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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ

JOÃO VITOR RODRIGUES DE ARAÚJO

PERSPECTIVA ECONÔMICA DE MINSKY E A


INTERPRETAÇÃO DA CRISE IMOBILIARIA DE 2008 POR
ESSA ÓTICA
Trabalho III da disciplina Teoria Macroeconômica III

Teresina – PI
Janeiro/2023
JOÃO VITOR RODRIGUES DE ARAÚJO

Trabalho III da disciplina Teoria


Macroeconômica III
Universidade Federal do Piauí

Prof. Guilherme Nunes Pires

Teresina – PI
Julho/2022
PERSPECTIVA ECONÔMICA DE MINSKY E A INTERPRETAÇÃO DA CRISE
IMOBILIARIA DE 2008 POR ESSA ÓTICA

A hipótese de instabilidades apresentada por Minsky pode ser tratada como


uma extensão e aprofundamento da Teoria Geral de Keynes consideradas pelo
autor como fundamentais para entender a economia moderna. Seu enfoque está nas
questões financeiras, na instabilidade do desenvolvimento capitalista e em como
essas duas forças interagem entre si. O autor reforça a ideia de que a relação
investimento-poupança pode dar origem a ciclos econômicos. Para Keynes, os
agentes econômicos tendem a diminuir sua liquidez em períodos de crescimento
econômico e alta no preço dos ativos, onde estes buscam recuperá-la caso essas
variáveis revertam. Minsky busca se aprofundar nessa visão.
Segundo Minsky, as relações de balanço econômico-financeiro e contábil se
alteram ao longo dos ciclos econômicos. No início, os balanços são sólidos à medida
os preços dos ativos são estabelecidos de maneira conservadora, sendo as dívidas
assumidas pequenas em relação a esses ativos. Todavia, na fase de crescimento
econômico, elevam-se os preços dos ativos, crescendo o peso da dívida. A
desaceleração econômica ocorre, portanto, quando os níveis de endividamento
superam os preços desses ativos. Por último, caem os preços dos ativos
desencadeando uma deflação de dívidas.
A economia capitalista acompanha um sistema financeiro sofisticado e
complexo, onde, seu desenvolvimento ocorre por meio de trocas de dinheiro
presente por dinheiro futuro. Esta economia se caracteriza como inerentemente
instável, com crescente endividamento em função de sua necessidade de
financiamento do investimento em um ambiente de crédito barato, gerando, de
tempos em tempos, inflações e deflações de dívidas. Desse modo, todos os ciclos
são gerados endogenamente e são transitórios.
Essa hipótese de instabilidade tem seu fundamento em dois conjuntos de
preços, o preço da oferta e o preço da demanda por ativos de capital. O preço de
oferta é dependente das taxas de salário em dinheiro, da produtividade do trabalho
com ativos de capital existentes, do markup aplicado sobre os custos e do custo de
financiar a produção. Já o preço de demanda de um ativo de capital será
determinado pela relação de oferta e demanda em seu mercado, onde a oferta é
estabelecida no período corrente e a demanda por esse ativo reflete a renda
esperada por esse ativo ao longo do tempo. Desse modo, a oferta fixa de capital em
um determinado momento, representará um preço, sendo este determinado pela
demanda. Esse é dependente da liquidez do ativo e de sua quase renda esperada.
É ainda uma função positiva da quantidade de moeda em circulação. Caso os níveis
de preço da demanda sejam altos em relação aos níveis de preço de oferta, as
condições são favoráveis ao investimento. Caos contrário, os investidores são
levados a adquirir bens já existentes no mercado. Todavia, a demanda sozinha não
é capaz de determinar a trajetória de investimento, isso porque a demanda efetiva
necessita de financiamento. Desse modo, o planejamento de um projeto de
investimento envolve duas decisões: a primeira está relacionada a renda esperada e
ao custo do investimento; já a segunda se relaciona ao financiamento do ativo.
Quanto aos financiamentos, existem três fontes de recursos: os recursos
líquidos não utilizados em operações correntes; os rendimentos esperados durante o
período de investimentos, chamados de fundos internos; e, por últimos, pelo capital
de terceiros chamados de fundos externos. Os fundos internos podem necessitar de
financiamento dos fundos externos. Desse modo, a disponibilidade dos recursos
externos se torna fundamental à decisão de investir. Ainda, ao adquirir capital
externo, é necessário que se tenha um fluxo mínimo de dinheiro que satisfaça essas
obrigações de juros das dívidas. Assim, a conceção de empréstimos é determinada
pela capacidade de pagamento da dívida dos agentes tomadores de empréstimos,
chamada de margem de segurança. Essas margens estão determinadas nas fontes
primárias ou secundárias do agente tomador de empréstimos. As fontes secundárias
estão constituídas no dinheiro disponível da conceção de empréstimos, venda de
ativos e a tomada de empréstimos no mercado financeiro.
Para Minsky, a economia pode ser afetada por dois tipos de risco que podem
influenciar o preço de oferta e o preço de demanda dos ativos. O primeiro está
relacionado ao risco do devedor, este se relacionado às incertezas do empresário
em realizar os rendimentos esperados e, ainda, quanto maior os níveis de
investimentos, há um aumento na concentração de ativos de capital físico, podendo
estes elevarem o risco do portifólio à medida que reduz o grau de diversificação. O
segundo está relacionado ao risco do credor, sendo este relacionado ao risco moral
ou desapontamento de expectativas. Quanto maior o risco do devedor, maior o
preço de demanda dos ativos de capital. Isso porque o aumento na parcela de
investimentos implica em uma redução das margens de segurança, e, por
conseguinte, o preço de demanda. Todavia, um aumento do risco de credo resulta
em um aumento do preço de oferta. Dado que os investimentos dependem da
condição de que o preço de demanda deve ser igual ou superior aos preços de
oferta, sendo o risco do credor e devedor como determinantes ao avanço nos níveis
de investimentos.
A hipótese da instabilidade financeira é uma teoria dos impactos da dívida
sobre a conduta do sistema, aderindo a ela a forma como essa dívida é validada.
Assim, a concretização dos lucros esperados é determinada pelo investimento. Para
o autor, existem três tipos de financiamento de posições que podem ser identificadas
na estrutura financeira do sistema: hedge, especulativa e Ponzi. Uma posição Hedge
representa aquela que a renda esperada é superior aos compromissos financeiros
decorrentes de todos os períodos. Já para uma unidade econômica especulativa, os
compromissos financeiros acabam sendo maiores do que a renda esperada em
determinados períodos. Em especial estas apresentam uma maior vulnerabilidade
em casos de aumentos das taxas de juros. Para Minsky, a mistura desses três tipos
de finanças representam o maior determinante de sua estabilidade. A economia
tende a passar por períodos de estabilidade e instabilidade e, em períodos de
prosperidade, esse sistema tende a passa da estabilidade para instabilidade.
Dada a hipótese de instabilidade financeira, o período de desenvolvimento
econômico está acompanhado de uma ausência de dificuldades financeiras e
euforia, naturalmente, ocorre um aumento do financiamento de curto prazo de
posições de longo prazo torna-se um caminho normal. Para Minsky, durante esses
períodos de euforia e boom econômicos, os níveis de risco estimados para credores
e devedores acabam sendo extremamente baixos e artificiais, alinhando as
expectativas dos tomadores e dos concedentes de empréstimos. A extensão desse
prazo se perdura conforme a expectativas das firmas investidoras, da disposição dos
bancos em concederem empréstimos e dos acionistas em manterem suas posições
alavancadas.
O aumento dos níveis de investimentos geram maiores lucros que, por
conseguinte, alteram a relação financiamento interno e externo. Os banqueiros, ao
notarem o maior sucesso dos empreendimentos e um ambiente aparentemente mais
tranquilos, tendem a aceitarem níveis maiores de endividamento. Ainda, durante
esse período, para sustentar essa tendência, os bancos criam novas práticas
financeiras e novas instituições. Estas são responsáveis por sustentar os níveis de
investimentos e preços dos ativos financeiros.
Para Minsky, dado a posição assumida pelos bancos, estes se tornam
responsáveis por assumir um papel essencial na desestabilização econômica.
Nessa mesma linha de pensamento, outras instituições financeiras assumem o
mesmo papel de desestabilização da economia. Estimuladas ao aumento do
endividamento, as unidades produtivas e financeiras tendem a elevar seus níveis de
obrigações acima dos níveis de suas receitas. Desse modo, a instabilidade de um
sistema predominantemente especulativo ou Ponzi está relacionada ao impacto da
taxa de juros, que tende a se elevar em períodos de boom. Esse fenômeno tende a
diminuir mais ainda os níveis de lucros e a dificultar o pagamento de dívidas
acumulados anteriormente. Desse modo, o período de boom é caracterizado por
uma redução da estabilidade financeiras, tornando a economia financeiramente frágil
e suscetível a crises. Isso reflete em uma redução da estabilidade financeiras,
decorrente da formação da estrutura de dívida, que não pode ser liquidada pela
renda das empresas.
A crise leva a uma indisposição do financiamento, que, por conseguinte,
diminui as taxas de investimentos. Por consequência, os lucros são afetados e se
torna mais difícil o pagamento do compromisso de dívidas. Esse default resulta em
uma redução da demanda agregada, redução dos preços, aumento do valor real dos
compromissos de dívida, acelerando a queda dos preços dos ativos. A economia
que emerge de uma recessão tende a apresentar maior robustez, sendo esse
fenômeno natural do funcionamento da economia. Desse modo, a economia para
Minsky tende a passar por períodos de tranquilidade, rompimento dessa tendência
por boom de investimentos, e, por conseguinte, períodos inflacionários, crises
monetárias e financeiras e deflações de dívidas. O ponto de inflexão surge com o
boom especulativo que leva esta economia ao pânico, deflações de dívidas,
depressões profundas e, por último, recuperação.
Nesse sentido, para Minsky, o Big Government, poderia intervir refinanciando
as dívidas e aumentando os níveis de lucro das empresas através de déficit fiscal,
evitando depressões. Outro agente intervencionista nesse sentido, para o autor, é o
Big Bank, que deve agir por meio de empréstimos para diminuir a fragilidade
financeira das unidades. Para ele, a atuação, tanto do Big Bank como do
Government Bak, resultam em fenômenos inflacionários, possibilitando às firmas a
cumprirem com suas obrigações que não seriam possíveis de serem quitados a
preços normais.
Em especial, durante o período de crescimento econômico acelerado nos
EUA (2002-2006), os riscos de credores e devedores do mercado imobiliário foram
subestimados, levando à canalização de recursos do mercado de crédito bancário
para a compra de imóveis com alta valorização em um curto período de tempo. Isso
aumentou a concentração de riscos na economia, especialmente no setor imobiliário
com empréstimos altamente alavancados. O aumento da taxa de juros básica da
economia gerou uma situação financeira especulativa e Ponzi, levando a um
aumento da taxa de inadimplência e uma queda no preço dos imóveis. Isso teve um
impacto negativo na economia, reduzindo o nível de consumo e investimento e
diminuindo a expectativa de crescimento econômico. O default sobre o pagamento
da dívida promoveu um declínio da demanda agregada, gerando menores
contratações no mercado de trabalho.

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