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ANÁLISES LITERÁRIAS

ORG. PROF. JOÃO AMÁLIO RIBAS (JOÃOZINHO)


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O VENDEDOR DE PASSADOS
JOSÉ EDUARDO AGUALUSA

DADOS DO AUTOR
José Eduardo Agualusa, um dos mais importantes escritores africanos
da última década, nasceu em 1960 na cidade de Huambo, em Angola. É
romancista, contista, poeta e jornalista e divide seu tempo entre Luanda, Lisboa
e viagens ao Brasil. Conhece como ninguém a realidade angolana, a da guerra
e a do pós-guerra, as intermináveis lutas e abusos de poder, a luta diária de um
povo pelos seus direitos básicos, a miséria desse povo enquanto a riqueza do
país está a saque e nas mãos de largas dúzias de governantes corruptos. É esta
realidade que ele nos traz em alguns dos seus livros.

CARACTERÍSTICAS DO AUTOR
José Eduardo Agualusa virou um escritor em moda no Brasil. O visual
de galã de novela e principalmente os romances leves e povoados de aventuras
contribui para o seu sucesso.
Mas, certamente, não é essa a sua maior qualidade. A sua riqueza como
escritor está mesmo no seu jeito de contar as estórias, prenhes de sentidos e de
imagens que faz dele,um dos mais prolíferos escritores da língua portuguesa.
Nos textos de Agualusa as palavras ganham vida. Ora assombram, ora
seduzem, ora surpreendem. Um estilo que nos conquista em cada um dos seus
livros, quer seja romance, conto, novelas ou crônicas. Estilos que, por si só, são
sinônimo de um escritor multifacetado que não se prende nas margens de um
único estilo literário. Os deslocamentos (Brasil, Angola, Portugal) lhe
propiciaram desenvolver um molde peculiar de escrever, que mistura
brasileirismos e a gíria urbana de Luanda de forma enxuta e clara.
A característica mais marcante de sua literatura é a fusão de referências
de países de língua portuguesa, fazendo um entrelaçamento cultural
coerente com a idéia da lusofonia,a união dos povos através da língua em
comum.

FICHA TÉCNICA DO LIVRO

O Vendedor de Passados

Autor(es) José Eduardo Agualusa


Idioma português
Género Romance
Editora Dom Quixote
Lançamento 2004
DIVISÃO DO LIVRO
O livro, dividido em 32 capítulos, constitui uma crítica à situação política e
social de Angola num contexto pós-colonial, tendo como protagonista Félix
Ventura, um homem que vende passados ilustres,ainda que falsos, a quem
os deseja.

Contextualização da ação
A ação decorre em Luanda durante a Guerra Civil Angolana, um conflito
militar que seprolongou desde 1975 até 2002.
Este confronto surgiu após Angola conseguir a sua independência em
novembro de 1975,deixando de ser uma colónia de Portugal. Antes disso, na
década de 1960, um movimento anticolonial tinha-se manifestado no território
angolano, sendo composto por três grandes grupos: MPLA, FNLA e UNITA.
Partilhavam o mesmo objetivo, a independência de Angola. Contudo, quando tal
sucedeu, dois desses movimentos de libertação (MPLA e UNITA) entraram numa
luta pelo poder entre si, surgindo, assim, a Guerra Civil.

MPLA: Movimento Popular de Libertação de Angola é um partido político


angolano orientado no espectro de centro-esquerda à esquerda, que governa
o país desde sua independência de Portugal em 1975. Fundado em 1956 foi,
inicialmente, uma organização nacionalista de luta pela independência de
Angola, transformando-se num partido político após a Guerra de Independência
de 1961 a 1974. Na descolonização, conquistou o poder em 1975 e saiu
vencedor da Guerra Civil Angolana de 1975-2002, contra dois
movimentos/partidos rivais, recebendo apoio da antiga União Soviética e seus
aliados.

UNITA: A União Nacional para a Independência Total de Angola é um partido


político angolano orientado no espectro do centro à direita, sendo a maior e
mais organizada agremiação nacional de oposição desde 1976. Foi fundada em
1966 por dissidentes da Frente Nacional de Libertação de Angola (FNLA) e do
Governo de Resistência de Angola no Exílio (GRAE), de que Jonas Savimbi,
líder-fundador do partido, era ministro das relações exteriores. Lutou ao lado da
FNLA e do Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA) pela
independência angolana, partindo para uma longa Guerra Civil Angolana em que
recebeu ajuda militar principalmente dos Estados Unidos e da África do Sul.
Desde o fim da Guerra Civil em 2002 a UNITA abandonou a luta armada,
convertendo-se num partido político. A UNITA e seus militantes são conhecidos
pelo acrónimo "galo negro", em referência a figura de um galo presente na
bandeira do partido.

FNLA: A Frente Nacional de Libertação de Angola é um partido político angolano


orientado no espectro de centro-direita à direita.
Contexto histórico
Ao longo da obra, é possível entender que Angola está inserida num cenário
de caos e ruína física e psicológica causado pela guerra civil. Luanda surge
como uma cidade que se está a reerguer e refazer dos escombros do
conflito de libertação nacional e civil. Tal ambiente de violência extrema
culminou no sofrimento e na morte de milhares de angolanos(entre eles a mulher
de José Buchmann), residindo nesta realidade a crítica política ao regime em
vigor que permitiu e promoveu tais brutalidades. Demonstrando o desejo de
esquecer as atrocidades cometidas, o povo acaba por apelar a uma nova
identidade coletiva menos cruel que se aproximasse da “essência africana,
como se não tivesse sido silenciada pelo colonizador ou negativamente afetada
pelos horrores da guerra.” (Stacul, 2010: 270). Assim, “a trilha narrativa
agualusiana talha uma Angola da pós-guerra civil que busca exorcizar os
fantasmas de uma memória traumática, por forma a reformular seu espaço
identitário, dentro desse quadro de crises” (Seneta, 2013: 75).

Personagens
Félix Ventura
Félix Ventura é um homem albino, residente em Luanda, que ganha a vida a
criar passados nobres a quem os deseja. Abandonado pelos progenitores
em bebé devido à sua condição, foi encontrado por um alfarrabista
(comprador e vendedor de livros usados) que o criou. Sendo dominado pela
solidão a nível pessoal, acaba por se refugiar totalmente no seu trabalho.
Contudo, conhece uma mulher que o fascina, Ângela Lúcia, por quem
eventualmente se apaixona.

Eulálio
Eulálio é o nome da osga (lagartixa) que habita a casa de Félix Ventura. Em
tempos, a lagartixa teria sido um ser humano, reconhecendo-se ainda em si
algumas características da sua forma anterior, nomeadamente o riso, que
permite que a sua presença seja frequentemente notada. Toda a história é
narrada por ela, surgindo dois planos narrativos que correspondem à sua
visão enquanto animal e à que possuía enquanto homem.

José Buchmann
Anteriormente conhecido como Pedro Gouveia, José Buchmann é um homem
estrangeiro que recorre a Félix Ventura para que este lhe idealize um
passado, bem como uma nova identidade pela qual está desesperado
(nascendo assim José Buchmann). Adotando esta nova vida, assume-se como
um fotógrafo profissional, natural de Chibia, que reside de momento em
Luanda. É através de Félix que Buchmann irá reencontrar a sua filha, Ângela
Lúcia, bem como o homem responsável pelo assassinato da sua mulher,
Edmundo Baratados Reis.

Ângela Lúcia
Ângela Lúcia é uma mulher que Félix Ventura conhece e pela qual fica
enamorado, sendocorrespondido. É caracterizada pela esperança que tenta
transmitir a todos os que a rodeiam, algo que se reflete no seu trabalho
enquanto fotógrafa, visto que tenta apenas captar locais e momentos que
reflitam positividade, mantendo-se afastada da atmosfera caótica que
domina Luanda após os efeitos trágicos da guerra. É filha de José
Buchmann,algo que apenas descobre quando se vê reunida com este e com
Edmundo Barata dos Reis, assassino de sua mãe, em casa de Félix.

Edmundo Barata dos Reis


Edmundo Barata dos Reis é um mendigo que é fotografado por José
Buchmann na cidade,quando este tentava retratar a desgraça que se fazia sentir
em Luanda. Ex-agente de Segurança do Estado, acabou por perder tudo o que
tinha, ficando na miséria. É o responsável pelo assassinato da mulher de José
Buchmann e pela tortura à filha do mesmo, Ângela Lúcia.

Enredo

O Vendedor de Passados retrata a vida de Félix Ventura, um negro albino,


natural de Angola, cuja estranha profissão se baseia na idealização de
passados honrosos fictícios. Entre os seus clientes destacam-se
empresários, políticos, generais, bem como grande parte da burguesia
angolana. Têm todo o reconhecimento social no presente e garantidamente
também no futuro, mas necessitam de um passado que lhes forneça prestígio
e, portanto, de linhagens ilustres, residindo nesta falsa genealogia a base da
crítica social e política que é feita da sociedade de Angola.
Certo dia, um estrangeiro surge à porta de Félix, em Luanda (local onde decorre
toda a ação), confessando-lhe que necessita não só de uma genealogia, mas
também de uma identidade nova angolana, sem apresentar justificação
para tal. Ainda que intrigado, o protagonista atende ao pedido, criando então o
indivíduo que passaria a chamar-se José Buchmann, um fotógrafo
profissional que se dedica a retratar a destruição da cidade devido aos efeitos
da guerra. Contudo, este cliente acaba por desenvolver uma fixação com o
passado que lhe foi criado e tenta a todo o custo encontrar respostas para
as questões acerca dos seus parentes fictícios, procurando algum fundo de
verdade. Essa obsessão leva a que passe grande parte do seu tempo na
companhia de Félix, tornando-se visita frequente da sua casa.

Félix, por sua vez, totalmente dedicado ao ofício, é a representação de um


homem rejeitado pela comunidade feminina (devido à sua condição de
albino), sendo uma pessoa solitária.Convive apenas com Eulálio, uma osga
que vive na sua casa e que é testemunha das suas invenções e o narrador
de toda a história.

No entanto, no início da obra conhece alguém que lhe desperta um certo


interesse, fascina-o.

Trata-se de Ângela Lúcia, uma fotógrafa que emana positividade e que se


aproxima do criador de passados, começando a ter por ele algum
sentimento amoroso. A ligação entre ambos faz com que convivam
constantemente, principalmente em casa de Félix, onde se proporcionam
vários encontros entre a jovem e José Buchmann.
Num determinado momento da obra, Buchmann encontrava-se a fotografar
Luanda quandose deparou com um mendigo de barbas brancas, Edmundo
Barata dos Reis, um ex-agente de Segurança do Estado. Optou por levá-lo
até casa de Félix, onde também se encontrava Ângela Lúcia, e apresentou-o
como sendo um amigo seu. Contudo, algum tempo depois, José Buchmann
apercebe-se de que, na realidade, Edmundo não era apenas um mendigo,mas
sim alguém do seu passado que lhe havia feito muito mal, tendo assassinado a
sua mulher e torturado a filha de ambos que na altura ainda era bebé. Movido
pela necessidade de vingança, o fotógrafo tenta dar um tiro a Edmundo
Barata dos Reis, sendo impedido por Félix, que tenta acalmar a situação,
mandando o ex-agente embora. Mas, numa peripécia final, é Ângela Lúcia
quem acaba por agarrar a pistola, matando o mendigo, sendo
posteriormente revelado que a jovem é, na verdade, a filha de Buchmann que
fora torturadaem criança, tendo ainda marcas no seu corpo de tais abusos. Félix,
numa tentativa de ajuda para com Ângela Lúcia e José Buchmann, acaba por
enterrar o corpo de Emundo no seu quintal, não sendo nunca mais
mencionada essa situação entre os três.

A obra termina com José Buchmann e Félix Ventura a conversar sobre Ângela
Lúcia algum tempo depois da morte do mendigo, encontrando-se a jovem a
viajar pelo mundo, fugindo de todo o mal que acontecera, mandando-lhes
fotografias para os relembrar de que, apesar disso, nunca os esquecera.

Outros aspectos do enredo


Os clientes de Félix são prósperos empresários, políticos e generais da
emergente burguesia angolana que têm um presente e um futuro próspero, mas
falta-lhes um passado que não seja comprometedor. E arquitetar esse passado
é uma empreitada no qual, o personagem principal Felix se encarrega.

A relação da osga (Eulálio) com a sua casa é visceral. A osga percebe sua
respiração, penetra-a em busca do útero “O corredor é um túnel fundo, úmido e
escuro, que permite oacesso ao quarto de dormir…”

A casa é o seu universo possível e seguro, distante dos campos minados


de Angola, onde são revelados os segredos e fantasias que criam o presente
para os que buscam novos passados. Também é o ambiente protegido para o
resgate da vida de Eulálio, um ser comum que viveu quase um século na pele
de homem sem se sentir inteiramente humano e que agora se lamenta desses
quinze anos com a alma presa ao corpo de lagartixa.

Felix está muito bem nessa empreitada, leva uma vida razoavelmente
confortável.

José Buchmann procura o seu passado e, à medida que vai sendo criado por Félix
Ventura,o encontro com algumas situações surpreendem com a possibilidade da
coincidência com o absurdo.

A busca de sua suposta mãe, a aquarelista norte-americana Eva Mullher, a


narrativa do corredor cheio de espelhos e de sua povoada solidão no
apartamento em Nova Iorque, a aquarela encontrada e o anúncio de sua
morte na Cidade do Cabo, tudo vai colorindo e recheando essa nova
identidade.

Entre uma venda de passado e suas implicações, são apresentados os


problemas da osga (fugir de lacraus, e refrescar-se do calor) e seus sonhos. Um
narrador animal que age como um ser humano sem uma nítida compreensão
animal do mundo.

A lucidez da osga é admirável: A única coisa que em mim não muda é o meu
passado: a memória do meu passado humano. O passado costuma ser estável.
Está sempre lá, belo ou terrível, e lá ficará para sempre.

Outra passagem interessante e que nos chamam a atenção: os inúmeros seres


que precisam de uma trajetória para legitimar as máscaras que vestem
demonstram como os personagens históricos são imortalizados com
passados maquiados, enfeitados de fatos falsos, numa ficção
memorialista.

Numa das biografias forjadas, Félix se destaca ao criar para um de seus


clientes um livro de memórias de um Ministro (A vida verdadeira de um
combatente), que credita a este cliente, homem público, um conjunto de fatos
notáveis para confirmar o personagem idealizado e contextualizado com
as suas pretensões futuras.

Fonte: https://www.passeiweb.com/estudos/livros/o_vendedor_de_passados/
Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.

CARACTERÍSTICAS DA OBRA

METALINGUAGEM
No livro também surge um tema caro à literatura universal: a meta-
literatura. Por exemplo,contar a história de um escritor. Meta-literatura um
tanto alterada em O Vendedor de Passados, porém presente. O ofício de
criar histórias e personagens de Félix Ventura para seus clientes é em
muito similar ao de um escritor.
A mãe de Eulálio aparece em seus sonhos (memórias da vida humana), fala
sobre a realidade e o sonho e aconselha: Nos livros está tudo o que existe,
muitas vezes em cores mais autênticas, e sem a dor verídica de tudo que
realmente existe. Entre a vida e os livros, meu filho, escolha os livros.

TEMA DA IDENTIDADE
A necessidade de uma nova identidade manifesta-se desde o início do livro,
sendo que o trabalho de Félix Ventura auxilia exatamente aqueles que procuram
uma genealogia diferente da que possuíam na realidade, ansiando por
ancestrais fictícios que possam ser associados ao presente ilustre que
vivem. Esta vontade e urgência de colmatar as falhas do passado resulta numa
crítica social onde são condenados os pertencentes à alta burguesia por
desejarem aparentar ter vindo de uma família nobre à qual não pertencem
verdadeiramente.

No entanto, no caso de José Buchamnn, o seu pedido a Félix foi feito com o
propósito de tentar ultrapassar acontecimentos que o atormentavam. Buchamnn
sentiu-se nanecessidade de começar a incorporar a nova identidade que lhe
foi idealizada, transformando-se, ao longo do tempo, nessa nova pessoa.
Assim, apagou da sua memóriaas recordações do sofrimento que viveu quando
assassinaram a sua mulher e maltratarama sua filha, adaptando-se à sua nova
realidade.

Devido a esta sua incorporação da nova identidade, o narrador, ao relembrar


José Buchmann, chega a afirmar que:

Olhando para o passado, contemplando-o daqui, como contemplaria uma larga


tela colocada à minha frente, vejo que José Buchamnn não é José Buchmann, e
sim um estrangeiro a imitar José Buchamnn. Porém, se fechar os olhos para o
passado, se o vir agora, como se nunca o tivesse visto antes, não há como não
acreditar nele - aquele homem foi José Buchmann a vida inteira. (Agualusa,
2004: 81-82)

Eis um pensamento da Osga:


“Um nome pode ser uma condenação. Alguns arrastam o nomeado, como as
águas lamacentas de um rio após as grandes chuvadas, e, por mais que este
resista, impõem-lhe um destino. Outros, pelo contrário, são como máscaras:
escondem, ilumem. A maioria, evidentemente, não tem poder algum. Recordo
sem prazer, sem dor também, o meu nome humano. Não lhe sinto a falta. Não
era eu.”

TÓPICO: FIGURA FEMININA


Ângela Lúcia é vista como alguém que tem dor de alma, resultante da tortura da
qual foi vítima quando nasceu (Edmundo Barata dos Reis queimou-a com
cigarros, tendo, de seguida, assassinado a sua mãe). A amada de Félix nasceu
num período em que muitos angolanos foram atacados e mortos pela polícia
política, dado que “ela nascera em setentae sete, era um fruto dos anos difíceis”
(Agualusa, 2004: 149). Desta forma, o corpo da mulher em O Vendedor de
Passados funciona como o local de inscrição de uma história de atrocidades da
responsabilidade do sistema político do pós-guerra de descolonização de
Angola, época em que as mulheres eram vistas como mais vulneráveis aos
abusos mencionados, uma vez que os homens serviam, na sua maioria, o
sistema referido.

No entanto, Ângela Lúcia é, simultaneamente, a única personagem que traz


consigo uma mensagem de esperança num universo que estaria, à partida,
condenado à ruína e ao sofrimento. Essa sua forma de estar gera a
possibilidade de superação do passado, algo percetível nas atitudes da própria,
nomeadamente na sua visão positiva de tudo o que fotografa e na sua contínua
vontade de não reviver assuntos que carregavam conotações negativas, como
se verifica quando José Buchmann lhe conta acerca dos países em guerraque já
tinha fotografado, tendo a jovem respondido de imediato “Basta! Não quero que
as suas memórias deixem esta casa suja de sangue.” (Agualusa, 2004: 100).

ADAPTAÇÕES
O Vendedor de Passados inspirou um filme com o mesmo nome, produzido no
Brasil. Lançado em 2015, foi dirigido por Lula Buarque e protagonizado
por Alinne Moraes e Lázaro Ramos.
PRÉMIOS

A versão traduzida para inglês de O Vendedor de Passados (The Book of


Chameleons) foidistinguida com o Prémio Independent – Ficção Estrangeira,
em 2007.

A AFIRMAÇÃO CRIOULA
Se existe uma palavra que possa caracterizar a obra e a personalidade de José
Eduardo Agualusa, essa palavra é sem dúvida a palavra crioulo: crioulo é, para
Agualusa, uma afirmação de raízes que contém em si todo um projeto de
futuro, de possibilidade de afirmação de valores culturais angolanos e das
culturas africanas e colonizadas em geral. Um valor, não da afirmação da
negritude, mas da miscigenação, não apenas rácica, mas, sobretudo,
cultural.

Agualusa é, ele próprio, o exemplo por excelência do crioulo: com


ascendência angolana, portuguesa, brasileira e, mesmo dentro de Angola,
com raízes em diferentes regiões, está,de fato, tão em casa em Lisboa como em
Luanda ou no Pantanal do Brasil. Do mesmo modo, a sua escrita está tão à
vontade com a inovação semântica e estilística que as literaturas africanas
têm imprimido à língua portuguesa.

INTERTEXTOS
O autor, por ter morado no Brasil decora sua história com fontes de
citações, intertextos e afins extraídos de autores e compositores
brasileiros, portugueses e angolanos . Sua compreensão e literatura
conseguem passear de maneira extremamente eficaz pelos mais diversos
elementos formadores dessas culturas.

Trechos do livro
Félix Ventura estuda os jornais enquanto janta, folheia-os atentamente, e se
algum artigo lhe interessa assinala-o a tinta lilás com uma caneta. Termina de
comer e então recorta-o com cuidado e guarda-o num arquivo. Numa das
prateleiras da biblioteca há dezenas destes arquivos. Numa outra dormem
centenas de cassetes de vídeo. Félix gosta de gravar noticiários, acontecimentos
políticos importantes, tudo o que lhe possa ser útil um dia. As cassetes estão
ordenadas por ordem alfabética, segundo o nome da personalidade ou do
acontecimento a que se referem. O jantar dele resume-se a uma tigela de caldo
verde, especialidade da Velha Esperança, a um chá de menta, a uma grossa
fatia de papaia, temperada com limão e uma gota de vinho do porto. No quarto,
antes de se deitar, veste o pijama com tal formalidade que eu fico sempre à
espera de o ver atar ao pescoço uma gravata escura. Esta noite o estrídulo da
campainha interrompeu-lhe a sopa. Isso irritou-o. Dobrou o jornal, levantou-se
com esforço e foi abrir a porta. Vi entrar um homem alto, distinto, nariz adunco,
as maçãs do rosto salientes, bigode farto, curvo e lustroso, como não se usa há
mais de um século. Os olhos, pequenos e brilhantes, pareciam apoderar-se de
todas as coisas. Vestia um fato azul, de corte antiquado, que no entanto lhe
ficava bem, e segurava na mão esquerda uma pasta em cabedal. A sala ficou
mais escura. Foi como se a noite, ou alguma coisa ainda mais enlutada do que
a noite, tivesse entrado juntamente com ele. Mostrou um cartão de
visitas. Leu alto:

“Félix Ventura. Assegure aos seus filhos um passado melhor”. Riu-se. Um riso
triste, mas simpático: “É o senhor, presumo? Um amigo deu-me este cartão.”
Não consegui pelo sotaque adivinhar-lhe a origem. O homem falava docemente,
com uma soma de pronúncias diversas, uma sutil aspereza eslava, temperada
pelo suave mel do português do Brasil. Félix Ventura recuou:
“Quem é você?”

O estrangeiro fechou a porta. Passeou pela sala, as mãos cruzadas atrás das
costas, detendo-se um largo momento em frente ao belo retrato a óleo de
Frederick Douglass. Finalmente sentou-se numa das poltronas e com um gesto
elegante convidou o albino a fazer o mesmo. Parecia ser ele o dono da casa.
Amigos comuns, disse, e a voz fez-se ainda mais suave, tinham-lhe indicado
aquele endereço. Haviam-lhe falado num homem que traficava memórias, que
vendia o passado, secretamente, como outros contrabandeiam cocaína.

Félix olhou-o desconfiado. Tudo no estranho o irritava – os modos


doces e ao mesmo tempo autoritários, o discurso irônico, o bigode arcaico.
Sentou-se num majestoso cadeirão de verga, no extremo oposto da sala, como
se receasse ser contagiado pela delicadeza do outro.

“Posso saber quem é você?”

Também dessa vez não obteve resposta. O estrangeiro pediu licença para fumar.
Tirou do bolso do casaco uma cigarreira de prata, abriu-a, e enrolou um cigarro.
Os seus olhos saltitavam de um lado para o outro, numa atenção distraída, como
uma galinha ciscando entre a poeira. Deixou que o fumo se espalhassee
o cobrisse. Sorriu num inesperado fulgor:

“Mas diga-me, meu caro, quem são os seus clientes?”

Félix Ventura rendeu-se. Procurava-o, explicou, toda uma classe, a nova


burguesia. Eram empresários, ministros, fazendeiros, camanguistas, generais,
gente, enfim, com o futuro assegurado. Falta a essas pessoas um bom passado,
ancestrais ilustres, pergaminhos. Resumindo: um nome que ressoe a nobreza e
a cultura. Ele vende-lhes um passado novo em folha. Traça-lhes a árvore
genealógica.

Dá-lhes as fotografias dos avôs e bisavôs, cavalheiros de fina estampa,


senhoras do tempo antigo.
Os empresários, os ministros, gostariam de ter como tias aquelas senhoras,
prosseguiu, apontando os retratos nas paredes – velhas donas de panos,
legítimas bessanganas –, gostariam de ter um avô com o porte ilustre de
um Machado de Assis, de um Cruz e Sousa, de um Alexandre Dumas, e ele
vende-lhes esse sonho singelo.

“Perfeito, perfeito.” O estrangeiro alisou o bigode. “Foi isso que me disseram. Eu


preciso dos seus serviços. Receio aliás que lhe vá dar bastante trabalho.”

“O trabalho liberta”, murmurou Félix. Disse-o talvez para provocar, para testar a
identidade do intruso, mas se era essa a intenção falhou, pois este limitou-se a
fazer com a cabeça um gesto de assentimento.

O albino levantou-se e desapareceu na direção da cozinha. Voltou pouco depois


segurando com ambas as mãos uma garrafa de bom tinto português. Mostrou-a
ao estrangeiro. Ofereceu-lhe uma taça. Perguntou:

“Posso saber o seu nome?”

O estrangeiro estudou o vinho contra a luz do candeeiro. Baixou as pálpebras e


bebeu devagar, atento, feliz, como quem segue o vôo de uma fuga de Bach.
Poisou o copo numa pequena mesa, mesmo à sua frente, um móvel em mogno,
com tampo de vidro; finalmente endireitou-se e respondeu:

“Tive muitos nomes mas quero esquecê-los a todos. Prefiro que seja você
a batizar-me.”

Félix insistiu. Precisava de saber, no mínimo, em que se ocupavam os seus


clientes.

O estrangeiro ergueu a mão direita, uma mão larga, de dedos compridos e


ossudos, numa vaga recusa. Depois baixou-a e suspirou:

“Tem razão. Sou repórter fotográfico. Recolho imagens de guerras, da fome


e dos seus fantasmas, dedesastres naturais, de grandes desgraças. Pense
em mim como uma testemunha.”

Explicou que pretendia fixar-se no país. Queria mais do que um passadodecente,


do que uma família numerosa, tios e tias, primos e primas, sobrinhos esobrinhas,
avós e avôs, inclusive duas ou três bessanganas, embora já todos mortos,
naturalmente, ou a viverem no exílio, queria mais do que retratose relatos.
Precisava de um novo nome, e de documentos nacionais, autênticos, que
dessem testemunho dessa identidade. O albino ouvia-o aterrado:

“Não!”, conseguiu dizer. “Isso eu não faço. Fabrico sonhos, não sou um
falsário…Além disso, permita-me a franqueza, seria difícil inventar para o senhor
toda uma genealogia africana.”

“Essa agora! E porquê?!…” “Bem… O cavalheiro é branco!”


“E então?! Você é mais branco do que eu!…”

“Branco, eu?!”, o albino engasgou-se. Tirou um lenço do bolso e enxugou a testa:


“Não, não! Sou negro. ou negro puro. Sou um autótone. Não está a ver que
sounegro?…”

Eu, que permanecera o tempo todo no meu lugar habitual, junto à janela,
não consegui evitar uma gargalhada. O estrangeiro ergueu o rosto como se
farejasseo ar. Tenso, alerta:

“Ouviu isto? Quem se riu?”

“Ninguém”, respondeu o albino, e apontou para mim: “Foi a osga.”

O homem levantou-se. Vi-o aproximar-se e senti que os olhos dele me


atravessavam. Era como se olhasse diretamente para a minha alma (a minha
velha alma). Abanou a cabeça num silêncio perplexo:

“Sabe o que é isto?”“Como?!”


“É uma osga, sim, mas de uma espécie muito rara. Está a ver estas listras? Trata-
se de uma osga-tigre, ou osga tigrada, um animal tímido, ainda pouco estudado.

Os primeiros exemplares foram descobertos há meia dúzia de anos na Namíbia.


Acredita-se que possam viver duas décadas, talvez mais. O riso
impressiona. Não lhe parece um riso humano?”

Félix concordou. Sim, ao princípio também ele ficara perturbado. Depois


consultara alguns livros sobre répteis, encontrara-os ali mesmo, em casa, tinha
livros sobre tudo, milhares deles, herdara-os do pai adotivo, um alfarrabista que
trocara Luanda por Lisboa poucos meses após a independência, e descobrira
que certas espécies de osgas podem produzir sons fortes, semelhantes a
gargalhadas.

Ficaram um bom tempo discutindo sobre mim, o que me incomodou, porque o


faziam como se eu não estivesse presente.

Ao mesmo tempo sentia que falavam não de mim, mas de um ser alienígena, de
uma vaga e remota anomalia biológica. Os homens ignoram quase tudo sobre
os pequenos seres com os quais partilham o lar.

Ratos, morcegos, baratas, formigas, ácaros, pulgas, moscas, mosquitos,


aranhas, minhocas, traças, térmitas, percevejos, bichos do arroz, caracóis,
escaravelhos. Decidi que o melhor seria fazer-me à vida. Àquela hora
o quarto do albino enche-se de mosquitos e eu começava a sentir fome. O
estrangeiro levantou-se, foi até à cadeira onde poisara a pasta, abriu-a e tirou lá
de dentro um envelope grosso. Entregou-o a Félix, despediu-se dele e avançou
para a porta. Ele próprio a abriu. Acenou com a cabeça e desapareceu.
QUESTÕES

1. Leia o fragmento do primeiro capítulo de O vendedor de passados, do escritor angolano José


Eduardo Agualusa, para responder a QUESTÃO.

Nasci nesta casa e criei-me nela. Nunca saí. Ao entardecer encosto o corpo contra o cristal das
janelas e contemplo o céu. Gosto de ver as labaredas altas, as nuvens a galope, e sobre elas os
anjos, legiões deles, sacudindo as fagulhas dos cabelos, agitando as largas asas em chamas. É
um espetáculo sempre idêntico. Todas as tardes, porém, venho até aqui e divirto-me e comovo-
me como se o visse pela primeira vez. A semana passada Félix Ventura chegou mais cedo e
surpreendeu-me a rir enquanto lá fora, no azul revolto, uma nuvem enorme corria em círculos,
como um cão, tentando apagar o fogo que lhe abrasava a cauda.
— Ai, não posso crer! Tu ris?!
Irritou-me o assombro da criatura. Senti medo mas não movi um músculo. [Félix Ventura] tirou
os óculos escuros, guardou-os no bolso interior do casaco, despiu o casaco, lentamente,
melancolicamente, e pendurou-o com cuidado nas costas de uma cadeira. Escolheu um disco de
vinil e colocou-o no prato do velho gira-discos. “Acalanto para um Rio”, de Dora, a Cigarra,
cantora brasileira que, suponho, conheceu alguma notoriedade nos anos setenta. Suponho isto
a julgar pela capa do disco. É o desenho de uma mulher em biquíni, negra, bonita, com umas
largas asas de borboleta presas às costas. “Dora, a Cigarra – Acalanto para um Rio – O Grande
Sucesso do Momento”. A voz dela arde no ar. Nas últimas semanas tem sido esta a banda sonora
do crepúsculo. Sei a letra de cor. (...)

Fonte: AGUALUSA, José Eduardo. O vendedor de passados. Rio de Janeiro: Gryphus, 2004, p. 03.
[adaptado]

Sobre o fragmento de O vendedor de passados é CORRETO afirmar que o narrador


A) sobressalta-se com o despir de Félix Ventura.
B) observa com amor as ações de Félix Ventura.
C) percebe uma alteração da rotina na chegada de Félix Ventura.
D) conjectura que a escolha do disco de vinil foi pela tristeza de Félix Ventura.

2. UEL 2022 - Leia o fragmento a seguir, retirado da obra O vendedor de passados, de José
Eduardo Agualusa, e responda às questões 2 e 3.

Félix conheceu Ângela Lúcia na inauguração de uma mostra de pintura. Creio – mas isto é mera
suposição – que se apaixonou por ela assim que trocaram as primeiras palavras, porque a vida
inteira o preparara para se entregar à primeira mulher que, vendo-o, não recuasse horrorizada.
Quando digo recuar, entendam-me, não é para ser tomado de forma literal. Ao serem
apresentadas a Félix Ventura, há mulheres que recuam realmente, dão um curto passo atrás, ao
mesmo tempo que lhe estendem a mão. A maior parte, porém, recua em espírito, isto é,
estendem-lhe a mão (ou o rosto), dizem “muito prazer”, e a seguir desviam os olhos e lançam
algum comentário frouxo sobre o estado do tempo. Ângela Lúcia estendeu-lhe o rosto, ele
beijou-a, ela beijou-o, e depois disse:
- É a primeira vez que beijo um albino.

Adaptado de. AGUALUSA, José Eduardo. O vendedor de passados. São Paulo: Planeta do Brasil,
2018. p. 131-132.
Sobre o romance, considere as afirmativas a seguir.

I. A passagem “mas isto é mera suposição...” contribui para a verossimilhança do relato, pois o
narrador se restringe ao espaço físico da casa de Félix Ventura, sem acompanhá-lo em todos os
lugares.
II. O trecho “A maior parte, porém, recua em espírito...” explicita que o narrador tem
conhecimento das práticas de discriminação experimentadas pelo protagonista na vida social.
III. No trecho “lançam algum comentário frouxo sobre o estado do tempo.”, o narrador discorre
com ironia, tão comum em outras passagens do romance, sobre a dissimulação humana.
IV. No trecho “É a primeira vez que beijo um albino.”, o narrador compromete a veracidade do
relato, pois ele desconhece se Ângela teve experiências afetivas com outros albinos em sua vida.

Assinale a alternativa correta.


a) Somente as afirmativas I e II são corretas.
b) Somente as afirmativas I e IV são corretas.
c) Somente as afirmativas III e IV são corretas.
d) Somente as afirmativas I, II e III são corretas.
e) Somente as afirmativas II, III e IV são corretas.

3. UEL 2022 - Quanto aos recursos coesivos presentes no texto, considere as afirmativas a seguir.

I. No fragmento “Ao serem apresentadas a Félix Ventura”, fica evidente o sentido condicional
condizente à sequência do que é narrado depois.

II. Em “... dizem ’muito prazer’, e a seguir desviam os olhos”, há na expressão entre aspas um
exemplo de discurso indireto livre.

III. A expressão “recua em espírito” caracteriza uso conotativo da linguagem, em conformidade


ao que foi expresso anteriormente: “não é para ser tomado de forma literal”.

IV. Ao longo do trecho, as ocorrências dos pronomes “o” e “lhe” fazem referência direta a Félix
Ventura.

Assinale a alternativa correta.

a) Somente as afirmativas I e II são corretas.


b) Somente as afirmativas I e IV são corretas.
c) Somente as afirmativas III e IV são corretas.
d) Somente as afirmativas I, II e III são corretas.
e) Somente as afirmativas II, III e IV são corretas.

Questão 04
Em "O vendedor de passados", entremeada à narração dos fatos, faz-se também uma reflexão
sobre a literatura e a linguagem. Todas as passagens são exemplos dessa reflexão, EXCETO:

a) "- Ainda tremo de cada vez que ouço alguém dizer edredom, um galicismo hediondo,
em vez de frouxel, que a mim me parece, e estou certo que você concordará, palavra
muito bela e muito nobre. Mas já me conformei com sutiã. Estrofião tem uma outra
dignidade histórica."
b) "Um nome pode parecer uma condenação. Alguns arrastam o nomeado, como as águas
lamacentas de um rio após as grandes chuvadas, e, por mais que este resista, impõem-lhe
um destino. Outros, pelo contrário, escondem, iludem. A maioria, evidentemente, não tem
poder algum."
c) "Existem pessoas que revelam, desde muito cedo, um enorme talento para a desventura. A
infelicidade atinge-os como uma pedrada, dia sim, dia não, e eles recebem-na com um suspiro
conformado. Outras há, pelo contrário, com uma estranha propensão para a felicidade."
d) "A realidade fere, mesmo quando, por instantes, nos parece um sonho. Nos livros está
tudo o que existe, muitas vezes em cores mais autênticas, e sem a dor verídica de tudo o
que realmente existe."

Questão 05
Sobre os personagens de "O vendedor de passados", é CORRETO afirmar:
a) José Buchman é a identidade criada por Félix Boaventura para o estrangeiro que a ele recorre
na tentativa de obter um outro passado e que vai, ao longo da trama, encarná-la cada vez com
maior realismo.
b) Félix Boaventura figura, na trama ficcional do romance, como filho do célebre escritor
português Eça de Queirós, autor de "A relíquia", e é isso que justifica seu talento nato para a
criação de genealogias falsas.
c) A personagem de Eulálio constrói-se como um duplo especular de Félix Boaventura, porém
com traços invertidos, atuando como seu antagonista na trama.
d) Ângela Lúcia, além de ser a amante de Eulálio, é quem comete o assassinato de José Buchman,
após descobrir que ele era seu verdadeiro pai.

Questão 06
"... o que me interessa é um pouco exercitar o absurdo", afirma José Eduardo Agualusa
sobre sua produção literária.
Em "O vendedor de passados", esse "exercício do absurdo" só NÃO propicia:
a) uma denúncia quanto à história e ao cenário político de Angola.
b) uma crítica às concepções religiosas que negam a possibilidade de reencarnação.
c) uma discussão acerca dos limites entre o real e o imaginário.
d) uma problematização da narrativa histórica enquanto detentora da verdade dos fatos.

Questão 07
Através dos sonhos de Eulálio, NÂO se pode afirmar que o narrador
A) revela ao leitor sua antiga forma humana.
B) promove diálogos com Félix Ventura.
C) promove questionamentos do que é realidade.
D) esclarece o leitor sobre questões relativas à religiosidade angolana.

Questão 08
Sobre o romance "O vendedor de passados", de José Eduardo Agualusa, é INCORRETO
afirmar que:
a) intercala cenas de sonho e realidade.
b) faz referência a elementos culturais do Brasil.
c) assume, em determinado ponto, a configuração de outro gênero textual.
d) apresenta os fatos sob uma mesma e única perspectiva.
GABARITO
1–C
2–D
3–C
4–C
5–A
6–B
7–D
8–D

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