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A construção da escola

pública: avanços e impasses

0 termo escola (scholé, em gregl;schol4 eru latiru)


ti,qnificaaa, entre lutrds coisas, lazer, tunpo liwe, ocupação
tht lernpo corn estudo liwe e prazeroso. Na língua latina, o

Itttn passou a signfficar tamb&n os seguidores dp unt nrcstre,


t insituição ou lugar dtforrtaçã0, ensino e aprendizagem.
linlsora a tradição grecl-rnl/rana dpsualmizasse o trabalho
nanaal e a forrnação profissional - o que justifica a
nnpreensão do turuo escola como lugar do ócio, do não
tnlrulho -, foi o idcal grego dt educação que forneceu as bases
l,n instituições escolares ocidcntais, à medida que a escola se
ia constituindo conto instituição dn aprendizagun
organizada, dirigida para um objetiuo. Já na educação
,qrega antiga, para os "hzrrcns liwes", surgiram instituições
educatiaas com caraüaísticas de escola como treino para
utiuidadcs práticas cotidianas, como espaço de instrução e
treinamento militar, baseadas sm idcais de perfeiçao física,
Irauura, cnragell4 nobreza dn caráta, obediência às leis e,
ruais tardc, no dcsenaolaimenío da razã0. Na lda.dn Média,
o ensino oconia principalmente nos mosteiros, para a

formação religiosa d.os cldrigu e dw leigos. Com o


lesenaoluimento d.o coruírcio na idad.e moda-nq e consolidação
das cidadcs, surgiu'A necessidad.e dc aprender a lq esueuer e

clntar. A noua classe, d-burguesia, propagou 0utr0 tipl d,e

escola, com professores leigos nomtados pelo Estado e c0//1. 0

msino aoltado para as coisas práticas da uida, isto é, para os

interesses da nwa classe que emugia - do que se conclui que


d esclla atendc histmicamente a intresses de quun a controla.
2^ l'n*rt _ Âs t'otÍtttns r)t,(^(r(rN^rs, rail()RM^§ rr rNsrNo r ír\ r,rAN(r\ r r)nrmr.r\ Â r oNrtntr,^o t)^ ls( ()tA ptlril( A: I tMt' ssts
^s ^v^N((rs

No Brasil, as primeiras cscolas Írrrirnr criaclas 1>elol Nrrma pcrspecrivir trítit'ir, rr cscola c1 vista como
jesuítas, que aqui chegaram em 151+L). Os colégi«lt rrrrrrr rlrganização polírica, iclcol«igica e cultural em que
jesuíticos eram missionários, isto é, pretendiam rrrrlivíclr,ros e grupos de cliferentes interesses, preferên-
frlr.
mar sacerdotes para atuaÍ nanova terra e também bug. ( rirs, crenças, valores e percepções da realidade mobi-
cayam cateqrizar e instruir o índio. Eram igualmento lizirm poderes e elaboram processos de negociação,
usados paru formar jovens que realizariam lrilctos e enfrentamentos. Vaie destacar, todavia, que
superiores na Europa. Em outras palavras, dedicavam. clir não é o único espaço em que ocorre a educação. Esta
-se à educação da elite nacional. ;ií cxistia antes mesmo da existência da escola. A vida
Âpenas no século XVIII, primeiramente na Alema. social implica a vivência da educação pelo convívio,
nha e na França, iniciou-se a educação pública estatal, lrt'la interação entre as pessoas, pela socializaçáo das
sem que houvesse, porém, interesse em atender aos lrriiticas, hábitos e valores que produzem a vida huma-
filhos dos trabalhadores. Nos Estados Unidos ela foi nrr em sociedade.
inaugurada no século XIX, e no Brasil, no final do sécu- Como pútica social, a educação é fenômeno essen-
lo XIX e nas primeiras décadas do século XX, quando r irrlmente humano e, portanto, tem historicidade. A
principiou o processo de industri alizaçáo no país. y'r'ítica educativa envolve a presença de sujeitos que
Âs diretrizes do processo de escolaúzação cenrravam- t'nsinam e aprendem ao mesmo tempo, de conteúdos
-se no atendimento às indúsrrias, que requeriam taba- (objetos de conhecimento a ser apreendidos), objeti-
lhadores instrumentalizados na leitura, na escrita e nos vos, métodos e técnicas coerefltes com os objetivos
cálculos. Hoje, a necessidade mercadológicada forma- ,lcsejados. Desse modo, ela pode configurar-se na arti-
(-
ção escolar faz-se senrir, em pleno vigor, com o proces- de aspectos contraditórios, como opressão e
r Lrlação
so de informaúzação do mundo do trabalh o. .lcmocracia, intolerância e paciência, autoritarismo e
Já. não
basta ler, escrever e contar. O mundo capitalista quer rcspeito, conservadorismo e transformação, sem nunca
trabalhadores conhecedores das funções do computador, scr, porém, neutfa.
 escola é uma organização socialmente construída.
Conforme Lima (1992), ,,a escola constitui um empreendi_
mento ltumanz, xtnta organização bistõrica, política e cultural- l. As modalidades de educação
mente marcada". Assim, uma compreensão verdadeira
da
escola depende da referência a determinado período Como prática social qlue faz parte do contexto geral
histórico e das lentes usadas para olhá-la. Sua forma ,la sociedade, a educação assume diferentes modalidades.
atual - controlada pelo Estado foi construída pela (,onforme descreve Libâneo (1998), há uma educação
-
conquista do ensino realizado no lar e do ensino pro_ rrão intencional, informal, que se refere às influências do
movido pela lgreja. rneio natural e social sobre o homem e interfere em sua
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2'l'^Ril.-Asr.tÍrtrtsil)r(^(r()N^rsr^sntt()lrM^s11 rNsrN(rr rr\r,rAN(r\r rr*rra/rs ( ()Nsllt,(^(, tr^ ts( ()t^ t,ltltlt( Al I lMl,^\sls
^ ^vAN(.(,\

relação com o meio social. Com«r cxcnrplos clessa


m« social, ecol<igico, físic«l c ctrlrrrral àrs tltrais o lttllnctn
lidade educativa, podem-se citar os c«rstumes, a reli
t'stii cxposto.
as leis, os fatos físicos (p. ex. o clima), as r
ideias vi A cclucação não formal é intencional, ocorre fora da
na sociedade, o ripo de governo, as práticas das
famíli cscola, porém é pouco estruturada e sistematizada.
etc. Tâis fatores ou atos, nem sempre consciente r A educação formal é também intencional e ocorre
intencionais, não institucionais, não planejados,
assi ou não em instâncias de educação escolar, apresen-
máticos, envolvem tudo o que impregna a vida
soci tando objetivos educativos explicitados. É clara-
como o ambiente e as relações socioculturais, e
nrente sistemática e organizada.
sobre a formação das pessoas. Esses elementos
estão prci Uma modalidade náo é mais importante do que a
sentes também nos atos educativos intencionais.
()Utra, uma vez que se interpenetram. Todas ocofrem
IJá, ainda, a prática educativa intencional, que sG
rrir vida dos indivíduos e, precisamente pela importân-
divide em educação não formal e educação formal.
 , ia das práticas educativas informais, há a necessidade
prâtica educativa não formal diz respeito às atividadel
,lrt educação intencional, sobretudo a formai, escolari-
intencionais em que há relações pedagógicas corn
rircla, a fim de alcançar ob j etivos preestabelecidos.
pouca sistematização ou estruturação, como ocorre
not
movimentos sociais, nos meios de comunicação
de
massa, nos locais de lazet como clubes, cinemas,
2. A educação escolar
museus. Apesar da caractetística de baixa sistematiza.
ção das intenções, a educação não formal intercambia A escola, em sua forma atual, surgiu com o nasci-
frequentemente com a educação formal. Esta se
Catac. nrento da sociedade industrial e com a constituição do
teriza por ser institucional, rer objetivos expiícitos,
Iistado nacional, para suplantar a educação que ocorria
conteúdos, métodos de ensino, procedimentos didáti_
nafamíliae nalgrela. Ganhou corpo com base na cren-
cos, possibilitando aré mesmo antecipação de resulta_
ça do progresso, sendo beneficiária da educação dos
dos. Tâl modalidade educativa não ocorre apenas
na lromens e da ampliaçáo da cultura.
escola, local típico desse tipo de educação, mas
ram- Na Alemanha do século XVII, em decorrência da
bém em locais em que a educação for intencional, expansão do protestantismo, as escolas buscavam uni-
estruturada, otganizada, sistem atizada. Como exem-
versalizar o ensino elementar a fim de instruir o povo
plos, há a educação de adultos , a educação sindical,
parà a leitura da Bíblia. Na França, no mesmo perío-
profissional, ainda que ocorra m forada escola.
do, as escolas públicas visavam à instrução religiosa, à
Resumindo:
disciplina e ao ensino de trabalhos manuais, tornando-
o  educação informal, também chamada de não
-se agências de formação de empregados Püa o comér-
intencional, refere-se às influências do meio humãàl
cio e a indústria. Essa tendência provocou o início da
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2^l'^R',-AsI.tÍrt«nsil)r.,(^(r()N^r\r^slrr()RM^§11
rN§rN(rrr^r,rAN.\rrr*rr{r,rr\
( ()N\rlU(^() I)^ ls( ()l^ P(ltilt(^: r tMr'^ssls
^ ^v^N((t\
ruptura com o ensino ministrackr
lrclos jcsuítas, o q ll. Diferentes concepções
tinha catáter escolástico, com ênfase no latim, na
cle educação escolar
rica e no estudo dos clássicos. Os jesuítas resistirtrm
revolução científica em curso na Europa.
Âs concepções de educação escolar referem-se a
No século XVIII, das revoluções burguesas e rh'trrrninados modos de compreender as modalidades
Iluminismo, ocorreram as primeiras tentativas de u
,h' r',ltrcação, as funções sociais e pedagógicas da esco-
versalização do ensino sob a responsabilidade
lrr, os «rbjetivos educativos, as dimensões da educação,
No século seguinre, com a trbanização acelerada e rr,, olrictivos de aprendizagem, o currículo, os conteú-
desenvolvimenro do capitalismo indus ttial, a ,h,s c rr metodologia de ensino, as formas de organiza-
mai
complexidade do trabalho exigia melhor quali r,rro t' gestão. Sendo a escola uma instituição social, é
da mão de obra, fazendo com que o Estado rrr.r t'ssário sempre considerar que as concepções estão
intervi
na educação para estabelecer a escora elementar v rrrr u ladas a necessidades e demandas do contexto eco-
uni
versal, leiga, gratuitae obrigatór ia ante a exigência rronrico, político, social e cultural de uma sociedade e
novo quadro técnico-industrial. Ela passou a rr rrtcfess€s de grupos sociais. A dependência da esco-
ser ele.
menro de homogeneização cultural e de contribuição l,r crn relação à dinâmica social levaa ressaltar, na for-
para o exercício da cidadania, enfim, uma institui rnirção de professores, a importância da determinação
cheia de poderes. A ideia de escola pública e
obrigató. ,lt' scus objetivos e funções, pois disso decorrem as
ria paru todos data dos séculos XVIII e XIX; 1,olíticas educacionais, as formas de conceber o funcio-
em quase
300 anos, inúmeros estudiosos tentaram entender e niunento da escola, as orientações para a formação de
explicar a otganização social capitalista e essa sua lrr'oFessores, as orientações curriculares e as formas de
importante instituição. ,rvirliação no âmbito tanto do sistema de ensino quan-
 consolidação do capitalismo reforçou a convicção tr» cla aprendizagem.

de que a educação podia ser mecanismo de controle Uma das primeiras iniciativas de classificação das
social. Ela foi recomendada pelos teóricos da r oncepções de educação foi realizada por Dermeval
economia
política liberal do século XVIII como forma de Suviani, ao identificar na história da educação brasilei-
tornar
o povo ordeiro, obediente aos superiores. Adam Srniú rir cinco tendências (Saviani, 1983;2008), descritas a
justificava a necessidade de educação scguir. A tendência huntanista tradicional abrange a
em consequência
da divisão do trabalho. paru ele, o Estado deveria ;rcdagogia catílica- cuja presença no Brasil vem desde
«rs jesuítas - e outras correntes formuladas entre os
impor a toda a população certos aprendizados míni_
sóculos XVI e XIX, nas quais se destacam as ideias de
mos: leitura, escrita, cálculo, rudimentos de geometria
(,omênio e Herbaru Essa concepção representa o que
e de mecânica. Tudo deveria ser dado
em doses homeo_
sc conhece como pedagogia tradicional, centrada no
páticas, conforme as necessidades do capital.
238 conhecimento, na formação intelectual, na autoridade
2n Í'^Rr[ potírttns u)r,(^(r()N^rs,
-As Rr.r()*M^s r)r.rN\rN() r (]\ r,r^N(,\ r r)nrr{r^als  r oNilRtrr.Ârl t)^ t\(()t^ p(lut(^: Av^N((rs I tMtr ss[s
^s
il
I \'r
do professor. A tendência ltnraani.çla utoclerna abrt ,,rr,r t trlraciclacleclc, contrir(l itoriirnrcntc, contribuir
várias correnres originadas na filosofia com base
l,,rrir ir trernsformação cla rcaliclaclc. Iiinalmente, a.ten-
visões de homem voltadas patu a existência human[,
tlrtritt lialítica surge como Llma concepção que supera
vida e a atividade, resulrando numa pedagogia cen rr\ r l('Ínuis, destacando as possibilidades transformado-
da na ciança. Ela surge na segunda metade do rrr.. rlir cducação em meio às contradições da sociedade
XIX, na Europa e, depois, nos Estados Unidos r rrlritulista. A favor dessa posição, o autor ressalta a
JphqD_.yçy, inspirando por volta dos anos 20 do rrrr t'ssidade de a classe trabalhadoru apropúar-se, por
lo XX, no Brasil, o movimento da Escola Nova, q rrrlio cla educação e da escola, do saber sistematizado,
atinge seu apogeu na década de 1960, quando
l,ott,ncializando sua capacidade de organização, rci-
difundem também as ideias de Jqln piaget. A vrrrrlicação e pressão. Decorreram dessa tendência a
cia tecnicista foi introdu zida por volta de i 96g na pol
;'r'rlrrgogia histórico-crítica, formulada pelo próprio
tica educacional do regime militar, dando ao ensi l)r'rmeval Saviani, e a pedagogia crítico-social dos LIBÂNEO, Iosé Carlos.
brasileiro uma orienração sistêmica e tecnicisra, , orrtcúdos, deJosé Carlos Libâneo, ambas surgidas por
D emo cratizaç ão da es co la
públiru: a pedagogia crhico-
da em princípios positivistas como racionalidade, volta de 1,979. tocial dos conteildos. São
ciência e produtividade, com forte peso na fo Paulo: Loyola, 2010 (1"
()r-rtro estudo sobre as tendências pedagógicas no edição:1985).
récnica e no ensino profissionalizaote. Duas leis llrrrsil foi elaborado por libâqeo (2Q10). qrle {iy!4iu qs ]

represenrarivas dessa orienração, a Lei no >.SiOttiíl


1,t'tlagogias modernas entre liberais e progressistas. Às
e a Lei n" 5.6921I91l. A tendência crítico_reprodutiuisii,
;'t'tlagogias de cunho liberal aglutinou a pedagogia
identificada em boa parre como posição críticaao rec. tlirtlicional, a pedagogia renovada e o tecnicismo edu-
nicismo, reúne teorias concebidas no contexto da edu. rrcional; às pedagogias de cunho crítico-progressista
caçáo europeia, ganhando muita notoriedade no Brasil ,rssociou a pedagogia libertadora (iniciada com Paulo
por propiciar uma análise crítica da educação na socie. lircire), a pedagogia libertária e a pedagogia crítico-
dade capitalista. Essa tendência apresenrou_se em trê§ social dos conteúdos. A classificação de Libâneo bus-
teorias: a) teoria do sistema de ensino como violência , oLr traduzir as tendências formuladas no estudo ante-
simbólica, formulada por Bourdieu e passeron; b) teo. rior de Saviani numa linguagem pedagógico-didática,
úa da escola como aparelho ideológico de Estado, de r om base nas práticas de ensino efetivamente operadas
Althusser; c) teoria da escola dualista, formulada por nirs escolas.
Eaudelot e Establet. Saviani reconhece o mérito dessas Os dois estudos mencionados situam-se no âmbito
teorias em destacat a rclaçã.o entre a educação e o ,las pedagogias modernas ou ciássicas. Numa direção
processo de dominaçáo na sociedade de classes, mas .lifêrente, começou a difundir-se na Europa e nos Esta-
considera-as "reprodutivistas", no sentido de terem Unidos, entre os anos 1980 e 1990, um pensamen-
.l«rs
restringido a educação ao papel de replicadora das rela_ to crítico em relação à educação "moderna" provindo da
ções sociais capitalistas de produção, desconsiderando lcnovação, na Inglaterra, dos estudos em sociologiada
240
2^ P^Rrt As polhtcirs tr)u(^(:r()Nlrs, Â r olrttttt Àtl l,A ls(()l^ Pt.,lil.l(^: I lMl' ssts
- R[r()[M^s r)r rNsrN() r r)\ r,r^N()\ r r)rRr rRr/rs ^v^N(()s
^s

educação, de certa forma também associada a ll,rlroraçõcs cla tcoria crtrrit'rtlirr t'rítica c clo pensamen-
"pós-modernas". No Brasil, no início dos anos I ro lrris-moderno.
desenvolveu-se a sociologia críticado currículo As tendências relacionadas às funções da escoia
e Macedo, 2OO2), influenciada por aurores e rrlrl'r'scfltâÍD-se hoje bastante difusas, no âmbito tanto
(M. Young, entre outros), norte-americanos (M. ,lir itrvestigação quanto da prática escolar. Contra um
rrrrrlclo de escola tradicional, geralmente criticado
l
\-. .
e H. Giroux, enrre outros), com contribuições
--=D
da
tia crítrca da Escola de Frankfurt e da teoria soci 1,r'lir maioria dos educadores e intelectuais, desenvol-
ca francesa (Foucault, Derrida, Deleuze, Morin, en v('u-se a ideia da escola comPreensiva, baseada na rei-
outros). No final dessa década, alguns estudos em v rrrrlicação da obrigatoriedade escolar, da igualdade de
ria cútica do currículo passaram a incorporar enfoq o1r«rrtunidades, da integração social junto com a indi-
pós-modernos, formando uma perspecriva de virlualização. As concepções de escola, ao menos desde
preensão da educação sob múltiplos olhares, freq ;r scéIunda metade do século XX, têm girado em torno
temente com forte tom relativista e em confronto com ,lrr ideia de um ensino comum a todos e, ao mesmo
muitas proposições das pedagogias modernas, incluin. r (' n-r po, têm - se di ferenc iado conforme as caÍactetís ti cas

do as progressistas. Já.por voita do ano 2000, em mgig rrrclividuais, sociais e culturais dos alunos. Aligaçáo da
ao debate em torno da globalização e hibridização culi 1,r'clagogia com a psicologia e a sociologia
fez destacat
tural, surgiu o tema do interculturalismo, com a ques. rrs cliferenças específicas de linguagem) de aprendiza-
tão cultural impregnando fortemenre o discurso e a 1icm, de motivos, em virtude da origem social dos
alu-
prá,tica pedagógica. rr«rs, levando a postulações legítimas de integrar na
Entre os temas que demarcam hoje acríticaàs peda- r,scolarização exigências cognitivas e os processos
gogias modernas esrão a yelativização do papel dQ sociointegrativos e individuaiizantes. Há indícios, no
conhecimento sistematizado na educação, a ideia dos ('ntanto, de que essa tendêncta náo deu conta de con-
sujeitos como produtores de conhecimenro dentro de t iliar tais demandas com a garz;nti^de sólida formação
sua própria culrura, a rcjeição à ideia de uma cultura r r-rltural e científica por meio de formas eficientes de

dominante e a formas de homogeneizaçáo e domina- organrzaçáo do processo de aprendizagem. Aos pou-


ção cultural, a eliminação de fronteiras enrre os sabe-
(os, as missões sociais foram sobrepujando a missão
res por meio da interdisciplinaridade, avaloúzação da pcàagógica.
identidade cultural mediante a consideraçáo dadiver- No âmbito daprâtrcaescolar, as escolas continuam
sidade e da interculturalidade. Em face desses posicio- clirecionada;s p^ta quatro tipos de pedagogia: auadi'
namentos, alguns defensores das pedagogias modernas cional, a tecnicista, a nova ou ativa e a sociocrítica, esta
adotam atitudes de confronto, enquanto outros bus- assumida por várias correntes, entre as quais a peda-
cam possibilidades de rcavaliação de princípios peda- gogia crítico-social, a teotia curricular ctítica, a pers-
gógicos modernos, incorporando ao menos parte das pectiva do conhecimento em rede. A despeito de essas
242
2nl'^t, '-Asr'()rÍr(^srÍ)t,(A(r.N^r\,^,rnr(rrM^§r)r
rN\rN(rl ír\*^N()\r r)r*,lr//r\ Â r oN${ttr.^() tr^ ls(()l^ Pti$ll(^: I lMl'^§sls
^v^N(r)s

peclagogias ganharem hojc cliíL,rcrrrcs


clcsigrraçilet ll rr irris. Ncla não sc t'xt'ltti it (ritttstlissão dc conheci-
formas de atuação, na
çtráúca cscolar tenclern it mrt lr('ntos, mas se consiclcrit nrais irnportante aotganiza-
ter-se as orientações teóricas e práticas
das peclagog rrtro (lo nmbiente de aprendizagem para que o aluno
clássicas. Tem sido muito comum,
também, Lrma m
1r,ssrr clesenvolver sua própria atividade de aprender.
tura de concepções curriculares e metodológicas,
lr.,sirs cscolas, em geral, assumem a orientaçío cons-
nas escolas quanto na cabeçados professores.
rrrrtivista inspirada em Jean Piaget, ou a orientação
A pedagogia tradicional e a tecnicista são
mais 1,r'rlugógica de Vygotsky, ou ainda uma mistura das
vencionais e politicamenre conservadoras.
 primei rrlt'ius desses dois psicólogos, aplicadas de modo
centra-se na mera transmissão de conteúdos
e na lr;rsturte ambíguo e frequentemente equivocado. Em
ridade do professor, rendo ainda forte
presença ,lt't«rrrência de uma espécie de encolhimento dessas
escolas de todos os níveis de ensino,
tanto públi l,r'opostas pedagógicas, vem-se difundindo, desde os
quanro privadas. A pedagogia tecnicista,
parenre l: ,rrros 90 do século XX - por forte influência de orga-
xima da tradicional, esrá também associada
à tra rrismos internacionais que formulam as pautas das
missão de conteúdos, mas põe um peso
forte no rllrrções entre educaçáo e economia, sobretudo Para os
desenvolvimenro de habilidades práticas,
no sabe! 1,rríses em desenvolvimento -, uma proposta de escola
fazer. Nesta pedagogi
a, não é o conteúdo da formaçi[o lrrseada, por um lado, no suprimento de competências
científica que imporra, mas cerra formação
técnicc rr r ínimas para sobrevivên cia na sociedade da infor-
suposramente mais afinada com as necessidades ^
do rrração e do consumo e, pof outfo, em estruturas de
mercado de trabalho. Entre os aspectos
que arraem ot ,rt olhimento e integração social. Trata-se de escola que
pais está a formulação de conteúdos
por especialistas 1,r'ivilegia a organização do ambiente escolar paÍa a
nas disciplinas (frequenremenre na
forma de ,.pacores,, rrrtegração social, deixando em segundo plano a preo-
curriculares) e a ttilização de técnicas
mais refinadag r trpação com o ensino dos conteúdos e com o desen-
de transmissão, incluindo o computador
e as mídias volvimento cognitivo dos alunos.
em geral, os quais resultariam num
suposto ..alto nível Âs pedagogias socioctíticas, por sua vez, propõem
de ensino" que, no enranro, não é atingido,
por faltar irssociar ao ensino-aprendizagem a responsabilidade da
a essa escola sólida formaçio cultural
e científica. t'scola perante as desigualdades econômicas e sociais,
A pedagogia da Escola Nova, hoje representada intelectual
itjr-rdando os alunos em sua pteparação e
principalmenre por escolas e professores
que adotam cm sua inserção crítica e participativa na sociedade.
uma visão construtivista, é preferida por
pais preocu- Atualmente essas pedagogias incorporam as preocu-
pados com a formação humana de
seus filhos, baseada
1>irções com o meio ambiente, com os problemas da
na confiança fia natateza infantil, em
seus interesses e vida urbana, as questões socioculturais e as diferenças
ritmo de aprendi zagem. De certa fotma,no Brasil,
essa cntre as pessoas. Teóricos e educadores com posição
pedagogia conrinua sendo assumida peias
políticas cútica nem sempre conseguem boa articulação entre a
244
2^ lhtttt, t'.tírt«rts fi)r,(^o()N^rs, rr ,\
-As nr()RM^s rNsrN(r l rlr^N(r\ r nrR,*r/rs
^s  <rrlstttrqÃo tr^ t§( ()lA t,t,ttlt( A: Av^N(()§ I tMt^ssts

exigência de domínio dos corrrcúckrs cienríficos e


r nn.,rrk.r'ar cluc não há incompatil>iliclaclc cntrc rr al)rcn-
relações socioculturais que permeiam a vida esc
rlrr,r1lr,lrr clos conteúdos científicos associaclos aos pro-
Alguns tendem a valorizat mais a convivência soc
I r',.\(,s «lc pensamento e a incorporação, em suas aulas,
as experiências sociais e culturais dos alunos, e
rlrr r,x;x,riência sociocultural e subjetiva dos alunos vivi-
os conteúdos formais; outros, ao contrário, ent
rlrr rrir Íirmília, na comunidade, nas mídias, nos locais de
que a formação cultural e política implica tanro o
lrtrr'r' r.rC., articulando o conhecimento científico e o
senvolvimento cognitivo pela construção de concei l
r nrrlrccimenro cotidiano e local.
quanto a interface com os conhecimentos cotidianot
I Jrrra escola para ajustiça social poderia, enrão, ser
locais como condições paru a formação da cidadania
f 'r'nsir(la como a que provê "xtrna escolarização igual para
de busca de formas de ação e intervenção na t
trr 7'ilrt.s clderentes, por meio de uru carrículo curtnr-:,, (Sacris-
mação da realidade.
trtrr, 2000). Para ranto, faúa jus a seu senrido demo-
Um ponto de vista
pam. a superação desses di
r r,rr i('o, proporcionando aos alunos:
propõe a admissão do papel essencial do ensino na p
moção do desenvolvimento cognitivo e social dos al rr) ;rjLrcla no desenvolvimento de suas competências
nos, com base nos conteúdos e na formação das r ognitivas, isto é, no aprender a pensar por meio
z

mentais ligadas a esses conteúdos, em associação .l«rs conteúdos para desenvolver poderes de reflexão,
suas experiências socioculturais concretas. para cu irn:ílise e atuação;
prir propósito, a escola de hoje precisaria
esse l') trlxrrtunidades de preparação paru sua inserção na
a exigência de apropri ação da cuitura e da ciência, vicla profissional, com uma postura cútica;
desenvolvimento das competências e habilidades , ) :r,uda no desenvolvimento de capacidades de refle-
nitivas e, ao mesmo tempo, a moúyação do alu xão sobre sua própria subjetividade e sua identida-
como sujeito da aprendizageme integrante de con rle cultural;
tos e práticas socioculturais. Teria como papel ,l; olrortunidades de aprende r a fazer escolhas morais
mediadora cultural e científica, isro é, promorora com discernimento, isto é, aprender a pensar e a
mediações cognitivas como instrumento para o d aruar eticamenre de modo a formar um código de
volvimento do pensamento. O currículo e as práti ótica consistente com valores humanistas e demo-
escolares deveriam prover os conteúdos científicos cráticos;
e
ações mentais a eles associados r') meios de compreender e apreciar experiências esré-
- voltados para a inte. ticas e participar em atividades criativas.
rioúzação de bases conceituais para lidar com a reali-
dade -, sem descaÍtar a motivação do aluno, suâ Em síntese, os educadores compromissados sabem
subjetividade e conrextos e práticas da vida cotidiana. (lLre a escola continua sendo reivindicada pelas cama-
Os professores que atuam na educação básica poderiam ,las populares e que é preciso que os poderes públicos
irssegurem os investimentos financeiros necessários não
246
As porírtcts IDU(^floN^rs, As ltÍr()LM^s t)[ [NstN(,
A <'<lttst ttttçÀo t)^ Ís( ( rt pt)Bt t( rs I lMl',tss[s
2^ PARrE I ()\ Pl^N(»\ r Dilr rRr/t.s ^ ^t ^v^N((
-

apenas Paru o acesso a ela, mas também para a pcr r por elas constirr"rícla. Em
orrst itr.rinte dessas relações e

nência nela, usufruindo de um ensino de qualicl r,rzio clisso, a educação deve ser compreendida como um
Com isso devem ocupar-se as concepções de ed r,ur)lx) social de disputa hegemônica, portanto, um
esc-ol4r," Há efetivamente um desgasteda ideia-de escl í'\l)irço de luta e contradição, uma vez que reflete apú-
la, em parte por causa da histórica desvalorização 1'r'iir constituição da sociedade. Desse modo, cada socie-
educação por poiíticos e dirigentes, em pafte por r lirtlc, tendo por base as classes e grupos sociais de que é

da dificuldade dos educadores em desempenhar r onrl)osta, estabelece e otganiza um sistema educacio-

papel de educar e ensinar. Mas a escola é uma institu rrirl para cumprir determinadas finalidades sociais.
ção social, movida pela atividade humana. Esse ca Ao longo da história de constituição dos sistemas de
histórico - portanto, mutável - pode ser percebi r,rrsino em determinada sociedade, a educação foi sendo
nas experiências pedagógicas progressistas e exi
1x'rrsada como um projeto social que respondesse à
de muitos profissionais da educação, comprometi ,lt'mandas ou necessidades estabelecidas pelos grupos
politicamente com a escola pública e adeptos de u ..rx iais ali hegemônicos. No caso das sociedades de orien-
e{ucação promotora da emancipação humana. A acele.
t capitalista-liberal, são encontradas várias
irção fi nalida-
ruçáo e a intensificação das mudanças que a sociedade
,lt's para a educação escolar, entre as quais:
experimenta no presente têm trazido novas expectati.
vas em relação à escola, fazendo-a buscar transforma. ir) garantir a unidade nacional e legitimar o sistema;
ções não apenas por meio das políticas públicas, mag lr) contribuft para a coesão e o controle social;
sobretudo em seus aspectos pedagógico, cultural,.tec. r ) reproduzir a sociedade e manter a divisão social;
nológico e metodológico, na perspectiva de constituir.
r l) promover a democracia da representação;
-se efetivamente como promotora de uma educação
r') contributÍ pata a mobilidade e a ascensão social;
popular de excelência.
í) apoiar o processo de acumulação do capital;
g) habilitar técnica, social e ideologicamente os diver-

4. A construção da escola pública: sos grupos de trabalhadores para servir ao mundo


finalidades sociais e polÍticas e do trabalho;
organização curricular e pedagógica lr) compor aforçade trabalho, preparando, qualifican-
do, formando e desenvolvendo competências para o
Numa perspectiva sociocrítica, a edtcação é pr6'tica trabalho;
social ampla e inerente ao processo de constituição da i) proporcionar uma força de trabalho capacitada e fle-
vida social, alterando-se no tempo e no espaço em razáo xível para o crescimento econômico.
das transformações sociais. Ela se dá nas relações sociais
que os homens estabelecem entre si, nas diversas ins- Por outro lado, educadores interessados em um pro-
tituições e nos movimentos sociais, sendo, portanto, jcto educacional voltado para os anseios da maioria da
248
2^ P^Ril p()rÍil(^s il)U(^il()N^ts, tit()t{M^s t,l tNstN() I (,\ I't^N(,\ I tIlilil{t/ts
-As ^s A rrlrustnrr.Ào t)^ ts( (rt A pt,lil t( I tMt, ssls
^: ^v^N(o\

sociedade buscam ourros propírsit«rs para a ed vÍ'l ( lu(.rlcvcm ser concebidos c<lmo agcnres traursÍirrma-
tais como: ,Lrlls ,la rezrlidade em que arllam. Cabe assim aos diri-
a) transformar a sociedade, de modo a eliminar as di llr,nr(.s cscolares, professores, pais e comunidade assumir
,r r ( )nstrLrção da escola por meio do projeto
político-peda-
sões sociais estabelecidas;
lloriito (PPP), parao que se fazemnecessárias aafticüla-
b) desbarbarizt a humanidade no que concerne a
conceitos, a formas de opressão, ao genocídio, à v !,r() ('ntfe os diversos segmentos que a compõem e a
r rirrçã«r de espaços e meios (mecanismos) de parúcipação,
lência, à tomura, à degradação ambiental etc.;
,k, rrrodo que a gesrão democrática esteja em função de
c) conscientizar os indivíduos, tendo em vista a
jct ivos educacionais. Por sua vez, a escola com quqli-
ção de sujeitos críticos, autônomos e emancipados; 'lr
,l,r.lt' social é a que define como sua finalidade social a
d) desenvolver uma educação integral, que favoreça
lrln)ração cultural e científica dos educandos mediante a
pleno desenvolvimento das potencialidades huma
,rl,rir1rriação dos saberes historicamente produzidos pelo
e) apropriar-se do saber social, que permita uma
rorrjunto da sociedade. Nesse processo de apropriação,
Iização ampla da cultura e a apreensão dos conheci
rlu(' envolve o trabalho dos professores e os meios e
mentos e saberes historicamente produzidos;
r('( rrrsos pedagógicos necessários, os alunos desenvol-
f) formar para o exercício pleno da cidadania.
v('rr) os conhecimentos, habilidades, atitudes e valores
Nesta segunda perspecriva, a educação deve rrrrl',rescindíveis para a vida produtiva e cidadã, consi-
compreendida como um direito universal básico , k'rrrndo as transformações em curso na sociedade con-

como um bem social público, condição paÍaaemanci tlrnçrorânea.


paçío social. Deve ser concebida, portanro, no cont l>araaefetivação da qualidade social da educação esco-
to de um projeto amplo de inclusãosaÇiêl, em que bastam, no entanto, ações voltadas para custos e
l,rl. não

contemplados os interesses da maioria da população, rrsumos - 9ue, sem dúvida, são indispensáveis. A pro-
implicando a conquista da democracia e da qu4lici nrtção da qualidade implica considerar ourras dimen-
social. A inclusão social aponra patua necessidade de rr)t's que afetam os processos educativos e os resultados

constituição de um estado social deruomáticl qlre àtua lstolares, como é especialmente o caso dos fatores
_in-
trucscolares. Se a escola rem por finalidade a apropriaçãà
meio de políticas públicas, sociais e educacionais favo-
, krs saberes sistematizados e o
desenvolvimento de capa-
recedoras dos processos de emancipação desejados. Os
r iclades intelectuais, sua atenção deve voltar-se paÍa a
sistemas de ensino, as escolas, os gestores, os professo-
,rprendizagem dos alunos, a qual depende não apenas da
res, os alunos e a comunidade escolar em geral são
fun-
rrrcdiação do ensino, mas também da consideração do
damentais nesse processo e, portanto, precisam ser
( ontexto socioeconômico-cultural dos estudanres,
envolvidos no estabelecimento de programas, projetos das
('xpectativas sociais das famílias, dos processos de or-
e ações que afetam a produção do trabalho escolar, uma
y,tnizaçáo e gesrão da escola, da participaçã.o efetiva
250
2^ P^x, r(rN^r\,
-As,rtrtttits,rJ(^( ^\
r{r(rr{M^§ r)r rN\rN() r (r\ *^N(r\ r rr*r*r./rs ( ()Nutt,(,A() tr^ tu t,lA Flt{ltt Ai Av^Ní.(}\ I tMt,A\\t\
^
da comuniclacle, clas priiticas c.urricrrltrres
c pr(x I'r,lr'rr» t'rlucirci«lnal pretcncli«l«r. lirrr 1,irr.lrlr,l, ir (,ss(,
pedagírgic«r-clidáricos, das fbrmas
cle avaliação rrrrl'l.r r() 1rr«11'rriamente polírico cl() r'trrrít trlo, t1
do funcionamenro da escola como das aprencli: 1rrt,cis()
,rr',r(l.rri-lo também como umir rlucstão clc clircito cle
dos alunos.
r rrl,rrlirrria, pois todo cidadão tem de ser eclucado e
Os princípios norteadores da compreensão Clomo csrabclcce a I-Dll
cla rrl'r{rl)r'i'rt'-se dos saberes sistematizados produzidos (l*i
n,9.39411()96) em scu
cação escolar que acabamos de apresenrar an.2:'A tduuçio (...) trn
mostram tr,, r;rlnrcnte. Assim, o currículo escolar deve garantir porfnalidtdr o plrno
necessidade de articulação entre fatores
externos à rrrrr,r Íirrmação básica comum para todas as crianças, desenuoluimento do
e fatores intraescolares. Nesse sentido, ur4_-t-spe edumndn, seu preparo pard 0
llvr,rrs c adultos, o que implica igualdade de condições excrchio da cidadania ytt
fundamental no processo de construção a

da esc llil r1'1 1çg556 fOrmativO. quafficação para o


pública é a compreensão histórica do papel 1
»abalho".
do c A c,f-ctivação da relação enrre um currículo nacional
culo na organização do trabalho escolar.
De fato, l o ,lircito do cidadão de apropriar-se de conhecimen_
base nas exigências sociais, políticas
e econômicas rrf\ vcm tendo, nos últimos 30 anos, uma ttajetóúa
sociedade à educação escolar, são formulados
os obi I r,rst rrnre complexa. Com efeito, transformações
sociais
trvos, o currículo, as formas de ensino,
otganização r' ;'rrxlutivas provocaram modificações no papel e na
gestão. A seguir, são apresentadas considerações
so[> lolnrir de atuação do Estado, incidindo também na
a problemática da introdução
dos currículos nos sis rnrplcmenração de rútggp
mas de ensino e nas escolas. çurriculares. A crise do
rrro,lclo taylorista/fordista de produção e do chamado
A discussão em rorno de um currículo naci listirclo de bem-estar social, apaÍtir dadécadade 1970,
surge com a necessidade de instituir
a instrução públi. rrrrlrlicou novo regime de acumulação capitalista, cha-
ca no processo de constituição dos Estados
nacionait rrrrrrl«r de acumulação flexível, que tem por base maior
ocorrido enrre os séculos XIV e XIX na
Europa. O cur. ,lrslrrsão da produção e do consumo, visando à produ-
rículo nacional garuntiriaa unidade da
nuçao por meio mais-valia global. As mudanças no regime de acu-
,,,ro cle
da instrução dos trabalhadores, da aprend,izagem
da rrrrrlação, por sua vez, impulsionaram alterações no
mesma língua, da formação de valores
parrióticos, de nroclo de regulação, levando muitos Estados nacionais a
modo a arender a demandas sociais e produtiv",
Oi ,rssumir uma perspectiva mais neoliberal e gerencialista.
sociedade. Verifica-se, assim, que
a instituição dos No âmbito da educação, observou-se um movimenro
currículos esteve sempre associada a questões
de poder, rnundial, impulsionado pelos países ricos e pelos orga-
uma vez que era assunro ligado à soberania
de cada rrismos multilaterais, no sentido de reformar a educação
nação. Em ruzão disso, de tempos
em rempos os países t'ajustá-la às novas demandas do mundo do trabalho e,
necessitam implementar mudanças ou
reformas curri- t'specialmenre, aos novos perfis profissionais exigidos
culares a frm de interferir nos processos
de ensino- ;rla chamada sociedade ou economia do conhecimento.
-aprendizagem, tendo por base certo diagnóstico
das l)olivalência, multifuncionalidade, múltiplas comperên-
transformações da sociedade e cerra
compreensão do cias, flexibilidade profissional, empreendedorismo são
)\)
2^ P^RÍt p«ltíll('ns ilrt,(^(l()N^I', A <oNslttit,Âo l)^ ts(()l^ t,t,llt( I
-As Ht()trM^s t» tN§tN() t (,\ HAN()\ t t)ilil illt/ts ^:
Av^N(()s tMt, \§ts

alguns dos termos usados para insrigar mudança^s No carso brasilciro, em conexão com as refbrn,as,y,
paradigmas curriculares e de formação, levando à ' uri( ulârcs, foi adotada desde o início dos anos IL)L)O a
nição das funções da educação em diferentes rrv,r I por influência de organismos
irrção em larga escala,
sobretudo nos perifrricos (currícuio, gestão, avali Irrr,rrrcciros internacionais. Com a rcalizaçío de exa-
formação e profi ssion alização docenre, fi nanciamen to), rrrrs/tcstes estandardizados, as escolas e os professores
No que se refere à átea de currículo, observa-se q ruto irrcluzidos a rcalizar seu trabalho em função das
em lugar dos currículos rígidos e mínimos para rlrlcrcntes matrizes curriculares de referência utiliza-
mercado de trabalho mais estável, se rornou r lrrs rárrâ a elabotaçío dos testes/exames. Assim, os tes-
f

instituir currículos mais flexíveis e com eixos rls/r'xtrmes passam a ser a referência paÍa o currículo, e
cos mais amplos e diversificados, tendo em vista n,ro os currículos básicos ou diretrizes curriculares,
mercado de trabalho cambiante e instável, que ,h'Íirridos nacionalmente, é que servem de fundamen-
manda alterações permanenres na formação dos t tn l)irra os possíveis exames. Há, portanto, uma inver-
1>edagógica nesse processo, pois se julga que os
lhadores e consumidores. Assim, o currículo ,,rto
voltado mais para o desenvolvimento de competênci lxiules são capazes de produzir mudanças mais acele-
e capacidades necessárias ao trabalhador polivalente rir(lirs na ptâttca docente e no trabalho escolar, tendo
flexívei, acarretando maior individual izaçáo dos suj nrr vista melhor rendimento dos alunos.
tos na responsabilizaçáo pelo sucesso ou fracasso llsse viés da avaliaçío também pode ser observado
ttajetóúa escolar e profissional. rrir vinculação crescente com a distribuição de recursos
No entanto, esse movimento de ordenação curri I'rihlicos e na adoção de políticas de remuneração
lar, quase sempre vertical, não se estabelece sem cr rkrt'cnte que associam incentivos financeiros a desem-
cas e resistências, o que muitas vezes inviabiliza l'('nl1o, imputando maior responsabilidade às escolas e
chamado currículo formal ou oficial, escrito ou professores pelo rendimento dos alunos e descon-
'r()s
crito, advindo das reformas curriculares concebidas rr,lcrando condicionantes históricos e objetivos pro-
implementadas pelos governos. O currículo em ,lrrzidos pelas políticas educacionais ou peia ausência
ou ativo (o que aconrece efetivamente na sala de a ,Lr Estado no cumprimento de seu dever de ofertar
e o currículo oculto (aquele que não é dito, embora lrrsino de qualidade a todos como um direito social.
catregado de sentido) tornam-se muitas vezes o c l)r'sse modo, são estabelecidas metas para o processo
culo real ou vivido no interior das instituições for ,lt' cnsino-aprendizagem, exigindo das escolas e dos
tivas, em dissonância ao currículo preestabelecido. 1'rofessores perfonnances compatíveis com metas decor-
evidências históricas mosrram que essa dinâmica r'('ntes da avaliaçio dos resultados.
concepção, implementação e avaliação das m Verifica-se também que as modalidades de avalia-
curriculares precisa ser mais bem analisada, conside. r,ii«r criadas segundo essa lógica competitiva contri-
rando os fracassos históricos das reformas curriculares. l,rrcm para maior seletividade e discriminação social e
254 255
2^ l'^Ril p()ríil(^s r.rx,(^(r()N^rs,
-As r{r()*M^s rr rN\rN, r r}r,rAN()\ r rrlilRr.írs

 « t»r.tstrut,Àtl t)^ ts( ()lA I'ultlt( I tMt, \\ts
^: ^v^N(.(r\
profissional, em preju ízo clc unra avuliação furnrarl
de caráter democrático, no conrexro de um si \'t ",r/r.\'ilidr d aquil)e elmlar na tarcfu tle tran.s.fbrtnação da
unitário ou nacional de educação. A regulação til,t t't(olds eru eicllds eficazes, de qrulidade",t)mavez que
r |sC r r tir sugestões de or ganização e opera cionalização
parte do Estado não deve ser sinônimo de c rr
I r

,1,r,, .liíL,r:entesetapas proposras, rencionando ser um


mas de democracia e emancipação, o que se deve
com a pafticipaçáo da comunidade escolar (equipe llnrir (llrs ações estratégicas das instituições escolares,
tora, professores, alunos e pais) na perspectiva da lrrilir (lue se estabeleça "o patarnar de desempenl)o qile
trução de aprendizagens significativas, tendo por l,t'rlt'uclem alcançar, nunt deterrninado prazo, mediante um
No governo Lula, o pDE
proiero político-pe dagógico da instituição escolar. ttilf lillo de oltjetiuos estraíégicos, metas e planos de açã0,
passou a ser denominaáo
PDE-Escola e sofreu Outro rema relacionado com as políticas ed ttilt rcipznsabilidade, prazos e custls definidos" (Brasil.
algumas alteraçóes em i
nais e o funcionamenro das escolas é o projeto l\'llr(./PDE, 1998).
relação à formulação
anterior. O Índice de
I

tico-pedagógico (PPP). O ppp é proposto com lrnplementado nas escolas públicas do Nordeste e
Desenvolvimento da r L r ( .cntro-Oeste, com recursos do Fundo de Fortaleci-
Educação Básica (Ideb)
objetivo de descentnlizar e democratizar aromada
passou a ser referência para a decisões pedagógicas, jurídicas e organi zacionais nu'nto da Escola (Fundescola) provenienres de emprés-
seleçáo dc escolas, ou seja, rrrr)os do Banco Mundial, o PDE apresentou-se como
destina-se às escolas escola, buscando maior parúcipação dos agentes
identificadas como de lares. Previsro pela LDBllggí (at. I2e 13) como
"
ltntra.r.ço gerencial d.e planejantentl estrdtégico, coordenado
atendimento prioritário,
posta pedagógica ou como proiero pedagógico, o p l,l,r liderança da escola e elaborado de rnaneira participati-
conforme o Ideb de 2005.
Antes de 2004, o pode significar uma forma de toda a equipe r',r fnla comunidade esczlar" (Brasil. MEC/PDE,1998).
atendimento era feito por
I Iá diferenças conceituais, políticas e pedagógicas
zonas de atendimento tornar- se cof responsável pela apt endizagem efetiva
prioritário e abrangia 384
aluno e por sua inserção na cidadan ia cútjca. lviclentes eÍrtre a proposta do PPP e a do PDE-Escola.
rnunicípios; depois, pass6u a
( ) PDE-Escola pode financiar proieros elaborados
abranger municípios arentaf para que o PPP esteia em pefmanente avalio{
egrupados por prioridades,
ção, em todas as suas etapas e durante todo o processor ;,r'lirs unidades escolares e aprovados por sua coordena-
variando de grupo I a grupo
(riro, tornando-se atraente patuas de menores recursos, ao
4. Para o enquadramento, a fim de garanúr o catátüdinâmico da vida escolar
l)irsso que o PPP não está vinculado a recursos propria-
são utilizados dois
indicadores: o Indicador de
todas as suas dimensões.
Disponibilidade Financeira A reforma educacional brasileira implementada nrcnte, mas, sobrerudo, às finalidades e oÍganização do
(lDF)eoÍndicede trirbalho na escola. No entanto, náohá, impedimento de
Capacidade Técnica (lCT).
partir da década de 1990 trouxe, no enranro,
Com esses novos critérios, o proposra do Banco Mundial para a gesrão da escola r
llre ambos ocorram nas escolas ao mesmo tempo, desde
progrâma passou a atender a
lr.rc se tenha clarczadeque todas as escolas devem rer seu
(
Plano de Desenvolvimento da Escola (pDE),
quase 3 mil municípios, eue visa.
com recursos na ordem de va "aunrcntar 0 deserupenbo da escola por rneio de un plane. l)PP, conforme a LDB, e de que o PDE-Escola é um ins-
1,3 bilhão de dólares. Fonte:
jamento eficaz" (Brasil. MEC/PDE trLrmento de planejamento esrrarégico-gerencial e, por
<http://wwwfnde. gov. br/ ,lggg). Baseado em ('sszl Íazão, não dá' conta de pensar a escola numa pers-
index.php/fundescola-
um modelo empresarial de administração, o manual
fi nanciamento>. Acesso em:
10 de2.2010. i 9() lrrr,
{o lDE aà e?o-cl dp Íeformas
épocl das retormas dos anos I99O "foi conce_ lnctiva mais ampla, ctíticà, democrática e cidadã nem
bido para ser prátrcq a"/aiíir;àà;r,.iinhrpor
objeti- l)romove a participação efetiva dos agentes escolares no
256 ( ontexto de uma gestão democrática.

257
 t tlHrllttt,Atl lr^ ls( (rl^ IL,ltll( A: Av^N(('s I lMl'^§sl\
2^ PARTI As potÍrtt,rs U)t,('A( t()N^ts, rat[()raM^s t)[ [NslN(, I ()\ pl^N()\ r Dilar ilil.rrs
- ^s

a apren-
Âlém disso, o risco que corrcm as escolas que t 1,t',lagírgictl c clrrrictt lrtr, .lt' ttttxl«r it asscgLlrar
balham somente com o PDE consiste na inter ,lizagem efetiva cle t«xlos os alLtn«rs, especialmente dos
administrativa externa, o que pode, com grande (
lu(' catecem de maior apoio pedagógico.
sibilidade, impedir ou mascarar o crescimento e As finalidades da educação escolar, bem como da
rrr'11arnizaçáo curricular e pedagógica, devem ser objeto
amadurecimento das unidades escolares na defin
professores, e
coletiva de sua forma de otganizar-se autônoma, l)('rmanente de reflexão das escolas e dos
gógica e administrativamente, algo que pode ser rriio somente dos órgãos do sistema de ensino como o
piciado pelo PPP. de Educação, o Conselho Nacio-
M EC, as Secretarias

A escola pública brasileira vem passando por m nul e os Conselhos Estaduais e Municipais de Educa-
r,ii<r. O currículo oficial ou escrito matetiahza-se por
ças, em um processo contraditório em que se j
aspectos positivos e negativos. Por exemplo, rrrcio da prática dos professores; por essa razão, eles
os anos 70 do século XX vem-se ampliando signifi .lcvem ser envolvidos permanentemente em sua for-
tivamente o acesso à escolarização, beneficiando rnulação e em suas estratégias de execução, em benefí-
tores excluídos da população. No entanto, a r io do conjunto dos alunos, sobretudo dos que mais

continuou a mesma de quando atendia às camadat rrccessitam da escola.

médias e altas da sociedade, grupos sociais que tin


poder de pressão sobre o Estado e, de certa formal
direitos já assegurados. Com a democratizaçáo do aces.
so e a não ampliação dos recursos para o ensino obri
gatóúo, as condições de funcionamento das escolag
tornaram-se precárias, a remuneração dos professores
caiu a níveis insustentáveis, o investimento na forma.
ção profissional dos professores foi insuficiente, afe.
tando irremediavelmente a qualidade do ensino. Desse
modo, a construção da escola púbiica brasileira é,
ainda, processo inacabado. Ações ligadas a fatores
externos ao funcionamento da escola, como o investi.
mento público na educação, a melhora substantiva do
salário dos professores, a revisão das diretrizes curricu-
Iares dos cursos de formação, entre outras, precisam ser
cuf-
associadas aos fatores intraescolares, tais como os
rículos, os processos pedagógico-didáticos, a garantia
das condições de aprendizagem e ensino e o projeto
258

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