, é necessá-
rio aplicar a força Fm /η no outro lado do
A eficiência típica da transmissão por cabo.
engrenagens é aproximadamente 98%
No caso ideal (eficiência de η = 100%),
(BIM, 2012).
a força aplicada é igual à exigida e diz-se
b) Polias: que a vantagem mecânica da polia é uni-
tária (vm = 1). A eficiência típica das po-
Também denominadas roldanas, as
lias é aproximadamente 98%.
polias são rodas móveis providas de uma
adequada canaleta em torno de sua cir- O emprego da condição de equilíbrio
cunferência que propicia o encaixe inter- de forças para a polia móvel de cabos não
no de um cabo flexível ou de uma correia paralelos – inclinação θ em relação à linha
que a contorna parcialmente. Quando es- vertical, resulta em
tão envolvidos valores altos de potência
2 Fm cosθ= W
e se utilizam cabos, as polias possuem
várias ranhuras, as quais têm a função de ou, de forma alternativa,
aumentar o seu atrito com o cabo e tam-
Fm = W / 2cos θ (polia móvel, cabos
bém direcionar o cabo.
não paralelos)
As polias podem ter ou não movimen-
ou seja, para deslocar a carga de peso
to de translação; no primeiro caso são
W é necessário aplicar a força W / 2 cos
chamadas de polias fixas e no segundo
θ que geralmente é menor que a força
de polias móveis. Nas fixas, um suporte
peso. Em outras palavras, diz-se que a
estacionário é fixado aos mancais dos ei-
vantagem mecânica da polia móvel é
xos; nas móveis, uma das extremidades
do cabo de tração é fixada em um supor- vm = 2cos θ (polia móvel, cabos não
te estacionário e a outra extremidade é paralelos)
tensionada pela ação da força motriz Fm,
deslocando, simultaneamente, conjunto Na polia móvel o deslocamento da car-
polia e carga. A relação entre os esforços ga é igual ao deslocamento vertical da
presentes no cabo de uma polia depende polia. O trabalho necessário para reali-
do fato dela ser fixa ou móvel. zar o deslocamento H da carga é igual ao
trabalho realizado pela força de tração
43

Fm na direção do ramo do cabo que pas- As correias são utilizadas quando as


sa pela polia fixa. Então, para o desloca- distâncias entre eixos são suficiente-
mento h desse ramo, tem-se: mente grandes para impedirem a utiliza-
ção de engrenagens e podem ter perfis
EH=Fmh
planos, dentados e trapezoidais – conhe-
que combinada à equação (polia mó- cidas como correias em V.
vel, cabo não paralelo) resulta na relação
As correias dentadas, também conhe-
h = (2 cos θ) H (polia móvel, cabos não cidas por correias sincronizadoras, com-
paralelos) binam a operação silenciosa das correias
com a vantagem do não deslizamento
Portanto, para se deslocar a carga de
das engrenagens; as correias podem ain-
uma distância H, o ramo de tração da po-
da ser utilizadas como elementos trans-
lia móvel deve ser deslocado de 2 H cos
portadores de carga e, por este motivo,
θ. Se os ramos são paralelos, o ângulo θ
recebem o nome de correia transporta-
será nulo, o que torna vm = 2 e, conse-
dora. A transmissão de movimento pode
quentemente, a velocidade do cabo é o
também ser feita por correntes de rolos.
dobro da velocidade de carga, isto é, Vcabo
A eficiência típica da transmissão por
= 2vc, pois os deslocamentos se dão no
correias é aproximadamente 0,97.
mesmo intervalo de tempo.
A aplicação de correias exige, entre
As relações básicas do arranjo em sé-
outros aspectos, o conhecimento da ra-
rie de N polias móveis com ramos parale-
zão entre as forças de tensão dos dois
los são:
ramos da correia, para que se possa evi-
Fm = W /2N e h = 2NH tar o deslizamento entre a correia e a po-
lia. Se F1, F1m são as tensões no ramo da
Geralmente as polias móveis são usa- carga do cabo, e F2, F2m são as tensões no
das em associação múltiplas com as fixas, ramo de retorno do cabo. Ao se empregar
em que duas polias móveis estão asso- as condições de equilíbrio estático para
ciadas a uma fixa. as polias conduzida e motora, pode-se
O nome dado a este tipo de arranjo é mostrar que a relação entre estas forças
talha e é muito utilizado em guindastes. de tensão, na condição de deslizamento
Existem também versões mais compac- iminente – nesse caso utiliza-se ωae não
tas e robustas, nas quais as polias fixas e ωad é:
móveis são montadas em blocos únicos. Polia condutora e Polia motora
Um tipo especial de arranjo de polias
fixas com polias móveis é a talha diferen-
cial, composta por duas polias fixas, de
raios desiguais e montadas em um mes-
mo eixo, e por uma polia móvel, na qual a
carga é presa (BIM, 2012).
c) Correias:
44

βc e βm são, respectivamente, os ângu- nos sistemas de engrenagens é em de-


los de contato entre a correia e as polias graus, o que pode provocar trancos inde-
conduzida e motora, dados em radianos, e sejáveis no movimento. Outras desvan-
θ é o ângulo interno entre as faces laterais tagens associadas a esses sistemas são
da correia em V, cujos valores máximos tí- as relações de transmissão fixas e prede-
picos estão por volta de 40°. terminadas.

Se o coeficiente entre as forças de ten- Uma das alternativas de obtenção de


são for maior do aquele definido pelo con- uma transmissão continuamente variá-
junto de equações acima, ocorre o desli- vel é o emprego de duas polias cônicas
zamento entre a correia e a polia. estendíveis, fixadas cada uma a eixos di-
ferentes e conectadas entre si por uma
Se a correia em V é trocada por correia
correia em V, em que a polia 1 está confi-
plana, a relação permitida entre as forças
gurada no seu diâmetro mínimo e a polia
de tensão é determinada pela relação:
2 no seu diâmetro máximo.

Cada polia tem uma face livre que des-


locada axialmente, no sentido de se afas-
tar ou de se aproximar da face fixa, altera
o diâmetro de rotação e, portanto, altera
o diâmetro de acomodação da correia. Os
deslocamentos das faces livres devem
A análise dessas equações mostra que
ocorrer simultaneamente, pois a correia
para duas polias ligadas pela mesma cor-
tem comprimento constante. As correias
reia e com o mesmo atrito, o deslizamento
podem ser de metal ou de borracha.
ocorre primeiramente naquela que tiver o
menor ângulo de contato, pois tem o me- Isoladamente, as transmissões conti-
nor quociente entre as forças de tensão. nuamente variáveis (TCV) têm eficiên-
cias menores que as transmissões auto-
Se a correia desliza, o coeficiente de
máticas e manuais; mas, por terem alta
atrito estático µae deverá ser substituído
flexibilidade na variação da relação de
pelo dinâmico µad. É importante salientar
transmissão para um conjunto único de
que essas fórmulas são válidas para veloci-
polias – o que significa “um número ili-
dade constante ou nula da correia, pois são
mitado” de relações – permitem ajustar
obtidas a partir da condição de equilíbrio.
a transmissão para que a fonte geradora
Muitas vezes, polias auxiliares – tam- de movimento trabalhe no seu ponto óti-
bém conhecidas por polias tensoras – são mo de eficiência, sem prejuízo no aciona-
utilizadas com o objetivo de aumentar o mento da carga (BIM, 2012).
ângulo de contato entre a correia e as po-
É o caso, por exemplo, do motor de
lias principais.
combustão dos automóveis, que para
d) Transmissão continuamente va- cada valor de potência transmitida tem
riável (TCV) um ponto de operação torque-velocidade
correspondente à eficiência ótima. Assim
A variação da relação de transmissão
45

sendo, é possível funcionar nesse ponto eletricidade e mecânica enquanto dis-


ótimo – o que significa torque e velocida- ciplinas básicas e complementares de
de constantes – e atender as solicitações grande aplicabilidade prática no cotidia-
da carga, simplesmente modificando-se no do Engenheiro Eletricista.
a relação de transmissão. Graças à evolu-
ção tecnológica no mecanismo de deslo-
camento das polias, no material utilizado
na correia, nos sensores e nos sistemas
providos com microprocessadores, o uso
de TCV tem crescido em diversos setores
industriais, sendo comercialmente utili-
zadas em alguns carros de passeio. A TCV
é conhecida desde 1886, quando dois
engenheiros alemães, Daimler e Benz, a
inventaram para serem utilizadas espe-
cificamente em automóveis (BIM, 2012).

e) Parafusos de potência:
Quando um parafuso é girado, com a
porca mantida imóvel, ele se desloca na
direção axial, e, assim sendo, pode ser
empregado para mover cargas; o nome
dado ao parafuso, quando ele tem esta
função, é parafuso de potência. São os
casos, por exemplo, de algumas prensas
e do macaco mecânico.

Por sua vez, se é permitida apenas a


translação da porca na direção axial, a ro-
tação do parafuso – impedido de se des-
locar axialmente – pode ser utilizado para
converter rotação em movimento linear,
e, nesse caso, o parafuso é denominado
fuso ou rosca sem fim.

Os fusos podem ter múltiplas entradas


(múltiplas roscas) e, em geral, têm ros-
ca quadrangular ou triangular, embora
a quadrangular seja a mais adotada por
causa de sua maior eficiência (BIM, 2012).

Longe de esgotar o assunto, espe-


ramos que tenham compreendido a im-
portância e as relações próximas entre
46

REFERÊNCIAS

REFERÊNCIAS BÁSICAS LO. Magnetismo - Propriedades gerais dos


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