Você está na página 1de 6

(PACIÊNCIA E IMPACIÊNCIA) SOBRE A PACIÊNCIA – INTRODUÇÃO

Fonte: Bulletin Hostia (SSPX Great Britain & Ireland) – Tradução: Dominus Est

A Paciência é uma virtude pela qual suportamos, com coragem e constância, uma variedade
de males aos quais estamos continuamente expostos nesta vida mortal, tais como aflições
(exteriores ou interiores), doenças, dores do corpo ou do espírito, perdas, decepções, carências,
afrontas, injúrias e outras cruzes de diversos tipos que, mais ou menos, atingem os homens em
todas as condições da vida e em todas as fases da vida, desde o rei até o mendigo, da nossa
infância até nossa decrépita velhice.

Ora, sob todos esses males, o bom cristão é sustentado pela virtude da paciência, de tal forma
que não se abate, nem se deixa abater, por nenhuma cruz, acidente ou sofrimento: nem mesmo,
nessas ocasiões, é afastado do caminho da virtude ou impedido do amor e do serviço de Deus,
mas continua, com coragem, em seu caminho para o céu carregando sua cruz após seu Redentor,
sem murmurar ou reclamar. Quão amável é esta paciência cristã!

Ela tem, até mesmo, a admirável propriedade de transformar todos os males da vida em
tantos grandes e sólidos bens, tornando-os todos úteis para a eternidade: e, entretanto, os torna
leves e fáceis, e adoça tudo o que neles é amargo, temperando-os com a consideração da Santa
Vontade de Deus.

São Paulo diz: “Ora, nós sabemos que todas as coisas concorrem para o bem daqueles que amam a
Deus, para o bem daqueles que, segundo o seu desígnio, foram chamados.” (Rm 8,28).

PACIÊNCIA E IMPACIÊNCIA – PARTE 1 – O PRIMEIRO DEGRAU DA PACIÊNCIA

Fonte: Bulletin Hostia (SSPX Great Britain & Ireland) – Tradução: Dominus Est

Quando estamos estudando para adquirir uma virtude, geralmente, é melhor planejar
começar pelas ações exteriores e, daí, seguir para as disposições interiores de onde procedem essas
ações.

De acordo com esta regra, devemos começar por reprimir todos os sinais de ressentimento e
raiva quando formos ofendidos, quando alguém nos contrariar ou dificultar algum trabalho em
que estivermos envolvidos.

Se, apesar de tudo isso, pudermos manter um semblante impassível e tranquilo, e evitar
qualquer expressão de sentimento pessoal e aborrecimento, este já é um grande ponto ganho.

Sou capaz de fazer isso? Por que é importante começar com a paciência exterior?

Primeiro, porque ela ajuda enormemente a acalmar os sentimentos dentro de nós, da mesma
forma que podemos nos enfurecer quando nos irritamos externamente.

A paz logo retornará se mantivermos um semblante sereno e um comportamento tranquilo.


Em segundo lugar, porque a serenidade exterior mantida nas adversidades, edifica os outros
e honra a Cristo nosso Senhor, assim como a impaciência e a irritabilidade desedificam e desonram
o nome de cristão.

Devo me lembrar disso quando me sentir tentado a ceder ao meu orgulho ferido e a retaliar
aqueles que me ofenderam.

O próprio Senhor aponta a nossa paciência exterior como a primeira coisa em que devemos
imitá-lo, pois diz: “Aprendei de mim, que sou manso e humilde de coração”.

A mansidão é apenas paciência em sua manifestação exterior. Se sou sincero em meu desejo
de seguir os passos de Cristo, meu Senhor, eis o melhor ponto para começar.

Devo por Sua causa e por Seu amor ser mais gentil com aqueles que me causam dor, mais
tranquilo sob palavras e ações que me ferem ou magoam.

PACIÊNCIA E IMPACIÊNCIA – PARTE 2 – O SEGUNDO DEGRAU DA PACIÊNCIA

Fonte: Bulletin Hostia (SSPX Great Britain & Ireland) – Tradução: Dominus Est

A repressão dos sinais externos de impaciência não tem valor aos olhos de Deus, exceto na
medida em que é um passo para a virtude interior. 

O soldado, o cortesão, o servo, reprime as marcas exteriores de impaciência por medo do


castigo e esperança de recompensa. O cristão deve fazer mais do que isso. Ele deve ter dentro de si
o motivo de imitar a paciência de Jesus Cristo.

A fumaça é sinal de fogo no interior, mas a fumaça não aquecerá a casa se não houver fogo
na lareira. Assim, a paciência exterior não agradará a Deus se não houver também o motivo da
paciência dentro da alma.

Estou me esforçando para obter a virtude interior? Consegui alguma vez reprimir a
impaciência exterior por amor a Cristo?

Quando somos maltratados ou ofendidos, surge em nós um sentimento duplo.

Sentimos dor e mágoa e nisto não há nenhum tipo de pecado. Mas também estamos
conscientes de outro sentimento: um desejo de retaliar, um desejo de ver alguma retribuição recair
sobre o ofensor. Ficamos amargurados com eles, somos tentados a nos entregar a uma
animosidade que às vezes se aproxima até mesmo do ódio. É isso o que deve ser expulso de nossas
almas se quisermos nos assemelhar Àquele que foi manso e humilde de coração.

O que devemos fazer para nos livrarmos dessa amargura? A antipatia pode permanecer
apesar de todos os nossos esforços, isso não podemos evitar.

Mas devemos decidir que não permitiremos nenhum desejo desgradável em relação ao
ofensor.

Em seguida, devemos começar a rezar pedindo calma e um espírito de perdão. Depois


devemos pensar em tudo o que merecemos por nossas ofensas contra Deus e devemos dizer de
coração: “Perdoai as nossas dívidas, assim como nós perdoamos aos nossos devedores”.

Por último, devemos rezar pelo ofensor.


PACIÊNCIA E IMPACIÊNCIA – PARTE 3 – O TERCEIRO DEGRAU DA PACIÊNCIA

Fonte: Bulletin Hostia (SSPX Great Britain & Ireland) – Tradução: Dominus Est

Quando conseguirmos suprimir toda impaciência exterior e o ressentimento interior, na


medida que sejam voluntários e deliberados, começaremos a colher a recompensa de nossos
esforços. Descobriremos que o tratamento que outrora consideramos intolerável tem certas
vantagens daí decorrentes.

Podemos esperar, finalmente, encontrar um prazer positivo em sermos negligenciados ou


tratados injustamente, em sermos humilhados aos olhos dos homens ou culpados pelo que
fizemos com toda boa intenção.

Devo tentar mirar nisso. Não está fora do meu alcance.

Como posso obter essa disposição de ser mal compreendido e severamente julgado, esse
desejo de rejeições e decepções?

Devo usar meu bom senso para suportá-los. Devo manter em mente o quanto são úteis e
necessárias para derrotar o orgulho.

Eles são um meio muito eficaz de satisfação pelo pecado, se eu oferece-los a Deus em nome
de Jesus Cristo.

Quando me lembro de tudo isso, deveria ficar bastante ansioso pelo que é um remédio
amargo, mas muito salutar.

Quando leio a vida dos santos e dos homens santos, encontro ali a verdadeira avaliação de
todas as coisas.

Agora, qual era a atitude deles para com aqueles que os desprezavam, perseguiam,
maltratavam?

Eles os consideravam como seus maiores benfeitores. Como eles consideraram as censuras, a
negligência, a crueldade que tiveram de sofrer?

Eles agradeciam a Deus por eles, regozijavam-se com eles, consideraram uma desgraça se
eles estivessem ausentes. Se quisermos nos assemelhar aos santos, devemos adotar sua visão de
desprezo e incompreensão.

Devemos nos esforçar não apenas para suportá-los, mas também para acolhê-los, regozijar-
nos com eles e considerá-los como nosso maior privilégio.

PACIÊNCIA E IMPACIÊNCIA – PARTE 4 – NA IMPACIÊNCIA

Fonte: Bulletin Hostia (SSPX Great Britain & Ireland) – Tradução: Dominus Est

A impaciência é uma das mais insensatas de todas as falhas. Não nos beneficia em nada e não
alivia nossos sofrimentos, pelo contrário, os agrava.
Ninguém goza de qualquer paz enquanto estiver cedendo a sentimentos de impaciência. A
pessoa fica descontente, infeliz, inquieta… Acha intolerável o que poderia suportar muito bem se
fizesse o esforço necessário e engolisse a irritação crescente ou reprimisse palavras de raiva. Ela
está sempre agitada e é um incômodo para si mesmo e para todos ao seu redor. Não sei disso por
experiência própria? Se não, devo agradecer a Deus por me dar uma disposição tão feliz.

A impaciência também é umas mais ridículas de todas das falhas. Há algo de risível e
desprezível na fúria do homem impaciente por alguma ninharia, em sua fúria, por não conseguir
superar alguma dificuldade ou seguir seu próprio caminho como deseja. Um homem impaciente
sempre causa uma má impressão. Se eu pudesse me ver como os outros me veem quando dou
lugar à impaciência, ficaria completamente envergonhado e muito atento para não me passar por
tolo novamente.

A impaciência, quando voluntariamente alimentada, é uma espécie de rebelião indireta


contra Deus. É uma recusa prática de suportar voluntariamente as provações que Ele nos impôs. É
um chute contra o aguilhão e não é de se admirar que nos machuquemos ao fazê-lo… é apenas o
que merecemos. Todos nós precisamos de provações, mas se ao invés de nos beneficiarmos com
elas e aprendermos a ter paciência, se são para nós apenas uma ocasião de impaciência, elas
simplesmente aumentam nossa condenação. Se cedo à impaciência, isso mostra que não estou
sujeito como deveria à lei de Deus, e menos ainda ao doce jugo de Cristo

PACIÊNCIA E IMPACIÊNCIA – PARTE 5 – A IMPACIÊNCIA NAS EXPRESSÕES


FÍSICAS

Fonte: Bulletin Hostia (SSPX Great Britain & Ireland) – Tradução: Dominus Est

A impaciência nas expressões físicas (corporais) é aquela sensação involuntária de irritação


que é despertada em nós por alguma causa externa e física. Estamos procurando por algo e não
conseguimos encontrá-lo, estamos tentando fixar nossos pensamentos e alguns ruídos
perturbadores tornam isso impossível, estamos tentando nos recompor para dormir e algum
vizinho problemático nos acorda no exato momento em que o sono se aproximava.

Devido a toda essa impaciência devemos nos humilhar, como sendo um sinal de falhas
cometidas no passado e não de pecado atual.

Esse tipo de impaciência física que, se antecipando a nossa razão, é, por vezes, o resultado de
impaciência, orgulho e obstinação por muito tempo tolerados. O fantasma dos pecados passados
reaparece para nos lembrar do que esquecemos e nos manter humildes.

Bom, nem sempre, pois Santa Teresa nos conta que, devido à problemas de saúde e
desolação, ela tinha mutar dificuldade em permanecer calma e a gentil, e em resistir ao impulso de
falar de forma ríspida e desagradável. Mas, como regra geral, essa impaciência física pode ser
tomada, em todo caso, enquanto estivermos com boa saúde, como uma marca de orgulho não
completamente subjugado e de vontade própria que não aprendeu totalmente a se submeter.

Como podemos nos livrar da impaciência física?

Principalmente educando-nos para suportar, suportando de bom grado até mesmo o que
poderíamos evitar; esperando muito antes de bater novamente, se nosso primeiro sinal não surtir
efeito; controlando nossa queixa ou gesto indicativo de nosso sofrimento.

Tais pequenos esforços de autodomínio são muito agradáveis a Deus, mas muitas vezes nos
custam muito. Eles podem se preocupar com coisas insignificantes, mas a vitória sobre nós
mesmos não é nada insignificante.
Aprenda então a procurar superar os primeiros movimentos de impaciência física.

PACIÊNCIA E IMPACIÊNCIA – PARTE 6 – SOBRE A RECLAMAÇÃO

Fonte: Bulletin Hostia (SSPX Great Britain & Ireland) – Tradução: Dominus Est

Quando alguma coisa nos aflige ou nos aborrece, é um impulso natural aliviar nossos
sentimentos contando nossas mágoas aos outros, em parte por uma esperança de compaixão, em
parte porque é um grande alívio expressar nossa irritação ou nossa tristeza. Tais queixas
raramente são feitas sem pecar. Dificilmente é possível falar do que sofremos sem alguma violação
da lei da caridade.

Devemos nos esforçar para exercitar a virtude da paciência e controlar as palavras que
surgem, com as quais estamos prestes a contar a história de nossos erros. O esforço de manter o
silêncio em um caso como esse logo traz sua recompensa. Depois de algum tempo, a dor diminui,
ao passo que se nos estendêssemos sobre ela, teríamos nos sentidos mais amargurados do que
antes.

Aqueles que sabem que sofremos são edificados pelo nosso silêncio. Nosso ofensor é
frequentemente conquistado por nossa mansidão.

A paz entra em nosso coração.

Consigo reprimir, por amor a Cristo e para imitar Sua paciência, palavras indelicadas que
chegam aos meus lábios? Quando faço isso, não percebo que a paciência traz sua própria
recompensa? No entanto, isso não significa que devo sempre enterrar minhas mágoas em meu
próprio coração.

Às vezes não consigo fazer isso, elas virão à tona, apesar dos meus esforços. Às vezes é quase
um dever contar nossa história a algum amigo bondoso e solidário; metade de nossos problemas
desaparecem ou são sensivelmente diminuídos com o simples ato de contar.

Mas devemos escolher alguém em quem podemos confiar e respeitar. Devemos ter cuidado
para não falar com amargura ou abusar dos outros pelo desabafo aos nossos sentimentos.

Devemos tentar desculpar os outros e contar nossa história com toda a simplicidade e
caridade.

Consigo esta regra quando estou expondo meus problemas no ouvido de algum amigo ou
conselheiro?

Você também pode gostar