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A PRÁTICA DO AMOR DE DEUS

RESUMO DAS VIRTUDES DECLARADAS NA OBRA QUE DEVEM SER


PRATICADAS POR QUEM AMA JESUS CRISTO (pg. 203-209)
-SANTO AFONSO MARIA DE LIGÓRIO

É preciso sofrer com paciência todas as tribulações desta vida,


as enfermidades, as dores, a pobreza, a perda dos bens, a morte
dos parentes, as afrontas, as perseguições e todas as
contrariedades. E entendamos que os trabalhos desta vida são
sinais de que Deus nos ama e nos quer salvos na outra. Além disso,
entendamos que agrada mais a Deus as mortificações
involuntárias que ele nos manda, do que as voluntárias que
tomamos por nós mesmos.
Nas enfermidades procuremos nos resignar totalmente à
vontade de Deus, o que agrada a Deus mais do que qualquer
outra devoção. Se no momento não podemos aplicar a mente a
meditar, olhemos para o crucifixo, oferecendo-lhe os nossos
sofrimentos e unindo-os aos que ele padeceu por n´ ós sobre a cruz.
E quando se aproximar da morte, aceitemo-la com paz e com
espírito de sacrifício, isto é, com vontade de querer morrer para
agradar a Jesus Cristo: esta vontade deu todo o mérito à morte dos
mártires. Então é preciso dizer: Senhor, eis-me aqui, quero tudo
que vós quiserdes, quero padecer quanto quiserdes, quero morrer
quando quiserdes. Não busquemos viver a fim de fazer penitência
dos pecados; o aceitar a morte com plena resignação vale mais
do que toda penitência.
Ademais, é preciso conforma-nos ao querer divino ao sofrer a
pobreza e todos os incômodos que ela trás consigo, o frio, a
fome, as fadigas, as desonras e as zombarias.
Resignemo-nos também na perda dos bens, na perda dos parentes
e dos amigos que poderiam fazer-nos bem enquanto vivos.
Acostumemo-nos a responder em toda contrariedade: Assim
Deus quis, assim eu quero. E na morte de familiares, em vez de
perder o tempo a chorar sem proveito, empreguemo-lo a rezar
pelas suas almas, oferecendo a Jesus Cristo a pena que sentimos ao
tê-los perdido.
A PRÁTICA DO AMOR DE DEUS
RESUMO DAS VIRTUDES DECLARADAS NA OBRA QUE DEVEM SER
PRATICADAS POR QUEM AMA JESUS CRISTO (pg. 203-209)
-SANTO AFONSO MARIA DE LIGÓRIO

No mais, esforcemo-nos a sofrer com paciência e paz os


desprezos e as afrontas. A alguém que nos fala com injúrias,
respondamos com palavras doces; mas quando nos sentirmos
perturbados, então é melhor sofrer e calar, a fim de que a mente
se tranquilize; e procuremos não nos lamentar com outros pelas
afrontas recebidas, oferecendo-a em silêncio a Jesus cristo que
tanto padeceu por nós.
Usar de doçura com todos, superiores e inferiores, nobres e
plebeus, parentes e estranhos, contudo mais especialmente com
os pobres e enfermos, e mais especialmente com aqueles que
nos olham com maus olhos.
Ao repreender os defeitos alheios, serve mais a doçura do que
todos os outros meios e razões; por isso guardemo-nos de fazer a
correção quando estivermos irados, porque a repreensão sempre
sairá amarga, ou pelas palavras ou pelo modo. Guardemo-nos
ainda de corrigir o delinquente quando ele esta irado, porque aí a
correção o deixará mais áspero em vez de fazê-lo emendar-se.
Não invejar os grandes do mundo em suas riquezas, honras,
dignidade e aplausos que recebem dos homens, mas invejar
aqueles que mais amam a Jesus Cristo, que certamente vivem
mais contentes que os grandes reis da terra; e agradecer ao Senhor
pela luz com que nos faz conhecer a vaidade de todos esses bens
mundanos, pelos quais tantos miseráveis se perdem.
Em todas as nossas ações e pensamentos não buscar a própria
satisfação, mas somente o agrado de Deus; e por isso não nos
perturbarmos quando não tiver êxito algum designo nosso; e
quando tiver, não buscar aplausos e agradecimentos dos homens;
e se somos objeto de murmuração, não dar importância,
consolando-nos por termos agido para agradar a Deus e não aos
homens.
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Os principais meios para a perfeição são: em primeiro lugar


fugir de todo pecado deliberado, mesmo leve, mas de
desgraçadamente cometermos qualquer falta, guardemo-nos de
irar-nos conosco com impaciência; será preciso nos arrependermos
em paz, e, fazendo um ato de amor a Jesus Cristo, prometendo-lhe
não mais cometê-la, pedindo-lhe ajuda.
Em segundo lugar, desejar chegar à perfeição dos santos e
padecer para agradar a Jesus Cristo; e se não temos o desejo,
rogar a Jesus Cristo que por sua bondade no-lo conceda, porque de
outro modo, se não desejarmos ser santos com verdadeiro desejo,
não daremos jamais um passo para avançar na perfeição.
Em terceiro lugar, ter uma verdadeira resolução de chegar a
perfeição. Quem não tem firme resolução, age com fraqueza, e
nas ocasiões não supera aquilo que lhe repugna; por outro lado,
uma alma resoluta, com a ajuda de Deus que nunca falta, vence
tudo.
Em quarto lugar, fazer duas horas ou pelo menos uma hora de
oração mental todo dia e nunca deixa-la sem verdadeira
necessidade, não importa o tédio, aridez ou agitação em que nos
encontrarmos.
Em quinto lugar, frequentar a comunhão mais vezes durante a
semana, segundo o conselho do diretor, pois sem o consenso
deste não se deve comungar frequentemente. E o mesmo se
entenda para as mortificações externas e jejuns, cilícios, disciplinas
e similares; tais mortificações feitas sem a obediência do diretor
espiritual ou prejudicarão a saúde ou levarão à vanglória. Por isso,
é necessário ter um diretor para regular o todo com a obediência.

Exemplo de oração mental: "Meu Senhor e meu Deus, creio firmemente que
estás aqui, que me vês, que me ouves. Adoro-te com profunda reverência,
peço-te perdão dos meus pecados e graça para fazer com fruto este tempo de
oração. Minha Mãe Imaculada, São José meu pai e senhor, meu anjo da guarda
intercedei por mim."- OPUS DEI
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Em sexto lugar, recorrer continuamente à oração,


recomendando-nos a Jesus Cristo em todas as necessidades que
nos ocorrem; recorrer ainda à intercessão do Anjo da guarda,
dos santos de devoção e de modo singular da divina Mãe, pelas
mãos de quem Deus concede a nós todas as graças. Já se
demonstrou no capítulo VIII que da oração depende todo o nosso
bem. É preciso, de modo especial, pedir a Deus todo dia a
perseverança na sua graça, a qual quem pede obtém, e quem não
pede, não a obtém e se condena; pedir a Jesus Cristo o seu santo
amor e conformidade perfeita com a sua vontade. E é preciso
sempre pedir as graças pelos méritos de Jesus Cristo. É preciso
fazer estas súplicas logo que nos levantarmos pela manhã, e depois
repeti-las na oração metal, na comunhão, na visita ao Santíssimo
Sacramento e à noite no exame de consciência. Principalmente
em tempo de tentação é preciso que peçamos a Deus a ajuda para
resistir, e particularmente se são tentações contra a castidade,
invocando mais vezes em auxílio os Santíssimos Nomes de Jesus e
Maria. Quem reza vence, quem não reza é vencido.
Quanto a humildade, não se envaidecer das riquezas, das honras,
da nobreza, do talento e de todo outro dom natural; e tanto menos
dos dons espirituais, pensando que todos são dons de Deus. Ter-
nos pelos piores de todos e, por causa disso, ficarmos contentes
por ver-nos desprezados pelos outros; e não fazer como fazem
alguns, que dizem ser os piores de todos e depois querem ser
tratados melhores que todos. Daí, aceitar com humildade as
repreensões sem se desculpar, nem mesmo quando formos
culpados injustamente, a não ser que a defesa seja necessária
para evitar o escândalo.
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Guarda-se igualmente de querer aparecer no mundo e buscar


as honras dos homens. Por isso ter diante dos olhos a grande
máxima de São Francisco que tanto somos, quanto somos diante de
Deus. Para um religioso, seria péssimo buscar ofícios de honra e de
superioridade na religião; a honra de um religioso é ser o mais
humildade de todos; e o mais humilde é aquele que abraça com
maior alegria as humilhações.
Desapegar o coração de todas as criaturas. Quem está apegado
a alguma coisa da terra, ainda que mínima, não poderá jamais voar
e unir-se todo com Deus.
Desapegar-nos especialmente do afeto dos parentes. Dizia São
Felipe Néri: Quanto nós pomos de afeto nas criaturas, tiramos de
Deus. E tratando-se da escolha do estado, é preciso que nos
guardemos especialmente dos parentes que buscam mais os seus
interesses do que o nosso proveito. Desapegar-nos dos respeitos
humanos e da vã estima dos homens, e sobretudo desapegar-
nos da própria vontade. É preciso deixar para ganhar o tudo.
Tudo pelo Tudo, escreve Kempis.
Não nos irarmos nunca por qualquer acaso. Se alguma vez nos
vermos surpreendido pela ira, recomendemo-nos logo a Deus e
abstenhamo-nos de agir e falar enquanto não estivermos seguros
de que a ira já foi aplacada. Por isso é conveniente que nas orações
nos preparemos para todas as coisas que podem nos acontecer, a
fim de que então não nos ressintamos a não ser com culpa,
recordando-nos daquilo que confessava São Francisco de Sales de
si mesmo: Nunca me ressenti, que logo não me arrependesse disso.
Toda a santidade consiste em amar a Deus, e todo o amor por
Deus consiste em fazer a sua vontade. Portanto é preciso
resignar-nos sem reserva a tudo aquilo que Deus dispõe para
nós e, por isso, abraçar em paz todos os acontecimentos
prósperos ou adversos como Deus quer, aquele estado que
Deus quer, a saúde como Deus quer. E para isso dirigir todas as
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nossas súplicas com o fim de que Deus nos faça cumprir sua santa
vontade. E para aceitar a divina vontade, depender da obediência
ao superior, para quem é religioso, e do confessor, para quem é
secular; tendo por certo aquilo que dizia São Felipe Néri: Daquilo
que se faz por obediência não há nada a prestar contas a Deus. Assim
se entende desde que não se trate de pecado evidente.
Contra as tentações dois são os remédios: a resignação e a
oração. A resignação, porque ainda que as tentações ao pecado
não venham de Deus, não obstantes Deus as permite para o nosso
bem, mas guardemo-nos de irar-nos, por molestas que sejam as
tentações; resignemo-nos então no querer de Deus que as permite,
e armemo-nos com a oração para superá-las, pois esta, dentre
todas as armas, é a mais forte e mais segura para vencer os
inimigos. Os maus pensamentos não são pecados, por mais
imundos e ímpios que sejam; somente os maus consentimentos
são pecados. Invocando os Santíssimos Nomes de Jesus e de
Maria nunca mais seremos vencidos. Quando a tentação assalta,
é ú́til renovar o propósito de querer antes morrer do que ofender
a Deus; é útil ainda fazer muitas vezes o sinal da cruz e usar a
água benta, e também é muito útil descobrir a tentação ao
confessor; mas o remédio mais necessário é a oração, pedindo a
Jesus e a Maria a ajuda para resistir.
Nas desolações do espírito há dois atos em que devemos
principalmente nos exercitar: 1. Humilhar-nos confessando
merecer tal tratamento; 2. Resignar-nos na vontade de Deus,
abandonando-nos nos braços da divina bondade. Quando Deus
nos consolar, preparemo-nos para as tribulações que comumente
sucedem às consolações. Quando pois nos deixar desolados,
humilhemo-nos e resignemo-nos na divina vontade, e tiraremos
maior proveito da desolação do que da consolação.
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Para viver sempre bem é preciso que imprimamos na mente certas


máximas gerais de vida eterna:

Todas as coisas desta vida acabam, tanto o gozar


como o padecer; e a eternidade não acaba nunca.
Para que servem, na hora da morte,
todas as grandezas deste mundo?
Aquilo que vem de Deus, seja próspero ou adverso,
tudo é bom e é para o nosso bem.
É preciso deixar tudo para ganhar tudo.
Sem Deus nunca poderá haver verdadeira paz.
Somente amar a Deus e salvar a alma é necessário.
Somente o pecado se deve temer.
Perdido Deus, tudo está perdido.
Quem não deseja nada deste mundo
é senhor de todo o mundo.
Quem reza se salva, quem não reza se perde.
Morrer e agradar a Deus.
Custe o que custar, nunca será caro.
A quem já mereceu o inferno, toda pena é leve.
Tudo sofre quem olha para Jesus na cruz.
Aquilo que não se faz por Deus torna-se pena.
Quem só quer a Deus é rico de todo o bem.
Bem-aventurado quem pode dizer de coração:
Meu Jesus, desejo só a vós e nada mais.
Quem ama a Deus, em tudo encontrará prazer;
quem não ama a Deus,
em nada encontrará verdadeiro prazer.

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