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A República de Platão na tradição escolar

Por Maximiliano José Paim*

1. INTRODUÇÃO

Foi Platã o, o primeiro a escrever sobre o que consistia a filosofia, que também iniciou a tradiçã o de ensinar
os jovens em um ambiente distinto da polis, o meio pú blico. Afinal, foi ali, na assembleia, regido pela
democracia, que Só crates, o homem mais sá bio de Atenas segundo o orá culo de Delfos, foi condenado por
corromper a juventude e por pregar que os atenienses tivessem outros deuses. Diz Platã o na carta VII: “A
legislaçã o e a moralidade estavam a tal ponto corrompidas que eu, antes cheio de ardor para trabalhar para
o bem pú blico, considerando essa situaçã o e vendo que tudo rumava à deriva, acabei por ficar aturdido”.
Esse acontecimento fez com que Platã o, rico e nobre, o contrá rio de seu mestre Só crates, deixasse a vida da
polis e se retirasse para onde ele fundaria a primeira escola para ensinar, conforme suas palavras também
na carta VII, o seu ideal filosó fico: “Fui entã o irresistivelmente levado a louvar a verdadeira filosofia e
a proclamar que somente à sua luz se pode reconhecer onde está a justiça na vida pú blica e na vida privada”
(Abrã o, 2004). Em 387 a.C., surge a Academia.
A partir deste momento, Platã o poderia desenvolver o seu método de educaçã o dos cidadã os para a cidade
justa, de modo que nã o mais a reflexã o ficasse sujeita aos absurdos da prá tica democrá tica como ocorria
naqueles tempos. Segundo Manfredi, a cidade de Atenas, punindo pelo voto de condenaçã o à morte as
batalhas perdidas, acabou por perder toda a sua elite militar (Manfredi, 2008). Por consequências como
esta, possivelmente, Platã o procurou definir um saber correto, que fizesse com que os educados por ela nã o
conheceriam outra consequência que nã o o bem.

2. ÁREA DE CONCENTRAÇÃO: FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

O tema proposto parece ao autor de grande importâ ncia, haja vista a pluralidade de conteú dos existentes
que fazem da pessoa humana um indivíduo como que isolado da sociedade e agindo para nada mais que o
seu entorno. Em outras palavras, temos uma cultura desmanteladora do padrã o da sociedade coletiva, que
há pouco tempo ainda agia de maneira a observar o outro, e que produz o universo individualizado nã o tem
outro compromisso que nã o seja o de produzir a si mesmo e ao seu mundo particular.

Optou-se aqui pela visã o grega antiga do que chamou Aristó teles de animal político. O homem da
polis original nã o conhecia a subjetividade, nascida em Agostinho, e muito menos a individualidade, nascida
no iluminismo. Mas, em predominâ ncia, ainda temos o modelo de vida coletiva de sociedades, cujo modelo
está nos povos antigos que deram luz à polis, à vida política. Mais precisamente, há aqui uma tentativa de
elucidar o modelo de cidadã o proposto por Platã o para a sua cidade justa a partir da filosofia socrá tica, algo
que pode ser usado na educaçã o atual como emancipaçã o das visõ es de mundo conservadoras.

Platã o visitou um grupo de Pitagó ricos na Itá lia que estudava os nú meros de maneira exotérica, fato este
que contribuiu para a criaçã o da Academia. Qual foi a sua novidade entã o? Ele, conforme o critério racional
usado por Só crates, deu esse mesmo tom para o seu espaço. Espaço este que foi chamado por Foucault de
heterotó pico: ao invés do surrealismo da utopia, que significa não-lugar, o surrealismo da heterotopia, o
lugar outro, o lugar diferente, um ambiente que de fato existe na polis mas que possui regras pró prias e
cultura pró pria. Mas qual cultura? Ali, é permitido sim fazer, ou tentar fazer, o que Só crates fazia: o diá logo
e a investigaçã o por amor ao saber, ao conhecimento, sem o risco de ser condenado. Já que o filó sofo foi
preterido das ruas da polis, cabe educar o cidadã o nesse local heterotó pico, ainda que com o conhecimento
pelo conhecimento e sem o ambiente inseguro do pú blico, para que ele possa saber e usar efetivamente da
justiça promovendo assim a existência da cidade justa.

Hoje, sabemos da relativizaçã o do saber e da funçã o do professor preocupado com o ensino. Vivemos em


uma época em que os vídeos das mídias sociais educam mais que a sala de aula e que os livros. Isso significa
que existe muito campo a ser explorado por quem tem muito interesse em evitar a educaçã o emancipató ria
dos cidadã os.

Apple (2017), educador estadunidense, diz que


A opressã o é real; sistemá tica e estrutural; seu poder é profundo em nossas instituiçõ es e em nossa vida
cotidiana; há preços muito altos sendo pagos. Desafiar essas estruturas e relaçõ es econô micas, sociais,
culturais/ideoló gicas e afetivas pede que trabalhemos em muitos níveis e em muitos lugares; em todos os
papéis do processo. Alguns deles serã o histó ricos e conceituais, outros envolverã o trabalho direto com
estudantes e de maneira crítica.

O professor, portanto, tem um posicionamento fundamental na sociedade que é o de apresentar e preparar


o estudante nesta tarefa.

3. VIVÊ NCIA DO ESTÁ GIO


As visitas à escola ocorreram em três manhã s nos dias vinte e cinco de setembro e nos dias dois e nove de
outubro. Foram observadas as aulas do professor Raul Costa de Carvalho em turmas do ensino médio. O
professor usou de temas do cotidiano fazendo referência a filó sofos indagando os estudantes sobre se faz
sentido a maneira como se pensa os temas contemporâ neos inerentes à s vivências. Também foram
aplicados textos apó s as conversaçõ es que tinham a finalidade de completar a reflexã o do que havia sido
tratado.

Foi usado um questioná rio para o professor Raul e também para o professor, da mesma escola, Alexsandro
Resta, que pedia o posicionamento dos professores acerca de temas relacionados ao saber, ao ensino e à
formaçã o do cidadã o inserido em sociedade.

4. IMPRESSÕES DO ESTÁGIO (CONSIDERAÇÕES FINAIS)

Nas visitas feitas, percebi que ainda temos uma boa condiçã o de ensino em relaçã o ao interesse dos
estudantes e à motivaçã o dos professores e do corpo docente como um todo engajado na escola e na sua
situaçã o. Ainda é possível ser recebido com bons olhos pelos educandos e que eles anseiam por algo novo e
que os tire da zona de conforto.

No entanto, também é relevante a visã o de que o saber deve ser usado como meio, não de transformaçã o
social, mas como ferramenta para a busca da prosperidade individual. Felizmente, isto nã o é predominante.
A maioria dos estudantes ainda tem uma visã o crítica e quer usar esta posiçã o tendo embasamento num
bom ensino.

REFERÊNCIAS
APPLE, Michael W.; A educaçã o pode mudar a sociedade?. Petró polis – RJ: Editora Vozes, 2017.
ABRÃ O, Bernadete Siqueira; A Histó ria da Filosofia. Sã o Paulo: Ed. Nova Cultural, 2004.
MANFREDI, Valerio Massimo; Akropolis: a grande epopéia de Atenas. Porto Alegre – RS: L&PM Editores,
2008.

* Acadêmico do Centro Universitário Leonardo da Vinci

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