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Os 5 passos definitivos para configurar qualquer sistema de vibração

Se você é um técnico, analista ou engenheiro de preditiva /


confiabilidade, talvez já tenha se deparado com este cenário: foi
numa empresa para realizar monitoramento de equipamentos por
vibração e nesta empresa já existia uma base de dados de
monitoramento, com as configurações todas prontas. É aquela
configuração que sempre foi assim, alguém lá no passado fez,
talvez essa pessoa nem está mais ali e de lá pra cá todo mundo utiliza
a mesma configuração.

Então você carrega seu coletor e sai feliz e contente medindo os


equipamentos na área. Quando faz algumas medições, percebe que a
configuração está, no mínimo, estranha!

Já ouvi essa mesma história diversas vezes em empresas grandes e


pequenas, de equipes próprias ou de contratos com terceiros. E a
dúvida que sempre é levantada: Como eu faço para verificar se a
configuração está adequada ou até mesmo para refazê-la?

Por isso escrevi este artigo, colocando os 5 passos definitivos para


configurar qualquer monitor de vibração, seja offline (coletores),
online (monitores cabeados) e até mesmo sistemas wireless,
seguindo regras práticas que funcionam para a maioria dos casos.
Vamos nessa?
1. Defina o problema que você quer encontrar

Vamos começar do começo. Qual é o objetivo da análise? Qual é o


problema que você está buscando?

É importante ter em mente que, para fazer uma boa configuração de


monitoramento de vibração, você precisa conhecer o
equipamento. Conhecer o equipamento significa que você precisa
ter, no mínimo, as informações básicas como:

 Qual é a rotação?

 Qual é o tipo de mancal? (Rolamento x deslizamento)

 Qual é o tipo de acoplamento?

 Qual é o tipo de equipamento? (motor, bomba, ventilador,


redutor, etc)
Estas respostas parecem simples, mas são muito poderosas. A partir
delas, você vai poder entender quais são os tipos de
problemas que podem acontecer no equipamento. Alguns exemplos
mais comuns são:

 Desbalanceamento

 Desalinhamento

 Folgas

 Problemas em rolamentos (pistas, esferas, gaiolas) ou


lubrificação

 Problemas em mancais de deslizamento (oil whirl, oil whip, etc)

 Problemas em acoplamentos e correias

 Problemas em engrenamentos

Então, como resultado do primeiro passo, você deve ter a rotação e


a lista de possíveis defeitos e suas respectivas frequências.
Vamos ao passo 2.
2) Calcule a Frequência máxima (Fmax) do espectro

Chegou a hora de fazer o primeiro cálculo. Calma, não é complicado.


Na verdade é bem simples, mas você vai precisar do resultado do
passo anterior.

Como sempre, gosto muito de ir no conceito, sem complicar. A


frequência máxima do espectro, como seu próprio nome já diz, é a
maior frequência exibida pelo espectro. E por que você precisa dela?

Imagine que o espectro é uma foto e que você precisa encontrar algo.
Vamos usar o exemplo da imagem abaixo. Quantas pessoas você vê
na imagem abaixo?
Existem duas pessoas na foto, certo?

Mas será a foto representa todo o local da foto? Será que existiam
somente duas pessoas no local, ou a foto não alcançou todas as
pessoas?

Na realidade, ali existiam 4 pessoas, mas a primeira foto não mostra


as duas últimas pessoas porque elas estavam além do limite da
foto.

O mesmo acontece com a Frequência máxima — Fmax. A


determinação deste parâmetro precisa levar em consideração tudo o
que você quer ver no espectro. Em outras palavras, ela limita até
onde vai o espectro e os defeitos precisam estar dentro deste limite
(as pessoas precisam aparecer na foto).

A lista de defeitos e suas respectivas frequências, do passo 1, vai


ajudar nesta tarefa. Porém, a Fmax não deve ser igual a maior
frequência de defeito. Por que não? Porque existem defeitos em
equipamentos rotativos que não são movimentos
perfeitamente circulares ou nada circulares, e por isso geram
harmônicas (veja este artigo sobre harmônicas).

Na verdade, defeitos de impacto em estágio inicial são melhores


visualizados em altas frequências, justamente porque são nada
senoidais — nada circulares, portanto as harmônicas são maiores do
que as frequências fundamentais. Então, como regra prática
podemos utilizar um fator de multiplicação para determinar a Fmax
e poder ver as harmônicas dos defeitos:

Fmax = Nº Harmônicas x Maior Freq. Defeito

Se você não sabe todos os detalhes de frequências do seu


equipamento, esta regra prática pode ajudar:

 Se o equipamento tem mancal de rolamento e não tem


engrenamentos, utilize Fmax = 4 x BPFI (freq. da pista interna,
em Hz)
 Se o equipamento tem engrenamento, utilize Fmax = 3,25 x
Freq. eng. (freq. do engrenamento em Hz)

 Mas, se somos nós quem determinamos a frequência máxima e


podemos aumentá-la para pegar mais harmônicas, por que não
fazer?

 Porque aumentar a frequência máxima e não aumentar


o número de linhas, diminui a resolução do espectro. Vamos
ao passo 3!

 3) Calcule o número de linhas do espectro

 Você já tem a rotação, lista de defeitos e frequências e


frequência máxima. Chegou a hora de calcular o número de
linhas do espectro, que nos dará a resolução.

 Para falar de resolução, vamos trazer novamente a comparação


com nossa foto. A resolução da foto digital é dada pelo número
de pixels — pontos de informação de cor, dentro de um
determinado tamanho de imagem. Hoje em dia, é comum
encontrarmos celulares que tiram fotos em 12 Mega Pixels, ou
seja, registra 12 milhões de pontos de cor.

 Mas nem sempre foi assim! Nos primórdios das câmeras


digitais em 1981 a câmera Mavica da Sony registrava
imagens de 570 x 490 pixels, gerando 279.300
pixels — pontos — por imagem. Apenas 2% da
quantidade que registramos hoje com um celular comum.

 O mesmo aconteceu com os coletores. Os mais antigos


registravam espectros de 400 linhas ou até menos. Hoje, é
comum encontrarmos coletores com 12.800 linhas ou até mais.
As linhas de espectro no coletor é um paralelo dos pixels nas
câmeras digitais.

 Certo! E como eu calculo o número de linhas? Vamos seguir 3


simples passos:

 Passo 1 — Determinar o tempo de forma de onda

 Na análise de vibração, é importante fazer aparecer os defeitos,


como já vimos. Para isso, existem referências bibliográficas que
recomendam que o sensor de vibração capte a vibração durante
10 a 20 revoluções do equipamento. Usar 20 revoluções é
suficiente até para defeitos subharmônicos como gaiolas de
rolamento serem capturados pelo sensor, pois ele deverá
aparecer umas 4 ou 5 vezes na nossa forma de onda.
 Então, o tempo da nossa forma de onda deverá ser:

 T.F.O. = 20 x P.E.

 T.F.O. = Tempo da Forma de Onda

 P.R.E. = Período de rotação do equipamento = 1 / rotação


[Hz]

 Vamos aplicar num exemplo para ficar mais


claro. Supondo um equipamento de 1.800 RPM, sua rotação
em Hz = 1800 /60 = 30 Hz. Seu P.R.E. será 1/30 =
0,033333333 segundos. Quer dizer que este equipamento leva
0,033333333s para dar uma revolução.

 Então, para 20 revoluções, teremos:

 T.F.O. = 20 x 0,033333333 = 0,66667 segundos.

 Passo 2 — Calcular a resolução

 A resolução do espectro é o inverso do tempo da forma de


onda. Portanto:
 Resolução = 1 / T.F.O.

 No nosso caso do equipamento de 1.800 RPM, a resolução será


de:

 Resolução = 1 / 0,666667 = 1,5 Hz / linha

 Passo 3 — Calcular ao número de linhas

 Este é bem direto. O conceito de resolução é:

 Resolução = Fmax / # linhas

 onde # linhas é o número de linhas do espectro.

 Logo, o número de linhas é dado por:

 #linhas = Fmax / resolução

 Supondo que nossa Fmax seja de 2.000 Hz, nosso número de


linhas será:

 #linhas = 2.000 / 1,5 = 1333,33 linhas.

 Geralmente, os coletores possuem opções fixas como 800 e


1600 linhas, para facilitar o processamento. Então, neste
exemplo, escolheríamos 1.600 linhas.
 4) A resolução ficou boa? Problemas próximos e True
Zoom

 Para saber se a resolução ficou boa, é importante avaliar


principalmente se existem dois ou mais defeitos que possuem
frequências muito próximas.

 Vamos voltar ao nosso exemplo da foto?

 Na foto de alta resolução que 5211 x 3717 pixels, é possível ver


todos os detalhes das pessoas na foto. Esta foto tem 5,9 MB.
Se baixarmos a resolução para 100 x 71 pixels, veremos que as
duas pessoas mais à direita da foto se confundem com uma
pessoa apenas, não é possível ver os detalhes. O tamanho cai
para apenas 14kB.
Se colocamos uma resolução de 300 x 214 pixels, a imagem fica
com 61kB, e ainda é possível ver os detalhes das duas pessoas
na direita.

Podemos dizer que esta é uma boa resolução, pois retrata os


detalhes que precisamos ver e tem um tamanho razoavelmente
pequeno.
Na vibração….

O exemplo clássico é num caso de um motor elétrico de rotação


3.600 RPM (60 Hz), e aparece um pico no espectro em 120 Hz. Esta
frequência de 120 Hz pode ser indicativo de defeitos elétricos no
motor (2x Frequência da rede). Mas também pode indicar
desalinhamento (2x Rotação do motor). E agora?

Na realidade, falando em motores de indução AC assíncronos, a


rotação de trabalho não é exatamente 3.600 RPM devido
ao escorregamento. Não é nosso objetivo entender este fenômeno
aqui, mas geralmente esses motores trabalham na faixa de 3560 a
3580 RPM, dependendo do modelo e da carga. Supondo uma rotação
de 3560 RPM (59,33 Hz), o desalinhamento seria 2x 59,33 Hz =
118,66 Hz.

Se você configurou sua coleta com resolução suficiente para


diferenciar picos de 118,66 Hz de 120 Hz, você irá conseguir
diferenciar os defeitos no espectro, assim como pudemos identificar
as duas pessoas na foto.
Porém, se a sua resolução não é suficiente, talvez você veja um pico
entre 118,66 Hz e 120 Hz e não saberá se é problema elétrico ou
desalinhamento.

Neste caso:

 você pode aumentar o número de linhas para melhorar a


resolução e poder diferenciar estas frequências

 você pode utilizar, se disponível, um recurso que alguns coletores


possuem que chama True Zoom. É uma coleta especial que
determina um range pequeno de frequência onde você pode
colocar várias linhas e ver uma parte do espectro com uma
resolução muito alta

Ao calcular a resolução, pense que quanto maior a resolução:

 maior o espaço ocupado na memória do coletorou no disco do PC


/ Servidor para armazenar o espectro

 maior será o tempo de coleta (lembre-se que quanto mais linhas


-> mais revoluções capturadas)
 em sistemas online, maior o tráfego na rede

 em sistemas wireless, maior o tempo de envio, portanto maior


consumo de bateria

5) Será que está otimizado?

Este passo depende muito do tipo de coleta está sendo feita.


Analisando coleta por rota (offline), pode ocorrer que o analista /
engenheiro deve percorrer centenas de pontos no mesmo dia ou rota.
Se o espectro for de alta resolução para todos os pontos, o tempo de
coleta será consideravelmente maior, portanto talvez não seja
possível executar toda a rota.

Pense sempre num equilíbrio entre a qualidade da medição e


o custo. Entenda como custo todo o processo, desde tempo de
coleta, espaço em disco, uso de baterias, tráfego na rede, etc.

Lembre-se que você deve pensar em trazer valor ao negócio de sua


empresa, e isso se dá com operações eficientes. Não mate uma
formiga com uma bazuca!

6) (Futuro) E como fica o Envelope / Demodulação / etc?

Existem técnicas chamadas de evelope, demodulação e seus


respectivos nomes registrados por empresas fabricantes de
equipamentos de vibração. Neste caso, talvez seja possível até utilizar
frequências máximas um pouco menores e deixar o processo de
demodulação cuidar das altas frequências. Mas isso é tema para
outro artigo (em breve!).

Resumo dos cálculos envolvidos nos 5 passos:

 Liste as rotações e possíveis defeitos do seu equipamento

 Calcule a Fmax= 4 x BPFI (para rolamentos) ou Fmax = 3,25 x


Freq. Eng. (para engrenamentos).

 Calcule o tempo da forma de onda como T.F.O. = 20 x


(1/rotação[em Hz])

 Calcule a resolução como Res = 1 / T.F.O.

 Calcule o número de linhas como #linhas = Fmax / Res

 Verifique se ficou bom, principalmente para defeitos próximos


(frequências próximas no espectro).

Escrevi este artigo para servir como um guia principalmente aos


iniciantes. Se você tem alguma outra regra prática ou gostaria de
adicionar algum comentário, este post está no meu LinkedIn. Entra
lá e fique à vontade para colocar sua opinião, comentários, críticas,
sugestões, etc.

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