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TEATRO: O BOI DE MAMÃO ILUMINADO

Ouve-se música – Um bumbo e chocalhos


Pou! Pou! Pou!

Professora trazendo o estandarte identificando o grupo. Professora fala


através de uma corneta como um megafone.

Professora - Venham realizar a incrível façanha do famoso boi do Senhor


Mateus. Poderoso dono de muitos bois, mas este em especial toda a gente
deve conhecer. Um animal único. Dança, cabrioleia, pula, rola e é muito
assanhado. O boi parece uma coisa divina.

Chico – Professora esse boi vem de onde mesmo? Fico confuso só de pensar
que o boi dança.

Josefina – Vamos ensaiar logo, tenho que passar na venda do Toninho antes
de chegar em casa. A mãe pediu para levar pastel de camarão. Coisa boa né?

Maria – Esse boi divino dança? Ou somos nós que dançamos com o boi?

Joaquim - Professora mas de onde veio o boi dançador? E quantos bichos


fazem parte da coreografia completa.

Professora Rute– Nossa! Quantas perguntas? Vou explicar como o boi


apareceu. Antes de começar o ensaio com a coreografia. Temos que agilizar
porque tem aula de dança de rua daqui a uma hora com a professora Sônia.
Ela é pontual.

Josefina – Aquela professora mal humorada?

Professora Rute – Não fale assim Josefina. Vamos, sentem-se todos em


círculo e vamos começar. Acredita-se que em 1750.......

Narrador -........ 182 casais vindos do Arquipélago dos Açores, em Portugal,


iniciaram a primeira povoação das terras e das praias que ganharam nome de
santo: São José da Terra Firme. E eles trouxeram uma bagagem cultural rica
em crendices, receitas e lendas, surgiram histórias das mais belas até as mais
assustadoras, que foram transmitidas de pais para filhos. Se na Ilha de Santa
Catarina brotavam histórias de bruxas, lobisomens e boitatá, na terra firme de
São José também se perpetuaram lendas de gente muito religiosa que via
assombração.

Catarina – Mãe olha só o que eu fiz!(fica rodando com o boi de mamão)


Mãe – Nossa! minha filha, ficou lindo, seu brinquedo é igual ao boi que tinha na
ilha dos açores, só que este é diferente. É brincalhão e dançador. O dos açores
era muito perigo, chifrava as pessoas.
Francisco - É mãe, lá os açorianos amarravam o boi e ficavam intisicando o
bicho. Aqui estamos só brincando.

Catarina - Coloquei um mamão verde na ponta desta madeira. Agora vou


correr atrás dos rapazes. Olha o boi!!!!Olha o boi!! ( sai gritando pela coxias)

Francisco - Nossa que medo, o boi vai me pegar hahahaha! ( sai correndo)

Otília – Vem cá rapariga, vai escangalhar toda a tua roupa com essa
brincadeira de rapaz. Ôiôiôi. Não digo mesmo. Essas crianças inventam de
tudo né. Eu vou é fazer o almoço antes que o Manoel chegue da praia com as
tainhas pra escalar.

Manoel - ( Entra com os braços cheios de peixe). Olha só mulhe! Rebendeme


todo nas pedra hoje. Tô acabado. Sabes que lá na praia apareceu foi uma
bruxa, feiticeira. Tá todo mundo comentando.

Otília – Credo, cruzes. Então vamos recolher tudo cedo não quero ficar de
porta aberta quando escurecer. Se essas bruxas forem maldosas não sei o que
pode acontecer. Muito mal olhado elas tem para oferecer.

Manoel – Olha só! Até disseram que o boizinho de estimação do Mateus que
está doente foi embruxado.

Otília – Vou chamar a Catarina para casa, ela está brincando de boi, o boi que
ela fez com um mamão verde. Ôiôiôiô!!!

Narrador – As bruxas são as figuras principais de lendas e entre as histórias


mais comuns estão as de que elas assustavam os pescadores, roubavam seus
barcos e brincavam com as suas tarrafas. Contam ainda que uma de suas
diversões favoritas era dar nós nas crinas dos cavalos.
E em uma família de sete mulheres que nasceram consecutivamente, sem
homens no meio, também dizia-se que a sétima ou a primeira serão bruxas.
Para quebrar este feitiço, a mais velha tinha de batizar a mais nova.

( música de suspense, entram as bruxas rindo fazendo brincadeiras)

Bruxa 1 – Quem disse que vamos fazer o mal, está enganado. Nós somos
benzedeiras Hahahahahaha!!! Viemos de longe.

Bruxa 2 – As bruxas estão a solta, quem quiser se proteger que ascendam


suas velas. E fechem suas janelas.

Bruxa 3 – Mau olhado de fisura. Mau agouro vamos espalhar por toda a
comarca. Hahahhaha!
Bruxa 1 - Se tiverem crianças coloquem num banho de arruda. Antes que
fiquem doentes.

Bruxa 2 – Mas não se preocupem com seus dentes. Alguns podem até cair se
a bruxaria pegar. Mas alguns ainda vão alguns vão sobrar.Hahahahaha!

Bruxa 3 – Podem rezar, pois alguém nesta comarca nos chamou pra assustar.(
saem)

Narrador - O tema bruxaria suscita uma mescla de fascínio e temor. Deve


ser, como alerta o museólogo Gelcy Coelho, porque falar de bruxas
equivale a atraí-las, o que não é um bom negócio. Muitas benzedeiras já
livraram pessoas de problemas de saúde, ataques e maus olhados.
Crianças doentes que eram lavadas com banhos de alecrim, arruda, guiné
e sabugueira. Com poder mediúnico, a benzedeira frequenta centros
espíritas e se diz evangélica, mas acima de tudo trabalha pelo bem alheio.

(Cena com o Padre passeando na cidade)

Manoel – Bom dia seu Padre. Ontem a noite ouvimos os gritos das bruxas, e o
boi do Mateus ficou curado, acho que o boi é divino. Ou será que as bruxas o
salvaram.

O Padre – interferindo furioso: Pêra ai, pêra aí, pêra ai. Isto é um sacrilégio!
Dizer que um boi é divino? Tas tolo tas? Quem é o dono desse boi, seu ateu,
seu ateu, seu ateu. (Gritando aos pulmões plenos.)

Entra Mateus - Meu nome é Mateus sua excelência e não ateu. É Mateus como
o nome do santo apóstolo que tem uma águia como símbolo. Eu Senhor Padre,
tenho um boi de estimação que é mais que um irmão, mais do que um filho e o
senhor quer saber.

Padre – Mas isto é uma ofensa, endeusar um animal, ainda mais sendo um boi
que lembra mesmo é o demo. Vade retro satanás!

Mateus – Vade padre, vade que isto é para a nossa alegria e em louvor a São
João.

Padre – Te esconjuro e esse boi amaldiçoado ( vai saindo)

Mateus – Credo em cruz (benzendo-se) Diz que praga de padre pega. Deus
me livre. Os anjos nos guardem e nos protejam, mas sem boi eu não vivo. A
civilização se fez pela domesticação dos animais que geram riquezas para o
homem.

Xandóca – Olha só! nós vamos é comemorar a volta do boi do Mateus! Vou
chamar a Maricota, o cavaleiro, a bernúncia e todos os bichos do folguedo
para comemorar. Vai ser uma festança. E se foi as bruxas que ressuscitaram o
boi, elas também vão ser convidadas.
Mateus - Xandóca, não foram as bruxas que ressuscitaram o meu boizinho. Eu
chamei o Sr. doutor ele não conseguiu curar, foi então que o vaqueiro chamou
o Pai Adão. Ele fez uma benzedura e o boi se alevantou na hora.

Xandóca - Então vamos comemorar a volta do boi mesmo assim.

A Cantoria ataca avisando da presença da Xandóca e apresentam a primeira


música. Otília, Manoel e seus filhos. Saem todos ao som da música e volta o
círculo da sala de aula.

Professora Rute – Estão vendo que linda história, de crenças e heranças dos
antepassados. ( Entra a professora Sônia)

Sônia – Está no meu horário, preciso usar a sala de ensaios.

Professora do Boi – Sim claro! Só estou terminando de contar como foi o


surgimento da dança do boi de mamão.

Gerusa – Que dança mais chata, sem propósito nenhum. Isso é só uma
tradição dos manezinhos da Ilha de Santa Catarina. Aqueles que vieram lá de
Portugal para colonizar a Ilha.

Marinês – Não vejo nenhuma graça nisso. Ficar dançando com um boi de
mentirinha.

Chico – Chata és tu que não conheces nada da cultura de São José e de Santa
Catarina.

Professora do Boi – Não vamos brigar crianças. Acredito também que não
podemos gostar aquilo que não conhecemos. Mas convido a todos os alunos
da turma da professora Sônia a participar da dança do boi. Vamos fazer uma
apresentação em breve na praça.

Alunos da dança de rua – Não obrigada! Não.não.........

Sônia – Muito bem, agora vamos começar nossa aula. Tchau! Tchau! Clarice
vamos relembrar a coreografia da aula passada.

Clarice – Sim, claro professora. Vamos meninas fiquem em cremalheira. Agora


5,6,7,8.( fazem uma coreografia)

Sônia – Vamos repetir pelos menos 10 vezes. Até chegar a perfeição.


( Repetem tudo novamente, e vão ficando cansadas)

Soraia – Não aguento mais professora, tá muito puxada essa aula. Não sei até
quando vou conseguir.

Helena – Aiaiaiaiiiiii! Acho que torci o tornozelo. Tá ardendo.


Sônia – Mas que moleza, deixem de conversa. Vamos.....Vamos levanta logo..

Clarice – Vamos meninas temos que ser melhores que as outras turmas.
Nossa apresentação vai ser impecável.

Sônia – Deixem de conversa, vamos, vamos...... (batendo palmas) 5,6,7,8....

(depois de varias repetições termina a aula e as alunas saem cansadas)

Sônia – Até a próxima aula. Tchau.

Alunas – Tchau, professora.

Narrador - Na época da Primavera os açorianos tinham o hábito do Pão por


Deus. Crianças, por exemplo, mandavam bilhetinhos em forma de coração
para suas madrinhas para pedir determinado presente para o Natal. A pessoa
que recebeu o versinho precisava, então, dar o presente até o Natal, já que o
pedido era "em nome de Deus" e, se não fosse atendido, de acordo com a
crença, provoca o choro de Jesus na manjedoura.
Já os rapazes aproveitavam para pedir moças em namoro. Com a letra bem
caprichada, declaravam o seu amor.

Entram os alunos do boi cada um com um bicho e colocam no chão

Chico – Oi Maria vou ler pra você o versinho que eu fiz, é um Pão por Deus
que eu aprendi com a professora Rute.
"Lá vai meu coração Nas asas de uma andorinha
Vai pedir um pão por Deus À minha querida Maria
Que me dê um boizinho da cor de uma cotia

Maria – Ah! Eu também aprendi um, é assim oh!


"Quem tem cabra tem cabrito quem tem porco tem presunto mandai-me um
pão por Deus em nome de seus defuntos" 

Maria e Chico – ( ficam rindo, entra a professora)

Professora do boi – (Entra o boi em cena, fazendo brincadeiras) Olha o boi!


Olha o boi!
Estão vendo como o boi é brincalhão. Só tem que ter cuidado com a criançada
a volta. Mas na aula de hoje vou apresentar os outros elementos do boi.

Chico – Mas esse boi é iluminado. Que lindo! Nossa! Tô até tonto.

Josefina – Nunca pensei que o boi pudesse ser tão lindo! Que encantamento.

Maria – Mas o Boi do Mateus era iluminado assim professora?

Professora – O boi tem as características de sua comunidade, alguns são


coloridos, outros são de uma só cor. Nós vamos montar o boi do nosso jeito.
Joaquim – ( sai debaixo do boi) E o que são aqueles outros bichos ali.

Professora – Este aqui é a bernúncia, inspirado nos dragões chineses,


representa um monstro que engole criançinhas.

Chico – Mas é assustador professora.

Professora – Por isso é folclore, é uma tradição para divertir. E também tem a
Maricota. Uma moça alemã alta e desengonçada. E a cabrinha, o cavalinho,
urso, cachorro, macaco e muitos outros animais que compoem este folguedo.

Maria – Eu quero entrar em baixo da Maricota. ( entra em baixo e sai


dançando).

Chico - Eu quero o cabrinha.

Josefina - E eu vou ficar com a bernúncia.

Professora - Calma, calma. Temos que ter cuidado para preservar os bonecos
e bichos. Então vamos lá. ( E todos os bichos no salão ô cidade sim ô cidade
não)

Os alunos da aula de dança de rua vão chegando. Entram e ficam observando.

Helena - Oi professora Rute, que legal e animado. Não sabia que o boi era tão
lindo assim.

Professora - Sim as crianças adoram dançar e brincar com o boi.

Clarice - Mas será que podemos participar desta aula também. Precisamos
conhecer melhor nossos antepassados e nossa cultura.

Soraia - Se a senhora puder nos ensinar vamos ficar muito felizes.

Professora - Claro meninas. Será um prazer. Este fim de semana vamos


apresentar o boi de Mamão na Feira da Freguesia na Praça do Centro Histórico
de São José. Vocês estão podem dançar e brincar conosco.

Clarice - Mas temos que ensaiar com a professora Sônia. Ela é muito exigente.

Professora - Deixem que eu mesma vou conversar com ela.

Helena - Obaaaa! Vai ser muito divertido. Sem estresse.

Sônia - Boa tarde alunas. Ainda estão aqui professora Rute. Já está no meu
horário.

Professora Rute - Pois é. Gostaria de fazer uma proposta para você. Suas
alunas também querem fazer parte do Boi de Mamão. Então gostaria de pedir
você cedesse sua aula para nós ensaiarmos. Só hoje.
Sônia - De jeito nenhum. Também vou apresentar e preciso ensaiar.

Clarice - Professora nós precisamos relaxar um pouco, gostamos da sua aula,


mas estamos exausta com tantos ensaios e o boi de mamão é uma dança
muito divertida.

Soraia - Além de trazer muitos conhecimentos.

Helena – Por favor professora, o meu pé ainda está doendo da outra aula.

Sônia - Tudo bem, vocês me convenceram. Também vou participar e ajudar.


Tá na hora de valorizar nossa cultura.

Professora Rute – Daqui a dois dias será nossa apresentação.


Alunas da dança de rua - Obaaaaa! (batem palmas e pulam)

Narrador - O Boi-de-Mamão é um folguedo que envolve dança e cantoria em


torno do tema épico da morte e ressureição do boi. Esta brincadeira é
encontrada em várias partes do país, recebendo diferentes nomes. No
nordeste é conhecido como "Bumba Meu Boi" ou "Boi Bumbá", no Rio de
Janeiro como "Boi Pintadinho". Em Santa Catarina a brincadeira está presente
em quase todos os municípios do litoral com o nome de "Boi-de-Mamão". Mas
aí vocês já sabem porque né. Por causa da brincadeira do mamão verde

O Coro se espalha “ a Xandóca pedindo um dinheirinho no meio da platéia, e


vai... Olha minha gente quem vai contribuir, com um trocadinho. A
apresentação é de graça e hoje vocês vâo conhecer a história do boi. Daí, tem
um dinheirinho aí. Pra caxinha do boi né, meus queridos.

Professora Rute: Senhoras e senhores, meninos e meninas vejam só que


maravilha, chegou à hora de lhes apresentar o famoso boi Pimpão que sem
demora estará no meio do salão.

Mateus - Então, onde está o nosso boizinho? Mas antes quero apresentar uma
pessoa muito graciosa. ( Música da Moreninha)

Mateus - Que entre o vaqueiro com o queridinho, o nosso boizinho Pimpão.


Ainda mama, mas é muito bom. Venha de lá senhor vaqueiro. Chame logo o
bicho pro meio do salão.

(A orquestra ataca com versos solícitos para que o boi venha e entram o
vaqueiro levando uma vara comprida e fina contendo em uma extremidade
alguns cincerros, pequenas sinetas. O vaqueiro todo fagueiro faz mil
salamaleques de cumprimentos, reverências e padedes. Em seguida entra o
boi extremamente comportado dançando bonito brincando, sempre coordenado
pelo vaqueiro que é na verdade o pajem do boi e o altivo. Orgulhoso senhor
Mateus se pavoneia, leva uma pequena capa vermelha de toureador nas mãos
e habilidoso, realiza verdadeiras acrobacias com a capa e interage com o boi.
Mas de maneira bem serena, doce brincadeira cheia de música dança e arte
entre o boi, o vaqueiro e o senhor Mateus até que de repente, para espanto de
todos, o boi pifa. De repente, um tropeço, um tremor, um espasmo seguido de
espanto, muita tremedeira e o boi fica inerte. Acabou-se! O boi morreu...)

Mateus alterado e apavorado: O que foi que aconteceu? O que é que está
acontecendo? Senhor Vaqueiro diga logo o que foi que o boi comeu? O que foi
que o boi bebeu?
O boi está doente? O boi morreu?

Vaqueiro: Meu senhor Mateus, também estou desolado, com o que está
acontecendo com o boi Pimpão. Tive o maior cuidado. Isto que está
acontecendo só pode ser mal olhado!

Mateus: Tu achas que ele está embruxado?

Vaqueiro: Acho sim, pergunte pra toda esta gente se não é mesmo que o boi
está embruxado.

Mateus: Será mesmo boa gente, que este nosso boizinho Pimpão está
embruxado?

Bruxa 1 – (No instante passa como um raio com sua vassoura e gritando
indignada, sempre bem ligeirinha, elétrica indo de um lado para o outro e
bradava! )
Que coisa, que coisa, que coisa! Sempre onde alguma coisa dá errado, a culpa
é da bruxa. Que coisa, que coisa, que coisa.

Bruxa 2 - Não temos nada a ver com o pitafe desse boi. Só pode ser por causa
da praga do padre. Que coisa seus intrometidos. As coisas do além, não é pra
ninguém. Estas coisas do sobrenatural é só para os escolhidos que são
chamados pelas vozes misteriosas que pairam pelos ares.

Bruxa 3 - Que coisa! A culpa é de vocês que estão cheios de mal olhado.
Vocês me metem é um medo medonho. Que coisa, que coisa e que coisa. (sai
ligeira)

Narrador - Desde a aparição das bruxas, Mateus e Vaqueiro estão agarrados


ao boi como que para protegê-lo da bruxa. Ressabiados, rodeiam o boi não
permitindo a aproximação da bruxa junto ao boi. - Com a saída das bruxas a
cena ganha certa calma até que o Mateus como que acordando da hipnose
bruxólica começa a chamar por socorro.

Mateus bem assustado: Chame o médico. Chame o médico Vaqueiro,


depressa homem de Deus.
Vaqueiro: O Senhor Mateus o melhor é chamar um benzedor, o boi está com
mal olhado.

Mateus: Chame o médico de uma vez, já disse, chame o médico e que venha
bem ligeiro
Vaqueiro.

Só pode ser mal olhado, é doença espiritual, devíamos chamar o Pai Adão, é o
melhor benzedor e curador que existe.

Mateus - ( desconsolado só chora, ajoelha-se, reza, pede apoio para a platéia


para que façam uma corrente e em coro fazem um peditório. Mateus diz as
palavras e a platéia repete. )

Senhor são Francisco


Nossa Senhora do Rosário
Peça a Nosso Senhor Jesus Cristo
Que está em seu sacrário
Que ajude a este bicho
Ficar logo sarado
Senhor são João
Pedimos também
Para que o boi Pimpão
Fique logo bom
A promessa será paga
Com dança e muita comilança.

Xandóca - Senhoras e senhores, crianças e criancinhas olha quem vem pra


ajudar. O Senhor Médico.

O médico entra emburrado, o vaqueiro está contrariado.

Médico: O senhor me desculpe, não sou médico de bicho e não sou veterinário.
Sou médico de gente, médico de dar remédio de boca a baixo.

Vaqueiro: (bem chateado) acho melhor chamar um benzedor

Mateus: Oh Senhor doutor tem compaixão este é o meu bichinho de estimação


é como gente é como filho. Meu boizinho Pimpão.

Médico: Tá bom, tá bom, vou tentar diagnosticar para saber o que é que está
se passando.

Mateus: Ta muito mal, ta muito mal ta muito mal.

(O médico acompanhado do vaqueiro analisam o boi e se distraem em


conjecturas.)
Médico - Não tem jeito, este boi está é mamado. Vocês deram cachaça para
ele beber foi?

Vaqueiro: Não sinhozinho, ele bebeu foi é leite de vaca parideira.

Médico: Ninguém me engana, este boi está embriagado. Mamou mas foi na
cachaça, ele está mamado. É mesmo um boi mamão.

Vaqueiro: Não senhor, não. Ele esta é com um bruto de um mal olhado. Esta
com quebranto brabo de tanta gente a desejar possuir o pobre do boizinho só
por que ele é ensinado, porque é belo e dançador.

Médico: Pode ser, mas que está mamado da cachaça que chega a feder de
longe. ( sai com Mateus abraçado)

Vaqueiro: Não sinhozinho, ele não bebeu nenhum só traguinho. Eu sim bebi
um pouquinho.

O Vaqueiro aproveita a ausência de todos, chama um cachorro e o instrui para


cuidar do boi.

Música para o cachorro que fagueiro contorno o boi, cheira aqui e ao cheirar o
focinho do boi, cai pra trás e dorme. No momento urubus entram em cena.
Música para os urubus que rodopiam em torno dos dois e felizes com o repasto
e acabam bicando primeiro o cachorro que se acorda e corre atrás dos urubus
daqui pra li de lá pra cá até que surge o Vaqueiro trazendo o benzedor e
colocando todos em fuga.

Vaqueiro: Que lástima Pai Adão olha só o que aconteceu com o querido boi
Pimpão.

Benzedor: O bicho está mesmo é enfeitiçado. Ta com o lombo carregado de


mal olhado Credo em cruz e na Virgem Maria. Atesto causo de embruxamento.

Vaqueiro: Salva o boi Pimpão Pai Adão. Faça o favor de consertar o bichinho.

Benzedor: Já vai. Com a força da santa fé, nós vamos expulsar os espíritos
malignos que estão de encosto contra o pobre animal. ( Folhas de oliveira
começa a sacudir em cima do boi)

Vaqueiro: Precisa de mais força de reza Pai Adão.

Benzedor - (Convoca toda assistência para juntos dizerem as palavras mágicas


da benzedura de espantar bruxas. Pai Adão vai dizendo as palavras e a
assistência precisa repetir.

Benzedor fazendo mi suras enquanto a platéia é animada pelo Vaqueiro.


Benzedor: Pelo símbolo de Salomão
Platéia: Pelo símbolo de Salomão
Benzedor: Que te benzo com a vela benta na Sexta Feira da paixão.
Platéia: Que te benzo com a vela benta na sexta feira da paixão.
Benzedor: Treze raios tem o sol
Platéia repete cada frase
Continua a reza
Treze raios tem alua
Salta demônio para o inferno
Pois esta alma não é tua
Tosca marosca
Rabo de rosca
Aguilhão nos teus pés
Freio na tua boca
Por cima do silvado
São Pedro São Paulo e São Fontista
Dentro da Casa
São João Batista
Bruxa tatara bruxa
Tu não me entres nesta casa
Nem nesta comarca toda
Por todos os santos dos santos
Amém

O Boi se estremelica, estremece, se agita, se arrasta, tenta se manifestar, mas


está xucro e o Pai Adão se espanta e acaba revelando o grande mistério.

Pai Adão: Mô santo, vrige Maria o bicho ta munto do mamado. Aparece que
aressucitou-se, mas danou-se ainda ta munto grogue. Não tem é mal olhado
nenhum. Ele está mesmo é mamado. Não tem nada a ver com embruxado.
Esse boi está mamado é um boi mamão, pois não é não? Ta levanta boi
Pimpão, ta alevanta boi Mamão.

Música do boi, o boi fica agitado. Dançando.

Mateus: Senhora do Rosário nos protegei, o bicho Pimpão está


endemoninhado, ta mesmo com o tinhoso agarrado no couro.

Vaqueiro: Foi a reza forte do benzedor


Trouxe da morte todo o horror

Benzedor: Não posso negar ele ressurgiu


Brabo como a vaca que lhe pariu

Mateus: Senhora do Rosário nos protegei


Contra a besta fera nos valei

Vaqueiro: Melhor chamar um bom ginete


Que seja cristão e muito valente

Benzedor: Acredito na santa do rosário


Com São Benedito no oratório
Mateus: Com fé vou chamar o ginete com seu cavalinho enfeitado
Para dar graças e domar este boi endemoninhado.

A orquestra ataca música para o cavalinho com seu cavaleiro.

Cavaleiro - Aviso ao solicitante. Faço meu trabalho com esmero, mas careço
de cobrar em dinheiro. Laço e levo o bicho endemoninhado para a mangueira
que me mandar.

Mateus - Depressa homem de Deus, laças na primeira então todo o dinheiro


será teu. Se errares o dinheiro será do boi. Ficas ainda com o compromisso de
laçar e retira-lo do salão.

Cavaleiro - Proposta aceita e vamos à ação.

(O cavalinho laça o boi e se exibe puxando o animal pelo laço e sai levando o
boi. A orquestra se cala triste com a música de adeus ao cavalinho e ao boi.)

Mateus - O Senhor Vaqueiro o senhor está despedido.

Quando menos esperam, ouve-se um berreiro doido de cabra azucrinada a


entrar no salão, espevitada e dando marradas e chifradas em perseguição ao
Vaqueiro que tenta se defender. A orquestra ataca com a música marota para a
brincadeira da cabra que se torna descontrolada.

O ginete montado em seu cavalinho alazão já de laço em punho perseguindo a


cabra, laça o bicho espevitado e a retira do salão, sendo seguidos pelo
Vaqueiro que saem de cena.

Anoitece. Um manto negro cheio de estrelas surge no salão.

No salão da noite vem o boitatá


Iluminando o terreiro
Pra festa começar
(Entra com o corpo cheio de lanternas e uma burca preta transparente por
cima. Corre ligeiro de um lado para o outro, pula, salta, cabrioleia como uma
visão e soltando fogos de bengala sai de cena)

É de manhã
É meio dia
O sino bateu a Ave Maria
É Meia noite
O galo anuncia
Já madrugou
Já é de dia

(O galo cisca o chão, bate as asas e canta bem alto: Cócoricóóó)


O galo quando canta o sol levanta
Anunciando raiou o dia
A mata toda é uma sinfonia
Vem de lá e vem de cá
De braços dados que alegria
Espíritos das Florestas
Que se apresentam nesta festa

Yara, deusa sublime fonte da vida


Seu leite emana e é a mais pura água
Das águas profundas
E das águas rasas
Fontes frondosas
Formosa Yara

(Caipora e curupira jogam flores sobre a Yara que traz uma jarra e ofereça
água fresca para a assistência.)

A caipora protege os bichos


E o curupira protege as matas
São deuses que vem para saldar
Toda a gente que sabe preservar

Se não temos a sabedoria,


Eles precisam avisar

Curupira - A natureza, é preciso cuidar


Caipora - Tudo depende do homem
Curupira - O bicho mais inteligente
Caipora - O bicho mais perigoso
Curupira - Diz que é gente, diz que é gente.
Caipora - Salve a natureza e preservem todos os parentes
Todos somos filhos de um mesmo e único deus.
Caipora, caipora é mesmo assim.
Curupira, curupira diz que é mesmo assim.

A orquestra ataca:

Olha lá que coisa é esta barulhenta que ai vem


São macacos feitos gentes e querem dançar também
Macaco malami
Macaco malami
Dança um pouquinho pra mim
Dança na ponta dos pés
Macaco malami – macaco malami
Venham brincar com as crianças
Que elas fazem cafuné.
(Os macacos fazem barulho, uma gritaria, mas são dóceis e carinhosos com as
crianças e beijam as mulheres afetuosamente, sempre educadamente
cumprimentam os homens, os macacos são quase humanos)

Olha o urso preto meu urso vem cá


Olho o urso branco meu urso vem cá
Da passagem para os ursos
É do circo que eles vem
Reparem como dançam a valsa muito bem
Não cheguem perto, são bichos ferozes.
O abraço parece de amigo, mas são muito perigosos.
Tragam bem acorrentados para o meio do salão
Ao som da valsa são muito bons

Lá, lá, lá, lá, lá


(estimula a platéia a cantarolar a valsa Danúbio azul em lá lá lá. Os ursos
dançam delicadamente. Bonito, mas já espreitam as futuras vitimas entre a
assistência. De repente escapam das mãos do domador e barbarizam a
platéia, agarram crianças e as levam para o meio do salão onde rolam, deixam
a vítima amarradas e perseguem outras até que a orquestra chama a atenção
para mais uma visita na grande festa. Quando os urso se dão conta que se
trata da Bernúncia eles saem de cena ligeirinhos.

Olé Olé Olé Olé Olá


Arreda do caminho que a Bernúncia quer passar
Estava trabalhando quando ouvi falar em guerra
Mas era só a bernúncia que vinha descendo a serra.
A bernúncia é bicho brabo engoliu mane João
Come pão come bolachas come tudo o que lhe dão
Olé olé olé olé olá
Arreda do caminho que a Bernúncia quer passar.
Ela vem acompanhada com o Jaraguá
Batendo a bocarra ele canta uma canção
A canção é de amor e da fome na bernúncia
O Jaraguá lampeiro ajuda e ela se sacia
Devorando crianças que ela acha uma delícia.
(Dá uma volta se aninha e acontece o nascimento de uma bernuncinha com as
crianças que ela havia devorado. Ela fica terna e doce como toda a mãe. O
Jaraguá orgulhoso sai cumprimentando todos os homens presentes dizendo a
todos que ele é o pai da bernuncinha.)
Olé olé olá o pai é o Jaraguá
Lá vai ela serena e bela levando a sua cria
Olé olé olá o pai é o Jaraguá

(Vão saindo dando lugar para a Maricota )


A festa no auge e entra dançando no salão a Maricota .
A orquestra ataca e convoca todos os personagens para o meio do salão em
um desfile repleto de danças e saracoteios sendo que os últimos a entrarem
são o ginete, com seu cavalinho e o boi.

Com a música de despedida, os personagens vão saindo encerrando a


apresentação do folguedo.

FIM

Primavera de 2009 – Enseada de Brito – Gelci José Coelho - Peninha


Adaptação Angela Gonçalves
ELENCO: O BOI DE MAMÃO ILUMINADO

1 - AMANDA – MARIA E MARICOTA

2 - ANA VITÓRIA – SORAIA E BRUXA

3 - BEATRIZ – JOSEFINA

4 - CAROL – GERUSA E BRUXA1

5 - DAVI – CHICO E CABRINHA

6 - DÉCIO – PADRE E MÉDICO

7 - ELIZA – CATARINA E ALUNA DE DANÇA

8 - IZABELI – OTILIA

9 - JÚLIA – NARRADOR

10 -LAURA – CLARICE E BRUXA 3

12 - LUISA – HELENA E BRUXA

12 - MANUELA – XANDOCA, ALUNA DE DANÇA E BERNUNÇA

13 – MANU MAIA – PROFESSORA RUTE E MORENINHA

13 - MATHEUS – MATEUS

14 - MIKE – CAVALEIRO E JOAQUIM

15 - MURIEL – MANOEL E PAI ADÃO

16 - ROSA – VAQUEIRO E BRUXA 2

17 - ALLICE - SÔNIA

18 - VITÓRIA – MARINÊS

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