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Culturas Pesqueiras e os Sistemas de Pesca Artesanal1

Cristiano Wellington Noberto Ramalho


(Professor e Pesquisador do Departamento de Sociologia
e do Programa de Pós-Graduação em Sociologia/
Universidade Federal de Pernambuco - UFPE)
Resumo:
O objetivo da pesquisa foi “entender, com base na cultura pesqueira, como os processos
técnico-tecnológicos, as dinâmicas econômicas e os impactos ambientais oriundos não apenas
das políticas públicas foram vividos e interpretados pelos pescadores mestres das
comunidades de Carne de Vaca – município de Goiana – Suape – no Cabo de Santo Agostinho
- e São José da Coroa Grande – município de mesmo nome -, em Pernambuco,
historicamente”. O conceito de cultura pesqueira associado aos de mestre e sistemas de pesca
guiaram nossa pesquisa, tendo por base uma pesquisa etnográfica com 30 mestres de pesca.
Palavras-Chave: Culturas Pesqueiras; Sistemas de Pesca; Mestres de Pesca;
Socioantropologia da Pesca

1. Apresentação2

O objetivo deste artigo visa “entender, com base na cultura pesqueira, como os
processos técnico-tecnológicos, as dinâmicas econômicas e os impactos ambientais oriundos
não apenas das políticas públicas foram vividos e interpretados pelos pescadores mestres das
comunidades de Carne de Vaca – município de Goiana – Suape – no Cabo de Santo Agostinho
- e São José da Coroa Grande – município de mesmo nome -, em Pernambuco,
historicamente”.
Para tanto, os núcleos de pesca situados nas praias de Suape, município do Cabo de
Santo Agostinho, Carne de Vaca, em Goiana, e São José da Coroa Grande (o município possui
o mesmo nome3) tornam-se estratégicos para isso. Escolhemos, então, mestres pescadores que
habitam e desenvolvem suas pescarias nas nestas três áreas costeiras de Pernambuco: o litoral
da região metropolitana do Recife, o norte e o sul.
No primeiro caso, a ação pública (estadual e federal), com a construção e instalação do
Porto de Suape, nos anos de 1980, e sua ampliação no decênio seguinte (1990), sendo,
posteriormente, acrescidos pelo processo de construção da Refinaria Abreu e Lima e indústria
naval nas primeiras décadas do século XXI e a instalação de um resort no meados da década

1 Trabalho aprovado para o 44º Encontro Anual da ANPOCS, compondo, dessa maneira, a Programação do “GT
- 02 - As Ciências Sociais e os Grupos Sociais Ribeirinhos: Territórios e Conflitos”.
2
Esta pesquisa contou com o apoio do CNPq, por meio da bolsa de Produtividade de Pesquisa, e da FACEPE.
3 Ao longo do artigo, escreveremos São José da Coroa Grande ou, de modo abreviado, São José.

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de 1990, provocou mudanças socioambientais irreversíveis na localidade (desmatamento de
mangues, expulsão de pescadores, chegadas de trabalhadores de outras localidades, etc.),
afetando a reprodução da pesca e da cultura pesqueira na região. Estima-se que mais de 600
hectares de manguezais foram devastados, ocorrendo, por conta disso, uma queda de mais de
80% na biodiversidade pesqueira local, o que fez com que desenvolvessem suas pescas no
alto mar – ou mar-de-fora (Ramalho, 200, 2017).
No que diz respeito à praia de Carne de Vaca, com suas pescas de mar-de-dentro (rios,
estuários e antes dos arrecifes no mar) mesmo com a construção/instalação do pólo
farmacoquímico e a chegada da multinacional FIAT, nas duas últimas décadas, com apoio dos
Governos Federal e Estadual, no município de Goiana, isso não produziu impactos
socioambientais nesta praia, como se esperava inicialmente, o que fez com que a continuidade
dos sistemas de pesca e da cultura pesqueira artesanal não sofresse abalos. E mesmo a
regulamentação da Reserva Extrativista de Acaú-Goiana (criada em 20074) não impôs
modificações nas formas de trabalho da pesca, tendo em vista que seu plano de manejo, até o
fechamento da pesquisa de campo, não tinha sido ainda efetivado. Assim, suas repercussões
sobre a vida e o trabalho dos mestres inexistem.
Por fim, em São José da Coroa Grande, iniciativas públicas decorrentes do Programas
Regionais de Desenvolvimento do Turismo (PRODETUR), que levou a instalação de hotéis e
pousadas, principalmente em praias próximas (já em Alagoas), e a melhoria das estradas PE-
60 e AL-101, passou a redefinir e interferir nos usos dos espaços (continental e marinho)
praticados há décadas pela população de pescadores locais, aumentando o comércio de
pescados na localidade com a chegada de grandes atravessadores, bem como houve um
avanço da especulação imobiliária na localidade. Tal fato provocou a saída dos pescadores da
beira-mar. Intensificou-se a pesca de alto-mar. A implantação da APA dos Corais5 trouxe uma
interferência mínima nas práticas de manejo da pesca em São José, só os afetando quando os
mesmos dirigem-se para Tamandaré (perto do CEPENE-ICMBio).
Para dar conta do objetivo aludido, realizamos uma pesquisa etnográfica, entrevistadas
baseadas nas histórias de vida de 30 mestres pescadores das referidas localidades e a

4 A Reserva Extrativista Acaú–Goiana é uma unidade de conservação categorizada como reserva extrativista,
sendo criada por Decreto Presidencial em 26 de setembro de 2007. Sua área corresponde a de 6.678 hectares,
entre áreas aquáticas e terrestres, ligadas ao rio Goiana, e fazem parte dela os municípios de Pitimbu e Caaporã,
na Paraíba, e Goiana, no estado de Pernambuco
5 A APA dos Corais foi instalada por meio do Decreto de Lei Federal, s/n, de 23/10/1997, possuindo área de
404.279,93 hectares, indo de Alagoas (Maceió) até Pernambuco (o município de Tamandaré), sendo gerida pelo
ICMbio/MMA.

2
observação direta, que se somou à abordagem comparativa e histórica. O conceito de cultura
pesqueira associado aos de mestre e sistemas de pesca guiaram nossa pesquisa.
Histórias de vida colhidas através de entrevistas semi-estruturadas6 com os principais
sujeitos da pesquisa. Assim, essa abordagem foi fundamental, porque nos levou a conectar o
que ocorre no âmbito dos indivíduos com os fenômenos sociais mais amplos sem desconectá-
lo dos danos ambientais no mundo do trabalho, articulando questões do tempo presente em
fino diálogo com elementos do passado. Dessa maneira, uma leitura retrospectiva exercitada
pelo entrevistado possibilitou uma visão ampla do conjunto de sua vida, cujo hoje é ligado ao
tempo pretérito (Soares, 1994). Então, tal perfil de pesquisa - que tece sua pesquisa com fonte
na história oral (e de vida) - “sustenta que a versão da história da sociedade que se constrói é
tão válida quanto aquela que deriva da consulta de fontes documentais como arquivos e
registros fiscais ou policiais, por exemplo” (Lozano, 2006: 24, grifo do autor)7 . O essencial
foi compreender, de modo comparativo e sob o olhar sincrônico e diacrônico sustentado na
etnografia, nas histórias de vida, as semelhanças e especificidades presentes nas pescas das
referidas praias e em uma mesma localidade, desvelando-as como totalidades parciais
inseridas numa totalidade totalizante do capitalismo, que as influencia - sem determiná-las
mecanicamente de modo homogêneo (Ianni, 2007; Ramalho, 2012a; 2012b).
E qual foi a quantidade dos mestres pescadores entrevistados? E como se deu essa
escolha? E o período da pesquisa de campo? Para tanto, a quantidade de mestres de pesca
entrevistados foi a seguinte:

Quadro I - NÚMERO DE MESTRES DE PESCA ENTREVISTADOS, DE JUNHO DE 2017 A


SETEMBRO DE 2019, EM CARNE DE VACA, SÃO JOSÉ DA COROA GRANDE E SUAPE,
PERNAMBUCO.
Localidade Quantidade
Carne de Vaca, Goiana-PE 11
São José da Coroa Grande-PE 11
Suape, Cabo de Santo Agostinho-PE* 8

6 Sem dúvida, “Vale destacar que o trabalho da história oral junto aos segmentos populares resgata um nível de
historicidade que comumente era conhecida através da versão produzida pelos meios oficiais. À medida que os
depoimentos populares são gravados, transcritos e publicados, torna-se possível conhecer a própria visão que os
segmentos populares têm das suas vidas e do mundo ao redor” (Montenegro, 2003: 16). Ademais, os
“pesquisadores da oralidade (sejam historiadores, antropólogos, sociólogos, etc.) consideram a evidência oral
uma fonte muito importante e, em vários casos, a única ou a medular, mas que afinal é só mais um dos meios e
acervos de informação que dispõe o pesquisador para a construção da percepção, do tempo e no espaço, da
experiência humana, particularmente dos grupos sociais em que a oralidade se mantém em vigência” (Lozano,
2006: 24). Então, tal perfil de pesquisador(a) - que tece sua pesquisa com fonte na história oral (de vida) -
“sustenta que a versão da história da sociedade que se constrói é tão válida quanto aquela que deriva da consulta
de fontes documentais como arquivos e registros fiscais ou policiais, por exemplo” (Lozano, 2006: 24, grifo do
autor).
7 Soares, L.E. O rigor da indisciplina: ensaios de antropologia interpretativa. Rio de Janeiro: Relume-Dumará,
1994.

3
Total 30
* Por conta de uma ação judicial a ser movida pela comunidade local (com o apoio e em parceria com o Conselho Pastoral dos
Pescadores – CPP) contra O Complexo Portuário de Suape e a Refinaria Abreu e Lima, os entrevistados pediram para que seus
nomes fossem omitidos. Sendo assim, todos os mestres de pesca de Suape receberam outras nomeações neste escrito.

Cabe aqui algumas informações: (a) a pesquisa de campo em São José da Coroa
Grande deu-se, com mais ênfase, nos meses de dezembro de 2017 a fevereiro de 2018 e,
depois, em julho de 2019; (b) em Carne de Vaca o trabalho desenvolveu-se, de modo mais
constante, de dezembro de 2018 a janeiro de 2019, com idas em junho de 2019; e (c) em
Suape, que é a praia mais próxima, intensificamos a nossa presença de junho a de agosto de
2017 e, depois, em novembro de 20188.
Outra informação importante é que a pesquisa de campo termina setembro de 2019,
antes da chegada das grandes manchas oriundas dos vazamentos de petróleo9 que chegaram
em Pernambuco em 17 de outubro de 2019. Por isso, não o discutiremos em profundidade
neste trabalho, abordando, quando muito, dentro do possível.
Cabe também mencionar que 60% dos entrevistados tinham, no mínimo, 60 anos, e
40% ocupavam a faixa etária de 44 a 59, o que revela que fazer-se mestre de pesca não é uma
caminhada curta. E 70% deles trabalham em barcos próprios. Ademais, a escolha dos
entrevistados respondeu a três critérios: (a) os mestres reconhecidos pela comunidade por seus
talentos, de acordo com os sistemas de pesca que trabalham (discutiremos essa noção de
sistema de pesca, com maior detalhe, adiante). Almejou-se, com isso, variar as formas de
trabalho e os tipos de mestres encontrados; (b) entrevistamos aqueles que, obviamente,
conceder-nos entrevistas; e (c) o número de entrevistados foi suspenso pelo fato das respostas
começarem a repetir-se.

2. Cultura Pesqueira Artesanal


O conceito de cultura pesqueira será a base de nossa argumentação
socioantropológica, por representar a articulação de elementos materiais e imateriais presentes
no universo do trabalho, da simbologia e da sociabilidade das pessoas que vivem do (e no)
mar e estuários, o qual tem relação direta com a noção de mestres da pesca.
Sobre a ideia de cultura pesqueira, ela incorpora códigos, normas, valores,

8
Contudo, nunca se deixou de ir a tais localidades durante os demais momentos de duração da pesquisa, pois, ao
menos, a cada quinzena íamos a algumas delas, de maneira alternada, dependendo, evidentemente, do calendário
de aulas, bancas, congressos científicos e reuniões na UFPE.
9
Sobre os vazamentos de petróleo, os impactos da pandemia do novo coronavírus e outros temas sobre
comunidades pesqueiras artesanais, vale acessar os podcast‟s do nosso Projeto de Extensão Vozes da Pesca
Artesanal, que resulta de uma parceria entre o Núcleo de Estudos Humanidades, Mares e Rios (Nuhumar) e o
Laboratório de Estudos Rurais (Lae-Rural)/UFPE com o Conselho Pastoral dos Pescadores (CPP):
https://soundcloud.com/user-531811812

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sociabilidades, linguagens, simbologias, saberes, organização produtiva, acervo técnico e
tecnológico, que foram capazes de possibilitar a (re)produção sociocultural dos povos das
águas ao longo dos 7.500km da região costeira brasileira. Significa igualmente modos de vida
distintos que encontraram nas águas suas razões de ser; e é justamente aí que podemos “falar
de uma „subcultura caiçara‟ e de uma „subcultura jangadeira‟, no interior de uma cultura
marítima em geral existente no Brasil” (Silva, 1993: 12), ou de uma cultura ribeirinha
(Furtado, 1987; Neto; Furtado, 2015; Ramalho, 2006), cuja primeira abrigou-se no Sul e no
Sudeste e as outras, respectivamente, no Nordeste e no Norte secularmente.
Essa cultura pesqueira, portanto, liga-se às pescarias exercidas por homens e mulheres
em ambientes antes da arrebentação natural (arrecifes), como estuários, lagunas, lagos, baías e
rios, e por pessoas que desenvolvem seu saber-fazer no alto-mar (Diegues, 1995), após a
barreira dos arrecifes. De acordo com Ramalho (2006), isso também pode ser definido, com
base nas ideias elaboradas pelas comunidades pesqueiras locais, de mar-de-dentro, no
primeiro caso, e de mar-de-fora, no segundo.
Em determinados momentos e contextos históricos a cultura pesqueira serviu de esteio
para formação de outras culturas, a exemplo de outras formas de culturas marítimas, por
exemplo. Na Europa, em fins do século XV, segundo o historiador Felipe Fernández-Armesto
(2009: 196-197), “algumas comunidades criaram culturas marítimas locais e regionais e, em
alguns casos, desenvolveram importante atividade pesqueira, funcionando assim como
escolas, nas quais os exploradores da década de 1490 iam buscar navios e tripulações”.
Embora tenham existido (e existam) várias expressões fenomênicas da cultura
pesqueira no mundo (além dos diversos tipos de pescadores, surgiram marinheiros,
navegantes, piratas, velejadores, canoeiros, varzenteiros, etc.), elas se apóiam em uma
centralidade: a importância das águas como marco e marca existencial de inúmeras
comunidades, de seus modos de vida e trabalho.
E isso se torna evidente também na produção de estudos internacionais sobre o tema
da cultura marítima (Acheson, 198; Kurlansky, 2000; Philbrick, 2000; Rediker; Linebaugh;
2008; Rediker, 2011; Ritchie, 1989), no qual a sociedade flutuante (vida embarcada) criou um
mundo e processos sociais repletos de dinâmicas peculiares com suas formas de
solidariedade, mobilidades, companheirismos, incertezas, disputas e imaginários, pois não se
deve desconsiderar que “definitivamente, a gente do mar tem boa parte de sua existência em
um ambiente distinto do „continental‟” (Mollat, 1983: 220).
Independentemente das diferenças internas (divisão social do trabalho e de papéis), os
riscos de acidentes e mortes no mar exigiam (e exigem) cumplicidades e solidariedades entre

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os tripulantes de um mesmo destino (o barco) para que pudessem (e possam), dentre tantas
coisas, sobreviver aos desafios postos pela natureza marinha, ventos e tempestades que
transformam o oceano em um ser ainda mais arredio. Um historiador brasileiro, escreveu que,
entre os séculos XVIII e XIX, “viver embarcado significava travar uma luta diuturna com as
forças da natureza, um lidar cotidiano que teve efeito inegável na cultura marítima.
Sobreviver, nesses casos, era um verbo que se conjugava coletivamente: a vida muitas vezes
dependia do trabalho, da habilidade e do espírito comunitário da tripulação como um todo”
(Rodrigues, 2005: 195, grifos nosso).
Isso mostra a importância da vida embarcada, das águas, como categoria
representativa na definição desse conceito, o que também é decisivo para a pesca artesanal,
porque “[…] significa a produção de um modo de vida particular, com sua ideologia,
racionalidade, sociabilidade e organização típica de um trabalho, o que propiciou o
florescimento de uma cultura marítima com seus laços de pertencimento e seus princípios
éticos fundantes e fundados por reciprocidades” (Ramalho; Santos, 2018: 259, grifo nosso).
No caso da cultura ribeirinha ou ribeirinidade, o mar-de-dentro fez-se marca
expressiva no modo de ser, ver, sentir e estar no mundo. A saber, “nessa perspectiva, o
conceito de ribeirinho deve estar ligado mais ao caráter da relação estabelecida com o rio,
sendo esse meio natural o principal definidor dos aportes culturais dessa categoria, sem
necessariamente sobrepor uma categoria a outra” (Neto; Furtado, 2015: 160). Além dos rios,
outros ambientes “fechados” (lagos, lagoas, rios, estuários), como já foi dito, podem ser
incluídos nesta categoria de análise, como realizou Diegues (1995) com a noção de culturas
litorâneas.
Aqui definiremos culturas litorâneas e ribeirinhas como sinônimos e o mesmo dar-se-á
com o termo mar-de-dentro. Todavia, centralizaremos tais noções em uma única noção, a de
cultura pesqueira. Culturas marítima e ribeirinha que são expressões, no que diz respeito
aqueles que pescam, de uma cultura pesqueira artesanal, desaguando também no conceito
êmico de sistemas de pesca (este será explorado mais adiante, especialmente por meio dos
depoimentos dos próprios mestres pescadores).
Cultura pesqueira artesanal que é o fazer-se pescador artesanal, onde “é a conjugação
de seu trabalho com os instrumentos que possibilita a atividade, que não pode se dar sem
alguma forma de mediação tecnológica entre o homem e os peixes a serem capturados”
(Pessanha, 2003: 76), encontrando no barco, na sua sociedade flutuante uma centralidade
existencial.
Para os povos pesqueiros artesanais, laços de sociabilidade e territoriais fundem-se e

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se apresentam como chaves explicativas da sua cultura pesqueira. Portanto, “constituem-se,
assim, aspectos identitários socioterritoriais que levam a pensar em elementos de uma cultura
marítima com base na construção histórica da ocupação do espaço” (Adomilli, 2017: 244,
grifo nosso) ou de uma ribeirinidade, cujo “modo de vida na beira do rio também traduz,
então, essa profunda articulação com a natureza, sendo a água o elemento essencial da cultura
dessas populações ribeirinhas” (Neto; Furtado, 2015: 162).
Dentro desse universo o barco artesanal é mais do que um simples instrumento
produtivo. Ele significa um mundo de relações afetivas, território identitário, uma oficina
artesã em pleno movimento, segurança possível em um ambiente móvel e perigoso,
objetivações de saberes e fazeres e hierarquias firmadas pelo respeito aos mestres, aos seus
conhecimentos e às águas. É na vida embarcada que a cultura marítima germina, cresce e
produz frutos cotidianamente, chegando ao continente e saindo dele para o mar.
Desta forma, a noção de cultura marítima aponta para a existência de noções e
princípios que estão além do momento de produção e que também a antecedem,
perpassando a ordem social, a lógica e os valores das sociedades de pescadores
marítimos (Maldonado, 1993: 34, grifos nosso).
Por isso,
Daí, a importância do conceito de maritimidade, entendido como um conjunto de
várias práticas (econômicas, sociais e, sobretudo, simbólicas) resultante da interação
humana com um espaço particular e diferenciado do continental: o espaço marítimo.
A maritimidade não é um conceito ligado diretamente ao mundo oceânico, enquanto
entidade física é uma produção social e simbólica [grifo do autor] (Diegues, 2004:
15-16).

Da mesma forma, no mundo ribeirinho, as águas são mais que entidades físicas,
objetos. Para Loureiro (1992: 26) é “a água o elemento definidor da cultura dessas populações
ribeirinhas”. Assim, as dinâmicas socioculturais fundam-se em interações constantes com a
natureza estuariana, fluvial, “cujas convivência e articulação com a natureza estabelecem uma
maneira de ser, agir e pensar muito íntima a esse meio natural” (Neto; Furtado, 2015: 159).
Seja na cultura marítima, seja na cultura ribeirinha, a cultura pesqueira artesanal
encontrou no seu diálogo com as águas a base material e imaterial de sua existência, que se
apresentou no seu trabalho e modo de vida
Sem dúvida, a cultura pesqueira constituiu-se em diálogo permanente com as culturas
marítima e ribeirinha, estando presentes em processos sociohistóricos mais abrangentes. No
caso dos pescadores artesanais pernambucanos, do mar-de-dentro ou do mar-de-fora, essa
interação deu-se com a “sociedade envolvente” ou, segundo os termos de Lukács (2010), com
a totalidade social, a saber, por terem se situado, no passado, sob as dinâmicas da casa-grande,
dos sobrados, da escravidão ou da busca pelo trabalho livre, e, no tempo presente, por ser um

7
habitante das periferias das grandes cidades e/ou dos pequenos municípios. O jangadeiro e o
canoeiro pernambucanos são, num só tempo, pais e filhos da cultura marítima e da cultura
ribeirinha respectivamente, que conformam o que classificamos de cultura pesqueira
artesanal.
Essa cultura pesqueira emergiu associada às corporações (confrarias e irmandades)
pesqueiras, que sobreviveram no Brasil até o século XIX, como um tipo de ofício artesanal
bastante específico (Silva, 1998) que dependia da presença de um mestre (Ramalho, 2017).
Vale mencionar que o termo mestre é originário do latim magister, cujos significados
são o que ensina, aconselha, conduz e/ou guia na elaboração de uma obra. A prática da mestria
está presente desde a Idade Média, visto que “é na antiga organização dos mesteres que o
termo mestre assume o seu significado. O mestre dirige a oficina, mas, ao dirigi-la, ensina e
simultaneamente, cria uma obra” (Serrão 1971: 48, grifos no original). De modo geral, “as
oficinas estabelecem um movimento de coesão entre as pessoas através dos rituais do
trabalho” (Sennett 2009: 88) de um determinado ofício. Nunca é demais lembrar que “um
ofício compreendia todos aqueles que tinham adquirido técnicas peculiares de ocupação mais
ou menos difícil, através de um processo específico de educação” (Hobsbawm, 1987: 355)
inerente ao trabalho, no qual “ao mestre não cabia unicamente a função instrutora, mas o
caráter educativo do processo de aprendizagem profissional, individual e social do aprendiz”
(Martins, 2008: 83).
Entre eles, os mestres, imperava “[...] um senso de dignidade e de auto-estima,
derivado do trabalho manual difícil, bom e útil à sociedade” (Hobsbawm, 1987: 372), que
legitimava a sua condição de artista (Cunha, 2000; Ramalho, 2017) também presente na força
societária do verbo fazer, já que “o fazer do artista ressalta o aspecto artesanal de seu trabalho,
no sentido de ver sua obra acabada após ter percorrido ele próprio as etapas necessárias à sua
realização” (Lopes, 1976: 36, grifos do autor), ou seja, “o „artista mesmo‟ é reconhecido por
sua prática cotidiana” (Lopes, 1976: 39). Por isso, portam uma “[...] crença justificada de que
sua técnica era indispensável à produção; na verdade na crença de que ela era o único fator
indispensável à produção” (Hobsbawm, 1987: 358, grifo do autor), o que ainda é encontrado
entre pescadores. Além disso, os artífices eram chamados, de maneira geral no Brasil-colônia
e no Brasil-império, de artistas, e o inverso era corriqueiro, quer fossem praticantes de ofícios
(artes) liberais ou não. Luiz Antônio Cunha, apoiando-se em documento de época, escreveu:
Alguns artistas, cujas atividades assemelhavam-se tecnicamente às dos oficiais
mecânicos, diferiam deles pelas características sociais do seu trabalho dotado de
valor simbólico, como os arquitetos, os escultores (às vezes chamados de
entalhadores) e os pintores. Não eram chamados de mecânicos nem estavam sujeitos
à agremiação corporativa, como era o caso da maioria destes. Eram os oficiais

8
liberais, embora essa dominação não fosse comum, sendo a mais empregada a de
artistas, confundindo-se, neste caso, com a categoria homônima à empregada para
os oficiais mecânicos” (Cunha, 2000: 28-29, grifos no original).

Ao estudar essa questão em Pernambuco, o historiador Francisco Augusto Pereira da


Costa mostrou (com base numa contenda estabelecida em 13 de novembro de 1756 junto à
câmara de Recife, entre mestres que eram favoráveis e os contrários à presença de negros
escravos nos ofícios) como o termo artista era empregado para os profissionais, até mesmo os
escravos, voltados aos ofícios mecânicos (ou artesanais), mostrando ser uso bastante corrente,
no período, a classificação de artista dada a esses trabalhadores:
Naquele ato discutiu a câmara os prejuízos que a oposição dos juízes acarretava aos
senhores de escravos artistas, bem como ao público, porquanto as obras por êles
produzidas eram mais baratas, e notando-se ainda, que se êles trabalhassem nas
oficinas dos forros, tiravam esses para si uma têrça ou quarta parte dos seus
jornais, com grave prejuízo não só dos senhores como dos consumidores (Costa,
1954: 145, grifos no original].

De modo geral, as Câmaras Municipais regulavam a existência dessas corporações de


ofício, ao longo território brasileiro (Ramalho, 2017), impondo suas regras sobre a pesca
artesanal.
Outra informação expressiva é o recenseamento da população brasileira de 1872, onde
aparecem dentro da categoria de artesanato as seguintes profissões: costureiras, artistas,
alfaiates, carpinteiros e pescadores (Barbosa, 2008). O termo artesão, que foi absorvido no
Brasil, é também uma herança de Portugal; na documentação histórica portuguesa, “quando
os documentos mencionam artesão, estão geralmente a referir-se a barbeiros, alfaiates,
sapateiros, pedreiros, carpinteiros, oleiros, padeiros, almocreves, carniceiros, pescadores e
outros semelhantes” (Marques 1985: 169).
Em várias comunidades situadas em nosso País os pescadores portam um “sentimento
de corporação de ofício”, propiciando que a pescaria artesanal seja “entendida como o
domínio de um conjunto de conhecimentos e técnicas que permitem ao produtor subsistir e se
reproduzir enquanto pescador” (Diegues, 1983: 197). Assim, pescador é ter “o controle de
como pescar e do que pescar, em suma, o controle da arte da pesca” (Diegues, 1983: 198), que
se efetiva, acima de tudo, nas águas em pleno exercício da atividade pesqueira no mundo
embarcado; e “esse controle da „arte da pesca‟ se aprende com „os mais velhos‟ e com a
experiência” (Diegues, 1995: 35), gerando distinções em relação a outros profissionais e
moradores locais. Então, “o pescador aqui aparece como um mestre em seu ofício; possuidor,
portanto, de um saber profissional capaz de distingui-lo dos demais moradores. Detém
consigo competências adquiridas a partir de uma biografia dedicada exclusivamente à pesca

9
artesanal” (Dias Neto, 2015: 95), cujo elemento da tradição é fundamental.
Além disso, entendemos que o elemento do conservadorismo - identificado por
Forman (1970) no caso dos jangadeiros alagoanos e que teve a capacidade de resguardar uma
autonomia possível dentro de um patamar mínimo de sobrevivência, inclusive diante da
adoção de inovações tecnológicas no mundo do trabalho – possui fina relação com as noções
de cultura de ofício e de sentimento de corporação. Ademais, esse conservadorismo
aproxima-se da ideia de cultura do trabalho, a qual resulta dos costumes, experiências e
valores pertencentes à determinada fração de classe social, dando-lhe sentido e identidade ao
permitir-lhe opor-se e/ou diferenciar-se de outros grupos sociais em termos práticos e
simbólicos, especialmente a partir das experiências de vida e do lugar em que ocupa na esfera
da produção, negando, muitas vezes, os processos de modernização capitalistas que
estabeleceram simbioses com novos modos de dominação e/ou exclusão social levadas a
frente pelos burgueses (Thompson, 1998). Trazida para o âmbito da pesca artesanal, essa
cultura de trabalho pode ser interpretada como cultura de ofício pesqueira ou, como
desejamos identificar neste escrito, cultura pesqueira artesanal.
Quer dizer, para E. P. Thompson (1998), muito dessas mudanças técnico-tecnológicas
são recebidas com precaução ou resistência pelos setores populares, especialmente por conta
de sua cultura do trabalho, uma economia moral pautada em direitos costumeiros,
tradicionais, patrimoniais. De acordo com Thompson (1998):
A cultura conservadora da plebe quase sempre resiste, em nome do costume, às
racionalizações e inovações da economia (tais como os cercamentos, a disciplina do
trabalho, os “livres” mercados não regulamentados de cereais) que os governantes,
os comerciantes ou os empregadores querem impor. A inovação é mais evidente na
camada superior da sociedade, mas como ela não é um processo tecnológico/social
neutro e sem normas (“modernização, “racionalização”), mas sim a inovação do
processo capitalista, é quase sempre experimentada pela plebe como uma
exploração, a expropriação de direitos de uso costumeiros, ou a destruição violenta
de padrões valorizados de trabalho e lazer. [...] Por isso a cultura popular é rebelde,
mas o é em defesa dos costumes. Esses pertencem ao povo, e alguns deles se
baseiam realmente em reivindicações muito recentes (Idem: 19).

Necessariamente essa rebeldia – no universo da pesca artesanal - não assume uma


conotação política em alguns casos (em outros sim), mas mesmo assim isso pode ser visto
como uma forma de resistência sutil, cultural, uma política de precaução em relação ao
universo tecnológico, a qual alguns estudiosos tiveram a oportunidade de destacar
(Maldonado, 1994) e que encontram na pessoa do mestre sujeito essencial nessa resistência ao
emprego de novas tecnologias, a vitória do trabalho morto (máquinas e equipamentos) em
relação ao trabalho vivo (saber-fazer artesanal). De modo geral, cultura do trabalho:

10
[...] refere-se à experiência de grupos sociais identificados com o lugar que
ocupavam no campo da produção. Trata-se de ir ao encontro dos valores em torno
dos quais legitimavam as condições de seu pertencimento social, as representações
que os levavam a criar uma identidade particular, as formas com que designavam os
“outros” [...]. Para isso, foi preciso investigar as experiências dos trabalhadores e
como estes as nomeavam em suas relações cotidianas. Estas foram procuradas,
essencialmente, nos locais de trabalho, lugar em que eles definiam, em grande
medida, suas próprias vidas, seu valor individual e social, nutriam seus desejos de
independência em relação a outros grupos sociais e passavam por um processo de
transformação de suas experiências (Silva, 2003: 26-27).

Entender essa cultura do trabalho, que passa pelo mestre de pesca por ser ele um
formador dos profissionais da pesca artesanal, torna-se peça-chave para desvelar os
mecanismos que permitem possibilidades de incorporação, negação, inserção, resignação e/ou
negociação frente às mudanças técnico-tecnológicas, socioeconômicas e culturais existentes
em seus locais de morada e trabalho. A cultura do trabalho não deixa de estar presente no
modo de ver, sentir e experienciar essas dinâmicas, compondo, para nós, o que classificamos
aqui de cultura pesqueira.
Sem dúvida, o surgimento da cultura pesqueira, independentemente de ser ela
marítima ou ribeirinha, irmanou-se ao nascimento dos mestres pesqueiros artesanais no
Brasil, cujos jangadeiros e canoeiros foram seus artífices primevos nos mares nordestinos, nas
águas piscosas de Pernambuco, que sobrevivem hoje nos botes (barcos motorizados de Suape
e São José da Coroa Grande)10 e no caíco (espécie de canoa que há, desde os anos de 1980 em
Carne de Vaca). Acima de tudo, os mestres são fundamentais para a existência da própria
cultura pesqueira, visto que eles as encarnam, são produzidos por esta cultura e as
reproduziram ao longo do tempo.
O pescador mestre e o domínio da arte da pescaria (em seu amplo universo) são
sinônimos para os pescadores das praias pesquisadas. Sem dúvida, “o mestre é o cara que
sabe mais. Sem sua inteligência não tem essa cultura nossa... essas sabedorias pra pescar”
(Gildo, Suape, PE). “Realmente não tem como sobreviver a pesca por aqui sem ele... sem os
mais sábios, que são os mestres. Arte da pesca tá nele” (Tato, Carne de Vaca-PE), e “o mestre
conduz... é repassa a pesca pros mais jovens” (Naninho, São José, PE). Alcançar e possuir a
mestria representa o ponto de chegada e de partida da arte de pescar, da própria produção e
reprodução da cultura pesqueira artesanal.
Para ser pescador artesanal não basta sobreviver da pescaria, é preciso compreender e
conhecer plenamente os meios sobre os quais aquele dirige seu trabalho, bem como ser

10 Barcos de 7 a 12 metros movidos a motor. Feitos artesanalmente de madeira, com quilha, convés, cabine
fechada, sendo destituídos de tecnologias modernas (sonar, por exemplo).

11
construtor de práticas societárias, de sociabilidades singulares típicas desse ofício (Diegues
1983; Lima 1997; Maldonado 1994).
O fazer da mestria resulta de um profundo saber, especialmente numa atividade que
exige uma rigorosa necessidade de relacionar aspectos complexos, como ventos, marés, ciclos
lunares, tipos de cardumes, armadilhas certas para capturar determinados peixes, velocidade a
impor à embarcação, profundidade da área em que se busca capturar os pescados, bem como o
comando e a cooperação entre homens no mar.
Nesse contexto, a pessoa do mestre é essencial na pescaria. Para Maldonado, “falar-se
de mestre e da mestrança é falar de algo universal e indissociável à pesca” (1994: 134, grifos
no original)”, pois não existe ninguém melhor do que esse personagem para congregar a arte
de ser pescador,11 sendo resultado e educador de uma cultura de ofício ensinada e aprendida
secularmente, como acontece nas comunidades pesqueiras de Pernambuco (Ramalho, 2017).
Só existe mestre porque há uma cultura pesqueira desenvolvida, aprendida e
repassada. Isso ainda é muito presente na pesca artesanal de Carne de Vacca, São José da
Coroa Grande e Suape, pois o mestre atua como um educador de uma arte, de um saber-fazer
pesqueiro, sendo um guia do mundo aquático.
Pudemos observar isso quando embarcamos, em inúmeras oportunidades. A ação do
mestre orientava e direcionava os rumos náuticos e pesqueiros dos tripulantes, sendo uma
autoridade reconhecida pelo domínio da arte pesqueira. Sem dúvida, como ressaltou seu
Milton, o mestre de pescaria “se compara a um professor” [Suape-PE]. Ele é um professor
que se faz “o guia da tripulação” [Conrado, Suape-PE], “dos homens nas águas e de como ir
para os melhores locais de pesca” (Alexandre, São José, PE), “ele e a pesca é quase a mesma
coisa, tão colados” (Seu Lula, Carne Vaca), sendo o elo com os usos ancestrais das águas e
transmissor da confiança pautada no domínio de uma cultura marítima e ribeirinha, na cultura
pesqueira.
O mestre é uma instituição, pois armazena em si um patrimônio societário. Ele é o
responsável pela prévia ideação da arte, o planejamento de todas as etapas, a organização do
grupo de trabalho e o nascimento da obra. Esses elementos devem ser sempre divididos com
os demais trabalhadores de sua oficina marítima (a embarcação), em prejuízo de se não obter
uma boa qualidade produtiva. Seu comando se edifica pela experiência e capacidade
reconhecida por todos no mundo prático do saber-fazer, e se articula a um diálogo ao mesmo
tempo vertical (a partir do responsável) e horizontal (do trabalho coletivo e voluntário) com

11 O mestre é personagem também comum as mais diversas atividades artesanais que existem até hoje no Brasil.

12
os membros da unidade de produção, cujas relações de trabalho assentam-se, na grande
maioria das situações, em vínculos pessoais e diretos. Na pesca artesanal, “os laços de família
e a prática da mestrança amparam, alimentam e se projetam umbilicalmente” (Ramalho, 2006:
162).
Sendo assim, podemos afirmar que os jangadeiros expressam uma cultura marítima e
os canoeiros uma cultura ribeirinha, que foram (e são) as bases da cultura pesqueira
(sociabilidade embarcada e um tipo de trabalho ancestral marcado por um complexo saber-
fazer de base artesanal presente, vivido e traduzido pelos mestres pesqueiros), que reverbera
até os dias atuais nos demais grupos de pescadores em Pernambuco, dos que saem para o mar-
de-fora em barcos motorizados (os botes) ou dos que exercem suas pescarias no mar-de-
dentro em caícos e baiteiras (tipos de canoas).
É por isso que ser pescador de alto-mar “é ter um trabalho que exige muita proeza e
muita cabeça mesmo, e é viver lá no mar... e é quando a gente ver o mundo todinho do mar”
(Seu Inácio, São José da Coroa Grande-PE). Além disso, ser pescador do mar-de-dentro é
“enxergar as coisas pelas águas, lá do nosso caíco [que é um tipo de canoa]. É assim a nossa
vida mesmo, com um trabalho que depende da natureza e do que nós sabemos dela”
(Dorgival, Carne da Vaca-PE). Enfim, “tanto faz se o cara pesca no mar ou no rio, ele têm que
ter cabeça pra entender a água, os pescados que por lá vivem. Por isso, somos pessoas
diferentes das outras, porque vivemos nela [nas águas]” (Genildo, Suape-PE), iluminando e
sendo iluminados pela cultura pesqueira

3. Sistemas de Pesca
Em conversa com alguns pescadores artesanais ao longo desta pesquisa, uma definição
local, um termo êmico elaborado por eles - e muito comum nas referidas comunidades
estudadas - permitiu-nos associá-lo à ideia de cultura pesqueira, que é a noção de sistemas de
pesca.
Cada local, cada praia, rio, tem sua maneira de trabalho, e mesmo numa mesma
comunidade há vários sistemas de pesca, tipos de pescarias. Assim, né, o cara que
pesca de tarrafa, que pega caranguejo, a mulher que marisca, o camarada que pesca
lá dentro [mar-de-fora] de linha, rede, covo... tudo isso... são sistemas de pesca.
Quer dizer, são sabedorias cada qual, onde a turma se organiza guiada pelo mestre. E
também tem as mudanças do tempo, novas coisas que chegam... ajuda do governo
pra comprar motor de rabeta, redes... aquelas mudanças ruins devido a imundice que
as empresas, os grandões jogam nas águas e aí some peixes... tem que ajusta o
sistema de pesca pra viver, pra arrumar a comida e ganhar uns trocados (Seu Mário,
Carne de Vaca, Goiana-PE, grifos nosso).

Tenho meu sistema de pesca, pesco mais peixes... serra, cioba, dentão, dourado... lá
no mar (alto mar). Tem outros que vão pro mesmo local, por mar-de-fora, mas
pescam lagosta... camarão... com seus sistemas de pesca. Agora essa lógica, esse

13
sistema mudou da época de pai pra minha... os governos meteram por aqui o Porto
de Suape... essa Refinaria [Abreu e Lima] que arrasou com a natureza, e nós tivemos
que ir mais pra longe, pro mar-alto mais distante daqui da praia, e aqueles sistemas
de pesca do mar-de-dentro (jangadinha... canoa..), que pescavam aqui por dentro na
beira mar e nos rios... dançou por conta desse Porto e da Refinaria (Marco, Suape-
PE).

O que é o sistema de pesca que falei há poquinho?! Por exemplo, houve mudanças
dos antigos jangadeiros pra pesca de bote [barco motorizado], houve mudanças nas
redes, que são hoje de náilon, houve modificações no comércio... as estradas
chegaram por aqui... o Banco do Nordeste uma época atrás...não me lembro
quando... mas acho que foi pelos idos do final dos anos [19]90 financiou uns barcos,
que são botes... redes... e tem aqui a APA [dos Corais], que tem suas suas regras....
tudo isso bole no sistema de pesca, no trabalho conduzido pelos mestres (Seu
Severino, São José da Coroa Grande-PE).

O que os depoimentos acima revelam é que o sistema de pesca, ou melhor, os sistemas


de pesca expressam, de modo concreto, o que aqui chamamos de cultura pesqueira, por
relacionar-se a alguns aspectos, que interagem e dão sentido ao mesmo, cujos elementos vão
das dinâmicas ecológicas até as ações executadas pelos poderes públicos. Isto é, em Carne de
Vaca, que é uma pesca de mar-de-dentro, há sistemas de pesca distintos dos existentes em
Suape e São José da Coroa Grande, que executam a pescaria no mar-de-fora.
E mesmo entre essas pescarias de mar-de-fora, elas são povoadas por outros sistemas
de pesca (de camarão, de lagosta, de peixes), onde “cada qual possui os seus mestres, devido
ao jeito que cada uma tem (Moacir, Suape-PE)”. Assim, “um sistema de pesca é uma pescaria.
São os homens que lá tão no barco... os mestres e proeiros... a sabedoria sobre o mar e os
pescados, saber usar de um tudo que tem no barco, da navegação até pôr a isca no anzol. São
os equipamentos de pesca... tudinho” (Seu Babau, São José-PE). “Olha, sistema de pesca é a
organização da pesca que vai mudando e o cabra vai ajeitando pra poder lidar com isso. Por
isso, compra um caíco novinho [tipo de canoa], um motor de rabeta, uma redizinha, e pega
um empréstimo no Banco pelo Pronaf pra isso, pra aprimorar nosso sistema. Entende?!”
(Dorgival, Carne de Vaca).
Na realidade, o sistema de pesca é “o como se fosse, né, um tipo de resumo daquilo
que o cara pesca, o pescado, com a pescaria dele, que é o barco e os apetrechos de trabalho, e
aí tá o pescador, nessas coisas. O sistema de pesca é isso, é o pescado, a pescaria e o
pescador” (Seu Mário, Carne de Vaca -PE). Segundo Alexandre (São José-PE), “o tipo do
pescado, o tipo da pescaria e o tipo do pescador (se o camarada pesca aqui ou no alto). São
essas coisas que são, né, o sistema de pesca”.
Objetivando detalhar esses elementos, que compõem o sistema de pesca, é que
realizaremos uma subdivisão apenas didática entres eles, embora saibamos que as mesmas são

14
inseparáveis na constituição dos sistemas de pesca, os conceitos êmicos de pescados,
pescarias e pescadores. Nesse sentido, as transcrições das falas dos mestres pescadores de
cada localidade estudada, entrecruzarão-se na definição dos três conceitos êmicos destacados,
que alimentam também noção êmica de sistema de pesca, comunicando-se permamentemente,
pois isso é um elemento comum a essas regiões.

3. 1 - A Natureza:
Não é possível existir sistemas de pesca sem que exista a natureza, especificamente os
pescados que são crustáceos, peixes, moluscos. Eles “moram no mar, nos mangues, nos rios”
(Edinaldo, Suape-PE) e significam a própria natureza, seja orgânica (que se reproduz
biologicamente, como os pescados) ou inorgânica (que não se reproduz biologicamente, a
exemplo do ar, das águas), onde a primeira delas recebe maior ênfase de acordo com os
relatos.
Cada peixe, molusco e crustáceo - os pescados, portanto - possuem seus ritmos e
ciclos de existência, lugares em que se abrigam, buscam alimentos e/ou procriam, “funduram
em que vivem, fogem e migram” (Seu Lula, de Carne da Vaca), ou seja, “até mesmo os peixes
são diferentes um do outro, por terem seus costumes únicos que são só deles” (Galego, Carne
da Vaca), já que “uns vivem no oceano, nas pedras de lá, a cavala, e outros aqui pertinho da
beirada, como é a salema” (seu Babau, de São José).
Então, cada um deles, percorre mais determinados trechos, “anda em determinados
lugares, profundidades” (Marco, de Suape), freqüenta áreas próprias, ambientes peculiares,
como é o caso da tainha, pois ela “gosta muito do rio Megaó e de ficar pertinho da praia” (seu
Armando, Carne da Vaca) ou da “lagosta, que gosta de ficar nas partes dos cascalhos” (José
Edson, de Suape).
A escolha dos mestres de pesca por determinado pescado apóia-se em alguns
requisitos, seja por conta do período em que migram e as condições ecológicas aí contidas,
seja devido ao valor monetário, seja para responder a finalidades de alimentação da família
(autoconsumo). Entretanto, o que marca a pesca artesanal é o fato dessas questões
combinaram-se. “Muitas das vezes, o pescador pode atuar num sistema de pesca numa época
que da lagosta, depois, quando isso passa, ele volta pros peixes mesmo” (Rinaldo, de Suape).
Os ciclos de surgimento e desaparecimento dos pescados definem-se por dinâmicas
ecológicas, biológicas e/ou por intervenções humanas na natureza, como certa vez narrou o
pescador Dorgival (Carne da Vaca): “tem a época do caranguejo, da tainha, do camarão, mas
essas épocas tão mudando por conta das coisas que as usinas jogam na água, que as fazendas

15
de camarão fazem, detonando tudo”. Aliás, impacto esse, do empreendimento aquícola, que
“foi financiado por um banco do governo federal” (Seu Edimburgo, Carne da Vaca). Assim,
os pescados dependem de condições ecológicas favoráveis; e se isso não acontece, algumas
formas de pescaria são afetadas, podendo desaparecer. Antes de qualquer coisa, “pescador não
vive sem ter as noções das coisas do rio e mar, e sem a natureza funcionar bem” (Luís de
França, São José). Aliás, “os pescados tão na base do sistema de pesca” (Ciço, Carne de Vaca)
e quem sabe “pegá-los, encontrá-los são os mestres” (Milton, Suape).
E essa base “pode ser afetada tragicamente como foi o caso do petróleo, que impactou
mar, mangue, coral” (Seu Severino, São José da Coroa Grande) e “isso prejudicou todos os
sistemas de pesca” (Seu Mário, Carne de Vaca).

3. 2 - O trabalho no barco:
As pescarias são os meios pelos quais os mestres, com suas tripulações, capturam os
pescados, via seus apetrechos de pesca (linhas, espinheis, covos, jererês, redes, dentre outros),
uso com maestria dos barcos (botes e caícos) e coordenação dos homens nas águas. Elas
representam, então, questões técnicas e tecnológicas, que se somam à baixa divisão e
organização social do trabalho, saberes e fazeres da pesca artesanal, que explicitam “aqueles
conhecimentos dos antigos” (Seu Olival, Carne da Vaca). Certos peixes, moluscos e
crustáceos portam especificidades, “eles têm suas manhas” (José, Suape) e, assim, precisam
ser “apanhado de tal jeito e não daquele. Já aquele pescado tem que ser desse e não de outro
modo. Por isso, cada qual exige uma pescaria própria” (Seu Lula, Carne da Vaca), a depender
da profundidade, espécie, lugar, época, “interesse econômico do mercado” (Seu Severino, São
José).
Há, assim, determinadas pescarias exclusivas para certos pescados (covos para a
lagosta e alguns tipos de peixes – dentão, etc. - e linhas para dourado). Além disso, algumas
pescarias exigem investimentos monetários maiores (como espinhel) ou pelo fato das
embarcações passarem mais tempo no mar, no intuito de capturar lagostas. “As pescarias de
mar alto têm que ter investimento mais pesado, por conta dos barcos maiores e que passam
muitos dias nas águas” (Tato, Carne de Vaca). Ademais, no caso desse tipo de frota, alguns
barcos foram adquiros, “comprados com empréstimos do Banco do Nordeste” (Paulo, São
José).
No entender de Seu Benedito (São José), “o pescador é a sua pescaria, porque é ela
que é a marca do cara que é pescador, sua definição”. Dessa maneira, falar de pescador é falar
de seu trabalho, tendo em vista que é ela a própria “definição” do ser pescador artesanal e das

16
maneiras que ele concretiza para apropriar-se, produzir uma gestão sobre a natureza, “de lidar
com as águas” (Márcio, Suape).
Pescarias que são, também, histórias, já que “elas mudaram com a chegada das
linhas de náilon, dos barcos de motor” (Edim, São José). Mudanças que aconteceram devido
ao “aumento da cidade, por conta da população nova que chegou, e as coisas urbanas, suas
estradas que vão até Recife, afetaram nossas pescarias também, pois teve mais gente querendo
peixe” (Seu Ediburgo). Assim, a pescaria é um processo síntese entre determinada forma de
ser pescador e o tipo de pescado que objetiva capturar, para fins exclusivamente mercantis ou
não, que se explicita nas condições socioeconômicas de organização do trabalho,
conhecimentos e usos de determinados nichos ecológicos. Se “o pescado é a base”, “a
pescaria é o meio de campo do sistema da pesca” (Seu Lula, Carne de Vaca), que “tem o
mestre no comando” (Edim, São José).

3. 3 - Os Homens das águas:


Os pescadores são profissionais que fazem da “pesca seus meios de vida”
(Alexandre, São José), “estão no topo do sistema de pesca” (Conrado, Suape) por os que
permitem ele existir, tendo “um jeito de ser que é somente deles” (João Paulo, Carne de Vaca),
um modo de vida marcado por peculiaridades socioculturais diante de outras profissões. O
pescador é o “cara que sabe usar e desenvolver as pescarias” (seu Mário, Carne da Vaca), por
conhecer e deter um ofício, que é aprendido junto aos seus entes queridos, porque “a pesca é
um profissão de família” (Paulo, São José), uma atividade tradicional.
O pescador é, acima de tudo, um trabalhador singular, cujo “foco é ir lá e pescar o
peixe, de entender das coisas do mar. Ele trabalha numa coisa que é específica no bairro, aqui
no município de Goiana, para vender pros outros e se alimentar também, e aí sobreviver”
(Dorgival, Carne da Vaca). Por isso, “um dia um cara aí, que trabalhou na Refinaria [Abreu e
Lima] me falou: 'oh, pescador é um bicho diferente mesmo, porque quando eu acordo vocês
dormem e quando eu tô dormindo vocês tão na labuta'” (Gomes, Suape).
Ele também é movimento, visto que é fruto das transformações históricas vividas
pela sociedade, local e globalmente, que os impactam “devido ao comércio que cresceu e as
pistas da BR que chegaram” (Xaba, Carne de Vaca), que foram “feitas pelo Estado pra
facilitar pro turismo, as pessoas de veraneio” (Marco, Suape). De fato, “só se fala de pesca
por existir a gente, o pescador e as nossas pescarias, e daí saem os alimentos pra gente e pros
outros que compram de nós” (Valter, São José).
Sem dúvida, o pescador está inserido numa trama social, onde cumpre determinado

17
papel e função na escala socioeconômica, enquanto produtor primário. Não há um único
pescador, porque essa não é uma profissão homogênea. Há vários modos de ser, fazer-se
pescador, pois o mesmo é definido pelo tipo de pescaria que faz, de condições materiais que
detém para exercer seu trabalho, “dos pescados que pega” (José Edson, Suape), já que “toda
pescaria tem uma fórmula de ser pescador. Olha, um pescador de rio não é o mesmo de alto-
mar. Um de caranguejo ou tainha não é o mesmo de lagosta que passa um bocado de dias no
mar” (Seu Izaque, Carne de Vaca).
Ser pescador é lidar com um tipo de pescaria, de situação e condição de classe, que
denuncia, dentre tantos aspectos, a baixa escolaridade. Então, pescador “é um cara que tem
estudo fraquinho, porque a maioria tem primário em São José” (Alexandre), fato que se
estende a Carne de Vaca como fica evidente na fala de Seu Olival (Carne da Vaca): “pescador
não teve muita chance e assim, né, tem pouca instrução, com muitos sabendo apenas escrever
o nome”. Em decorrência disso, “o que a gente sabe aprendemos com a vida, com as pescas,
com a comunidade daqui mesmo” (Seu Lula, Carne da Vaca), cuja transmissão deu-se
oralmente, por meio de um conhecimento prático no ver, ouvir e fazer. No meu “entendimento
pequeno, os pescadores não são iguais, porque não são iguais suas pescarias e também não
são iguais os peixes que pescam. Todos eles atuam no seu sistema de pesca” (Oliveria,
Suape), cabendo ao “mestre, o mais sabido do mar e da pesca, dominar e ensinar esse
sistema” (Tato, Carne da Vaca). Po fim, é oportuno dizer que “cada sistema de pesca tem um
tipo de mestre” (Conrado, Suape).

Considerações Finais
Diante do exposto, pode-se frisar determinados aspectos: (a) embora possuindo
particularidades, ora no mesmo local de pesca e município, ora entre os lugares diferentes
com suas pescas distintas, o sistema de pesca é algo que os caracteriza como portadores de
uma cultura pesqueira universal; (b) sistemas de pesca revelam culturas marítimas e
ribeirinhas que se apresentam no universo da cultura pesqueira; e é aqui que os sistemas de
pesca ganham sentido e razão de ser e os mestres podem ser compreendidos no que guardam
de particular e geral nos modos de fazer-se pescador artesanal, hoje e ontem; e (c) essas
práticas vão ser impactadas por várias ações governamentais ou empresarias, seja de maior
monta, seja de menor tamanho, bem como pelas dinâmicas socioeconômicas presentes na
própria sociedade de modo geral ou tragédias ambientais, como a do vazamento do petróleo.
Contudo, todas interferiram no modo de vida e nos sistemas de pesca.
Assim, pudemos identificar os bloqueios que se abatem sobre a pesca e os mestres

18
pescadores da praia de Suape, em decorrências das profundas e graves transformações
ocorridas no ambiente marinho e ribeirinho (Porto, Refinaria, Resort); analisamos a
complexidade da pesca artesanal em São José da Coroa Grande, com seus inúmeros sistemas
de pesca, ora mais vinculado aos mercados nacionais e internacionais, ora aqueles ligados aos
mercados regionais e locais, com suas tensões e conformações; e compreendemos a vida, as
pescarias e a reprodução da cultura pesqueira do mar-de-dentro com seus caícos e suas
interações com a economia local e simbologias, que dialogam com o saber-fazer dos mestres
sobre os recursos marinhos, os territórios estuarinos e fluviais em Carne de Vaca. Todos
impactados diretamente pelo derramamento de petróleo, que atingiu, com grandes manchas, o
litoral pernambucano a partir de outubro de 2019 (Araújo; Ramalho; Melo, 2020).

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